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Governo de Portugal nega existência de

processo de reparação por crimes contra ex-


colônias
Declaração é a primeira desde que o presidente do país – que
não faz parte do governo – defendeu reparar o Brasil por
escravidão, massacre de indígenas e saques contra o Brasil.
Neste sábado, Marcelo Rebelo de Sousa disse que o
cancelamento de dívidas e oferta de financiamento são
formas de compensação.
27/04/2024 15h38 Atualizado há 2 horas

Primeiro-ministro de Portugal Luís Montenegro — Foto: Pedro Nunes/Reuters


O governo de Portugal declarou que "não esteve e não está em causa nenhum processo ou
programa de ações específicas" relacionado a reparação às ex-colônias.
Em nota, o governo afirma que "as relações do povo português com todos
os povos dos Estados que foram antigas colônias de Portugal são
verdadeiramente excelentes, assentes no respeito mútuo e na partilha da
história comum". As informações foram divulgadas pelo jornal português
Público neste sábado (27).
O posicionamento é o primeiro desde que o presidente de Portugal,
Marcelo Rebelo de Sousa, admitiu reparar o Brasil por conta da escravidão, das
mortes de indígenas e dos saques durante a era colonial. Entre os séculos 15 e 19,
seis milhões de africanos foram sequestrados, transferidos a força pelo
Atlântico em navios portugueses e vendidos como escravizados,
principalmente para o Brasil.
A fala de Rebelo de Sousa – o primeiro a admitir reparação histórica – foi
rebatida por parlamentares da Aliança Democrática, coalização de centro-
direita que governa Portugal. O líder do Chega, partido de extrema-direita,
chamou o ato de traição.
Neste sábado (27), Rebelo de Sousa voltou ao assunto e disse que o
cancelamento de dívidas, a oferta de financiamento às ex-colônias e a
facilitação da mobilidade dos cidadãos desses países são formas de
compensação.
"Não podemos colocar isso debaixo do tapete ou na gaveta. Temos a
obrigação de pilotar, de liderar esse processo", afirmou. "Mas a reparação
é pagar uma indenização? Não, é uma realidade que já começou há 50
anos (...) Toda a nossa cooperação foi, durante 50 anos, além de uma
construção do presente e do futuro, uma forma de reparação."
Para o presidente, o processo de reparação não se resume,
necessariamente, ao pagamento de indenização aos países envolvidos.
Ele alega que essa é uma realidade que começou há 50 anos, usando
como exemplo o perdão de dívidas a países colonizados, além de linhas
de crédito, financiamentos e outros programas vinculados às ex-colônias.
Foram mais de quatro séculos de era colonial, quando países como Brasil,
Angola, Moçambique, Benin, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor
Leste, além de partes da Índia estavam sob domínio português.
Em Portugal, o governo e a presidência da República são instituições
diferentes. O governo é formado por parlamentares e liderado por um
primeiro-ministro. O presidente da República é chefe de Estado e nomeia
o primeiro-ministro a partir da indicação do parlamento.
Portanto, o poder do presidente acaba sendo mais simbólico e, na prática,
é o premiê quem governa o país. Para que alguma medida de reparação
seja efetiva, a proposta deve passar pelo Parlamento.
Inquérito contra o Banco do Brasil
O debate sobre reparação não é exclusividade de Portugal. No Brasil, o
Ministério Público Federal (MPF) abriu um inquérito civil público inédito para
investigar o envolvimento do Banco do Brasil em crimes ligados à escravidão e
tráfico de africanos no século 19.
A ação conta com a pesquisa de 14 historiadores de 11 universidades que
apontam a relação da instituição com o mercado escravagista. Entre os
apontamentos, o inquérito fala sobre a presença de alguns um dos
maiores traficantes de escravizados da época na relação de fundadores e
acionistas do Banco do Brasil.

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