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Classicismo

... Cla ssicismo é a liter atur a da er a rena scentista, de uma


retomada dos princípios clássicos...
Contexto histórico do Classicismo
Se colocarmos o Trovadorismo, o H umanismo e o Cla ssicismo em
uma linha do tempo, podemos perceber uma humanidade que
caminhou da espiritualidade par a a vida material.

O auge dessa caminhada foi justamente o Cla ssicismo, período em


que o ser humano chegou ao apogeu de uma er a antropocêntrica,
moderna, e pa ssou a dar mais valor à sua capacidade, ao
conhecimento e aos estudos, deixando de lado a referência
teocêntrica da Idade Média. A liter atur a do Cla ssicismo, portanto, foi
a liter atur a da Er a Moderna.

O contexto do Cla ssicismo compreende o final do século XV e o


século XVI . Nessa época, Portugal vivia seu auge devido às gr andes
navegações, que culminar am no descobrimento de colônia s, como
o Br a sil, na chegada às Índia s, etc. Em outr a s palavr a s, Portugal er a
o prota gonista do mundo nesse momento.

Nesse contexto de prosperidade econômica, muita s família s


portuguesa s pa ssar am a encaminhar seus filhos par a estudar na
capital cultur al do mundo: Florença (Itália).

Berço de uma cultur a artística voltada aos a spectos humanos,


Florença foi responsável pela retomada dos valores greco-romanos
em detrimento da cultur a medieval. A isso damos o nome de
influência clássica, que pode ser vista tanto na s obr a s literária s
quanto na pintur a, na escultur a, na arquitetur a, etc.

A r acionalidade e a observação da natureza são exemplos de valores


clássicos que for am levados par a Portugal e que influenciar am,
consequentemente, a s produções cla ssicista s.
Características gerais
Quando falamos em Cla ssicismo, devemos sempre a ssociá-lo ao
Rena scimento, que envolve a retomada dos princípios clássicos, ou
seja, dos valores greco-romanos. Compar ando-o com a Er a
Medieval, temos:

Er a Medieval Rena scentismo

• Arte e Filosofia voltada s • Arte e Filosofia


à espiritualidade. voltada s à vida terrena, do
• Ser humano em busca mundo.
da satisfação da alma. • Ser humano não sê vê
mais apena s como espírito,
pois tam bém é corpo.

Na Filosofia, por exemplo, pa ssamos a observar obr a s mais


voltada s à vida social.
• Utop ia , de Toma s Morus
• E l og i o da Lo ucu ra , de Er a smo de Roterdã
• O Pr í nc i pe , de Nicolau Maquiavel
Na s Artes Visuais, há a busca pela perfeição, isto é, por aquilo
que mais se aproxima da realidade, que melhor imita a natureza –
arte de imitação da natureza. Observe, por exemplo, a s obr a s
Vênus de Milo, de Alexandre de Antioquia, e David, de
Michelangelo Buonarroti.

Escultur a “Vênus” Escultur a “David” de


de Milo Michelangelo
Em suma, temos uma arte em que prevalecem a s seguintes
car acterística s:
• r acionalidade
• equilíbrio
• sobriedade
• regularidade
• proporcionalidade
Par a finalizar, confir a outros exemplos, am bos de Leonardo da Vinci:
Estudo das Proporções Humanas e Ú lti m a Ce ia (Santa Ceia).

“Homem Vitruviano” de Leonardo da Vinci

Pintur a “A Ultima Ceia” de Leonardo da Vinci


Literatura classicista
Na Liter atur a, a s car acterística s rena scentista s podem ser
verificada s de alguma s forma s.

• Referência a elementos clássicos: menção aos deuses do


Olimpo, da s mitologia s grega e romana.

Quando os Deuses no Olimpo luminoso,


Onde o governo está da humana gente,
Se ajuntam em concílio glorioso
Sobre a s cousa s futur a s do Oriente.
Pisando o cristalino Céu formoso,
Vêm pela Via-Láctea juntamente,
Convocados da parte do Tonante,
Pelo neto gentil do velho Atlante.
( Camões )
• Dimensão da pa ssa gem do tempo: demonstr a-se a fugacidade
da vida, apresenta-se uma maneir a diferente de ver a vida.

Bendito seja o dia, o mês, o ano


A sazão, o lugar, a hor a, o momento
E o país de meu doce encantamento
Aos seus olhos de lume sober ano

E bendito o primeiro doce afano


Que tive ao ter de amor conhecimento
E o arco e a seta a que devo o ferimento
Aberta a cha ga em fr aco peito humano

Bendito seja o mísero lamento


Que pela terr a em vão hei dispersado
E o desejo e o suspiro e o sofrimento
Bendito seja o canto su blimado
Que a celebr a e tam bém meu pensamento
Que na terr a não tem outro cuidado
( Petrarca )
• Universalidade: gr aça s às gr andes navegações, o ser humano
busca a referência a diferentes povos e cultur a s.

Brâmanes são os seus religiosos,


Nome antigo e de gr ande preeminência,
Observam os preceitos tão famosos
Dum, que primeiro pôs nome à ciência.
Não matam coisa viva e, temerosos,
Da s carnes têm gr andíssima a bstinência,
Somente no venéreo ajuntamento
Têm mais licença e menos regimento.

Ger ais são a s mulheres: ma s somente


Par a os da ger ação de seus maridos
Ditosa condição, ditosa gente,
Que não são de ciúmes ofendidos.
Estes e outros costumes variamente
São pelos Mala bares admitidos,
A terr a é grossa em tr ato, em tudo aquilo
Que a s onda s podem dar da China ao Nilo.
( Camões )
Além da s já mencionada s, outr a s car acterística s tam bém podem ser
observada s na liter atur a cla ssicista.
• O artista tr a balha par a que os versos sejam tecnicamente perfeitos.
• Demonstr a r acionalidade na forma de construção dos textos.
• Busca de equilíbrio e perfeição: métrica, rima, voca bulário culto.
• No conteúdo, temos um ser humano voltado à vida mundana.
• Expressão de um amor contido, com sobriedade e r acionalidade: amor

platônico.
Renascimento em Portugal
A chegada do Rena scimento em Portugal se deu por meio de
jovens, filhos de gr andes comerciantes – que prosper avam com a s
gr andes navegações –, que for am estudar em Florença. Um deles
foi Sá de Mir anda, iniciador do Cla ssicismo em Portugal em 1527.

Sá de Mir anda, como poeta, levou par a Portugal uma nova forma de
fazer poesia: o soneto – 2 quartetos e 2 tercetos.

A partir de então, a poesia se dividiu em dua s er a s: a poesia velha


e a poesia nova.

Medida Velha Medida Nova

Versos em redondilha s: Versos deca ssíla bos:


5 ou 7 síla ba s poética s. 10 síla ba s poética s.
Camões lírico
Luís Vaz de Camões é reconhecido como o maior poeta português.
Na poesia, ele escreveu em toda s a s modalidades a que teve acesso:
tanto na medida velha quanto na medida nova, tanto no gênero lírico
quanto no épico.
O Camões lírico, ao escrever na medida velha, aproximou-se do
período humanista e produziu poema s em redondilha menor (5
síla ba s poética s) e em redondilha maior (7 síla ba s poética s).
Tr atava-se de uma produção muito próxima da poesia palaciana,
seguindo a estrutur a de mote e glosa. Confir a o exemplo a seguir.

Descalça vai par a a fonte


Descalça vai par a a fonte
Lianor pela verdur a; Mote
Vai fermosa, e não segur a.

Leva na ca beça o pote,


O testo na s mãos de pr ata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Tr az a va squinha de cote,
Mais br anca que a neve pur a.
Vai fermosa e não segur a.
Glosa
Descobre a touca a garganta,
Ca belos de ouro entr ançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela gr aça tanta,
Que dá gr aça à fermosur a.
Vai fermosa e não segur a.
( Camões )
Foi, porém, o Camões sonetista que se destacou na liter atur a
universal. Com essa s produções, ele se aproximou mais da cultur a
rena scentista, e seus sonetos apresentavam as seguintes
car acterística s:
• 2 quartetos e 2 tercetos.
• uso de métrica e rima.
• sobriedade, regularidade, busca pela perfeição.
• produção tecnicamente bem construída.
• voca bulário culto.

Em sua s produções, tivemos alguns tema s ba stante recorrentes.


Confir a-os a baixo.

• Efemeridade da vida: a vida não é estática, é pa ssa geir a.

Mudam-se os tempos, mudam-se a s vontades,


Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre nova s qualidades.

Continuamente vemos novidades,


Diferentes em tudo da esper ança;
Do mal ficam a s mágoa s na lem br ança,
E do bem, se algum houve, a s saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


Que já foi coberto de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afor a este mudar-se cada dia,


Outr a mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
• Desconcerto do mundo: lamentação por um mundo
desencontr ado, ba gunçado.

Correm turva s a s água s deste rio,


Que a s do céu e a s do monte a s enturbar am;
Os campos florescidos se secar am,
Intr atável se fez o vale, e frio.

Pa ssou o Verão, pa ssou o ardente Estio,


Úa s cousa s por outr a s se trocar am;
Os fementidos Fados já deixar am
Do mundo o regimento, ou desvario.

Tem o tempo sua ordem já sa bida;


O mundo, não; ma s anda tão confuso,
Que parece que dele Deus se esquece.

Ca sos, opiniões, natur a e uso


Fazem que nos pareça desta vida
Que não há nela mais que o que parece.
( Camões )
O próximo poema apresenta, concomitantemente, dois tema s
recorrentes em Camões.
• Referência cristã: referência à cultur a católica, bíblica,
mesmo que, alguns ca sos, haja, tam bém, referência s a deuses da
mitologia.
• Amor platônico: poesia amorosa, amor que existe apena s na
contemplação, ma s não se realiza fisicamente.

Sete anos de pa stor Jacob servia


La bão, pai de Raquel, serr ana bela;
ma s não servia o pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.
Os dia s, na esper ança de um só dia,
pa ssava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pa stor que com enganos


lhe for a a ssi negada a sua pa stor a,
como se não a tiver a merecida,

Começa de servir outros sete anos,


dizendo: Mais servir a, se não for a
par a tão longo amor tão curta a vida!
( Camões )
Dentro da poesia amorosa de Camões, dois poema s se destacar am.
No primeiro, podemos observar a referência a um ca so de amor
correspondido e realmente vivenciado pelo poeta, ma s
interrompido pela morte da amada.

Alma minha gentil, que te partiste


Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terr a sempre triste.

Lá no a ssento etéreo, onde su biste,


Memória desta vida se consente,
Não te esqueça s daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te


Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,


Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
( Camões )
No segundo poema, o eu-lírico tece reflexões sobre o que é o
amor. Observe, ainda, que, ao tr a balhar com um jogo de oposições,
Camões já revela sinais de tr ansição par a o período literário
seguinte (Barroco). A isso damos o nome de maneirismo.

Amor é fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;


É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;


É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Ma s como causar pode seu favor


Nos cor ações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
( Camões )
Camões épico
A gr ande obr a do período rena scentista é Os Lusíada s, de Luís Vaz
de Camões. Pu blicado em 1572, tr ata-se do maior poema épico da
língua portuguesa e do rena scentismo.

Lem bre-se !!!


car acterística s da poesia épica:

• poema narr ativo – escrito em versos, com métrica e rima.


• tema – narr ar os feitos de um gr ande herói;
• herói – figur a representativa da cultur a de um povo.

Os Lusíada s narr a o gr ande feito da história de Portugal, ou seja,


a s navegações. Tendo como fio condutor a via gem de Va sco da
Gama às Índia s, Camões narr a a história lusitana destacando a s
gr andes navegações portuguesa s, a s glória s e conquista s de seu
povo, bem como os reis de Portugal.

Va sco da Gama foi o comandante dessa expedição e, por isso, pode


ser consider ado como um herói. No entanto, devemos ter em
mente que ele sim boliza os reais prota gonista s dessa história: os
portugueses em si. Podemos dizer, portanto, que Os Lusíada s é
uma gr ande homena gem ao povo português, verdadeiro herói da
história de Portugal.

Quanto à estrutur a formal de Os Lusíada s, temos:


• 10 cantos (capítulos)
• 1102 estrofes de 08 versos
• Versos deca ssíla bos
• Rima s ABABABCC
As arma s e os barões a ssinalados, A
Que da ocidental pr aia Lusitana, B
Por mares nunca de antes navegados, A
Pa ssar am ainda além da Taprobana, B
Em perigos e guerr a s esforçados, A
Mais do que prometia a força humana, B
E entre gente remota edificar am C
Novo Reino, que tanto su blimar am; C

Divisão do poema
• Proposição: apresentação do tema – os feitos do povo
lusitano.
Cessem do sábio G rego e do Troiano
As navegações gr andes que fizer am;
Cale-se de Alexandro e de Tr ajano
A fama da s vitória s que tiver am;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedecer am:
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

• Invocação: invocação às musa s – deusa s inspir ador a s dos


poeta s.
• Tágides: deusa s que ha bitam o rio Tejo.

E vós, Tágides minha s, pois criado


Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebr ado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me a gor a um som alto e su blimado,
Um estilo gr andíloquo e corrente,
Porque de vossa s água s, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipoerene.
• Dedicatória: dedica o poema ao Rei D. Seba stião.

Inclinai por um pouco a majestade,


Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Que já se mostr a qual na inteir a idade,
Quando su bindo ireis ao eterno templo;
Os olhos da real benignidade
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valerosos,
Em versos divulgado numerosos.

• Narr ativa: início não linear (in media res) – já no meio dos
acontecimentos.
É a história de Portugal propriamente dita.
• Quem é o povo português
• A via gem de Va sco da Gama
• Profecia s

• Epílogo: canto X – estrofes 145-156.


• Alerta ao rei sobre a decadência futur a do país.

Nô mais, Musa, nô mais, que a Lir a tenho


Destemper ada e a voz enrouquecida,
E não do canto, ma s de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Düa auster a, apa gada e vil tristeza.

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