A perda auditiva é um distúrbio significativo que pode limitar a comunicação e
interação social das crianças, tendo um impacto negativo sobre a linguagem verbal e contribuindo para o isolamento social e baixa autoestima. Por outro lado, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que é caracterizado por déficits persistentes na comunicação, interação social e comportamentos não verbais. O diagnóstico do TEA é baseado na observação da presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. A PA quanto o TEA podem apresentar comportamentos semelhantes, devido à privação parcial ou total de experiências que podem resultar em atrasos no desenvolvimento da linguagem e levar a isolamento social, conforme descrito em ambos. Para os pais, muitas vezes, essas são as caraterísticas que ficam mais evidentes, em consequência do atraso da linguagem, que pode manifestar-se por atraso, ou, até mesmo, pela ausência de fala, em alguns casos. Estudos realizados na Universidade Federal de São Paulo em 2009, apontam que 62,96% dos pais de crianças com transtorno do espectro autístico (verbais ou não), suspeitaram inicialmente de perda auditiva, em virtude dos comportamentos acima descritos. A deficiência auditiva constitui um dos principais diagnósticos diferenciais do transtorno do espectro autista e é muito comum ser a primeira suspeita dos pais. Em estudo pioneiro verificou-se que 80% dos casos diagnosticados posteriormente, como Autismo Infantil, apresentavam como suspeita diagnóstica inicial a deficiência auditiva. Em estudo pioneiro verificou-se que 80% dos casos diagnosticados posteriormente, como Autismo Infantil, apresentavam como suspeita diagnóstica inicial a deficiência auditiva. É importante ressaltar que a avaliação da linguagem deve considerar que, muitas vezes, as características da linguagem de crianças com TEA e PA são semelhantes e se sobrepõem. Em ambos os casos, é comum ocorrerem alterações na função simbólica e na interação social, no entanto, o atraso na linguagem é decorrente de modelos de desenvolvimento diferentes: no TEA, o modelo atípico de desenvolvimento da linguagem é o responsável, enquanto na PA o atraso é devido a um modelo de desenvolvimento tardio da linguagem. Essas discrepâncias podem ser observadas nas habilidades pré-verbais de comunicação, que são prejudicadas em crianças com TEA, mas não em crianças com PA.
SELLI, Gabriele et al. Diagnóstico diferencial: perda auditiva ou transtorno do
espectro do autismo. Distúrbios da Comunicação, v. 32, n. 4, p. 574-586, 2020.