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Copyright © J.

Sterling, 2022
Copyright © The Gift Box, 2023
Todos os direitos reservados.
Direção Editorial:
Anastacia Cabo
Preparação de texto:
Mara Santos
Revisão final:
Equipe The Gift Box
Arte de capa:
Bianca Santana
Tradução e diagramação:
Carol Dias
Nenhuma parte do conteúdo desse livro poderá ser reproduzida em
qualquer meio ou forma – impresso, digital, áudio ou visual – sem a
expressa autorização da editora sob penas criminais e ações civis.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas ou acontecimentos reais é
mera coincidência.
Sumário

Início
Ela está morta
Continua tomando conta de nós
Acho que somos ricas agora
Poderia ser pior
Dos Estados Unidos
Jantar de encontro
Então… a Irlanda é divertida
Eu quero esta mulher
Um maldito príncipe
As falésias de Moher
A Irlanda é inspiradora
A contagem regressiva começou
Não acredito que tenho que ir embora
Preciso dela
Reconheceria aquele sotaque em qualquer lugar
Epílogo
Sobre a autora
Sobre a The Gift Box
ELA ESTÁ MORTA
CELESTE
Não acredito que ela está morta.
Quer dizer, eu sabia que isso aconteceria, mas ainda assim…
a perda real da vida dela foi como um choque para o sistema.
Eu basicamente dei uma pausa na minha própria existência
depois de voltar para casa, nos subúrbios de Dallas, para ficar com
minha mãe em suas últimas semanas com câncer. Supondo que
fosse apenas por pouco tempo, não tive nenhum problema em me
afastar da vida que criei em Austin. Mas o que começou como uma
licença no meu trabalho de professora do ensino fundamental
rapidamente se transformou na necessidade de desistir
completamente. Eu não tinha ideia de quando voltaria para lá, se é
que algum dia voltaria.
Aquelas semanas em casa com a minha mãe se
transformaram em meses, que eventualmente se transformaram em
um ano, mas, na verdade, não me arrependia. Nem mesmo no final,
quando vi minha outrora linda mãe deixar de ser uma luz tão
brilhante e se transformar em nada além de uma concha vazia que
mal conseguia manter os olhos abertos. Foi doloroso testemunhar,
em um nível que não poderia ser descrito, mas teria me odiado se
não tivesse feito isso. Eu não poderia ter vivido com a culpa se
tivesse deixado minha mãe sair desta terra sozinha ou com um
estranho ao seu lado, que só estava lá porque era o seu trabalho e
ele estava sendo pago.
Felizmente, minha irmã mais nova, Tyra, também voltou para
casa perto do fim.
E agora que minha mãe se foi, tudo que tínhamos era uma a
outra. Sempre fomos nós três, desde que éramos capazes de
lembrar. Nosso pai foi embora quando éramos crianças e
aparentemente nunca olhou para trás. Ele fugiu com alguém do
trabalho. Pelo menos essa foi a história que nos contaram. Casou-se
novamente e deu todo o seu dinheiro para sua nova família,
esquecendo-se completamente daquela que já tinha, deixando-nos
para trás para nos defendermos sozinhas.
Minha mãe trabalhou duro para cuidar de duas meninas e
nos dar uma vida boa. E ela conseguiu.
Ela merecia muito mais do que alguma doença de merda que
a consumiu até matá-la. Merecia estar viva para quando suas filhas
se casassem e lhe dessem netos. Agora, ela nunca veria nada disso.
— Estou tão brava — disse Tyra, com raiva, enxugando as
lágrimas que pareciam nunca parar de cair dos nossos olhos.
— Eu sei. Eu também — concordei, passando um braço
protetor em volta dela e apertando.
— Não é justo. — Ela exalou um longo suspiro antes de se
virar para mim. — O que fazemos agora?
Era uma pergunta muito carregada, que continha muitas
respostas, opções e responsabilidades. Nenhuma de nós morava
mais em Dallas. Eu me mudei para Austin anos atrás e Tyra foi para
Houston logo após o ensino médio. Estávamos ambas abrindo
nossas asas, por assim dizer, buscando o tipo de independência que
só a mudança poderia proporcionar. É verdade que não havia
necessidade de se afastar tantas horas de casa, mas parecia a coisa
certa naquele momento.
Agora, nada parecia certo.
Tudo estava confuso. Bagunçado. Errado.
Embora nós duas estivéssemos aqui há meses, nesta casa,
era quase como se estivéssemos sonâmbulas o tempo todo. Nossos
corpos estavam aqui, mas o resto de nós não estava totalmente
presente. Estávamos tão concentradas em nossa mãe, no que ela
precisava e em como poderíamos ajudá-la, que todo o resto era
apenas um borrão de cores e formas.
De repente, senti como se estivesse abrindo os olhos pela
primeira vez em mais de um ano e finalmente pude ver o que havia
diante de nós. A casa de nossa infância, repleta de anos de
pertences e lembranças, parecia muito avassaladora agora, em vez
de reconfortante. Talvez só desse uma sensação assim antes porque
ela ainda estava viva.
Mas nossa mãe não estava mais aqui. E nós duas sabíamos
disso. O espírito dela não estava naquela casa velha, esperando que
decidíssemos como seguir em frente e o que fazer a seguir.
— Tenho certeza de que mamãe fez um testamento —
comentei, minha cabeça já entrando no modo de organização.
Minha mãe era toda organizada. Eu sabia que ela teria feito
tudo o que pudesse para facilitar isso para nós. Ela estava sempre
nos colocando em primeiro lugar.
Tyra ergueu a cabeça loira para trás. Nós duas não
poderíamos ter parecido mais opostas se tivéssemos tentado de
propósito. Eu, com um metro e setenta e dois, cabelo escuro e olhos
castanhos. Ela, uma coisinha miúda, que mal chegava a um metro e
sessenta, com cabelo loiro e olhos azuis, que sempre presumimos
que tivessem vindo de nosso pai ausente, já que nossa mãe tinha
olhos castanhos como os meus.
— Um testamento? Quem se importa com testamento,
Celeste? — retrucou, e eu sabia que era porque ela estava
emocionalmente sobrecarregada. Nós duas estávamos.
Estávamos segurando nossos sentimentos por tanto tempo,
tentando ser fortes enquanto mamãe ainda estava aqui conosco,
que, no segundo em que ela deu seu último suspiro, nós desabamos
e a exaustão tomou conta. Isso foi há pouco mais de uma semana e
ainda parecíamos zumbis que mal sobreviveram ao apocalipse.
Mamãe não queria um funeral. Essa foi a única coisa que ela deixou
bem clara e me forçou a não apenas ouvir, mas repetir para ela. Ela
queria ser cremada e disse que, se quiséssemos celebrar a vida, ela
gostaria, mas que não precisávamos nos sentirmos obrigadas a fazer
nada.
— Eu só quis dizer que talvez mamãe tenha feito alguns
pedidos que não conhecemos. Como o que ela queria que
fizéssemos com a casa.
— Você nunca perguntou a ela?
Neguei com a cabeça, sentindo-me burra. Eu deveria ter
pensado nesse tipo de coisa, para poder pelo menos conversar com
minha mãe sobre tudo isso antes de ela morrer. Mas eu estava tão
envolvida em simplesmente estar presente que deixei os detalhes
dolorosos de lado para discutir outro dia. Mesmo quando ela tentava
tocar no assunto, eu a forçava a parar. Era uma tentativa de evitar
de forma covarde e clássica, mas parecia mais fácil na época fingir
que talvez ela tivesse uma recuperação milagrosa e que eu nunca
mais precisaria pensar em coisas como o que fazer com a casa em
que crescemos.
Observei minha irmã se sentar em um das cadeiras da nossa
antiga mesa da cozinha, aquela que tínhamos desde que éramos
crianças, com a cabeça entre as mãos, e soluçar. Senti-me
impotente, incapaz de aliviar sua dor. Eu tinha a minha. Além disso,
não havia nada que eu pudesse dizer ou fazer para trazer nossa mãe
de volta.
E quando você sentava lá e pensava sobre o que significava
perdê-la — que não tínhamos mais pais — era incrivelmente solitário
e assustador, para dizer o mínimo. Tirei tudo isso da cabeça,
recusando-me a sentir pena de mim mesma mais do que o
necessário.
Tyra fungou alto, enxugando o nariz com as costas do braço
antes de me olhar, com os olhos inchados e vermelhos.
— Deveríamos vendê-la? A casa, quero dizer?
Dei de ombros.
— Não sei. Nenhuma de nós mora mais aqui. Mas, Tyra, se
você quiser a casa, vou garantir que possamos ficar com ela, ok?
Eu estava oficialmente no modo irmã mais velha agora. Ser
quatro anos mais velha não era muito, porém, às vezes parecia uma
vida inteira em termos de experiência. Sem mencionar o fato de
que, embora fôssemos apenas nós duas, caímos nos papéis sociais
como se tivessem sido feitos para nós. Eu, a sempre obediente irmã
mais velha, que sempre cuidou dela e tentou mantê-la longe de
problemas, responsável em todos os momentos. E havia Tyra, a
caçula da família, a favorita que não fazia nada de errado, embora
cometesse erros o tempo todo.
Ela ultrapassava os limites enquanto eu permanecia dentro
deles.
— Você não quer ficar com ela? — perguntou, quase
parecendo esperançosa.
Quase esqueci que Tyra era a mais sentimental de nós duas.
Ela tinha muita dificuldade em abrir mão das coisas. Só podia
imaginar o que desistir desta casa faria com ela. Na verdade, eu não
tinha certeza se ela sobreviveria à perda de mais uma coisa.
— Não sei. Eu realmente não pensei sobre isso — admiti,
com raiva novamente por não planejar melhor e estar mais atenta
quando tive a chance.
— Você não tem mais seu apartamento em Austin —
acrescentou Tyra, como se eu não pudesse voltar lá e conseguir um
novo assim que saísse daqui.
Mas eu sabia o que ela queria dizer. Tecnicamente, nenhuma
de nós tinha onde morar. Nós duas fizemos as malas e cancelamos
nossos respectivos contratos de aluguel para voltar para casa. E
agora estávamos aqui… sem mãe.
— Eu preciso de uma bebida. — Tyra levantou-se da cadeira,
o som dela arranhando a superfície de madeira me fazendo
estremecer.
Minha mãe odiava aquele som. Ela sempre inclinava a cabeça
para o lado e estreitava os olhos, certificando-se de que Tyra
soubesse que ela desaprovava, sem nunca dizer uma palavra.
— Droga. Mamãe estaria me dando aquele olhar agora
mesmo — atestou, se arrastando em direção aos armários da
cozinha e começando a abrir o da direita. — Por favor, me diga que
você não jogou fora todas as bebidas boas.
— Eu não joguei nada fora. Por que eu deveria? — reclamei,
sentindo-me um tanto desrespeitada por minha irmã pensar tão
pouco de mim.
Nunca fui de jogar álcool fora, e uma olhada naquela
prateleira diria isso a qualquer um. Algumas delas eram realmente
antigas — tão antigas que a bebida não era mais produzida —, mas
lá estava, em nosso armário, apenas esperando sua chance. Tinha
que estar intragável a essa altura.
Observei Tyra manobrar as garrafas, puxando-as uma de
cada vez para ver o que estava escondido atrás delas. A maioria das
pessoas tinha um armário de bebidas, todo bonito e exposto, mas
nós não. Não. Tínhamos apenas um armário antigo cheio de tudo o
que acumulamos ao longo dos anos.
— Graças a Deus! — exclamou Tyra, tirando uma garrafa de
Vodka Belvedere.
Eu me perguntei de onde isso tinha vindo e há quanto tempo
estava lá. Belvedere não era caro, mas também não era
necessariamente barato. Mamãe não costumava fazer alarde com
coisas boas, como ela costumava chamar.
— Tem suco de laranja e cranberry na garagem — apontei,
como se Tyra já não soubesse disso. Era isso que a morte de alguém
fazia ao seu cérebro? Você passava a contar às pessoas informações
inúteis que elas já sabiam, como o fato de que havia suco na
garagem quando foi ela quem comprou no supermercado comigo
outro dia?
Comecei a andar sem ter ideia do que deveria fazer —
começar a fazer as malas ou revisar as coisas e decidir do que me
livrar. Mesmo que de alguma forma mantivéssemos a casa, ela ainda
precisaria ser limpa.
O quarto da mamãe basicamente foi transformado em um
leito de hospital. Já se foram os tempos em que, quando crianças,
ficávamos sentadas em sua cama enquanto ela lia para nós até
adormecermos. Ou nas noites em que corríamos para o quarto dela
durante uma tempestade. Ou choramos em seus braços pelos
meninos que partiram nossos corações e ela nos dizia que algum dia
eles não significariam nada.
Agora, era um quarto cheio de memórias de dor, medicação,
lágrimas e dificuldade para respirar. Precisava ser arejado e coberto
com uma nova camada de tinta. Meus pensamentos estavam
acelerados quando ouvi meu celular tocando em algum lugar da
casa.
— Está aqui! — Tyra gritou, e me virei para vê-la balançando
meu telefone na mão e olhando para ele. — Sem nome. Apenas um
número local — explicou, me entregando.
Eu respondi, hesitante. Geralmente era uma chamada de
spam sempre que era um número que eu não reconhecia ou que
não tinha programado no meu telefone.
— Olá?
— É Celeste Finnegan? — a voz masculina mais velha
perguntou do outro lado da linha, mas eu não cairia tão facilmente.
— Talvez — disse, minha resposta curta e hostil.
— Ok, talvez senhorita Celeste Finnegan. Aqui é Charles
Edwin. Eu cuidei do testamento de sua mãe. Ela pediu que você
viesse se encontrar comigo. Sua irmã mais nova não. Só você.
— Por que só eu? — perguntei.
— Porque você é a executora do testamento. Você pode vir
ao meu escritório em breve?
— Não tenho certeza — respondi, sendo difícil só porque
estava com vontade.
— Celeste, este é um assunto muito urgente. Preciso pedir
que você reserve um tempo para vir. O mais rápido possível.
Caramba. Esse cara pode diminuir um pouco o tom
melodramático?
— Beleza. Posso ir agora mesmo.
— Parece bom. Tenho seu endereço de e-mail, então pedirei
à minha assistente que lhe envie nosso endereço físico e quaisquer
detalhes adicionais que precisarmos.
A ligação terminou tão abruptamente quanto começou, e me
virei para encontrar Tyra olhando para mim, preparando sua bebida
de vodca e cranberry. Bem, tinha que ser principalmente vodca,
porque a mistura era apenas rosa-clara, o que significava que ela só
colocou um pouco de cranberry.
— Quem era?
— O advogado da mamãe, eu acho. Ele precisa que eu vá ao
escritório e revise o testamento.
Tyra colocou o copo em cima do balcão.
— Vou pegar minhas coisas.
— Não, Ty — eu disse, interrompendo-a. — Ele pediu para
apenas eu ir. Algo sobre ser a executora.
Ela parecia perturbada e quase pensei que fosse discutir
comigo sobre isso, mas Tyra pegou o copo novamente e tomou um
gole gigante sem vacilar.
— Vá então — falou, me mandando embora com um aceno
de mão.
Corri para o meu quarto, peguei minha bolsa junto com as
chaves do carro e saí pela porta.
CONTINUA TOMANDO CONTA
DE NÓS
CELESTE
Sentei-me no banco do motorista do meu carro e soltei um
longo suspiro. Abrindo o aplicativo no meu telefone, carreguei-o,
esperando que o e-mail do senhor Charles Edwin tivesse chegado. O
testamento da mamãe era na verdade algo que me deixou
supercuriosa, mas também queria acabar com isso o mais rápido
possível. Quanto menos coisas legais tivéssemos que resolver,
melhor.
O e-mail estava esperando na minha caixa de entrada,
exatamente como eu imaginava, informando o endereço e trazendo
um documento com foto para fins de identificação. Copiei e colei o
endereço em meu aplicativo de navegação e saí da garagem com
cuidado. O escritório do senhor Edwin ficava a apenas alguns
minutos de distância e, embora esta fosse uma cidade pequena, na
minha opinião, não era tão pequena a ponto de todos se
conhecerem. Eu nunca tinha ouvido falar de Charles Edwin antes na
minha vida e me perguntei como mamãe o encontrou.
Antes mesmo de perceber, estava entrando em um complexo
comercial e estacionando meu carro na seção de visitantes
claramente sinalizada. Tranquei a porta com meu controle remoto
antes de ir em direção às portas de vidro fumê. Eu sabia pelo e-mail
que eles estavam no segundo andar, mas verifiquei a lista mesmo
assim, só para ter certeza. Sala 231.
Subi as escadas, uma de cada vez, notando como o prédio
estava silencioso. Passando por todas as portas até chegar à porta
certa, não tinha certeza se deveria bater ou entrar imediatamente.
Agarrei a maçaneta e girei, abrindo a porta para ver um saguão
pitoresco e o que parecia ser uma área de check-in atrás de um
acrílico.
A mulher por trás disso sorriu gentilmente para mim.
— Posso ajudar? — perguntou.
Limpei a garganta.
— Estou aqui para ver o senhor Edwin. Meu nome é Celeste
Finnegan — informei, e seu rosto se contorceu em uma mistura de
reconhecimento e tristeza.
Ela sabia quem eu era; estava me esperando. Mas também
sabia por que eu estava lá.
— Sinto muito pela sua mãe — começou, suavemente, e eu
agradeci. — Vai levar um momento. Deixe-me dizer ao senhor Edwin
que você chegou.
Ela desapareceu e fiquei sozinha nesta sala pintada de
branco demais e decorada de maneira muito simples. Imaginei que
os escritórios de advocacia não foram feitos para serem
aconchegantes. Eles eram focados em negócios. E esse negócio era
duro, exigente e frio.
— Ele está pronto para você. — Ela reapareceu em uma
porta, segurando-a aberta para eu passar. — Por aqui — convidou,
enquanto caminhávamos em direção ao final do longo corredor. Ela
colocou só a cabeça para dentro. — Senhor Edwin, a senhorita
Finnegan está aqui para vê-lo.
Charles Edwin era um homem mais velho, com cabelos
grisalhos e óculos que combinavam perfeitamente com seu rosto.
Ele parecia bastante agradável, mesmo que o negócio com o qual
lidava não fosse tão agradável assim.
— Olá, Celeste. É um prazer conhecê-la pessoalmente.
— Obrigada. Também é um prazer te conhecer.
— Você não sabia nada sobre isso, não é? — perguntou, de
uma maneira quase jovial, como se a coisa toda fosse um pouco
cômica. O que, eu imaginei, de certa forma, era.
— Não. Eu não tinha ideia — comecei a dizer antes de
acrescentar: — Quer dizer, presumi que minha mãe teria um
testamento, mas apenas pensei que seria algo escrito em um
pedaço de papel que encontraria em casa.
Ele riu.
— Provavelmente em giz de cera, certo?
Eu sorri em resposta.
— Sua mãe queria tudo legal e feito de acordo com as
regras. Foi a única coisa em que insistiu.
Ele falava dela com tanto carinho que eu sabia que eram
amigos.
— Você a conhecia — afirmei, com naturalidade. Não era
uma pergunta.
Charles assentiu uma vez, um sorrisinho brincando em seus
lábios.
— Trabalhei com ela há muito tempo.
— No supermercado? — Fiquei surpresa, porque Charles não
parecia o tipo de cara que trabalharia em um supermercado.
Mas devia ser lá, porque a loja foi o único lugar onde minha
mãe já trabalhou. Ela começou no ensino médio em um verão e
continuou até chegar a uma posição de gerente, adorando cada
segundo disso. Minha mãe sempre disse que a maioria das pessoas
estava de bom humor quando entrava na loja. E aqueles que não
estavam geralmente saíam do caixa com um sorriso no rosto em vez
de uma carranca.
— Trabalhei no açougue durante as férias por um ano. Mas
continuamos amigos no Facebook.
Essa resposta me fez rir alto. Minha mãe adorava seu
Facebook; ela o baixou em seu telefone e o atualizava
constantemente.
— Você conheceu meu pai então? — Essa foi uma pergunta.
Ele também havia trabalhado com ela por um breve período
na loja, até onde eu sabia.
— Não. Ele já havia deixado vocês quando comecei a
trabalhar lá. Eram apenas Josie e suas duas filhas.
O sorriso não saiu do meu rosto, mesmo quando perguntei
sobre meu pai ausente.
— Sabe, tentei convencer sua mãe a sair comigo. Perguntei a
ela umas vinte vezes — revelou, com uma risada.
Tentei imaginar nossa vida com Charles como nosso
padrasto. Ele parecia bastante gentil, mas não enxergava — ele com
ela. Mamãe era muito despreocupada, muito feliz, muito caprichosa,
e Charles parecia um pouco tenso demais.
— Ela nunca disse sim, presumo?
— Sem chance — ele disse, com um aceno de cabeça, mas
eu já sabia disso.
Minha mãe nunca teve um namorado enquanto Tyra e eu
éramos crianças, porque ela dizia que a deixava desconfortável
trazer um homem estranho para uma casa onde moravam duas
lindas meninas. Ela sugeriu que isso era um convite a problemas,
então colocou sua vida pessoal em espera até que nós duas nos
mudássemos.
— Bem, se isso faz você se sentir melhor, ela nunca namorou
ninguém enquanto morávamos com ela.
— Acabei entendendo isso — garantiu e acrescentou: —
Facebook.
Minhas emoções cresceram dentro de mim quando ouvi esse
homem falar com tanta familiaridade sobre minha mãe.
Foi agradável. Reconfortante.
— Acho que deveríamos começar a trabalhar então. Tenho
certeza de que você tem outras coisas para fazer — sugeriu, e me
peguei encolhendo os ombros.
— Na verdade, não. Mas tenho certeza de que minha irmã
mais nova provavelmente está enlouquecendo agora, querendo
saber o que está acontecendo, então… — expliquei, e ele levantou a
mão.
— Não diga mais nada. — Charles pegou a pasta que já
estava em sua mesa e a abriu, retirando papéis, um de cada vez. —
Ok. Esta é a última vontade e testamento da sua mãe. Você quer ler
você mesma ou quer que eu repasse com você?
Engoli em seco, me perguntando por que mamãe poderia
precisar de um testamento legal. Nunca tivemos muita coisa. Não
que passássemos dificuldade ou realmente quiséssemos as coisas.
Nós simplesmente não éramos ricas.
— Você pode repassar comigo? Receio que se eu pegar e
levar para casa, terei dúvidas ou não saberei o que metade significa.
Ele sorriu, seus olhos enrugando nas bordas.
— Claro.
Charles começou a falar sobre assuntos jurídicos antes de me
informar que Josie Finnegan havia deixado tudo igualmente para
Tyra e para mim. Agora éramos orgulhosas proprietárias de uma
casa — já éramos há mais de um ano e nem sabíamos disso. A casa
havia sido quitada, os impostos sobre a propriedade e o seguro
residencial pagos durante o período.
Todas as suas economias, suas duas aposentadorias,
deveriam ser divididas igualmente entre nós. Assim como o valor do
seguro de vida, que ele alegou não ser muito alto, porque ela o
adquiriu após ser diagnosticada. Não era uma merda que quando
você precisava de seguro para cuidar de sua família porque sabia
que ia morrer, ninguém queria te dar nenhum? Como se eles não
conseguissem imaginar realmente ter que pagar uma indenização.
— Eu nem sabia que ela tinha essas coisas. As duas
aposentadorias — falei, surpresa.
— Josie trabalhou naquela loja por quase trinta anos. Ela
conseguiu guardar bastante dinheiro — explicou, empurrando um
pedaço de papel em minha direção para que eu pudesse ver a
quantia em dólares.
Meu cérebro girou dentro da cabeça. Como nunca tinha
considerado isso antes?
— Isso é uma piada? — Eu nem conseguia compreender ter
tanto dinheiro, e aqui estava ele, sendo entregue a mim por
nenhuma outra razão a não ser o fato de eu ainda estar viva e ela
não.
— Ela fazia muitas horas extras, ganhava férias, trabalhava
em dobro aos domingos… esse tipo de coisa. Ela planejou o futuro
dela e o seu futuro e de Tyra também.
— Tyra vai pirar — soltei, sem pensar.
Duzentos e cinquenta mil dólares para cada uma era muito
dinheiro. Sem falar que tínhamos que ficar com a casa também e,
ainda por cima, ela estava paga.
— Normalmente, você teria que ir até o banco e assinar a
papelada para conseguir tudo isso, mas eles abriram uma exceção
para sua mãe. Como seu administrador, assim que ela ficou
incapacitada do ponto de vista financeiro, pude assinar tudo em seu
nome. O dinheiro será transferido para suas contas assim que você
preencher esta papelada.
Ele moveu outro formulário em minha direção e comecei a
preencher as informações da minha conta.
— Não sei as informações bancárias de Tyra.
— Eu imaginei isso. É por isso que todo o valor irá para você,
e você distribuirá para ela — explicou, como se não fosse grande
coisa que quinhentos mil dólares aparecessem na minha conta um
dia.
— O dinheiro irá apenas para minha conta bancária? —
perguntei, ainda perplexa com todas essas notícias. — Sim. Meu
sócio aqui na empresa é especialista financeiro. Sei que isso é muito
dinheiro para receber de uma vez, então, se vocês precisarem de
alguma ajuda ou conselho financeiro — ele engoliu em seco — se
quiserem começar a investir ou algo assim, é só me avisar, e eu
arrumo um encontro para vocês com ele, ok?
— Tudo bem — respondi, escrevendo os dois últimos
números da minha conta bancária no formulário, assinei e deslizei de
volta em sua direção.
— É basicamente isso. O carro dela está quitado e você pode
mantê-lo ou vendê-lo. Ela disse que não se importava e imaginou
que nenhuma de vocês iria querer. O documento está na pasta. —
Ele fechou o arquivo depois de colocar cuidadosamente todos os
papéis de volta dentro e me entregou. — Tenho outra coisa que
você precisa assinar — prosseguiu. — Apenas reconhecendo que nos
encontramos, que revisei o testamento com você e lhe dei todo o
conteúdo listado na seção dois.
— Tudo bem — garanti, minha mão tremendo enquanto
pegava uma caneta. Passando para a seção dois, li o índice,
certificando-me de estar ciente de cada item listado, e assinei meu
nome em três lugares.
Fiquei de pé, apertando a mão de Charles e agradecendo-lhe
por tudo o que ele tinha feito — tanto por minha mãe quanto por
minha irmã e por mim.
Quando me virei para sair, sua voz me parou.
— Ah, droga. Há uma última coisa — disse ele, estendendo
um grande envelope pardo em minha direção. — Quase esqueci. Sua
mãe teria voltado à vida só para me matar se eu não lhe desse isso.
Peguei com cautela, me perguntando o que poderia ser
quando reconheci a letra da minha mãe na frente do envelope na
cor de seu marcador verde favorito.
Para minhas meninas.
— Você sabe o que é isso? — perguntei, e vi seus olhos
começarem a lacrimejar antes de ele esfregá-los rapidamente.
— Eu sei. Desculpe, normalmente não sou tão emotivo. Sua
mãe era uma pessoa maravilhosa. Eu simplesmente odeio a forma
como tudo terminou para ela — declarou, e senti meus próprios
olhos se encherem de lágrimas.
— Obrigada por dizer isso.
Eu também odiava. Foi uma besteira total e nem
remotamente justa.
— Você me avisará se precisar de alguma coisa ou se eu
puder ajudar, certo? — perguntou, quando passei pela porta e entrei
no corredor.
— Aviso. Obrigada mais uma vez — eu disse, mas nós dois
sabíamos que eu não faria isso.
ACHO QUE SOMOS RICAS
AGORA
CELESTE
Fiquei sentada em meu carro estacionado por dois segundos
antes de pegar o envelope, a pasta de arquivo, minha bolsa e as
chaves e praticamente correr em direção à varanda da frente. Tyra
realmente iria enlouquecer por causa do dinheiro e da casa. Eu
esperava que ela não fizesse nada estúpido, como comprar um
monte de coisas novas que ela não precisava, mas você nunca
poderia ter certeza quando se tratava da minha irmã caçula.
Às vezes, ela era incrivelmente calma e controlada, mas, em
outras, era a pessoa mais impulsiva que eu conhecia. Não ficaria
surpresa se ela me ligasse em duas semanas para me dizer que
comprou um bar com o dinheiro… ou um clube… ou um salão de
cabeleireiro ou algo assim.
Talvez eu devesse ligar de volta para Charles Edwin e pedir
para me encontrar com seu conselheiro.
Entrei na casa e a porta de tela se fechou atrás de mim,
alertando Tyra da minha presença.
— Celeste?! — ela gritou, um pouco surtada, e me perguntei
quantas vodcas com um único toque de cranberry ela tinha bebido
enquanto eu estava fora.
— Sou eu. Onde você está?
— Ainda na cozinha. Literalmente não me mexi desde que
você saiu — respondeu e começou a rir. Quando me virei no
corredor, a encontrei exatamente no mesmo lugar onde a deixei.
— É pedir demais que o que está em sua mão seja a mesma
bebida de antes?
— É pedir demais. Você se foi há, tipo, uma hora. Quem leva
uma hora para tomar uma bebida?
— Justo. Você não está bêbada, certo? — perguntei, porque
a última coisa que eu queria era entrar nos assuntos da mamãe com
Tyra num estado de espírito alterado. Eu odiaria ter que passar por
tudo isso novamente pela manhã.
— Eu não estou bêbada — argumentou, com firmeza. —
Ainda. Agora, me diga o que o advogado figurão, o senhor Eu Tenho
o Testamento da sua Mãe disse.
— Faça-me um desses primeiro. — Decidi me juntar a ela. —
Mas com muito mais cranberry. Gosto da minha cor vermelha de
verdade, obrigada.
— Fraca — sussurrou baixinho, e eu sorri enquanto a
observava encher meu copo quase até o topo com o suco antes de
adicionar a vodca.
— Espertinha — reclamei, zombando, mas tomei um gole
saudável quando ela deslizou para mim. — Ah, isso está bom.
Ela se curvou em uma reverência antes de pegar seu copo e
acenar com a cabeça em direção à mesa. Nós duas nos sentamos,
olhando uma para a outra, e percebi que ela estava um pouco
nervosa, ou ansiosa, ou algo assim.
Ela tomou outro gole saudável de sua bebida.
— Você pode me dizer agora. Estou preparada.
Ocorreu-me então que Tyra poderia estar pensando que
tínhamos ficado sem nada, desoladas e forçadas a desistir da casa.
— Mamãe realmente cuidou de nós, Ty — comecei, antes que
todas as emoções começassem a jorrar de mim em forma de
lágrimas.
— O que você quer dizer? Como assim? — Ela se encostou na
mesa, seus olhos fixando-se nos meus e segurando-os.
— Ela nos deixou a casa. Está toda paga. O carro dela
também. E ela economizou um monte de dinheiro que deveríamos
dividir.
Esperei que ela me questionasse quanto dinheiro,
imaginando que seria a próxima pergunta lógica, mas não.
Ela recostou-se na cadeira, pegou sua bebida e bebeu.
— Nós podemos ficar com a casa? — foi tudo o que ela quis
saber quando finalmente falou, com a voz trêmula, as lágrimas
escorrendo pelo seu rosto.
Eu não tinha percebido até aquele momento o quanto esta
casa realmente significava para ela. Pensei que entendia, mas vê-la
assim realmente me tocou.
— Ela fez muito por nós. — Tyra enxugou o rosto.
— Ela fez tudo por nós — concordei.
Nossa mãe realmente tinha feito. Colocou sua vida em espera
até que nós duas nos mudássemos e começássemos nossas próprias
vidas. Acabou ficando doente logo depois, mas nunca contou a
nenhuma de nós. Eu gostaria de pensar que foi porque imaginou
que se curaria do câncer e nenhuma de nós jamais saberia. Mas a
vida não seguiu os planos que traçamos e ela foi obrigada a nos
contar porque o câncer a consumia, pedaço por pedaço.
— Há mais uma coisa — avisei, e Tyra se recompôs
momentaneamente para me lançar um olhar questionador.
— O que mais poderia haver?
— Ela nos deixou isso. — Peguei o envelope pardo e deslizei-
o sobre a mesa em direção a ela.
— O que é isso? — perguntou, vendo a caligrafia familiar da
mesma forma que eu vi no escritório do advogado. — Posso abrir?
— Tyra já estava trabalhando na cola adesiva no verso, tentando
desfazê-la antes mesmo de eu responder. Ela engasgou e cobriu a
boca com uma das mãos.
— O que é? — perguntei, querendo saber tudo.
— É uma carta. — Ela começou a despejar o conteúdo do
envelope em cima da mesa. — E passagens?
Minha cabeça estava girando e eu não tinha certeza se eram
todas as emoções, a vodca ou uma combinação das duas.
— Leia. Leia a carta — insisti, e ela pegou-a e começou a
desdobrá-la. Então, leu as palavras em voz alta.
br/
Minhas queridas filhas,
br/
Sempre falamos em conhecer lugares novos, não é? Vivendo grandes aventuras onde ninguém
sabia nada sobre nós, exceto o que lhes contávamos. Sempre pareceu tão emocionante e, para
ser sincera, eu estava planejando fazer acontecer. Uma viagem especial com minhas meninas.
Lamento não termos tido a oportunidade. Mas só porque minha vida acabou, não significa
que a de vocês acabou. Todas nós sabemos que suas vidas estão apenas começando. Há
tantas novidades que vocês ainda terão. Então, Celeste, Tyra, VÃO VIVER. Vocês não
fazem isso há muito tempo, cuidando de mim. E, embora eu agradeça mais do que vocês
jamais imaginarão, é hora de vocês duas fazerem algo por si mesmas.
Sei que deve ser muito difícil e doloroso para vocês me verem definhar, mas adorei tê-las por
perto. Isso é egoísta? Provavelmente.
É por isso que estou... sem interesse... hã... enviando vocês duas para a Irlanda. Sabem que
estarei lá em espírito, seguindo vocês. Caramba, provavelmente já estou lá agora, esperando
ambas aparecerem. As passagens estão aqui junto com seu itinerário. Está tudo planejado.
Tudo pago. Não há mais nada que vocês precisem fazer por mim. Exceto esta última coisa.
Vivam. Vivam com todo o seu coração. Comecem em nossa terra natal.
Sinto a falta de vocês mais do que poderão imaginar.
Mas não se esqueçam: estarei observando. Não quebrem os corações de todos os irlandeses
enquanto estiverem lá.
Beijos,
Mamãe
br/
— O quê? — arrastei a palavra. Justo quando pensei que não
aguentaria nem mais um pingo de choque, meu corpo se apertou
ainda mais. — Leia de novo. Leia a carta de novo.
— Não. Você lê de novo. — Ela jogou em minha direção e
pegou o que presumi serem as passagens de avião e tudo mais que
havia no envelope. — Silenciosamente. Leia em silêncio, Celeste.
Caramba, nós vamos para a Irlanda!
Li a carta mais cinco vezes até praticamente memorizá-la.
Quando olhei de volta para a mesa, Tyra havia empurrado o
itinerário na minha cara e, em vez de ficar triste, eu estava
começando a ficar animada.
— Celeste? — Tyra disse meu nome suavemente.
— Sim?
— Partiremos em três dias — disse ela, e meu queixo caiu
quando meu coração começou a disparar.
— Três dias? — perguntei, de repente me sentindo
estressada antes que uma calma estranha tomasse conta de mim, e
então eu sabia que minha mãe estava aqui comigo, me dizendo que
tudo ficaria bem.
— Vou fazer as malas. — A cadeira dela rangeu contra o chão
de madeira ao empurrá-la para trás e desaparecer no corredor.
Percebi que nunca contei a ela quanto dinheiro cada uma de
nós tinha agora, mas isso poderia esperar. As irmãs Finnegan
estavam indo para a Irlanda.
PODERIA SER PIOR
CELESTE
Mamãe realmente havia planejado tudo. Voamos na primeira
classe com assentos que reclinavam totalmente e basicamente
viravam uma cama. Uma cama em um avião! Achei que Tyra iria
acampar com sua máscara e nunca mais iria embora.
— Esta é a melhor coisa do mundo — afirmou, durante o
voo, enquanto tomava um coquetel e assistia a um filme em sua
própria TV. — Acho que nunca mais poderei viajar de econômica.
Quase lhe disse que provavelmente não precisaria fazer isso
se não quisesse, mas algo me impediu. Eu não tinha certeza do quê
ou por quê, mas ainda não tinha contado a quantidade de dinheiro
que possuíamos no momento, e ela nunca mais me perguntou sobre
isso.
O valor total chegou à minha conta bancária esta manhã,
pouco antes de embarcarmos, e quase comecei a engasgar quando
vi o número na tela do meu telefone. Agi com calma, fechando o
aplicativo antes que Tyra pudesse olhar por cima do meu ombro e
ver e surtar adequadamente.
Pensei em lidar com todos os detalhes do dinheiro,
transferindo a metade dela para ela assim que voltássemos para
casa, nos Estados Unidos. No momento, queria que fizéssemos o
nosso melhor para aproveitar a vida em outro país, tudo graças à
mamãe.
O avião pousou com um solavanco, atingindo a pista com
mais força do que eu estava acostumada, mas Tyra nem se mexeu.
Ela estava dormindo profundamente, com tampões nos ouvidos,
aquela maldita máscara de dormir sobre os olhos. Estendi a mão em
meu enorme assento/cama para tocá-la e mal consegui alcançá-la.
Cutuquei a perna dela com o dedo e continuei fazendo isso até que
ela se mexeu, tirando lentamente a máscara dos olhos e piscando
para mim.
— O que você quer? — perguntou, com um gemido, tirando
os protetores de ouvido.
— Chegamos — avisei, um sorriso repentino tomando conta
do meu rosto.
Caramba, estamos na Irlanda!
— Chegamos? — Ela se endireitou e começou a esticar os
braços sobre a cabeça. — Que horas são?
Dei de ombros.
— Acho que são dez da manhã.
— Estou tão feliz por ter dormido. Talvez eu não tenha jet
lag.
Esse era o plano. Dormir durante a noite para que quando
finalmente desembarcássemos aqui nos sentíssemos um tanto
normais, para que pudéssemos tentar nos acostumar com a
diferença de horário sem perder um dia inteiro. Li um monte de
dicas e truques para voos internacionais on-line antes de partirmos.
Um deles disse para nos forçarmos a ficar acordadas pelo menos até
às sete da noite, se possível, por mais cansadas que estivéssemos.
Eu não tinha certeza se estava pronta para o desafio, mas planejei
dar tudo de mim.
Bocejei e Tyra fez um som de desgosto para mim.
— Não. É melhor você ter dormido durante o voo.
— Eu dormi. Só não tanto quanto você.
Saímos do avião e lemos as placas, gratas por estarem em
inglês, enquanto navegávamos por longos corredores até a
alfândega.
— O que faremos a seguir?
— O itinerário diz que alguém estará esperando para nos
levar ao nosso destino. Eles provavelmente estarão esperando na
esteira de bagagens como fazem em casa — eu disse, esperando
estar certa.
Depois de passar pela alfândega, o que levou quinhentos mil
anos, não tivemos que esperar muito pelas nossas malas. Outra
vantagem da primeira classe era descer pela rampa antes de todos
os outros. Arrastei minha mala atrás de mim, as rodas travando de
vez em quando enquanto eu examinava as pessoas que esperavam
na área comum, procurando por quem poderia ser nosso misterioso
passeio.
Tyra se inclinou em minha direção e sussurrou:
— Lá. — E apontou para longe.
Um cara, que parecia bonito demais para aquela hora da
manhã, estava de pé, segurando nossos nomes em uma placa
escrita à mão. A escrita estava confusa, mas não havia como negar
que ele estava esperando por nós.
— Vi primeiro — disse minha irmã mais nova.
À medida que nos aproximamos, percebi que ele estava
definitivamente mais próximo da minha idade do que da dela.
— Vi primeiro o caramba — sussurrei baixinho, mas sabia que
ela tinha me ouvido. — Meu Deus, Ty. Se todos os homens na
Irlanda se parecerem com ele, talvez nunca mais iremos embora —
decretei, com uma risada, e continuamos nos aproximando do que
quer que fosse feito esse lindo espécime de homem.
Ele era alto, sombrio e lindo. Classicamente assim. Com uma
barba rala que delineava seu rosto e acentuava suas feições
marcantes. Já fazia muito tempo que não sonhava com um cara,
mas no segundo em que seus olhos verdes se fixaram nos meus,
pensei que meus joelhos poderiam fraquejar.
Minha respiração ficou presa no peito e me vi sem palavras
em vez de estar cheia delas, como de costume.
— Celeste e Tyra? — perguntou, falando tão rápido que era
difícil decifrar. Seu sotaque também soava… estranho. Não apenas
irlandês, mas como se estivesse misturado com algo totalmente
diferente.
Aparentemente, me tornei especialista em dialetos durante o
voo.
Assenti em resposta à sua pergunta, enquanto Tyra não
perdeu tempo em se aconchegar ao lado dele em alguma tentativa
de reivindicar o direito que ela disse ter momentos atrás. Ele me
lançou um olhar que não consegui decifrar, mas os arrepios que isso
causou na minha espinha não puderam ser negados. Deu-me um
sorriso malicioso e juro que meu coração disparou dentro do peito.
— Eu sou Patrick. Vou levá-las para a pousada. — Sua voz
era profunda e sexy.
E mesmo que fosse um pouco difícil entender o que diabos
ele estava dizendo, decidi que não me importava. Se esse homem
quisesse conversar comigo a noite toda, lendo sua lista de compras,
eu ouviria.
Minha voz ainda estava perdida em algum lugar bem dentro
de mim. Cada vez que eu abria a boca para falar ou dizer algo em
resposta, nenhum som saía.
— Tiveram um bom voo? Você precisa usar a casa de banho?
Aquele maldito sotaque, tão forte e quase confuso, mas
ainda sexy como o inferno, saindo daquela boca.
Essa boca…
Tyra parou de andar e lançou-lhe um olhar engraçado,
tirando-me do transe autoimposto.
— O que você acabou de dizer?
— Sim, você perguntou se precisávamos usar a casa de
banho?
Tyra e eu nos entreolhamos, com sorrisos em nossos rostos.
Acho que encontrei minha voz, afinal.
Quem diabos diz casa de banho?
— Desculpe, eu quis dizer, o toalete. Quero dizer, o banheiro.
Temos uma pequena viagem e está caindo uma pancada lá fora.
Odiaria termos que parar no caminho de volta se não fosse
necessário.
Eu não pude deixar de rir. Presumi que a pancada significava
que estava chovendo, mas não me lembrava de ter visto chuva pela
janela do avião.
— Está chovendo? — perguntei.
— Ah, sim. — Ele assentiu. — Começou quando cheguei para
buscá-las.
Seguimos Patrick para fora e em direção ao estacionamento,
onde presumi que seu carro estava esperando para nos levar aonde
quer que fôssemos — e não para sermos assassinadas e nossos
corpos jogados na Irlanda, onde ninguém saberia que estávamos
desaparecidas ou jamais viria nos encontrar.
Quando chegamos a um Audi cinza, o porta-malas se abriu e
Patrick pegou nossa bagagem e colocou dentro como se não
pesassem nada, já que Tyra e eu tivemos dificuldade para levantá-
las.
— Nós duas vamos sentar atrás — sussurrei para minha irmã
mais nova, sabendo muito bem que ela planejava sentar na frente,
ao lado de Patrick. Eu não aceitaria nenhuma de suas travessuras
agora.
Entramos no carro, Patrick sentado na minha frente — do
lado errado do carro. Então me lembrei de que eles faziam isso aqui:
dirigiam do lado errado da estrada e sentavam do lado errado do
carro.
— Não é difícil dirigir no lado errado da estrada? — Tyra
perguntou, com a voz séria, e Patrick riu.
— Não é o lado errado para mim, amor — disse ele, e juro
que ela quase desmaiou com o uso do apelido e me deu um soco na
coxa.
Fiquei com ciúmes na hora, o que foi absolutamente insano,
mas lá estava eu, furiosa por ele tê-la chamado de amor. Se eu
tivesse que passar toda essa viagem como vela de algum caso de
amor, eu iria… não sabia o que iria fazer, mas não seria nada bonito.
Patrick pagou pelo estacionamento e rapidamente nos
conduziu para longe do aeroporto e em direção à grande metrópole
ao longe. Dublin.
— Então — comecei a dizer quando os olhos de Patrick
encontraram os meus no espelho retrovisor — seu sotaque. — Os
lados de seus olhos enrugaram e eu sabia que ele devia estar
sorrindo.
— É um pouco foda, certo?
— Acho que você pode dizer isso. — Eu ri da palavra. —
Simplesmente não parece completamente irlandês.
Tyra bateu na minha perna novamente.
— Por que você diria isso? — ela me repreendeu e se inclinou
para frente, esticando o cinto de segurança o máximo que podia. —
Acho que é sexy. E parece perfeitamente irlandês para mim.
Revirei os olhos. Não pude evitar.
— Mas sua irmã está certa. Fui criado na Inglaterra. Só estou
na Irlanda há cerca de seis anos. Então, meu sotaque é uma mistura
dos dois.
— Bem, eu acho que é adorável — Tyra acrescentou e se
recostou em seu assento novamente, e concentrei minha atenção
em tudo o que podia ver pela janela e através da chuva.
Tudo era tão grande e movimentado e, embora
definitivamente encantador à sua maneira, não era nada do que eu
esperava quando chegamos. Não tinha ideia de por que
simplesmente presumi que Dublin seria uma cidade pequena e
idílica, com nada além de ruas de paralelepípedos, onde todo mundo
se conhecia, mas não era nada disso. Menos as ruas de
paralelepípedos. Eu definitivamente vi algumas.
Mas Dublin era grande. Enorme, na verdade. E movimentada.
Superlotada. E, por mais legais que fossem os prédios, me senti
grata por não estarmos hospedadas lá. Por alguma razão, não queria
estar cercada pela agitação da vida cotidiana que poderia vivenciar
em casa. Queria me sentir como se estivesse em outro país, e não
como se nunca tivesse saído do meu.
— Então, para onde estamos indo exatamente? — perguntei,
mesmo que o nome da cidade estivesse no documento de Word que
minha mãe havia fornecido.
— Tecnicamente, estamos indo para Kilkenny — respondeu,
como se eu tivesse alguma ideia do que isso significava ou onde era.
Eu nem tinha verificado um mapa antes de partirmos para a
viagem, muito exausta e sobrecarregada com tudo em geral.
— A que distância isso fica daqui? — Tyra já parecia
impaciente. — Estou cansada de ficar sentada — explicou ainda
mais, e balancei a cabeça em compreensão. Eu também estava
cansada de ficar sentada.
— Cerca de uma hora e meia de carro. Fiquem à vontade
para tirar uma soneca — sugeriu, e nós duas rimos, gritando uma
por cima da outra.
— Já dormi o suficiente — disse Tyra.
— Não quero deixar de ver nada — acrescentei, olhando pela
janela para a paisagem ondulada que passava por nós.
Nossa viagem continuou, em uma das menores estradas que
já vi, quando um rio apareceu do nada antes de desaparecer de
vista novamente. E, de vez em quando, escondido por ervas e
árvores crescidas, eu via o que pareciam ser restos de antigos
castelos ou igrejas — não tinha certeza de quais. O trabalho em
pedra, mesmo em estado de decomposição, era de tirar o fôlego.
Rivalizava com algo que eu só tinha visto em filmes antes, mas
estava aqui e era real. A Irlanda era mágica. Era tudo que tinha que
ser.
Depois de ficar no carro por quase duas horas — ficamos
presos atrás de um homem puxando uma carroça por um tempo —,
Patrick conduziu seu Audi por uma estrada de terra e, antes que
percebesse, estávamos passando por um prédio de paralelepípedos
cinza, com venezianas vermelhas escuras revestindo cada janela. Era
absolutamente encantador e diferente de tudo que eu já tinha visto
antes.
— É aqui que vamos ficar? — Tyra saltou, aparentemente tão
animada quanto eu.
Uma placa que dizia Pousada do Príncipe estava pendurada
em um braço de ferro preto, anunciando o nome.
— Sim. Lar doce Lar. — O sotaque de Patrick percorreu meus
ossos mais uma vez.
— Pousada do Príncipe — falei, dizendo o nome em voz alta.
— Você vive aqui?
— Sim, vivo. Na verdade, isso aqui é meu — esclareceu.
— Você é o dono da pousada? E foi nos buscar? —
questionei, surpresa.
A maioria dos proprietários nos Estados Unidos teria
contratado outra pessoa para fazer o transporte.
— Serviço completo, querida.
Querida. Ninguém com menos de sessenta anos havia me
chamado de querida antes. Mas eu gostei. Um pouco demais.
E agora entendi como Tyra se sentiu quando ele se referiu a
ela como amor. Eu queria que Patrick me chamasse de querida toda
vez que falasse comigo… o que eu esperava que fosse muito.
DOS ESTADOS UNIDOS
PATRICK
Já conheci muitas mulheres dos Estados Unidos antes.
Especialmente depois que aquela série Outlander, ou seja lá qual for
o nome, se tornou popular no país. Eu sabia que se passava na
Escócia, mas as mulheres de lá estavam à procura de algo sensual e
estrangeiro. E essa caçada também as levou para a Irlanda. Já
recebi propostas mais vezes do que gostaria de admitir. Não que isso
não fosse lisonjeiro, mas tenho lidado com mulheres tentando me
levar para a cama durante toda a minha vida.
Não era algo que eu realmente gostava.
Então, eu tinha menos de zero expectativas quando apareci
no aeroporto hoje. Por que eu deveria? Tyra e Celeste eram apenas
mais um par de clientes que vinham aqui para Deus sabe o quê.
Curtir a vida? Uma transa rápida? Uma aventura irlandesa? Era
sempre a mesma história: elas vinham para cá, conheciam alguns
moradores locais, bebiam nossa cerveja e depois voltavam para
casa, nos Estados Unidos, e nunca mais olhavam para trás.
Sempre tinha esperança de que, se elas voltassem, ficariam
na minha pousada novamente. Esse era o propósito de eu ser um
anfitrião acima da média. O retorno dos clientes. Mas isso era difícil
quando a maioria estava fazendo uma viagem única na vida. O
melhor que eu poderia esperar nessas situações era o boca a boca e
ótimas críticas on-line.
Quando me tornei um idiota?
Eu estava ocupado assistindo um casal se reunindo no
aeroporto e quase não a vi. Ela era atipicamente bonita, mas linda
mesmo assim. Seu cabelo longo e escuro precisava de uma
escovação e ela parecia cansada, mas era mais do que apenas o
voo. Havia uma tristeza em seus olhos que reconheci
instantaneamente, porque eu também tinha. Nos meus.
E mesmo que a loira fosse animada, amigável e um pouco
sedutora demais, fui atraído pela outra. Havia um peso pesando
sobre seus ombros, não importa o quanto ela tentasse esconder. Ela
estava sobrecarregada com a perda. Foi uma loucura a maneira
como a encontrei no meio da multidão, agora que tive tal
experiência.
No segundo em que meus olhos se fixaram nos dela, lutei
contra a vontade de tomá-la em meus braços e salvá-la da dor que
carregava. Mas eu sabia que ela precisava passar por isso sozinha.
Era a única maneira. E, claro, eu estava fazendo um monte de
suposições agora, mas senti que minha intuição estava certa.
Descobri que quem eu queria se chamava Celeste.
Quem eu queria? Que merda é essa?
Já poderia dizer que ficar longe dela seria um desafio. Ser
tentado por estranhos não era meu modus operandi habitual, mas
tudo nela era diferente. Ou talvez fosse meu maldito complexo de
salvador. Ver pessoas com dor tendia a me machucar e, por algum
motivo, ver Celeste com dor era como ser estripado por uma lâmina
enferrujada.
Essa garota seria o meu fim.

Assim que chegamos à pousada, mostrei-lhes o quarto. Sim,


elas poderiam ter encontrado sozinhas, mas eu ainda não estava
pronto para perdê-la de vista. Nunca esquecerei a maneira como as
duas engasgaram de prazer ao ver o espaço quando abri a porta.
— Ai, meu Deus, isso é tão fofo — disse Tyra, saltando de
cama em cama antes de escolher uma das três de solteiro.
— Estou feliz que você tenha gostado.
Celeste me encarou.
— Não sei o que esperava, mas não era isso.
— O que você quer dizer? — perguntei, intrigado. Eu queria
entrar na sua cabeça, no seu processo de pensamento, nas suas
calças.
— Hum, bem, o prédio parece velho — soltou, antes que
seus olhos dobrassem de tamanho. — Sem ofensa, quero dizer.
Apenas parece… — Ela fez uma pausa, procurando a palavra certa e
não ofensiva para dizer, mesmo que eu não estivesse nem um pouco
ofendido.
— Ter idade? — Eu ri. — Porque tem.
— Mas este quarto é tão leve e moderno.
Eu sorri.
— Eu o atualizei há alguns anos para acompanhar a clientela.
A maioria das mulheres não quer um quarto úmido e degradado —
justifiquei, meu sotaque saindo em uma mistura dos meus dois
mundos que até eu conseguia ouvir. Às vezes, meu cérebro ficava
travado, tentando escolher uma palavra, misturando irlandês e
inglês.
— É realmente lindo — declarou.
Senti orgulho do trabalho que meu melhor amigo e eu
fizemos. Remodelamos os quartos pensando nas mulheres e fizemos
todos os ajustes com base no feedback que obtive ao longo dos
anos.
Mesmo quando os quartos eram antiquados, eles ainda
ficavam lotados. Mas principalmente por moradoras da Irlanda e
algumas viajantes do Reino Unido. Eu sabia que era porque elas
sabiam quem eu era e estavam tentando me levar para a cama.
Todos queriam conquistar o coração de um príncipe. Mesmo que ele
tivesse renunciado ao seu direito ao trono e se afastado de todos os
aspectos da dita monarquia com a cabeça erguida.
— O pub tem comidas e bebidas muito boas. Você nem
precisa sair da propriedade para se divertir — contei, e Tyra deu
uma risadinha.
— Nós já sabíamos disso.
Sorri para ela, mas queria deixar claras minhas intenções:
não tinha interesse nela.
— Acho que você pode gostar de Blaire — sugeri, e o sorriso
morreu em seu rosto.
— Blaire?
— Ele é meu melhor funcionário e meu melhor amigo —
expliquei, e seu sorriso reapareceu.
— Ah, Blaire é um cara? — Ela balançou as sobrancelhas e eu
decidi que, sim, Blaire e ela se dariam muito bem. — Bem, talvez
nós quatro possamos jantar juntos?
Celeste pigarreou.
— Tenho certeza de que Patrick não tem tempo para isso.
Afinal, ele é o dono.
Dei um passo em direção a ela.
— Como sou o dono, posso arranjar tempo para o que quiser.
Eu adoraria jantar com você.
Suas bochechas ficaram vermelhas quando ela olhou dos
meus olhos para os pés. Eu queria lhe dizer para não ficar tímida ou
envergonhada comigo, para baixar a guarda e me deixar entrar para
que pudesse mantê-la segura para sempre, mas guardei as palavras
na boca. Não fazia sentido chegar tão forte, embora os pensamentos
marinassem dentro de mim. Ela parecia nervosa, e se eu já a tivesse
assustado, me arrependeria.
— O jantar seria ótimo — disse Celeste.
— Mas só se você trouxer Blaire — acrescentou Tyra.
— Seis horas — avisei, e as duas mulheres começaram a
engasgar com as risadas.
— Você disse sexo? — Tyra brincou.
Eu sabia que, por conta do sotaque, dizer seis — six, em
inglês — soava como sexo — sex — para a maioria dos
estadunidenses.
— Você sabe o que eu quis dizer. Acham que ainda estarão
acordadas? — Eu sabia o quão brutal o jet lag poderia ser, mesmo
se você tivesse dormido durante o voo.
— Aceito o desafio — prometeu Tyra e acrescentou: — Vou
mantê-la acordada.
— Se você não mantiver, eu manterei — garanti, com uma
piscadela, antes de deixar cair duas chaves em cima da mesa e sair
pela porta sem dizer ou fazer qualquer outra coisa estúpida.
Procurei por Blaire de cima a baixo, para poder avisá-lo de
que ele tinha planos para esta noite. Torci para ele não ter nenhum,
porque eu daria a desculpa do melhor amigo e o faria cancelar para
ser meu wingman, como os americanos gostavam de chamar.
Finalmente o encontrei nos estábulos. Eu deveria ter olhado lá
primeiro. Blaire adorava os cavalos.
— Aí está você — disse, e ele se virou como se eu o tivesse
assustado, com uma escova na mão.
— Eu estava apenas escovando Bessy.
— Estou vendo. — Puxei um banquinho e me sentei.
Ele focou seus olhos em mim, sentindo que algo estava
acontecendo.
— O que é?
— Preciso que você vá jantar comigo esta noite.
— Por que eu iria jantar com você? — Ele deixou cair a
escova para o lado e me lançou um olhar enlouquecido.
— Porque vamos com duas pessoas que estão hospedadas na
pousada.
— Duas pessoas que são hóspedes nesta pousada? —
enfatizou, sabendo o quão raro era eu sugerir isso. Apenas assenti.
— Essas hóspedes são mulheres? — Assenti novamente. — Bonitas?
Outro aceno de cabeça e ele começou a uivar de tanto rir.
— Do que você está rindo?
Ele continuou rindo como um adolescente.
— Você disse a ela que é um príncipe?
Joguei minha cabeça para trás.
— Não. Por que eu diria isso a ela?
— As garotas dos Estados Unidos adoram essa merda. Eu
mandaria fazer uma camisa e a usaria em todos os lugares, todos os
dias — afirmou, e eu sabia que ele estava falando sério.
Ele já me disse isso centenas de vezes. Blaire teria usado seu
direito de nascença para conseguir o máximo de bocetas que fosse
humanamente possível. Mas isso era porque ele não cresceu naquela
vida. Tudo parecia convidativo quando você estava de fora, olhando
para dentro.
— Todo mundo aqui já sabe que sou um príncipe.
— Mas ela não.
— Ela não vai se importar — garanti, com naturalidade, como
se conhecesse os pensamentos e desejos mais íntimos de Celeste
quando não tinha ideia. Pelo menos, ainda não.
— Como você pode ter tanta certeza?
Dei de ombros.
— Só tenho. Então, você virá hoje à noite?
— Claro que eu vou. Mas é melhor você não me dar a feia —
ameaçou, e eu revirei os olhos. — E não fique bravo quando eu
deixar escapar que você é um príncipe da vida real.
— Tente não fazer isso — avisei, mas sabia que era em vão.
Blaire faria e diria tudo o que fosse adequado às
necessidades de Blaire no momento.
— Você sabe que não posso ficar calado quando estou
bêbado.
— Tente não ficar bêbado esta noite então — pedi, fazendo
uma nota mental para dizer ao bar para não servi-lo demais.
Blaire tinha um grande coração, mas uma boca ainda maior.
— Sem promessas, cara.
Convidá-lo esta noite pode ter sido um grande erro. Acho que
vou descobrir.
JANTAR DE ENCONTRO
PATRICK
Eu estava muito nervoso. Era absolutamente ridículo me
sentir assim, mas aqui estava eu, parado na frente do espelho do
banheiro, querendo trocar de roupa pela décima vez, como uma
menina. Não havia nenhuma razão lógica para o meu nervosismo,
mas ele nadava dentro de mim de qualquer maneira, sem sinais de
que diminuiria tão cedo.
Os olhos tristes de Celeste passaram pela minha mente e
quis saber por que eles pareciam daquele jeito. Eu queria saber tudo
sobre ela. Por que veio aqui? Ela tem namorado em casa?
Não. Claro que não. Não quero saber a resposta a essa
pergunta.
Houve uma batida rápida na minha porta antes que ela se
abrisse e Blaire entrou.
— Está pronto? — perguntou, antes de me olhar de cima a
baixo.
Basicamente combinamos, ambos vestindo jeans e suéteres
escuros.
— Parecemos gêmeos, idiota.
Ele me ofereceu um encolher de ombros, como se não
pudesse se importar menos.
— Então?
— Vá se trocar — exigi, mas ele me olhou como se eu fosse
louco.
— Não.
— Sim.
— Não.
Dei um passo em direção a ele, fingindo estar ameaçando-o
quando ele sabia muito bem que eu nunca bateria nele.
— Vá se trocar, caralho.
— Se eu sair deste quarto, vou com o meu caralho direto
para o das garotas.
Meu temperamento começou a explodir. A ideia de Blaire
chegar a Celeste e trocar olhares com ela antes de mim me deixou
com raiva.
— Beleza. Vamos — rosnei.
Ele girou em círculos, fingindo ser um modelo para mim
enquanto passava a mão pelo peito.
— Posso usar isso então?
Negando com a cabeça, fui em direção à porta sem olhar
para trás ou responder. Eu sabia que Blaire estava me seguindo —
podia ouvir seus passos de Shrek atrás de mim.
— Vamos encontrá-las no pub ou buscá-las?
— Isto não é um encontro — respondi, embora com certeza
parecesse um.
— Então, vamos encontrá-las no pub?
— Sim.
— Espero que elas não tenham desmaiado — comentou, em
tom de provocação, mas eu estava pensando exatamente o mesmo.
A reserva delas era de apenas cinco noites, então não
tínhamos muito tempo. A princípio me perguntei se elas sairiam da
Pousada do Príncipe e iriam para algum outro lugar na Irlanda, mas
então me lembrei de que estávamos reservados para devolvê-las ao
aeroporto. A viagem era curta. Pelo menos, mais curta que a
maioria.
Caminhamos pelos corredores do meu prédio antes de
chegar à porta da frente. Abri, saindo para o ar da noite. Estava frio,
mas típico desta época do ano.
— São elas? — Blaire apontou para as duas mulheres prestes
a passar pelas portas do pub.
— Como você descobriu? — indaguei, porque ele estava
certo. Eram elas, mas como diabos ele sabia?
— Elas parecem dos Estados Unidos. — Ele encolheu os
ombros e eu balancei a cabeça, mas não pude discordar.
Elas pareciam de lá — com seus jeans de cintura alta e tops
justos. Se Celeste se virasse agora e me pegasse olhando para sua
bunda, não teria desculpas para oferecer.
Blaire acelerou.
— Elas parecem gostosas — comentou — pelo menos de
costas.
— Fique longe daquela de cabelo escuro, ouviu, babaca?
Ele sorriu tão largamente que pensei que suas bochechas
poderiam rachar.
— E se ela gostar mais de mim do que de você?
— Ela não vai.
— Pode ser que goste — argumentou, o som da música
flutuando no ar. — Quantos anos elas têm, afinal? — perguntou, e
percebi que não tinha ideia, então dei de ombros.
Sempre parecia que alguém estava tocando ou cantando no
pub. Era um modo de vida irlandês. Passei pelas portas duplas de
madeira abertas e fui imediatamente recebido por todos. Também
não era porque eu era um príncipe, mas sim por ser dono do lugar.
Os olhos de Blaire examinaram o espaço escuro, procurando
pelas garotas. Vi Tyra acenando para nós antes dele e bati em seu
ombro, me dirigindo na direção delas. Meus olhos encontraram os de
Celeste e os sustentaram. Eu não tinha certeza por que não
conseguia desviar o olhar dela, mas aqui estava eu de novo,
deixando as coisas desconfortáveis com meu contato visual
prolongado demais.
Quando chegamos à mesa, as duas mulheres se
aproximaram ainda mais. Sentei-me no assento vago ao lado de
Celeste e Blaire sentou-se ao lado de Tyra. Ela me deu um pequeno
sorriso e eu sabia que tinha aprovado.
— Você fez bem — Celeste sussurrou para mim. — Minha
irmã adora flertar.
— Ele também — apontei. — Todo mundo adora as covinhas
— acrescentei, porque era o que sempre ouvia quando saía com
Blaire. Como ele era fofo. Como suas covinhas eram de matar.
— Ele é o tipo dela — contou Celeste.
— Achei que poderia ser.
— E o meu tipo? — perguntou, me pegando de surpresa. Por
alguma razão, eu não a considerei do tipo atrevido.
— É por isso que estou aqui. Sou eu para você ou ninguém,
coração.
Ela mordeu o lábio inferior, comprimindo o rosto.
— Acho que posso lidar com isso. — Ela estava flertando. E
eu estava excitado.
— Que bom. Não suportaria ver você saindo com mais
ninguém na minha cidade — admiti, antes de pensar direito.
Seu rosto mostrou claramente seu choque antes que ela o
controlasse, fingindo estar completamente imperturbável.
— Ah, sério? E por que isso? — Ela se inclinou em minha
direção, sua mão de repente na minha coxa. Um pouco mais acima,
e ela estaria tocando meu pau, duro e pronto para ela.
Dei de ombros ligeiramente.
— Não sei dizer. Apenas saiba que é verdade.
— Quantos anos vocês tem? — Ela estreitou os olhos para
mim e esperou pela minha resposta.
— Tenho vinte e sete. Blaire tem vinte e cinco anos. Vocês?
— perguntei, prendendo a respiração.
— Vinte e cinco — respondeu, e me senti relaxar.
Graças a Deus.
— E sua irmã ali?
— Ela tem vinte e um anos — revelou, se recostando, e Tyra
puxou seu braço.
Olhei para Blaire, que me fez um sinal de positivo antes de
nosso garçom aparecer, carregando uma bandeja com quatro doses
de uísque.
— Achei que você começaria com isso, certo? — sugeriu,
colocando uma dose na frente de cada um de nós.
— Parece ótimo. Obrigado.
— O que é? — Celeste perguntou.
— Um dos nossos melhores uísques irlandeses — declarei,
com orgulho, como se eu mesmo tivesse feito, quando não fiz.
— Garotas americanas bebem uísque? — Blaire perguntou,
um pouco arrogante, e Tyra pegou seu copo e bebeu de um só gole.
— Acho que isso responde. — Tyra franziu a testa.
— Merda. Isso é forte.
— Não foi feito para ser tomado como um shot, amor —
explicou Blaire, tomando um gole lentamente, como se quisesse
ensiná-la.
Os dois beberam antes mesmo de brindarmos.
Estendi meu copo para Celeste.
— Sláinte — falei, e ela repetiu o brinde antes de tomar um
gole hesitante.
— Ouvi dizer que você tem uma boa cerveja aqui —
acrescentou Tyra, e o rosto de Blaire se iluminou.
— A melhor. Vou buscar algumas cervejas para nós.
— Você quem diz. De qualquer maneira, não consigo
entender metade disso. — Ela assentiu e o observou sair da cabine e
se afastar. — Ele é tão delicioso. Posso ficar com ele? — ela
perguntou enquanto se virava para mim. — Eu quero ele.
Eu comecei a rir.
— Ele é todo seu. Ele dá trabalho, no entanto. Não diga que
não avisei.
— Sim — ela mostrou a língua —, não tenho certeza se me
importo nem de longe.
— Ela é quem dá trabalho — garantiu Celeste, apontando
para a irmã.
— Então, escutem — interrompi —, pensei em apresentar a
vocês alguns pratos locais. Pode não ser o que estão acostumadas
nos Estados Unidos, mas vocês não podem sair da Irlanda sem
provar pelo menos um pouco, ok?
Celeste parecia nervosa. Talvez ela não comesse carne
vermelha. Muitas mulheres de lá não comiam, e eu nem pensei em
perguntar.
— Você come carne?
— Ah, sim, eu como. Não sou realmente de me aventurar
com comida — explicou. De repente, Blaire estava de volta,
equilibrando quatro Guinness nas mãos.
— Isso é cerveja? — Tyra perguntou, inclinando a cabeça
para ele.
— Você sabe que é. Você está brincando — disse Blaire, e ela
começou a rir.
— É Guinness, né?
— Sim — confirmou, examinando a mesa. — O que eu perdi?
Vocês dois parecem muito sérios aí.
— Eu estava dizendo a elas que escolhi a comida para esta
noite sem pensar — comentei.
Celeste colocou a mão no meu ombro e olhou para a irmã.
— Prometemos que tentaríamos coisas novas enquanto
estivéssemos aqui. Então, estamos prontas para isso.
— Se você não gostar, vou comprar algumas chips e um
hambúrguer.
— Chips são batatas fritas, certo? — ela perguntou, seus
olhos se juntando em confusão.
— Sim.
— Fechado.
Ela estendeu a mão e a peguei, apertei com firmeza antes de
fingir que a energia que percorria todo o meu corpo não tinha
acabado de acontecer.
Tocá-la era como brincar com fogo. E eu estava pronto para
me queimar.
ENTÃO… A IRLANDA É
DIVERTIDA
CELESTE
O pub era adorável e exatamente como eu imaginava: todo
em madeira escura e móveis antigos esculpidos. Tinha até um cara
com um violão dedilhando e ocasionalmente cantando ao fundo.
Talvez ele fosse o próximo Ed Sheeran? Inferno, talvez Ed Sheeran
viesse aqui às vezes para cantar. Eu deveria ter perguntado a
Patrick, mas não queria parecer uma espécie de fã stalker.
Todos pareciam tão felizes aqui, como se não tivessem
nenhuma preocupação no mundo. E talvez não. Talvez viver na
Irlanda fosse tão bom quanto parecia. Embora, para ser sincera,
estivesse um pouco frio. O ar estava úmido, mas era também por
isso que tudo estava tão lindamente verde. Não dava para ter um
sem o outro.
Quando Patrick percebeu que eu estava enrolando com a
minha cerveja, ele me perguntou se eu queria algo mais leve em vez
da “refeição” que era a Guinness. Agradeci a ele por ler minha
mente e fiquei grata quando voltou com algo delicioso e bebível,
pelos meus padrões.
Ele nos apresentou o pão de soda, dizendo que era feito de
centenas maneiras diferentes, mas o da pousada era o seu favorito.
Tinha um toque de mel e tive que me impedir de ficar cheirando o
pão inteiro. Também comemos ensopado irlandês e bacon cozido
com repolho. Devorei o ensopado, mas só consegui engolir algumas
mordidas do resto.
— Não faz muito seu tipo? — Patrick perguntou, terminando
até o último pedaço de comida em seu prato.
— O sabor é… — fiz uma pausa, pensando em como me
expressar sem ser ofensiva. — Não é o que estou acostumada.
— Você gosta de peixe?
Meu rosto se iluminou em um instante.
— Adoro frutos do mar.
— Bom saber.
— É algo comum aqui?
Ele assentiu vigorosamente.
— Sim. Salmão, bacalhau, ostras e mariscos.
— Peixe e batata frita?
— Sim.
— Você serve aqui?
— Claro — garantiu, com um sorriso. — Há quanto tempo
você é dono da pousada?
— Comprei há alguns anos. Logo depois que me mudei para
cá — explicou.
Mas eu poderia dizer que ele estava escondendo algo. Não
tinha ideia do que era, mas havia algo em seus olhos.
— Posso te perguntar uma coisa?
Assenti, tomando outro gole da minha cerveja.
— Claro.
— O que trouxe você e Tyra aqui?
Um nó rapidamente se formou na minha garganta quando as
lembranças da minha mãe me atingiram. A razão pela qual
estávamos aqui em primeiro lugar.
— Nossa mãe reservou a viagem para nós. — Apontei para
Tyra, que estava praticamente sentada no colo de Blaire, enquanto
alimentavam um ao outro.
— Eu lembro agora. Ela combinou tudo comigo por e-mail,
mas mencionou que não poderia viajar. Esse ainda é o caso? — Ele
mudou de posição, inclinando seu corpo mais em direção ao meu
enquanto eu falava por cima da multidão que agora dançava e a
música mais alta:
— Sim. Ainda é o caso — eu disse, usando sua escolha de
palavras quando comecei a ficar um pouco emocionada e
sobrecarregada. — Ela disse mais alguma coisa?
Ele negou com a cabeça.
— Na verdade, não. Só que estava planejando uma viagem
surpresa para vocês duas e lamentava não vir.
Respirei fundo de forma audível, emitindo um som que não
consegui conter. Patrick colocou a mão no meu braço e minha
frequência cardíaca aumentou com seu toque e me acalmou ao
mesmo tempo.
— Ela morreu — deixei escapar, antes que pudesse voltar
atrás.
Seu rosto se contorceu de dor. Ou talvez fosse pena. Odiei
que pudesse ser o último.
— Não sinta pena de nós. — Respirei fundo e recuperei
minhas forças.
Ele negou com a cabeça.
— Não. Quer dizer, sim. Claro que sinto. Você perdeu sua
mãe. É uma coisa terrível perder a mãe. Eu sei como é.
Minha respiração ficou presa na garganta, meu peito doía.
Ele sabia. Talvez tenha sido por isso que me senti tão atraída por ele
imediatamente — mais do que apenas por sua aparência.
Compartilhamos um vínculo comum, uma perda que a maioria das
pessoas teve a sorte de não conhecer até muito mais tarde na vida.
— O que aconteceu com sua mãe? Ela estava doente? —
perguntei, presumindo erroneamente que todos perdem os pais por
causa de alguma doença mortal.
— Não — ele disse, com um sorrisinho que continha tantas
emoções que não consegui ler todas. — Ela não estava doente.
Estava cheia de vida. Linda. Engraçada. Uma pessoa muito boa.
Seus olhos começaram a brilhar e odiei estar chateando-o.
— Você não precisa falar sobre isso. Desculpe. Eu não
deveria ter perguntado. — Tentei fazê-lo parar, mas ele colocou a
mão na minha coxa e apertou.
— Tudo bem. Gosto de falar sobre a vida dela. Eu
simplesmente odeio pensar na morte — explicou, e meu coração
parou.
— Meu Deus — suspirei. — Eu me identifico tanto. — Ainda
não tive tempo de pensar assim, mas resolvi guardar aquela frase
dentro de mim em algum lugar, para poder sempre me lembrar dela.
— Foi um acidente de carro. Estradas escorregadias.
Dirigindo muito rápido. Ela e meu irmão morreram — revelou.
Imediatamente olhei para Tyra, que estava em seu próprio
mundinho de Blaire. Eu não conseguia imaginar como seria perdê-la.
Devastador parecia uma palavra muito simples.
— Sinto muito, Patrick. Não consigo imaginar quão difícil
deve ter sido. Quanto isso deve ter doído.
Eu poderia dizer que as cenas estavam se repetindo em sua
mente, da mesma forma que na minha. Não era algo que pudesse
ser interrompido — as memórias. Elas eram coisas poderosas.
— Há quanto tempo isso aconteceu?
— Faz seis anos agora — disse ele, e meu coração doeu.
— Fica mais fácil?
— Não — respondeu, rapidamente. — Fica diferente.
Assenti com a cabeça, como se o que ele disse fizesse todo o
sentido. Ele sabia que minha perda ainda era recente, ainda nova,
então me agraciou continuando a explicar melhor sua perspectiva.
— No começo é quase insuportável, sabe? A dor e a perda.
Você pensa em todas as coisas pelas quais ela não estará por perto.
Ela sentirá falta do seu casamento, de conhecer o amor da sua vida
e dos seus filhos. Porém, em algum momento, você para de pensar
nessas coisas e só pensa nelas de vez em quando, em vez de em
todos os momentos.
Lutei contra as lágrimas, porque ainda estava naqueles
momentos, naqueles pensamentos, nas profundezas de tudo o que
ela perderia quando se tratasse de Tyra e eu. Eu ainda estava brava,
porque ela não nos viu casar ou conhecer seus netos.
— A perda se torna parte de você, em vez de algo que você
carrega consigo. Ela não vive mais fora do seu corpo, como aquela
coisa tangível que você poderia estender a mão, segurar e mostrar a
alguém. Em algum momento, você começa a conviver com ela. Não
existe um sem o outro. É apenas quem você é agora. Alguém
diferente.
Meus olhos lacrimejaram e limpei a umidade antes que ela
começasse a cair. Ele parecia abalado e um pouco desconfortável,
como se não discutisse essa parte de sua vida com frequência — ou
nunca.
— Estou balbuciando. Isso faz algum sentido? Provavelmente
não.
— Faz todo o sentido. Obrigada por compartilhar isso comigo
— eu disse, antes de conter um bocejo.
— Você deve estar cansada.
— Não quero estar, porque estou me divertindo muito com
você, mas me sinto exausta — admiti, a contragosto. Mesmo a
adrenalina correndo em minhas veias não foi suficiente para me
manter acordada.
Ele assentiu, aparentemente odiando que eu estivesse
encurtando nossa noite, da mesma forma que eu.
— Deixa eu te mostrar tudo amanhã? — perguntou, suave e
despretensioso, como se não tivesse certeza se eu diria sim.
— Tyra também?
Ele riu.
— Tyra também. Vou levar Blaire comigo, a menos que eles
estejam cansados um do outro pela manhã.
Nós dois nos viramos para olhar para eles, que estavam com
os lábios grudados.
— Há quanto tempo eles estão se beijando?
— Não tenho ideia — comentou, com uma expressão
exasperada no rosto, enquanto observávamos Blaire se levantar da
mesa e caminhar em direção ao banheiro.
Tyra de repente me encarando, sua expressão boba me
fazendo rir.
— Você está bem? — perguntei a ela, que sorriu.
— Vou para casa com Blaire esta noite — avisou, com
naturalidade, antes de olhar para Patrick. — Eu posso, certo? Tudo
bem se eu for para o quarto dele e tirar o irlandês dele para dentro
de mim?
Patrick soltou uma risada rouca.
— Eu já te disse, ele é todo seu.
Ela bateu palmas e fez um som animado.
— Esta já é a melhor viagem de todas e acabamos de chegar.
Sorri em resposta às palavras dela enquanto Blaire voltava
para a mesa antes de se inclinar para dar outro beijo público em
Tyra, os dois completamente extasiados um no outro e esquecendo
que o resto de nós estava aqui.
— Vocês fazem isso com frequência? — perguntei, de repente
me questionando se isso era coisa deles.
Eles tinham a configuração perfeita para isso, trabalhando em
uma pousada lotada de turistas de curta duração. A aventura de
férias ideal, romance de uma semana ou como você quiser chamar.
Quem poderia culpá-los por ficarem com todas as mulheres
aleatórias que vieram para ficar? Eu os imaginei encantando cada
mulher que os visitava até suas calcinhas caírem… literalmente.
Patrick parecia ter levado um soco meu. Então, ele ficou
sério.
— Não. Nem me ocorreu que você pudesse pensar isso. Mas
parece que sim. Não, Celeste, nunca faço isso. Blaire já fez isso uma
ou duas vezes, mas não com frequência. É uma regra que tenho
para mim. Sem me envolver com a clientela.
— Mas sou clientela — acrescentei, morrendo de vontade de
que ele me dissesse que eu era boa o suficiente para ser sua
exceção.
— Tecnicamente, sua mãe é minha cliente — disse ele, com
um sorriso, antes de acrescentar: — Eu lhe disse que há algo
diferente em você. E falei sério.
Eu queria discutir, pressioná-lo por mais ou dizer algo lógico
em resposta para acabar com aquela bobagem, mas tudo que
conseguia ouvir era o som do meu coração batendo em meus
ouvidos. Patrick me fez sentir viva. Ele me deixava esperançosa. Era
como um pincel, adicionando lentamente salpicos de cor a um
mundo que se tornou preto e branco no dia em que minha mãe
ficou doente.
— Eu nunca fiz isso. Jantar com os turistas. Ou me oferecer
para levá-las para passear. — Ele pegou minha mão e passou o
polegar por cima.
Eu acreditei nele. Se isso faria de mim uma boba ou não, só
o tempo dirá.
— Parece que não consigo te deixar — declarou, com tanta
sinceridade que não havia espaço para dúvidas. Segurei sua mão
com um pouco mais de força em resposta às suas palavras.
— Então não.
Seus olhos se juntaram.
— Não o quê?
— Me deixe.
— Eu não planejo deixar. — Ele levou minha mão aos lábios e
deu um beijo ali.
Foi só então que olhei ao redor do pub por uma fração de
segundo e percebi a expressão chocada no rosto das pessoas. Eles
estavam nos observando. Por quanto tempo, eu não tinha ideia. Mas
a expressão deles me disse que Patrick não estava mentindo para
mim. Se ele fizesse esse tipo de coisa o tempo todo, ninguém ficaria
surpreso ou prestaria atenção em nós. Patrick e suas aventuras
seriam notícia antiga, por assim dizer. O fato de eles estarem
observando cada movimento nosso — ou, pelo menos cada
movimento dele — me disse tudo que eu precisava saber.
Patrick era um dos bons. E eu o queria.
EU QUERO ESTA MULHER
PATRICK
Acompanhei Celeste até o quarto dela e lutei contra a
vontade de me inclinar e beijá-la antes de lhe desejar boa-noite. Era
muito cedo, certo? Muito cedo para desejá-la do jeito que eu
desejava. Mas nada dentro de mim dava esta sensação. Estar perto
dela era confortável de uma forma que eu não conseguia descrever.
E meu passado me forçou a manter a maioria das pessoas à
distância. Só quando me mudei para a Irlanda e conheci Blaire é que
comecei a perceber quão anormal era a maneira como fui criado.
Quando você esteve cercado por certo tipo de pessoa durante toda a
sua vida, você não tinha compreensão de que nem todo mundo era
assim. Claro, poderia olhar para trás agora e ver quão protegido fui.
Celeste entrou em seu quarto e segurou a porta com a mão.
— Tyra estará segura com Blaire, certo? — perguntou, como
se a ideia de se preocupar com sua segurança não tivesse lhe
ocorrido até aquele momento.
— Sim. Ele é sedutor e divertido. Mas não é perigoso. E não é
mau. Ela vai se divertir — tentei tranquilizá-la.
Blaire era inofensivo e eu estava disposto a arriscar meu
pescoço por ele.
— Ok. Quero dizer, ela tem idade suficiente para tomar suas
próprias decisões, mas — ela fez uma pausa e olhou para os pés —
eles acabaram de se conhecer.
— Acabamos de nos conhecer também — apontei, na hora.
— Mas não vamos passar a noite juntos — argumentou, suas
bochechas começando a corar. Engoli em seco.
— Não, não vamos.
Minhas palavras saíram engraçadas, em um tom quase
amargo, o que não era exatamente o que eu queria dizer.
— Você está com ciúmes.
Quase ri da ideia, mas ela não estava errada. Eu estava com
ciúmes. Ciúmes, porque Blaire poderia fazer o que quisesse sem
pensar duas vezes. Porque, se eu pudesse ser tão livre quanto ele,
sem qualquer preocupação com as possíveis consequências, já teria
Celeste debaixo de mim, fazendo-a gemer, se contorcer e gritar meu
nome a noite toda. E então me viraria e faria tudo de novo amanhã.
— Acho que você está certa — concordei, e seus lábios se
franziram.
— Você gosta da minha irmã mais nova? — perguntou, e
comecei a balançar a cabeça tão rápido que pensei que poderia ficar
com dor de cabeça.
Estendi a mão para sua bochecha e a segurei.
— Não. Não, você sabe que não. Eu gosto de você. — Queria
ser muito claro com ela.
— Então, por que você está com ciúmes?
Celeste não era uma mulher burra, mas estava me
pressionando. Ela queria me ouvir dizer coisas que não deveria dizer
em voz alta, muito menos pensar.
— Porque Blaire pode fazer o que quiser. Ele não é o dono da
pousada. E ele não tem o pai que eu tenho — comecei a dizer, mas
me contive rapidamente. Quase cometi um deslize e contei a ela
quem era meu pai.
Ela ficou confusa com minha última declaração. Estava escrito
em seu rosto, mas graças a Deus não me pediu para ir até lá ou me
pressionar para obter mais informações.
— Caso você esteja se perguntando, estou morrendo de
vontade de ser beijada por você.
— Não posso permitir que você morra comigo, coração —
declarei, antes de dar um passo em direção a ela e tomar seus
lábios com os meus.
Fui cauteloso no início, movendo-me tão lentamente que era
quase uma tortura. Mas quando sua boca se abriu e sua língua
encontrou a minha, um interruptor foi acionado. Fiquei faminto, com
medo de nunca conseguir me saciar enquanto me deleitava no sabor
dela, desejando mais.
— Patrick — suspirou, meu nome um sussurro em seus lábios
que queria ouvir uma e outra vez até que isso me matasse.
Afastando-me o suficiente para separar nossas bocas, abri
meus olhos para olhar nos dela.
— Você está bem?
— Mudei de ideia — falou, e dei dois passos para trás. —
Não, não. Assim não.
— Assim como? — perguntei, tentando ler seus
pensamentos, mas falhando.
— Eu me convenci de que estaria tudo bem se eu dormisse
com você amanhã. Como se de alguma forma adicionar um dia
fizesse diferença. Mas não quero esperar. Não quero desperdiçar
nenhum momento em que poderia passar com você.
Celeste não precisou me perguntar duas vezes ou dizer outra
palavra. Ela me deu permissão e pretendia aceitá-la.
Empurrando-a pela porta com meu corpo, bati-a atrás de nós
antes de me virar para trancá-la.
— Caso a irmãzinha chegue em casa antes de estarmos
prontos — expliquei, e Celeste sorriu em resposta antes de lamber
os lábios.
Ela seria a minha morte — tinha certeza disso. Mas que bela
maneira de morrer.
Antes que outro pensamento entrasse na minha cabeça, seus
lábios estavam de volta aos meus, sua língua me invadindo. Suas
mãos agarraram minhas costas, deslizando por baixo da minha
camisa, e seus dedos cavaram em minha carne. Tentei me impedir
de gemer, mas não consegui. Ele escorregou e o sorriso em seu
rosto só aumentou.
— Eu nem fiz nada — brincou.
— É o seu toque. Quando sua pele está na minha, me sinto
como um fio elétrico — admiti, e isso só a estimulou.
Ela agarrou a barra do meu suéter e puxou, tirando-o do meu
corpo antes de ofegar e passar as pontas dos dedos pelo meu peito
e abdômen.
— Bom Deus. Você é irreal.
Ela se inclinou para frente, seus lábios pressionando o calor
da minha pele, fazendo com que calafrios se espalhassem por todo o
meu corpo. A sensação dela em mim, me tocando, me beijando, foi
o suficiente para me fazer desmoronar, mas fiz o meu melhor para
me conter e deixá-la assumir o controle. Por agora. Suas mãos
estavam nas minhas calças, trabalhando no botão e no zíper antes
de puxá-las para baixo.
— Meus sapatos, coração. Deixe-me tirá-los — pedi, antes
que ela começasse a rir.
— Tanto faz. Por mim, pode ficar com eles — afirmou, e foi
minha vez de rir.
— Não haverá nada entre nós quando eu fizer amor com
você. Nem meias. Definitivamente nem os sapatos. Nada — prometi,
me sentando em uma das camas e desamarrando minhas botas
antes de chutá-las. Celeste começou a fazer o mesmo com as dela e
eu a interrompi. — Deixa comigo — instruí.
Seus olhos se arregalaram quando se focaram em mim, suas
mãos caindo para os lados.
— Ok — concordou, enquanto eu caminhava até seu corpo
sentado na beira da outra cama.
Caindo de joelhos, vestindo apenas com minha boxer,
desamarrei seus cadarços e gentilmente tirei seus sapatos antes das
meias. Beijei suas panturrilhas e fui deslizando por suas pernas,
meus dedos já segurando a parte interna de suas coxas. Levantei-
me e estendi ambas as mãos em direção a ela. Ela as pegou, e a
puxei para cima antes de tirar a roupa, salpicando seu corpo de
beijos. Quando baixei sua calcinha e dei um beijo em seu clitóris,
seus joelhos quase dobraram com o contato, e isso me excitou ainda
mais. Meu pau estava duro demais, só de estar perto dela.
— Você é linda. Tão linda — declarei, minha respiração presa
na garganta ao observá-la.
O seu corpo era curvilíneo, seus seios eram pequenos, mas
perfeitamente redondos, e os seus quadris pareciam ter sido feitos
para eu agarrar. Queria memorizar cada centímetro de sua pele.
— Você precisa ficar nu — exigiu, apontando para minha
boxer, em que eu ainda estava vestido. Fiz o que ela pediu, seus
olhos focados no meu pau enquanto se libertava.
— Não acredito que estou fazendo isso.
— Você não quer? Mudou de ideia?
Celeste sentou-se na beira da cama, a cabeça quase
perfeitamente alinhada com a cabeça do meu pau, mas tentei não
pensar nisso.
— Não. Simplesmente não consigo acreditar quão sexy você
é. Você ao menos percebe isso? Parece que você deveria estar na
capa de uma revista. — Ela estendeu a mão para passar os dedos
pela minha barriga mais uma vez, não parando até alcançar meu
pau, sua mão segurando-o enquanto ela se movia para acariciá-lo.
— Não consigo pensar quando você me toca assim — admiti,
e ela começou a trabalhar mais rápido antes de se inclinar para
frente.
Ai, meu Deus, ela iria me colocar na boca?
— Jesus — balbuciei, no instante em que sua boca tocou
meu pau.
Ela começou a chupar devagar, a mão ainda acariciando a
base do meu pau, e pensei que meu cérebro fosse explodir na
minha cabeça e eu entraria em curto-circuito. Gemeu de prazer,
aparentemente gostando da sensação de me ter em sua boca,
sucção e velocidade aumentando.
— Coração — gemi —, não vou durar se você continuar
fazendo isso. — Eu odiava admitir isso, mas era verdade.
Moças, um homem só é forte até certo ponto quando o pau
dele está na sua boca. Vocês têm alguma ideia de como ficam
incrivelmente sexy, nos absorvendo, sabendo que naquele momento
são completamente nossas donas? É preciso muita força de vontade
para não gozar em segundos. Por que acham que temos que fechar
os olhos e focar no teto? Porque ver vocês nos chupando é uma das
coisas mais eróticas que existem.
Celeste continuou a chupar por mais alguns segundos antes
de me soltar com um estalo.
— Ai, gostei de fazer isso com você.
Ela enxugou os lábios e agarrei seu corpo, levantando-a
antes de jogá-la na cama.
Pairando sobre ela, coloquei minha boca na sua, beijando-a
com força. Nossas línguas colidiram uma com a outra, cada uma
pressionando, movendo-se, tentando reivindicar a outra. O tempo
todo, os sons vindos de nossos corpos eram uma trilha sonora de
prazer que eu nunca deixaria de ouvir enquanto vivesse.
Fui até o pescoço dela, o lóbulo da orelha, mordendo e
chupando com tanta força que ela me empurrou a certa altura.
Descendo em direção ao seu peito, peguei cada mamilo, um de cada
vez, entre os dentes, mordiscando levemente antes de sugar com
tanta força que ela gritou de prazer, suas mãos puxando meu
cabelo.
— Essa boca — começou, sem fôlego. — Estou apaixonado
por essa boca.
Não consegui evitar o sorriso que se formou com suas
palavras, me estimulando a ir mais para o sul. Movi-me cada vez
mais para baixo e, mesmo antes de chegar à sua boceta
perfeitamente cor-de-rosa, fiz uma pausa e olhei para ela. Seus
olhos castanhos estavam arregalados, me observando com muita
atenção, sua boca aberta enquanto ela esperava. Com uma
piscadela, mergulhei, lambendo suas dobras com a língua, e ela
agarrou meus ombros com as duas mãos e apertou com tanta força
que pensei que pudesse deixar marcas. Eu não me importaria.
— Você tem um gosto incrível — declarei, falando sério e
continuando a comê-la.
Ela se contorceu na minha boca, meus dedos provocando seu
clitóris enquanto eu a fodia com minha língua. Poderia ter me
banqueteado com sua boceta a noite toda, mas tinha outros planos.
Como estar dentro dela. Eu estava morrendo de vontade de saber
como seria senti-la enrolada no meu pau.
Com uma última e longa lambida, fiquei de joelhos, meu pau
tão duro que doeu.
— Merda — eu disse, e ela pareceu preocupada.
— O quê?
— Eu não tenho preservativos comigo. Eu não carrego por aí.
— Onde eles estão?
— Na minha casa.
— Espere aí — pediu, antes de pular em direção ao que só
poderia presumir ser sua bolsa e vasculhá-la. — Tyra geralmente
tem algumas — afirmou, e por algum motivo me senti aliviado por
não ser a sua bolsa. Ela puxou uma tira de preservativos, com um
sorriso gigante no rosto, e me entregou um.
— Deus abençoe a Tyra — disse, antes de abrir um e
desenrolá-lo.
Celeste voltou para a mesma posição em que estava e
esperou. Posicionei a cabeça do meu pau em direção à sua entrada
e empurrei. Mesmo com a camisinha, pude sentir quão gostosa e
molhada ela estava por mim. Foi incrível estar dentro dela. Eu não
conseguia nem falar. Entrando e saindo, observei seus olhos abrirem
e fecharem antes de me inclinar para beijá-la. Não a reivindiquei,
como fiz antes. Desta vez, a beijei suavemente, como se ela fosse
quebrar se eu empurrasse com muita força. Queria ser gentil com
ela, até amoroso.
Os sons que ela fazia estrelariam minhas fantasias nos
próximos meses.
— Você é tão bom — suspirou contra meu peito, seus lábios
pressionando minha pele.
E enquanto suas unhas percorriam minhas costas, percebi
como nossos corpos se encaixavam bem, perfeitamente alinhados.
Não houve constrangimento ou necessidade de mexer em partes do
corpo.
— Não pare nunca — solicitou, e queria assegurar-lhe que
nunca pararia, mas não podia mentir.
— Você é tão linda, Celeste. É tão incrível te sentir —
confessei, nossos corpos se encontrando e o suor começando a se
formar.
Deveria ter sido apenas uma foda. Ou, no máximo, sexo sem
compromisso. Mas parecia algo mais do que qualquer uma dessas
coisas. Parecia mais como seria sentir o amor. Ou, pelo menos, o
início disso ou algo parecido.
O que diabos eu faria quando ela fosse embora?
UM MALDITO PRÍNCIPE
CELESTE
Acordei envolta em um par de braços musculosos. Eles
estavam apertados em volta do meu corpo, pesados e quentes.
Memórias da noite passada inundaram meu cérebro e a dor entre
minhas pernas invadiu minha consciência. Já fazia muito tempo que
não permitia um homem estar dentro de mim.
Ele tinha sido tantas coisas, todas em uma só: gentil e
áspero, doce e safado. Patrick era diferente de qualquer homem com
quem já estive antes. Ele sabia o que estava fazendo e fez tudo
extremamente bem.
Seu corpo começou a se mexer e tive vontade de rir por
termos acordado ao mesmo tempo. Claro que acordamos. Foi quase
tão inacreditável quanto chegarmos ao clímax juntos pela primeira
vez.
— Você está acordada, coração? — sussurrou contra meu
ombro, e virei meu corpo para encará-lo.
— Uhum. Como você dormiu? — perguntei.
E ele sorriu, seu cabelo escuro todo despenteado por causa
do sexo e do suor. Ele era tão atraente.
— Como uma pedra. Você?
— Acho que foi o melhor sono que tive em meses — admiti,
antes que ele esticasse os braços acima da cabeça e desse um beijo
na minha. — Vai ser estranho agora? — perguntei, querendo
entender se deveríamos fingir que isso nunca tinha acontecido ou o
quê.
— O que vai ser estranho?
— Isso. — Acenei um dedo entre nós dois. — Você vai me
evitar? — Achei que a melhor tática era ser honesta, ir direto e
perguntar para saber como agir durante o resto da viagem.
— Por que eu evitaria você? — Ele se sentou, com os olhos
verdes arregalados. — Quero enterrar meu pau em você sempre que
puder — revelou, e eu comecei a rir.
— Tudo bem, mas… — Tentei entender meus pensamentos e
como expressá-los.
— O que você está pensando? O que está te incomodando?
— Ele parecia tão sincero. Como alguém com quem estou
namorando há anos, em oposição a um homem que conheci há
menos de um dia.
— Não quero causar problemas para você com outros
clientes. E apenas não tenho certeza de como você quer que eu aja
perto de outras pessoas.
— Vou te beijar em público. Vou passar todos os dias com
você até que vá embora e quebre meu coração — decretou, e juro
que meu coração começou a pular como se estivesse em um
trampolim.
— Tenho certeza de que será o contrário — eu disse, em voz
alta, mas era a verdade.
Quando saísse daqui, sabia que deixaria parte do meu
coração com Patrick na Irlanda, quisesse ou não. Era uma daquelas
coisas que não poderia ser evitada. Amor ou luxúria eram
engraçados assim.
Uma batida forte na porta me assustou.
— Me deixa entrar! Por que a porta está trancada? — A voz
de Tyra gritou do corredor.
— Ela parece brava? — perguntei a Patrick, que já estava
fora da cama, totalmente vestido, o que foi uma pena, para ser
sincera. — Você deveria andar nu o tempo todo. Conseguiria mais
clientes.
Ele pulou de volta na cama e me beijou com força.
— Você quer que todo mundo me veja nu?
Rosnei em resposta:
— Não. Esqueça que eu disse isso. Fique totalmente vestido,
a menos que esteja comigo. — De repente, me senti possessiva com
cada centímetro quadrado do corpo delicioso daquele homem.
— Puta merda, Celeste, acorde! Me deixar entrar!
— Vou abrir para ela quando sair. Quer alimentar os animais
comigo?
— Você tem animais? — indaguei.
Patrick, Irlanda e esta pousada eram cheios de surpresas.
— Sim. Encontre-me lá embaixo em trinta minutos? —
sugeriu, e eu assenti, observando-o caminhar até a porta antes de
abri-la.
— Final… — Tyra começou, mas parou. — Ah. Ah! Olá,
Patrick. Bom ver você aqui.
— Bom dia, Tyra. Acredito que você dormiu bem? —
perguntou, em um tom jovial.
— Não dormimos muito por lá, Pat. E você? — Ela balançou
as sobrancelhas para ele antes de me lançar um olhar.
— Tenho certeza de que sua irmã lhe contará tudo sobre
isso. Vejo você em um instante, coração — disse, por cima do
ombro, antes de desaparecer.
Tyra bateu a porta e gritou antes de correr para a cama e
pular nela.
— Acha que era isso que mamãe tinha em mente? —
indagou, com uma gargalhada. — Sei que ela está nos observando
agora. Provavelmente muito orgulhosa das duas filhas. Ir para a
Irlanda e conquistar os caras mais gostosos do país. Especialmente
você — falou, mas logo prosseguiu: — Um príncipe!
Neguei com a cabeça e sufoquei minha resposta:
— O quê? Do que você está falando?
As feições de Tyra se distorceram.
— Ele não te contou?
— Quem? Contar o quê?
— Patrick é um príncipe, Celeste. Um príncipe da vida real.
Como um príncipe de conto de fadas da Cinderela.
— Quem disse? — questionei, com um sorriso, porque ela
devia estar brincando comigo.
Não havia como Patrick ser um maldito príncipe.
— Blaire me contou. Mas ele me disse para não te contar… —
Ela tapou a boca com a mão. — Opa. Só imaginei que, como ele
passou a noite aqui, provavelmente tinha contado.
Eu estava brava. Não tinha ideia de por que estava tão
chateada, mas estava.
— Ele não disse nada?
— Não — respondi, com os dentes cerrados, repassando a
noite.
Claro, não houve um momento perfeito para ele mencionar
que era um maldito príncipe, mas quando foi que isso aconteceu?
Não era algo que se encaixasse naturalmente em uma conversa.
— Tenho certeza que ele contaria a você depois. Vocês
provavelmente estavam muito ocupados ontem à noite.
— Claro — concordei, porque era mais fácil do que pensar
que talvez ele nunca tivesse planejado me contar.
— Ah, não fique brava com ele, Celeste. — Tyra me observou
da segurança de sua cama. — Posso te contar sobre minha noite?
Tentei me livrar da decepção que senti por Patrick ter
escondido esse segredo de mim. Um segredo que eu tinha certeza
que toda a cidade conhecia. Isso me fez sentir burra, sendo mantida
no escuro. Não tinha certeza se essa era uma reação lógica ou não,
mas ainda assim era como me sentia.
— Conte-me sobre sua noite — cedi, fazendo o meu melhor
para não sentir pena de mim mesma e ficar feliz por Ty.
Ela continuou me dando muitos detalhes sobre Blaire e como
ele era ótimo, quanto sexo eles fizeram e quantas vezes ela teve
orgasmo.
— Nunca vou sair daqui — soltou, ao chegar ao final de sua
história.
— Tudo bem — eu disse, com um encolher de ombros. — Vai
se casar com o cara?
— Eca, o quê? — Sua cabeça recuou como se eu tivesse
jogado algo nela. — Só quero transar com ele por toda a eternidade.
— Você não é normal.
— Eu sei. — Ela parecia muito orgulhosa. E, muito
provavelmente, estava. — Preciso tomar banho e depois vamos
encontrar os rapazes para o café da manhã. — Ela pulou da cama
antes de se virar para mim. — A menos que você não queira mais.
— Não, eu quero.
— Graças a Deus. Odiaria ter que abandonar você para ficar
com Blaire durante toda a viagem.
Ela desapareceu atrás da porta do banheiro e eu sabia que
ela estava falando sério. Tyra me abandonaria totalmente por um
cara, e nem mesmo a culparia. Depois do ano que tivemos, quando
não estávamos cercadas por ninguém, exceto uma pelo outra,
entenderia o desejo dela de se perder em algum cara irlandês
gostoso.
Talvez seja isso que eu esteja fazendo também?
O pensamento tinha um gosto amargo em minha boca
enquanto eu o girava. Não estava fazendo isso e sabia disso. Mas
ainda estava brava com ele.
Um maldito príncipe. Príncipe do quê? De onde? Afinal, o que
isso quer dizer?

Quarenta e dois minutos depois, estávamos descendo para


encontrar os caras, conforme orientado. Cheguei propositalmente
atrasada, por nenhuma outra razão além de me fazer de difícil. Além
disso, estava tentando pensar no que dizer a ele quando o visse,
mas todos os meus planos voaram pela janela no segundo em que
aqueles olhos verdes encontraram os meus e o notei parado ali, com
um sorriso gigante no rosto estupidamente perfeito.
— Você é um maldito príncipe?! — gritei.
Ele imediatamente olhou para trás, para Blaire, que ergueu
as mãos e balançou a cabeça.
— Você sabia que eu deixaria escapar — confessou Blaire,
sem muita defesa.
Patrick deu um passo em minha direção, seus olhos cheios do
que parecia ser arrependimento.
— Por que você está tão brava?
— Não sei! — Pisei com força no chão, agindo como uma
louca com mil emoções correndo por mim ao mesmo tempo. — Sinto
que você mentiu para mim, eu acho.
— Eu não menti.
— Mas não me contou.
— Não houve um momento certo, coração.
— Não. — Levantei a mão para fazê-lo parar e me afastei
dele. — Não fale comigo agora. Não aguento ouvir seu sotaque.
Você algum dia iria me contar?
Essa era a pergunta para a qual eu mais queria resposta.
Porque, por alguma razão, parecia que isso importava. Se ele não ia
me dizer quem era e de onde veio, o que mais não iria mencionar?
— Não sei — falou, com honestidade, e comecei a ficar
furiosa.
— Por que não? — Sentei-me no banco de madeira e
coloquei a cabeça entre as mãos, tentando me acalmar.
— Porque não importa — declarou, sentando-se ao meu lado.
Eu queria fugir, mas gostei de sua proximidade. Nossos
corpos chamavam um ao outro. Mesmo quando eu estava chateada
com ele, meu corpo me traiu.
— Como isso pode não importar? — rebati, antes de olhar
para cima e ver a placa da pousada. — Pousada do Príncipe. Ai, meu
Deus. E você é o dono. E você é um príncipe. E… — gaguejei,
sentindo-me idiota de novo.
— É um jogo de palavras. Não era para ser real, mas todo
mundo aqui já sabe que sou um príncipe. Eu costumava vir aqui com
minha mãe quando criança.
Falar sobre sua mãe morta foi um golpe baixo. Ele sabia que
não havia como eu ficar com raiva dele quando a trazia para a
conversa.
— Então, me diga por que não importa. Você vai ser um rei?
Você é um príncipe de onde? Como é que eu posso estar tendo esta
conversa agora?
A própria ideia de realeza era tão estranha para mim. Como
não tínhamos reis ou rainhas nos Estados Unidos, o assunto sempre
pareceu mais um conto de fadas inventado do que algo real. A coisa
toda era… rebuscada, e eu não tinha ideia de como funcionava.
— Diga-me a verdade — pedi, precisando ouvir tudo.
— Vamos dar a vocês dois algum tempo a sós. Vamos, amor
— interrompeu Blaire, antes de agarrar a mão de Tyra e desaparecer
de vista bem no momento em que meu estômago roncou alto o
suficiente para nós dois ouvirmos.
— Quer comer primeiro?
— Não. Quero conversar primeiro.
Ele respirou fundo, com o rosto desanimado, como se
estivesse em apuros.
— Ok. Tive dois irmãos. Bem, agora só tenho um. Ele é quem
se tornaria rei, se chegasse tão longe. Mas não vai. Quero dizer,
todos os meus primos e seus filhos teriam basicamente que morrer
para que isso acontecesse — explicou e, naquele momento me dei
conta de que ele era de alguma forma parente dos atuais rei e
rainha.
— Como sua família se encaixa? Quero dizer, como você está
relacionado?
— O rei é meu tio. Ele e meu pai são irmãos.
Balancei a cabeça em compreensão, embora não tivesse a
menor ideia do que isso significava.
— Então, você cresceu como um membro da realeza? Tipo,
em um castelo?
Ele riu, mas parecia um tanto vazio.
— Não, crescemos no que considero uma casa, mas acho que
você pode considerar um castelo.
Isso era muito estranho.
Fiquei de pé e comecei a andar de um lado para o outro,
meus pés chutando as pedrinhas no chão, um milhão de
pensamentos e perguntas passando pela minha cabeça. Quando
Patrick se levantou também, pegou minhas mãos e me olhou nos
olhos, parecia que nada disso realmente importava. Eu estava
fazendo alarde do nada e não tinha ideia do motivo.
Quem se importava que ele era um príncipe e não tinha me
contado? Isso não mudou a pessoa que eu conhecia ou o homem a
quem entreguei meu corpo na noite passada. O homem que me fez
sentir a pessoa mais bonita do planeta. Ele não estava errado
quando disse que não havia um momento certo para mencionar o
fato de que ele era tecnicamente da realeza. Mas ainda assim… eu
tinha uma pergunta.
— Por que você foi embora?
Ele ainda estava segurando minhas mãos quando nos levou
de volta ao banco e sentou-se, seu corpo inclinado em direção ao
meu quando começou a falar.
— Quando eu era pequeno, passávamos muito tempo com
meus primos. Nossa avó queria ter certeza de que o modo de vida
real fosse incutido em nossa maneira de pensar. Mesmo que eu não
fosse me tornar rei, a pressão para ter um desempenho, aprender e
me comportar de certas maneiras ainda estava sobre meus ombros.
— Ele soltou um suspiro antes de continuar: — Eu odiei. Realmente
me ressenti da situação. Isso nunca fez sentido para mim, então eu
estava sempre me metendo em problemas, agindo mal. Eu sabia
que ser rei nunca seria meu papel a cumprir, então não levei nada a
sério. Nunca quis ser rei de qualquer maneira.
— Por que não?
— Porque é sufocante, Celeste. Sua vida não é sua. Meu tio e
meu primo, o futuro rei, são fantoches. Eles são quem precisam ser.
Quem deveriam ser. Eles não têm nenhum livre arbítrio. Cada
decisão é tomada por eles. Independente do que queiram. Eles não
conseguem pensar por si mesmos. Têm que seguir procedimentos e
regras que são tão antigos que nem fazem mais sentido — explicou,
e meu coração doeu pelos homens estranhos que eu não conhecia,
embora suas palavras ressoassem em mim.
Sentia que meu país também fazia isso às vezes. Continuar
lutando por coisas que foram pensadas há tanto tempo que não
eram mais relevantes em nossos dias. Faziam sentido na época, mas
os tempos mudaram.
— Você nunca voltaria a morar lá?
— Não. Quando saí, fui forçado a desistir do meu título, com
o que estou bem. De verdade. Não voltei, exceto para o funeral da
minha mãe e do meu irmão.
— Ela morreu quando você estava aqui? Na Irlanda?
— Sim — ele disse, e senti o choque me percorrer.
Por alguma razão, presumi erroneamente que ele devia ter
deixado sua cidade natal depois que ela morreu. Como se a morte
dela tivesse sido o catalisador para ele partir em primeiro lugar.
— Você ainda fala com seu pai?
Ele nem sequer parecia remotamente triste quando
respondeu:
— Não. Nós não nos falamos. Ele ficou bravo quando saí para
vir para cá. — Patrick não tinha mais ninguém que considerasse da
família. Éramos mais parecidos do que eu imaginava. — Mas minha
mãe me incentivou a vir aqui. Disse que estava tudo bem em ir
embora e viver minha própria vida. Que ela não estava brava, como
meu pai estava — justificou, com uma expressão triste. — Estou
muito grato por ter tido esses momentos com ela. Sempre teria me
perguntado o contrário se a tivesse decepcionado de alguma forma.
— Acho que ela ficaria orgulhosa de você. — Ofereci um
pequeno sorriso, sentindo como se o entendesse ainda melhor
agora. — Veja o que você construiu. — Acenei com o braço ao redor
da propriedade, realmente vendo como era espetacular.
— Sei que ela teria amado você. — Ele se inclinou em minha
direção, segurou meu rosto e me beijou suavemente. Foi um beijo
emocionante, cheio de pedaços de seu coração e promessas ditas
sem palavras.
— Eu gostaria de tê-la conhecido — falei, contra seus lábios,
que estavam próximos o suficiente para eu beijar novamente. —
Gostaria que você pudesse ter conhecido minha mãe.
— Eu também. — Ele me beijou com força então, nossos
lábios pressionados um contra o outro, sem abrir, sem línguas,
apenas duas bocas se conectando como se pertencessem àquele
lugar; juntas.
Meu estômago roncou novamente e Patrick riu, se afastando.
— Vamos pegar alguma comida para minha garota.
Sua garota.
Definitivamente gostei de ouvir isso.
AS FALÉSIAS DE MOHER
PATRICK
Graças a Deus Celeste entendeu minha origem e não se
afastou de mim. Eu poderia ter matado Blaire por deixar escapar
antes de ter a chance de contar a ela. Ele poderia ter estragado
tudo, e não tinha certeza se seria capaz de perdoá-lo se isso tivesse
acontecido.
Essa mulher me deixou todo confuso por dentro, e nem
estava tentando descobrir o motivo.
Já fazia muito tempo que meu coração não sentia nada além
de vazio. Resignei-me a acreditar que o amor não estava em jogo
para mim. Que estava destinado a viver minha vida sozinho, solteiro,
e disse a mim mesmo que estava tudo bem com isso.
Sinceramente, pensei que sim.
E então ela atravessou o aeroporto e veio direto para mim.
Eu não tinha certeza se algum dia ficaria bem novamente.
Era ridículo sentir-se assim e já ter esse tipo de pensamento — a
parte lógica do meu cérebro sabia disso. Mas não era meu cérebro
que estava no controle naquele momento; eram todas as outras
partes de mim. As partes que não tinham nome. Aquelas que eu não
conseguia explicar, raciocinar ou controlar.
Eram todas partes que sentiam sem saber o motivo…
simplesmente sentiam.
Entramos na sala de estar principal, onde o café da manhã
era preparado todas as manhãs, e encontramos Blaire e Tyra se
encarando como dois adolescentes apaixonados. Joguei meu
telefone em cima da mesa, fazendo Blaire se assustar.
— Ah. Que bom. Vocês dois estão bem então?
— Não, graças a você — resmunguei.
— Sinto muito por isso — desculpou-se, olhando diretamente
para Celeste e não para mim.
— Tudo bem. — Ela apertou meu braço. — Estou feliz por
saber.
— Eu também — afirmei, antes de beijar sua bochecha e
puxar uma cadeira para ela se sentar.
Enquanto nós quatro comíamos, olhei para as meninas e
perguntei:
— Há algum lugar na Irlanda que vocês gostariam de
conhecer? Vocês têm uma lista de lugares que querem dar check?
As meninas se entreolharam e encolheram os ombros antes
de dizer:
— As falésias de Moher? — E pronunciaram tudo errado,
dizendo “mórrar”.
— As falésias de Moher — repeti, dizendo apropriadamente
como “môrrer”, e elas repetiram. — Vocês definitivamente deveriam
vê-las.
— A que distância ficam daqui? — Celeste perguntou.
— Cerca de duas horas e meia — disse Blaire, e juro que Tyra
gemeu.
— Você não precisa vir — sugeriu Celeste, olhando para a
irmã.
Era uma loucura quão pouco elas se pareciam. Eu não teria
imaginado que eram parentes, já que eram completamente opostas.
— Elas são mágicas? — perguntou, olhando diretamente para
Blaire, que assentiu.
— Elas são imperdíveis, amor — respondeu, e o sorriso
tomou conta de todo o seu rosto enquanto ela mergulhava em sua
direção e o beijava novamente.
Desviei o olhar. Eles eram ridículos.
— Algum outro lugar?
— Ver alguns castelos seria legal — prosseguiu Tyra, rindo. —
Não porque você é um príncipe. Mas não temos castelos na América.
Eu sabia exatamente para onde levá-las e o que mostrar. Eu
planejava fazer com que Celeste se apaixonasse tanto pela Irlanda
que talvez ela não quisesse ir embora. Ou, pelo menos, que
gostasse da ideia de voltar.
Depois que terminamos de comer, fiz questão de conversar
com minha gerente antes de dizer a ela que Blaire e eu
planejávamos ficar fora da propriedade a maior parte do dia. Ela me
garantiu que não havia problemas para Blaire resolver que não
pudessem esperar e que eu poderia confiar o lugar em suas mãos
capazes. Ela trabalhava para mim há três anos e eu confiava nela.
Eu geralmente não saía da pousada, exceto para buscar
alguém no aeroporto ocasionalmente quando estava entediado, mas
esse não era meu trabalho. Tinha um jovem que fazia isso para
mim. Por alguma razão, no dia em que Tyra e Celeste chegaram, eu
decidi ir pessoalmente.
— Precisamos visitar Bessy antes de irmos — disse Blaire, eu
assenti e Tyra franziu a testa.
— Quem é Bessy?
— Você verá — brincou Blaire, saindo em direção ao
estábulo, fazendo Tyra persegui-lo. Olhei para Celeste, que parecia
tranquila, relaxada e feliz.
— Bessy é nosso cavalo.
Seu rosto se iluminou.
— Você tem cavalos?
— Temos todos os tipos de animais — afirmei, apontando
para o estábulo e o celeiro ao longe. — Você cavalga?
— Quer dizer, não faço isso há anos, mas sempre adorei. —
Seus olhos castanhos brilharam e eu sabia que a levaria para
passear antes de partir.
Meu coração literalmente doía dentro do peito toda vez que
pensava nela entrando em um avião e voltando para os EUA, então
afastei esses pensamentos da cabeça e me concentrei no aqui e
agora.
Agora, ela estava comigo. Amanhã, ela ainda estaria
também.
Isso tinha que ser o suficiente… embora soubesse que nunca
seria.

Depois de escovar os cavalos e visitar as ovelhas, insisti para


que fôssemos em frente. As falésias ficavam a mais de duas horas
de carro, mas isso poderia mudar com o clima ou as estradas.
— Vocês trouxeram um capote? As falésias podem estar
terríveis.
— Capote? Terríveis? — Celeste olhou para mim como se
tivessem crescido três cabeças em mim.
— Jaquetas. Vocês trouxeram jaquetas? Vai estar molhado e
provavelmente ventará lá.
As meninas soltaram um “ah” em compreensão.
— Já volto — disseram em uníssono e saíram correndo,
provavelmente indo para o quarto para pegar capotes… é…
jaquetas.
Elas reapareceram rapidamente, carregando roupas mais
quentes nos braços. Assim que estávamos todos amontoados no
carro, fiz questão de apontar todos os pontos turísticos locais —
Castelo de Kilkenny, Catedral de St. Canice e Rothe House and
Garden. Cada uma delas, embora eu não tenha parado, provocou
suspiros nas duas mulheres. Quando as paisagens não eram tão
familiares para mim, costumava me sentir da mesma forma que elas
— maravilhado com sua beleza. Agora, ao que parecia, não dava o
devido valor.
A viagem era longa, a estrada sinuosa, e havia ruínas do que
costumava ser uma alta construção espalhadas por todo o terreno.
Eu estava tão acostumado a ver essas coisas que também parei de
observá-las. Ver a Irlanda pela primeira vez através dos olhos de
Celeste foi estimulante e emocionante.
— São lápides? — Ela apontou ao longe, onde havia pedras
velhas e dilapidadas.
— Eu acredito que sim.
— É tão lindo aqui. Até as partes que não estão mais em pé.
Há muita história. — Seus olhos continuaram a percorrer as
estradas, olhando para todos os lugares ao mesmo tempo.
Olhei pelo espelho retrovisor para ver Blaire e Tyra com as
bocas grudadas mais uma vez.
— Vocês dois podem parar de se engalfinhar por cinco
segundos?
Eles se separaram instantaneamente e Tyra mostrou a língua
para mim.
— Não é minha culpa que você esteja dirigindo, então não
pode dar uns amassos na minha irmã.
Ela não estava errada. Talvez estivesse fazendo a mesma
coisa com Celeste se outra pessoa estivesse dirigindo.
— Estamos quase lá.
Finalmente paramos no estacionamento perto das falésias e
saímos para o ar frio.
— Está frio. — Peguei um suéter mais quente para Celeste,
caso ela precisasse.
Nós quatro ficamos do lado de fora do carro antes de
começarmos a andar. Peguei a mão dela e segurei-a com força.
— O que é isso?
Olhei para onde ela estava apontando.
— É o centro de visitantes.
— É construído dentro da colina? — Tyra perguntou, seu tom
de voz cheio de choque.
— Sim. A coisa toda é tecnicamente subterrânea. É incrível —
expliquei, lembrando-me da primeira vez que as visitei.
Conduzi-nos em direção às escadas que nos levariam até as
falésias, praticamente prendendo a respiração em antecipação.
As falésias de Moher eram uma coisa se vista on-line ou em
fotos, mas pessoalmente era algo completamente diferente. Eu sabia
que Celeste enlouqueceria quando visse sua verdadeira escala e
grandeza.
— Está congelando — falou, e segurei seu corpo contra o
meu enquanto caminhávamos juntos.
— Puta merda — disse Tyra, assim que chegamos ao topo da
escada, a vista completa das falésias diante de nós.
— Uau — Celeste suspirou, soltando minha mão, e lutei
contra o instinto de pegar de volta. — Elas são surreais.
Fiquei ali, olhando para ela, pensando exatamente a mesma
coisa.
Ela se sentou bem na terra, envolvendo os braços nos joelhos
e olhando com abandono para as rochas escarpadas e o oceano
quebrando abaixo. Eu não tinha ideia de que tipo de pensamento
estava passando pela cabeça dela, mas sabia que, se quisesse
compartilhá-los comigo, ela o faria. Recusei-me a pressionar. Afinal,
ela acabara de perder a mãe.
Tyra se sentou ao lado dela e colocou a cabeça no ombro de
Celeste antes de sussurrar algo em seu ouvido. Celeste olhou para
ela e passou o braço em volta da irmã e a apertou. Elas sentaram
assim, as duas, e peguei meu telefone e tirei algumas fotos para
enviar para ela mais tarde. Isso me lembrou de que eu não tinha o
seu número de telefone. De jeito nenhum a deixaria sair daqui sem
pegar.
Olhei para Blaire, que devia estar pensando a mesma coisa
que eu, porque estava agachado, tirando fotos das garotas de trás,
as falésias na frente delas. Ele me deu um aceno de cabeça antes de
vir.
— São especiais, não são? — perguntou, e eu não tinha
certeza se ele se referia às garotas ou às falésias.
Quando ele virou o celular para que eu pudesse ver uma das
fotos que havia tirado, entendi que estava falando sobre elas.
Nossas duas irmãs dos Estados Unidos.
— São — concordei, e ele pareceu quase solene.
— Vou sentir falta dela — afirmou, e lutei contra o choque.
Eu não estava mentindo quando disse a Celeste que Blaire
não ficava com as turistas, mas deixei de lado o fato de que ele ficou
com metade da maldita cidade. Blaire era solteirão por excelência,
nunca se apaixonando por ninguém, exceto talvez por meu cavalo,
Bessy.
— Ah, vai?
— Sim. Ela é muito divertida, Patrick. Como uma lufada de ar
fresco. Diferente de qualquer outra garota aqui na Irlanda. — Ele
acenou com a mão para todas as pessoas que nos cercavam. — Sem
ofensa às moças irlandesas. Mas você deve saber o que quero dizer.
— Sei. Quer saber a verdade? — perguntei, incapaz de
acreditar que admitiria isso para ele. Ele assentiu e me inclinei um
pouco mais perto, o vento soprando entre nós. — Não consigo nem
pensar que ela irá embora daqui a alguns dias. Isso me rasga por
dentro.
Ele bateu no meu ombro com força.
— Achei que era o único que se sentia assim.
— Você também?
— Sim. Como podemos convencê-las a ficarem? —
perguntou, e eu comecei a rir.
Não porque a sugestão dele fosse boba, mas porque já
estava pensando exatamente a mesma coisa.
Como poderíamos manter essas duas aqui conosco para
sempre?
A IRLANDA É INSPIRADORA
CELESTE
Sentei-me no chão em frente às famosas falésias de Moher
com minha irmã ao meu lado e um homem que nunca esperei
encontrar em algum lugar atrás de mim. Naquele momento, fiquei
convencida de que a Irlanda era mágica. Não havia outra explicação
para o modo como este lugar me fazia sentir. Era como se a terra
me desse paz e conforto — duas coisas que lutei para encontrar em
casa, nos Estados Unidos, mesmo antes de minha mãe ficar doente.
Havia tanta competição em casa, como se estivéssemos
participando de uma corrida sem fim para ver quem conseguia o que
mais rápido; e depois nunca ficávamos satisfeitos com os resultados
ou sempre ansiávamos por mais. Era estressante estar viva às vezes.
— Você está bem? — Tyra perguntou.
Virei-me para encarar seus olhos azuis, que estavam um
pouco vidrados, e percebi que ela estava pensando em mamãe.
— Estou bem. E você?
— Sim. — Ela sorriu, mas não alcançou seus olhos. — Eu
gostaria que mamãe pudesse ter visto isso. As fotos não fazem
justiça a este lugar.
Deixei escapar uma risada.
— Nem de longe. Veja o tamanho dessas falésias. Elas são
transparentes até o oceano. E não terminam nunca.
— Eu sei. Me pergunto quantas pessoas morrem aqui todos
os anos — comentou, morbidamente. — Bebê! — gritou, sem dúvida
procurando por Blaire.
Ele apareceu na hora.
— Sim, amor?
— Quantas pessoas caem dessas falésias e morrem?
Ele começou a rir.
— Eu não faço ideia. Nenhuma? Por quê? Quer ser a
primeira?
Ela deu um tapa nos braços dele, que a envolveram em tom
de brincadeira.
— Não. Eu quero saber. Vou dar uma olhada quando
voltarmos — afirmou, e ele desapareceu novamente.
— Mamãe está aqui — eu disse, respirando e fechando os
olhos, desejando que fosse verdade. — Sei que ela está conosco. —
Comecei a pensar na carta dela e nas coisas que disse sobre vir
conosco. Eu tinha certeza de que, quando ela planejou isso para
nós, não pensou que as duas filhas teriam algum tipo de caso de
amor irlandês no processo.
— Ela não perderia isso por nada. Além disso, o que mais ela
estaria fazendo?
Dei de ombros, porque não tinha ideia do que as pessoas
faziam quando morriam. Talvez o espírito dela estivesse ensinando
numa sala de aula, ou dançando num salão de baile, ou se
apaixonando em algum lugar nas nuvens lá em cima. Onde quer que
ela estivesse, eu só esperava que estivesse feliz. E fiquei grata por
ela não sentir mais dor.
— Vou tirar algumas fotos — avisou Tyra, e se levantou e
pegou minha mão para me ajudar a fazer o mesmo.
— Deixa comigo — sugeriu a voz grossa de Patrick e, antes
que eu percebesse, ele estava me guiando para cima e para o calor
de seu corpo.
Olhei em seus olhos, hipnotizada pelo verde antes que ele os
fechasse, seus lábios encontrando os meus. Minha boca se abriu em
resposta, nossas línguas se tocando suave, lenta e eroticamente.
Quando terminamos o beijo, juro que senti meu coração se
expandir dentro do peito. Crescendo em sua presença. Virei-me,
minhas costas pressionadas contra sua frente, e ele me segurou em
seus braços, nós dois olhando para a magnificência à nossa frente.
— Há magia aqui — falei, olhando para o oceano abaixo, as
ondas quebrando sem abandono nas paredes rochosas. — Eu posso
sentir.
Patrick me virou para eu ficar de frente para ele.
— Você acha?
— Eu sei que sim. Acho que o folclore e os contos de fadas
começaram na Irlanda.
— Acho que eles terminam aqui também. — Ele passou os
dedos pelo meu cabelo e me inspirou.
— Existe alguma história sobre as falésias?
Ele me deu um sorriso torto.
— Que tipo de histórias?
— Mitos? Lendas? Sereias? Fadas? — perguntei, com um
sorriso próprio.
Ele agarrou meus ombros e me virou de volta para que eu
ficasse de frente para as falésias enquanto ele falava em meu
ouvido, seu hálito quente, embora me desse arrepios.
— Há uma lenda sobre um pescador e uma sereia —
começou a dizer, e fiz um som animado. — Não é realmente uma
história feliz, coração — acrescentou, e me senti fazendo beicinho.
— Diga-me de qualquer maneira — exigi.
— Um dia, um pescador avistou uma sereia. Eles puxaram
conversa e ele percebeu que ela tinha uma capa mágica. Ele queria
a capa. Durante a conversa, ele roubou dela e subiu a colina
correndo.
— Idiota — respirei, e Patrick riu, seu peito ressoando contra
minhas costas.
— Ela não poderia voltar para o oceano sem, então o seguiu
colina acima até sua casa. Mas ela não conseguiu encontrar a capa
em lugar nenhum. Ele escondeu.
— Espero que ele tenha se afogado — eu disse, sem pensar,
mas as pessoas egoístas me deixavam amargurada.
— Ela acabou se casando com ele. Eles tiveram filhos, mas
ela nunca se esqueceu da capa. Um dia, quando o homem estava
pescando, ela a encontrou e voltou para o mar, para nunca mais
voltar.
Esperei que dissesse mais alguma coisa, mas ele parou.
— É isso? Não é nem romântico — reclamei.
— É a única história que conheço. Na verdade, há outra, mas
também não é feliz agora que parei para pensar.
— Eu não quero ouvir isso.
— Ok.
— Podem tirar uma foto nossa? — A voz de Tyra soou através
do vento e chegou aos meus ouvidos antes que me afastasse de
Patrick e pegasse seu telefone para começar a tirar fotos deles sem
avisar.
— Ai, estão lindas. Vocês vão amar — afirmei, embora o
vento soprasse e o cabelo dela estivesse bagunçado. Eram
verdadeiras.
Blaire se virou para beijá-la e continuei tirando fotos,
sabendo que Tyra adoraria tê-las quando voltássemos para casa.
Argh.
No segundo em que pensei na palavra casa, meu coração
pareceu ter caído do meu peito direto na terra onde eu estava
sentada antes.
— Sua vez — disse Tyra com um sorriso e empurrou Patrick e
eu para a beirada.
— Quer uma foto? — ele perguntou.
— Eu quero mil — respondi, sem pensar, e ele sorriu tanto
que aqueceu todo o meu corpo.
— Eu também.
Ficamos ali, abraçados, enquanto Tyra mandava em nós,
tentando nos fazer posar. Uma rajada de vento gigante veio do nada
e perdi o equilíbrio, tropecei em uma pedra e quase caí no chão,
mas os braços de Patrick estavam em volta do meu corpo, me
impedindo de bater em qualquer coisa, exceto nele.
Olhei para trás, percebendo quão perto eu estava da borda,
meu coração batendo forte dentro do peito.
— Acho que você acabou de salvar minha vida.
— Então, você me deve — afirmou, vindo beijar meu nariz.
Ele foi até meus lábios e me perdi naquele beijo, esquecendo
que Tyra estava tirando fotos até que abri os olhos e a vi se
movendo em círculo ao nosso redor para registrar de todos os
ângulos.
Eu queria ficar envergonhada, mas na verdade estava grata.
Esta viagem já tinha sido as férias mais memoráveis da minha vida.
Eu esperava nunca esquecer um momento disso.
— Isso é muito lindo e tudo, mas estou congelando, pessoal
— disse Tyra, com as mãos tremendo, e colocou o telefone no bolso
de trás.
Eu poderia ter ficado ali o dia todo, sentindo o cheiro da água
e estudando a forma como ela parecia atacar as rochas, querendo
que ela revidasse. Minha imaginação ganhou vida e olhei para o
abismo, procurando desesperadamente por um rabo de sereia ou
algo igualmente mágico. Eu sabia que estava lá, só tinha que
procurar o suficiente.
— Devíamos ir, coração. Temos um chãozinho de volta —
sugeriu Patrick.
Concordei a contragosto. Para ser sincera, não conseguia
mais sentir as pontas dos dedos.
Quando voltamos para o carro, Tyra me enviou as fotos que
havia tirado e fiquei olhando para elas com admiração. O cenário era
uma coisa, mas a expressão no meu rosto e no de Patrick… bem,
parecia que tínhamos sido um casal a vida toda. Parecíamos tão
confortáveis um com o outro, e imaginei que, em essência,
estávamos. Pelo menos eu estava.
— O que é isso? — Ele olhou antes de se concentrar na
estrada minúscula e sinuosa.
— Fotos nossas — respondi, incapaz de esconder o sorriso no
rosto.
— Ficaram legais?
— Ficaram perfeitas.
— Você vai me enviar? — perguntou, quase parecendo
incerto, como se eu pudesse negar ou dizer não.
— Claro — concordei, antes de perceber que não tínhamos os
números de telefone um do outro, nem as redes sociais, nem nada.
— Acho que preciso dos seus arrobas, né?
— Arrobas? — repetiu o termo, com um sorriso malicioso.
— Sim. E os números de telefone. Eu tenho aquele aplicativo
onde você pode conversar, gravar vídeos e enviar mensagens de
texto para pessoas de outros países gratuitamente.
Suas sobrancelhas se ergueram em questão.
— Ah, tem? Com quem mais você está conversando em
outros países? — Ele parecia ciumento, segurando o volante com
tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos.
— Tenho algumas amigas na Austrália. Falo principalmente
com elas.
Ele relaxou visivelmente. Estava genuinamente preocupado
que eu estivesse falando com caras aleatórios em outros lugares. Em
vez de deixar esse pensamento ferver em sua mente, coloquei um
fim nisso.
— Eu não tenho namorado. Nos Estados Unidos ou em
qualquer outro lugar. Caso eu não tenha deixado isso bem claro
ontem à noite.
Eu não era o tipo de garota que traía ou mexia com caras
quando tinha alguém em seu coração. Não era da minha natureza.
— Eu também não tenho namorada — informou, diminuindo
o aperto no volante, e a cor voltou aos seus dedos.
— Espero que não — devolvi, sentindo-me repentinamente
burra por não ter perguntado antes de deixá-lo entrar em mim. —
Então, você não está noivo de alguma princesa em algum lugar?
Blaire começou a rir no banco de trás e me virei para encará-
lo.
— Cai fora. Vai beijar minha irmã ou algo assim. Finja que
não está aqui.
— Nunca pensei nisso, Patrick — a voz de Blaire ecoou dentro
do carro. — Você está noivo? Tem que se casar com uma princesa?
Vai se transformar em sapo se não beijar uma moça?
— Não que eu saiba, vá se foder — Patrick rosnou.
O resto da viagem foi exatamente assim. Brincávamos e
ouvíamos música tradicional irlandesa — não Ed Sheeran, que era
apenas irlandês. Cada vez que eu pedia a Patrick que parasse para
que eu pudesse sair do carro para tirar fotos, ele me atendia de bom
grado, sem reclamar nenhuma vez. Havia tanto para ver… tanta
história deixada em ruínas ao nosso redor. Juro que, se fechasse os
olhos com força suficiente, poderia acordar em outro momento,
quando os reabrisse. Não que eu quisesse estar em outro lugar.
Como eu esqueceria essa viagem ou esse homem?
A CONTAGEM REGRESSIVA
COMEÇOU
PATRICK
Não conseguia parar de pensar no fato de que ela iria
embora em breve. Na próxima semana, ela não estaria no meu
carro. Eu não seria capaz de olhar para o banco do passageiro e vê-
la sentada ali, sorrindo para mim. Saber que Blaire sentia o mesmo
me ajudou a me sentir um pouco menos psicótico em relação a tudo
isso.
Porque, honestamente, era uma loucura.
Então, repetindo, não havia nada de errado comigo me
apaixonando por alguém depois de alguns dias se Blaire também se
apaixonasse, certo? Talvez tenham sido elas, as duas mulheres.
Eram bruxas que vieram e lançaram um feitiço sobre nós. Estávamos
à mercê delas, sem nenhuma palavra a dizer sobre o assunto, sem
escolha sobre quão rápido e forte nossos corações haviam se
envolvido.
Comecei a rir, felizmente a música do pub abafou tudo.
— É sempre assim? — Celeste perguntou, com um sorriso
gigante no rosto.
— Toda noite.
Realmente era. Alguém sempre tinha uma guitarra pronta
para tocar ou uma banda inteira disponível para subir no palco a
qualquer momento. E a galera estava sempre disposta e esperando
para fazer uma dança. Eu sabia que isso parecia estranho para
Celeste e Tyra, mas não era diferente dos bares de cowboys dos
Estados Unidos, onde todos conheciam a mesma dança e como e
quando fazê-la.
— Estou fascinada — sussurrou em meu ouvido.
Fiquei olhando para ela, observando suas feições,
memorizando-as, embora ela já tivesse me enviado as fotos que
tiramos juntos. Foi preciso tudo de mim para não colocar como meu
protetor de tela no segundo em que chegou à minha galeria.
Eu queria. Como um maldito idiota, eu queria, mas decidi
esperar até que ela fosse embora. Então, eu colocaria onde
quisesse, e ninguém saberia. Por mais que adorasse meu pub — e
acredite, eu adorava muito —, desejava cada vez mais ficar sozinho
com Celeste.
— Quero passar cada minuto com você. Isso é egoísta? Devo
deixar você sozinha? — perguntei, esperando muito que ela me
dissesse não.
— Não sei se é egoísmo, mas sinto o mesmo. Graças a Deus
Tyra também encontrou alguém; caso contrário, estaríamos tendo
uma conversa muito diferente agora — acrescentou ela, séria.
Agradeci muitas vezes à minha estrela cadente por esse fato.
— Quer sair daqui? — convidei, e seus olhos dançaram.
— Achei que você nunca iria perguntar. — Ela se virou para
sua irmã. — Nós vamos embora. Tudo bem?
Tyra sorriu.
— Sim. Espere, vocês estarão no nosso quarto de novo?
Celeste me lançou um olhar questionador.
— Vou levá-la para minha casa esta noite.
— É todo seu — disse ela a Tyra.
Saí da cabine e estendi minha mão, sabendo que ela a
pegaria segundos depois de ver. Puxando-a contra mim, dancei com
ela por alguns passos antes de todos começarem a aplaudir e fazer
uma cena. Neguei com a cabeça e saímos do bar barulhento, indo
para o ar da noite.
— Onde você mora? Eu nem sei — comentou, e a conduzi em
direção ao saguão principal. — Espere, podemos passar no meu
quarto para que eu possa pegar algumas das minhas coisas? Isso é
estranho?
— Nada estranho.
Esperei do lado de fora do quarto enquanto ela pegava tudo
o que precisava. Ela surgiu, quase corando, carregando uma
pequena bolsa de viagem. Foi adorável. Eu a levei em direção à
minha casa — uma pequena estrutura independente separada da
pousada, mas bem ao lado dela. A única parte ruim era que os
clientes às vezes confundiam minha casa com a entrada principal,
embora não houvesse nenhuma placa acima dela. Eles batiam a
qualquer hora do dia e da noite, desculpando-se profusamente
quando percebiam seu erro.
— Onde Blaire mora?
— Ah, acima dos estábulos — respondi.
Ela balançou a cabeça, rindo.
— Perto de Bessy?
— Sim, seu primeiro amor — acrescentei. — Há um segundo
andar inteiro que não estava sendo usado para nada, exceto
armazenamento. Ele me perguntou se poderia transformá-lo em um
apartamento, para poder ficar lá em vez de em um dos quartos da
pousada. Ele fez todo o trabalho sozinho. Na verdade, é muito bom
lá em cima.
— Isso é impressionante.
— Ele é meu faz-tudo por um motivo.
— Eu estava me perguntando o que diabos ele fazia aqui —
comentei, e percebi que provavelmente nunca havíamos conversado
sobre Blaire e seu trabalho na propriedade.
— Quero dizer, eu simplesmente nunca perguntei. Estive
muito envolvida em conhecer você.
Parei de andar.
— Eu gosto que você esteja focada em mim. Sinto o mesmo.
Inclinando sua cabeça, eu a beijei, minha língua varrendo e
provando a dela antes de me afastar.
— Sei que sente — garantiu, me tranquilizando, e por algum
motivo isso acalmou as batidas frenéticas do meu coração.
Havia algo tão relaxante em estar na mesma página que
outra pessoa. Especialmente quando se tratava de coisas tão
complicadas como sentimentos.
Conheci muitas mulheres dos Estados Unidos ao longo dos
anos, mas nenhuma era como Celeste. Eu não sabia por que, mas
parecia que a maioria das mulheres de lá gostava de jogos mentais.
Elas queriam ser perseguidas, nunca dizendo o que pensavam.
Celeste não era assim. Talvez tenha sido a perda de sua mãe, tão
recente, que a fez sentir que não tinha nada a perder sendo
honesta. Ou talvez ela sempre tenha sido assim. Tudo que eu sabia
era que isso me convinha. Ela combinava comigo.
— Minha casa fica logo à frente. — Apontei para o prédio de
pedra iluminado por uma única luz da varanda.
— Eu já amei — decretou, e a abracei com mais força,
morrendo de vontade de deixá-la nua e debaixo de mim para que
pudesse me colocar dentro dela novamente.
Quando atravessamos a soleira, ela soltou um suspiro doce.
— É tão encantador.
— Isso significa que você acha que é pequena? — perguntei,
quase ofendido.
Minha casa era honestamente grande demais para uma
pessoa. Havia quartos e áreas onde eu nunca pisava na maioria dos
dias.
— O quê? Não. — Ela me lançou um olhar maluco que me
disse que eu havia interpretado suas palavras de maneira totalmente
errada. — Eu amei. É tão bonita. — Ela caminhou em direção ao
meu espaço favorito em toda a casa. — Esta lareira é deslumbrante.
A pedra — suspirou, passando os dedos pelas pedras cinzentas
originais que datavam de centenas de anos. — É enorme —
completou, ao entrar e se endireitar.
Comecei a rir e peguei meu telefone.
— Não se mexa — ordenei, e tirei algumas fotos dela
parecendo ridiculamente adorável, parada dentro da minha lareira.
Na verdade, era mais do que uma simples lareira. Se eu
quisesse, poderia cozinhar no fogo, como faziam antigamente. Ainda
tinha um braço de metal oscilante que segurava potes presos a ela.
— Posso sair agora?
Ela se abaixou e eu acenei para ela vir.
— Nunca vi nada assim. Exceto talvez em um livro de
história.
— É minha parte favorita da casa.
Observei seus olhos se estreitarem, um sorriso malicioso
rastejando em seu rosto.
— E o seu quarto?
— Nunca teve um motivo para ser meu favorito. Mas acho
que você poderia mudar isso — comecei, trazendo seu corpo para os
meus braços, e segui pelo corredor em direção ao quarto principal
reformado.
Quando chutei a porta, ela se abriu com mais força do que
eu pretendia, batendo na parede antes que saltasse do meu alcance.
Ela girou em círculo.
— Este é o quarto mais majestoso que já vi.
Tentei ver através dos olhos dela. O quarto era
anormalmente grande, com uma cama king-size e uma área de estar
separada com um sofá, uma cadeira e estantes cheias até o topo.
Havia uma lareira escassa aqui também. Mas nunca usei, porque
não passava muito tempo no meu quarto. Havia um closet enorme
que não continha quase nada, exceto minhas coisas, que
honestamente não eram nada demais.
— Isso. É. Surreal. — Ela enfatizou cada palavra ao dizê-las.
— É isso, Patrick. Estou me mudando. — Ela riu, e juro que meu
coração deu um pulo com suas palavras quando minha mente de
repente imaginou a cena: ela aqui, morando comigo, em minha
casa… nossa casa.
— É tudo seu, querida — ofereci, dando um passo em sua
direção, minha necessidade por ela superando todo o resto. —
Preciso estar dentro de você.
— Ah. — Ela parecia um pouco chocada com minha ousadia.
— Bem, não me deixe te impedir.
Observei-a andar para trás até que suas pernas tocassem a
beira da cama e ela se sentasse nela.
Fui em direção a ela, um homem em missão. Uma missão
para me gravar em seus ossos, para que ela nunca pudesse se livrar
de mim… para me tornar um com ela, para que nunca pudéssemos
nos separar enquanto ambos vivêssemos e respirássemos. Abrindo a
gaveta da mesa de cabeceira, peguei uma camisinha, esperando
muito que não estivesse vencida. Enfiando-a no bolso, olhei-a
profundamente nos olhos, dizendo-lhe tudo o que queria, mas não
consegui. Pelo menos, ainda não. Derramei todo o amor do meu
coração nela com apenas um olhar e esperei que pudesse sentir
isso.
Suas mãos agarraram minha nuca e ela me puxou em direção
à sua boca, e a beijei como se nunca mais pudesse fazer isso. Como
se pudesse ser minha última vez. Como se ela pudesse desaparecer
se eu abrisse os olhos, e tudo isso teria sido algum tipo de fantasia
distorcida que só existia na minha cabeça, em vez da melhor versão
da realidade em que já vivi.
O sabor da sua língua me excitou e me senti ficar ainda mais
duro. Nossas bocas estavam fundidas, nenhum de nós disposto a se
separar enquanto rasgávamos as roupas um do outro, ambos
querendo um ao outro sem elas. Nós manobramos, puxamos e
rasgamos, as unhas arranhando as costas, sons de prazer vindos de
nós dois. Infelizmente, tive que quebrar o beijo para deixá-la
completamente nua, mas isso me deu a chance de adorar todas as
suas curvas.
Ela gemia cada vez que meus lábios tocavam sua pele, seus
quadris balançando e meus dedos traçando seu corpo para cima e
para baixo.
— Nunca me cansarei de estar com você — admitiu, e meu
coração disparou.
Sim, você me ouviu direito. A porra do meu coração disparou,
porque eu estava tão envolvido com essa mulher. Essa mulher que
eu mal conhecia. Essa mulher que, até algumas noites atrás, nem
sabia que existia. Mas nada disso importava. Porque o amor nem
sempre era sensato. Em todas as histórias, folclores e contos a
serem venerados e adorados, o amor nunca foi algo de sanidade.
Era algo que consumia tudo, violava regras e desafiava a lógica. E
era isso que todos esperávamos encontrar algum dia. Um amor que
quebrava o molde e nos tornava inteiros.
Minhas calças estavam amontoadas no chão e enfiei a mão
no bolso para tirar a camisinha e a jogar na cama. Enquanto estava
de joelhos, abri suas pernas com as duas mãos, e sua cabeça
apareceu para me olhar, aquela expressão de queixo caído em seu
rosto novamente enquanto esperava pela primeira lambida.
Inclinando-me, sem nunca quebrar o contato visual, passei a língua
em sua boceta e observei sua cabeça rolar para trás, seus olhos se
fechando. Por um momento me perguntei como era aquilo — ter sua
boceta sendo comida —, mas todos esses pensamentos
desapareceram quando o gosto dela me atingiu e me vi desejando
mais.
Lambi uma e outra vez, chupando seu clitóris antes de
brincar com ele com meus dedos. Alternei entre lamber sua boceta
com a língua achatada e mergulhar em sua fenda, minha língua dura
e rígida. Tudo o que fiz a deixou gemendo, gritando e puxando meu
cabelo. Antes que eu percebesse, ela estava gozando na minha
língua, seu corpo se sacudindo suavemente. Quando fui lamber o
resto dela, ela se afastou.
— Ai, meu Deus, não. Preciso de um segundo. Não toque em
nada aí embaixo — explicou, com a voz sem fôlego.
— Não tocar em nada? — provoquei, meu dedo traçando
levemente seu clitóris antes que ele o golpeasse.
— Sério, Patrick. Por favor. Um segundo.
Decidi obedecê-la. Minha deusa.
Levantei-me para tirar minha boxer antes de pegar a
camisinha. Rasgando o invólucro, enrolei-o e soube que estava
fodido. Olhando para baixo, vi que havia um rasgo.
— Merda.
— Qual é o problema? — Ela se apoiou nos cotovelos e olhou
para meu pau.
— A camisinha rasgou.
— Você não tem mais?
— Sim, mas acho que elas expiraram.
Ela piscou os cílios para mim, seu peito ainda subindo e
descendo.
— Estou tomando pílula. Eu nem sei por quê. Simplesmente
nunca parei depois que comecei a tomar. E estou limpa, se você
estiver preocupado.
Eu não estava preocupado.
— Eu também — eu disse. — Não tomando pílula. Limpo,
como você diz.
Celeste sorriu, e aqueles lindos olhos castanhos se
enrugaram nas laterais.
— Então, entre em mim. Sem nada entre nós — exigiu.
E quem era eu para negar à minha garota o que ela pediu?
Fazer amor com ela com camisinha era uma coisa, mas sem
proteção poderia muito bem me matar.
Ela recuou ainda mais na cama, com a cabeça apoiada em
um travesseiro enquanto eu pairava acima dela. Meu pau nem
precisava da minha ajuda para descobrir para onde ir; praticamente
mergulhou dentro dela no segundo em que chegou perto de sua
entrada. Facilmente deslizei. Ela ainda estava encharcada pelo
orgasmo que lhe dei. Mas, assim que entrei, quis morrer e viver lá
para sempre.
Sua boceta estava quente e me agarrou como se não
quisesse que eu fosse embora também. Não havia nada entre nós e
nós dois sabíamos disso. Isso mudou as coisas. Me fez sentir… mais.
Nos conectou. Olhei profundamente em seus olhos, e ela fez o
mesmo, nós dois movendo nossos quadris em sincronia um com o
outro, nunca quebrando o contato visual. Algo ganhou vida naqueles
momentos. O ar ao nosso redor parecia iluminado por eletricidade
enquanto eu trabalhava o mais fundo que podia.
— Que sensação incrível. Achei que era bom te sentir antes,
mas isso é algo totalmente diferente — declarei.
— Você também. Não posso acreditar como isso é diferente.
— Ela mexeu os quadris, me segurando profundamente e me
apertando com suas paredes.
Aguentei o máximo que pude, movendo-me lentamente até
não aguentar mais.
— Eu tenho que te foder com força agora, coração.
— Meu Deus, sim. Me fode — pediu, e comecei a investir
contra ela. Cada impulso fez sua cabeça bater na cabeceira da cama
e, antes que pudesse perguntar se ela estava bem, ela me implorou
por mais. — Mais forte, Patrick. Me fode com mais força.
Eu obedeci. Eu a fodi com força, usando todo o poder do
meu quadril e mergulhando nela cada vez mais rápido, ainda indo
tão fundo quanto ela permitia.
— Eu amo te foder. — Estendi a mão para seus ombros, para
poder lhe dar ainda mais, e ela gritou de prazer.
— Meu Deus, sim. Não pare. Mais forte. Mais rápido.
Ela era uma pequena ninfa exigente, e eu adorei.
— Eu vou gozar com tanta força em você.
O som da cama batendo na parede no tempo perfeito se
tornou nosso hino. Os nossos corpos se uniam, o suor escorrendo
enquanto eu a fodia com ainda mais força à medida que meu pau
crescia, à beira da libertação.
— Eu vou gozar. Tão forte. Tão… — As palavras morreram na
minha garganta enquanto eu gemia e explodia. Enchi-a com o meu
esperma, meu pau ainda empurrando para dentro e para fora até
drenar até à última gota de mim dentro dela.
Quando fui sair, ela agarrou meus ombros, me impedindo.
— Não saia ainda.
Caí em cima dela, tentando não esmagá-la enquanto
estávamos ali deitados, nossos corpos literalmente ligados, a minha
cabeça nos seus seios. Seu peito pesava, sua respiração rápida e
difícil.
— Isso foi incrível — exalou, e levantei minha cabeça para
encará-la.
— Foi — decretei, quase sem palavras, meu coração me
lembrando de que ela não era minha.
Celeste não morava aqui e eu teria que deixá-la ir logo. Eu
não tinha ideia de como faria isso. Especialmente depois desta noite.
NÃO ACREDITO QUE TENHO
QUE IR EMBORA
CELESTE
Os próximos dias passaram mais rápido do que eu queria. Se
houvesse uma maneira de parar o tempo, eu faria isso com prazer.
Mas a vida não funcionava assim. Patrick se ofereceu para levar eu e
Ty para conhecer mais pontos turísticos da Irlanda, mas ele tinha
muitos hóspedes fazendo check-in e check-out, e eu sabia que a
ideia de ficar longe da propriedade o estava estressando, mesmo
que ele nunca tivesse admitido isso para mim. Além disso, Tyra e eu
estávamos contentes em ficar na pousada, andando a cavalo,
alimentando as ovelhas e fingindo que morávamos lá.
Eu até ajudei na recepção quando a gerente teve que se
afastar para cuidar de algo para os pais dela na fazenda. O que
imaginei que seria uma cobertura rápida de cerca de vinte minutos
se transformou em cuidar da recepção e aprender os procedimentos
de check-in por duas horas e meia.
Eu não me importei. Na verdade, gostei.
Estar aqui, de uma forma estranha, era como estar em casa.
Como se eu pertencesse a este lugar.
Quando Patrick sugeriu que Tyra e eu fôssemos à cidade e
déssemos uma de turistas comuns por um tempo, eu disse não. A
última coisa que eu queria fazer era ir embora ou ver qualquer coisa
que não incluísse ele ali comigo. Por alguma razão, não sentia que
estava perdendo nada, embora tivesse certeza de que estava.
Felizmente, Tyra sentiu o mesmo. Ficamos apaixonadas por nossos
homens. Do nosso ponto de vista, de qualquer forma, eles eram a
melhor parte da Irlanda. Não uma atração turística a que todos
tinham acesso.
Mamãe nos disse para viver. E, na minha opinião, não existe
melhor forma de viver a vida do que através de experiências. As
paisagens podiam ser vistas a qualquer momento. Mas conexões
como essa eram raras e precisavam ser aproveitadas. Alguns
poderiam nos chamar de patéticas, mas essas pessoas não
conheciam Blaire e Patrick. Eles não eram como os típicos homens
dos Estados Unidos, escondendo seus sentimentos por trás de toda
essa bravata inventada e ideias de como um “homem” deveria ou
não agir.
Não. Patrick admitiu de bom grado como se sentia. Expôs seu
coração e me fez sentir confortável em fazer o mesmo. Nunca fui tão
aberta e honesta com um cara tão rápido na minha vida. Foi parte
do que me fez me apaixonar tão forte e tão rapidamente. Esse nível
de honestidade era um pouco desconfortável no início, mas ele
facilitou tudo. Principalmente porque acreditei em todas as coisas
que ele disse. As ações de Patrick correspondiam às suas palavras e
ele deixava pouco espaço para dúvidas. Eu sabia o que ele sentia
por mim porque ele não apenas me contou, mas também me
mostrou. O que a maioria dos estadunidenses demorava meses para
fazer, Patrick fez em um maldito dia. Literalmente.
Então, sentei-me no quarto que Tyra e eu deveríamos dividir,
mas não o fizemos por nem uma noite, arrumando o resto das
minhas coisas enquanto ela fazia o mesmo.
— Nunca dormi nesta cama — disse ela, rindo —, nem usei o
banheiro daqui.
— Estou ciente.
— Não aja como se você tivesse dormido aqui mais de uma
vez — repreendeu, e eu sorri.
— Não estou agindo — garanti, tentando ser forte quando no
momento não sentia nada.
— Celeste? — A voz da minha irmã soou estranha, então
parei de dobrar minhas roupas e olhei para ela.
— Sim?
— Eu não quero ir — admitiu, e eu suspirei.
— Eu sei. Nem eu.
Ela se jogou na cama e enxugou os olhos.
— Não precisamos, você sabe. Poderíamos ficar.
Eu pensei a mesma coisa mil vezes nos últimos dias. Como
não havia nada urgente nos forçando a voltar para casa neste
segundo. Mas meus pensamentos sempre terminavam da mesma
maneira… eventualmente, teríamos que ir embora. Não morávamos
na Irlanda. E tínhamos saído tão de repente que ainda havia
algumas coisas que eu precisava ter certeza de que seriam
resolvidas em relação à casa e aos assuntos de mamãe. Só para ter
certeza.
— Poderíamos — enfatizei a palavra antes de continuar —,
mas ainda teríamos que voltar para casa em algum momento. E isso
apenas tornaria tudo mais difícil.
— Talvez possamos voltar? — perguntou, seu tom
esperançoso. — Ou eles podem vir nos ver?
Eu ri com o pensamento. Não que vê-los novamente fosse
engraçado, mas eu mal conseguia imaginar Patrick ou Blaire nos
Estados Unidos. Tive a sensação de que eles não gostariam de estar
ali. Que todas as coisas que entusiasmavam as pessoas em nosso
país os desanimariam.
— Acho que veremos. — Eu ainda não tinha contado a Tyra
sobre mamãe nos deixar dinheiro, e era o momento perfeito para
contar a ela, mas fiquei nervosa com a possibilidade de ela se tornar
irracional e insistir para que ficássemos, então guardaria a notícia
comigo até voltarmos para casa.
Houve uma batida suave na porta antes que se abrisse, e
Blaire passou pela soleira, com o cabelo preso dentro de um boné.
— Vocês duas estão prontas para ir? — perguntou, seus
olhos vermelhos, como se ele estivesse chateado ou talvez até
chorado.
Tyra se lançou em seus braços antes de envolver todo o seu
corpo em torno dele como um canguru para carregar bebê. Observei
seu aperto sobre ela aumentar, seus braços musculosos flexionando.
Seu corpo começou a tremer e eu sabia que ela estava chorando.
Fiquei me perguntando se era isso que nossa mãe esperava para
suas duas filhas: que deixassem seus corações em uma terra
estrangeira.
Ele beijou sua bochecha e eu vi então… suas próprias
lágrimas. Isso fez meus olhos lacrimejarem em resposta ao vê-los
tão emocionados. Desviei o olhar e terminei de colocar minhas
roupas na mala antes de fechá-la facilmente. Eu não tinha comprado
nada aqui, como pensei que faria.
— Patrick está esperando com o carro na frente da pousada
— avisou Blaire, e assenti na sua direção sem fazer contato visual.
Essa viagem até o aeroporto seria uma droga.
Blaire empurrou nossas malas pelo corredor e saiu porta
afora. No segundo em que saí e vi que estava chovendo, quase
comecei a rir. Até o céu estava chorando por nós. Os olhos verdes de
Patrick encontraram os meus, sua expressão solene, e eu perdi o
controle. Comecei a chorar ali mesmo, curvando-me pela cintura,
tentando esconder o rosto. Patrick estava lá na hora, seus braços
fortes em volta da minha cintura me segurando por trás.
— Não chore. — Sua voz estava estrangulada quando ele fez
um som de fungar.
Endireitei meu corpo e me virei para encará-lo.
— Você não está chateado por eu estar indo embora? —
perguntei, de repente me sentindo estúpida perto dele, em vez de
segura, como me senti o resto do tempo.
— Mais do que você imagina — disse ele, piscando algumas
vezes, e foi então que percebi como seus olhos estavam úmidos. —
Estive pensando em maneiras de fazer você perder o voo a manhã
toda — completou, e nós dois rimos, embora não estivéssemos
felizes.
— Nós precisamos ir. — A voz de Blaire infiltrou-se no ar.
Patrick agarrou minha mão, levando os nós dos meus dedos
aos lábios e dando um beijo ali.
— Isso vai acabar comigo — declarou.
Ele me puxou para o lado do passageiro, abriu a porta para
mim e me ajudou a entrar. Já tinha acabado comigo.
Blaire e Tyra estavam abraçados um no outro no banco de
trás, nenhum deles falando uma palavra, as testas pressionadas uma
contra o outra enquanto respiravam. Era um momento íntimo, então
não disse nada que pudesse estragar tudo.
Dirigimos em silêncio até o aeroporto de Dublin. Cada um de
nós preso em suas próprias emoções, conversando em silêncio,
falando com seus corações. Patrick segurou minha mão o tempo
todo, sempre acariciando ou apertando, sem nunca parar. De vez em
quando, nossos olhos se encontravam e se fixavam antes que ele
tivesse que se desviar e focar novamente na estrada.
Muita coisa foi falada nesses momentos de silêncio. Tanta
coisa que foi dita sem palavras. Aparentemente, não precisávamos
delas.
Quando ele estacionou o carro e desligou o motor, estendeu
a mão no banco e me puxou para seus braços. Foi estranho, mas
não me importei. Eu me agarrei a ele também.
Blaire e Tyra saíram do carro. Eu só sabia porque ouvi as
portas se abrindo e depois batendo, e Patrick se moveu para apertar
um botão que abria o porta-malas antes de voltar a me segurar em
seus braços.
— Eu não quero que você vá — falou, contra meu pescoço, e
senti meu coração se partir ao meio ao som de sua voz. — Fique.
Por favor, fique, Celeste.
— Não posso — respondi, embora não fosse verdade.
Como Tyra e eu havíamos conversado em nosso quarto, eu
poderia ter ficado. Não havia absolutamente nada me esperando em
casa. Sem mãe. Sem trabalho. Sem obrigações reais. Dizer que não
poderia ficar parecia a coisa certa a fazer. Seria uma loucura da
minha parte ficar em outro país com um homem que mal conhecia.
Quem em sã consciência faz algo assim?
Ele se afastou de mim e enxugou as lágrimas que começaram
a cair do meu rosto. Olhei para o rosto dele e fiz o mesmo. Era
estranho ver um homem adulto chorar porque seu coração estava
partido. Verdade seja dita, era sexy demais, embora eu pudesse ter
assumido o contrário antes deste momento.
— É melhor irmos — sugeriu, desviando o olhar de mim e
segurando a maçaneta da porta.
Saí, sentindo-me instável em meus próprios pés. Nunca tinha
experimentado nada assim antes.
— Nós voltaremos — decretou Tyra, atrás do carro, e
comecei a assentir com a cabeça quando Patrick estava ao meu lado
novamente.
— Quero dizer — comecei —, podemos voltar.
— Tudo bem — disse Patrick, mas percebi que ele não
acreditou em mim. Nem um pouco. — Claro.
Ele sabia que, quando voltássemos para casa e
mergulhássemos em nossos mundos familiares, provavelmente não
voltaríamos para a Irlanda. Nossas intenções eram honrosas agora,
mas tudo muda quando você volta às suas antigas rotinas e hábitos.
— Te mando uma mensagem. E podemos conversar por
vídeo — insisti, tentando parecer esperançosa, mas não tinha
certeza da razão. O que eu estava querendo? Éramos um casal
agora? Estávamos namorando à distância?
— Pode apostar que vamos conversar por vídeo. E por
mensagem — disse Patrick, me surpreendendo.
Não tínhamos conversado sobre essa parte das coisas.
Parecia que nós dois queríamos fingir que não estava acontecendo,
então adiamos ou ignoramos completamente.
— Vamos. Ainda temos que passar pela segurança — chamou
Tyra, de repente parecendo ansiosa para sair.
Antes que eu pudesse pegar minha mala, a mão de Patrick
me parou.
— Tenho uma coisa para você — disse ele, enfiando a mão
no bolso e tirando um pequeno anel de prata.
Abri a mão e ele o colocou na palma, onde o agarrei entre os
dedos e o estudei. Havia uma coroa no topo de um coração, que era
segurado de cada lado por um par de mãos.
— É um anel claddagh — contou. — Originado aqui na
Irlanda. — Começou a apontar para as partes do anel enquanto
explicava melhor. — As mãos representam amizade. O coração
representa o amor. E a coroa representa lealdade.
Parecia que uma pedra havia se alojado na minha garganta.
Eu não conseguia respirar.
— É lindo — falei, conseguindo encontrar as palavras.
— A tradição diz que a direção em que você usa o coração
mostra se você está comprometido ou não. Se o coração aponta
para você, seu coração não está disponível. Mas se apontar para
fora, então você está solteiro.
Virei o coração para apontar para mim e o coloquei no dedo
anelar da mão direita.
— Meu coração definitivamente não está disponível —
afirmei.
Ele me pegou no ar e me segurou com força, me beijando
com paixão e me reivindicando como fez na primeira noite em que
estivemos juntos.
— Vou sentir muita falta de você, minha garota.
— Eu também.
Eles nos acompanharam até a entrada, mas tivemos que
passar correndo pela segurança, ou chegaríamos atrasadas.
— Me mande mensagem assim que você pousar — pediu, e
eu disse que sim.
Ele me agarrou uma última vez e me beijou, sua língua
penetrando, tocando a minha, e meu interior aqueceu, desejando-o.
Quando seus olhos começaram a lacrimejar novamente, ele
se afastou de mim, agarrou Blaire e desapareceu pelas portas de
vidro.
— Isso é uma merda — resmungou Tyra, e joguei meu braço
em volta dela em concordância. Isso definitivamente era uma droga.
PRECISO DELA
PATRICK
A viagem de volta para Kilkenny foi brutal. Meu coração
parecia estar em pedaços dentro do peito. Era um tipo de dor
diferente de quando perdi minha mãe e meu irmão. Parecia que eu
nunca mais respiraria direito. Como se algo dentro de mim estivesse
faltando e nunca mais voltasse. Talvez fosse um membro ou um
osso… algo sem o qual eu poderia tecnicamente viver, mas que
nunca mais seria o mesmo depois de perdê-lo.
— Estou uma bagunça — disse Blaire, interrompendo minha
própria fossa.
Eu sabia que ele e Tyra também tinham se conectado, mas, é
claro, presumi que o que eles tinham não poderia nem se comparar
ao vínculo que Celeste e eu formamos. Foi uma coisa idiota da
minha parte pensar.
— Você disse a ela para mandar mensagem quando pousar?
— perguntei.
— Não — resmungou, e olhei para ele como se meu amigo já
tivesse feito merda.
— Eu disse a ela para ligar.
— Serão três da manhã aqui quando elas pousarem —
comentei, torcendo muito para conseguir dormir sem ela. Eu me
acostumei a ter o seu corpo encostado no meu.
— Eu sei que horas serão. E não ligo.
Talvez devesse ter dito a Celeste para ligar. Só pedi a ela para
enviar mensagem. Eu era um idiota. Ela iria pensar que Blaire
gostava mais da irmã do que eu dela.
— O que nós vamos fazer? — indagou.
Mas não conseguia me concentrar em Blaire e nos
sentimentos dele naquele momento. Eu precisava conseguir algum
tipo de controle sozinho.
— Vamos voltar para a pousada. Você vai consertar o
vazamento da torneira do quarto doze e apertar as dobradiças dos
quartos quatro e dois, e eu vou verificar os livros e ter certeza de
que todos os próximos hóspedes estão acomodados e felizes. E
depois nos encontraremos no pub.
— Sim, ou posso simplesmente ir direto para o pub e beber
até você chegar lá — disse ele, antes de inspirar longa e
ruidosamente.
— Temos sido preguiçosos ultimamente. Precisamos fazer
nosso trabalho — rebati, assumindo minha voz de chefe. Odiava
usar esse tom e dizer essas coisas, mas eram verdades.
Adiamos as coisas para passar mais tempo com as meninas
e, embora eu não trocasse isso por nada, esse era o meu negócio, o
meu trabalho, a maneira como eu ganhava a vida. Tínhamos que
continuar fazendo certo.
Meu telefone vibrou, avisando que recebi uma mensagem de
texto do aplicativo internacional. Vi o nome de Celeste e não
consegui apertar o botão rápido o suficiente.

Já sinto sua falta. Amei o anel. Obrigada.

Eu a amava. E me impedi de digitar isso de volta em


resposta. Em vez disso, fechei o aplicativo e continuei dirigindo,
determinado a enviar uma mensagem de texto para ela quando
pudesse dar-lhe toda a atenção, o que não aconteceria agora.
Voltamos para a pousada em tempo recorde e os sons da
música já saíam pelas portas do pub. Ainda estava claro, mas isso
nunca impediu ninguém de se divertir. No instante em que saí do
carro e pisei na terra, senti ainda mais falta dela. Celeste esteve
aqui, andando nesta terra, no pub, atrás do balcão de check-in.
Um lugar que não a conhecia há uma semana agora estava
cheio de lembranças suas. Como isso aconteceu tão rapidamente?
Como poderia uma estranha mudar a atmosfera de algo que
reconstruí sem ela em mente?
— Tenho que ir para minha casa. Vejo você mais tarde —
avisei para Blaire, que já estava andando em direção ao pub antes
de eu detê-lo. — Faça o seu trabalho primeiro. Beba depois — insisti,
e ele revirou os olhos antes de me saudar como um soldado.
Ao entrar em casa, fui atingido por uma onda de emoções
que não esperava. Quase me derrubou. Eu a vi ali, parada dentro da
minha lareira, girando, com um lindo sorriso no rosto. Ela estava em
todo lugar. Eu temia que sempre estivesse.
Puxando meu telefone, eu sabia que ela já estava no ar e
provavelmente não usava o Wi-Fi, mas enviei uma mensagem de
qualquer maneira, para que ela visse quando pousasse.

Não consigo parar de pensar em você. Sinto tanto


a sua falta que dói, coração. Volte.

Antes que eu pudesse apagar ou editar a mensagem,


pressionei enviar. Não fui criado para ser tão emocionalmente aberto
e honesto. Pelo menos, não da perspectiva do meu pai, mas minha
mãe teve muito mais influência sobre mim do que qualquer outra
pessoa. Aprendi como me expressar e como permanecer fiel ao meu
coração. Foi assim que encontrei forças para deixar a Inglaterra e
me mudar para a Irlanda. Minha mãe me criou para viver de acordo
com a minha verdade, não importa o que os outros dissessem.
Passei o resto da noite olhando para meu telefone,
esperando-a pousar. Depois de resolver um pequeno problema com
os hóspedes e fazer a ronda para que se sentissem bem-vindos,
abandonei Blaire e fui para casa em vez de ir para o pub. Eu sabia
que ele estava afogando suas mágoas em uísque. Simplesmente
queria jogar minha cabeça no travesseiro e respirar seu cheiro.
Devo ter adormecido, porque o som de uma mensagem de
texto me acordou. Meu celular estava ao meu lado e o peguei tão
rápido que o brilho da tela cegou meus olhos. Diminuindo o brilho,
pressionei a mensagem.

Pousei. Sã e salva. Mas, tenho que admitir, odeio


estar longe de você.
Meu coração batia em ritmo triplicado enquanto eu digitava
freneticamente uma resposta.

Estou contente por você estar segura. Mas odeio


que esteja tão longe.

Os três pontos apareceram e eu sabia que ela estava


digitando. Senti-me animado e entusiasmado… como uma criança.
Ninguém me fazia sentir assim há anos.

Você está acordado! Espero que não tenha sido


minha culpa. Na verdade, espero que tenha sido.
Patrick… eu só… eu sinto sua falta. Já sinto tanto
a sua falta. Isso é estúpido?

Ela anexou uma captura de tela do que parecia ser o papel


de parede do seu celular. Era uma foto nossa nas falésias de Moher.
Eu ri, porque já tinha feito exatamente a mesma coisa, embora
tivesse escolhido uma foto diferente. Tirei uma captura de tela
minha e enviei para ela.

Não é estúpido. Volte. Ou vou até aí e te trarei


para casa.

HAHA. Não tenho certeza se me importaria com


isso. Vá dormir. Conversamos amanhã.

Mesmo não querendo deixá-la, concordei, colocando meu


telefone no carregador e fechando os olhos de novo.
Quando os reabri, a luz entrava pela minha janela. Era um
novo dia. Mais um onde ela ainda não estava aqui.
Se eu pensava que as coisas melhorariam com o tempo,
estava enganado. Celeste e Tyra estavam fora há dez dias, e juro
que estava ciente de cada minuto desses dez dias. Trocamos
mensagens de texto o tempo todo e conversávamos por vídeo pelo
menos uma vez por dia. Ver o rosto dela preencher minha tela fazia
meu coração doer e inchar ao mesmo tempo.
A tecnologia era um presente. Ajudava. Mas não parecia
facilitar o que eu realmente queria… ela… aqui… comigo. Esse
desejo não estava diminuindo. E Blaire não era mais meu
companheiro nesse aspecto. Eu me senti conectado com ele
inicialmente em nossa fossa conjunta, porém, com o passar do
tempo, Blaire sentia cada vez menos falta de Tyra. E o mesmo
aconteceu com ela, aparentemente. Não que Blaire não gostasse da
garota. Ele gostava. Mas via um futuro juntos como uma opção não
realista e deixou de lado a ideia de ficar com ela.
Meus pensamentos se recusaram a fazer o mesmo. Estar com
Celeste não parecia surreal ou impossível. Parecia algo que
poderíamos fazer acontecer se ambos decidíssemos. Isso não queria
dizer que não haveria desafios ou que não seria difícil, mas que
valeria a pena. Porque estarmos juntos era mais importante do que
estarmos separados.
— Nunca vi você tão miserável. — Blaire se aproximou de
mim no bar e pegou meu drinque para si, terminando-o.
— Odeio estar aqui sem ela — declarei, sem me importar
com qual seria a resposta dele ou se iria zombar de mim.
— Eu também sinto falta de Tyra, mas… — Ele fez uma
pausa.
Percebi que a forma como sentíamos falta das irmãs não era
a mesma, e nós dois sabíamos disso. Blaire sentia falta de Tyra
porque ela era divertida, boba e trouxera muitas risadas à vida dele,
mas eu sentia falta de Celeste em um nível que só poderia ser
descrito como comovente. Ela me completou e era a verdade.
— Eu tive que abrir mão dela. E você precisa fazer o mesmo
— pressionou, e me senti ficando com raiva.
Não gostava que me dissessem o que fazer ou como me
sentir. Especialmente quando se tratava dos meus sentimentos ou de
Celeste.
— Não há como abrir mão dela — argumentei.
— Existe, se você apenas tentar. Quero dizer — ele engoliu o
resto da bebida antes de dar um tapa no meu ombro — Tyra tem
um encontro mais tarde.
Praticamente me engasguei com o ar ao nosso redor.
— Um encontro? E você não se importa? — perguntei,
sabendo que se Celeste me dissesse a mesma coisa, eu perderia a
cabeça, iria para o aeroporto e pegaria um avião, só para impedir
que isso acontecesse.
— Não — soltou, como se não fosse grande coisa. — Eu
também tenho um encontro neste fim de semana. Tyra e eu nos
divertimos enquanto ela estava aqui, mas agora ela não está.
Realmente era bem simples para ele, e eu não poderia
invejá-lo por isso. Apenas tinha que trilhar meu próprio caminho.
— Tenho que ir vê-la — decretei, à queima-roupa.
— Sim, eu sei — Blaire falou, com um sorriso que fez
aparecer suas covinhas, sua marca registrada.
— Estou sendo bobo? — perguntei, de repente me
perguntando o que ele pensava.
— Só há uma maneira de descobrir.
Levantei-me da banqueta e dei um tapinha nas costas dele.
— Acho que estou indo para os Estados Unidos.
— Volte com a moça ou não volte — brincou, antes de me
desejar boa sorte.
RECONHECERIA AQUELE
SOTAQUE EM QUALQUER
LUGAR
CELESTE
Já se passaram quase duas semanas desde que voltamos da
Irlanda e ainda parecia… estranho. Nada sobre estar de volta a
Dallas, na casa de nossa infância, deveria ter parecido estranho, mas
parecia, e eu sabia exatamente por quê.
Eu não pertencia mais aqui. A este lugar. Sem ele.
Quando cheguei à varanda da frente e entrei em nossa casa,
foi como voltar no tempo. E não tinha nada a ver com mamãe e
tudo a ver comigo. Ao olhar em volta para todas as nossas coisas,
percebendo que nada havia mudado desde que partimos, sabia que
nunca mais seria a mesma. Esta viagem tomou meu ser e o sacudiu
como um globo de neve. Todas as minhas peças estavam em
lugares novos, instaladas de forma diferente. E eu nem estava brava
com isso; simplesmente não sabia o que fazer.
Patrick e eu conversávamos todos os dias, mas nenhum de
nós planejou se encontrar ou sequer tocou na ideia. Eu não tinha
ideia do que estávamos fazendo.
Eu tenho um namorado? Estou em um relacionamento à
distância com alguém de outro país? Com certeza parecia assim,
mas nunca definimos ou sequer tentamos. Acho que nós dois
estávamos com medo. Especialmente depois de ver quão
rapidamente o que quer que Tyra e Blaire tivessem se transformou
em nada.
Os dois pareciam bem com isso, mas, se você tivesse me
perguntado algumas semanas atrás, teria jurado que eles gostavam
tanto um do outro quanto Patrick e eu.
Eu estava errada. E isso me abalou um pouco. Talvez com
mais tempo, Patrick e eu eventualmente parássemos de conversar
também. Talvez tudo o que tínhamos desaparecesse no pôr do sol, e
eu ficaria com nada além de minhas memórias e fotos no celular.
O pensamento doeu meu coração.
— Gostou da minha roupa? — Tyra apareceu de repente na
cozinha, vestida com roupas novas da cabeça aos pés.
Contei a ela sobre o dinheiro um dia depois de voltarmos. Eu
tinha esquecido quase completamente disso até que ela perguntou o
que faríamos de nossas vidas daqui para frente. Ela estava falando
sobre a casa e se queríamos ou não ficar em Dallas. Ela gostava de
morar em Houston e, antes da Irlanda, sempre me via voltando para
Austin e lecionando novamente.
Agora, eu não tinha ideia do que queria fazer.
Depois que transferi metade do dinheiro para sua conta, ela
dançou pela casa por meia hora, agradecendo a mamãe a cada dois
segundos entre as reboladas. Tivemos muita sorte de nossa mãe ter
cuidado de nós tão bem. Nós duas devolveríamos tudo se isso
significasse que ela ainda estava viva, mas sabíamos que não era
assim que a vida funcionava.
— Você está linda — elogiei, enquanto ela girava.
Tyra não teve problemas em gastar o dinheiro. Eu ainda não
toquei em um centavo disso.
— Eu tenho um encontro esta noite.
Neguei com a cabeça. Eu não desaprovava ela sair com
alguém; estava apenas mais descrente de como ela já conseguia.
Este foi seu terceiro encontro esta semana.
— Não balance a cabeça para mim — repreendeu. — Blaire e
eu nos divertimos. Ele era divertido. E supergostoso na cama. Mas
eu moro aqui e ele mora lá, e a vida é assim.
Se fosse assim, então por que nem de longe sentia o mesmo
quando se tratava de Patrick? Devo ter feito alguma careta porque
Tyra estava ao meu lado na mesa da cozinha, com um beicinho nos
lábios.
— Blaire e eu nos divertimos, Celeste — repetiu. — Mas não
é o que você e Patrick têm.
— Afinal, o que isso quer dizer? Devo me mudar para a
Irlanda?
Ela encolheu os ombros.
— Você quer se mudar para a Irlanda? — Ela estava me
perguntando seriamente. Não estava sendo condescendente ou
crítica de forma alguma.
— Eu realmente adorei lá — contei, relembrando como me
senti em paz e calma só por estar naquela terra. Torcendo o anel
que ainda estava no meu dedo, olhei para ele, me lembrando do
momento em que ele me deu e me pediu para escolher a direção em
que colocaria o coração.
— Esta casa não parece mais um lar, não é? — Ela apertou os
lábios e esperou minha resposta, mas eu poderia dizer que ela já
sabia.
Eu realmente não conseguia dizer as palavras em voz alta,
então balancei a cabeça lentamente assim que a campainha tocou.
— Ele já chegou para te buscar? — Olhei para o relógio na
parede. Era de tarde ainda.
— Não. Eu atendo. — Ela pulou da cadeira e foi até a porta
para abrir. Estiquei meu pescoço para ver quem era sem sair do
lugar quando meu corpo ficou dolorosamente imóvel. Minha mente
começou a disparar, meu coração parou de bater e minha garganta
ficou tão grossa que achei que poderia ter fechado completamente.
A voz de um homem dizendo palavras que eu não conseguia
entender, mas isso não importava. Eu conhecia aquele sotaque.
Eu reconheceria em qualquer lugar.
Mas como isso estava… aqui? Do lado de fora da porta da
frente da casa da minha mãe?
— Ah, Celeste? Você vai querer atender! — Tyra gritou, antes
de correr de volta para a cozinha e me ajudar a ficar de pé.
Dobrei o corredor e entrei na sala de estar, onde Patrick
estava parado, com as mãos na frente do corpo, os olhos parecendo
cansados da viagem.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei. Não foi a
melhor maneira de cumprimentar o homem sem o qual eu não
conseguia imaginar minha vida, mas foram as primeiras palavras que
consegui encontrar.
Seus olhos verdes encontraram os meus e os sustentaram.
— Não consigo parar de pensar em você. Sinto tanto a sua
falta. — Sua voz falhou quando ele disse as palavras. Como se talvez
ele só agora estivesse percebendo o risco que correu ao vir aqui. E
se eu o rejeitasse? Ou dissesse que queria que ele fosse embora?
— Também sinto sua falta — contei, me lançando em seus
braços e derretendo contra seu peito. Meu Deus, senti falta da
sensação do corpo dele ao redor do meu mais do que imaginava.
— Não acredito que você está aqui! — Tyra exclamou e olhou
ao redor, possivelmente pensando que Blaire estava em algum lugar
atrás dele.
— Ele não veio — disse Patrick, e juro que os olhos dela
brilharam de dor por apenas um segundo antes de ela esconder e
fingir que não importava.
— O que você está fazendo aqui? Patrick, a pousada… —
Comecei a pensar em todas as coisas que ele havia deixado para
trás para estar aqui agora, e ainda não tinha ideia de porque ele
tinha vindo.
— A pousada está em boas mãos. Pode sobreviver um pouco
sem nós — prometeu, e não perdi o uso da palavra nós.
— Nós? — questionei.
— Volte comigo, Celeste. Volte para casa, na Irlanda, e fique
comigo.
Como eu posso fazer isso? É justo da parte dele me pedir
para cortar as raízes de toda a minha vida e me mudar para lá
quando ele nem sequer se ofereceu para fazer o mesmo por mim?
— Você poderia se mudar para cá — sugeri, sabendo que não
era nem remotamente realista. Eu estava sendo teimosa. Lutando
por uma independência que eu não precisava.
Ele tinha um negócio lá. Obrigações. E eu… eu não tinha
mais nada aqui, exceto Tyra.
— Eu poderia fazer isso, sim — começou a dizer, como se
estivesse disposto a desistir de tudo por mim. Como se estar comigo
fosse mais importante que tudo.
— Você faria isso?
— Se é isso que você quer, sim. — Ele engoliu em seco e se
aproximou de mim, segurando minhas mãos e me deixando saber
que ele quis dizer cada palavra.
— Mas… você estaria desistindo mais do que eu — admiti. —
Você tem coisas que construiu lá. E eu… — Meus olhos começaram a
lacrimejar. — O que eu faria na Irlanda?
— Me ajudar a administrar a pousada? Desafiar seus
compatriotas para concursos de bebida? O que você quiser, coração.
Por favor, volte comigo. Não posso viver o resto da vida sem você.
Quer dizer, suponho que poderia, mas não quero. Por favor, me diga
que você sente o mesmo.
— É claro que ela sente o mesmo — Tyra rebateu, de algum
lugar da casa, e eu comecei a rir, sabendo que ela estava escutando.
Ela saiu das sombras e foi para a sala, onde ainda estávamos de
mãos dadas. — Ela está infeliz desde que voltamos. Não sei por que
ela não diz logo.
— Isso é verdade? — Ele olhou para mim, seus olhos
implorando para ouvir minha verdade.
— É verdade — admiti.
— Não posso voltar para a Irlanda sem você. Você estragou
aquele lugar para mim.
Eu ri de novo, enxugando as lágrimas que começaram a cair.
Era cem por cento louco da minha parte dizer sim para Patrick, mas
disse mesmo assim. Não era como se eu fosse ficar presa na Irlanda
se odiasse ou se não déssemos certo por algum motivo. Mas algo
me disse que ficaríamos bem.
— Eu quero voltar com você.
Tyra pulou como uma lunática e olhei para ela.
— Tem certeza de que ficará bem se eu for embora? Não é
como se eu estivesse a apenas algumas horas de distância.
— Você está louca se pensa que vai se mudar para lá sem
mim. Quero dizer — começou, movendo os dedos ao redor: — Não
vou me mudar, me mudar para lá, mas quero um quarto. Um lugar
onde possa ficar o tempo que quiser, quantas vezes quiser — falou,
com muita naturalidade, como se já tivesse pensado nisso antes de
hoje. — Acho que vou ir e voltar entre lá e aqui.
Olhei para Patrick, me perguntando se estava tudo bem para
ele ou não, e ele começou a rir.
— Você e Blaire vão me causar palpitações cardíacas — foi
tudo o que disse, e Tyra encolheu os ombros como se ele pudesse
lidar com isso.
— Acha que ele ficará chateado se eu aparecer também?
— Não. Ele gosta de você. Só não achava que vocês dois
tinham futuro, então…
— Sim, sim. Eu sei. É melhor que ele não tenha namorada
quando eu for visitá-lo. — Ela girou nos calcanhares e saiu pelo
corredor.
— Há coisas que você precisa resolver aqui? Você pode se
mudar, simplesmente assim? — perguntou, estalando os dedos, e eu
assenti.
— Honestamente? Tudo está resolvido. E suponho que
poderia lidar com tudo o que falta pela internet. Não temos nada,
exceto esta casa, e está tudo pago.
— Quando você pode fazer as malas? — Ele beijou meus
lábios e trouxe meu corpo de volta à vida.
Eu estava em uma espécie de coma desde que voltei para
Dallas, mas apenas um beijo dele me tirou disso.
Ele era o Príncipe Encantado do meu conto de fadas.
EPÍLOGO
CELESTE
Oito meses depois…
Da janela da nossa sala, olhei para meu noivo, que
cumprimentava os novos hóspedes que chegavam na frente da
pousada.
Outra noite, Patrick me pediu em casamento na frente de
todos no pub.

Estávamos jantando na mesma cabine onde passamos a


primeira noite em que nos conhecemos. O lugar estava lotado,
músicos tocando, pessoas dançando, Tyra e Blaire flertando
irritantemente um com o outro… de novo.
Quando a música parou de repente e todas as pessoas no
pub olharam em nossa direção, juro que poderia ter um colapso
nervoso. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, e então
Patrick saiu da cabine e se ajoelhou. Ele envolveu todo mundo nisso.
Todos sabiam que ele iria fazer o pedido e eu estava sentada lá,
totalmente inconsciente.
Não havia como dizer não.
E eu não disse. Praticamente mergulhei de cabeça em seus
braços enquanto ele deslizava a esmeralda verde na minha mão
esquerda. Era um anel pelo qual me apaixonei em uma das lojas
locais no centro da cidade. Nem pensei que ele estava prestando
atenção ao meu olhar boquiaberto e bajulador. Aparentemente, ele
estava.
— É o que você queria, certo? — perguntou, meus olhos
transbordando de lágrimas de felicidade, e todos começaram a
aplaudir e gritar tão alto que eu mal conseguia ouvir meu noivo
falando comigo por causa do barulho.
— Sim. É impressionante — garanti, o admirando em minha
mão.
Perguntei-me se algum dia me cansaria de vê-lo ali, mas
então percebi que não.
— Não acredito que vou me casar com você! — gritei, e ele
me beijou como se não houvesse mais ninguém na sala.
Tyra correu em nossa direção com um sorriso tão grande no
rosto que me fez rir.
— Deixe-me ver. — Ela pegou minha mão e puxou-a para
perto de seu rosto. — Era lindo na caixa, mas fica ainda mais bonito
na sua mão.
Ela se virou para procurar Blaire, que estava bem atrás dela,
com a mão em sua cintura.
— É um bom anel, não acha? Não é simples, como um
diamante. Todo mundo ganha um diamante. Vai aprendendo, B.
Blaire parecia prestes a vomitar, mas escondeu bem de todos,
menos de mim.

Eu o conheci muito bem nos últimos oito meses. Além de


Patrick, ele era meu amigo mais próximo e a pessoa com quem
passava mais tempo. Ele realmente gostava da minha irmã, mas
disse que ela lhe deu uma tapão pela maneira como seu coração
mudou. Eu sabia que ele estava apenas tentando proteger o dele.
Tyra continuava vindo aqui, suas visitas cada vez mais
longas. Eu me perguntava quanto tempo levaria até que ela se
mudasse em definitivo para cá, embora continuasse insistindo que
nunca sairia de nossa casa em Dallas. Pelo menos, não inteiramente.
Ela até convenceu Blaire a ir junto quando ela fosse embora dessa
vez, só para ver se ele gostava.
Eles iriam acabar juntos. Eu apostaria dinheiro nisso. Mas a
verdadeira questão era: onde eles iriam se assentar? Aqui ou lá?
Meu noivo caminhou em direção à nossa casa, me avistando
pela janela, seu rosto abrindo um sorriso genuíno. Meu Deus, ele era
um colírio para os olhos. E era todo meu.
— Onde está minha futura esposa? — perguntou, passando
pela porta, e lhe dei um olhar que lhe dizia para vir me buscar assim
que comecei a tirar minhas roupas.
— Ah, coração. Estamos jogando esse jogo?
Deixei cair minha camisa no chão e me dirigi para o nosso
quarto, seguida por minhas calças de ioga quando saí delas.
Eu o ouvi atrás de mim, pegando os itens descartados, como
sempre fazia quando eu o provocava desse jeito. Quando cheguei à
cama, estava completamente nua e meu homem estava basicamente
espumando pela boca.
— Meu Deus, você é deslumbrante. Minha futura esposa.
Minha noiva. O amor da minha vida — pontuou, despindo-se o mais
rápido possível.
Ele estava em cima de mim antes que eu pudesse inspirar
novamente, sua boca quente, sua língua molhada me beijando como
se eu pertencesse a ele, embora nós dois soubéssemos que era a
verdade.
Funcionava nos dois sentidos. Ele também pertencia a mim. E
isso nunca mudaria.
Nunca me mudaria da Irlanda enquanto vivesse. Para ser
sincera, não senti falta de estar em casa, nos Estados Unidos.
Encontrei um lugar novo para chamar de lar. Com um homem que
não poderia ter encontrado em Dallas. Esse tipo de homem
simplesmente não existia lá.
Eu sabia que minha mãe estava me olhando com alegria —
espero que não neste momento específico, mas independentemente
disso. Acho que ela sabia exatamente o que estava fazendo quando
planejou essa viagem. Pelo menos eu gostava de pensar assim.
br/
FIM
SOBRE A AUTORA
Jenn Sterling nasceu no sul da Califórnia e adora
escrever histórias sinceras. Cada uma que ela conta contém
pedaços de sua verdade, bem como de sua experiência de
vida. Ela é bacharel em rádio/TV/cinema e trabalhou na
indústria do entretenimento a maior parte da vida.
A The Gift Box é uma editora brasileira, com publicações de
autores nacionais e estrangeiros, que surgiu no mercado em janeiro
de 2018. Nossos livros estão sempre entre os mais vendidos da
Amazon e já receberam diversos destaques em blogs literários e na
própria Amazon.
Somos uma empresa jovem, cheia de energia e paixão pela
literatura de romance e queremos incentivar cada vez mais a leitura
e o crescimento de nossos autores e parceiros.
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