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Apraxia de Fala e Autismo:

Qual a diferença?
Esse transtorno, ligado diretamente ao desenvolvimento motor da fala, pode ser
identificado ainda na infância
A apraxia da fala e o autismo são transtornos do neurodesenvolvimento distintos,
mas em muitos casos podem ser identificados juntos em um mesmo indivíduo. Isso
acontece porque um dos sintomas em comum está ligado diretamente à
comunicação.
Mas compreender as diferenças entre as duas condições é essencial para um
diagnóstico mais assertivo e tratamento correto.
Nos casos de autismo, a criança costuma apresentar déficits na comunicação social
no geral, que podem contribuir diretamente para atrasos na oralidade. ‘’Quando a
gente fala do transtorno do espectro autista (TEA), a gente fala de déficits na
comunicação como um todo, que também podem estar associados ao atraso motor
da fala, disartria e apraxia de fala’’, explica a fonoaudióloga Isabella Marchesi Florez,
mestre em Comunicação Humana e Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em
Fonoaudiologia da PUC-SP.

Já na apraxia de fala na infância, a criança entende a função da comunicação, mas os


déficits neurológicos afetam o planejamento motor e a formulação de frases e
palavras. ‘’A apraxia é a dificuldade no planejamento e programação espaço-temporal
das sequências e dos movimentos que resultam em erros na produção da fala’’,
completa Isabella.

Ou seja, o cérebro muitas vezes processa a informação corretamente, mas a


musculatura da boca (motricidade oral) não consegue executar os movimentos
necessários, fazendo com que a criança não consiga falar.

Ademais, estudos mostram que 63,6% das crianças autistas também recebem o
diagnóstico de apraxia. Por outro lado, 36,8% das crianças que recebem primeiro o
diagnóstico de apraxia de fala, posteriormente são diagnosticadas com TEA também.

Principais sintomas da apraxia de fala na infância

É possível perceber alguns sinais que podem estar associados à apraxia de fala em
bebês pequenos e em crianças de até cerca de 3 anos (idade ideal para o fechamento
do diagnóstico segundo a Associação Americana de Fonoaudiologia – ASHA, sigla em
inglês). Quando um bebê começa a balbuciar mas não consegue pronunciar sons
semelhantes às vogais, esse já pode ser considerado um primeiro sinal de alerta.
Outros sintomas comuns são:

Atraso no desenvolvimento da fala;


Fala de difícil compreensão;
Dificuldade motora na língua;
Dificuldade na formação de frases com duas ou mais palavras;
Dificuldade para pronunciar diversas palavras;
Dificuldades motoras para mastigar

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico de apraxia da fala na infância é muito difícil, principalmente por ser um


problema comum em outros transtornos do neurodesenvolvimento e seus sintomas
serem confundidos com atrasos na aquisição de linguagem, autismo e atrasos
globais do desenvolvimento.
Mas existem checklists e testes específicos usados por fonoaudiólogos para identificar
em qual área o desenvolvimento motor da fala apresenta mais déficits.
Além disso, no caso de crianças pequenas, é também realizado uma anamnese com
os familiares para entender o processo de desenvolvimento da fala daquele indivíduo
até o momento em que ele foi encaminhado para avaliação profissional.

Diferença entre apraxia e autismo na comunicação

No autismo, a dificuldade relacionada à fala está mais associada à interação social, ou


seja, na troca de turnos entre conversas. Já na apraxia, o paciente pode não conseguir
falar de forma mais direta e clara pela dificuldade na motricidade oral, mas tem
facilidade em se comunicar através de gestos, mostrando com clareza qual é a
mensagem que gostaria de passar.

Tratamento

Para tratar os déficits causados pela apraxia da fala, é necessário o acompanhamento


constante com fonoaudiólogos e, em alguns casos, com terapeutas ocupacionais
compondo a equipe multidisciplinar, já que cada paciente pode apresentar um nível
de gravidade diferente do outro.
Nesses acompanhamentos, a criança pratica sílabas, palavras e frases de acordo com
a sua dificuldade, a fim de diminuir os déficits cada vez mais.
Uma das técnicas usadas é a de PROMPT – pistas para a organização dos pontos
fonéticos e oromusculares, em tradução livre -, aplicados exclusivamente pela área
da fonoaudiologia.
Essa estratégia é cientificamente comprovada e ajuda na estimulação da fala através
de exercícios motores que abrangem o controle motor orofacial, além dos aspectos
linguísticos e emocionais do paciente.
Os resultados dos acompanhamentos aparecem a longo prazo, mas com ajuda de
familiares e também da escola, participando ativamente dos exercícios propostos
pelos profissionais responsáveis pelo caso, as chances de melhora da criança são
ainda maiores.

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