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CATHERINE COWLES

CATHERINE COWLES
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CATHERINE COWLES
Este livro é para todas as minhas irmãs incríveis. Elas não compartilham meu sangue, mas
compartilham minha alma. Obrigada pelo apoio, incentivo e amor. Sou eternamente grata por
estar cercada por tantas mulheres incríveis.

CATHERINE COWLES
.

De pernas magras a primeiros encontros e tudo no meio.


Mas ele nunca foi meu para amar.
Eu me conformei com a amizade, mesmo sempre querendo algo mais.

Isso foi antes.


Antes dele destruir meu mundo e nem se importar em me ajudar a juntar
os pedaços.
Eu juntei até o último fragmento por conta própria.
E eu quase esqueci seu nome.

Agora, ele está de volta, e tudo está desmoronando de novo.


Mas ele não é o único a fazer isso dessa vez.
E talvez não há uma forma de parar quem esteja fazendo isso conosco.

CATHERINE COWLES
PRÓLOGO

PASSADO

— PREFIRO SENTAR em um formigueiro, só de calcinha enquanto


como pimenta. — Eu me inclinei contra o balcão e coloquei uma bolacha
na minha boca. Meu nariz enrugou. Era um daqueles de multi grãos que
tinha mais gosto de papelão do que de comida de verdade.

— Isabelle Marie Kipton, eu já tive o suficiente de seu sarcasmo,


mocinha.

Mas eu não era uma jovem, pelo menos não na opinião de minha mãe.
As jovens eram equilibradas e organizadas e nunca questionavam as
regras que seus pais lhes impunham. Eu questionava tudo, nunca fui
fácil, e estava muito desarrumada para obter qualquer tipo de aprovação
de meus pais.

Eu olhei sem piscar para minha mãe, não cedendo um centímetro.

— Você se sentará à mesa do jantar e estará tranquila e será


educada com nossa convidada.

Eu soltei um suspiro. — Como se a filha deles fosse tranquila e


educada comigo? — Lacey era mais como o diabo encarnado, mas ela
usava sua bonita e educada máscara perfeitamente. Então, minha mãe
poderia muito bem ter pensado que ela era o Segundo Messias.

CATHERINE COWLES
Violet apareceu de onde estava arrumando uma travessa de
aperitivos. — Lacey retruca porque você a provoca. Talvez vocês duas
sejam apenas mais parecidas do que gostariam de admitir e se irritam.

Eu olhei para minha irmã mais velha. A imagem perfeita da jovem que
meus pais desejavam que eu fosse, com seus cabelos de estilo impecável
e a postura de uma futura médica. Ela poderia muito bem ter sido uma
estranha. Quando isso aconteceu? Procurei em minha mente a data em
que o interruptor foi trocado, quando Violet havia deixado de ser amiga e
confidente, a irmã que sempre me protegera, para alguém que eu nem
conseguia entender a maior parte do tempo.

— Você pode ser amiga dela o quanto quiser, Vi. Aceito ter cobras
cruéis no meu círculo. — Olhei para minha mãe. — Ou dividindo uma
mesa de jantar com eles.

O vermelho subiu pelo pescoço da minha mãe e penetrou em seu


rosto. — O que há de errado com você? — Eu fiquei calada. A lista do que
minha mãe achava de errado comigo nos levaria a noite toda para
terminar. — É isso aí. Entregue seu telefone.

Meus dedos se apertaram na borda do balcão.

—Você está realmente tomando meu celular porque não quero jantar
com alguém que é horrível comigo? Que intimida minhas amigas e é cruel
com todos que não estão em sua pequena gangue de seguidores?
Eu tentei lhe dizer repetidamente que ela não é quem você pensa que é.

Minha mãe estendeu a mão.

— Talvez se você mantivesse uma companhia melhor, essas coisas não


seriam um problema. São com quem você passa o tempo, Isabelle. E
aquelas garotas que você anda por aí não são o que eu quero para o seu
futuro.

CATHERINE COWLES
Meus dentes de trás se apertaram quando enfiei minha mão no bolso
de trás, puxando o dispositivo que ela havia pedido e colocando na palma
da mão. Nenhum telefonema significava sem linha de emergência para
minhas melhores amigas, para Ford, para as pessoas que me mantinham
sã, em meio à insanidade que minha mãe provocava. Eu mantive meu
rosto cuidadosamente em branco. Eu não daria a ela a satisfação de
saber que ela me impactou de alguma forma. Ela não merecia saber que
tinha esse poder.

— Desde que você insiste em agir como criança, você será tratada
como uma. Seu toque de recolher agora é as nove da noite.

Eu não dei nada a ela. Eu já era uma prisioneira nesta casa cheia de
pessoas que preferem me julgar do que tentar entender de onde eu estava
vindo. Deus não permita que eles realmente ouçam o que eu tenho
a dizer.

Minha mãe soltou um suspiro exasperado. — Por que você não pode
ser mais como Violet? Ela é educada e prestativa, mas você insiste em
criar problemas e conflitos.

Cortou mais do que deveria. Se eu tivesse um dólar por cada vez que
ela dissesse algo parecido, eu seria capaz de ir para a faculdade em
qualquer lugar que eu sonhasse. — Mas eu não sou como ela, sou?
Então, provavelmente é mais seguro que eu vá embora quando seus
amigos estiverem aqui. Você não gostaria que eles soubessem o quão
decepcionante eu sou, não é?

— Iz... — Violet começou a se aproximar de mim, para confortar ou


aplacar, eu não tinha certeza, mas me esquivei. Eu não queria a
segurança dela. Eu queria sair deste espaço que parecia muito apertado,
como se as paredes estivessem se fechando sobre mim.

CATHERINE COWLES
Meu pai entrou na cozinha, atraído pelas vozes altas. — Apenas a
deixe ir, Heather. Ela tem dezesseis anos, ela pode optar por pular um
jantar.

O olhar da mamãe cortou o meu pai, uma clara ameaça do preço que
ele pagaria mais tarde por me defender. Mas ele já estava acostumado
com sua veia vingativa e não vacilou. Ela voltou-se para mim. — Tudo
bem. Seja egoísta e imatura. Não é como se eu esperasse algo diferente
de você.

Eu não disse uma palavra, apenas peguei uma barra de granola da


despensa e saí correndo pela porta dos fundos, saindo daquela casa
sufocante e em direção à liberdade.

EU ME AFUNDEI , escondendo nos travesseiros espalhados que


mantinha na velha casa na árvore nos fundos de nossa propriedade, e
aumentei a música que tocava nos fones de ouvido. Se as músicas fossem
altas o suficiente, eu poderia abafar tudo: a frustração, a decepção, o
problema. Mas alguns dias, não havia um decibel alto o suficiente ou
uma lista de reprodução por tempo suficiente. E nada poderia apagar a
ira de minha mãe com a qual eu estaria lidando nas próximas semanas.

Eu olhei para o teto da casa na árvore, para o mural selvagem que eu


adicionava lentamente ao longo do tempo. Meu próprio jardim secreto.
Eu rabisquei meticulosamente e pintei centenas de flores, entrelaçadas
com trepadeiras retorcidas, como se eu pudesse construir meu próprio
mundinho aqui.

Aumentei a música mais alguns cliques, cantando suavemente.


Música e arte. Eu poderia me perder nelas. Eu podia me sentir livre por
alguns momentos antes que o mundo colapsasse novamente.

CATHERINE COWLES
Senti um puxão em um dos meus fones de ouvido e ele se soltou. Eu
reprimi um grito quando vi os cabelos loiro escuro que apareceu na
entrada da casa. Minha mão voou para o meu peito enquanto meu
coração acelerava. —Nossa, me dê um ataque cardíaco, por que não?

Ford subiu na casa da árvore, músculos bronzeados se contraindo e


flexionando com seus movimentos graciosos. Engoli em seco. — Meus
ouvidos estão sangrando, Trouble. Eu pensei que um gato estava sendo
morto aqui em cima, mas não, — ele me deu um sorriso — é só você
massacrando os maiores sucessos de Bob Dylan.

Joguei um dos travesseiros ao meu lado na cabeça de Ford. —


Cuidado com o que você diz. Eu tenho a voz de um anjo.

Ele zombou, mas se aproximou de mim, encostado na parede. —


Assim…

— Sim, Cupcake?

Ford deu um puxão rápido no meu cabelo. — Você sabe, o time de


futebol começou a me chamar assim por sua causa.

Meus olhos se arregalaram. — Oh cara. Isso me deixa ridiculamente


feliz.

— Um dos caras de outro time me convidou para sair depois de um


jogo, assumindo que eles me chamavam assim porque eu era gay.

As risadas se apoderaram mim, assumindo o controle e causando


lágrimas nos meus olhos. — O que você disse?

CATHERINE COWLES
— Eu respondi que estava lisonjeado, mas tinha uma namorada. —
Eu arqueei uma sobrancelha para ele. Ford sorriu. —
Eu estava lisonjeado, ele é um ótimo cornerback1.

Eu balancei minha cabeça. — Você é meu favorito.

Ford inclinou a cabeça para poder encontrar o meu olhar. —- Mas


você me abandonou para enfrentar o pelotão de fuzilamento sozinho?

Eu estremeci. — Muito ruim?

— Trouble, há fumaça saindo dos ouvidos de sua mãe. E Lacey, ela


está apenas...— Ele deu um arrepio exagerado. Cobri o rosto com as
mãos, balançando a cabeça. Ford bateu o pé no meu e eu espiei entre
dois dedos. Seus lábios tremeram quando seus olhos azuis pareciam
brilhar. — Tentando ter uma atitude, ou apenas evitando?

As palavras de Ford fizeram o calor se espalhar pelo meu peito. Ele me


entendia melhor do que ninguém. Eu deixei minhas mãos caírem do meu
rosto. — Não aguento Lacey por três horas seguidas. Já é ruim o
suficiente ter que lidar com ela na escola nove meses ao ano.

Ford riu. — Então, você me deixou para lidar com elas sozinho.

— Tenho certeza que Violet te protegeu.

Ele balançou a cabeça, um sorriso gentil no rosto, aquele que ele


usava apenas para minha irmã. — Vi é boa demais para enfrentar
qualquer um deles.

Uma pontada de ciúme perfurou minha barriga, seguida rapidamente


por uma onda de culpa. Esses sentimentos que haviam construído nos
últimos dois anos me fizeram sentir como um ser humano horrível. Eu

1
O Cornerback (CB) (também chamado de corner) é um jogador de secundária ou
também defensive back field do futebol americano dos Estados Unidos e do Canadá. ... A posição
de cornerback requer velocidade e agilidade. Zagueiro.

CATHERINE COWLES
limpei minha garganta. — Provavelmente é melhor assim, não gostaria
que ela perdesse a mão. Lacey é susceptível de morder.

Em vez de rir como eu pensava, Ford me estudou cuidadosamente. —


As coisas estão piorando?

Caí contra os travesseiros, deixando escapar um som de frustração.


— Mamãe está piorando as coisas ao tentar forçar uma amizade estranha
quando sabe que não nos damos bem.— Não se dar bem era o eufemismo
do ano. Não, de uma vida. Porque é precisamente quanto tempo Lacey
Hotchkiss desprezou minhas duas melhores amigas e eu. E, da maneira
típica das meninas malvadas, ela se certificara de que o resto de nossas
colegas de classe soubesse de todas as coisas que nos faltavam.

— Mas ela nunca fez você correr antes. — Claro, Ford sabia que havia
mais. — Fale comigo, Trouble.

Eu odiava as lágrimas que se acumulavam nos cantos dos meus olhos.


Mordi o interior da minha bochecha para combatê-los até que o gosto
metálico do sangue encheu minha boca. — Ela roubou minhas roupas.

As sobrancelhas de Ford se juntaram. — Do que você está falando?

Eu brinquei com a borda em um dos meus travesseiros, trançando e


desenrolando os fios, incapaz de encontrar seu olhar. — Na praia na
semana passada. Eu estava me trocando em uma das barracas. Pendurei
minha roupa de banho por cima da porta e, quando me abaixei para
pegar minha bolsa, ela a puxou para debaixo da tenda, enquanto um de
seus minions agarrava minha roupa.

Um músculo na bochecha de Ford pareceu tremer. — O que você fez?

Eu estava congelando e aterrorizada. Tudo o que eu conseguia pensar


era se eu teria que sair por aí completamente nua para tentar encontrar
meus amigos. Fiquei lá por trinta minutos antes que elas me
encontrassem. — Caelyn e Kenna finalmente vieram me procurar.

CATHERINE COWLES
Felizmente, entre as duas tinham uma camisa extra e shorts. — Mas eu
tive que ir para casa sem sutiã e calcinha. Eu me senti muito vulnerável.
Uma lembrança das lágrimas que eu havia lutado durante todo o
caminho de casa tinha a raiva fervendo lentamente na minha barriga.

— Isso não está bem. Por que você não me contou? Ou seus pais? Ou
a Vi?

Eu soltei minha mão da borda. — Eu não queria te colocar no meio


novamente. E minha bolsa estava nos degraus da frente quando cheguei
em casa. Eles nunca teriam acreditado em mim. Eles nunca acreditaram
antes. E Violet estava cega sobre Lacey.

Ford bateu o joelho no meu. — Sinto muito, Trouble. Eu odeio que Vi


e eu estamos deixando você aqui para lidar com isso por conta própria.

Forcei um pouco de alegria ao meu tom que não sentia. — Vocês têm
que ir e serem educados. Não quero um monte de idiotas como minha
irmã e meu cunhado.

Ford riu e bagunçou meu cabelo. Ele e minha irmã ainda não estavam
noivos, mas era uma piada que eu o chamava de cunhado porque era
apenas uma questão de tempo. Mas isso não era verdade. Usei o apelido
para me lembrar de como Ford me via, como uma irmãzinha. Para me
lembrar do que ele sempre seria para mim. Um irmão. O único problema
era que ele não era como um irmão. Ele era como algo completamente
diferente. Hormônios idiotas e estúpidos. Eu estava culpando tudo na
puberdade. Isso arruinou tudo.

Eu olhei para Ford, uma mecha de seu cabelo tocando sua testa da
maneira perfeita. — Você está ficando animado?

Ele deu de ombros. — Na maioria das vezes. Às vezes, gostaria que


estivéssemos indo além de Seattle.

— Por que não? Vocês sempre podem se transferir no próximo ano.

CATHERINE COWLES
— Vi não quer se afastar muito de casa.

Revirei os olhos. Minha irmã sempre jogou pelo seguro, fez tudo de
acordo com as regras. E a Universidade de Seattle era a faculdade mais
próxima que ela poderia encontrar em nossa pequena ilha na costa de
Washington. — É porque meus pais querem que ela fique perto? — Ela
quase sempre fazia o que eles pediam. Ford foi sua única grande rebelião.
Eles nunca foram loucos por ele, pensaram que ela poderia escolher
melhor, mas ela os desgastou com o tempo. Como ela não poderia? Até
pessoas cegas como meus pais tinham que ver o quanto ele
adorava minha irmã.

Ford pigarreou. — Eu acho que em parte ela não quer ficar tão longe
de tudo que sabe, de tudo que é confortável.

Eu gemi. — Desculpe, Cupcake. Você merece ter algumas aventuras.


Eu daria tudo para sair desta pequena ilha e experimentar mais do
mundo, para me sentir... livre.

— Aposto que vou conseguir convencê-la. Não a tempo para este


semestre, mas talvez para o próximo.

— Se alguém pode, é você.

Ford brincou com a ponta de um travesseiro. — E você? Alguma ideia


para onde você vai aplicar?

Eu ainda tinha dois anos no Anchor High, mas comecei a enviar


solicitação para a faculdade quando era caloura. — Em qualquer lugar
que não seja aqui.

Ford riu quando uma cabeça loira apareceu pela porta no chão. Minha
irmã olhou para nós dois por um momento e depois soltou um suspiro
exasperado. — Eu deveria saber que a dupla da destruição estaria em
seu esconderijo secreto.

CATHERINE COWLES
Dei de ombros e fiz o meu melhor para dar um sorriso. — Ei, eu me
ofereci para torná-lo o trio de terror, mas você sempre se recusa a ir em
nossas missões.

Violet balançou a cabeça enquanto se arrastava para a casa da árvore


e se acomodava do meu outro lado. — Eu só não queria um registo
criminal aos dez anos de idade.

Eu soltei uma risada. — A bicicleta de Lacey com papel higiênico com


o Ford valeu um mês de castigo.

Violet olhou em direção a nossa casa. — Você pensaria que eles já


teriam aprendido que não é inteligente tentar forçar vocês duas juntas.

— Ela roubou minha preciosa Polly Pocket e não a devolveu. O papel


higiênico foi justificado.

Vi soltou uma risada leve, delicada e bonita, como ela era. — Talvez
seja melhor seguir o jogo e deixar mamãe e papai pensarem que você está
de acordo. Isso seria tão ruim?

Mordi meu lábio inferior. — Sim, seria. — Eu olhei para cima para
encontrar o olhar da minha irmã. Ela simplesmente não entendia. — Eles
querem que eu tenha amigos aceitáveis. Para eles, a filha de um advogado
é apropriada, por mais cadela delirante que ela seja. Porque, por mais
horrível que Lacey fosse comigo, ela era ainda pior com Kenna por algum
motivo, e eu nunca deixaria alguém entrar na minha vida que
machucasse minha melhor amiga, mesmo que fosse apenas para se
mostrar.

Uma pitada de irritação passou pela expressão de Violet. — Por favor,


não a chame assim. Eu sei que vocês duas não se dão bem, mas ela é
minha amiga.

Ford se mexeu no assento. — Vi, eu não sei se você sabe de tudo.

CATHERINE COWLES
O olhar dela se voltou para ele. — Acho que você também não. Iz faz
isso com Lacey, e Lacey não é tão dura quanto parece. Machuca
seus sentimentos.

— Gente, parem. Eu posso lidar com Lacey. E eu posso lidar com


mamãe e papai.

Violet olhou para mim. — Se escondendo e deixando mamãe tão brava,


que parece que ela vai explodir?

Eu deixei minha cabeça cair contra a parede da casa da árvore. — Ok,


isso pode não ter sido o meu melhor plano.

— Você acha?

O aborrecimento fez alfinetadas dançar através da minha pele. — Eu


não posso simplesmente concordar com o que eles querem como você.
Eu não fui feita assim. Eles deveriam estar felizes por terem uma filha
perfeita e me deixar seguir meu próprio caminho.

Os olhos de Violet se arregalaram como se eu a tivesse atingido. Ela


até lutou perfeitamente. Nunca ergui a voz, simplesmente a deixei brilhar,
me fazendo sentir como se eu tivesse chutado um filhote indefeso. — Eu
não sou perfeita, — ela sussurrou.

— Muito perto. Perto o suficiente, — eu resmunguei.

Ford sentou-se, olhando para Violet, e imediatamente senti a perda de


sua presença. Seu calor, seu conforto, sua força. — Tudo bem,
senhoritas, vocês são perfeitas aos meus olhos, mas vamos nos
concentrar no que é realmente importante agora... comida.

Sua declaração me assustou uma risada. — Comida?

— Sim. — Ele deu um tapinha no estômago. — Eu apenas tive que me


sentar em uma refeição de comida de coelhos ridiculamente chique que
talvez encheu um oitavo do meu estômago, e Trouble não jantou. O que

CATHERINE COWLES
você diz de eu levar minhas damas ao The Catch por alguma coisa
gordurosa?

— Eu não sei, Ford, meus pais... — Violet parou de falar ao olhar de


Ford e depois começou de novo. — Eu vou falar com eles.

Eu bati no ombro da minha irmã. — Obrigada.

Vi balançou a cabeça, mas deu um pequeno sorriso e depois correu


em direção à saída. — Vocês me encontram no carro. Provavelmente será
mais tranquilo se eu falar com eles sozinha.

Essa era a irmã que eu sentia falta, aquela que estava sempre do meu
lado, mesmo que ela não entendesse de onde eu estava vindo. — Ei,
Sissy2? — Ela olhou para mim. — Eu te amo mais que tudo.

— Te amo mais ainda. — Ela piscou enquanto desaparecia da escada.

Ford se levantou e eu o segui, descendo cuidadosamente o lado da


árvore. Quando chegamos ao fundo, vi que estava começando a chover,
uma daquelas perfeitas tempestades de verão. Corremos para o SUV de
Ford e entramos. Ele me olhou. — Ela só quer o melhor para você. Você
sabe disso, certo?

Eu enterrei minhas unhas nas palmas das mãos. — Eu sei. Mas as


vezes é cansativo.

— O que é?

— Viver na sombra de outra pessoa.

Ford estendeu a mão e apertou meu joelho. — É impossível você viver


na sombra de alguém, Iz. Você brilha demais. Vocês duas são a sua
marca única e perfeita.

2
Isabelle chama a irmã Violet de Sissy, como um apelido, que significa Maricas. Mas vou deixar no
original.

CATHERINE COWLES
Aquele calor familiar acendeu em mim novamente. Quando o mundo
faz você se sentir sem graça, era um presente ter alguém que pensava
que você brilhava.

A porta de trás se abriu e o feitiço foi quebrado. Ford me soltou e se


virou para Violet, que sentou no banco de trás. — Eu enfrento
os pais para você e você rouba o meu lugar?

Eu não ri. — Ei. Dormiu perdeu. — Eu pressionei meus lábios juntos.


— Eles nos deixaram ir?

— Depois de muita conversa. Você irá lavar os pratos o próximo mês.

Suspirei. — Poderia ser pior.

Ford girou a chave na ignição, ligando os limpadores de para-brisa


e saindo da garagem. —Esperamos que esta chuva signifique que as
pessoas fiquem em casa e não teremos que esperar muito tempo por uma
mesa.

Não havia muitas opções de restaurantes em uma ilha de mil e


quinhentas pessoas, e o The Catch Bar & Restaurante era um local
favorito. — Ford, sua família é dona do lugar, eu realmente não acho que
teremos que esperar.

Ele riu. — Se meu pai estiver trabalhando, ele garantirá que todos os
clientes pagantes fiquem sentados diante de nós.

— Acho bom o como seu pai está comprometido em prestar um ótimo


serviço a todos, — disse Violet.

Ford bufou. — Legal, exceto quando estou morrendo de fome. Lembre-


me de comer antes de eu voltar a uma das festas de seus pais.

— Vou fazer um lanche para você na próxima vez.

Ford sorriu para o espelho retrovisor. — Eu te amo garota.

CATHERINE COWLES
A brincadeira deles e o apelido fizeram meu estômago revirar. Tentei
evitá-los, me perder na chuva que escorria pela minha janela e na floresta
passando rapidamente enquanto contornávamos a ilha. Um flash de algo
apareceu no canto da minha visão. — Ford!

O cervo lançou-se na estrada quando Ford pisou no freio. Tudo


desacelerou. Momentos marcados por batimentos cardíacos entre
respirações. O SUV girou em direção ao penhasco. Eu perdi todo o senso
de direção. A buzina de outro veículo soou. Faróis brilhavam. Alguém
gritou. Poderia ter sido eu, mas eu não tinha certeza.

Houve um barulho ensurdecedor e depois uma dor excruciante. O fogo


parecia lamber minha pele, mas não havia chamas, apenas vidro
quebrado e metal retorcido. Eu tentei manter minha respiração
superficial, parecia ajudar o ardor. — Sissy? Ford? — Não houve
resposta.

Girei na minha cadeira, o pânico lutando contra a dor. — Ford?

Sua cabeça estava caída em um ângulo não natural, e meu coração


batia acelerado no meu peito. — Não, por favor não. — Estendi uma mão
trêmula, pressionando dois dedos em seu pescoço. O baque constante
contra as pontas dos meus dedos foi a melhor sensação que eu já
experimentei.

— Isabelle? — Eu me virei com o som rouco da voz de Violet. Minha


respiração ficou presa na garganta quando toquei o sangue que cobria o
lado do seu rosto.

— Estou aqui. — Estendi a mão para agarrar sua, o movimento


causando uma queimação ao longo das minhas costelas. Eu gritei.

— Eu me sinto estranha.

— Vai ficar tudo bem. — Sirenes soaram a distância. Isso era bom.
Significava ajuda. — Vi, o que dói? — Não houve resposta, e meu olhar

CATHERINE COWLES
voltou para minha irmã. — Vi! — Os olhos dela tremeram. — Você tem
que ficar acordada, Violet. — Era o que eles sempre diziam naqueles
dramas médicos.

Seus olhos se abriram, mas seu corpo parecia ficar rígido, como se ela
estivesse tendo uma pequena convulsão. E então... nada. Silêncio, exceto
pelas sirenes longínquas e pela pancada da chuva. Silêncio quando
minha irmã olhou para mim, olhos artificialmente arregalados e sem
piscar. Silêncio enquanto eu observava minha irmã abandonar esta
Terra.

CATHERINE COWLES
1

PRESENTE

— VOCÊ NÃO se sente muito melhor começando o seu dia assim? —


Caelyn sorriu enquanto enrolava o tapete de ioga.

Kenna fez uma careta para o próprio tapete. — Não sei ao certo como
se torcer em um pretzel deve ajudá-la a encontrar a paz interior.

Eu reprimi uma risada. — Ela está feliz em nos dar essas aulas, então
continue com isso. — Eu gostava muito de ioga, mas adorava como essas
manhãs deixavam Caelyn feliz. Não doeu que realizamos as sessões em
um parque com vista para uma das praias mais lindas de Anchor Island.
A extensão de grama onde colocamos nossos tapetes mergulhava e rolava
até encontrar uma costa rochosa, a costa diminuindo e surgindo praias
cinzentas a penhascos escarpados. O ar salgado do mar que entrava era
um bálsamo para qualquer ferida.

— Eu nem transpiro, — Kenna se queixou.

Caelyn passou um braço em volta de Kenna, fazendo-a se arrepiar. —


Nem tudo é sobre empurrar seu corpo para o ponto de ruptura. Mas,
confie em mim, seus músculos estão ficando mais fortes por causa dessa
prática, e seu espírito também.

— Claro, claro, ó Zen. — Kenna encolheu os ombros do braço de


Caelyn e voltou a enrolar o tapete, certificando-se de que as bordas
estavam perfeitas antes mesmo de colocá-lo na bolsa.

Eu belisquei sua bunda, e ela gritou, girando. Dei de ombros com um


sorriso. — É bem feito por ser tão rabugenta.

CATHERINE COWLES
— Eu não sou rabugenta. Só estou estressada.

Parei para enrolar meu próprio tapete. — O que está acontecendo? —


Eu dei um puxão na mão dela quando ela não respondeu.

Kenna suspirou, mas sentou, Caelyn fazendo o mesmo. —Um dos


contadores do escritório de Shelter Island está de licença médica e eu
concordei em atender um punhado de seus clientes. É mais trabalho do
que pensei que seria.

Caelyn e eu trocamos um olhar, mas Kenna levantou a mão antes que


pudéssemos dizer qualquer coisa. —Eu não quero ouvir isso.

Eu dei o meu sorriso mais angelical. —O que? Que você trabalha


demais? Que você vai se dar uma úlcera? Que você não tem vida?

Ela mostrou a língua para mim. — Como você é uma boa amiga.

—Amigos de verdade falam a verdade.

—Sim. Sim. Eu vou ficar bem. É apenas por um ou dois meses.

Caelyn estendeu a mão e apertou o joelho de Kenna. —Apenas deixe-


me saber o que posso fazer para ajudar. Posso fazer compras no
supermercado para você e Harriet quando for para mim e para os
pequenos terrores.

A expressão de Kenna se suavizou e ela balançou a cabeça. —Você


tem o suficiente o que fazer. Eu posso lidar com isso.

Minhas amigas tinham mais problemas do que correspondia em suas


vidas porque, embora parecessem tão diferentes quanto noite e dia -
Kenna com seus cabelos castanhos e elegantes e roupas de estilo
perfeitamente estilizadas, e Caelyn com os pulsos cheios de pulseiras
incompatíveis e cabelos amontoados sobre a cabeça dela - eram mais
parecidas do que alguém imaginaria. Elas deram e deram e deram um
pouco mais. Kenna cuidando da mulher que a criou a partir dos onze

CATHERINE COWLES
anos, quando a mãe de Kenna não se incomodou com a responsabilidade.
E Caelyn desistindo da faculdade e seus sonhos de voltar à ilha para criar
seus irmãos quando eles foram retirados da custódia de seus pais.

Bati minhas mãos nos joelhos. —Senhoras, dividam e vencerão. Farei


as compras para vocês neste mês. Envie-me suas listas às terças-feiras.
— Eu me virei para Kenna. —Se Harriet tiver consultas médicas, verifique
se estão de manhã e eu posso levá-la.

Caelyn passou as mãos sobre a grama exuberante embaixo de nós. —


E eu posso preparar o jantar para você e Harriet. Apenas passe por minha
casa no seu caminho de casa para o trabalho, e eu terei alguns
recipientes prontos para você.

Os lábios de Kenna pressionaram em uma linha fina. —Vocês estão


me fazendo sentir como uma preguiçosa.

—Oh, por favor. — Caelyn acenou com a mão na frente do rosto. —Diz
a garota que faz meus impostos de graça todos os anos desde que você
se formou.

—Isso não é nada...

—Não é nada. — Caelyn a interrompeu. —São amigas ajudando da


maneira que podem. — Ela olhou de Kenna para mim, com os olhos
enevoados. —É o que fazemos, certo?

— É isso aí. — Eu me levantei e estendi a mão para cada uma das


mulheres que eram mais como irmãs do que amigas. Mulheres que me
viram nos meus dias mais sombrios e andaram ao meu lado
durante tudo. —Agora que já temos tudo resolvido, preciso chegar em
casa para tomar banho antes de começar o inventário no bar. — O tecido
cicatricial ao longo das minhas costelas puxou quando eu arrastei as
meninas para ficarmos pés. Eu ignorei o lembrete que a pontada trouxe.

CATHERINE COWLES
Dei dois abraços rápidos em ambas e fui para o meu carro. A brisa do
oceano bateu no meu cabelo, os fios loiros soprando no meu rosto. Puxei-
os para trás, capturando-os com um coque rápido antes de subir ao
volante.

Saindo, abri minha janela enquanto guiava meu carro pelas estradas
sinuosas da ilha, precisando de outro golpe de ar do mar. Anchor Island
era um lugar pequeno, com menos de duas mil pessoas na baixa
temporada. Se você morasse aqui por mais de um ano, conheceria quase
todo mundo. Era uma bênção e uma maldição.

Quando saí para a faculdade com Caelyn e Kenna, jurei nunca mais
voltar. Agora, eu sabia que nunca faria votos assim porque o universo era
uma criatura inconstante, e ele gostava de fazer você comer esse tipo de
promessa. Com três crianças sob seus cuidados, Caelyn precisou de toda
a ajuda que pudesse obter, assim que Kenna e eu nos graduamos,
voltamos direto para Anchor.

Os Hardys, cuidando de mim como sempre, me ofereceram um


emprego no The Catch, assim como o apartamento em cima do bar.
Eu estive lá desde então. Tê-los me fez sentir como se eu não tivesse
perdido tudo naquela noite de verão há mais de uma década. E gostei de
ajudá-los o máximo que pude, mesmo que isso significasse deixar de lado
meus próprios sonhos por enquanto.

Eu estava fazendo turnos duplos desde o derrame de Frank ano


passado. Tentando cobrir o máximo de turnos que pude para que Hunter,
o irmão que não havia abandonado sua família em seu tempo de
necessidade, ainda pudesse administrar seus negócios de construção, e
Kara não estivesse morrendo de medo pelo marido e pelo bar.

Hunter havia me dito que estava trabalhando para me ajudar, mas eu


não tinha ideia de como ele iria fazer. Simplesmente não tínhamos
orçamento para contratar alguém para trabalhar horas suficientes para

CATHERINE COWLES
fazer a diferença. Virei para a Main Street e sorri. Os lojistas estavam fora
em pleno vigor hoje fazendo a preparação de primavera: reabastecendo
as jardineiras, retocando a pintura, qualquer coisa para atrair os dólares
turísticos.

A mistura de artesãos, vitorianos e prédios antigos de tijolos era


apenas uma das muitas coisas que as pessoas adoravam em Anchor. No
entanto, o charme do centro também não estava perdido para mim. A ilha
pode ser um lembrete das minhas lembranças mais dolorosas, mas
também abrigava todas as minhas melhores lembranças. E, ao contrário
de outras pessoas na minha vida, eu não estava disposta a perder as
boas lembranças, apenas para não lembrar os ruins.

Parei em um estacionamento reservado na parte de trás do prédio de


dois andares com o The Catch pintado em uma fonte branca grande e
artística do lado que ficava a poucos passos da praia rochosa. Peguei
minha bolsa no banco do passageiro e fui para a escada que subia a
fachada de pedra. Eu realmente precisava de algumas luzes cintilantes
ou algo divertido para as escadas. Eu havia decorado minha varanda com
luzes e plantas, mas os degraus não tinham personalidade. Coloquei na
minha lista mental para remediar isso em breve.

Abri a porta e entrei. Olhando para o grande relógio na parede, eu


estremeci. Corri para tomar o meu banho, mas tirei um tempo para secar
meu cabelo, para não acabar com pneumonia. Essa era a última coisa
que eu precisava.

Desliguei o secador de cabelo, passando os dedos pelas ondas suaves


que passavam pelos meus ombros, caindo ao longo da clavícula e
encontrando os ramos cheios de flores que se curvavam em torno de um
ombro. Pressionando a palma da minha mão contra uma das flores
violetas que surgiram de uma cicatriz especialmente cruel. Fechei os
meus olhos. — Sinto sua falta, Sissy.

CATHERINE COWLES
Eu pensava nela quase todos os dias, mas era especialmente forte e
aniversários e datas importantes. E amanhã era o dia em que deveríamos
estar comemorando com seu bolo favorito de sorvete da Two Scoops.

Respirei fundo, abrindo os olhos, me obrigando a olhar, me forçando


a olhar para as cicatrizes. Elas eram bonitas à sua maneira. Eu as fiz
assim, desenhando tatuagens que não cobriam as cicatrizes, mas que
teciam em torno delas. Imagens que honraram minha irmã e eu. Galhos
mágicos que brotavam violetas e jacintos silvestre.

O processo levou semanas. Horas dolorosas em uma cama em uma


loja de tatuagem em Seattle. Mas valeu a pena. Porque quando olhava
para o meu corpo agora, não via apenas dor. Lembrava da minha irmã e
de quanto nos amávamos, mesmo que tivéssemos sido tão diferentes
quanto a noite e o dia. Pressionei minha palma com mais força contra a
violeta que estava logo acima do meu coração. Eu gostaria que tivéssemos
a chance de redescobrir a proximidade que tínhamos quando éramos
mais jovens.

Eu parei de me olhar no espelho e fui para o meu quarto. Puxei as


roupas de uma cômoda que havia comprado em uma venda de garagem
por dez dólares e reformada. Não havia quase nada no meu apartamento
que não tivesse significado. Eu tinha passado muitos anos em uma casa
que continha tão pouco. Queria que minha casa fosse uma extensão de
mim. Isso normalmente vinha de suar muito por cada móvel e da
decoração com fotos, arte pessoal e plantas.

Coloquei uma calça jeans e uma camiseta gasta que abraçavam


minhas curvas. Vestindo um par de botas, eu estava pronta para ir.
Peguei meu telefone para verificar a hora, mas ele não estava em seu
lugar habitual na penteadeira. Merda. Eu devo ter deixado no carro.

Peguei minhas chaves e fui para a porta dos fundos. Quando eu a abri,
meus passos vacilaram, a visão na minha frente foi como um soco, da

CATHERINE COWLES
mesma maneira que era todos os anos. Inclinei para pegar o buquê de
violetas e o envelope. Inspirei profundamente, o doce aroma das flores me
envolvendo, ao mesmo tempo doloroso e reconfortante.

Passando o dedo sob o selo o rasguei cuidadosamente, imaginando


que memória eu teria este ano. Nunca houve um bilhete, apenas um
buquê de violetas e uma cópia de uma foto antiga da minha irmã. Eu não
tinha ideia de quem os trouxera, mas eu os pegava todos os anos desde
a morte de Violet, sempre em algum momento da semana de seu
aniversário. Por alguns anos, pensei que fosse Ford, o jeito dele de me
confortar de longe, mas desisti dessa esperança boba e comecei a apreciar
o gesto pelo que era. Marcar uma vida que significava muito para mim.
Honrando todas as memórias que ela deixou para trás.

Tirei o papel brilhante e soltei uma risada estrangulada. A foto era


uma das minhas favoritas no site memorial que meus pais haviam criado
para Vi. Foi tirada depois que Violet e eu trabalhamos em um projeto de
arte no quintal. Minha mãe nos deu uma camisa velha do meu pai para
usar como bata. Violet tinha duas ou três pequenas manchas de tinta.
Eu, por outro lado? Estava coberta de todas as cores do arco-íris. Havia
até tinta no meu rosto e no meu cabelo. Era tão perfeitamente... nós.

Uma pontada atingiu meu coração, um golpe de energia que era ao


mesmo tempo agonia e gratidão. Essa mistura potente quase me deixou
de joelhos. Apertei a foto no meu peito e respirei fundo. Eu tinha que
confiar que Vi sabia a verdade, que eu sentia muita falta dela, mesmo
que não estivéssemos no melhor lugar como irmãs quando ela morreu.
Eu precisava confiar que onde quer que Violet estivesse, ela sabia que eu
a amava.

CATHERINE COWLES
2

—EI, FORD!— A garota que chamou por cima do baixo parecia


vagamente familiar. Uma modelo, talvez? Ou uma atriz promissora?

—Ei, querida.— Ela piscou os olhos, mas eu continuei andando pelo


bar em direção ao meu escritório. Entrei no mar de corpos, tomando
cuidado para evitar festeiros embriagados que mal equilibravam suas
bebidas.

Empurrei a porta do meu escritório e, quando ela se fechou atrás de


mim, encostei nela, expelindo uma lufada de ar dos meus pulmões.
Silêncio. Abençoado silêncio. A escolha de uma sala a prova de som valia
a pena.

Eu empurrei a porta e estalei meu pescoço. Eu estava ficando velho


demais para essa merda. Talvez seja hora de passar do gerenciamento
prático de meus bares e clubes para iniciar algo novo. Que outra pessoa
lide com a dor de cabeça do dia-a-dia. Talvez eu saísse e viajasse um
pouco. Ir visitar todos os meus amigos, que pareciam ter fugido de Los
Angeles nos últimos dois anos.

Fui até a minha mesa e sentei na cadeira. Papéis espalhados pela


superfície na minha frente. Esfreguei minhas têmporas. Umas férias. Eu
só precisava de férias. Um descanso da monotonia cotidiana de tudo.
Então eu encontraria a diversão em tudo isso de novo. O pensamento
soou como uma mentira, até para mim.

Meu telefone tocou no meu bolso e levantei para pegá-lo. O nome


do meu irmão apareceu na tela e eu estremeci. Meu dedo pairou por uma
contagem de três antes de eu clicar em aceitar. —Ei, Hunter. E aí?

CATHERINE COWLES
—Você precisa voltar para casa.

Meu sangue virou gelo. —Papai?— Minha voz ficou rouca com a única
palavra. Memórias da ligação que recebi da minha mãe histérica, me
dizendo que meu pai havia sofrido um derrame, me inundaram.

—Ele está bem. Está igual. Mas preciso que você ajude no bar.

Recostei-me na cadeira, meu estomago apertou. —Eu posso enviar


para o bar algum dinheiro para contratar uma ajuda mais permanente.

—O que há de errado com você, Ford? Este é o legado da sua família.


The Catch é dirigido por um Hardy há gerações. Não precisamos do seu
dinheiro elegante de Hollywood, precisamos de você. Ou você é bom
demais para sua família agora também?

Segurei o braço da minha cadeira, apertando a estrutura de metal


elegante com minha palma. —Você sabe que não foi por isso que eu fui
embora.

Hunter soltou um longo suspiro. —Você nunca será capaz de evitar


esse lugar para sempre. Mamãe e papai sentem sua falta, e eu não posso
continuar te cobrindo.

—Eu vejo mamãe e papai bastante. — Era verdade. Eu os levava


regularmente para Los Angeles ou algum outro lugar que eles estavam
morrendo de vontade de visitar, mas eu não pisava na ilha há anos.
Merda, já fazia mais de uma década, onze anos. No começo, meus pais
não se importaram. Eles entenderam. E se divertiram ao ver lugares
novos e emocionantes. Mas ao longo dos anos, eu tinha visto a tristeza,
a decepção.

—Eles precisam de seus filhos. Nós dois. Eu tenho tentado


administrar o bar e meu negócio de construção ao mesmo tempo, e eu
simplesmente não posso mais. Ambos estão sofrendo. Está na hora de
você parar de fugir.

CATHERINE COWLES
Senti um aperto no meu peito. —Eu não posso.

Hunter ficou em silêncio por alguns momentos. —Se você não voltar
para casa, teremos que vender.

Suas palavras pareciam cortar no meu peito. Eu não tinha visto o bar
no que parecia uma eternidade, mas de alguma forma, a ideia de perdê-
lo, deixando de lado outra coisa que parecia que fazia parte de mim, era
mais do que eu podia aguentar. —OK.

—OK? — Houve choque na voz do meu irmão. Talvez ele esperasse que
eu dissesse a eles para vender, mas eu não podia. Porque ele estava certo.
The Catch era o legado da nossa família. Eu não iria decepcioná-los
porque não conseguia lidar com os fantasmas do meu passado.

—Sim, tudo bem. Preciso de alguns dias para fechar a loja aqui e
contratar um gerente para os meus bares de Los Angeles. Mas eu estarei
aí em breve.

Hunter pigarreou. —Obrigado, cara.

As palavras pareciam ter sido arrancadas dele. E isso não me fez sentir
como um idiota? Quando as coisas ficaram tão tensas com meu irmão
que me agradecer era como arrancar dentes? —Obrigado por tudo que
você tem feito. E me desculpe, por eu não estar dando o meu melhor.

—Você cobriu todas as contas médicas, isso ajudou muito.

Ouvi as palavras não ditas, “mas você não esteve aqui”. Deus, eu era
um idiota egoísta. Claro, eu tinha passado um mês em Seattle com minha
família quando meu pai estava no hospital e depois em uma clínica de
reabilitação, mas assim que eles voltaram para a ilha, eu corri de volta
para Los Angeles como o covarde que era. Eu não poderia fazer isso dessa
vez. Eu só tinha que esperar que eu pudesse recuperar o bar
rapidamente.

CATHERINE COWLES
—Eu não vou mais deixar as coisas práticas para você, Hunt. —
colocaria as peças que precisávamos no lugar antes de voltar para LA,
para que não houvesse uma carga tão pesada nos ombros do meu irmão.

—Seria uma boa mudança. — ele resmungou.

Merda. Eu tinha muito o que compensar com meu irmão. —Vejo você
em alguns dias.

—Em alguns dias.

Hunter desligou sem se despedir, e deixei meu telefone bater na minha


mesa. Alguns dias. Setenta e duas horas para encerrar minha vida em
Los Angeles. Quatro mil, trezentos e vinte minutos antes de eu ter que
enfrentar um lembrete diário da verdade mais cruel. Eu matei a pessoa
que deveria ter protegido acima de todas as outras.

CATHERINE COWLES
3

—BELL, VOCÊ ESTÁ AQUI?

Olhei para o relógio na parede. — Merda,— eu murmurei para mim


mesma. Já eram onze horas. Eu me perdi no inferno do inventário e fizera
muito pouco progresso. Entre executar os pedidos, gerenciar agendas da
equipe, folha de pagamento e trabalhar em turnos duplos com mais
frequência do que eu queria admitir, eu precisava de ajuda. —
Aqui atrás, Caelyn. — Saí do deposito e entrei no bar.

Caelyn sorriu para mim enquanto enrolava o cabelo em um topete. —


Você está com a cara fechada. Inventário?

Soltei um suspiro que fez meu cabelo esvoaçar ao redor do meu rosto.
—Sim.

—Você sabe que eu teria vindo mais cedo para ajudar.

Joguei um pano para ela e um frasco de spray no balcão. —Eu sei,


mas simplesmente não podemos pagar a ninguém por horas extras agora.

Caelyn começou a trabalhar limpando as mesas na área central do


restaurante enquanto eu começava na barra . —As coisas ainda estão
apertadas?

Mordi meu lábio inferior e assenti. —Hunter diz que está trabalhando
para nos ajudar. Espero que isso chegue mais cedo ou mais tarde.

—Espero que sim, mas você sabe que não precisa me pagar. Vou
ajudar o tempo todo. Estou preocupada com você, Bell. Você vai ficar
louca tentando manter este lugar à tona.

CATHERINE COWLES
A preocupação em seus olhos tinha calor se espalhando por mim. —
Obrigada, mas eu tenho isso sob controle.

—Essas olheiras sob seus olhos dizem o contrário.

—Diz a garota trabalhando em dois empregos e levando seus irmãos


para todas as atividades extracurriculares conhecidas pelo homem. —
Caelyn mostrou a língua e me jogou seu pano, mas eu o peguei antes que
pudesse cair alguma coisa desagradável em mim. —Você tem sorte de ter
reflexos felinos.

Caelyn sorriu —Talvez eu comece a chamá-la de gatinha em vez de


Bell.

—Só se você quiser trabalhar no banheiro o verão inteiro.

A boca dela se abriu. —Você não faria isso.

Eu arqueei uma sobrancelha para ela. —Me teste.

Caelyn balançou a cabeça. —Você é cruel, mulher.

—E você não esquece.

Trabalhamos em uma rotina coreografada que falava de todas as


horas, dias e anos em que estivemos nisso. Logo, a correria do almoço
estava começando. Hank estava preparando pedidos nos fundos e
Darlene se juntara a Caelyn no salão. Havia poucos restaurantes
que ficavam abertos o ano todo, e o The Catch era um item básico de
Anchor desde o início. Mas as coisas haviam aumentado ainda mais
desde o derrame de Frank. Era o modo de as pessoas da ilha apoiarem
entre eles quando sabiam que estávamos lutando para manter o bar
funcionando. Mas a onda de turistas estava chegando, e isso deveria
aliviar a pressão por um tempo, desde que pudéssemos acompanhar a
demanda.

—Bell.

CATHERINE COWLES
Eu me virei com a voz familiar e sorri, contornando o bar e jogando
meus braços em volta do homem alto e musculoso. —Hunt, senti falta da
sua cara feia. Você tem trabalhado muito ultimamente. — Se o homem
passasse mais tempo nos canteiros de obras, começaria a respirar
serragem.

Ele se recostou. —Você me ofendendo. Como vou continuar quando


você me insulta?

Dei uma risada e o soltei, batendo em seu peito. Isso doeu a minha
palma e eu fiz uma careta para Hunter. —Você tem músculos demais. —
Eu juro que ele tinha mais músculos toda vez que eu o via, e ele
certamente nunca estava sofrendo por falta de companhia feminina. Mas
para mim, ele sempre seria como o irmão que eu nunca tive. Um que
entrou quando o outro homem na minha vida havia enfiado o rabo no
meio das pernas e fugiu.

Ele riu. —Desculpe? — A palavra era uma pergunta quando ele


balançou a cabeça para mim. —Você tem um minuto? Eu preciso falar
com você sobre uma coisa.

Eu avaliei a situação do bar. Tinha bebidas que precisavam ser


reabastecidas e pelo menos dois grupos pareciam prontos para fazer seus
pedidos. — Dê-me algum tempo para controlar isso e depois eu vou te
encontrar. Você vai almoçar?

Hunter assentiu, seu cabelo castanho ligeiramente desgrenhado por


cima, caindo nos olhos com o movimento. Ele inclinou a cabeça em
direção a um reservado ao longo da parede. — Eu e os caras estaremos
todos aqui.

Olhei para ver sua equipe principal de construção flertando sem


vergonha com Caelyn enquanto ela entregava sua bebida ou pedido. Eu
sorri —Ok, eu terminarei assim que eu resolver isso.

CATHERINE COWLES
— Está bem.

Hunter foi para a mesa e eu enchia os copos de cervejas e refrigerantes


enquanto memorizava um pedido de um casal que vinha de Seattle.
Aparentemente, a temporada turística estava começando no início deste
ano. Agradeço os deuses das férias. Servi uma Guinness com facilidade
por causa da pratica, quando uma sombra caiu sobre mim.

—O que eu você quer beber? — Eu perguntei enquanto abria a torneira


para outra cerveja e olhei para cima. O ar desapareceu dos meus pulmões
como se um daqueles selos a vácuo tivesse sugado o ar. Havia zero
oxigênio sobrando para meus órgãos, e eu não conseguia fazer meus
pulmões inflar para que eu pudesse absorver mais.

Olhos azuis que eu nunca conseguia esquecer me queimaram,


prendendo-me no local. A mesma mecha de cabelo rebelde caia sobre sua
testa. Mas o cabelo em si era mais escuro, não mais tão loiro. E o homem
também era mais sombrio. Eu podia ver nos seus olhos, do jeito que ele
se segurava. A simpatia que surgiu no meu peito fez que a fúria seguisse
logo atrás. Raiva comigo mesma. Por ele. Pelo mundo.

Um líquido frio passou por minha mão, e o garoto que eu conhecia fez
uma careta. —Veja o que você está fazendo.

Eu fechei a torneira, e aquela raiva no meu peito se iluminou, se


espalhando por todo o meu corpo. — Olhe o que estou fazendo?

Sua carranca se aprofundou. —Sim, você está desperdiçando cerveja.


Jesus, quem meu irmão está contratando, idiotas?

Eu reagi antes que pudesse pensar melhor. Peguei a cerveja escura e


joguei sobre a cabeça de Ford Hardy.

CATHERINE COWLES
4

—QUE PORRA É ESSA? — Limpei o líquido espumante dos meus olhos.


Meu irmão havia contratado uma garota com problemas de raiva? O que
ele estava pensando? Não é de admirar que o bar estivesse lutando.

A mulher na minha frente estava furiosa. Suas bochechas eram um


lindo tom de rosa, os olhos ardendo. Ela era linda. Um pouco louca, mas
impressionante. Eu precisava que examinassem a minha cabeça. Foi o
pequeno enrugamento de seu nariz que me fez respirar fundo.

Aquelas pequenas rugas que apareceram no nariz e entre as


sobrancelhas dela quando os olhos verdes se encheram de lágrimas
fizeram as lembranças votarem me golpeando com a força de um trem de
carga. Ela sempre chorava quando ficava brava. Ela poderia estar
gritando, ao mesmo tempo, mas se estivesse realmente furiosa, seus
olhos se encheriam de lagrimas enquanto ela lutava para
conseguir expressar suas palavras. Essa não era uma estranha. Esta era
a garota que tinha sido como uma irmãzinha para mim a maior parte da
minha vida. —Trouble?

Eu poderia muito bem ter enfiado uma faca em seu peito pelo olhar
em seu rosto, pela dor em seus olhos. Ela não disse nada, apenas se
virou e fugiu.

—Ah Merda. — Uma voz familiar cortou o barulho da multidão, mas


eu não conseguia desviar o olhar da porta aberta pela qual Isabelle havia
desaparecido. Ela estava aqui. Trabalhando para minha família. E ela era
linda de morrer. Porra.

Uma mão me bateu no meu ombro. —Deixe-me pegar uma toalha.

CATHERINE COWLES
Dei de ombros desviando da sua mão. —Sério, Hunter? Você não
poderia ter me avisado?

Meu irmão não tão pequeno apertou os dentes. —A última coisa que
você precisava era de outra desculpa para fugir.

Seu tiro acertou em cheio. Bem no estômago. —Me traga uma maldita
toalha.

Ele contornou o bar e me jogou um pano da pilha de limpos em uma


prateleira. —Aqui. Me dê um minuto. Eu volto já.

Dentro de sessenta segundos, a toalha estava encharcada. Eu andei


pelo bar, tomando cuidado para não pingar nos clientes pagantes, e
peguei mais dois trapos de bar, fazendo o meu melhor para tirar o
máximo de cerveja possível de mim.

—O que você fez para irritar aquele petardo?

Eu olhei para cima, meu olhar encontrando um rosto que mal


continha sua risada. O cara parecia estar em casa em Los Angeles,
surfando em Veneza antes de pegar sua tigela de açaí em algum bar de
sucos orgânicos. Mas ele tinha um hambúrguer e uma cerveja vazia na
frente dele. —Essa foi a sua cerveja que acabou na minha cabeça?

Os lábios dele se contraíram. —Eu acho que é um palpite bastante


seguro.

—Guinness?

—Sim.

Peguei um copo e servi uma cerveja para ele. —Por conta da casa.

—Obrigado, cara. Eu sou o Crosby. Você é novo?

—Mais como velho. — Olhei por cima do ombro e vi Isabelle envolvida


nos braços do meu irmão enquanto ele esfregava a mão nas costas dela.

CATHERINE COWLES
Os dois passos que eu dei em direção à porta aberta eram instintivos,
como cordas invisíveis. Eu apenas pude ouvir suas palavras suaves.

—Sinto muito, Bell. Era sobre isso que eu queria falar com você.
Ford vai voltar por um tempo para ajudar. — Hunter se inclinou para
frente e pressionou os lábios nos cabelos dela. Quando diabos isso
aconteceu? —Eu deveria ter te contado antes, mas sinceramente não
tinha certeza se ele apareceria. Ele apenas mandou uma mensagem e
disse que tinha chegado à ilha, eu não achei que ele viria direto para cá.

Isabelle empurrou o peito dele, criando um pouco de distância entre


eles. —Eu mereço algo melhor que isso. Especialmente de você. Você sabe
melhor do que ninguém o que ele me fez passar. — Seus olhos verdes,
brilhando de raiva, pegaram os meus por cima do ombro de Hunter. Ela
não desviou o olhar. Ela abriu-se para mim. Deixou me ver a verdadeira
profundidade de sua dor. Estava crua e rota, e me destruiu em um piscar
de olhos. Assim como eu sabia que seria.

Foi por isso que fiquei longe por tanto tempo. Claro, eram todas as
memórias que este lugar mantinha, mas mais do que tudo, era ela. Eu
sentia falta dela como um membro perdido, dores fantasmas e desejo por
algo que não existia mais, me atormentando diariamente. Mas eu estava
ao volante naquela noite e não havia como ela não me odiar pelo que
aconteceu. Eu sabia no segundo em que cheguei na sala de emergência
e eles me disseram que Violet havia morrido. Eu sabia que Isabelle me
odiaria para sempre. Mas conhecer e ver eram duas coisas muito
diferentes. Ver isso pôde me derrubar de onde eu estava.

Isabelle escapou dos braços do meu irmão. —Eu estou fazendo uma
pausa. Você ou seu cão de guarda pode me cobrir.

—Porra. — Hunter beliscou a ponta do nariz e soltou um longo suspiro


enquanto se dirigia em minha direção.

CATHERINE COWLES
— Que parte de você achou que era um bom plano não avisar
a nenhum de nós?

Ele me olhou. —Não jogue a culpa em mim. Só há uma pessoa culpada


aqui. — Eu senti a cor sumir do meu rosto. —Jesus, Ford, não por causa
do acidente. Por causa de como você agiu depois disso. Você não acha
que quase matou aquela garota perder sua irmã e você de uma vez só?

Passei a mão pelo meu cabelo e ele ficou pegajoso. —Eu não tive
escolha. Você sabe o que os pais dela ameaçaram.

—Eu sei entre isso e perder Vi, quase perdemos você. Mas também sei
que você poderia ter contatado a Bell mais tarde. Você sabe que eu teria
recebido uma mensagem para ela em um piscar de olhos. Mas você
acabou por sair da vida dela.

—Bell?

A expressão de Hunter ficou fechada, um pouco de dor brilhando. —


Não a chame de Isabelle. E com certeza não a chame de Trouble. Ela agora
gosta que a chame de por Bell. Tudo o resto... apenas traz de volta
memórias, eu acho.

Eu passei a mão ao longo do meu rosto. —Há quanto tempo ela


trabalha aqui?

—Desde que ela se formou na faculdade.

—Por que você não disse nada?

Hunter saiu do balcão e se inclinou. —Você é um idiota de verdade,


sabia? Você não pode ter as duas coisas. Você não pode recusar nenhuma
menção à ilha ou às pessoas que você deixou para trás e depois agir como
ferido por não ter sido atualizado. Estávamos seguindo suas ordens.

Eu apertei meus dentes. Ele estava certo, é claro. Menos de duas


horas na ilha, e eu já estava me perdendo. Parecia que minha pele estava

CATHERINE COWLES
muito tensa para o meu corpo, cada movimento rígido era um pouco
doloroso. E isso só ia piorar.

Hunter balançou a cabeça, saindo do meu silêncio. —Você vai ficar


com mamãe e papai?

—Não. Eu consegui um aluguel no penhasco.

Ele assobiou baixo. —Senhor. O figurão está de volta à cidade. — A


declaração poderia ter sido simplesmente uma brincadeira fraternal, mas
continha apenas um toque de veneno. —Quanto tempo dura o seu
contrato?

Era o mesmo que fazer a única pergunta que não queria responder.
Quanto tempo você vai ficar? —Estou confirmado durante o verão, mas
há uma opção para estender, se necessário. — Eu não precisaria disso.
Eu me esforçaria para colocar o bar de pé novamente, para que eu
pudesse deixar esse lugar e nunca olhar para trás. Eu voltaria para LA e
descobriria o que estava por vir. Havia uma coisa que eu tinha certeza:
não era Anchor.

CATHERINE COWLES
5

EMPURREI a porta dos fundos do The Catch, a batida contra a parede


de tijolos um som satisfatório. Atravessei o pátio, cheio de mesas, mas
felizmente vazio de clientes e fui direto para a praia. Eu tive que continuar
andando. Era a única coisa que eu sabia com certeza. Eu tinha que
manter meu corpo em movimento, ou a energia crepitante em minhas
veias explodiria para fora da minha pele e eu a perderia.

Perdê-lo em um nível que signifique que eu assustaria todos ao meu


redor. Forcei minhas pernas para andar mais rápido, minhas botas
levantando pedras sobre a costa rochosa. O oceano sempre me deu uma
sensação de paz, mas mesmo o bater das ondas e o cheiro do ar salgado
do mar não podiam me acalmar agora.

Eu continuei acelerando ainda mais o meu ritmo. Chutei um pedaço


de madeira no meu caminho, enviando-o de volta ao mar. Como se eu
pudesse chutar Ford de volta para Los Angeles com a mesma facilidade.
Um fio de culpa passou como um pensamento, rapidamente se
transformando em raiva. Eu não tinha nada para me sentir culpada. Foi
ele quem fugiu. A pessoa que conhecia melhor do que ninguém a dor de
perder Violet. Eu nunca entenderia por que ele tomou a decisão de sair
em vez de nos deixar apoiar um no outro. Mas o porquê não importava
mais. Somente suas ações fizeram.

Ações que me deixaram em paz e de luto enquanto minha família se


desfez ao meu redor. Sozinha para lidar com cirurgias e horas e horas de
fisioterapia dolorosa. Sozinha para enfrentar a culpa e a pressão dos
meus pais. Sozinha quando eles tentaram me transformar em algum tipo
de Violet 2.0.

CATHERINE COWLES
O suor escorria pelas minhas costas e eu peguei as pontas da minha
camisa de flanela, rasgando-a. Eu enrolei, os dedos enfiando no tecido.
Eu continuei pressionando, meus pés se movendo ainda mais rápido até
quase correr, memórias me assaltando de uma maneira que não faziam
há anos. Chorando na minha cama de hospital, meu corpo estremecendo
com soluços e dor. Minha irmã. Ford. Eu tinha perdido os dois. Violet
não teve escolha, sua vida foi arrancada em um único segundo. Mas
Ford... ele escolheu fugir. E isso pode ter deixado a ferida mais profunda
de todas.

Meus passos diminuíram a velocidade e pressionei a flanela enrolada


na boca, deixando escapar um grito gutural. Derramando cada grama de
dor e pesar, o último pedaço de esperanças e sonhos frustrados deixados
em ruínas, toda lembrança manchada pela traição. Expulsei tudo e
depois desabei no chão.

As rochas perfuraram minhas costas, mas mal se registraram quando


soluços assolaram meu corpo. Eu fiz as pazes com a morte de Violet, com
a reviravolta que minha vida tomou, mesmo com a perda de Ford. Eu
tinha trabalhado tão duro para encontrar a paz, e tudo o que precisou foi
Ford caminhando pela porta para esmagar tudo em pedacinhos.

Eu abracei meus joelhos com mais força no meu peito, me balançando


para frente e para trás, sem parar até que minhas lágrimas diminuíssem
e meus soluços tivessem se acalmado. Deixei minha cabeça cair nos
joelhos, pressionando meus olhos contra eles, tentando aliviar um pouco
da pressão acumulada. Pressionei com mais força. Eu não ia desistir.
Não deixaria a presença desse homem acabar comigo. Eu superei coisas
muito piores que ele. Eu também superaria isso.

Eu levantei minha cabeça, apoiando o queixo nos joelhos enquanto


olhava para o oceano. Eu não estava mais sozinha. Eu construí uma
família da minha própria escolha. Eles não eram meu sangue, mas eram

CATHERINE COWLES
meus. Eu tinha pessoas que me apoiavam, que me ajudariam durante
esta temporada de tempestades.

Senti uma pontada de dor no meu peito. Kara e Frank sabiam que o
filho estava de volta à cidade? Hunter tinha escondido de mim, mas fiquei
chocada que Kara tivesse feito o mesmo. Ela e Frank se tornaram
segundos pais para mim nos anos seguintes ao acidente. Pessoas que me
entendiam muito melhor do que minha própria família. Foi Frank quem
me ensinou a reformar as peças de mobiliário, e Kara quem me ajudou a
aprender a escolher quais valia a pena salvar. Eles nunca me
pressionaram, sempre apoiaram.

Mas Ford nunca foi abordado quando eu estava presente na casa dos
Hardy. Eu escutei algumas notícias aqui e ali. Eu até cedi na época da
faculdade e pesquisei sobre ele no Google, encontrando um artigo no LA
Times intitulado “O rei da vida noturna expande seu reino por LA”. Havia
uma foto dele com um daqueles melhores lutadores e um músico famoso,
com um grupo de mulheres bonitas por trás deles. Ele não parecia estar
sofrendo nem um pouco. Enquanto isso, eu me lembrava daquela noite
toda vez que meu tecido cicatricial puxava, ou eu era forçada a ter um
encontro estranho com meus pais.

Eu pressionei minha mão contra minhas costelas. Eu podia sentir a


carne levantada através da minha blusa. A dor agora se foi. Meu corpo
curou, assim como minha alma. Então, por que parecia que ambos
estavam sendo rasgados?

O vento soprava, agitando meus cabelos ao meu redor, a brisa fria do


oceano um bálsamo para minha pele superaquecida. O som disfarçou os
passos que se aproximavam. Não ouvi nada até que duas formas
começaram a se abaixar, uma de cada lado. Eu não conseguia desviar
meus olhos das ondas, seu ritmo forte era a única coisa que eu tinha
certeza de que poderia me manter calma.

CATHERINE COWLES
Caelyn passou um braço em volta de mim, enquanto Kenna
pressionou seu ombro. Um amontoado contra a tempestade. Meu porto
seguro.

Elas não disseram nada por um longo tempo enquanto eu olhava para
o oceano, sabendo que a presença delas era o que eu mais precisava. Por
mais que elas quisessem consertar tudo para mim, elas não tinham
poderes mágicos para trazer minha irmã de volta ou impedir que Ford se
transformasse em um imbecil gigante. Eu olhei para Kenna. —
Caelyn ligou para você?

—Claro que ela ligou.

Caelyn apertou meu ombro. —Hunter disse para lhe dizer que ele está
cobrindo o bar pelo resto do dia.

Eu zombei. —Como se isso compensasse o que ele fez. — Ele deveria


estar agradecendo suas estrelas da sorte que eu amava tanto seus pais.
Se não o fizesse, teria desistido imediatamente.

—Ele não te deu nenhum aviso? — Kenna perguntou.

—Nem uma maldita palavra além de me dizer que ele estava


trabalhando para nos encontrar alguma ajuda.

Kenna soltou um assobio baixo. —Alguma ajuda.

—Eu não tenho ideia de como vou trabalhar com ele.

Caelyn soltou meu ombro e começou a passar a mão pelas costas. —


Eu os ouvi conversando. Ford só ficará pelo verão. Talvez seja bom. Você
está dizendo que Frank e Kara poderiam precisar mais ajuda, e eu sei
que você e o bar precisam disso.

Eu estremeci. Reclamei em mais de uma ocasião sobre como Ford


havia deixado sua família abandonada. Eu sabia que ele havia lhes
enviado dinheiro. Ouvi Frank e Hunter conversando sobre isso. Mas

CATHERINE COWLES
dinheiro não era o mesmo que apoio. Eu sabia disso melhor do que
ninguém. Eu receberia amor e apoio todos os dia. —Deus, eu sou tão
hipócrita.

Kenna se endireitou, virando-se para mim. —Você é hipócrita porque


não quer trabalhar com um homem que despedaçou seu coração? Que te
abandonou nos piores momentos da sua vida? Quando ele tinha que
saber que você precisava dele? Nós éramos loucamente próximas Bell,
mas Caelyn e eu sabíamos que era Ford quem era seu melhor amigo.
Vocês apenas tiveram esse vínculo estranho, e ele cagou por todo lado.

A boca de Caelyn fechou em uma linha dura. —Isso não está


ajudando, Kenna.

—O que? É a verdade. Não vai ajudar Bell a fingir que tudo vai ser sol
e rosas. Vai ser péssimo.

—Obrigada, — eu disse com uma risada assustada. O riso cresceu até


lágrimas escorrerem pelo meu rosto, e minhas amigas estavam olhando
para mim como se estivessem um pouco preocupadas com o meu estado
mental. — Isso vai ser um desastre. — Mais risadas borbulhantes
escaparam. —Mas eu tenho que fazer isso porque Frank e Kara precisam
dos dois filhos por perto. E Ford não pode fazer isso sozinho. Ele não está
aqui há anos. — Olhei para Kenna e depois para Caelyn . —Caelyn disse
que joguei uma cerveja na cabeça de Ford? Há uma chance de eu lhe
causar um dano físico real antes que tudo acabe.

Caelyn abafou uma risada, mas Kenna levantou a mão para um toque.
—Essa é minha garota. — Eu não peguei a mão oferecida. Ela encolheu
os ombros e a abaixou.

Soltei um longo suspiro. —Vai me matar toda vez que eu tiver que o
ver. Apenas, traz tudo de volta. Eu pensei que tinha feito um ótimo
trabalho ao lidar com tudo isso. De fazer as pazes. Eu sou feliz. Mas

CATHERINE COWLES
quando olhei para cima e vi o rosto dele... todos os muros que eu construí
pareciam desmoronar ao meu redor.

—Oh, Bell.— Caelyn me envolveu em um abraço forte. — Você fez um


ótimo trabalho ao lidar com tudo e está feliz. O fato de Ford estar longe
não vai roubar tudo isso. Foi apenas um choque, só isso.

Simplesmente a menção de seu nome me fez estremecer, e Kenna viu


a ação. —Talvez você possa agendar os seus turnos para que não coincida
com os dele, para não precisar vê-lo.

Mordi meu lábio inferior. —Eu nem sei se ainda vou estar no comando
da programação. Ele dirige todos aqueles bares chiques em LA. Aposto
que Hunter quer que ele faça o trabalho aqui também. É o negócio da
família dele, afinal. — Meu coração apertou. Ao longo dos anos, comecei
a pensar em The Catch como minha casa, os Hardys como minha família.
De alguma forma, eu entrei na vaga que Ford havia deixado. Mas agora
ele estava de volta, e aquele local não parecia mais meu.

Kenna resmungou um palavrão baixinho. —Se Hunter entregar tudo


a Ford, ele é mais idiota do que eu pensava. Esse homem pode ser um
presente de Deus em Hollywood, mas aqui é a Ilha. É diferente aqui em
cima, e ele se foi há muito tempo. Você conhece essa comunidade melhor
do que ninguém e viu esse maldito bar passar por mais altos e baixos do
que eu posso contar. Você é a única que o manteve à tona.

Eu brinquei com uma pedra repetidamente entre meus dedos. —Mas


estamos lutando.

—Todo mundo está, — Caelyn interrompeu.

—Ela está certa, Bell. Pequenas empresas estão sofrendo em todos os


lugares, e em Anchor não é diferente. Quando a temporada turística
começar, o The Catch estará bem. Você vai ver.

CATHERINE COWLES
Olhei entre minhas duas amigas. —Deveríamos fazer algum tipo de
dança da chuva, mas para turistas. Dessa forma, se a temporada for boa
o suficiente, Ford escapará de volta para Los Angeles e a vida poderá
voltar ao normal.

Caelyn se endireitou. —Aposto que podemos encontrar algo na


internet.

Kenna gemeu. —Eu não estou dançando nua em torno de


uma fogueira. — Ela se virou na minha direção. —Sinto muito, Bell. Amo
você, mas não tanto.

Eu ri, mas os olhos de Caelyn se estreitaram. —Não estou falando de


dançar nua, embora possa ser bom relaxar um pouco assim. Pode abrir
o bloqueio sexual que você tem.

—Bloqueio sexual?

Caelyn levantou as mãos. —Você precisa transar, garota. Sua loucura


está nos derrubando.

As bochechas de Kenna ficaram vermelhas. —Estou indo muito bem


nesse departamento.

— Mm-hmm,— Caelyn murmurou.

Eu levantei minhas mãos, formando um T com elas. —Tudo bem, tudo


bem. Tempo esgotado. Sem dança nua, a menos que com um parceiro de
sua escolha. Essa é a regra.

Nem Caelyn nem Kenna conseguiram conter sua risada.


Caelyn estendeu a mão e agarrou minha mão, apertando-a. —Você vai
ficar bem?

Lambi meus lábios repentinamente secos, o pensamento de enfrentar


Ford todos os dias pelos próximos meses, fazia meu estômago revirar. —
Eu não tenho outra escolha. — Fechei meus olhos brevemente antes de

CATHERINE COWLES
abri-los novamente. —São apenas alguns meses. Eu posso lidar com
qualquer coisa por alguns meses.

Pelo menos, eu esperava que pudesse.

CATHERINE COWLES
6

PAREI meu SUV no espaço vazio do pequeno estacionamento de The


Catch. Desligando o motor, eu simplesmente fiquei lá, olhando para a
praia. Eu dormi como lixo ontem à noite, dando voltas e voltas. No
segundo em que eu caí no sono, os sonhos me assombraram, meu
subconsciente me levando através do meu pequeno show de terror. Mas
foram as piores lembranças que minha mente tocou enquanto dormia.
Aqueles em que os olhos azuis de Violet brilharam quando ela sorria, ou
nos momentos em que nós dois perseguimos Isabelle pelo quintal, as
risadas de Trouble flutuando no ar. Elas foram os piores porque, nos
primeiros segundos depois que eu acordei, esqueci tudo o que perdi.
Então a realidade desabaria ao meu redor mais uma vez.

Foi Isabelle quem mais me assombrava agora. E os lembretes estavam


por toda parte. Não apenas nos meus sonhos, mas em cada esquina do
bar. Inferno... essa praia era uma fonte infinita. Passei inúmeras tardes
explorando esse trecho de costa com ela enquanto Vi estava praticando
com as líderes de torcida, ou uma de suas outras inúmeras atividades.
As tardes que uniram nossa amizade até a essência de quem eu era.

—O que te deixou tão mal-humorado, Cupcake?

Eu fiz uma careta falsa na direção de Isabelle. —Eu não estou mal-
humorado.

Ela pegou um pedaço de madeira, estudando-o por um momento. Eu


nunca poderia dizer o que ela procurava nessas peças, algo invisível para

CATHERINE COWLES
a maioria que dizia que ela poderia ser transformada em alguma obra de
arte. —Você é pior do que uma garota de TPM assistindo ao The Notebook3.

Soltei uma gargalhada. — Você sabe golpear onde mais dói.

Isabelle espiou da madeira. —Algo está errado. Você ficou mais quieto
que o normal. E você nem riu quando Hunter tropeçou nos cadarços pela
oitava vez ontem.

Eu a estudei por um momento, a garota que era tão sábia além de seus
anos e parecia ver coisas que ninguém mais podia ver. Desci em um tronco,
olhando para a água. — Eu briguei com meu pai.

—Sobre? — Isabelle tomou o lugar aberto ao meu lado.

—Não quero voltar e assumir o negócio imediatamente. Quero dizer, eu


amo Anchor, The Catch, esse é o meu futuro. Mas quero fazer e ver outras
coisas primeiro.

Isabelle virou o pedaço de madeira várias vezes nas mãos. —Você pode
querer mais da sua vida do que os outros pensam que você deveria ter.—
Olhei para vê-la estudando os cortes e ranhuras no bastão. —Você não
precisa se encaixar no molde deles.

—Nem você.

Eu balancei minha cabeça rapidamente, tentando limpar a memória


que ainda me dominava. As imagens que me lembraram o quanto eu
havia perdido quando bati o SUV. Minhas mãos caíram ao redor do
volante, o couro rangendo. Soltei o volante, deixando meus braços caírem
para os meus lados.

Ficar sentado só estava piorando as coisas. Em pouco tempo, minha


mente viria com todos os piores cenários possíveis. Toda acusação brutal
que Isabelle poderia falar. Eu me movi antes que eu pudesse pensar em

3
Aqui no Brasil seria o filme Um Diário de uma Paixão.

CATHERINE COWLES
todas as razões para não o fazer, abrindo minha porta e saindo. Eu ativei
o alarme enquanto caminhava em direção à entrada dos fundos.

Pegando as chaves que meu irmão me deu do bolso, abri a porta e


entrei. O bar estava silencioso, mas as luzes estavam acesas. Conhecendo
a Isabelle de uma década atrás, eu esperava música alta e estrondosa
enquanto ela dançava pelo espaço, preparando-a para os clientes do dia,
não para o silêncio primitivo que me recebeu.

—Isabelle? — Eu não consegui chamá-la de “Bell”, parecia estranho,


como um nome estrangeiro na minha língua, para alguém que eu já
conhecia quase melhor que eu. Mas eu com certeza não iria chamá-la de
“Trouble” e ver aquela dor gritante em seus olhos novamente.

Não houve resposta. Caminhei pelo espaço, absorvendo-o pela


primeira vez agora que estava vazio, sem clientes e não estava coberto de
cerveja. Parecia surpreendentemente bom. Quem remodelou o interior fez
um trabalho incrível. Os pisos eram de cimento com um acabamento
artístico envelhecido. O bar em si é uma justaposição perfeita de sequoias
brilhantes no topo e o que parecia ser madeira recuperada e áspero na
frente. Acima, penduravam luzes de Edison que traziam o mérito
da guerra e o vermelho nas paredes de tijolo.

Talvez meu irmão tenha gastado todo o orçamento do bar para refazer
o interior, pensando que isso resolveria todos os nossos problemas. Eu
precisava revisar os livros. Um ambiente elegante era importante, mas
um bar e restaurante bem-sucedidos eram muito mais que isso.

Eu contornei o bar e segui por um corredor coberto de fotos de


gerações de Hardys e nossos funcionários, celebrações e instantâneos
diários. Memórias de correr por este corredor para visitar meu pai
dançavam na minha cabeça. Hunter e eu corríamos e gritando como
loucos e meu pai estava consumido pelo riso quando chegávamos ao seu
escritório.

CATHERINE COWLES
Minha mão pairou sobre a familiar porta vermelha. Eu dei duas
batidas rápidas.

—Entre.

Empurrei a porta. Isabelle sentou-se atrás da mesma mesa que meu


pai tinha durante toda a minha infância, com os cabelos presos no alto
da cabeça, sustentados pelo que pareciam duas canetas. Ela estava
cercada por papéis e um computador que parecia ter passado uma
década do seu auge. Não pude deixar de absorvê-la. Ela estava
irreconhecível, mas inegavelmente familiar. Os múltiplos piercings que
revestiam suas orelhas eram novos, e um vislumbre de uma tatuagem
apareceu no pescoço pelo decote de sua camiseta. Essas curvas que
preencheram a camisa definitivamente não estavam lá onze anos atrás.
Merda. Eu não poderia estar vendo Trouble dessa maneira.

E eu não deveria chamá-la assim, mesmo na minha cabeça. Não mais.

Como se ela pudesse ler minha mente, os olhos verdes de Isabelle


brilharam, uma pitada de raiva e desafio dançando em suas profundezas.
Ela rapidamente cobriu. Eu odiava isso. A garota que costumava me
contar tudo agora era uma mulher escondendo tudo e fora do meu
alcance. Eu entendia, mas isso não significava que não doía.

—Ei, Isabelle. — Minha voz saiu com dificuldade, como se não tivesse
sido usada em semanas.

Ela se encolheu. —Me chame de Bell, como todo mundo.

—Ok... Bell. — Forcei o nome a curvar-se em volta da minha língua.


Não parecia tão estranho dizer como eu pensava. Mas me perguntei se o
nome se encaixava na mulher diante de mim e se eu teria a
oportunidade de descobrir.

Ela limpou a garganta. —Eu não tinha certeza se você viria hoje.

CATHERINE COWLES
Sentei em uma das cadeiras em frente à mesa antiga. — Estou aqui.
— Nossos olhares travaram. Um impasse silencioso. — Olha, me
desculpe, ter aparecido assim...

Bell levantou uma mão para me cortar, seus olhos se fixando nos
meus. —Seus pais, Hunter, são tudo para mim. Se eles querem você em
casa, ótimo. Eles querem que você administre o bar por alguns meses?
Bem. Você e eu? Podemos fingir que nunca nos conhecemos antes de
hoje. Novo começo para nós dois.

Eu a encarei, sem piscar, meus olhos secando. Era o que eu sempre


quis, não era? Fingir que o passado não tinha acontecido. Enterrá-lo tão
fundo que ele não conseguiria se levantar inesperadamente e me dar um
soco. Então, por que isso torceu algo no fundo do meu estômago porque
Bell quis apagar todas as memórias que compartilhamos?

Eu fiquei tão bom em virar a página, em construir um passado


imaginário tão intrincado que quase acreditei que era real. Minha vida
em Los Angeles estava cheia, feliz. Tinha um trabalho que amava. Uma
ótima casa em Hollywood Hills. Amigos incríveis que se tornaram família.
Mas essa família não tinha ideia do que me levou até lá. Eles não tinham
ideia do que eu tinha perdido, e tudo o que joguei fora. Para eles, eu era
a alma da festa, aquele sempre pronto com uma piada ou para dar uma
ajuda, mas nunca abri meu passado para discussão.

Eu limpei minha garganta. — Como você quiser.

Ela me deu um aceno rápido. —Eu administro o local, então só preciso


saber o que você quer mudar e o que você quer que eu continue fazendo.

Meus olhos se arregalaram. Eu tinha pensado que ela simplesmente


era barman aqui, talvez fazendo pedidos. Eu não tinha ideia de que ela
estava dirigindo o lugar inteiro. —Por que você não me mostra o que você
acha que está funcionando e o que não está? Podemos descobrir as
melhores maneiras de dividir e conquistar.

CATHERINE COWLES
A surpresa e uma boa dose de ceticismo brilhavam naqueles olhos
verde-musgo. —Você não quer apenas implementar o que quer que seja
igual aos seus clubes de Hollywood?

Eu não pude lutar contra a contração dos meus lábios. —Não tenho
uma abordagem única para meus bares. E mesmo que eu soubesse, seria
incrivelmente míope da minha parte não ouvir a pessoa que administra
este lugar nos últimos anos, a mulher que conhece a comunidade muito
melhor do que eu.

Bell se endireitou em sua cadeira, uma mecha de cabelo caindo sobre


seu coque casual. —Bem, isso é bom de ouvir.

—Eu não estou aqui para assumir e tornar sua vida miserável. Só
estou aqui para ajudar.

O olhar de Bell endureceu. Ela abriu a boca para dizer algo e depois
fechou-a, fechando os olhos e respirando fundo.

Tive o desejo de estender a mão, contornar a mesa e puxá-la em meus


braços como havia feito inúmeras vezes antes. Para confortá-la. Exceto
que eu não poderia fazer isso porque era eu quem estava causando a sua
dor. Aquela apunhalada familiar esculpia meu peito um pouco mais
fundo. Eu queria me desculpar, pedir perdão, mas não tinha as palavras.
“Sinto muito” parecia a maior desculpa imaginável. Um curativo patético
para uma ferida letal.

Naquele momento, eu daria qualquer coisa para tirar a dor de Bell. Eu


trocaria de lugar com Vi em um piscar de olhos. Eu desejei inúmeras
vezes. Acabei com os momentos que antecederam o acidente com tanta
frequência que eles foram queimados para sempre em meu cérebro.
Pensei em todas as coisas que eu poderia ter feito de maneira diferente,
todas as coisas que poderiam ter significado que Vi ainda estaria aqui e
Isabelle não me odiaria.

CATHERINE COWLES
Mas não consegui reescrever a história e não tinha palavras para
melhorar nada disso. Não achei que nenhuma palavra tivesse esse poder.
Mas talvez eu pudesse ajudar com o bar. Ajudar Bell e minha família
para que pelo menos não se afogassem mais em preocupações. Era uma
coisa tão pateticamente pequena. Mas era alguma coisa. E alguma coisa
era melhor que nada.

CATHERINE COWLES
7

ABRI a porta do SUV e sai para a grama na frente da casa que não
tinha mudado nada nos onze anos que eu tinha ido. Até as persianas
foram pintadas da mesma cor. Meu peito apertou quando me mudei para
o caminho de tijolos e caminhei em direção à casa.

A porta da frente se abriu antes de eu chegar aos degraus. —Hunter


me disse que você estava aqui, mas eu não acreditei. Não até agora,
quando eu vi você com meus próprios olhos. Entre aqui, garoto!

Calor subiu pelo meu pescoço enquanto eu subia as escadas. —Talvez


possamos parar com o 'garoto'?

Ela riu e me envolveu em um abraço apertado. —Eu te contei mil


vezes. Você é meu primeiro...

—Você sempre será meu bebê, — eu terminei junto com ela.

Afastei-me, mas segurei seus ombros. —Você parece bem. — E ela


estava. As olheiras que cobriram seus olhos da última vez que a vi se
foram. Ela tinha cores nas bochechas, e as linhas de preocupação entre
suas sobrancelhas estavam mais fracas agora.

Ela deu um tapa no meu ombro. —Sua bajulação sempre funcionará.


Eu tenho alguns biscoitos esfriando na cozinha. Por que você não vai
para a sala e diz oi para o seu pai enquanto eu os arrumo?

Eu assenti, engolindo em seco. A última vez que vi meu pai, ele ainda
tinha problemas com a fala e precisava de ajuda para caminhar e garantir
que não perdesse o equilíbrio e caísse. Havia algo em ver um pai, uma
pessoa que você sempre viu como invencível, lutar tanto. Matou um

CATHERINE COWLES
pouco de algo dentro de mim. Caminhei pelo pequeno vestíbulo, indo
para a sala de estar, mas parei de seguir minha trilha. Uma foto familiar
estava pendurada na parede. Eu, Violet e Isabelle, abraçados, sorrindo
tão amplamente que você podia ver que a Isabelle faltava um dente da
frente.

A dor que atravessou meu peito foi o que eu imaginei que parecia
ser atingido por um raio. A explosão foi instantânea, ocorreu em questão
de segundos, mas os efeitos posteriores podem ficar com você por
semanas. Eu fechei meus olhos, me afastando da atração que a foto tinha
em mim e entrando na sala de estar.

—Ford. — Meus olhos se abriram ao som da voz do meu pai. Ele se


levantou da cadeira e eu comecei a avançar, não querendo que ele caísse.
Ele riu. —Não se preocupe, eu não vou cair. Estou indo muito melhor.

—Papai. — Minha voz estava rouca quando ele me envolveu em um


abraço quente, um braço batendo nas minhas costas. Quando ele me
soltou, eu o estudei com cuidado. —Você parece muito melhor. — Havia
um brilho em seu olhar que eu não via desde antes do derrame.

Papai recostou-se na cadeira, gesticulando para eu me sentar no sofá.


Isso era novo, mas a poltrona reclinável era a mesma que ele tinha desde
a minha infância. —Estou ótimo. Apenas alguma fraqueza no meu braço
direito. E me canso um pouco mais rápido que o normal.

Minha mãe zombou da porta enquanto carregava uma bandeja com


biscoitos e três copos de leite. —Não deixe que ele o convença de que está
pronto para correr uma maratona, ele ainda precisa descansar bastante.

Papai bufou em resposta. — Esta mulher me faria cochilar a cada


hora, se pudesse.

CATHERINE COWLES
—Deus me livre. Eu tento mantê-lo saudável. Você sabe que se você
morrer antes de mim, eu vou conseguir um daqueles jovens corpulentos
que gostam de mulheres mais velhas.

Meu pai se endireitou na cadeira. —Você não fará isso, Kara.

Ela sorriu, abaixando para lhe dar um beijo rápido. —Cuide-se, e eu


não vou precisar.

Esfreguei meus olhos, mas não pude evitar o riso que me escapou. —
Acho que vou precisar limpar meus ouvidos e olhos.

—Oh, cala a boca. — Mamãe deu um tapa no meu ombro enquanto


colocava os biscoitos na mesa de café. Ela se sentou ao meu lado no sofá.
—Então, onde você está ficando? Temos muito espaço aqui, você sabe.

Passar meses na casa dos meus pais, com minha mãe andando atrás
de mim seria mais do que eu poderia aguentar. Eu precisava de espaço e
solidão para conseguir passar este verão. A casa de estilo craftsman4
moderno que encontrei era perfeita. Espaçosa, com uma vista incrível. Se
tivesse sido em qualquer outro lugar do mundo, eu adoraria morar lá,
mas parecia mais uma prisão bonita. —Eu consegui uma casa no
penhasco.

As sobrancelhas da minha mãe se juntaram. —Tem tudo que você


precisa? E a comida? Você está tão acostumado a conseguir comida para
viagem na cidade. Talvez você deveria ficar aqui.

—Vamos, Kara, o garoto precisa de seu espaço. Ele é um homem


crescido agora.

Estendi a minha mão e apertei a da minha mãe. —Eu vou ficar bem.
Eu posso cozinhar, você sabe. Mas eu vou estar no bar na maioria dos

4
Estilo Craftsman: compartilhava a filosofia de reforma do movimento britânico, incentivando a
originalidade, a simplicidade de forma, os materiais naturais locais e a visibilidade do artesanato, mas se
destacava, particularmente em bangalôs no estilo Craftsman, com o objetivo de enobrecer casas modestas
para uma classe média americana em rápida expansão.

CATHERINE COWLES
dias, para que eu possa sempre fazer uma refeição lá ou em outro lugar
da cidade. — Eu ainda não havia explorado muito, então não fazia ideia
de quanto tudo havia mudado e quais seriam minhas opções.

Meus pais trocaram um olhar, e eu me endireitei. —O que?

Papai pigarreou. —Você já viu Isabelle?

Meu queixo endureceu. —Você quer dizer Bell?

—Estou tomando isso como um sim, você a viu.

—Ela jogou uma cerveja na minha cabeça.

Minha mãe engasgou. —O que você fez com aquela garota para fazê-
la fazer isso?

Eu me irritei. Bell e minha mãe sempre foram próximas. Mamãe deu


a ela o carinho que ela nunca recebeu de sua própria mãe.
Aparentemente, pouco mudou. — Eu não fiz nada, — murmurei.

Papai zombou. —Ela tem um dos espíritos mais gentis que eu já vi,
você deve ter feito algo para deixá-la tão irritada.

Eu contorci no meu lugar. Eu deveria ter mantido minha boca


fechada. —Acho que a surpreendi, isso é tudo. Hunter não disse a ela
que eu estava vindo.

—Vou dar um tapa na cabeça daquele garoto na próxima vez que o ver.
O que ele estava pensando, sem dizer a ela que você estava voltando? —
Minha mãe se levantou, colocando biscoitos em guardanapos e
entregando-os a mim e papai. Ela sempre fazia alguma coisa quando
ficava nervosa.

— Mas esse idiota.

—Frank, não chame seu filho de idiota.

CATHERINE COWLES
—Você disse que ia dar um tapa na cabeça dele.

—Eu sou mãe dele, é meu direito.

—Bem, é meu direito chamá-lo de idiota.

Eu não consegui segurar minha risada.

A cabeça da minha mãe virou na minha direção e seu rosto se


suavizou. —Eu senti falta de ouvir esse som por aqui.

Havia um anelo em sua voz, mesmo que eu estivesse sentado na frente


dela. O tom fez meu peito torcer, a culpa amarrando meu interior apenas
um pouco mais forte. —Me desculpe, fiquei longe por um tempo. Eu
voltarei mais vezes agora. — As palavras saíram da minha boca antes que
eu pudesse pensar nelas. Qualquer coisa para aliviar a dor que minha
mãe carregava. Eu descobriria uma maneira de lidar com isso. Ser o filho
que ela merecia.

—Oh querido.— Ela se sentou ao meu lado, segurando minha mão


com força. —Eu sei que isso é difícil para você. Mas não posso dizer que
não estou feliz em ter você em casa.

Engoli em seco. —Sim. Mas não quero magoar você, porque sou um
fraco.

—Você não é um fraco. — A voz do meu pai atravessou sala como um


chicote. —Você passou por um trauma, uma perda. É compreensível que
você queira evitar as lembranças. E toda a maldita fofoca de cidade
pequena.

Eu estremeci. Eu sabia que isso tinha sido incrivelmente difícil para


meus pais. E os Kipton não haviam facilitado as coisas, recusando-se a
deixar eu ou meus pais ver Bell no hospital. Ameaçando um processo por
homicídio culposo se eu entrasse em contato com algum deles.
Simplesmente foi mais fácil ficar em Seattle, fugir uma noite e nunca

CATHERINE COWLES
mais olhar para trás. Mas também fui covarde, e foi o que deixou essas
galhos de ódio se enraizarem. E eles cavaram suas garras
profundamente.

Eu olhei para minha mãe. —Como está Bell? — O apelido ainda


parecia estranho na minha língua, mas eu estava me acostumando.

—Você não perguntou a ela você mesmo?

Coloquei o biscoito que minha mãe me entregou na mesa lateral,


minha barriga não estava pronta para comer, mesmo uma das minhas
coisas favoritas. —Ela quer fingir que não temos história. Disse que é
melhor começarmos do zero. — A testa da mamãe franziu. —Eu entendo,
realmente entendo. Não consigo imaginar como deve ser difícil trabalhar
com a pessoa que estava atrás do volante naquela noite. Tenho certeza
de que pelo menos uma parte dela me culpa.

Os olhos da minha mãe se cravaram nos meus, gentis, mas


perscrutadores. —Ford, se há uma coisa que eu tenho certeza, é que Bell
não culpa você pelo que aconteceu naquela noite.

—Você não viu a dor nos olhos dela.

Mamãe suspirou, com os olhos enevoados. —Essa garota já passou


por muita coisa. Perdendo a irmã. Perdendo você. Recuperando-se de
seus ferimentos. Passaram semanas antes que os Kipton nos deixassem
visitá-la. E Bell não entendeu o que estava acontecendo nos bastidores.
Não sabia o que os pais dela estavam fazendo com você.

—Espere, você me disse que Bell estava bem. Depois do acidente, você
disse que ela estava bem. — Foi uma das coisas que me permitiu ficar
em Seattle, e não voltar. Agora, tudo que eu podia ver era Bell em uma
cama de hospital, sozinha e assustada.

CATHERINE COWLES
Meus pais compartilharam outro olhar, mas foi meu pai quem falou.
—Ela estava, e está, mas teve alguns ferimentos que exigiram cirurgia e
seu corpo estava muito machucado. A recuperação dela levou tempo.

As náuseas tomaram conta de mim. —Você deveria ter me dito.

O rosto do meu pai endureceu. —Por quê? Então você poderia se


culpar por mais uma coisa? Você estava se afogando, e eu não jogaria
mais um peso em seu caminho. Bell está bem, ela fez uma recuperação
de cem por cento e fez isso rapidamente.

Engoli em seco. —Entendi. — Eu mais do que preocupei meus pais


naquele primeiro ano de faculdade, apenas passando pelos movimentos
da vida. Foi minha mãe quem sugeriu procurar outras escolas, aquelas
que não guardavam o lembrete de Violet e todos os planos que tínhamos
feito. Eu acabei na UCLA no ano seguinte e isso deu um salto na minha
vida. Luz do sol, colegas de classe que não tinham ideia do meu pesar...
eu me reinventei e funcionou.

Mamãe apertou meu joelho. —Espero que vocês dois voltem à amizade
que compartilhavam. Vocês são pessoas diferentes agora, mas seus
corações são os mesmos.

Nós éramos pessoas diferentes. E fiquei surpreso com o quanto eu


odiava que Bell fosse uma estranha para mim agora. Parecia errado em
todos os níveis. Mas fui eu quem a transformou em uma entidade
desconhecida. —Vou tentar.

—Boa. Ela realmente só tem nossa família, Caelyn e Kenna. Os pais


dela não valem nada. — O tom da minha mãe ficou feroz, uma mãe ursa
protegendo seu filhote.

—Eles ainda estão por aqui?— Eles eram duas pessoas que eu
definitivamente não queria ver.

CATHERINE COWLES
Os lábios da mamãe pressionaram juntos em uma linha firme. —Eles
estão. E depois de tudo o que eles fizeram com Bell, eu gostaria de chutá-
los sempre que os encontrar.

Meu corpo ficou tenso, os músculos tensos. —O que eles a fizeram


passar?

Ela balançou a cabeça. —Mais do mesmo, mas foi pior. Tentando


transformá-la em uma imagem no espelho de Violet. A pressão que eles
colocam nela para ser perfeita... isso me deixa tão brava.

Meu corpo relaxou. Eu conhecia a Isabelle de ontem, e a Bell de hoje


poderia suportar qualquer pressão que seus pais colocassem nela. Ela
era forte, tão feroz e sem uma única desculpa. Ela nunca se curvaria e se
tornaria o que alguém queria que ela fosse. Mas eu sabia que isso tinha
um custo, e o preço era um relacionamento próximo com os pais dela. —
Estou feliz que ela teve você para superar tudo isso.

Minha mãe se levantou, pegando restos de biscoitos e copos. —E


agora, ela também tem você. Você encontrará o caminho de volta.

Eu não tinha tanta certeza disso. Algumas feridas eram profundas


demais. Algumas histórias muito dolorosas. Você poderia perdoar, mas
nunca esqueceria.

CATHERINE COWLES
8

— BELL !

Eu me virei com a voz familiar, um sorriso enorme no meu rosto. —


Mi, o que você está fazendo aqui ?

Os cabelos loiros de Mia voaram para trás quando ela se lançou para
os meus braços. Eu a peguei com uma risada abafada. — Cae-Cae disse
que poderíamos jantar aqui hoje à noite. E Kenna também está aqui!

Olhei por cima da cabeça dela para ver Kenna, Caelyn e os outros
dois irmãos de Caelyn, Will e Ava. Soprei no pescoço de Mia fazendo um
barulho. —Bem, se isso não é sorte para mim? Minhas pessoas favoritas
em um só lugar.

Kenna se aproximou de nós. —Nós pensamos que você poderia


precisar um pouco de apoio.

Mia olhou para Kenna e depois de volta para mim. —Pra que você
precisa de apoio? Você está brincando de polícia e ladrão?

Eu ri. —Não, mas talvez devêssemos. —balancei Mia no meu quadril


e estendi a mão para apertar o braço de Kenna. —Obrigada.

—Você tem espaço para todos nós cinco? — Caelyn perguntou


enquanto ajudava Ava a tirar o casaco.

—Sempre. — Eu apontei para uma cabine contra a parede. —Que tal


esse?

—Perfeito. — Caelyn virou-se para Will. —Você pode pegar as meninas


e instalá-las? Ajudá-las a decidir o que pedir?

CATHERINE COWLES
—Certo. — Ele estendeu a mão para Mia, e ela se jogou dos meus
braços para os dele. Ela ama seu irmão mais velho. Meus lábios
apertaram enquanto eu observava Will guiá-las até o estande e ajudá-las
a entrar. Ele já era maduro para a sua idade. Ele e Caelyn não tiveram
escolha. Mas doía meu coração saber que ele havia perdido a chance de
ter uma infância real e despreocupada. Caelyn tentou insistir para que
ele saísse com seus amigos, participasse de equipes esportivas, qualquer
coisa que ela pudesse pensar, mas ele passava a maior parte do tempo
em casa com ela e as meninas, ajudando o máximo que podia.

Caelyn arrumou os casacos empilhados em seus braços. —Então…?

Fiz uma careta, olhando por cima do ombro para o bar, onde Ford
estava servindo bebidas e conversando com os clientes. Se ele estava
infeliz por estar aqui, ele escondeu bem. —Eu o estou evitando.

Kenna bufou. —E por quanto tempo você será capaz de manter isso?

Mordo meu lábio inferior. —Não muito. Ele está revisando os livros e
os detalhes do dia a dia esta semana, mas em algum momento, teremos
que fazer um plano para o futuro.

Caelyn passou um braço em volta de mim e apertou. —Como está seu


coração?

Rachando como um copo em temperaturas abaixo de zero. —Está


melhor hoje.

—Bom. Vou garantir que as meninas não estejam planejando pedir


sundaes de sorvete para o jantar, e depois eu irei checar você.

—Estou bem. Prometo. — Eu tinha que estar. Não havia outra escolha.
Eu passaria por isso exatamente como tinha passado por todo o resto da
minha vida até agora.

CATHERINE COWLES
Caelyn se dirigiu para seus irmãos, e eu me virei para encarar Kenna.
Os braços dela estavam cruzados sob o peito e a sobrancelha tinha um
ligeiro arco. —Não me engane, Bell. Como você está?

Suspirei, lançando um breve olhar para o bar. Ford estava sorrindo


para uma mulher, e seu antebraço flexionou quando ele lhe entregou
algum tipo de coquetel. Eu forcei meu olhar para longe. —Sinceramente,
não sei. Estou em todo lugar. Eu me sinto com as emoções a flor da pele.

—Bell...— Kenna abaixou a voz para que ninguém pudesse nos ouvir.
—Se isso é demais, você pode sair. Precisamos de uma secretária na
empresa de contabilidade. Venha trabalhar comigo.

A ideia de ficar sentada atrás de uma mesa o dia inteiro me fez


estremecer. E o pensamento de deixar os Hardys em apuros me deixou
com náuseas. —Eu não posso. Vou superar isso. Prometo.

Kenna fez uma careta na direção de Ford. —Bem. Vamos lá, eu preciso
de uma bebida.

Eu sorri para o chão enquanto nos dirigíamos para o bar. Kenna


caminhou até um banquinho vazio enquanto eu contornava o balcão. —
O que vai ser?

—Vodca com refrigerante de limão, por favor.

—Chegando logo.— Peguei a Grey Goose5, servindo automática e


precisa, o dom de ter feito isso por tantos anos.

—Vamos lá, olhos castanhos. Você pode ser um pouco mais


emocionante do que isso.

Eu abafei uma risadinha enquanto assistia Crosby sentar sobre um


banquinho, cerveja na mão. Os olhos de Kenna se estreitaram nele. —

5
A Grey Goose é uma marca de vodca produzida na França. Foi criado nos anos 90 por Sidney
Frank, que o vendeu em 2004 para a Bacardi. O Maître de Chai para Grey Goose é François
Thibault, que desenvolveu a receita original da vodca em Cognac, na França.

CATHERINE COWLES
Kenna. Meu nome é Kenna. Uma palavra, cinco letras. É realmente difícil
de lembrar?

Ele sorriu para ela, e eu tive que admitir, era devastador. —Todo
mundo te chama de Kenna. Eu preciso de algo um pouco mais original.

Ela revirou os olhos enquanto pegava o drink que eu lhe entreguei. —


Eu dificilmente chamaria Olhos castanhos de original.

—Justo. Vou continuar trabalhando nisso.

—Por favor, não.

Eu não conseguia mais segurar minha risada. —Vocês dois são piores
que um casal de velhos.

Kenna voltou seu olhar para mim. —Como se alguma vez eu tivesse
caído tão baixo assim.

—Você me machucou.

Eu senti sua energia antes de ouvir sua voz. Era calor e um leve
zumbido. Eu mantive meu olhar focado para frente.

—Ei, Kenna. — Ford descansou a mão no bar. Era pelo menos quinze
centímetros de onde a minha estava, mas ainda tinha que lutar contra o
desejo de me afastar, dar um passo atrás, fugir e nunca olhar para trás.

—Ford. — Sua voz era fria, o tom geralmente reservado para aqueles
que machucaram alguém que Kenna amava. Ah Merda. —Estou surpresa
em vê-lo aqui. Eu tinha certeza de que você já teria fugido de novo.

Os antebraços de Ford flexionaram quando ele agarrou o balcão. —


Estarei aqui pelos próximos meses. Eu só quero ajudar.

Kenna zombou. —Antes tarde do que nunca.

—Olhos castanhos...

CATHERINE COWLES
A cabeça dela virou na direção de Crosby. —Fique fora disso, garoto
surfista, você não sabe nada sobre o que está acontecendo.

Ele levantou as mãos em derrota.

Ford se afastou do balcão, endireitando-se a toda a sua altura. —


Você também não sabe porra nenhuma, Kenna.

Ela se levantou do banquinho. —Eu sei mais do que você. Você sabe
por quê? Eu estive aqui. Eu fui ao hospital todos os dias. Estes terríveis
compromissos de fisioterapia quando ela saiu. Para o funeral. E onde você
estava?

—Kenna...— Eu não sabia como terminar essa frase. Tudo que eu


sabia era que ela tinha que parar. Eu não queria que ela descobrisse
minhas cicatrizes para que todos vissem.

Kenna balançou a cabeça e pegou sua bebida. —Desculpe, Bell.


Eu vou sentar com as crianças.

Eu balancei a cabeça e a observei atravessar a multidão. Quando ela


entrou no reservado, olhei de volta para Crosby e então meus olhos
viajaram para Ford como se não pudessem ficar mais longe. Havia muita
dor em seus olhos. —Eu sinto muito. Ela é protetora.

A boca de Ford funcionou. —Compreensível.

—Ela não deveria ter dito nada.

Ford abriu a boca para falar, mas Crosby falou primeiro. —Deus, eu
amo quando sai esse fogo dela.

Sua declaração me fez sorrir. —Sabe, um dia desses você vai provoca-
la demais, e eu não farei nada para salvá-lo.

Crosby olhou para Kenna. —Alguém tem que dar um pouco de vida
para ela.

CATHERINE COWLES
Eu me virei para Ford, e ele parecia tão perdido que meu coração se
partiu um pouco mais. Mas eu não queria que meu coração se partisse
por ele. Foi ele quem saiu sem dizer uma palavra. Ele não ganhou essa
emoção, meu coração se partiu por sua dor. Eu endireitei minha coluna.
— Eu vou trabalhar no salão um pouco. Você assume o bar?

Ele se assustou com a minha voz, mas assentiu bruscamente. Saí sem
dizer outra palavra, caminhando entre as mesas, procurando qualquer
desculpa para escapar.

Uma mão saiu e agarrou meu pulso. Virei-me e pronto para dar uma
cotovelada, em quem quer que fosse, na barriga. — Uau, aí! Sou eu.

Eu fiz uma careta para Hunter. Ele estava ligando sem parar nos
últimos dois dias. Eu não tinha retornado. Não estava pronta para a
conversa que precisávamos ter. Nós nos tornamos próximos nos anos
desde o acidente, e ele era uma das pessoas em que mais confiava, mas
ele rompeu esse vínculo de uma maneira que não era fácil de reparar. —
O que você está fazendo aqui?

Ele estremeceu e esfregou o queixo. — Eu e os caras pensamos em


tomar algumas cervejas e comer um pouco.

Olhei em volta para os outros dois homens na mesa. Eu conhecia os


dois em vários graus. Pete foi transferido de Seattle, se mudou para
Anchor, um lugar tranquilo para criar sua família. Mas Ethan tinha
crescido conosco e estava na mesma série que Hunter e eu.

Eu forcei um sorriso. — Olá meninos. O que posso obter pra vocês?

Pete sorriu para a mesa. — Ainda está chateada com Hunt?

Eu fiz uma careta para ele. — Você não estaria?

— Demitido, Pete. — Ethan me deu um sorriso gentil. — Como vai as


coisas , Bell?

CATHERINE COWLES
Eu tentei dar um sorriso ainda mais. — Nova em folha. Agora, vamos
pegar suas bebidas. O que vai ser? — Eu me deixei ir do ritmo de servir
as mesas, o mar de rostos familiares, e fiz tudo o que pude para evitar os
olhos azuis atrás do bar.

S UBI as escadas nos fundos do bar, sentindo as pernas como se


estivessem carregando um cinquenta ou sessenta quilos extras. Tudo
doía. Eu estava de pé desde as dez da manhã e já passava das uma da
manhã. Minha cama estava chamando meu nome, mas eu precisava
desesperadamente de um banho para me limpar o dia, tanto o trabalho
físico quanto a dor emocional. O chuveiro sempre parecia ajudar. O bater
da água contra meu crânio amortecia as dolorosas lembranças.

Enfiei a mão no bolso de trás e tirei minhas chaves. Destrancando a


porta, entrei e tirei minhas botas. — Chuveiro. Um banho vai melhorar
tudo. — E assim foi. Coloquei a água o mais quente que podia soportar e
deixei que tudo se derretesse. Quando saí, tudo estava mais claro, um
pouco menos ameaçador.

Enrolei meu cabelo na toalha e o prendi no lugar. Seria apenas isso,


porque eu não estaria parada aqui por mais trinta minutos secando meu
cabelo. Cruzando até a minha cômoda, fui direto pegar os meus pijamas
mais confortáveis, os de flanela cobertos por casquinhas de sorvete.
Quando os puxei, minha mão parou na gaveta de cima. Abri e
cuidadosamente tirei o álbum de recortes.

Sua capa de tecido estava desgastada levemente nas bordas, e tiras


de papel e fita pendiam das páginas. Coloquei na minha cama e
rapidamente coloquei meus pijamas. Deslizando sob as cobertas, puxei a
o álbum para o meu colo. Um terapeuta que meus pais me forçaram a

CATHERINE COWLES
ver depois do acidente sugeriu o projeto. Uma saída artística e uma
maneira de lembrar minha irmã.

Levei mais de um ano para concluir a coisa. Era parte do álbum de


fotos, parte da obra de arte de mídia mista. Por mais sentimental que eu
fosse, sempre mantive uma caixa de lembranças cheia de recordações da
minha infância. Estava cheio de fotos, fitas de vários concursos, tíquetes,
pinturas e assim por diante. Eu usei fotos que recebi de familiares e
amigos e várias viagens a lojas de artesanato.

Cada página de recortes contava uma história. E esses juntos


mostraram uma vida. As páginas não estavam em ordem cronológica.
Teria sido muito deprimente para folheá-lo, sabendo quando eu estava
chegando perto do fim. Em vez disso, pulei em um padrão que era meu.
O nono aniversário de Violet, no dia em que nasci, férias em família na
Disneylândia.

Cada página contém uma variedade de fotos, pinturas, recordações,


adesivos, rabiscos e muito mais. Eu sorrio para uma foto de nós duas do
lado de fora da Torre do Terror na Disneylândia. Eu tinha um sorriso
enorme no rosto, enquanto Violet parecia um pouco verde. Meus pais se
recusaram a me acompanhar no passeio, então Violet foi, embora as
alturas a deixassem enjoada. Eu fiz isso com ela, usando todo o meu
dinheiro para comprar uma estátua de porcelana da Bela Adormecida
que ela estava olhando em uma das lojas de presentes. Era um dos
pertences de Violet que eu insisti em guardar após sua morte.

Virei uma página e minha mão parou. A foto que eu colei no papel
tinha sumido. Eu havia decorado a área ao redor com desenhos de
árvores, grama do pântano e o lago onde a foto havia sido tirada.
Deveriam ter sido três rostos sorridentes olhando para mim. Violet, eu e
Ford. Meus dedos deslizaram pela página onde estava o instantâneo, o
papel rasgado apenas um pouco. A cola secou e a foto se soltou?

CATHERINE COWLES
Fui à gaveta onde guardava o livro. Procurando dentro, eu vi vazio.
Tentei pensar na última vez que o tirei. Talvez alguns meses atrás? Meu
estômago torceu. Deve ter caído, e eu joguei fora quando limpava e não
prestei atenção.

— É apenas uma foto. — Eu sabia que tinha uma cópia no meu


computador. Eu sempre poderia imprimi-lo e substituí-lo. Mas algo sobre
isso enviou um calafrio percorrendo minha espinha.

CATHERINE COWLES
9

TOMEI um gole de minha cerveja enquanto folheava outra página de


planilhas.

— Já está bebendo no trabalho?

Até a voz de Bell era diferente, mais rouca de alguma forma, mas
assustadoramente familiar ao mesmo tempo, assim como tudo nela.
Deus, eu senti falta dela me enchendo o saco. Houve tantas vezes que eu
quase atendi o telefone. Tantas vezes eu quase voltei para vê-la. Mas o
medo do que eu encontraria quando chegasse aqui sempre me afastou.

Tomei outro gole da cerveja. Pelo menos ela estava falando comigo
hoje. —Hank está me fazendo meu almoço mais cedo. Eu acho que posso
lidar com uma Pale Ale6 .

O nariz de Bell torceu quando ela pegou minha bebida. — Cerveja de


garota.

Eu soltei uma risada. — Não venha com rodeios.

Ela começou ao som da minha risada, seus olhos se arregalando, e


então sua expressão se fechou, me fechando. Eu odiava cada muro que
ela colocou entre nós, que eu tinha colocado entre nós. Bell virou-se para
o corredor dos fundos, claramente pronta para se retirar para o escritório
até que as portas se abrissem para os clientes. Mas eu não queria que
ela fosse. —Espere.

6
Pale ale é uma cerveja fermentada de topo, feita com malte predominantemente pálido. A maior
proporção de maltes claros resulta em uma cor mais clara.

CATHERINE COWLES
Ela congelou, depois se virou lentamente para mim, sua expressão
cautelosa. — Sim?

Inclinei minha cabeça para os bancos ao meu lado. — Sente-se. Eu


queria discutir algumas coisas com você. — Eu levantei uma sobrancelha
quando ela não se moveu.

Bell endireitou sua coluna e voltou em minha direção. Eu escondi meu


sorriso. Trouble nunca poderia recuar diante de um desafio. O brilho dos
meus lábios desapareceu quando ela deixou um banquinho entre nós.
Uma barreira. — E aí?

Balancei minha cabeça um pouco e recolhi os papéis à minha frente.


— Você fez um bom trabalho em manter este lugar à tona. — Olhei para
Bell, mas ela não disse nada, uma máscara passiva cobrindo suas
feições. Meu aperto nos papéis aumentou. — O que? Você não acredita
em mim?

— Estou esperando o mas.

— Não existe mas. Você é a razão pela qual este lugar não caiu. — Eu
encontrei seu olhar e continuei olhando, desejando que ela realmente me
ouvisse. — Obrigado, — limpei a garganta — por estar aqui quando não
estava. Quando não pude.

A queixo de Bell endureceu. — Eu faria qualquer coisa por Frank e


Kara.

Isso me cortou. Não era sua dedicação aos meus pais, mas o fato de
ela ter deixado claro que sua contribuição para o futuro de The Catch não
tinha nada a ver comigo. — Eu imagino que devemos a você algum
pagamento em atraso.

Seus olhos endureceram, o verde brilhando como pedras preciosas. —


Eu não fiz isso pelo dinheiro.

CATHERINE COWLES
Ela disse — dinheiro— como se fosse uma palavra suja. Merda. Eu
estava bagunçando tudo isso. — Eu não quis dizer que você fez. Mas
posso dizer que você fez horas extras.

— Era as minhas horas para dar.

Passei a mão pelo cabelo. Isso não estava nos levando a lugar nenhum.
— Bem, obrigado. Quero dizer. E o lugar parece incrível. — Eu esperava
encontrar um grande pagamento por uma remodelação de bar em algum
lugar dos livros, mas só encontrei despesas com tinta, luminárias de
segunda mão e outros itens baratos.

Bel endireitou um dos menus de balcão no suporte na frente dela. —


Fizemos o que podíamos com o que tínhamos.

— Bem, vamos ver se conseguimos que você trabalhe um pouco mais.

Ela levantou uma sobrancelha. — Você não quer ser responsável pelo
orçamento?

Tomei outro gole da minha cerveja. — Não. Você está tomando boas
decisões com o bar. Você é mais inteligente do que eu. Eu só quero lhe
dar um pouco mais de espaço para respirar.

A tensão dos ombros de Bell diminuiu e houve a mesma sensação no


meu peito. — OK. O que você está pensando?

— O almoço e jantar serão mantidos. Esse sempre será o nosso forte,


mas acho que podemos fazer com que os clientes depois do expediente
gastem um pouco mais.

Bell traçou um desenho invisível no topo do balcão. —O Maverick's se


tornou o local mais noturno. É mais barulhento. Música alta. Onde as
pessoas vão desabafar.

— Eu não quero atrair uma multidão complicada. Eu não acho isso


sábio. Mas o que você acha da música ao vivo nos fins de semana?

CATHERINE COWLES
Ela ficou em silêncio por um minuto, e fiquei surpreso com o quanto
queria que ela gostasse da minha ideia, o quanto ansiava por sua
aprovação. Anos atrás, os papéis eram invertidos. Era sempre Bell que
me perguntava o que eu pensava disso ou daquilo, se eu gostava de um
desenho em que ela estava trabalhando ou algo assim. E agora, eu estava
prendendo a respiração para ouvir o que ela pensava sobre uma mudança
nos negócios.

— Eu acho que poderia funcionar... — Ela começou a bater os dedos


no bar. Agora isso era familiar. Se Bell não tinha algo para desenhar, ela
sempre batia enquanto pensava em algo. — Poderíamos atrair mais
turistas dessa maneira, alguns dos habitantes locais procurando opções
para sair à noite. Devemos considerar oferecer um menu noturno,
limitado, é claro. Coisas que Hank poderia preparar, mas que outro
cozinheiro poderia fazer.

— Essa é uma grande ideia. Encontrar a música certa será a chave


para atrair a multidão que queremos.

— Você está certo. — Seus dedos aumentaram o ritmo ao longo do


bar. — Conheço alguns caras que têm um estilo country/folk. Isso pode
ser uma boa opção. Algo que as pessoas podem escolher ou simplesmente
sentar e ouvir.

— Isso parece perfeito. Talvez pudéssemos fazer noites temáticas.


Misturar tudo para que as pessoas não fiquem entediadas?

— Essa é uma ótima ideia. O único problema será encontrar uma


variedade de músicos.

Eu sorri, um milhão de memórias voltando a mim. — Contanto que


não estamos desesperados o suficiente te colocar no palco.

Bell riu e foi o som mais doce que eu ouvi em um longo e maldito
tempo. — Meu gênio musical está acima do seu salário.

CATHERINE COWLES
A porta da frente se abriu e olhei para o relógio. Não era hora de abrir
nossas portas. — Desculpe, não estamos abertos...

Minhas palavras foram cortadas quando Hunter entrou com Ethan a


reboque. — Vamos, irmão mais velho, acho que ganhei acesso
antecipado. — Seu olhar foi para Bell, a preocupação preenchendo sua
expressão, mas ele manteve aquele sorriso falso no rosto.

Ela pulou do banquinho. — Eu tenho que ir checar as mesas lá atrás.


Se você perguntar bem, aposto que Hank vai conseguir alguma coisa para
vocês antes que ele esteja oficialmente aberto.

Os ombros de Hunter cederam enquanto observava Bell sair pela porta


do pátio dos fundos. — Porra.

— Ela ainda não está falando com você?

Hunter balançou a cabeça e passou a mão no queixo. — Não. Eu


estraguei bem tudo dessa vez.

Ethan deu um tapa nas costas dele. — É Bell. Ela vai te perdoar. Você
só precisa dar a ela alguns dias para que volte ao normal.

Meu intimo queimava com a familiaridade dos caras com Bell. A


sensação rastejando dentro de mim parecia muito com ciúmes, espesso
e insidioso. Sempre fomos nós três crescendo: eu, Violet e Trouble. Eu
tinha uma queda por Vi desde o momento em que eu estava na pré-
escola, com seus cabelos loiros brilhantes e olhos azuis pálidos. Eu tinha
caído. A irmãzinha dela acabara de fazer parte do pacote e, em pouco
tempo, éramos um trio inseparável. Hunter nunca tinha sido louco por
Vi e Bell, sempre optou por sair com Ethan, mas parecia que essa era
uma das muitas coisas que haviam mudado ao longo dos anos.

Eu queria que Bell tivesse boas pessoas em sua vida, e meu irmão era
o melhor. Mas acho que, quando se tratava disso, eu também queria um
espaço. Sentia falta dela. Mais do que eu queria admitir. Ouvir sua risada

CATHERINE COWLES
antes tinha sido o melhor tipo de dor, cheia das lembranças mais doces
e do desejo mais profundo de um tempo que se foi para sempre. Porque
eu nunca mais seria essa pessoa, o garoto que pensava que era. Alguém
que nunca experimentou verdadeira devastação. O homem que eu seria
se o acidente nunca tivesse acontecido era um estranho para mim. Tudo
que eu sabia era quem eu era agora, mas eu não tinha certeza do quanto
eu ainda o conhecia.

— Terra para Ford. Que diabos, cara?

Fui trazido de volta ao presente pela voz de Hunter. — Desculpa. O


que?

Um músculo na bochecha de Hunt se moveu. — Como ela está?

Olhei para a porta dos fundos, minha mão apertando em torno da


minha cerveja. — Sinceramente, não tenho certeza. Ela parecia estar
baixando a guarda um pouco hoje... até você entrar.

O olhar de Hunter endureceu, e eu sabia que tinha ultrapassado a


linha. Merda. Eu deveria estar fazendo as pazes com meu irmão, não
piorando as coisas. —Eu estraguei tudo. Eu admito. Eu deveria ter dito
a Bell que estava ligando para você desde o início. Mas ela está agindo
mais irritada comigo do que ela está com você, e eu fiquei.

Engoli a réplica na minha língua. Eu comprei essa raiva e muito mais.


— Ethan está certo. Você sabe como é o temperamento da Trouble.
Apenas dê alguns dias para ela se acalmar.

Ethan bateu as mãos no bar. — Tudo bem, essa tensão familiar está
me deixando super desconfortável. Então, que tal comermos?

Eu soltei uma risada. — Justo. O que vocês querem?

CATHERINE COWLES
Caelyn apareceu do corredor com uma balde de gelo. — Caras
gostosos. — Ela soltou um assobio baixo. — O que vocês estão fazendo
aqui tão cedo? Não que eu esteja reclamando do colírio para os olhos.

Ethan sorriu. — Almoço cedo. O chefe está pagando.

Hunter fez uma careta e bateu o boné da cabeça de Ethan. — Eu disse


que poderíamos almoçar cedo, não que eu compraria comida para você.
Você come demais. Você vai me levar à falência.

Ethan deu um tapinha no estômago. — Eu sou um garoto em


crescimento.

— Só se crescer uma barriga de cerveja, talvez, — Hunter repreendeu.

— Aqui, eu posso pegar seus pedidos e entregá-los ao Hank. —


Caelyn pegou um bloco e caneta debaixo do balcão e rabiscou.

Eu me virei para encarar meu irmão. — Você ajudou os caras a


reformar o bar? Estou querendo lhe dizer como tudo parece ótimo. —
Hunter apenas olhou para mim, e todo mundo ficou quieto. — O que?

Foi Caelyn quem falou. — Não foi Hunter. Quero dizer, ele ajudou com
alguns trabalhos pesados, mas foi tudo Bell.

Minhas sobrancelhas se ergueram. — Bell? — Quando eu a conheci,


ela tinha zero interesse em renovação ou qualquer coisa do tipo.

Hunt pigarreou. — Sim. Ela está tendo aulas on-line para design de
interiores. — Ele olhou ao redor do espaço, um pequeno sorriso
inclinando seus lábios. — Ela tem um talento real para isso.

Olhei em volta do bar com novos olhos. Compreendendo tudo, desde


as grandes mudanças, como o piso de cimento, aos pequenos detalhes,
como os suportes de menus de metal disperso. Tudo se encaixa em um
equilíbrio fácil de elegância rústica. E eu sabia, depois de olhar para os

CATHERINE COWLES
livros, que ela fez as coisas parecerem muito mais caras do que eram. —
Por que ela não está estudando em Seattle?

— Eu só vou conseguir esse pedido com Hank .— Caelyn correu para


a cozinha como se o bar estivesse pegando fogo.

Hunter e Ethan trocaram um olhar, mas Ethan falou. — Caelyn tem


a custódia de seus irmãos. Conseguiu quando ela tinha apenas 21 anos.
Ela estava se afogando, tentando fazer funcionar nos primeiros dois anos.
Bell e Kenna voltaram assim que se formaram. Inferno, elas praticamente
viveram com Caelyn por um ano.

Engoli em seco. Eu tinha perdido muita coisa aqui. — Por


que Caelyn tem a custódia?

Hunter ficou rígido no banquinho. — O estado levou as crianças.

— Esses pais sempre foram um desperdício de espaço, — murmurei.

A expressão de Ethan endureceu. — Eufemismo do século.

Meu olhar viajou para a porta dos fundos. Aquela atração agora
familiar havia retornado. Por que diabos Bell não tinha me dito que ela
tinha sido a única a renovar o bar quando repassamos as despesas dos
últimos anos? Meu coração apertou. A melhor pergunta era
por que ela iria? Ela não confiava em mim. Queria que eu saísse da vida
dela o mais rápido e humanamente possível. Eu poderia deixar o bar para
ela no final do verão. Eu poderia deixar a ilha também. Mas eu queria
ganhar o perdão dela primeiro. Seu perdão e, com sorte até sua amizade.

Eu me levantei. — Volto em alguns minutos.

As sobrancelhas de Hunter se uniram. — Onde você vai?

— Eu preciso falar com Bell sobre algumas coisas. — O olhar no rosto


do meu irmão não era feliz. Eu me irritei. Eu ainda não tinha descoberto
o que estava acontecendo entre os dois. Se eles eram amigos ou mais.

CATHERINE COWLES
Mas isso não importava. Eu tinha que fazer as pazes, e ele não
iria interferir no meu caminho.

CATHERINE COWLES
10

CAÍ em uma das cadeiras de ferro forjado no pátio dos fundos,


esfregando o local entre os meus seios. Lágrimas queimaram a parte de
trás dos meus olhos. Tudo era uma confusão de emoções em turbilhão.
A vida virou de cabeça para baixo por uma única ação. Uma pessoa
retornando.

Não apenas eu estava brigada com Hunter, mas havia um desejo


dentro de mim que eu não sentia há anos. Uma tristeza que havia
diminuído, subitamente voltando à vida novamente em cores vivas. Não
era tristeza pela minha irmã, senão pela minha amiga. Um desejo pelo
homem que agora estava bem na minha frente. Eu deixei atrás a sua
perda há muito tempo, mas era como se vê-lo novamente tivesse trazido
tudo de volta. Ele estava ali, perto o suficiente para eu alcançar e agarrar.
Mas eu nunca seria capaz de mantê-lo.

Ford deixou claro que ele não estava em Anchor para ficar. Ele era
apenas mais um turista de passagem. Mas alguém que tinha o poder de
deixar destroços em seu rastro. E essas ruínas seriam eu. Ele nem
pretendia fazer isso, mas eu seria destruída da mesma forma. Já estava
acontecendo. Apenas aqueles pequenos vislumbres das brincadeiras que
costumávamos compartilhar, a camaradagem, o apoio. Ele me dava esses
vislumbres, talvez até um olhar longo e duro, mas depois os levava
quando saía. E eu teria que viver com aquele buraco no meu peito
novamente.

As portas da porta dos fundos chiaram quando se abriu. Não olhei


para ver quem era, apenas fiquei olhando o oceano. Não havia ninguém
no bar com quem eu particularmente queria conversar no momento. Se

CATHERINE COWLES
eu não fizesse contato visual, talvez eles entendessem a mensagem e me
deixassem em paz.

— Por que não me disse que foi você quem renovou o bar?

A voz de Ford era dura, seu tom um pouco irritado, um toque de dor.
Eu ainda podia lê-lo como se não estivéssemos separados por mais de
uma década. Eu levantei um ombro e deixei cair. — O que isso importa?

Ele puxou a cadeira ao meu lado, o metal raspando contra o pátio de


pedra. — Isso importa para mim.

Eu mantive meu olhar na água, sem dizer nada. O silêncio era minha
única armadura. Cada palavra que eu dava a ele tornava difícil quando
ele se afastava, voltava à sua vida extravagante em Los Angeles e deixava
minhas memórias sombrias.

Ford estendeu a mão, segurando-a debaixo da mesa e apoiando-a na


minha, apertando. A mudança me pegou de surpresa, e eu não tive a
chance de evitá-la. Honestamente, porém, eu não tinha certeza se teria
tentado. Foi a primeira vez que ele me tocou. O primeiro conforto físico
que eu obtive dele em onze anos. Sua palma parecia esquentar minha
pele, queimando. Eu olhei para as nossas mãos. Ele parecia diferente do
que eu lembrava, um pouco mais bronzeado do que antes.

Ele apertou novamente. — Bell... eu quero consertar as coisas entre


nós. Sei que não será fácil, mas farei o que puder. — Sua mandíbula
apertou. — Tenho saudades da minha amiga.

Engoli em seco, uma confusão de emoções se acumulando no fundo


da minha garganta. — Algumas coisas não são corrigíveis. — Era
fisicamente doloroso dizer isso, como se cada palavra fosse feita de uma
bola de arame farpado. Mas era a verdade. Uma realidade que eu aprendi
da maneira mais difícil. Havia apenas algumas coisas que não podiam
ser consertadas por qualquer quantidade de desculpas ou supercola.

CATHERINE COWLES
A mão de Ford estremeceu em torno da minha. — Por favor. Você tem
que me deixar tentar.

Eu não tinha que deixá-lo fazer nada. Mas enquanto eu olhava nos
seus olhos azuis, que não haviam mudado nada, descobri que ainda era
uma tola por sua dor. Faria o que pudesse para ajudar. Mesmo que isso
me fizesse uma estúpida. Mesmo que isso significasse que eu estaria
sofrendo ainda mais em três meses. Engoli aquela bola de emoção
novamente. — Eu não posso te dar o que tínhamos antes... — Minha voz
saiu entrecortada. — É muito difícil, e eu... eu não sou a mesma pessoa
que costumava ser.

— Nem eu, Bell. Seria impossível sermos essas pessoas.

— Tudo o que posso lhe dar é um novo começo. Podemos nos conhecer
como as pessoas que somos agora. — Meu olhar endureceu. — Não quero
desenterrar o passado, Ford. É uma zona proibida. Você vai lá e
terminamos. — Era muito difícil. Eu não poderia ir lá com ele quando
tudo que eu queria por tantos anos era seu conforto e apoio. Falar sobre
Violet com a única pessoa que a amava tanto quanto eu, mas que também
nos entendeu melhor do que ninguém.

Ford apertou minha mão mais uma vez e depois me soltou. De


repente, havia ar de volta nos meus pulmões, como se eu pudesse
finalmente respirar depois de segurar por muito tempo. Ainda assim,
senti falta do toque da mesma forma. — Eu posso fazer isso, Bell. — Ele
recostou-se na cadeira. — Hunter e Caelyn disseram que você está tendo
aulas de design de interiores.

— Esses dois são piores fofoqueiros do que o círculo de tricô de


Anchor.

Ford riu. — Essas senhoras ainda estão nisso?

Eu sorri — Pior que nunca.

CATHERINE COWLES
— Então, você está pensando em começar seu próprio negócio?

Revirei meus olhos e olhei para minhas mãos. — Não tenho certeza.
Adoro reinventar um espaço, dando vida a móveis antigos. Eu já fiz
alguns projetos aqui e ali para amigos... no entanto, o bar de longe é
o maior.

O que eu não disse foi que o bar era para ser meu cartão de visita.
Algo que poderia mostrar do que eu era capaz. Mas meus devaneios de
restauração de móveis e espaços como carreira haviam desaparecido
quando entrei para garantir que The Catch continuasse funcionando.

— Você fez um ótimo trabalho.

Eu arqueei uma sobrancelha para Ford. — Serio? Senhor Cidade


Chique, que provavelmente paga a alguém centenas de milhares de
dólares para decorar seus clubes, acha que minha renovação de dois mil
dólares do The Catch é ótimo?

Ford ergueu a cabeça, mas fez isso enquanto sorria. — Eu deveria


saber que você nunca me deixaria viver em paz sabendo que montei bares
elegantes para ganhar a vida.

Eu ri. — Eles são tão bonitos. — Eu disse “bonito” como se fosse uma
palavra suja. As fotos que eu tinha visto dos clubes da Ford eram lindas,
mas eram perfeitas demais, tudo elegante e harmonioso. Eu precisava de
algo com um pouco mais de alma.

O sorriso de Ford se transformou em um sorriso. — Você me procurou.

Dei de ombros. — Eu poderia ter lhe dado uma “Googleada”.

Ele deu uma risada. — Isso soa como algo sujo.

— Confie em mim, se procurar no Google era sujo, eu não estaria


fazendo isso por você.

CATHERINE COWLES
Houve uma rápida labareda de calor nos olhos de Ford antes que ele
a escondesse. Uma chama que fez meu estômago mergulhar como se
estivesse em uma montanha-russa. Nem uma vez em todo o tempo que
passamos juntos, eu já tinha visto alguma sugestão de atração, qualquer
sinal de que ele me via como algo além de uma irmãzinha honorária. O
menor lampejo de esperança tentou enraizar-se na minha barriga, e eu
imediatamente a tranquei. Eu não estava indo para lá. Não era possível
por vários motivos. Eu forcei meu olhar longe de ombros largos e do
maxilar raspado de Ford.

Sua garganta pigarreou. — Eu realmente quis dizer isso. Você fez um


trabalho incrível com o bar. Talvez eu precise contratá-la. Trazer você
para LA para o meu próximo projeto.

— Você não poderia me pagar, e não posso dizer que estou morrendo
de vontade de visitar uma cidade onde metade dos moradores tem
plástico na cara. — Ok, então eu estava um pouco amarga. Mas quase
parecia que Los Angeles era a cidade que roubara Ford. Eu não estava
ansiosa para passear pelas ruas.

Ford riu. — Não é tão ruim. Existem muitas pequenas joias


escondidas que apenas os moradores de longa data conhecem, e você não
pode perder a vista da minha casa.

— E o acesso a modelos de maiô.

— Não vou mentir e dizer que é uma dificuldade.

Levantei minhas mãos com um som de nojo. —Homens.

— O que posso dizer, somos criaturas visuais. Nós gostamos de ver


coisas bonitas.

Eu apenas balancei minha cabeça e voltei para o oceano.

— Então, como estão seus pais?

CATHERINE COWLES
A pergunta teve a facilidade que deslizou em meus músculos, fugindo
novamente. — Eles estão iguais. — Nada e ninguém jamais mudaria
Bruce e Heather Kipton. Nem a morte de uma filha e a fuga da outra.
Tudo sempre seria culpa de outra pessoa. Eles nunca considerariam
olhar ao redor para ver se poderiam ser a causa de alguma coisa.

— Eles ainda estão na ilha?

— Sim. Papai ainda tem seu consultório, e mamãe ainda está


organizando eventos para qualquer instituição de caridade que ela
participe neste mês.

— Você os vê muito?

Eu não. Eu mal os vi. Eu tentei quando voltei da faculdade. Fiz


alguns jantares em família. Mas cada um incluía um discurso do meu
pai sobre o MCAT para que eu pudesse me inscrever na faculdade de
medicina e me juntar ao consultório dele, e os sutis comentários da
mamãe sobre minhas roupas e cabelos. A gota d'água foi quando minha
mãe lamentou: — Por que você não pode ser mais como sua irmã? —
quando me recusei a me encontrar com um dos filhos de sua amiga. Eu
os via apenas de passagem agora. E sempre era estranho.

Eu não queria ir lá com a Ford. Seria muito como as coisas


costumavam ser. Eu me levantei. —É melhor eu voltar ao trabalho.
Estamos prestes a abrir.

Um músculo na bochecha de Ford tremeu. — Claro. Eu já vou.

Fui para o bar, deixando Ford sentado e olhando o oceano, assim


como ele me deixaria um dia em breve.

CATHERINE COWLES
11

A CAMPAINHA sobre a porta do The Mad Baker tocou quando eu entrei.


Minhas mãos umedeceram quando eu peguei as vistas e os cheiros
familiares. Eu estava principalmente evitando minhas antigas
assombrações. Inferno, eu estava evitando completamente as lojas da
cidade. Todos eles tinham lembretes de Violet. De Bell. Mas minhas
conversas com Bell e os caras no outro dia foram um alerta. Eu não
queria perdê-la.

Perdê-la não era exatamente a frase certa. Ela estava perdida para
mim há mais de uma década, mas vendo-a novamente... eu sabia que
não queria que isso se transformasse em para sempre. Ela pode não ser
capaz de me perdoar pelo acidente, por não a encarar depois, mas talvez
eu possa devolver minha vida à sua vida. E se havia algum remanescente
da garota que eu conhecia, seu estômago era um ótimo lugar para
começar.

—Deus seja louvado, é você, Ford Hardy?— Jules Bloomington,


proprietária do The Mad Baker, saiu da cozinha. Seu cabelo estava todo
branco agora, em vez do grisalho que eu lembrava, seu rosto um pouco
mais arrugado, mas seu sorriso era tão cálido quanto sempre fora. Ela
contornou o balcão e estendeu os braços. —Venha aqui e me dê um
abraço, garoto.

Algo no meu peito afrouxou a fração quando a mulher mais velha


passou os braços em volta de mim. —Ei, Jules.

Ela me apertou com força e depois me soltou, me dando um tapa na


cabeça enquanto fazia isso. —O que você estava pensando, ficando longe
por tanto tempo? Sentimos sua falta por aqui. — Os olhos dela se

CATHERINE COWLES
estreitaram levemente. —Essa sua sombra sentiu sua falta,
especialmente.

Calor subiu pela parte de trás do meu pescoço. —Eu não estava pronto
para voltar.

—Você está pronta agora?

—Não tenho certeza, para ser sincero. Mas estou aqui.

Ela me deu um rápido aceno de aprovação. —De qualquer maneira,


as ações são mais importantes do que palavras. O que eu posso te
oferecer?

Peguei as caixas de padaria cheias até a borda, com doces, bolos e


tortas. A loja tinha o nome apropriado, com bolos decorados com
desenhos ultrajantes e assados em todos os tipos de combinações que
você acharia estranho, mas eram realmente deliciosas. —Os muffins
de canela ainda são os favoritos de Bell?

Um enorme sorriso se espalhou pelo rosto de Jules. —Eles com certeza


são, e eu apenas tirei um pouco do forno. — Ela se virou para a cozinha.
—Carissa, você vai me pegar dois muffins de canela?

Puxei minha carteira, mas Jules levantou a mão. —Nem pense nisso.
Este é um presente de boas-vindas. Faz bem ao meu coração vê-lo
recuperando os sentidos.

Eu limpei minha garganta. —Obrigado, Jules. Também senti sua falta.

—Essa garota sentiu mais sua falta. — Um olhar triste preencheu


suas feições. —Ela ainda vem todo sábado como vocês três costumavam
fazer. Ainda pega um sorvete da Two Scoops todos os anos no dia em que
a escola acaba. Vi pode ter ido embora, mas ainda há pessoas aqui que
amam você.

CATHERINE COWLES
—Jules...— O nome dela saiu como um pedido rouco. Eu não
aguentava. Não conseguia lidar com as palavras dela. Estar na padaria
era quase demais para suportar. As guloseimas que eu costumava pegar
para deixar no armário de Vi eram uma surpresa. Todas as vezes que
trouxemos Bell aqui para escapar dos pais delas. Mas quando você
adicionava a dor, eu sabia que Bell havia experimentado porque meus
reflexos não foram rápidos o suficiente... Foi demais. Aquele alcatrão
familiar e insidioso do ódio a mim mesmo avançou pelo meu corpo em
uma onda lenta.

—Eu sinto muito. Eu não deveria ter mencionado. Estou feliz que você
voltou. — Jules sorriu para mim, mas foi forçado agora.

—Está bem. — Eu olhei para a rua. A calçada que nós três já andamos
inúmeras vezes. Parecia outra vida. Mas era com quem eu tinha que fazer
as pazes. Porque se não o fizesse, eu perderia tudo o que eu tinha
deixado: minha família, o bar, Bell. Empurrei todos eles para o lado por
tanto tempo, que tinha esquecido o quanto eles eram importantes para
mim. Mas menos de uma semana atrás, e eu sabia que não queria colocá-
las em segundo plano para sempre. Eles eram importantes demais. Muito
vital. Então, eu teria que lidar com o passado.

—Ford, você se lembra da minha neta, Carissa? Ela era um pouco


mais nova que você, mas também cresceu aqui.

A menina de cabelos castanhos, que parecia ter vinte e poucos anos,


corou quando entregou uma sacola para Jules, e fui atingido pela
lembrança de uma menininha ajudando Jules a fazer cupcakes nos fins
de semana. —Sim, prazer em vê-la novamente, Carissa.

Ela abaixou a cabeça, mas sorriu. —Você era o namorado de


Violet, certo? — Assim que a última palavra saiu de sua boca, seus olhos
se arregalaram. —Desculpe, eu não deveria ter dito isso. Só quis dizer
que me lembro de vocês dois. Vocês eram um casal tão fofo.

CATHERINE COWLES
Eu lutei contra o estremecimento que se contorcia através dos meus
músculos. —Está tudo bem.

—Bem, é melhor eu voltar. — Carissa girou nos calcanhares e fugiu


de volta para a cozinha.

Jules soltou uma risadinha, me entregando a bolsa. —Essa garota é


tão volúvel quanto um gato selvagem, mas ela é uma boa padeira.

Eu forcei um sorriso. —Deve ter aprendido com a melhor.

—Agora não vá me bajular, Ford Hardy. Esses bolinhos são seus


únicos brindes.

—Eu pagarei da próxima vez. Eu prometo.

—Parece bom. Não seja um estranho. E diga a Bell que eu disse oi.

—Eu vou, — eu gritei por cima do ombro quando abri a porta e saí no
ar fresco da primavera. Voltei para The Catch, saco de papel na mão.
Cada loja que passei tinha outra lembrança, uma mistura de alegria e
dor. O restaurante que eu levei Violet para o nosso primeiro encontro
oficial. A florista onde eu tinha conseguido seu buquê para o baile. A loja
de pintar sua própria cerâmica que levamos Bell todos os anos no
aniversário dela. Meu peito ficou mais apertado a cada passo, mas eu não
lutei como costumava fazer. Em vez disso, deixei as memórias virem,
passando por mim de uma loja para a outra.

Meu olhar captou uma figura do outro lado da rua. Uma muito
familiar e não exatamente bem-vinda. Heather Kipton congelou no meio
do caminho, seu olhar se estreitando. Eu pensei que talvez houvesse um
lampejo de dor em seus olhos, mas agora eu só via ódio. Não foi o primeiro
olhar desdenhoso que foi enviado em meu caminho desde que voltei, mas
foi o mais feroz.

CATHERINE COWLES
Aquele dor familiar apertou minhas costelas, tornando difícil respirar
fundo. Era com isso que eu teria que conviver, dia após dia, enquanto
permanecesse em Anchor. Os olhares que acusavam sem dizer uma
única palavra. Forcei meus olhos a fecharem por um breve momento.
Valia a pena. Pela minha família. Por Bell. Não era para sempre, era
apenas um verão. Eu poderia suportar qualquer coisa por algum tempo
se isso significasse ganhar o perdão deles.

Eu pisquei, minha visão entrando em foco novamente, mas a Sra.


Kipton se foi, quase como se ela nunca tivesse estado lá. Olhei em volta
enquanto atravessava a rua, nenhum sinal dela em lugar algum. Deus,
eu estava enloquecendo. Ou talvez minha mente esteja simplesmente
procurando desculpas para deixar Anchor já. Mas isso não ia acontecer.

Revirei meus ombros para trás quando cheguei à porta do The Catch,
puxando minhas chaves e destrancando a fechadura. Fechei a porta
atrás de mim, trancando a fechadura de volta no lugar. As luzes estavam
acesas e a música estava tocando baixo no fundo. Vi Bell atrás do bar.
Seus cabelos estavam presos no alto da cabeça quando ela se esticou na
ponta dos pés para contar garrafas de licor em uma prateleira. Ela usava
uma camiseta que abraçava suas curvas de uma maneira que significava
tortura para todos os caras que passassem pelas portas deste lugar hoje.
The Catch estava impresso em letras vermelhas em estilo retrô no peito.
Engoli em seco, me forçando o olhar para o lado. Não me lembrava disso
em nenhum lugar do uniforme.

Eu limpei minha garganta, e Bell assustou, uma mão voando para o


peito que meus olhos não tinham conseguido desviar o olhar. —Nossa,
Ford. Dê um ataque cardíaco a uma garota, por que não?

Eu levantei a bolsa. —Eu venho trazendo presentes.

Os olhos de Bell se iluminaram de uma maneira que fez o verde brilhar


quando ela pegou a bolsa. —Jules? — Eu assenti. —Bolinhos de canela?

CATHERINE COWLES
—Sim. Mas é para mim.

—Eu vou pegar o café. — Ela fez uma pausa, seu sorriso vacilando um
pouco. —Como você quer o seu?

Foi um daqueles momentos em que nós dois percebemos que as


pessoas que éramos agora eram estranhas umas às outras. Não tomamos
café quando estávamos na vida um do outro. Deus, éramos bebês. Bebês
que tiveram que crescer rápido demais. —Preto. Eu tomo o meu preto.
Como você bebe o seu? — Não pude resistir a perguntar. Havia tanta
coisa sobre esta Bell que eu não conhecia, e queria mudar isso.

Os lábios dela se ergueram. —Com bastante açúcar e creme, pode ser


um milkshake.

Eu ri. —Sempre gostei desses doces.

—Algumas coisas nunca mudam. — Ela voltou para a cozinha.

Peguei guardanapos de trás do bar e puxei os muffins para fora do


saco quando ela emergiu. —Você está trabalhando no inventário?

—Sim. — Ela gemeu quando pulou em um banquinho e pousou


nossas canecas. —É a desgraça da minha existência.

—Bem, que bom que estou aqui. É muito mais facil com ajuda.

Bell mordeu seu muffin e gemeu. Eu desviei meus olhos. —Estes são
bons demais. Eu tenho um acordo mental comigo mesma. Só posso
entrar no The Mad Baker duas vezes por semana. Eu sempre falhei.

Eu ri e dei uma mordida no meu muffin. Era ainda melhor do que eu


lembrava. —Deus, eu senti falta disso.

Bell se mexeu na cadeira e não disse nada. O que ela poderia dizer?
Que foi minha própria culpa que eu senti falta deles? Que isso me serviu
certo? Eu mudei de assunto. —O que você acha de fazer audições para

CATHERINE COWLES
bandas na próxima semana? Posso colocar um anúncio no jornal, talvez
online de alguma forma aqui?

Bell tomou um gole de café. —Parece bom. Também devemos colocar


alguns folhetos pela cidade.

—Boa ideia. — O silêncio preencheu o espaço ao nosso redor. Eu comi


um pedaço do meu muffin. —Qual seu filme favorito?

Bell inclinou a cabeça para o lado, os lábios tremulando como se


estivesse segurando uma risada. —Muito aleatório?

Dei de ombros. —Estamos começando de novo, preciso fazer


perguntas se vou conhecer essa nova Bell. — Eu levantei uma
sobrancelha. —Ela parece um personagem obscuro, mas as preferências
de seu filme podem mudar isso.

Bell riu. —The Princess Bride7. — O mesmo de sempre. Havia algo de


reconfortante nisso. Poderíamos ser pessoas diferentes, mas havia partes
de nós iguais, que se reconheciam. —E você?

— Die Hard8.

— O melhor filme de Natal de todos os tempos.

Girei no meu assento para encará-la. —Sim! Por que as pessoas


argumentam que não é um filme de Natal?

Ela sorriu. —Eu assisto todos os anos.

Minha mente se encheu de uma imagem de Bell enrolada no sofá,


cercada por travesseiros e cobertores, comendo biscoitos de Natal e

7
No Brasil se chama a Princesa Prometida (1988). Uma aventura de conto de fadas sobre uma linda jovem,
Buttercup, e seu amor verdadeiro. Um menino, Westley, vira pirata para salvar sua amada das garras de
um príncipe terrível. Para se reencontrar, o casal deve lutar contra os demônios de um reino místico.
8
No Brasil se chama Duro de Matar. Die Hard é uma série cinematográfica estadunidense de filmes de ação que
teve início em 1988 com o filme-título, baseado no romance Nothing Lasts Forever de Roderick Thorp. A série é
estrelada pelo ator e produtor Bruce Willis como o policial John McClane, um detetive do Departamento de Polícia
de Nova Iorque, que acaba envolvendo-se em crises violentas na grande metrópole.

CATHERINE COWLES
assistindo Bruce Willis chutar um traseiro. Naquele momento, percebi
que não sabia como eram os Natais. Eu conhecia todos os detalhes de
como eram as celebrações antes, desde a festa de Natal da família Kipton,
até a decoração da casa de gengibre de Violet e Bell, como os pais
costumavam pendurar as meias de Vi e Bell nas extremidades de suas
camas. Mas parecia que Bell tinha pouco ou nenhum relacionamento
com os pais nos dias de hoje.

Eu odiava pensar que ela estava sozinha em um dia que sempre amou.
A culpa voltou a mim com a ideia de que poderia ser minha culpa. Eu
limpei minha garganta. —Quais são suas outras tradições de Natal?

Não havia sinal de tristeza em sua expressão. Em vez disso,


seu sorriso cresceu mais, torcendo algo na cavidade do meu peito. —Na
véspera de Natal desfilar pela cidade, é claro. Kenna e eu temos uma festa
do pijama na casa de Caelyn. Todas nós trazemos sacos de dormir para
a sala e acampamos ao lado da árvore. As crianças adoram. De manhã,
trocamos presentes, e Caelyn faz um banquete que deixaria a Casa
Branca com inveja.

—Parece um Natal perfeito.

O sorriso de Bell ficou gentil. —Isto é.— Ela tomou outro gole de café.
—E você? Sua família vai para LA, certo?

Isso nunca me incomodou antes, pedindo para minha família vir para
LA ou algum outro destino para as férias. Mas agora, voltando a Anchor,
vendo tudo o que eu tinha tirado de meus pais e irmão no Natal, eu me
senti um idiota egoísta. —Sim. Eu normalmente os levo para lá, ou às
vezes vamos para o Havaí ou o México.

O rosto de Bell se torceu em uma expressão adorável. —Parece errado


estar de biquíni no Natal.

Eu ri. —As margaritas à beira da piscina fazem valer a pena.

CATHERINE COWLES
—Dê-me meu chocolate quente e caminhadas geladas pela praia a
qualquer dia.

Uma pontada aguda atravessou meu peito. Eu senti falta disso.


Especialmente quando eu fui com Trouble. Ela estava sempre em busca
de algum tipo de tesouro: vidro do mar, uma concha única, um pedaço
de madeira flutuante em uma forma fria. Nós nos perdíamos na praia por
horas. Vi nunca quis fazer aquelas caminhadas depois que o tempo
mudava. Ela sempre foi delicada e, ao que parecia, muito frágil para este
mundo.

Eu pisquei de volta ao presente. Bell olhou para mim com um olhar


de preocupação. —Você está bem?

—Sim. Apenas... perdido em memórias, eu acho.

Bell colocou a mão suavemente sobre a minha. Foi a primeira vez que
ela me tocou voluntariamente, a primeira vez que ela estendeu a mão. O
calor que a encheu fluiu em minha mão. Ela abriu a boca para dizer
algo, mas depois se conteve. Ela apertou minha mão e se levantou. —
Obrigada pelo muffin.

—A qualquer momento. — Eu assisti enquanto ela se afastava,


sentindo o espaço entre nós se expandir a cada passo que ela dava. Eu
odiava cada centímetro dessa distância.

CATHERINE COWLES
12

EU ME AGACHEI, passando minhas mãos sobre a madeira gasta do


armário. Precisava seriamente de amor e carinho, mas eu poderia dar
isso. Enquanto olhava para a peça, eu podia imaginá-la voltando à vida
diante dos meus olhos. Lixá-lo, substituindo o puxador do gabinete
quebrado. Talvez eu o pinte de verde-azulado. Essa era a cor perfeita para
esta peça.

—Isabelle?

Eu estremeci com o som do nome que não parecia mais como o meu.
Levantei, me estremecendo. —Ei mãe. O que você está fazendo aqui? —
As vendas de garagem não eram exatamente os programas típicos da
minha mãe. Eles eram um dos meus lugares seguros. Eu me tornei uma
mestre na determinação dessas áreas em minha pequena ilha nos
últimos anos. Torne-se hábil em evitar possíveis desentendimentos com
meus pais.

Ela alisou as rugas invisíveis no seu casaco. —Eu só estou fora para
o meu passeio matinal. — Ela olhou para a variedade de mercadorias no
gramado dos Perkins. —O que você está fazendo aqui? Seu trabalho paga
tão pouco que você precisa comprar os restos de outras pessoas?

Apertei meus dentes de trás. —Você nunca sabe que tesouros pode
encontrar em uma venda de garagem.

Minha mãe torceu o nariz como se cheirasse algo especialmente


rançoso. —Espero que você não esteja pensando em colocar essa peça
em seu pequeno apartamento.

CATHERINE COWLES
—Não se preocupe, mãe. Não é da sua conta.

Sua coluna se endireitou. —Você sempre será minha


preocupação, Isabelle.

—Por favor, não me chame assim.

—Por quê? É o seu nome.

—Eu já disse várias vezes, eu prefiro Bell.— Mas ela nunca concordou
com meus pedidos, apenas continuou me chamando de Isabelle. Meu pai
parou de dizer meu nome completamente, como se, ao fazer isso, ele não
tivesse que irritar a mim ou minha mãe. Mas isso me deixou
dolorosamente triste.

—Eu te dei esse nome. E não lhe dei o nome de algo que você encontra
no campanário de uma igreja ou no guidão de uma bicicleta. Chamei você
de Isabelle, que é um nome bonito. Não entendo por que você não quer
usá-lo.

—Eu já expliquei isso para você muitas vezes, você simplesmente não
quer ouvir. — Eu mantive minha voz calma, mesmo que estivesse
sentindo tudo menos isso. Eu disse aos meus pais que sentia que
precisava de um novo começo. Pedi que me chamassem Bell em vez de
Isabelle. Até cai em lágrimas quando expliquei o porquê. Isso não me
levou a lugar algum com ela.

Minha mãe bufou. —É apenas infantil.

—Tudo bem, mãe. Eu tenho que ir. Eu te vejo por aí. Diga ao papai
que eu disse oi.

—Espere.

—Sim?

CATHERINE COWLES
Ela puxou a gravata do seu casaco. —Você já ouviu falar que Ford
Hardy voltou?

Eu mantive meu rosto com uma máscara cuidadosamente em branco,


não dando uma única dica de que a pergunta dela me enviou de volta
mais de uma década. Até um momento em que ela me disse que Ford
havia saído e não queria nada comigo. Eu não tinha acreditado nela, mas
minhas chamadas não atendidas e mensagens de texto não devolvidas
haviam me provado o contrário. Eu conheci o olhar da minha mãe. —
Sim.

—Você não verá esse garoto, Isabelle.

Soltei uma risada estrangulada, mas o som era feio e distorcido. —O


que você quiser, mãe. — Eu me virei e fui direto para Laney Perkins,
ignorando o som de indignação que minha mãe fez quando eu fui. Ela
não tinha mais controle sobre mim.

—Ei, Bell. Como você está?

—Bem, Laney. Quanto você está pedindo pelo armário ali?

Laney estremeceu. —Essa coisa está em nossa garagem há quase dez


anos. Eu deveria estar pagando para você tirá-la das minhas mãos.

Eu sorri, mas vacilei um pouco, ainda não conseguindo me livrar das


palavras de minha mãe. —Que tal dez dólares, e eu voltarei em uma ou
duas horas com um caminhão?

—Você conseguiu um acordo. Mal posso esperar para ver como você o
transformou.

—Espero que eu possa deixa-lo bonito. Vejo você um pouco mais


tarde.

Desci a rua, abandonando meu carro e optando por ir a pé.


Os Hardys estavam a poucos quarteirões de distância, e eu esperava

CATHERINE COWLES
poder convencer Frank a me emprestar sua caminhonete para levar o
armário de volta à oficina atrás de The Catch. Houve uma leve pontada
no meu peito com o pensamento. Eu costumava subornar Frank para me
ajudar a carregar e desfazer qualquer peça de mobiliário que eu tivesse
comprado, mas desde seu derrame, ele simplesmente não era estável o
suficiente. Mas ele estava ficando mais forte a cada dia, e eu tinha que
me apegar a esse fato.

Eu corri pelo caminho familiar de tijolos e toquei a campainha. A porta


se abriu e Kara sorriu para mim. —Bell! Entre aqui. Você esteve ausente
demais desta casa ultimamente.

Entrei e me fundi no abraço quente de Kara. —Desculpe, Kara, as


coisas ficaram loucas.

—Eu imagino. — Ela me segurou, sussurrando no meu ouvido. —Eu


não sabia que ele estava voltando para casa. Eu não o teria impedido,
porque Deus sabe que quero meu filho o mais próximo possível, mas eu
daria a você um aviso para que você pudesse se preparar.

Sua confissão surpresa me fez respirar com dor. Essa mulher me


conhecia tão bem. Entendeu que eu estaria sofrendo, podendo até ter me
sentido traída. Mas, é claro, ela não sabia. Ela era muito gentil, muito
empática, para deixar que algo assim acontecesse sem falar comigo. —
Obrigado, mamãe K.— Eu não a chamava assim há anos, mas parecia
apropriado agora. —Estou feliz que você o tenha de volta.

Eu estava feliz por ela. Ela estava sem Ford por perto por muitos anos.
Houve uma vibração no meu peito, uma pitada de saudade. O
conhecimento de que eu também queria Ford na minha vida. Mas eu
estava com muito medo de alcançá-lo.

Kara soltou seu abraço, mas segurou meus ombros. —Te amo como
se você fosse minha, Bell.

CATHERINE COWLES
Minha voz engasgou. —Amo você também.

—O que está acontecendo com toda essa tagarelice e confusão aqui?


— Frank perguntou ao sair da sala de estar.

Kara acenou com a mão na frente do rosto. —Ah, e você quieto.


Estamos apenas dizendo uma a outra o quanto nos amamos.

Frank revirou os olhos para o céu, mas sabiamente não disse nada
sobre nossas expressões chorosas. Ele voltou para mim. — Você está aqui
para eu dar uma surra em você no gin rummy9 pela milionésima vez?

Eu ri e estalei os dedos. —Eu não me importaria de uma rodada ou


duas, mas eu realmente vim para ver se eu poderia subornar você pela
sua caminhonete por cerca de uma hora.

A expressão de Frank se iluminou. —Você encontrou uma nova peça?

—Sim. Um armário em uma venda de garagem a alguns quarteirões.


Vai precisar de muito trabalho. Talvez você possa vir à loja na próxima
semana e ouvir meu plano de ataque.

Frank esfregou as mãos. —Eu adoraria. Vou enlouquecer aqui.

Kara limpou a garganta. —Desculpe-me? — Eu não consegui segurar


minha risada. Frank iria receber por esse comentário.

—Te amo mais que a vida, querida. Mas eu vou enlouquecer se você
me manter trancado por muito mais tempo.

Kara bufou, mas sua expressão suavizou, e ela lhe deu um beijo
rápido. —Você tem sorte de eu te amar, e que estou disposta a levá-lo ao
The Catch na próxima semana.

9
Gin Rummy é um jogo de baralho normalmente jogado entre 2 a 4 pessoas. Muito parecido com o
buraco, é o vencedor aquele que conseguir baixar todas as cartas de sua mão.

CATHERINE COWLES
—Você é a luz da minha vida. — Kara zombou e Frank riu. —Vamos
lá, Bell. Me mostre duas mãos de gin rummy, e depois eu jogarei as
chaves da caminhonete para você.

Eu segui Frank até a sala de estar. Ele se acomodou na poltrona e eu


me sentei no sofá. Deslizei uma daquelas bandejas de TV que se
escondiam ao lado do sofá e a instalei. Tínhamos jogado inúmeras mãos
de rummy nessa bandeja assim que Frank estava bem o suficiente para
passar os dias na poltrona reclinável em vez de na cama.

— Então...— Frank começou enquanto baralhava o baralho de cartas.

—Sim?

—Como estão as coisas no The Catch?

Uma rigidez que eu não conseguia lutar invadiu meus músculos. —


Está indo bem. Ford tem algumas boas ideias.

Frank começou a distribuir cartas. —Isso é bom. Ele está te tratando


bem?

— Ele é o cavalheiro perfeito. — Ele era. Eu tinha sido a única a tentar


o meu melhor para mantê-lo à distância. Não era justo, eu sabia, mas era
a única defesa que eu tinha.

—Boa. Agora, não vou ser o perfeito cavalheiro. — Frank sorriu, um


sorriso perverso tão parecido com o do filho. —Prepare-se para ser
derrotada!

Perdemos rodada após rodada de gin rummy, rindo até meu estômago
doer e apenas curtindo a conversa fiada e relembrando. O tempo passou.
Levantei os olhos das minhas cartas e espiei o relógio na parede. —Ok,
velho, esta tem que ser minha última mão.

—Ela está me chamando de velho, isso significa que ela não tem nada.

CATHERINE COWLES
Eu disse quando levantei uma carta da pilha de empates. Minha boca
formou um sorriso quando eu lentamente me levantei.

O rosto de Frank caiu. —Oh, não ouse.

Com um floreio dramático, virei as cartas para revelar três rainhas. —


Gin.

—Você é uma oportunista, — ele acusou. Comecei minha dança da


vitória muito elaborada, que incluía minha versão do homem correndo e
alguns movimentos de laço acima da minha cabeça. —Você sabe, não é
educado jogar sua vitória na cara do perdedor.

Quando comecei a rir, e alguém raspou a garganta na porta, e eu girei.


Ford encostou-se na parede, um sorriso que parecia conter uma risada
em seu rosto. Ele usava um suéter azul marinho que abraçava aqueles
ombros largos e o peito definido, e jeans escuros que se agarravam às
coxas musculosas. Engoli em seco. —Oi. — A saudação saiu como um
grunhido.

—Essa foi uma dança da vitória.

Minhas bochechas esquentaram. —Temos que comemorar as vitórias


na vida.

—Soa como um bom plano para mim.

Arrastei os meus pés. —Bem, é melhor eu ir. — Eu me virei para


Frank. —Mais uma vez obrigado por me emprestar sua caminhonete.

Frank se levantou e jogou as chaves para Ford. —Por que você não
dirige para Bell? Você pode ajudá-la a colocar o armário dentro e fora da
caminhonete.

Meus olhos se estreitaram em Frank. —Eu ia ligar para Kenna para


me ajudar.

CATHERINE COWLES
—Mas o Ford está aqui. Então, por que incomodar Kenna?

Ford me olhou com cautela. —Estou feliz em ajudar.

Meu olhar pulou pela sala, procurando alguma desculpa invisível,


uma maneira de escapar. Não havia nada. —Tudo certo. Obrigada.

Ford riu. —Parece que eu acabei de me oferecer para lhe dar um canal
radicular sem anestesia.

Eu fiz uma careta para ele. —Eu só não quero que você tenha que sair
do seu caminho na sua manhã de folga.

—Bell. — Ford deu alguns passos em minha direção. —Eu quero


ajudar. Está bem.

Engoli a emoção acumulada no fundo da minha garganta.


Tantas coisas diferentes nadando por aí, e esse maldito desejo mais forte
de todos. Eu não queria nada além de me atirar em Ford, tê-lo em meus
braços e me dizer que tudo ficaria bem. Endireitei minha coluna. Eu não
precisava disso. Eu tinha feito tudo bem sem ele. Eu não precisava dele
agora.

—Vamos lá. — Meu tom era cortante, frio, mas não podia ser ajudado.

Ford saiu de sua casa de infância. Olhei para trás para acenar para
Frank e vi um olhar de preocupação gravado nas linhas de seu rosto.
Porcaria. Eu não queria colocar nenhum estresse adicional nos ombros
do homem, essa era a última coisa que ele precisava. Forcei um sorriso e
depois me virei para a garagem.

Ford liberou as fechaduras da caminhonete de seu pai. —Então, onde


estão esses móveis que estamos pegando?

— Apenas a alguns quarteirões de distância. No Cedar. — Subi no


banco do passageiro e me afivelei.

CATHERINE COWLES
A viagem para a casa dos Perkins foi silenciosa, o silêncio fazendo a
viagem parecer duas vezes maior. Cada segundo fazia minha pele coçar
um pouco mais. Eu odiava o jeito que as coisas estavam, parecia errado e
não natural, mas eu não tinha como consertar isso. Eu acho que é por
isso que eu amava trazer essas peças antigas de volta à vida. Havia tanta
coisa neste mundo que não tínhamos controle, coisas, pessoas e
relacionamentos que estavam destruídos sem possiblidades de consertar.
Mas essas mesas, armários, cadeiras esquecidas... aquelas que eu
poderia consertar, aquelas que eu poderia dar uma segunda chance.

Ford parou a caminhonete em frente à casa dos Perkins. —É isso? —


Ele inclinou a cabeça para o armário com uma placa de venda.

—Sim.— Soltei o cinto de segurança e peguei a maçaneta da porta.

As sobrancelhas dele se juntaram. —Parece que está muito estragado.


O que você vai fazer com isso?

Eu me senti muito vulnerável falando para a Ford sobre o que mais


gostava de fazer neste mundo. Era muito pessoal, muito íntimo.
Compartilhar meus filmes e tradições de férias favoritos era bom, mas eu
precisava de limites, fronteiras. Eles me manteriam a salvo quando Ford
voltasse para LA. —Estou apenas pegando para um amigo.

Ford me olhou como se não acreditasse em uma palavra que eu tinha


dito, mas deu de ombros. —Tudo bem então. Vamos carregá-lo.

Entre nós dois, levantá-lo na carroceria da caminhonete não foi tão


ruim. Frank tinha uma corda na cabine que usamos para amarrar o
armário e depois partimos. Cinco minutos depois, estávamos entrando
no estacionamento do The Catch.

Soltei o cinto de segurança. —Deixe-me pegar um carrinho na loja, e


eu já volto.— Eu corri em direção ao grande galpão que ficava na beira
do estacionamento. Apenas alguns passos longe de Ford, e eu podia

CATHERINE COWLES
respirar mais facilmente. Foi como se os pesos que estavam nos meus
pulmões finalmente tivessem aumentado.

Respirei fundo quando entrei na loja, os aromas de madeira e metal


enchendo meus pulmões. Eu deixei o conforto deles tomar conta de mim
e tentei desesperadamente fundi-lo comigo mesma, segurá-lo perto
para que ele pudesse me levar pelos próximos dez minutos. Peguei o
carrinho da esquina e abri as grandes portas duplas. Quando voltei a
caminhonete, Ford já havia desamarrado o armário. —Obrigada.

—Sem problemas.

Devagar e com cuidado, levantamos a peça do caminonete e a


colocamos no carrinho. Guiá-lo para o galpão não foi muito difícil, só
tivemos que evitar os buracos no estacionamento. Colocá-lo no centro da
loja me fez dar um suspiro de alívio. Nós terminamos.

Ford olhou em volta. —Este lugar não mudou nada.

Memórias de Ford e eu vendo o pai trabalhar em vários projetos me


encheram a mente. Sentávamos no banco contra a parede e
entregávamos as ferramentas de Frank quando ele as pedia. Inclinei
pegando o carrinho, colocando-a no canto. —Eu tenho mantido tudo
arrumado, para que esteja pronto para ele quando ele estiver com seus
projetos novamente.

Ford estava subitamente perto, colocando a mão no meu ombro. Seu


toque me congelou no local, queimando minha pele. Eu queria tanto me
inclinar ao toque, pedir silenciosamente mais. — Obrigado, Bell. Por
tudo. — Ele soltou um som de frustração, sua mão caindo, me deixando
fria. —Obrigado nem chega perto o suficiente. Eu gostaria que houvesse
palavras que se encaixassem, mas tudo o que eu proponho é tão pequeno.

Meu peito apertou. —Você não precisa me agradecer, Ford. Adoro eles.
Farei o que puder para ajudar.

CATHERINE COWLES
Ele assentiu. —Vamos lá, eu vou levá-la de volta para o seu carro.

—Obrigada. — Dei de ombros para o casaco que eu estava vestindo.


O sol estava forte e mexer com os móveis só me deixaram mais quente.
—Deixe-me jogar minha jaqueta no andar de cima, e eu já volto.

—Eu vou trancar enquanto você faz isso.

Joguei minhas chaves para Ford. —A rosa é para o galpão.

A testa dele arqueou. —Rosa para um galpão com ferramentas?

Eu ri enquanto me afastava. —As meninas também podem


construir coisas, Ford.

Subi as escadas externas duas de cada vez até chegar ao patamar do


lado de fora do meu apartamento. Eu diminuí a velocidade e olhei para
baixo. Havia um pacote lá, embrulhado em papel marrom e amarrado
com barbante, um pedaço de papel embaixo da corda. Eu levantei,
puxando a nota livre. Não a esqueça.

Minha pele superaquecida ficou fria quando eu captei as palavras


rabiscadas e desleixadas. Que diabos? Minhas mãos tremiam levemente
quando eu puxei o barbante e rasguei o papel. Quando o embrulho caiu,
eu respirei fundo. Era um lenço que eu não via há pelo menos uma dúzia
de anos. Rosa pálido e xadrez azul. Um dos favoritos de Violet.

Meu olhar correu do lenço para o estacionamento e voltou. Eu dei


meia volta e corri escada abaixo, esquecendo tudo sobre colocar minha
jaqueta no meu apartamento. Atravessei o estacionamento a passos
largos enquanto Ford se dirigia a caminhonete de seu pai.

—Você estava no bar hoje? — Minha pergunta saiu um pouco mais


dura do que o pretendido, mas eu não conseguia segurar a raiva que
fervia sob minha pele.

CATHERINE COWLES
A testa de Ford franziu. —Sim, por cerca de dez minutos antes de eu
ir à casa dos meus pais. Por quê?

Eu levantei o lenço. —Essa é sua ideia doentia de presente? Como se


eu fosse esquecer Vi!

O corpo de Ford pareceu travar quando ele se concentrou no lenço. O


pomo de Adão dele balançou quando ele engoliu, olhando para longe do
tecido e de volta para mim. —Eu não deixei nada para você. Isso estava
à sua porta?

Levei um minuto para levá-lo, estudar suas características para


qualquer sinal de mentira. Não vi nada além da verdade me encarando.
—Sim. Com uma nota que dizia: 'Não a esqueça'.

Ford deu um passo mais perto, fazendo o inventário dos itens em


minhas mãos. —Acho que deveríamos chamar a polícia. Isso não é
normal, Bell. Para alguém vir à sua casa e deixar isso? E como eles
conseguiram isso? É da Vi, certo?

Meu estômago torceu em um aperto doloroso. —Sua favorita.

—Isso é doentio. Precisamos ligar para alguém.

Era doente. Doente e cruel. Meu queixo endureceu, voltando ao meu


encontro com minha mãe naquela manhã. Ela não faria algo assim, faria?
Eu balancei minha cabeça um pouco. —É apenas alguém que não tem
senso comum. Provavelmente pensaram que estavam fazendo algo legal e
não perceberam o quão assustador isso seria.

—Bell…

Eu levantei uma mão. —Está tudo bem, Ford. Vamos pegar meu carro.

Um músculo em sua bochecha vibrou. —Eu não gosto disso. Prometa-


me que pelo menos dirá à equipe para ficar de olho em quem está por
perto.

CATHERINE COWLES
—Certo. Agora vamos. — Eu não conseguia evitar o arrepio quando
entrei na caminhonete, meu olhar varrendo a rua e a praia, procurando
algo fora do lugar. Mas tudo estava como deveria ser.

CATHERINE COWLES
13

EU ENGOLI UM PALAVRÃO quando Bell apareceu no corredor de The


Catch. A música e o barulho dos clientes comendo e bebendo pareciam
criar um efeito distorcido, parecido com um túnel, enquanto meus olhos
a observavam. A mulher estava tentando me matar aos poucos.

Todos os dias da semana passada, havia algo de que eu não conseguia


tirar os olhos, mas nunca era o que eu esperava. Ela não se vestiu com
os típicos uniformes de bar ou roupas que gritavam por atenção. Ela era
simplesmente ela mesma, uma mistura de estilos com uma pitada de algo
que era único de Bell.

No entanto, esta noite foi a pior. E o melhor, os pensamentos que


circulavam em meu cérebro estavam me enviando direto para o inferno.
Ela usava um vestido de malha preto que se agarrava ao seu corpo de
uma maneira que fazia meus olhos traçarem cada curva. Vários colares
passavam pelo pescoço, entrando e saindo do decote e parecendo se
entrelaçar com as tatuagens que apareciam por baixo do vestido. E tudo
estava equilibrado com um par de Chucks nos pés, como se ela estivesse
dizendo que não se importava com o que era esperado, ela ficaria
confortável.

Eu adorei. Era a Isabelle que eu lembrava, mas que ganhou vida de


uma maneira nova. Isso me fez sentir como se a distância entre nós não
fosse tão grande, afinal. Mas eu também odiava porque o desejo que
surgia toda vez que eu olhava para Bell foi rapidamente seguido por uma
culpa que corroía cada parte de mim. Esta era a irmã mais nova de Vi.
Eu não poderia estar olhando para ela dessa maneira.

—Cara, você tem um pouco de baba.

CATHERINE COWLES
A voz de Crosby me tirou da minha exploração. Eu limpei minha
garganta. —Você precisa de outra cerveja?

Ele riu. —Eu estou bem com esta. Você deveria ir à fogueira depois de
fechar.

—Fogueira? — Essas reuniões costumavam ser eventos regulares para


nós, os locais, mas eu não tinha visto evidências de uma desde que
retornei.

— Sim, as noites de domingo são perfeitas porque vocês fecham cedo,


e a multidão de turistas já está voltando para o continente.

Eu fui a muitas ao longo dos anos, quase sempre com Violet do meu
braço, amando a sensação dela tão perto enquanto o fogo queimava
contra a tela de fundo que era o oceano escuro. Tentei tocar esse
sentimento, agarrar o sentimento de amá-la, mas não consegui. Não fui
capaz em anos. Era como uma fotografia agora, uma que eu podia pegar
e olhar, ficar tão feliz por tê-la, mas não pude entrar nela.

Talvez o tempo tivesse entorpecido tudo, o bom e o ruim. Talvez fosse


porque eu não era o mesmo garoto que a amava. Uma das coisas que foi
mais difícil quando pensava sobre tudo o passou. Se eu tivesse desviado
trinta segundos antes, Vi e eu ainda estaríamos juntos? Ou a faculdade
teria nos separado algumas vezes? Era como olhar para um livro de
escolha da sua própria aventura. Eu podia ver infinitas possibilidades de
como tudo poderia ter acontecido, desde casado com cinco filhos até o
final do primeiro ano. Mas nenhum deles parecia real. Todos pareciam a
vida de outra pessoa.

—Ford, você está tendo um derrame, cara? É apenas uma fogueira,


não estou pedindo que você me construa um motor de propulsão a jato.

Eu sorri para Crosby e passei a mão sobre o meu rosto barbeado —


Desculpa. Foi apenas uma daquelas semanas.

CATHERINE COWLES
Crosby me sorriu. — Gostar da irmãzinha da sua namorada morta faz
isso com um homem. — Meu corpo deu um pequeno estremecimento com
as palavras dele, e Crosby fez uma careta. — Desculpe, isso saiu um
pouco mais honesto do que deveria.

— Não é desse jeito. — Era totalmente assim. Mas eu precisava


enterrar essa merda e fazê-lo rápido, porque a última coisa que eu
precisava no caminho para ganhar o perdão de Bell era eu babando sobre
ela como um cão de guarda patético. Ela era linda, e eu sempre a amei
como amiga. Era compreensível que meu corpo e cérebro estivessem
enlouquecendo ao conhecer essa nova e crescida Isabelle. Eu só precisava
colocá-la firmemente de volta na categoria irmãzinha.

Crosby colocou uma batata frita na boca. — Ela olha para você da
mesma maneira.

Meus olhos se voltaram para ele. — Não vá remexendo a merda. —


Bell não me olhou assim. Ela olhou para mim com uma mistura de desejo
e raiva, como se quisesse o que costumávamos ter, mas soubesse que era
impossível. E isso partiu meu maldito coração.

Crosby levantou as mãos. — Ok, ok. Vocês descobriram quem deixou


essa merda na sua porta?

Meu queixo endureceu. Nós não tínhamos. E Bell estava levando tudo
muito a sério. Eu coloquei Caelyn, Darlene e Hank em alerta, e eles
estavam de olho em todos os clientes que espreitavam onde não
deveriam estar. Até agora nada. — Não sei porra nenhuma.

— Talvez Bell esteja certa, e foi apenas alguém que pensou que estava
fazendo algo legal e não percebeu o como era assustador. — Crosby não
parecia acreditar em uma palavra que estava saindo de sua boca.

CATHERINE COWLES
Peguei um copo e servi mais duas cervejas, entregando aos clientes no
bar. — Estamos todos atentos, então, quem quer que seja, tem que saber
que ele não pode continuar com essa merda.

— Então é melhor você ir a esta fogueira.

— Por quê? — Todos os meus músculos pareciam ficar um pouco mais


tensos.

Crosby sorriu e tomou o último gole de sua cerveja. — Porque Bell e


suas amigas vão.

Meu queixo se moveu para frente e para trás. — Eu estarei lá assim


que fecharmos.

A S P EDRAS RANGIAM sob meus pés enquanto eu caminhava do pátio


para a praia. O fogo estava ardendo alto, e cerca de duas dúzias de
pessoas circulavam ao redor dele. Kenna e Caelyn estavam rindo com
Darlene. Ethan estava conversando com Crosby. E muitos outros rostos
familiares estavam aglomerados em volta das chamas.

Mas meus olhos procuraram uma figura em particular, e quando se


fixaram nela, meu corpo inteiro reagiu. Ela estava de pé, afastada da
fogueira, com os braços em volta da cintura, no que parecia ser uma
intensa discussão com meu irmão.

Hunter estendeu a mão, agarrando os braços dela enquanto ele


parecia implorar que ela o ouvisse. Eu dei dois passos à frente antes de
me parar, o desejo de arrancar as mãos dele de seu corpo era tão forte.
Mas por quê? Ele não a estava machucando. Eles obviamente tinham
merda que precisavam trabalhar, mas vê-lo tocá-la... queimou dentro de
mim.

CATHERINE COWLES
Ambos pareciam congelar quando Hunter disse algo que eu não pude
ouvir a Bell. Depois de um momento, a cabeça dela caiu no peito dele, e
ele a abraçou. Eu queria desviar o olhar, mas não consegui. Eu nunca
fui uma pessoa excessivamente ciumenta. Mas não havia como negar que
era exatamente o que pulsava em minhas veias agora.

Eu me forcei a me virar, a seguir em direção ao fogo. Crosby levantou


uma mão e com um gesto me chamou. Eu movi o queixo em direção a
ele e Ethan. — Ei pessoal.

Ethan levantou uma cerveja. — Você quer uma?

Eu balancei minha cabeça. — Não, eu estou bem. — Uma cerveja só


azedaria no meu estômago neste momento.

— Ford, você pratica Stand Up Paddle? — Crosby perguntou.

— Faz muito tempo, mas eu costumava praticar sim.

— Você quer ir amanhã? Eu perguntaria a esse idiota também, mas


ele começa a trabalhar muito cedo para mim.

Ethan riu. — Alguns de nós têm que trabalhar horas regulares.

Crosby sorriu. — Vantagens de administrar minha própria empresa.

Ethan inclinou a cerveja na direção de Crosby. — Não acho que uma


cabana atrás da The General Store e um advogado sejam considerados
como uma empresa, amigo.

— Ei, agora, — reclamou Crosby, — eu tenho um assistente, então


tecnicamente existem dois funcionários. Portanto, é uma empresa.

Chutei uma pedra aos meus pés. — É bom saber que tenho alguém
que pode me socorrer se eu tiver problemas.

— A qualquer momento.

CATHERINE COWLES
Meu olhar captou um movimento pelo canto do meu olho. Era como
se meu cérebro já estivesse treinado para procurá-la. Bell apareceu junto
ao fogo novamente, Hunter ao seu lado, não se tocando, mas perto. Bell
deu um passo em direção às chamas, estendendo as mãos para aquecê-
las. Ela precisava da porra de uma jaqueta. Estávamos quase no verão
agora, mas ainda estava frio à noite.

Comecei a me aproximar, para lhe dar meu casaco, quando algo na


maneira como a luz do fogo dançava sobre sua pele chamou minha
atenção. Foram as tatuagens, mas não. Algo embaixo delas, talvez? Como
se a pele quase tivesse um tom prateado em alguns lugares. Parecia em
relevo. Meu cérebro juntando as peças aos trancos e barrancos,
rapidamente e muito devagar. — Cicatrizes. — A palavra parecia ser
sair da minha garganta, crua e irregular. — Ela tem cicatrizes.

Olhei para Crosby e os caras em busca de respostas, como se eles


soubessem o porquê, como.

— Você não sabia? — Ethan perguntou.

— Saber o que? — Eu rosnei.

A mandíbula de Ethan abriu quando ele olhou para Bell e depois de


volta para mim. — Ela tem várias cicatrizes do acidente. Tem aquelas
tatuagens para cobri-las.

— Eu, eu tenho que ir. — O mundo parecia se fechar ao meu redor


enquanto eu contornava o fogo, apenas um pensamento martelando em
minha mente repetidamente. Eu a machuquei. Eu não apenas tinha
roubado a irmã de Bell, como a marcado pelo resto da vida.

Sangue rugiu em meus ouvidos quando cheguei a Bell. Eu não


conseguia ver ninguém além dela, não conseguia ver nada além daquelas
tatuagens. Ethan estava errado, eles não cobriram as cicatrizes,
pareciam enrolar ao redor delas como se a pele e a tinta manchadas

CATHERINE COWLES
se combinassem para formar uma única imagem. Estendi a mão e agarrei
seu ombro. — Bell— O nome dela foi estrangulado pela emoção tentando
escapar da minha garganta.

Os olhos de Bell brilharam. — O que está acontecendo?

— Eu preciso falar com você.

— OK...

Ela não conseguiu dizer mais nada antes de eu a arrastar de volta


para o pátio. As luzes do estacionamento lançavam um brilho suficiente
para que eu pudesse ver o caminho e, quando parei, vi a preocupação
escrita em todo o rosto de Bell também. Ela era boa demais. Pura demais.
Depois de tudo o que eu fiz, ela ainda estava preocupada comigo. — Bell...

Ela agarrou minhas mãos, sua pele tão suave e delicada contra a
minha, carne que eu rasguei e parti. — O que está acontecendo?

— Eu sinto muito...

As sobrancelhas dela se juntaram, claramente não entendo. — Por


quê?

— Deus, Bell. Por tudo. Por dirigir muito rápido na chuva. Por brincar
com você e Vi em vez de observar a estrada com cuidado. Por não reagir
mais rápido. — Minha voz engasgou. — Eu não sabia. Eu não sabia que
você se machucou. — Estendi a mão, incapaz de me conter, colocando a
palma da mão sobre seu coração, exatamente onde suas tatuagens e
cicatrizes apareciam em seu vestido. — Suas cicatrizes. Eles são minha
culpa. Claro que você não pode me perdoar. Você tem que viver com o
lembrete de que eu te deixei assim todos os dias.

Bell se afastou de mim, os olhos piscando rapidamente antes que o


verde parecesse brilhar com fogo. — Você acha que eu estou com raiva
de você por causa das minhas cicatrizes?

CATHERINE COWLES
Minha boca se abriu e fechou, mas não consegui encontrar palavras.
Claro que ela estava com raiva de mim por causa das cicatrizes.

Bell se inclinou para frente e colocou uma mão sobre o peito. — Essas
cicatrizes não me deixam feia, Ford. Eles dizem ao mundo que sou uma
sobrevivente.

CATHERINE COWLES
14

E U NÃO CONSEGUIA RESPIRAR . Era como se emoções me atravessassem,


e amontassem em meus próprios músculos e tendões até apoderar dos
meus órgãos. Eu não conseguia aspirar. E fui em direção ao bar. Eu tinha
que me afastar de Ford, precisava de distância para poder respirar.

Abri a porta dos fundos e fui até as escadas. Quando eu estava prestes
a chegar ao último degrau, uma mão pegou meu cotovelo. — Bell,
espera...

Eu girei para Ford, a raiva e a tristeza e todas as outras emoções


desordenadas, feias e cruas fluindo de mim em ondas de calor. — Você
me deixou! — A mão de Ford caiu do meu cotovelo quando ele recuou um
passo. — Você sabia como eram meus pais, como era fria a casa. Você
sabia que eu tinha acabado de perder minha irmã. Ninguém teria
entendido minha dor como você. Nem uma única pessoa. Porque você a
perdeu também. Mas, em vez de estar lá para mim, me deixar estar lá
para você, você correu. E nunca olhou para trás até Hunter te forçou.

Meu peito arfava e, a cada inspiração, o ar parecia forçar minha raiva


e machucar meu corpo em uma batida entrecortada. — Eu precisei de
você. — A frase saiu como um sussurro. Continha toda a minha dor em
suas palavras. — Eu precisava de você e você simplesmente fugiu. Como
se fosse a coisa mais fácil do mundo.

Meu olhar viajou pelo rosto de Ford. Havia apenas uma palavra para
descrevê-lo. Devastado. Seu peito subiu e desceu em um ritmo que
combinava com o meu. Eu odiava sua dor, queria estender a mão e puxá-
lo para mim, mas não consegui. Porque por mais que eu não quisesse

CATHERINE COWLES
que ele se machucasse, não podia deixá-lo se aproximar o suficiente para
me causar mais dor.

— Eu nunca culpei você pelo acidente, Ford. — Era uma loucura para
mim que ele pensasse uma coisa dessas. — Ninguém é culpado. Por tanto
tempo, eu desejei que alguém a tivesse. Alguém ou qualquer coisa para
focar minha raiva e dor. Mas não foi você. Não foi o cervo. Não foi a chuva.

Lágrimas encheram meus olhos. — Mas você não me deu a chance de


falar isso. — Apenas dizendo as palavras em voz alta tinha um atiçador
quente perfurando a cavidade do meu peito. Essa era realmente o tipo de
pessoa que Ford pensava que eu era? Enquanto eu crescia, eu sempre
pensei que ele me conhecia melhor do que ninguém. Eu amava minha
irmã, mas Violet não me entendia, minha necessidade de ser eu mesma,
para ir contra a vontade de nossos pais. Kenna e Caelyn me conheciam,
mas eu sempre compartilhei um pedaço de mim com Ford que escondi de
todos os outros.

Para que a pessoa em quem você confiou com todo o seu ser pense tão
pouco de você, acredite que você o culparia por
um acidente simplesmente porque ele era o único ao volante... Meus
músculos se contraíram com o pensamento. Abri e fechei meus punhos,
tentando fazer com que o resto de mim se libertasse. Eu não aguentava
mais, doía muito.

— Bell... — Ford deu um pequeno passo à frente.

Eu recuei, balançando a cabeça. — Acho que não nos conhecíamos


tão bem quanto eu pensava. — Subi as escadas correndo e entrei no meu
apartamento, batendo a porta atrás de mim. Andei de um lado para o
outro nas taboas de madeira. Eu não poderia ficar aqui. Era como se
eu pudesse sentir a presença de Ford através das paredes.

Olhei pela janela para o estacionamento abaixo. O SUV da Ford ainda


estava aqui, mas os carros de Caelyn e Kenna haviam desaparecido.

CATHERINE COWLES
Peguei minha bolsa e chaves e desci as escadas do lado de fora. Prendi a
respiração e cheguei ao fundo, como se isso pudesse me tornar invisível.
Eu corri para o meu carro e sentei atrás do volante.

Não deixei escapar o ar até estar a um quarteirão de distância do The


Catch. Meu corpo parecia operar no piloto automático, fazendo cada
curva e para exatamente como eu havia feito inúmeras vezes antes.
Estacionei em frente à pequena casa em uma rua tranquila. Fechei a
porta o mais silenciosamente possível, subindo o caminho,
mal percebendo as novas plantas que Caelyn havia colocado no chão
durante a primavera.

Subi as escadas correndo e peguei minha chave reserva. Eu entrei,


trancando a porta atrás de mim. Deixei minha bolsa cair no chão da sala
de estar enquanto subia a escada para o loft acima do espaço. Erguendo-
me, tirei os sapatos e me sentei na cama.

Caelyn se mexeu. — Bell? — Sua voz estava densa de sono. — O que


está acontecendo?

— Posso ficar aqui esta noite? — Minha voz falhou, as lágrimas fluindo
livremente.

— Oh, Bells. — Caelyn levantou as cobertas e eu me arrastei para


dentro, meu corpo tremendo com soluços silenciosos. Caelyn passou os
braços em volta de mim em um abraço. — O que aconteceu?

Demorou um minuto para eu dizer uma única palavra. — Ford—, eu


sussurrei entre fungadas.

Ela assentiu, compreendendo, sem perguntar mais nada. — Sinto


muito que você esteja sofrendo. — Ela pegou minha mão, apertando-a.
— Estou aqui para você, sempre.

— Eu sei. Obrigada. — Caelyn sempre sabia a coisa certa a dizer, ou


não dizer. Ela nunca julgou ou criticou, simplesmente apoiou onde quer

CATHERINE COWLES
que você estivesse em sua jornada. Eu me aconcheguei mais fundo
debaixo das cobertas. — Te amo.

— Para sempre, irmã.

Forcei meus olhos a fecharem, tentando pensar em qualquer coisa,


exceto o olhar de devastação no rosto de Ford, a sensação de sua traição
na minha pele. Eu não estou sozinha. Eu repeti várias vezes na minha
cabeça até que o sono finalmente chegou.

— B ELL ! Você está aqui e nem é fim de semana!

Eu sorri para Mia quando colocava uma panqueca no fogão. — Eu tive


uma festa do pijama improvisada com Caelyn na noite passada.

Suas mãos foram para seus pequenos quadris. — Você teve uma festa
do pijama e não me contou?

Engoli uma risada. — Que tal termos a nossa própria neste fim de
semana? — Os lábios de Mia se apertaram como se ela estivesse
pensando se isso era suficiente para fazer as pazes. — Vou trazer
guloseimas do The Mad Baker...

Ela se animou. — Combinado!

Guloseimas faziam tudo melhor. Coloquei a última panqueca da


panela sobre a travessa. — Vá se sentar, Mi, as panquecas estão prontas.

— Sim! — Ela deu um soco no ar e correu para a mesa.

— Ei, Bell. — Will entrou na cozinha. — Você ficou na noite passada?

— Sim, e meu pagamento são panquecas.

CATHERINE COWLES
O olhar de Will viajou pelo meu rosto, permanecendo nos meus olhos
que eu sabia que ainda estavam vermelhos e um pouco inchados. Ele não
disse uma palavra sobre isso, no entanto. — Vou pegar as bebidas de
todos.

Todo o pessoal se reuniu em volta da mesa. Caelyn sorriu para mim.


— Obrigada por fazer o café da manhã.

— A qualquer momento.

A refeição foi cheia de risadas e atualizações sobre o que as crianças


estavam fazendo na escola e depois desta semana. Ava estava competindo
em um concurso de soletrar. Mia estava pensando em fazer aulas de
ginástica neste verão. E eu até consegui falar com Will sobre o que ele
estava gostando na aula de inglês. Era exatamente o que eu precisava.

Depois do café da manhã, Caelyn e eu nos sentamos nos degraus da


varanda da frente, de olho nas crianças enquanto esperavam seus
ônibus. Ela bateu o ombro no meu levemente. — Como você está
se sentindo esta manhã?

Soltei um longo suspiro. — Eu não tenho certeza. Não tão forte como
na noite passada.

— Isso é bom. — Ela ficou em silêncio, deixando o silêncio tirar mais


de mim.

— Ele pensou que eu o culpo pela morte de Vi.

Caelyn inalou bruscamente. — A sério?

Eu assenti, ainda não sendo capaz de entender o fato de que ele


poderia pensar uma coisa dessas. — E ele pensou que eu estava brava
com ele por causa das minhas cicatrizes. Acho que nunca passou pela
cabeça dele que fiquei magoada e com raiva porque ele foi embora. Eu
apenas, — suspirei — pensei que ele me conhecia melhor que isso.

CATHERINE COWLES
Caelyn esfregou uma mão nas minhas costas. — O luto tem uma
maneira de distorcer o modo como vemos a nós mesmos e ao mundo ao
nosso redor. Ele pensando nessas coisas, não tem nada a ver com você.
É porque ele se culpa.

As palavras de Caelyn retorceram no meu interior retorcido, a culpa


me inundando. Eu não queria sentir simpatia por Ford. Eu queria sentir
só raiva. Porque a raiva era um lugar muito mais confortável para eu
viver do que a bagunça das outras emoções que nadavam em torno de
Ford e eu. — Eu odeio que ele esteja vivendo com esses pensamentos em
sua cabeça. Mas também não posso deixar de sentir essa raiva.

— Você está autorizada a ter os dois, Bell. — A mão de Caelyn parou


nas minhas costas. — Você sempre foi tudo ou nada. Mas a vida é em
tons de cinza. Você pode ficar chateada e magoada e ainda o amar.

Meu corpo ficou tenso quando ela disse, amor. Claro que eu amava
Ford. Ele estava na minha vida desde o dia em que nasci. Mas a palavra
tinha a culpa borbulhando dentro de mim. Culpa pelos sentimentos que
tive pelo namorado da minha irmã, culpa pelos fios de atração que ainda
sentia hoje.

Culpa, porque eu estava aqui, e ela não estava.

Engoli tudo, tentando trancá-lo. — Por tanto tempo, eu não queria


nada mais que ele voltasse. E agora... eu só queria que ele tivesse ficado
em LA. Porque enquanto Ford estava fora, eu recompus minha vida
destruída. Eu estava indo muito bem. Não, mais do que bem, eu estava
indo muito bem. E tê-lo de volta... era como ter principalmente os pontos
curados abertos.

— Você pode não estar feliz agora, mas ficará um dia.

Virei para encarar Caelyn. — Por quê?

CATHERINE COWLES
Ela levantou um ombro e me deu um pequeno sorriso. — Porque ele
faz parte de você.

CATHERINE COWLES
15

UMA BRISA CORTOU o oceano enquanto eu caminhava ao longo da costa.


Agradeci a ligeira picada no meu rosto. Eu não tinha dormido nem um
minuto na noite passada. Depois que Bell saiu pelas escadas, fiquei em
silêncio atordoado por... não sabia quanto tempo.

Eu passei a noite dando voltas e voltas em tudo no meu cérebro,


tentando descobrir como tinha feito as coisas tão erradas. Um
pensamento me aterrou. Porque eu era egoísta. Eu estava tão envolvido
com minha própria dor e culpa que assumi que Bell se sentia da mesma
maneira que eu. Que foi minha culpa. Que ela não iria querer as
lembranças que minha presença traria. Claro, não ajudou que
Heather Kipton tivesse dito que Bell não queria me ver, mas eu deveria
saber que nem tudo o que aquela mulher dizia era a verdade.

Foi o egoísmo que causou mais danos. Não acreditar nas mentiras de
Heather. Não foi minha incapacidade de evitar o cervo. Não as cicatrizes
que haviam sido esculpidas na pele de Bell. E eu não tinha ideia de como
curar uma ferida que eu havia infligido por estar tão focado em mim
mesmo. E não era apenas Bell que eu machucava dessa maneira. Foram
meus pais. Hunter. Amigos do ensino médio que eu tinha ignorado e
deixado para trás.

Eu passei a mão sobre pelo meu rosto e virei para o mar. Eu queria
consertar isso. Para curar esses relacionamentos. Mas eu não tinha ideia
de por onde começar. Ondas após ondas colidiram com a costa. Eu podia
sentir cada golpe. Cada colisão era uma lembrança da mágoa que eu
infligi naqueles que amava porque não conseguia lidar com o passado.

CATHERINE COWLES
Inspirei profundamente, o ar frio e salgado picando no meu nariz. Eu
tinha que encarar isso. Talvez eu não consiga curar as mágoas passadas,
mas poderia me impedir de causar novos danos. Olhei em volta,
avaliando onde estava.

Um pequeno sorriso apareceu na minha boca quando balancei a


cabeça. Eu estava andando por horas. Andando e pensando, me
torturando com todos os erros que cometi. E eu acabei na base de um
penhasco onde ficava o cemitério em que Violet descansava.

Eu estava me movendo antes que eu pudesse pensar melhor.


Caminhando até as escadas da praia que subiam o penhasco. Eu não
tinha pisado nesses terrenos desde que voltei, nem sequer tinha pensado
nisso. Mas eu sabia que naquele momento, eu precisava. Eu tinha que
encarar isso. Eu não podia mais correr. Acabaria por me destruir e a
todos que eu amava.

Quando cheguei ao topo da escada, eu estava respirando


pesadamente, parte do esforço físico e parte da ansiedade sacudia o meu
corpo. Observei as lápides que pontilhavam a grama bem cuidada. Havia
algumas novas, e outras que pareciam estar lá há centenas de anos,
maltratados e desgastados pelo clima à beira-mar.

O primeiro passo foi o mais difícil, como se houvesse um campo de


força invisível trabalhando contra mim. Eu segui em frente de qualquer
maneira. Cada passo foi um pouco mais fácil. Eu caminhei através do
labirinto de sepulturas, verificando cada nome. Eu não tinha ideia de
onde estava a Violet. Eu nunca perguntei aos meus pais, e eles não
ousariam falar sobre isso.

Meus passos vacilaram quando avistei a lápide, a pedra que marcava


uma vida muito curta. Era perfeitamente como Violet, discreta, mas
de certa forma elegante. Continha o seu nome, as datas em que ela
nasceu e faleceu e quem ela era. Filha. Irmã. Filha de Deus. Acho que

CATHERINE COWLES
Violet teria gostado se pudesse vê-la. Quem sabe, talvez ela pudesse. Não
havia nada na pedra que representasse quem ela foi para mim. Nada que
dizia primeiro amor ou algo parecido.

Eu queria estar representado lá de alguma forma. Eu precisava de


algo que mostrasse o que ela significava para mim. Ela foi minha primeira
em tudo. Primeiro encontro. Beijo. Sexo desastrado. Nós crescemos
juntos. Construímos uma vida inocente, cheia de esperanças, sonhos e
grandes planos. Mas havia partido, explodido em um milhão de pedaços.
As peças de Violet eram irreparáveis. Mas as minhas, elas voltariam a
estar juntas em uma nova imagem. Uma que eu não era tão ingênuo
quanto antes. Uma pessoa reinventada que conhecia a realidade da perda
e da dor. Que sabia que a vida nem sempre funcionava como você
planejava.

— Oi, Vi. — Minha voz saiu irregular, como se eu tivesse fumado um


maço de cigarros inteiro na noite anterior. Lambi meus lábios que de
repente pareciam tão secos quanto o deserto. — Sinto muito por não ter
passado antes. Foi muito difícil. — Eu soltei um suspiro duro. — Deus,
isso me faz parecer um marica. — Inclinei minha cabeça para trás,
sacudindo-a e sorrindo para o céu antes de olhar para a lapide. — Mas
se alguém quisesse entender e perdoar, essa seria você. Você sempre me
livrava dos problemas.

Estudei as flores ao redor da lápide. Não eram ramos como nos outros
túmulos. Eram plantas em vasos claramente muito bem cuidados. Eu me
ajoelhei no chão, encostado na lapide atrás de mim. — Sua irmã não
esconde as coisas como você. Não consegue esquecer tão facilmente.

Elas sempre foram tão diferentes quanto a noite e o dia, mas essas
diferenças pareciam se destacar ainda mais em contraste. As coisas que
eu tanto amava em Violet, sua gentileza, a comodidade que tínhamos um
com o outro, não sabia se seriam suficientes para mim agora. Só de

CATHERINE COWLES
pensar nisso, meu interior se agitou. Meu relacionamento com ela sempre
foi fácil. Nós nos conhecíamos de trás para frente.

Minha mente captou esse último ponto. Mas nós nos conhecemos? Ela
conhecia meus ingredientes de pizza favoritas e que eu sempre me
sentava no banco do meio da fileira do meio de uma sala de cinema, mas
ela sabia as coisas que estavam abaixo? Eu não tinha compartilhado com
ela o quanto eu queria viajar pelo mundo. Só tinha sugerido que eu
duvidara do nosso plano de ir para a Universidade de Seattle e depois
voltar para a ilha para me casar e começar uma família.

Eu amei Violet. Mas era um amor inocente e ingênuo. Isso não a


tornou menos, apenas a tornou parte da minha jornada, mas não o fogo
que consumiria todo o meu caminho.

— Sinto muito, Vi. — Minha voz saiu engasgada quando uma lágrima
escapou. — Você mereceu muito mais. Uma vida cheia de todos os seus
sonhos se tornando realidade. Deus, eu queria tanto isso para você.
Mesmo que eu ache que não seria o homem que daria a você.

Inclinei para a frente, pressionando a palma da mão na lapide lisa. —


Eu vou te amar para sempre. Mas tenho que deixar essa culpa passar. —
Eu teria dado qualquer coisa naquele momento para ouvir Violet me
responder, ouvir sua voz apenas mais uma vez, me dizendo que tudo
ficaria bem. Mas tudo que eu consegui foi o vento.

Suspirei e me inclinei para trás, olhando para a pedra. — Eu magoei


Bell. Eu a magoei e não sei como consertar isso. Se você estivesse aqui,
me ajudaria. Nós iríamos convencê-la juntos, não importa o quanto ela
estivesse sendo teimosa.

Peguei uma folha de grama e torci em volta do meu dedo. — Ela é


incrível, sabia? Ela, sozinha, manteve o bar à tona, ajuda Caelyn com seu
irmão e irmãs, e ela é linda. Deus, Vi, ela é de parar o coração.

CATHERINE COWLES
Mordi o interior da minha bochecha. — Você ficaria muito orgulhosa
dela. Adoro vê-la brilhar. — Mas era mais do que isso, palavras que não
pude dizer em voz alta. Lugares que eu não podia me permitir ir, mesmo
na minha cabeça. Havia essa atração por Bell, baixa e constante, mas
cada vez mais forte. Eu não sabia o que fazer com isso. Eu continuava
tentando lutar contra isso, mas estava começando a duvidar que era forte
o suficiente.

O som de um galho estalando fez minha cabeça girar. Meus olhos


examinaram as árvores que ladeavam o cemitério. Houve um lampejo de
um movimento e depois nada. Tinha que ser um cervo. Os turistas
tinham começado a alimentá-los, e agora eles eram tão descarados
quanto possível. Mas um pouco de inquietação penetrou sob a minha
pele da mesma forma.

CATHERINE COWLES
16

O SOM DA porta dos fundos se fechando fez minha coluna endireitar


e os músculos ficaram tensos, mas não ousei olhar para cima. Eu
mantive meus olhos firmemente focados em reorganizar as garrafas de
bebidas depois que eu espanei as prateleiras. Passos ecoaram no chão de
cimento. Fiquei focada somente em garantir que todos os rótulos
estivessem voltados para o bar. O cheiro de muffins de chocolate e uma
pitada de colônia amadeirada encheu meus sentidos, tentando-me a
virar. Eu recusei.

Uma garganta pigarreou. — Eu te trouxe as coisas boas.

Lentamente, muito lentamente, eu me virei. Eu me concentrei na


bolsa nas mãos de Ford. Eu não conseguia encarar seu rosto, com medo
do que poderia encontrar lá. — Obrigada. Há café na cozinha.

— Olhe para mim, Bell. — Não pude. — Por favor. — Foi a crueza em
sua voz que forçou meu olhar a obedecer. Havia tanta dor em seus olhos,
agonia que chamava pelos meus. Eu dei um único passo adiante. — Eu
estraguei tudo muitas vezes. Mas nada vai doer mais do que você pensar
que eu não me importo. Pensei em você todos os dias, queria
telefonar para vir vê-la...

— Então por que você não fez? — Meu tom não era acusador, isso era
fato. Eu só precisava da verdade.

Ford colocou a sacola de padaria no balcão e passou a mão no rosto.


— Eu tenho pensado muito nisso nas últimas doze horas. E não há uma
resposta simples.

CATHERINE COWLES
Eu apertei meus dentes. — Eu tenho tempo. — Não há mais rodeios.
Eu precisava ouvir tudo.

— OK. — Ford soltou um longo suspiro, firmando-se como se estivesse


preparando para a batalha. — Você sabia que seus pais ameaçaram me
processar?

Meu corpo sacudiu como se eu tivesse acabado de tocar em um fio


vivo. — O que? — Não. Eu sabia que eles estavam com raiva depois do
acidente, sofrendo. Mas ameaçando processar a Ford? Não havia como.

Ele se aproximou um pouco. — É apenas parte da história.

Um sentimento doentio enraizou-se no meu estômago. — Você pode


me contar tudo? — Violet, o acidente, os destroços deixados para trás,
tudo era uma zona proibida. Mas se realmente quiséssemos consertar as
coisas entre nós, teríamos que desenterrar tudo e abrir todas aquelas
feridas novamente.

Ford concordou. — Quando acordei no hospital, e eles me disseram o


que tinha acontecido, que havíamos perdido Vi, a primeira coisa que fiz
foi pedir para ver você. Eu precisava ter certeza de que você estava bem.
Eu estava apavorado. Morrendo de medo que você me odiaria para
sempre, mas ainda precisava te ver.

Seu corpo parecia tremer quando ele respirou fundo. — Quando pedi
a meus pais que encontrassem uma maneira de vê-la, eles me disseram
que seus pais haviam recusado o acesso deles. Eles não nos queriam nem
perto de você ou deles. Quando eu insisti, sua mãe veio ao meu quarto
de hospital e me informou que, se eu entrasse em contato com você eles
me processariam por homicídio culposo. Deus, Bell. Eu era tão jovem. Eu
pensei que sabia tudo. Mas olhando para trás, eu era apenas uma
criança. Ela disse que você não queria me ver, e parte de mim acreditava
nela.

CATHERINE COWLES
Era como se alguém estivesse rasgando meu interior. Lágrimas
queimaram meus olhos, tentando se libertar. — Ford... — Eu não sabia
o que dizer depois disso, só consegui dizer o nome dele.

Ele balançou a cabeça. — Então eu corri. Corri para a escola e depois


para Los Angeles, e tentei enterrar tudo. A verdade é que eu me culpei.
Se eu tivesse sido mais rápido, prestasse mais atenção, alguma coisa,
nada disso teria acontecido. Eu pensei que você me culparia também.
Mas eu estava colocando todos os meus pensamentos e sentimentos em
você. Eu estava tão focado em mim mesmo, tão egoísta. E não pensei em
tudo o que você poderia estar passando além de perder sua irmã. Eu nem
pensei que você pensaria que eu a abandonei.

As lágrimas que eu estava tentando segurar se derramaram e


correram pelas minhas bochechas. — Ford...

— Sinto muito, Trouble. — O apelido foi o meu ponto de ruptura. Meus


joelhos cederam, e Ford me pegou logo antes de eu cair no chão. Ele me
levantou, passando os braços em volta de mim, me dando um abraço
apertado sussurrando no meu ouvido. — Eu sinto muito. — Ele
sussurrou várias vezes, me balançando de um lado para o outro
enquanto eu chorava.

Eu não sabia quanto tempo ficamos assim, Ford segurando a maior


parte do meu peso. — Vai ficar tudo bem. — Ele me apertou com mais
força enquanto meus soluços diminuíam. — Nós vamos ficar bem.

— Eu sinto muito. — Eu tinha tanta raiva no meu coração por ele. Eu


o achava um covarde e cruel por me deixar do jeito que ele deixou. Mas
ele também estava quebrado, e meus pais deram um golpe mortal em
cima de tudo o que já havia acontecido. Eu dei um pequeno empurrão,
saindo dos braços de Ford. — Por que seus pais não me disseram o que
os meus fizeram?

CATHERINE COWLES
Ford estremeceu. — Eles não acharam que era o lugar deles. E eles
não queriam causar mais dor a você.

Isso era muito Frank e Kara, nunca querendo me machucar. E eu


estava com muito medo de perguntar sobre Ford, não queria ouvir que
ele se fora e nunca mais voltaria. Joguei meus braços em volta dele,
pressionando meu rosto em seu peito musculoso. Seu corpo parecia
diferente, a forma, as curvas e as extremidades, mas o calor parecia o
mesmo. — Me desculpe, eu estava com tanta raiva de você. Você não é o
único que está focado em si mesmo.

Fiquei tão magoada com a partida de Ford, por não estar aqui para
me apoiar, e ele era a única pessoa que eu queria, que eu não fui capaz
de considerar como tudo isso poderia ter transtornado sua mente.
Mentiras se enraizaram em sua cabeça e em seu coração. E elas estavam
gritando com ele por mais de uma década. — Não foi sua culpa, Cupcake.
— Um tremor o percorreu com minhas palavras. — Por favor, me ouça.
Não foi sua culpa.

Ford me puxou mais apertado, seu coração pulsando contra a minha


bochecha. — Eu sei. A parte racional de mim, de qualquer maneira. Mas
não sei dizer o quanto significa ouvir você dizer. Eu nunca pensei em
ouvir essas palavras de você.

Eu pressionei minha bochecha com mais força contra seu peitoral. —


Bem, você está ouvindo. — A culpa se enraizou na minha barriga e
escapou. Ford tinha passado por tanta coisa, e eu não tinha parado uma
vez para considerar todas as maneiras pelas quais ele poderia estar
sofrendo além de perder Vi. Nós dois estávamos focados demais em nossa
dor individual, afogando-nos nela, incapazes de estender a mão para
alguém porque estávamos lutando para simplesmente manter a cabeça à
tona. Mas essa temporada havia passado e estávamos mais fortes agora.
Nos curamos. Mas de uma maneira em que alguns dos ossos não haviam
colado bem. Tínhamos que quebrá-los novamente para garantir que

CATHERINE COWLES
andássemos sem mancar, sem dor. E agora nós dois estávamos
totalmente quebrados.

— Sinto muito que meus pais tenham feito isso com você. Eu não
sabia. — A culpa fluiu em torno dos músculos e tendões, formando um lar
no meu peito.

Ford esfregou uma mão nas minhas costas. — Eu sei que você não
sabia, Trouble.

Lágrimas ameaçaram, queimando as costas dos meus olhos. — Eu


senti falta disso.

— Sentiu falta do que?

Minha boca se curvou no sorriso mais simples. — Você está me


chamando de 'Trouble'.

Ford riu, a ação enviando vibrações através do meu corpo. — Nunca


pensei que diria isso, mas senti sua falta me chamando de 'Cupcake'.

Meu sorriso cresceu quando me forcei a soltar Ford e sair de seu


abraço. A perda dele foi fisicamente dolorosa. Seus braços, seu calor, eles
se sentiam muito bem. — Certificarei de usá-lo com frequência e dizer em
voz alta, especialmente na frente dos clientes.

Ele sorriu, balançando a cabeça. — Eu vou me arrepender de admitir


isso, não vou?

Apertei meus lábios, tentando segurar minha risada. — Você


deveria saber.

O sorriso de Ford ficou suave, uma melancolia enchendo suas feições


como se ele tivesse se perdido em uma lembrança. — Eu deveria ter feito.

Eu queria saber o que ele estava vendo, a cena em que estava perdido.
Ele estava imaginando a garota que deixou para trás? Aquela que tinha

CATHERINE COWLES
sido todo joelhos e cotovelos. Ou algo completamente diferente? Eu limpei
minha garganta. — Depois da hora do almoço, você quer ir a um lugar
comigo?

Ford me estudou com cuidado. — Sempre.

Meu estômago apertou. — Eu falo com Caelyn e Darlene; vejo se elas


podem nos cobrir. — Ford assentiu. — Não almoce.

— OK.

Era tão simples quanto isso com Ford. Ele não tinha a bagagem que
eu tinha. Porque eu amei esse homem a vida toda. Adorava-o quando
criança, quando eu o perseguia pelo quintal, minhas perninhas não
me levavam aonde eu esperava ir. Esmagou-me no ensino médio quando
assisti seus jogos de futebol com Vi. Eu caí de cabeça quando ele me
disse que eu era digna, mesmo que não quisesse ser médica como minha
irmã e meu pai. Eu o amaria para sempre, e o preço que eu teria que
pagar agora era a culpa. Culpa e sabendo que eu nunca teria a única
coisa que meu coração queria acima de todas as outras. Ele.

CATHERINE COWLES
17

EMPURREI a porta do estacionamento, segurando-a para Bell. — Você


tem certeza que não quer que eu carregue isso?

— Não. — Ela sorriu para mim com aquele sorriso travesso que eu
costumava ver tantas vezes em seu rosto. Mas isso me afetou
diferentemente desta vez, mexeu em algo mais profundo. E, ao mesmo
tempo, havia um prazer doloroso, recuperando algo que eu pensei que
estava perdido para mim para sempre.

— Quer que eu dirija?

— Claro, e eu serei o copiloto—, disse ela.

Fui em direção ao meu SUV, e Bell soltou um assobio baixo. — Chique.

O calor subiu pela parte de trás do meu pescoço. Minha família


sempre esteve solidamente no extremo inferior da classe média. Nunca
lutamos para colocar comida na mesa, mas meus pais também não
estavam dirigindo Mercedes G Wagons. Sempre foram os Kipton com os
bons carros e a casa luxuosa. Bell nunca parecia se importar muito com
essas coisas, mas eu me perguntava como teria sido difícil desistir de
tudo quando ela seguiu seu próprio caminho. — Há tanta coisa que eu
quero saber.

As palavras saíram antes que eu pudesse detê-las, e os passos de Bell


vacilaram. — O que você quer dizer?

Abri a porta do passageiro do meu SUV, mas Bell não entrou, apenas
ficou olhando para mim, esperando que eu respondesse. — Eu senti
muita falta. Há muito o que conversar. — Eu não tinha certeza de qual

CATHERINE COWLES
seria sua reação a isso. Eu tinha perdido muita coisa por causa da minha
própria estupidez e egoísmo. Talvez ela não quisesse passar os meses em
que eu tinha certeza de que seria necessário me atualizar até mesmo
sobre as coisas importantes.

A expressão de Bell suavizou, e ela estendeu a mão para meu bíceps,


o calor do toque me enchendo de uma paz que estava faltando por muito
tempo. — Temos todo o tempo do mundo... Cupcake. — Esse sorriso
diabólico estava de volta. — Além disso, preciso ouvir sobre todas as
pessoas famosas que você conheceu. Parece que você era amigável com
pelo menos uma modelo ou duas.

Estremeci. Na verdade, eu não era um mulherengo, mas se precisasse


de companhia por uma ou duas noites, não tinha sido exatamente difícil
de conseguir. Porém, havia diminuído ao longo dos anos. Os encontros
se tornaram vazios, e ainda assim eu não estava disposto a buscar mais.
Nem mesmo ver meus amigos Austin e Liam encontrar mulheres incríveis
para me acalmar me levou a correr esse risco. Eu limpei minha garganta.
— Pessoas famosas são superestimadas.

Bell riu. — Oh, você está cansado do espírito de Los Angeles.

Eu sorri e a ajudei a entrar no SUV. — É mais do mesmo depois de


um tempo. — Eu tinha ficado inquieto durante o ano passado, como se
tudo que me emocionasse ao cuidar dos meus bares tivesse ficado
monótono. Eu precisava de um novo desafio ou algo assim. Eu
simplesmente não tinha ideia do que poderia ser.

Bell se curvou, mas se virou para mim antes que eu pudesse fechar a
porta. — Talvez você esteja perdendo as coisas que dão vida ao coração.
Nem sempre são as grandes realizações glamorosas. Às vezes, são as
coisas cotidianas que têm significado.

Ela não estava errada. E eu basicamente caguei por todas essas coisas
do dia a dia. Meus pais. Meu irmão. The Catch. Bell. Eu defraudei a todos.

CATHERINE COWLES
Não havia nada que eu pudesse fazer para mudar o passado, mas com
certeza poderia fazer algo sobre o futuro. — Você sempre foi sábia apesar
dos seus anos.

O nariz de Bell enrugou quando ela me deu uma careta falsa. —


Sempre me vendo como um bebê.

Fechei a porta, com cuidado para ser suave. Se havia uma coisa de
que eu tinha certeza em tudo isso, era que eu não via mais Bell como algo
infantil. Seria muito mais fácil se eu o fizesse. Contornei a frente do meu
veículo e entrei. — Então, para onde?

Bell mordeu o lábio inferior e torceu os dedos na bolsa que


descansava em seu colo. Eu me virei no meu assento para estar
totalmente de frente para ela. — O que está acontecendo?

Seu olhar levantou para encontrar o meu. — Eu queria levá-lo comigo


para fazer o que faço toda semana, mais ou menos. Mas agora estou me
perguntando se isso foi uma ideia horrível.

— Porque você não me diz o que estava pensando, e depois eu


informarei se é uma ideia tão ruim igual aquela vez em que você queria
pular de um penhasco em novembro.

Bell riu. — Espero que não seja tão ruim. — Ela soltou a bolsa, seus
olhos nunca deixando os meus, avaliando cuidadosamente qualquer
reação que eu pudesse ter. — Gosto de fazer piqueniques no túmulo de
Vi. — Meu coração disparou no meu peito, mas eu não disse uma palavra.
Bell pressionou. — Eu sinto falta dela. Sinto falta de falar com ela. Mesmo
quando ela não me entendia, ela estava sempre lá. Então, eu vou almoçar
e contar a ela sobre a minha semana. Compartilhar histórias loucas do
bar, o que estou lendo, quaisquer avistamento de baleias.

— Ela sempre amou as orcas.

CATHERINE COWLES
Bell apertou os lábios e assentiu. — Sim. — Ficamos em silêncio por
um breve momento. — Você acha estranho?

Algumas pessoas podem achar isso mórbido, levar o meu almoço para
o túmulo. Tenho certeza de que as pessoas da cidade fofocavam sobre
isso como loucas. Mas eu conhecia o coração por trás disso. — Eu fui lá
pela primeira vez ontem.

Bell respirou fundo. — Como foi?

— Muito menos doloroso do que eu pensava. Foi meio legal. — Passei


a mão pelo meu cabelo. — Essa não é a palavra certa. Foi pacífico. Como
se houvesse outro pequeno pedaço de fechamento. Eu posso ver o porquê
você gosta de ir para lá.

— Você quer ir comigo?

A esperança nos olhos de Bell quase me matou. — Sim, eu quero ir


com você.

Bell soltou um suspiro trêmulo. — OK. Eu pedi que Hank fizesse


seu favorito. — Ela levantou a bolsa no colo.

— Turkey club10, cheddar extra?

— E frita com mostarda de mel. — Meu estômago roncou com as


palavras dela, e Bell começou a rir. — É bom saber que algumas coisas
não mudaram.

— Nunca mudou e nunca mudará. Juro que o Turkey club me


assombrou. — Saí do estacionamento e segui para o cemitério onde Violet
descansava, a música do riso de Bell aliviando a pressão no meu peito
enquanto nos divertíamos um com o outro sobre memórias passadas.

10
Tipo de sanduíche.

CATHERINE COWLES
Deus, eu senti falta disso. Tanto que parecia impossível que eu tivesse
ficado longe por tanto tempo.

Estacionei do lado da rua em frente à igreja, e Bell ficou séria. — Você


realmente não precisa fazer isso se não quiser.

Estendi a mão e gentilmente peguei a mão dela na minha, apertando-


a. — Eu quero. — Estudei seus olhos verdes claros, notando as pequenas
manchas de ouro que pontilhavam suas profundezas. — Eu prometo.

— OK. Vamos lá.

Soltei a mão de Bell, perdendo imediatamente o conforto e o calor.


Cheguei ao banco de trás para pegar um cobertor que estava sempre lá e
pulei para fora do meu SUV. Meu coração vacilou, enquanto eu olhava
as lápides, essa culpa me comendo um pouco mais. Eu continuei
caminhando enquanto Bell e eu atravessávamos a rua e seguíamos para
o cemitério. Mas não sabia como seria capaz de testemunhar de perto o
sofrimento de Bell. Eu não pensei que seria capaz de não assumir essa
culpa.

Uma pressão familiar tomou conta do meu peito, mas eu me recusei


a abandonar Bell novamente. Eu não a deixaria sozinha nisso,
mesmo que doesse mais do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar.
Eu segui Bell enquanto ela passava pelas lápides, cada passo a pressão
em volta do meu peito, o deixava um pouco mais apertado.

Paramos no lugar agora familiar. Quando estendi o cobertor, Bell se


inclinou e pressionou os lábios no topo da lápide. — Ei, Sissy. Adivinha?
O trio de terror está reunido. — A ação foi tão parecida com Bell, que nem
se importou que alguém a achasse estranha por beijar a lápide de sua
irmã. Mas foi o tom dela que quase me derrubou. Foi feliz, tão alegre.

Bell sempre me surpreendeu, então eu deveria ter planejado que ela


me chocasse agora também, mas não o fez. Ela não estava zangada ou

CATHERINE COWLES
amarga por sua irmã ter sido tirada dela muito cedo. E ela não me culpou
pelo acidente. Ela estava simplesmente feliz por ter nós três juntos da
única maneira que poderíamos estar.

Bell colocou a bolsa no cobertor e imediatamente começou a arrumar


as flores em vasos. Ela limpou as folhas caídas, arrancou as flores que
haviam murchado e, em seguida, puxou uma garrafa de água da bolsa e
começou a molhar os vasos.

Eu me acomodei no cobertor e a observei trabalhar, maravilhado com


o foco, a ternura. — Você fez tudo isso, não fez?

Bell terminou de derramar a última gota de água em um vaso. — Sim.


— Ela examinou a vegetação e as flores ao seu redor. — Eu gosto de
deixar tudo bonito para ela.

Eu senti que isso era verdade, mas também que ela estava escondendo
algo. Eu não a culpo. Eu ainda não tinha demonstrado ser digno de
possuir os seus segredos. Mas eu acabaria sendo. — É o mais bonito
aqui.

Bell se acomodou no cobertor e começou a puxar as coisas da bolsa.


— Eu sempre fui muito competitiva.

— Eu não vou discutir isso. — Bell sempre quis correr mais rápido,
pular mais alto e brincar com as crianças grandes. Eu sorri para o meu
colo quando me lembrei de que ela havia enganado sua mãe para assinar
uma permissão para deixá-la jogar futebol americano dizendo que era
uma forma de líder de torcida. Heather Kipton ficou horrorizada quando
ela e o marido apareceram no campo, esperando ver a filha vestida com
um uniforme de torcida e, em vez disso, a encontraram com roupas de
futebol e brincando com meninos dois e três anos mais velhos que ela.

— Do que você está sorrindo como um idiota?

Eu não consegui segurar minha risada. — Futebol americano.

CATHERINE COWLES
Bell gemeu, caindo de costas. — Fiquei de castigo por um mês.

— Mas eles deixaram você continuar jogando.

Ela virou de lado para me encarar. — Só porque isso significaria


admitir que a filha os enganara se eles me tirassem.

Inclinei para a frente e peguei uma das caixas de comida do bar. —


Isso é verdade. — Abri a tampa e vi um panini. — Não mais queijo
grelhado? — Esse sempre foi o favorito de Bell.

Ela sentou e pegou a caixa de mim. — Esta é apenas uma versão


classificada de um queijo grelhado. Mussarela, tomate, manjericão, com
um pouco de balsâmico.

— Isso soa bem. Novo item do menu? — Eu não tinha lido muito o
menu desde que voltei. Eu estava muito focado em números e pensando
em maneiras de trazer mais clientes.

Bell assentiu enquanto mastigava um pedaço do sanduíche. — Sim.


Queríamos adicionar alguns itens que pudessem falar com a multidão de
Seattle. Essa foi uma das primeiras coisas que Hank tentou. — Bell sorriu
quando ela deu de ombros. — Quem diria que eu tinha o gosto
extravagante de Seattle?

Eu sorri e puxei meu sanduíche. — Variedade é o tempero da vida.

— Mas são os velhos favoritos que sempre têm o melhor sabor.

Engoli em seco, minha mordida de sanduíche colada na minha


garganta. — Estou vendo isso agora.

— Boa.

Eu abri uma das duas Cocas da bolsa e tomei um gole. — Então, o


que você costuma fazer agora?

CATHERINE COWLES
Bell olhou para a lápide. — Conto a ela sobre a minha semana. Como
se eu tivesse encontrado um pedaço de madeira especialmente obsceno
em minha caminhada hoje de manhã.

Eu arqueei uma sobrancelha. — Obsceno como?

— Parecia um pau curvo. — Bell ergueu o dedo, ligando-o levemente


para pontuar seu ponto.

Quase cuspi o gole de Coca-Cola que tomei. — Desculpe, o que?

Bell riu, pegando o telefone e me mostrando uma foto que ela havia
tirado. Honestamente, parecia um pau torto. Tinha até uma
protuberância em uma extremidade, que parecia as bolas. Eu ri tanto
que meus olhos começaram a lacrimejar. — Por que você tirou uma foto?

— Eu precisava de provas para Kenna e Caelyn. Kenna nunca teria


acreditado em mim.

Eu balancei minha cabeça, sorrindo. Continuamos conversando, um


com o outro, com Vi, trocando anedotas engraçadas sobre as duas ou das
duas semanas anteriores. Nunca nos aventuramos em algo muito sério,
como se ainda estivéssemos testando as águas. Mas o calor do sol da
tarde, a excelente comida, o riso e o simples fato de estarmos juntos
enraizaram-se no meu peito, limpando toda a pressão que havia feito
morada ali. Foi a primeira vez em mais de uma década que o aperto se
foi totalmente.

Nada além de paz permaneceu.

CATHERINE COWLES
18

— GAROTA, aqueles caras na mesa seis estão uma delícia.

Eu ri enquanto colocava uma série de copos de cerveja na bandeja de


Darlene. — Você conhece minha regra sobre clientes.

Ela acenou com a mão na frente do rosto, como se estivesse afastando


um inseto. — Sim. Sim. Se quiser alguma coisa, vá para outro lugar.

— Sempre funcionou bem para mim. — Mas agora que eu pensei


sobre isso, fazia muito tempo desde que eu cheguei perto de conseguir
um pouco de qualquer coisa. Sem encontros, sem beijos que me fizeram
desejar mais, e certamente sem sexo. Eu estava muito presa no bar, meus
projetos de restauração e ajudando Caelyn com suas coisas. Talvez fosse
hora de tirar uma noite de folga e convencer as meninas a sair na cidade.
Talvez ir até Seattle.

— Heeeelloooo, terra para Bell. Você está pensando em se arrumar um


pouco?

Eu pisquei para Darlene. — Talvez eu esteja.

Ela pegou sua bandeja. — Bom pra você. Aqueles caras na mesa seis
são gostosos.

— Levarei em consideração. — Eu me virei e quase colidi com Ford. —


Uau.

Ele estendeu a mão para me agarrar, a palma da mão parecendo


queimar a pele do meu cotovelo. — O que era tudo isso?

Minhas sobrancelhas se contraíram. — O que? Darlene?

CATHERINE COWLES
— Sim.

Eu evitei Ford e comecei a fazer um Jack e Coca-Cola. — Oh nada. Ela


está apenas tentando me fazer quebrar minha regra.

Ford se aproximou, o calor do seu corpo penetrando nas minhas


costas. — Sua regra?

Eu coloquei a coca-cola nas pedras de gelo. — Sim. Eu não transo com


os clientes. — Ford soltou algum tipo de som estrangulado, e olhei por
cima do ombro para ver a vermelhidão subindo por seu pescoço. Apertei
o copo com mais força. — Sabe, eu sou uma mulher crescida, Ford. Eu
faço sexo.

Ele limpou a garganta. — Eu sei que você não é uma criança, Bell.

— Boa. Agora, que isso já está resolvido, você tem alguns clientes
esperando por você. — Inclinei minha cabeça para o final do bar. Ford
abriu a boca como se quisesse dizer algo e depois fechou novamente, indo
até os clientes que o chamavam. Ford poderia saber que eu era uma
mulher adulta em teoria, mas eu tinha certeza que ele sempre me veria
como aquela garota de quinze anos em sua mente. E isso não acabou de
doer?

Deslizei o Jack e a Coca-Cola pelo bar. — Aqui está, Ethan.

— Obrigado, Bell. As coisas parecem mais movimentadas aqui. Mesmo


depois da correria do jantar.

Eu examinei a multidão. Havia muito mais pessoas do que o habitual,


e acho que foi em grande parte porque uma banda estava prestes a subir
ao palco. Ford não havia perdido tempo organizando algumas
apresentações diferentes, e parecia que sua ideia ia funcionar. Olhei para
o corredor para ver ninguém menos que Lacey Hotchkiss com os peitos
descansando em cima do bar como se fossem um prato para Ford se
deleitar.

CATHERINE COWLES
Lacey e eu nunca nos tornamos amigas, para grande desgosto dos
meus pais. Mas nós ficamos principalmente em cantos opostos da vida
na ilha. Ela não vinha no The Catch desde que eu comecei a trabalhar
aqui. Claro, agora que Ford estava de volta, aqui estava ela. Fiquei
sinceramente surpresa por ter demorado tanto. Meu estômago revirou
quando os dois riram, Lacey passando seus longos cabelos loiros por
cima do ombro. Agarrei a borda do bar e forcei meu olhar de volta para o
homem na minha frente. — Uh, sim. Eu acho que as pessoas estão
empolgadas com a banda.

Ethan assentiu. — Essa foi uma ideia muito inteligente.

Eu me ocupei limpando o bar. — Não foi minha.

— De quem foi?

Ethan empalideceu, percebendo que Ford estava por trás da música


ao vivo. — Não se preocupe. Ford e eu superamos nossos problemas.

Ethan me estudou com cuidado. — Tem certeza? É preciso muito para


você se irritar o suficiente para derramar uma cerveja na cabeça de um
homem.

Eu sorri — E que isso seja um aviso para você nunca me irritar. — Ele
levantou as mãos em sinal de rendição. — Então, onde está seu chefe?
— Eu não tinha visto muito de Hunter desde que fizemos as pazes.

Ethan tomou um gole de sua bebida e a colocou no bar. — Ele estará


aqui daqui a pouco. Só queria passar na casa dos pais dele e ver se eles
precisavam de alguma coisa.

— Boa. Sinto falta de ver sua cara feia por aqui.

Ethan sorriu. — Certifique-se de dizer a ele o quão feio é.

— Sempre faço. Toda a atenção que ele recebe das mulheres não pode
subir a cabeça.

CATHERINE COWLES
Ethan levantou a bebida em um brinde. — Amém a isso.

— Falando no diabo.

Hunter sentou no banquinho vazio, e Ethan deu-lhe um tapa amigável


nas costas. — O que? Vocês estão falando sobre como eu sou incrível?

Subi na prateleira sob a barra para poder me inclinar sobre o balcão.


Agarrei o rosto de Hunt em minhas mãos e dei um beijo estalado em cada
bochecha. — Na verdade, estávamos conversando sobre como você era
feio.

Hunter soltou uma risada profunda. — Isso corta profundamente


vindo de você, Bell.

Houve uma sensação de formigamento na parte de trás do meu


pescoço enquanto eu descia do meu poleiro. Examinei meu ambiente,
meu olhar indo até Ford. Um músculo em sua bochecha vibrou
descontroladamente. Lacey estendeu a mão, colocando-a nos seus
bíceps. Eu não pude assistir, queimou algo no fundo da minha barriga,
como se o ácido estivesse apodrecendo lá.

Eu me assustei com a mão no meu ombro. Eu devo estar olhando por


mais tempo do que eu pensava, porque Hunter estava agora ao meu lado
atrás do bar. — O que está acontecendo? Ford está dando problemas?

Algo sobre a pergunta tinha lágrimas queimando na parte de trás dos


meus olhos. Eu queria gritar — sim, — dizer que Ford estava me dando
o pior tipo de problema, o tipo que me lembrava de como eu ansiava pelo
garoto que era da minha irmã. Como eu desejava que ele fosse meu. Eu
o queria tanto que uma parte daquela garota de dezesseis anos que fui,
havia ficado preocupada por ter desejado a morte da minha irmã. Deus,
fazia tanto tempo que nenhum desses pensamentos se enraizava em
minha mente. Eu pensei que os tinha banido para sempre. Mas bastava

CATHERINE COWLES
que Ford voltasse à minha vida para eu perceber que eles ainda estavam
lá, apenas fervendo sob a superfície.

— Bell?

Eu olhei nos olhos preoucpados de Hunter. — Não, eu estou bem. Ford


e eu fizemos as pazes.

— Então por que vocês continuam se olhando como se estivessem


tentados a cometer um assassinato? — Seu olhar passou de um lado para
o outro entre Ford e eu, seu queixo apertando. — Ou... arrancar a roupa
um do outro.

Minhas bochechas brilharam de calor. Ford certamente não queria


arrancar minhas roupas. Ele provavelmente não conseguia lidar com a
ideia da garota que ele sempre via como uma irmãzinha conversando com
homens. Deus me livre. Tive uma súbita vontade de dar um beijo em
Hunter apenas para provar minha ideia. E não apenas nas bochechas
dessa vez. — Estamos apenas descobrindo nosso novo normal, e Ford
precisa se acostumar com a ideia de que eu não sou mais uma garota de
dezesseis anos. Eu me viro sozinha.

Hunter soltou uma risada e me puxou para um abraço de lado. — Ele


sempre foi muito protetor com você.

Eu resmunguei alguns palavrões baixinho. Ford sempre foi um pouco


exagerado ao cuidar de mim. Eu tinha certeza de que ele havia ameaçado
com ferimentos corporais em todos os garotos do ensino médio,
se quisessem falar comigo. Ficou tão serio que nenhum deles sequer falou
comigo no primeiro ano. E quando eu queria aprender a andar de skate,
Ford me fez prometer que só faria isso com ele e depois passou a comprar
todo tipo de equipamento de proteção que a loja local de artigos esportivos
vendia. Eu parecia o Michelin andando para aprender a primeira lição.

CATHERINE COWLES
— Bem, ele precisa aprender que eu posso cuidar de mim mesma, —
eu resmunguei.

Hunt me apertou com força e me soltou. — Ele vai. — Ele olhou para
o irmão. — E se ele causar algum problema, me avise, e eu o darei um
bem grande.

Hunter parecia um pouco feliz com a ideia de dar um soco no irmão.


Toquei seu bíceps, trazendo seu foco de volta para mim. — Estamos bem.
E veja como o bar está ocupado. Isso é tudo graças a Ford.

A boca de Hunter pressionou em uma linha dura enquanto ele


examinava a multidão. — Vamos ver se dura.

Suspirei. Ford e Hunter precisavam fazer as pazes. Pelos seus pais,


pelo menos. Mas eu realmente queria essa paz para os dois. Eu daria
qualquer coisa por apenas mais um dia com minha irmã, e esses dois
idiotas estavam desperdiçando a segunda chance que tinham na frente
deles. — Dê a ele uma chance de corrigir isso... por mim?

A expressão de Hunter suavizou. — Vou tentar. Mas só por você. —


Ele se inclinou, beijando a ponta da minha cabeça antes de voltar para o
bar.

Eu me virei para Ethan. — Então, reabasteço?

— Eu acho que estou bem, — disse Ethan, segurando seu copo ainda
meio cheio.

— Tudo certo. Vou ver se Darlene precisa de ajuda no salão. Apenas


chame a Ford se você precisar de outro.

Ethan fez uma careta, olhando de Ford para Hunter e de volta. Ele
provavelmente estava debatendo se pedir outro Jack e Coca-Cola
terminaria em uma briga entre irmãos. Eu realmente esperava que não.

CATHERINE COWLES
Eu caminhei por entre as mesas lotadas, chamando a Darlene. — Você
precisa de ajuda?

Darlene soprou a franja do rosto. — Você pode obter recargas para a


mesa seis?

— Claro. — Eu estava na metade do caminho de volta para o bar antes


de perceber que a mesa seis era o grupo de caras gostosos que Darlene
queria jogar para mim. Eu gemi, mas levei copos de cerveja e coloquei em
uma bandeja antes de ir para a mesa no canto de trás. Estudei os homens
quando me aproximei. Definitivamente turistas. Ricos, pela aparência
das coisas. Camisas e blusas com gola que provavelmente custam mais
do que eu ganho em uma noite aqui. Darlene estava certa, eles eram
bonitos, mas não eram do meu tipo.

Coloquei os copos, um de cada vez, sobre a mesa. — Aqui estão,


meninos. Precisam de mais alguma coisa? Algo para comer? — A última
coisa que eu precisava era deles se metendo na merda e fazendo
uma cena.

Um cara com cabelos loiros e olhos azuis me deu um sorriso. Era um


sorriso que eu sabia que ele tinha usado em inúmeras mulheres antes.
Um que provavelmente conseguiu o que ele queria nove vezes em dez.
Mas tudo que eu conseguia pensar era que seus olhos não eram azuis o
suficiente e seus cabelos eram muito loiros. — Poderíamos realmente
precisar algumas dicas de um local.

Coloquei minha máscara educada de anfitriã. — Claro, o que você está


procurando?

O loiro recostou-se na cadeira. — Bons restaurantes. Lugares para


caminhar. Qualquer coisa que não devemos perder.

Coloquei a bandeja debaixo do braço. — O Mad Baker é meu lugar


favorito para o café da manhã. A General Store tem ótimos sanduíches, e

CATHERINE COWLES
eles podem levar seus almoços para caminhadas diárias. Eu verificaria
as trilhas ao redor do penhasco e talvez fizesse uma viagem de caiaque
para observar as baleias.

— Parece que há muitas coisas boas para fazer por aqui.

— Há sim. A General Store também tem toneladas de folhetos para


mais atividades.

— Obrigado. — O cara me deu outro daqueles sorrisos glamorosos. —


Quer fazer uma viagem de caiaque conosco?

Antes que eu pudesse abrir minha boca para recusar educadamente,


uma mão forte pousou no meu ombro e causou arrepios no meu braço.
— Com licença, senhores. Eu preciso roubar Bell.

Ford me afastou da mesa e voltou para o corredor. Fiquei tão surpresa


com o movimento dele que nem sequer lutei. Mas quando chegamos ao
corredor, dei de ombros para fora de seu abraço. — Que diabos, Ford?

Sua expressão estava relaxada, mas a postura de seus ombros o


denunciava. — Eu não gostei da maneira como esses caras estavam
olhando para você.

Minha boca se abriu e fechou como um peixe em uma linha. — Você


não gostou do jeito que eles estavam olhando para mim?

— Não. — A declaração saiu com um grunhido. — Era... era como se


eles estivessem despindo você com os olhos. — Ele mal conseguia
pronunciar as palavras, como se a ideia fosse terrível para ele. Ele pode
não me querer, mas alguns homens sim me queriam.

Eu levantei as minhas mãos. — Notícias de última hora, Ford, este é


um bar. Os caras vão me olhar. Algumas garotas também. Estou
acostumada com isso. E eu sei como me cuidar. Se alguém sair da linha,

CATHERINE COWLES
eu os pedirei que se retirem ou Hank me ajudará a fazê-lo. Eu não preciso
de você entrando e arruinando minhas gorjetas ou dos garçons.

O músculo na bochecha de Ford tremeu. — Havia cinco deles e uma


de você. Não é seguro.

Eu soltei um grunhido. — Eu me cuido há muito tempo. Não preciso


de ajuda para fazer isso agora. — Eu me forcei a ignorar o estremecimento
de Ford. — E você não é realmente meu irmão mais velho, você sabe.

Eu passei por ele, mas não antes de ouvi-lo murmurar: — Confie em


mim, eu sei.

CATHERINE COWLES
19

EU GEMI enquanto tomava um gole de café. — Eu precisava disso mais


do que yoga hoje de manhã.

— O yoga provavelmente ajudaria essa nuvem negra que te segue


muito mais do que se encher de cafeína.

Eu fiz uma careta para Caelyn. — Não dormi bem ontem à noite. Este
café vai me impedir de assassinar pessoas. — A verdade é que eu me virei
a noite toda, repetindo a discussão com Ford várias vezes na minha
cabeça. Agora que eu o tinha de volta na minha vida, odiava a ideia de
estarmos em desacordo. Mas havia muita bagagem em nossa amizade, e
parte de mim se perguntou se seria possível não explodirmos um no
outro.

Kenna inclinou o rosto para o sol da manhã. — Vou tomar cafeína


durante o yoga qualquer dia.

Caelyn girou no banco para encarar Kenna. — Você é ainda pior


porque bebe todo o açúcar falso e o creme sem gordura do seu café.

Kenna manteve os olhos fechados. — Não comece comigo nessa


porcaria, C.

— Tudo bem, vocês duas. Cada uma de nós tem suas próprias
maneiras de funcionar, e vamos deixar assim.

Caelyn recostou-se na cadeira, observando os barcos carregarem


durante o dia. — Bem.

CATHERINE COWLES
Kenna soltou uma risada rouca. — Você parece uma criança amuada.
Nem todo mundo está apaixonado pelo seu nível de vida saudável.

— Eu não sou tão ruim.

Kenna bufou. — Você nem vai deixar as crianças tomarem


refrigerante.

— De vez em quando, deixo que tomem refrigerante de cana.

— Isso não é a mesma coisa, e você sabe disso.

Eu sorri para minhas duas melhores amigas, tentando segurar minha


risada. — Você sabe, Will tem um esconderijo secreto na garagem. — O
pobre garoto escondia doces, refrigerantes e batatas fritas. Quando
Kenna e eu descobrimos, começamos a aumentar o suprimento dele.

Caelyn se endireitou na cadeira. — Ele não tem.

Kenna engasgou com a risada. — No velho baú do exército no canto.

— Aquele pequeno safado.

— Caelyn, — eu avisei. — Não jogue fora a comida dele. Ele tem


quinze, e precisa de um pouco de lixo na vida.

Ela caiu contra o banco. — Oh, tudo bem. — Ela olhou de volta para
a água. — Agora sei por que ele nunca pediu sobremesa.

— Porque sua ideia de sobremesa é uma coisa de alfarroba natural. —


Kenna olhou para o bolinho integral na mão de Caelyn.

— Ei, alfarroba é basicamente chocolate.

Eu levantei uma mão. — Não chega nem perto.

A atenção de Caelyn repentinamente voltou para a doca e ela


suspirou. — Eu quero trepar naquele homem como uma árvore.

CATHERINE COWLES
Soltei um som estrangulado que era parte riso e parte tosse. — O que?
— Eu segui sua linha de visão até uma estrutura enorme que descia a
doca. Não só o homem era alto e fornido, mas também usava uma
expressão que ameaçava machucar quem se metesse no caminho.

Kenna gemeu. — O que há entre você e o introvertido?

Caelyn deu de ombros. — Ele sempre parece suave e tranquilo, mas


sempre causa um grande impacto.

Eu balancei minha cabeça enquanto observava o homem desaparecer


na loja da marina. — Eu acho que provavelmente é uma boa ideia você
ficar longe de Griffin Lockwood.

— Por quê?

O olhar de inocência e esperança no rosto de Caelyn era motivo


suficiente. Ela sempre pensou que seria a mulher para consertar os caras
quebrados, e isso a machucou mais de uma vez. Mas ela não precisava
que eu a lembrasse disso. Eu forcei um sorriso. — Porque ele pode comer
você.

Caelyn balançou as sobrancelhas. — Talvez eu queira que ele me


coma.

— Que nojo. Eu não preciso ouvir sobre isso— Kenna reclamou.

— Não, você só precisa ter suas próprias aventuras sexuais.

Kenna virou-se para mim. — Acho que deveríamos conversar sobre a


vida amorosa de Bell.

A máscara deslizou sobre minhas feições sem que eu a colocasse


conscientemente no lugar. — Não tenho vida amorosa atualmente, você
sabe disso.

CATHERINE COWLES
— Hmmmm. — Kenna tamborilou com os dedos ao longo da lateral da
xícara de café. — Então, e a cena da noite passada no The Catch?

Minha coluna endureceu. — Quem te contou sobre isso?

— Encontrei Crosby quando estava recebendo nossos cafés. Ele esteve


no bar ontem à noite, por muito tempo, a julgar pelo seu estado
desgrenhado esta manhã. — Kenna soltou um pequeno suspiro.

— O que ele disse?

Pequenas linhas de preocupação apareceram entre as sobrancelhas


de Kenna. — Ele me disse que Ford afastou você de uma mesa cheia de
homens. Disse que ele não parecia muito feliz com a atenção que eles
estavam te dando.

Esse era o problema de morar em uma ilha minúscula. Todo mundo


conhecia todo mundo. E todos adoravam espalhar fofoca. Eu ia colocar
sal na cerveja de Crosby na próxima vez em que o servisse. Não era que
eu não quisesse compartilhar o que havia acontecido com Kenna
e Caelyn, eu contava tudo a elas, eu apenas não tinha pensado nisso
ainda.

Caelyn tomou um gole de seu chá. — Ford parece bastante protetor


com você.

— Sim, como uma irmãzinha—, eu resmunguei no meu café.

— E o problema com isso é? — Kenna perguntou.

Caelyn me alcançou para bater no joelho de Kenna. — Você sabe qual


é o problema.

Claro que elas já sabiam. Sabiam desde o dia em que comecei a ter
aquelas borboletas voando na minha barriga quando Ford estava por
perto. Ouviram meus medos de que eu nunca sentiria por ninguém do
jeito que me sentia por ele. E elas me seguraram enquanto eu chorava

CATHERINE COWLES
quando soube que ele se foi para sempre. Então, é claro, sabiam que
esses sentimentos não iriam simplesmente desaparecer.

— Talvez eu precise me inscrever em um desses sites ou aplicativos


de namoro online. — Não é como se eu tivesse namorado muito na
faculdade ou depois, e tinha que ser parcialmente um jogo de números.
Se eu me mostrasse o suficiente, deveria haver alguém que fizesse minha
pele formigar e minha alma se sentir em paz como Ford. Eu apenas não
me esforcei o suficiente para encontrá-los.

— Você está tentando ser assassinada?

— Kenna—, Caelyn repreendeu.

— O que? Esses lugares são um terreno fértil para assassinos em série


e predadores sexuais.

Eu fiz uma careta. — Eu estarei segura. Encontrar em um local


público, não dar meu número de telefone.

— Tudo é pesquisável nos dias de hoje, Bell.

— Poderíamos fazer para nós duas. — Eu olhei para Caelyn. — Ou


nós três?

Caelyn levantou as mãos. — Ah não. Você não está me arrastando


para isso. Estou perfeitamente feliz com minha vida de fantasia com
Griffin, o deus grego.

Eu sorri para ela, mas por trás disso era apenas uma pitada de
preocupação. A última coisa que ela precisava era construir aquele
homem introvertido em sua mente em algo que ele não era. — Certo, tudo
bem. Mas tenho que tentar alguma coisa, e não é como se houvesse
muitas opções em uma ilha de mil e quinhentas pessoas.

CATHERINE COWLES
Kenna virou-se na cadeira e ficou de frente para mim, colocando uma
longa perna embaixo dela. — O que há com o repentino desejo
desesperado de namorar?

A emoção entupiu minha garganta. — Eu tenho que superá-lo. Eu


pensei que eu tivesse superado. — Nos últimos onze anos, tudo o que
senti foi raiva. Raiva e talvez um pouco de tristeza por tudo o que eu
pensava que Ford tinha jogado fora. — Mas bastava um olhar para ele
em carne e osso para saber que eu menti para mim mesma o tempo todo.

Eu olhei para o oceano, águas cinza escuras ondulando e rodopiando.


— No começo, eu ainda estava com tanta raiva dele. Ele me traiu. Cuspiu
no vínculo que tínhamos. Deixou-me no meu pior momento. Mas quando
eu percebi o que estava acontecendo, o quanto ele estava sofrendo, o que
meus pais fizeram... eu não tinha mais raiva.

— Eu ainda não posso acreditar que eles fizeram essa merda—, Kenna
murmurou.

Caelyn fez um som para silenciar Kenna, sentindo que eu


precisava esclarecer tudo agora. — Quando eu não tinha minha raiva, só
me restava o desejo. Isso e minha culpa.

— Oh, Bell. — Caelyn passou um braço em volta de mim, apertando


mais perto.

— Eu pensei que talvez ele tivesse se transformado em um idiota


elegante em Los Angeles. Mas no final do turno, eu o vi embrulhando a
comida extra para mandar para casa com Darlene. Ele sabe que ela tem
dois filhos em casa, e seu ex está tão atrasado em apoio à criança que é
ridículo. Ele é gentil com toda a equipe, está trabalhando duro e,
caramba, eu senti sua falta. Eu sentia falta de conversar com ele sobre
as coisas importantes e sobre as coisas que não importam. Eu pensei que
poderia ter exagerado isso em proporção, romantizado ou algo assim, mas
não o fiz.

CATHERINE COWLES
Caelyn apertou meu ombro. — Então você deve lutar por isso, querida.
Você sabe melhor do que ninguém que só tem uma vida preciosa.

O olhar de Kenna voltou-se para Caelyn. — Não, ela não deveria.


Aquele homem não fez nada além de machucá-la e deixá-la quando ela
mais precisava dele. Ele não a merece.

Engoli em seco as giletes invisíveis que pareciam estar subindo pela


minha garganta. — Não importa, eu não posso.

— Por que não?

Foi Kenna quem respondeu. — Porque ela sente que estaria traindo
Violet.

A cabeça de Caelyn se virou na minha direção. — É isso que você


realmente pensa?

Eu dei um pequeno aceno de cabeça. Era muito mais complicado que


isso, no entanto. Havia tantas camadas de culpa, tristeza, raiva e
saudade. E todos eles se misturaram em um caldo feio, que significava
que nunca haveria um final feliz para Ford e eu. Não da maneira que eu
realmente queria de qualquer maneira. Eu teria que me contentar em tê-
lo como meu amigo. Eu só tinha que me fazer acreditar na mentira de
que a amizade seria suficiente.

CATHERINE COWLES
20

— FORD HARDY.

Levantei os olhos do meu telefone com o tom nítido, enfiando-o no


bolso de trás. Eu reprimi um gemido. — Sra. Hotchkiss. Lacey.

— Ei, Ford. — Lacey piscou para mim como se a vibração de seus


cílios estivesse enviando algum tipo de código Morse.

O olhar da Sra. Hotchkiss se estreitou em mim. — Ouvi dizer que você


estava de volta.

— Eu estou.

— Você deveria ter voltado.

— Mamãe! — As bochechas de Lacey esquentaram quando ela agarrou


o braço de sua mãe.

A senhora Hotchkiss virou-se para a filha. — É a verdade. Ele deveria


ouvir.

Apertei os dentes. — Estou aqui apenas por alguns meses, ajudando


minha família.

Seu olhar voltou para mim. — Sem ter consideração pela família que
você destruiu, por quanta dor causará que eles vejam você aqui.

Meu interior retorceu. — Não estou tentando causar dor a ninguém,


mas minha família está aqui, então não há como evitar.

— Você com certeza ficou longe o suficiente antes. Mas agora você está
de volta e está partindo o coração de Heather. E não consigo imaginar

CATHERINE COWLES
como deve ser doloroso para Isabelle vê-lo no trabalho todos os dias. Você
precisa ficar longe daquela garota, de sua família. Conceda a eles
qualquer pouco de paz que lhes resta.

— Tenho que ser sincero, senhora Hotchkiss, isso não é da sua conta.
— Eu me afastei quando ela ofegou e depois caminhei na direção de The
Catch.

— Ford, espere!

Uma mão pegou meu cotovelo e eu me virei. — O que?

As bochechas de Lacey estavam vermelhas, e ela estava sem ar. —


Sinto muito, ela é muito protetora com a Sra. Kipton e a Sra. Kipton está
realmente chateada por você estar de volta e trabalhando com Isabelle.

— Como eu disse a sua mãe, não é da conta delas.

Lacey estendeu a mão, colocando-a no meu antebraço. — Você está


certo, não é. Por que não vamos ao The Mad Baker? Podemos tomar uma
xícara de café e conversar.

Eu soltei meu braço. — Eu tenho que começar a trabalhar.

— Violet gostaria que você fosse feliz. Talvez se


conversássemos, ajudaria você a perceber que pode seguir em frente.

Eu não tinha palavras para a mulher na minha frente. Ela poderia ter
sido amiga de Vi, mas eu nunca gostei dela, e agora, ela era basicamente
uma estranha. Se ela pensou que eu abriria minhas feridas para ela, ela
estava enganada. Antes que eu pudesse falar, a senhora Hotchkiss gritou
do outro lado da rua. — Lacey, fique longe desse cara. Nós precisamos ir.

Lacey olhou para a mãe e depois de volta para mim. — Eu sinto muito.
Eu vou ao bar em breve e nós podemos conversar.

CATHERINE COWLES
— Não é necessário. — Minhas palavras foram frias e eu não consegui
evitar.

Lacey deixou a dor transparecer na sua expressão. — Você está


sofrendo. Eu entendo.

— Não, você não está, e nunca entenderá. — Antes que ela pudesse
dizer mais alguma coisa, eu me virei e fui em direção ao bar. Era assim
que a vida em Anchor sempre seria, uma pessoa aleatória enfiando o
nariz nos meus negócios e me dizendo como se sentia sobre a minha vida,
o que eles pensavam que eu precisava fazer para curar. Ou pior. Bell pode
ter me perdoado, mas havia muitas pessoas nesta pequena ilha que não.

Quando cheguei no terreno de cascalho na parte de trás do The Catch,


meu telefone tocou no meu bolso. Puxando para fora, hesitei por apenas
um momento antes de aceitar. — E aí cara?

— Ford, como está a vida na ilha?

Fiz uma pausa por um momento, sem saber como responder. Era uma
tortura e exatamente onde eu precisava estar. Houve momentos, como o
que eu acabei de encontrar, que aqueceram meu sangue e trouxeram
minhas piores lembranças. Mas havia também uma sensação de paz em
Anchor que eu tinha esquecido, algo que nunca encontraria em Los
Angeles. Havia conforto em ter minha família próximo. E havia algo
completamente diferente em ter Bell ao alcance do braço. Algo em que eu
queria me apoiar, mas ainda não queria olhar muito de perto.

A hesitação enquanto minha mente girava me custou, porque como


um dos meus amigos mais próximos, Austin sabia quando algo estava
acontecendo. — O que está errado? Seu pai está bem?

Limpei a garganta e comecei a andar novamente, indo para a praia. —


Papai está bem. Há muito passado neste lugar para mim.

Austin ficou quieto por um momento. — Coisas de família?

CATHERINE COWLES
A culpa me roeu por dentro. Austin sempre fora honesto comigo.
Claro, ele manteve suas emoções guardadas, mas nunca me escondeu
grandes eventos do seu passado. Eu escondi o que parecia uma vida
inteira dele e de nosso outro amigo, Liam. — Isso faz parte. Há algumas
coisas no meu passado... — Lutei para encontrar as palavras certas.
Como você contava a alguém algo assim? — No verão anterior à minha
ida para a faculdade, sofri um acidente. Minha namorada e sua irmã
estavam no carro comigo. Violet, minha namorada, não sobreviveu. —
Minha voz ficou mais rouca a cada palavra, captando as sílabas do nome
de Vi. — Eu não voltei desde então.

O som de uma porta se fechando atravessou a linha. — Ford, eu sinto


muito. Deus, isso soa como uma desculpa. Claro, você sabe que sinto
muito. Mas não sei mais o que dizer. Eu odeio que você tenha passado
por isso.

Esfreguei a parte de trás do meu pescoço enquanto olhava para o


oceano. — Obrigado, A. — Finalmente pude olhar para ela e
pedir desculpas também. Nenhum de nós mereceu como o acidente
destruiu nossas vidas. Cada um de maneiras muito diferentes, mas a
destruição e a doença se seguiram. Vi nunca conseguiu juntar suas
peças, mas Bell e eu... nós temos que tentar.

— Eu estou fodendo as coisas com a irmã dela. — As palavras saíram


da minha boca antes que eu pudesse detê-las. Eu estava segurando todos
os meus sentimentos sobre Bell e a situação há mais de um mês, e eles
estavam morrendo de vontade de sair.

Austin respirou fundo. — O que está acontecendo? Vocês eram


amigos?

Amigos pareciam um termo tão bizarro para o que Bell e eu tínhamos


sido. Ela sempre foi mais, embora não de qualquer maneira romântica,
eu simplesmente não a tinha visto dessa maneira. Bell sempre fora como

CATHERINE COWLES
outro membro. Ela era simplesmente uma parte de mim. Eu não
pensei muito sobre isso, apenas era. Essa garota, que sempre foi sábia
apesar dos seus poucos anos, viu coisas sobre mim que ninguém mais
viu, como se ela morasse dentro das partes mais profundas da minha
mente. E, Deus, eu senti falta disso quando essa parte de mim ficou
quieta, quando ela ficou em silêncio. Essas dores fantasmas nunca
desapareceram.

Engoli em seco contra a emoção que crescia na minha garganta. —


Éramos próximos.

Austin ficou quieto por um momento. — Você tem sentimentos por


ela. — Não era uma pergunta, era uma simples afirmação da verdade.
Nós nos conhecíamos há uma década, ele sabia ler nas entrelinhas.

— Eu não posso. — As duas palavras doíam quando eu as falei, como


se contivessem uma bola de arame farpado, cortando meu corpo
enquanto viajava para escapar da minha boca.

Austin soltou um assobio baixo. — Aposto que você está se


martirizando muito agora.

Eu ri e me inclinei para pegar uma pedra ao longo da costa. — Se você


estivesse aqui, iríamos dar umas voltas no ringue.

— Você está pior do que eu pensava, se você quer que eu chute sua
bunda.

Eu coloquei toda a força que pude para enviar a pedra na minha mão
para o oceano. — É tão complicado, pra caralho. É essa bagunça de culpa,
desejo e raiva e tantas outras coisas pelas quais não tem nome, e isso
está me fazendo questionar tudo.

Não dormi novamente na noite passada e, quando eu estava acordado


olhando para o teto, eu continuava repetindo a pergunta, eu perdi o que
estava bem na minha frente esse tempo todo? Repetidamente na minha

CATHERINE COWLES
cabeça. Claro, Bell tinha sido dois anos mais nova que eu, mas ela era
adoravelmente fofa. Eu tinha perdido tudo o que ela trouxe para minha
vida porque eu estava distraído com a beleza clássica de Violet? Vi e eu
fazíamos sentido. Titular do time de futebol e uma das líderes de torcida.
Parecia tão clichê agora, tão... vazio. Eu a amava da maneira que
um garoto de dezoito anos podia, mas não tínhamos profundidade.
Conhecíamos os pedidos de café e o corpo um do outro, mas sabíamos
alguma coisa que ficava abaixo da superfície? Eu não tinha mais certeza.

— Assim é a vida Ford. Nada é tão preto e branco como queremos que
seja. Tudo são tons de cinza. Tudo o que podemos fazer é tentar fazer as
melhores escolhas com o que está à nossa frente.

Comecei a descer a praia, chutando uma pedra enquanto caminhava.


— Esse é o problema, não sei o que diabos fazer. Por um longo tempo,
pensei que Bell me odiasse porque era eu quem dirigia naquela noite. Eu
tinha certeza que ela nunca seria capaz de me perdoar. Então, eu fiquei
longe. Acontece que foi o afastamento que a machucou mais do que
qualquer coisa. Ela nunca me culpou.

— Claro que ela não fez. Foi um acidente.

— Mas agora, estamos neste espaço estranho de nos conhecermos


novamente e existem todas essas minas terrestres. Você nunca sabe se
um passo em falso vai explodir na sua cara.

Austin suspirou. — Eu sei como é isso. — Ele certamente fez. Austin


e sua agora esposa, Carter, tiveram uma briga que durou um ano.
Quando eles voltaram, tinha sido mais do que um pouco arriscado para
ele. — Você só tem que dar tempo a ela. E mais do que tudo, você precisa
provar que não vai deixá-la novamente.

As palavras de Austin me cortaram. Eu machuquei Bell quando ela


estava mais vulnerável, e mesmo sabendo que ela estava feliz por eu estar
de volta à sua vida, também sabia que ela não confiava. Não confiava

CATHERINE COWLES
em mim. Eu soltei uma maldição. — Mas eu estou indo embora. Dentro
de alguns meses, eu vou embora novamente. Eu só precisava que
estivéssemos em um lugar melhor quando o fizer. Não quero perdê-la
quando partir. Isso significa que a única coisa que pode ser é amizade.
Havia muitos obstáculos em nosso caminho para ter mais. Eu nem tinha
certeza de que Bell queria mais, mas o jeito que eu a peguei olhando para
mim às vezes me dizia que poderia haver.

Austin ficou quieto por um momento. — Ford, não foi você quem me
disse para não perder a melhor coisa que já havia passado comigo? Eu
brinquei por muito tempo com Carter e quase a perdi. Não
consigo imaginar o homem que seria se a perdesse. Eu não quero isso
para você.

Engoli em seco. — Eu também não. — Bell sempre me fez uma pessoa


melhor. Ela me desafiava. Fazia perguntas difíceis, mesmo quando era
pequena. Bell nunca deixava passar nada, e eu amava isso nela. Não era
fácil, mas era real, e eu tive suficiente coisas fáceis para durar a vida
inteira.

— Não seria fácil—, disse Austin como se estivesse lendo minha


mente. — E tenho certeza de que há um milhão de coisas que eu não sei
que tornará ainda mais difícil. — Ele não estava errado. Porra. Minha
família. A dela. O povo fofoqueiro desta maldita ilha. Sem mencionar o
monstro de dez toneladas nas nossas costas: culpa. — Só porque é difícil,
não significa que não vale a pena. Em alguns casos, quanto maior a
dificuldade, mais doce será a recompensa.

Inclinei minha cabeça para trás para olhar o sol espiando através das
nuvens cinzentas. — Não posso, A. Poderia estragar tudo. — Mais
importante ainda, minha chance de manter Bell na minha vida de
qualquer maneira real.

— Apenas pense sobre isso.

CATHERINE COWLES
Ele não tinha que me dizer isso, era tudo o que consumia minha
mente.

CATHERINE COWLES
21

S OLTEI uma série colorida de maldições quando o frasco de spray


cheio de solução de limpeza caiu no chão.

Darlene se inclinou para pegá-lo, olhando com cuidado enquanto ela


me entregava. — O que há de errado com você esta manhã?

Pulverizei a mesa com um pouco mais de força do que o necessário,


esfregando a superfície da madeira como se pudesse resolver todos os
meus problemas junto com a camada de sujeira. — Eu simplesmente não
dormi muito bem ontem à noite. — Isso era verdade, mas era mais que
meu desabafo emocional com Kenna e Caelyn havia ficado comigo. E não
apenas na vermelhidão dos meus olhos. Isso criou raízes profundas no
meu peito, como se eu tivesse perdido algo profundo. Mas esse algo
nunca tinha sido meu para começar.

— Isso tem algo a ver com um certo chefe nosso? — Darlene arqueou
uma sobrancelha.

Eu me irritei com a palavra chefe. Ford não tinha me destacado nem


nenhum dos outros funcionários, e eu não pensava nele dessa maneira.
Mas ainda me frustrava o fato de ele ter a carta na manga, se ele quisesse
usá-la. — Não. — Mentiras... mentiras... mentiras.

Darlene riu. — Claro, Bell.

— Você quer limpar o banheiro hoje?

Darlene levantou as mãos em derrota. — Só estou dizendo que você


poderia fazer pior. E a maneira como ele estava olhando você ontem à
noite... Garota, eu pego qualquer noite da semana.

CATHERINE COWLES
Esfreguei um ponto invisível na mesa. — Ele é todo seu.

— Não, querida. Ele é todo seu.

Mas Ford não era meu. Todas essas pessoas estavam confundindo seu
jeito super protetor do irmão mais velho com ciúmes ou interesse. Só doía
mais saber como eles estavam errados.

Botas soaram no cimento do corredor dos fundos, e Darlene balançou


as sobrancelhas para mim. Eu a olhei e depois voltei a limpar as manchas
na mesa que só eu podia ver. — Trouxe café e muffins.

Apenas o timbre baixo da voz de Ford teve aquelas malditas borboletas


voarem na minha barriga. Era como se as vibrações de suas palavras
cruzassem a sala e deslizassem sobre minha pele em uma carícia física.
Maravilhoso. Eu precisava me controlar.

— Você sabe o caminho para o meu coração. — Darlene me


abandonou e foi direto para as guloseimas e o cara gostoso. Traidora.

— E você, Trouble? Tem espaço para um muffin de chocolate na sua


vida?

O homem jogava sujo. Sua voz matinal sexy e meu apelido? Letal. Eu
limpei minha garganta. — Terminarei em um minuto. Eu só quero acabar
isso.

Alguns segundos depois, senti calor nas minhas costas. Muito perto.
— Tenho certeza de que a mesa estava limpa há vinte passadas.

— Nunca é demais ter cuidado com germes. — Minha voz falhou no


meio e eu fiz uma careta.

Ford arrancou o frasco de spray e o pano da minha mão, inclinando


para sussurrar no meu ouvido. — Vá tomar seu café da manhã. Não
posso permitir que você desmaie comigo. — Ele se endireitou e, com uma

CATHERINE COWLES
piscadela, caminhou na direção do armário onde guardamos os materiais
de limpeza.

O que diabos estava acontecendo com Ford e sua piscadela? Para


mim. Ele tinha essa facilidade para brincar, sem preocupações quando
era mais jovem, mas eu não via muito desde que ele voltou. Eu acho que
não desapareceu. Eu me virei para o bar onde Darlene estava se
abanando. — Estou dizendo, isso é melhor do que pornografia e meus
dramas adolescentes todos reunidos em um.

Dei um tapa no ombro dela enquanto me dirigia para a pia do bar para
lavar as mãos. — Eu não posso lidar com o seu sarcasmo antes de tomar
meu café.

— Bem, venha aqui e tome um pouco deste delicioso café com leite
que aquele pedaço de homem acabou de trazer para você.

Ignorei a última parte da sentença de Darlene e fui direto para o café


e o muffins. — O que ele trouxe para você?

Darlene sorriu. — O homem me conhece bem. Ele trouxe meu favorito,


um maple bacon bar . Tenho que ter minha proteína diária.

Eu soltei um meio bufo, meio risada. — Essa coisa é noventa e nove


por cento de açúcar.

— Silêncio. As calorias não contam antes do meio dia.

Eu levantei minha xícara de café para ela. — Amém a isso.

A preparação da manhã voou com nós três trabalhando. Ainda assim,


eu estava uma bagunça, deixando cair talheres e guardanapos,
tropeçando em molhos invisíveis no chão. Quando deixei cair um copo,
despedaçando-o em um milhão de pedacinhos, Ford parecia ter o
suficiente.

— Tudo bem, Trouble. Você e eu vamos tirar a tarde de folga.

CATHERINE COWLES
— O que? — Eu não pude evitar gaguejar em minhas palavras. — Nós
não podemos. Nós temos que trabalhar. — Sem mencionar o fato de que
ficar sozinha com Ford no meu estado atual era uma ideia horrível.

Ford passou por cima do vidro e me levantou sem esforço no topo do


balcão. Eu bufei. — Estou usando Converse, não é como se eu fosse me
cortar.

— Melhor prevenir do que remediar. Fique aqui.

Fiz uma careta para as costas dele quando ele se virou para pegar a
vassoura e a pá de lixo. — Eu vou limpar isso. Você vai subir as escadas
para vestir o que usa em caminhadas e depois nós sairemos daqui todo
o dia.

Minha carranca se aprofundou. — Somos nós agora? — A audácia


desse homem.

— Somos nós.

Eu pulei do balcão quando Ford terminou de varrer. — Bem, chefe, eu


não deixo meus funcionários lidar com a corrida do almoço sozinhos.

— Nós podemos lidar totalmente com isso por conta própria—,


Darlene chamou do outro lado do bar. Uma pequena traidora.

— Sim, nós temos tudo coberto—, ecoou Hank da cozinha.

— Viu? — Ford arqueou uma sobrancelha. — Você tem boas pessoas


que podem lidar com qualquer horda de turistas que aparecerem, e o
novo trainee estará aqui em uma hora. Agora, troque de roupa e vamos
embora. Vamos almoçar no caminho.

Minha boca se abriu e fechou, procurando uma desculpa, mas tudo


em que eu pensei soou como o último argumento. — Bem. — Fui até as
escadas dos fundos, pisoteando como uma criança de dois anos o tempo
todo.

CATHERINE COWLES
F ORD PAROU seu SUV em um dos lugares de estacionamento nos
arredores da cidade. — O General Store? Para o almoço?

Eu sorri. — Algumas coisas mudaram desde que você esteve fora, e


este é um deles.

Ele me olhou do banco do motorista. — Estou confiando em você com


a coisa mais importante de todas.

— O que é isso?

— Meu estômago.

Eu soltei uma risada sufocada. Ele sempre foi altamente motivado


pela comida. — Eu prometo que não vou te enganar, mas você terá que
vir comigo.

Ele desligou o motor e pulou para fora do SUV. — Bom. —Parecia que
eu estava arrastando o homem para a morte, não a um local de almoço
em potencial.

Eu sorri na calçada, tentando esconder minha diversão. Apenas


espero até ele ver o menu. Ford manteve a porta de tela gasta aberta para
mim. Nós estivemos aqui inúmeras vezes antes. Vimos de bicicleta da
minha casa no verão para um picolé. Parando no caminho da escola para
casa para alguns doces.

A maior parte da loja não havia mudado, mas o velho Walters


construiu uma parte de trás da loja que abrigava uma pequena cozinha
e um balcão com oito bancos. Na parede dos fundos, havia um quadro
negro com um escrito artístico tão familiar quanto a minha própria
caligrafia. — Caelyn.

CATHERINE COWLES
Ela se virou ao som da minha voz, os cabelos presos em um coque
casual, as pulseiras nos braços balançando. — Bell. O que você está
fazendo aqui? — Seus olhos se arregalaram para o homem atrás de mim.
— Ford. Oi. — Sua última frase saiu como um rangido.

Engoli minha risada. — Vamos fazer uma caminhada e poderíamos


precisar um pouco de alimento.

Caelyn sorriu para nós dois. Merda. Ela estava tendo muitas
esperanças. Pude ver nos seus olhos, ela já estava escrevendo um grande
final romântico para Ford e eu, e isso a esmagaria quando as coisas não
fossem assim. — Isso, eu posso fazer por você.

Virei para Ford, que estava estudando o cardápio com um olhar de


horror. — Sanduíche de couve?

Eu não consegui segurar minha risada dessa vez. — O que? Morando


em LA há mais de uma década, e você ainda não gosta de comida de
coelho?

— Essa não é exatamente a minha culinária preferida. — Ele olhou


para Caelyn. — Sem ofensa.

Ela levantou a mão. — Não ofendeu. Também temos opções mais


carnívoras. Você me diz o que não gosta, e eu vou lhe preparar uma coisa
especial. Eu já conheço os favoritos de Bell.

— Sem couve. Sem cogumelos.

— Justo. Bells, você quer o BLT vegano?

Eu assenti. — Isso parece perfeito. Vamos pegar algumas batatas


fritas e bebidas enquanto você cozinha.

Ford me estudou com cuidado enquanto descíamos pelo corredor dos


biscoitos. — Você mudou, Bell.

CATHERINE COWLES
Eu parei com suas palavras. — Bem, já faz um tempo. — Eu não pude
evitar a atitude defensiva em minha voz. A ideia de que ele não gostava
da mulher que estava agora diante dele, me deu a súbita vontade de me
arrastar para dentro de mim.

Ford agarrou meu cotovelo, me puxando em sua direção, então fui


forçada a olhar em seus olhos. Eles suavizaram com a minha expressão.
— Eu nunca pensei que minha garota do cheeseburger com bacon duplo
pediria um BLT vegano. Isso deveria ser ilegal.

A rigidez desapareceu do meu corpo e eu sorri. — Você não sabe o que


está perdendo por não tentar coisas novas, Ford. — E com isso, eu dei
meia volta e fui para as batatas fritas.

CATHERINE COWLES
22

— E STOU FORA DE FORMA . Como eu não sabia que estava fora de


forma?

A risada de Bell pegou a brisa quando ela sentou em uma pedra no


topo do Monte Orcas. — Isso é porque você está acostumado
aos exercícios de maricas LA.

Sentei na pedra ao lado da dela e fiz uma careta zombeteira. — Quero


que você saiba que luto regularmente com um lutador profissional.

Ela sorriu. — Não ajuda a escalar melhor uma montanha.

Eu caí para o lado dela, fazendo cócegas no local que eu sabia que
era extremamente sensível. Ela soltou um grito agudo que teve dois
pássaros de uma árvore próxima voando. — O que é que foi isso?

— Você é um deus grego! Então, você está em forma, eu nunca poderia


competir com você!

Parei de fazer cócegas, mas minhas mãos permaneceram em sua


cintura por mais um momento, enquanto eu saboreava a sensação das
suas curvas. A respiração de Bell parou quando nossos olhares travaram,
sua boca a uma curta distância. Tudo o que eu teria que fazer era inclinar
para a frente e...

— Então, o que você achou do sanduíche de Caelyn?

Soltei minhas mãos do corpo de Bell e me acomodei de volta na minha


pedra. Merda. Isso foi perto, muito perto. — Eu te disse, estava muito
bom. — Eu não sabia que bruxaria vodu a garota tinha, mas ela

CATHERINE COWLES
combinou coisas em que eu nunca teria pensado. Meu sanduíche tinha
presunto e algum tipo de pasta de damasco, junto com coisas que eu nem
reconhecia. Mas tinha um gosto delicioso.

— Eu disse para você confiar em mim.

Eu encontrei o olhar de Bell. — Eu confio em você.

Sua respiração parecia tartamudear no peito. — Bom.

Com essa única palavra, eu sabia que a confiança não foi devolvida.
E queimava. Aquele fogo furioso. Não em Bell, mas em mim mesmo, por
destruir um dos presentes mais preciosos que já recebi. Mas isso era a
coisa da vida. Muitas vezes, não percebíamos que os presentes mais raros
e mais bonitos já estavam em nossa posse. Às vezes, nós não descobrimos
a verdade antes que fosse tarde demais. Recusei a deixar que fosse esse
o caso. Eu faria o que fosse necessário para consertar o que tinha
quebrado.

— Conte-me sobre seus bares. — Bell sentou sobre suas pernas


cruzadas.

— O que você quer saber?

Ela sorriu. — Tudo. Por que você os iniciou? Qual é o seu favorito? O
que você fará a seguir.

Eu ri. Bell sempre teve um milhão de perguntas. Eu sempre disse que


ela podia conversar com um tronco de árvore. — Fazia sentido. Eu cresci
com papai e mamãe me mostrando as coisas no The Catch, então eu sabia
o básico. Eu me formei em negócios na UCLA, mas simplesmente não
conseguia me animar em trabalhar em um escritório abafado. Eu queria
algo diferente.

— Entendi. Você sempre quis começar em LA?

CATHERINE COWLES
— Era outra coisa que era apenas lógica. Eu tinha algumas conexões,
pessoas que estavam dispostas a investir. O primeiro bar ainda é o meu
favorito. É o que eu passo mais tempo, aquele que foi o mais difícil de
entregar as rédeas.

A expressão de Bell suavizou-se. — Quem está cuidando deles


enquanto você está aqui?

— O gerente que está comigo há mais tempo. Eu confio nele, e ele está
fazendo um ótimo trabalho. Acho que ainda sou um pouco maníaco por
controle com meus bebês. Embora tivesse ficado mais fácil nos últimos
dois anos. Quando cheguei, liguei para Luke todos os dias, às vezes duas
vezes por dia, para verificar as coisas. Mas agora, eu me vi esperando por
seus relatórios semanais.

— Deve ser difícil.

Eu olhei de volta para Bell. O sol batia em seus cabelos, mechas loiras
de seu rabo de cavalo captando a luz. Suas bochechas estavam rosadas
pela caminhada, e seus olhos verdes pareciam dançar e brilhar. Ela
nunca pareceu mais bonita. — O que deve ser difícil? — Havia uma dor
na minha voz que eu não conseguia disfarçar, uma mistura de emoções.

Um lampejo de tristeza percorreu suas feições. — Ficar longe do que


você ama. Aposto que você mal pode esperar para voltar.

Droga. Austin estava certo. Bell estava esperando que eu a deixasse


novamente. E ela não estava errada ao esperar isso. Durante toda a
viagem de três dias de LA para a ilha, eu estava calculando quanto tempo
teria que ficar em Anchor. Qual seria a estadia mais curta com a qual eu
poderia me virar para acalmar meu irmão. Agora, estava procurando
desculpas para ficar. Eu não sabia o que o futuro continha, mas sabia
que queria Bell nele.

— Eu realmente precisava de uma pausa.

CATHERINE COWLES
O olhar de Bell voou para o meu. — Realmente? — Eu assenti. — Por
quê?

Recostei-me na rocha, a superfície áspera cavando minhas mãos


enquanto olhava para o mar ao nosso redor. A vista era de tirar o fôlego.
O ar ao nosso redor silencioso. Ainda. Eu sentia falta da paz do lugar
mais do que queria admitir. Procurei as palavras certas para explicar a
inquietação que senti ultimamente em Los Angeles. — Não sei
exatamente o porquê. Eu fui feliz em LA por um longo tempo. Mas,
durante o ano passado, comecei a ficar inquieto, como se minha pele
estivesse muito tensa para o meu corpo. As coisas que eu amava na
cidade se tornaram coisas que eu odiava.

Eu olhei de volta para Bell. Ela ouviu atentamente enquanto eu falava,


mordiscando seu lábio inferior. — Acho que LA era o que você precisava
na época. É tão diferente daqui. — Ela soltou uma risadinha. — Você não
poderia encontrar algo mais oposto se tentasse. E você precisava de algo
que não contivesse o passado. Mas agora, talvez você precise de outra
coisa. — O olhar de Bell perfurou o meu. — Eu acho que é uma coisa
boa, Ford. Eu acho que significa que você está se curando.

Meu olhar viajou sobre o rosto dela. — Acho que significa que estou
pronto para seguir em frente. — Ficamos em silêncio, o ar dançando entre
nós. Eu dei uma risada forçada. — Você sempre foi uma pequena e sábia
Yoda.

Bell me mostrou a língua. — Você pare de me comparar com um


homem verde enrugado.

Era seu coração e alma que eram como Yoda. O resto dela era tudo
menos isso. — O que passa entre você e Hunter? — Amaldiçoei a
pergunta que havia escapado antes que eu pudesse considerar o que
poderia revelar.

— O que você quer dizer?

CATHERINE COWLES
— Vocês estavam namorando? Amigos? — Minha respiração parou
enquanto eu esperava que ela respondesse.

Os olhos de Bell se arregalaram. — Não, somos apenas amigos.


Sempre fomos apenas amigos.

Alguma tensão invisível em mim diminuiu, um sentimento que eu não


queria pensar muito em uma mulher que havia tomado minha mente.

— V AMOS JANTAR MAIS CEDO . — Eu estava aproveitando da sorte e


sabia disso. Passamos o dia inteiro juntos, e eu só queria mais. Mais
sorrisos, especialmente aqueles em que seu nariz se enrugava. Mais de
suas risadas que ficaram roucas. Mais de suas ideias sobre a vida.
Mais dela.

Ela pegou o telefone e olhou para a tela. — Eu posso fazer isso. O que
você quer comer?

— E aquele novo lugar italiano?

— Rocco's?

— Sim. — Eu tinha visto a primeira vez que fui corajoso o suficiente


para me aventurar na cidade. O cardápio parecia promissor, e o cenário
parecia um passo acima de uma pizzaria.

Bell olhou para si mesma. — Eu não estou exatamente vestida para


impressionar... e estou todo suada.

— Você está linda. — Ah Merda. Eu me apressei. — Não parecia chique


quando passei.

As bochechas de Bell tinham uma adorável coloração rosa. — OK. Mas


se eles nos expulsarem, a culpa é sua.

CATHERINE COWLES
— Justo. — Estacionei meu SUV em uma vaga no centro da cidade.
Saltando, fui abrir a porta de Bell, mas ela já estava fora do veículo. —
Eu teria feito isso para você.

Bell apertou os lábios como se estivesse rindo. — Parece que alguém


comeu seu último KitKat. Eu já cresci, Cupcake. Eu posso abrir minhas
próprias portas.

Eu fiz uma careta na direção dela, e a risada que ela estava segurando
escapou. — Talvez eu quisesse ser um cavalheiro.

— Me perdoe. Prometo não abrir nenhuma porta pelo resto da noite.


E se eu deixar cair alguma coisa, vou fazer você buscá-la.

Eu sorri, abrindo a porta do Rocco's. — Você tem que me deixar pagar


seu jantar também.

— Vá em frente, senhor cheio da grana.

Eu gemi. — Você nunca vai parar de fazer piadas sobre eu viver em


LA e ganhar uma vida decente?

Bell dirigiu os dedos pelos lábios e apertou os olhos. — Hmm... isso


seria um não.

— Você nunca deixa passar nada — eu resmunguei.

— E é assim que você gosta.

Dei um longo puxão em seu rabo de cavalo. — Eu gosto disso.

Um homem na casa do cinquenta apareceu na parte de trás do


restaurante. — Bella! Você veio me ver de novo. E você trouxe um belo
acompanhante desta vez.

Bell corou. — Pietro, este é meu amigo, Ford. Ford, este é o


proprietário do Rocco's, Pietro.

CATHERINE COWLES
Pietro pegou minha mão em um aperto vigoroso. — Qualquer amigo
de Bella é um amigo meu. Bem-vindo, bem-vindo. — Ele então pegou Bell
pelos braços e deu-lhe um beijo em cada bochecha. — Você está muito
magra. Você precisa vir aqui com mais frequência.

Bell soltou uma risada estridente que se estabeleceu em algum lugar


no fundo do meu peito. — Vou ver o que posso fazer sobre isso. Nós
apenas escalamos o Monte Orcas, então eu tenho certeza que vou comer
minha justa parte hoje à noite.

Rocco bateu palmas. — Nós devemos nos apressar, então. Pegue a


mesa que quiser. Vou trazer alguns aperitivos, por conta da casa.

Bell nos levou a uma mesa contra a parede em direção à parte de trás
do restaurante, e eu não pude deixar de me perguntar se ela não queria
que nenhum transeunte nos visse. Eu não a culpo. Eu tinha certeza que
as pessoas falariam se nos vissem no que parecia um encontro.

Puxei a cadeira de Bell e ela sorriu para mim. — Um cavalheiro.

Eu ri. — Estou tentando o meu melhor, mas você exatamente não


facilita.

Ela encolheu os ombros. — Nada fácil vale muito.

Ela estava mais certa do que sabia. Bell e sua sabedoria Yoda. —
Pietro parece um personagem.

— Ele é o melhor. Venho uma vez por semana com Will, Ava e Mia
para dar uma folga a Caelyn e passar um tempo juntos com eles.
Pietro sempre faz uma sobremesa especial para eles e tem pequenos
brinquedos para Ava e Mia.

— Você passa muito tempo com eles?

— As crianças?

CATHERINE COWLES
Eu assenti. Eu queria saber o que havia acontecido com os pais de
Caelyn, mas não queria bisbilhotar.

— Eu passo. — Bell brincou com o guardanapo no colo. —


Kenna, Caelyn e eu meio que formamos nossa própria pequena família.
Do tipo que sempre desejamos ter.

Engoli em seco contra a emoção ardente no fundo da minha garganta.


Eu odiava como Bell deveria ter se sentido. — Estou muito feliz que você
tenha essas duas. Eu gostaria de conhecê-las novamente. Se elas fossem
sua família, eu sabia que teria que conquistá-las também.

— Elas gostariam disso. E as crianças também. Will poderia realmente


precisar de um cara legal em sua vida. Ele não tem muitos.

Abri meu menu. — Eu poderia vir com você no seu próximo encontro
semanal aqui. — Eu não tinha certeza de como Bell reagiria a essa ideia.
Talvez fosse como brincar de casinha. Talvez eu estivesse invadindo seu
tempo especial com Will, Ava e Mia.

O sorriso que surgiu no rosto de Bell me disse que essas preocupações


eram infundadas. — Isso seria bom. As meninas amam pessoas novas,
especialmente aquelas que prestam muita atenção a elas. Will é mais
cauteloso, mas você vai conquistá-lo. Ajudará que você foi jogador jogar
futebol.

— Ele está no time?

— Sim. Fez parte da equipe no seu primeiro ano.

— Isso é impressionante.

Pietro apareceu, carregado de aperitivos suficientes para fazer uma


refeição. — Aqui está. Estes são alguns dos meus favoritos.

Bell deu um tapa nele. — Isso é muita comida.

CATHERINE COWLES
Ele encolheu os ombros. — Se houver sobras, você as leva para casa.

Eu ri quando Pietro voltou para a cozinha para pegar nossas bebidas.


— Tenho a sensação de que não há discussão com esse homem.

— Nenhuma.

O jantar passou rápido demais, em uma mistura que era


exclusivamente eu e Bell. Parte de conversas profundas sobre vida e
propósito, parte de risadas revirando o estômago e memórias
compartilhadas do passado. Foi bom trazer Violet a luz novamente. Eu
estava começando a perceber que podia apreciá-la pelo que ela tinha sido
para mim, e não me forçar a pensar nela como algo que ela não era. Ela
tinha sido meu primeiro amor, a combinação perfeita para o garoto que
estava se tornando homem. Mas ela nunca seria minha parceira de vida.
Não a tornava menos valiosa, não significava que doía menos perdê-la.
Apenas significava que eu poderia parar de me culpar por perder minha
única chance de amar. Porque eu não tinha perdido.

— Estou cheia. — Bell gemeu quando ela se levantou da cadeira.

Dei um tapinha no meu estômago. — Eu acho que o terceiro cannoli


pode ter sido um exagero para mim.

Bell riu. — Eu tentei te avisar.

— Eles eram bons demais. — Coloquei a mão nas costas de Bell,


guiando-a pelo restaurante que começara a encher nas últimas duas
horas. Eu senti os olhos sobre nós durante toda a noite, até ouvi um
sussurro ou dois. Mas eu me forcei a ignorá-lo, a me concentrar na
mulher na minha frente.

Senti o corpo de Bell sacudir antes de vê-los, as duas pessoas que eu


temia encontrar desde o momento em que pisei em Anchor. Bell parou
bem em frente ao balcão da recepcionista. — Mãe. Pai.

CATHERINE COWLES
A ponta afiada da minha raiva me pegou de surpresa. Por tanto tempo,
não senti nada além de culpa quando se tratava dos Kiptons. Mesmo
quando Heather ameaçou me processar se eu tivesse algum contato com
a família deles, eu deixei passar. Eu recebi toda a culpa que ela queria
colocar em meus ombros. Afinal, eu estava dirigindo naquela noite. Se eu
tivesse reagido de maneira diferente, talvez a filha dela ainda estivesse
aqui.

Mas agora, havia um fogo baixo no meu interior. Eu sabia que eles
estavam sofrendo, mas eles machucaram muitas pessoas com suas
ações. A filha deles, acima de tudo. E isso era algo que eu não tinha
certeza se poderia perdoar.

— O que... o que você está fazendo aqui? O que você está fazendo
com ele ? — Heather estremeceu.

O rosto de Bell endureceu. — Eu imagino que estávamos fazendo a


mesma coisa que você e papai. Jantando. Mas já terminamos, então
estamos saindo.

Bell deu um passo à frente, mas sua mãe se moveu para bloqueá-la.
— O que você está pensando, Isabelle? Isso é uma vergonha.

Bell encontrou o olhar furioso de sua mãe. — Bem, isso não é


novidade, certo? Eu tenho sido uma desgraça para você há muito tempo.
Por que mudar agora?

Heather abriu a boca para responder, mas Bruce entrou e deu-lhe um


puxão firme no cotovelo. — Heather, não é a hora nem o lugar. Vamos
para a nossa mesa. — Ele me deu um aceno duro e depois olhou para a
filha. Ele a estudou como se mal a conhecesse. Como se ele estivesse
tentando colocar a mulher que estava na frente dele agora. — É bom ver
você, querida.

CATHERINE COWLES
— Você também, pai. — As palavras de Bell eram um rouco sussurro,
cheio de tanta dor que parecia puxar os músculos em meu peito.

Coloquei minha mão firmemente nas costas de Bell, guiando-a para


frente mais uma vez. Empurrando a porta, o ar fresco da noite foi um
alívio bem-vindo. Nenhum de nós disse uma palavra enquanto nos guiava
em direção ao SUV. Ajudei Bell a entrar e depois contornei a frente do
veículo para subir. Mas não consegui dar partida no motor.

— Ele nunca me chama pelo meu nome.

Olhei para ver Bell olhando fixamente para fora do para-brisa. — Seu
pai?

Ela assentiu. — Eu disse a eles que queria ser chamada de Bell. Eu


expliquei o porquê. Eu estava tão desesperada por um novo começo, algo
para marcar a reconstrução da minha vida.

— Você precisava de sua própria versão do que LA era para mim.

Bell virou-se para mim. — Eu não vi assim naquele tempo, mas sim.
Eu só precisava ser outra pessoa. Alguém que não desperdiçaria essa
vida preciosa que me foi dada. Eu não queria ser a pessoa que deixava
seus pais pressioná-la. Vi desperdiçou tanta energia se preocupando com
o que as outras pessoas pensavam dela. Perdê-la me fez ver como todos
perdemos tanto tempo em coisas sem importância. Eu não queria olhar
para trás e pensar que me afastei da vida que eu queria.

— Então, você pediu para eles te chamarem de Bell.

— Sim. Minha mãe se recusou. — Bell zombou. — Tenho certeza que


você está chocado com isso. Mas foi a reação do meu pai que mais doeu.
Era como se ele entendesse por que eu precisava disso, mas não queria
irritar minha mãe, então ele simplesmente parou de me chamar de algo
real. Apenas palavras carinhosas que não tinham significado.

CATHERINE COWLES
A voz de Bell tropeçou em um soluço. — É como se eu desaparecesse
lentamente para eles. A pessoa que eles conheciam não existe mais, e
eles não têm interesse em conhecer a nova eu. Então, eu apenas... fui
embora.

Eu não aguentava mais. Puxei Bell contra mim, envolvendo-a em


meus braços o melhor que pude com o console no caminho. Eu odiava
este veículo no momento, teria dado qualquer coisa para puxá-la para o
meu colo e balançá-la como eu queria. — Eu vejo você, Bell. E tudo sobre
você é lindo.

Ela chorou mais, em seguida, pressionando o rosto no meu peito. Eu


continuava sussurrando as palavras repetidamente. — Eu te vejo.

CATHERINE COWLES
23

EU AJOELHEI, esforçando para obter o ângulo perfeito para chegar ao


sulco final do armário. Dobrei a lixa de grão fino em volta dos meus dedos,
usando minhas unhas como a borda afiada necessária para refinar cada
canto e recanto. Eu precisava disso hoje, uma coisa simples que eu
poderia controlar, uma coisa finita que eu poderia consertar. Minha
família pode estar além do reparo, meu relacionamento com Ford é um
amontoado de emoções confusas, mas eu tinha minha oficina. Eu tinha
minhas mãos que poderiam trazer coisas quebradas de volta à vida.

Movi meus dedos para frente e para trás ao longo da fenda, tomando
cuidado para não pressionar muito levemente ou com muita força. Era
um equilíbrio, delicado. Havia sempre alguma dor envolvida em trazer
um pedaço de volta à vida. Camadas de uma existência antiga que
precisavam ser removidas para que algo novo pudesse surgir. Às vezes,
eu até me via conversando com a peça. Explicando que toda a dor valeria
a pena no final.

Eu não tinha essas palavras para dizer hoje. Elas não seriam críveis,
nem mesmo para um móvel. Na noite anterior, meu sono tinha sido
agitado, salpicado de pesadelos e sonhos cheios de ansiedade que haviam
deixado minha camiseta e meu short úmido de suor. Eu me levantei antes
do sol e saí para o lugar onde sempre encontrava consolo.

Mas hoje não foi um alívio, soprei a fenda que acabara de lixar,
limpando a poeira. Isso bastaria por agora. Eu me endireitei, arqueando
as costas e olhando para o relógio na parede. Merda. Eu precisava tomar
banho e trocar de roupa para o trabalho.

CATHERINE COWLES
Meu estômago apertou ao pensar em ver Ford. Ontem à noite, ele me
segurou por pelo menos meia hora enquanto eu chorava tudo no
banco da frente do seu SUV. Quando finalmente me recuperei, não sabia
o que dizer. As coisas entre nós estavam mudando, mas eu não podia
deixar ir para onde eu queria. Amizade. Tinha que ser o suficiente. E por
mais que isso matasse, isso significava colocar um muro em volta do
meu coração. Chega de abraços cheios de lágrimas ou algo do tipo.

Eu rapidamente limpei meu espaço de trabalho e fui para a escada ao


longo da parte de trás do edifício. Meus músculos gritavam a cada passo.
A caminhada ontem, sono ruim e quatro horas de trabalho de
restauração podem ser um exagero.

Quando cheguei ao degrau mais alto, congelei. Eu não tinha deixado


a porta do meu apartamento aberta, tinha? Meu coração bateu mais forte
no meu peito, parecendo agitar minhas costelas. Eu estava bem fora de
mim às cinco da manhã, talvez eu não tivesse fechado tudo, e o vento a
tivesse aberto.

Eu dei um passo à frente, ouvindo qualquer som vindo de dentro.


Nada. Soltei um longo suspiro. — Se recomponha, Bell.

Empurrei a porta e ofeguei. Parecia que um tornado havia


atravessado meu apartamento. Os itens foram arrancados das prateleiras
e jogados ao redor. Minhas preciosas plantas em vasos foram derrubadas
e a sujeira estava espalhada por toda parte. E havia penas, tantas penas.
Dos travesseiros, eu percebi. Alguém pegou uma tesoura ou uma faca e
cortou as almofadas no meu sofá.

O mundo parecia um pouco instável, e eu percebi que estava


tremendo. Eu precisava sair, ligar para alguém, a polícia, mas não
conseguia fazer minhas pernas obedecerem ao meu cérebro. Eu
simplesmente olhei para a carnificina ao meu redor. Meus olhos viram
algo no meio, e um soluço estrangulado escapou da minha garganta.

CATHERINE COWLES
Eu corri para frente, meus joelhos batendo no chão duro enquanto eu
caí. Meu álbum de lembranças. Eu rapidamente folheei as páginas, todas
as fotos se foram. Quando cheguei à última página, havia uma nota
escrita em letras pretas furiosas.

Você não merece tê-la. Você nunca mereceu.

Minhas respirações vieram mais rápidas, cada uma tropeçando na


última enquanto lutavam para sair. Eu tropecei para trás, caindo de
bunda e depois me levantando. Eu precisava sair daqui. Eu precisava
chamar a polícia. Puxei meu telefone ainda tremula, mas antes que eu
pudesse desbloquear a tela, houve um flash de movimento na minha
visão periférica.

O mundo parecia desacelerar e acelerar ao mesmo tempo. Uma figura


mascarada avançando. Eu tentei me virar, dirigir-me para a porta, mas
um punho bateu bem na minha bochecha. Flashes de luz dançaram na
minha visão quando minhas pernas perderam o equilíbrio e eu caí no
chão, meu telefone voou das minhas mãos.

Minhas mãos receberam o pior da minha queda, pedaços irregulares


de um vaso quebrada cortando minhas mãos. Meus olhos lacrimejaram
quando pisquei rapidamente. Passos ressoaram ao meu lado e desceram
as escadas. Não iriam me machucar ainda mais. Meu peito arfava quando
tentei recuperar o fôlego e, quando me levantei, minha visão nadou. Eu
corri para a porta, mas minhas pernas estavam bambas, como se eu
tivesse bebido demais e não jantado o suficiente.

Segurei a grade o mais forte que pude enquanto descia correndo as


escadas. Dois passos abaixo, meus pés emaranhados, e um grito
assustado me escapou quando comecei a cair. Eu colidi com braços
musculosos com força.

— Uau, Trouble. Onde está o fogo? — Ford me endireitou, e sua


expressão divertida imediatamente se tornou preocupação quando ele

CATHERINE COWLES
olhou na minha cara. — O que diabos aconteceu? O que está
acontecendo?

— Mm, meu apartamento. Alguém invadiu. Eles... eles o destruíram.


Eu pensei que eles tinham ido embora. Mas não. — O tremor só estava
piorando. Estava a pelo menos uns dezoito graus e eu me sentia como se
estivesse congelando.

— Jesus, Bell. Seu rosto. Eu tenho que chamar a polícia. Uma


ambulância. Você está ferida em outro lugar? — Seu olhar correu para
cima e para baixo do meu corpo, procurando por outros sinais de lesão.

Eu balancei minha cabeça e estremeci. Ford começou a me soltar,


para pegar seu telefone, mas meus dedos cravaram em seus braços. —
Não. Não me deixe. — As palavras saíram antes que eu pudesse detê-las.
Eu odiava o som, o significado por trás deles. Mas acima de tudo, eu
odiava a fraqueza.

Ford passou os braços em volta de mim em um abraço apertado,


descansando o queixo no topo da minha cabeça. — Está tudo bem. Eu
não vou a lugar nenhum. Eu estou bem aqui. — Ele me segurou com
uma mão enquanto pegava o telefone do bolso traseiro com a outra. Ele
discou rapidamente. — Sim, estou no The Catch, em Anchor. Houve um
assalto no apartamento acima do bar. Espere. — Ele me soltou um pouco
para poder me examinar. — Não, não há ninguém aqui agora. Acho que
ela está bem, mas ela tem uma lesão no rosto.

Ford parecia estar olhando para mim como se fosse checar


novamente. Eu assenti. Nada em sua linguagem corporal relaxou. Ele
estava em alerta máxima enquanto observava a área circundante como
se estivesse esperando alguém pular de trás de uma árvore. Um arrepio
percorreu-me com o pensamento. O intruso tinha me observado
enquanto eu trabalhava?

CATHERINE COWLES
Ford me puxou mais apertado. — Ok, obrigado. Nós vamos ficar do
lado de fora. — Ele enfiou o telefone de volta no bolso. — Eles vão mandar
alguém, mas demorará um pouco. Por que não sentamos?

Eu balancei a cabeça, mas a ação foi rígida. Apertei minha mão na


camisa de Ford quando ele nos guiou para um dos bancos que ladeavam
o pátio dos fundos. Eu não conseguia soltá-lo. Eu precisava desse ponto
de contato mais do que a minha próxima respiração.

Ford me colocou no banco, sentando rapidamente ao meu lado e me


puxando para perto. A mão dele passou pelo meu rosto, parando um
pouco tímido de onde eu podia sentir minha bochecha e olhos inchando.
— Quem era? — Sua voz era calma, calma demais, como se ele tivesse
desligado suas emoções. Eu odiei isso.

— Eu não sei. Ele estava usando uma máscara.

Um músculo na bochecha de Ford tremeu. — Diga--me o que


aconteceu.

— Como não dormi bem, às quatro horas, levantei e fui à oficina


trabalhar no meu armário. Eu tranquei minha porta. Pelo menos, eu
pensei que sim. Talvez não tenha tranquei. Eu estava distraída...

— Bell. — Ford apertou meu ombro. — Se você trancou a porta ou


não, isso não é culpa sua.

Eu dei um aceno rápido e entrecortado. — Eu trabalhei por algumas


horas. Não ouvi nada. Não havia carros no estacionamento. Nem passos.
Nada. Quando fui tomar banho e me arrumar para o trabalho, a porta
estava entreaberta. Pensei que não tivesse fechado a porta com firmeza e
que o vento a tivesse aberto. Você conhece este prédio, é velho. Não ouvi
nada, então entrei...

— Bell,— Ford rosnou.

CATHERINE COWLES
— Eu sei eu sei. Isso foi estúpido. Mas esta é uma cidade pequena,
quase nada de criminoso acontece aqui. Entrei e estava apenas...
destruído. Quem fez isso ficou com muita raiva.

Ford me puxou ainda mais contra ele, e eu absorvi a sensação de


calor. — Eu pensei que estava sozinha. Levantei-me para chamar a
polícia, e tudo aconteceu tão rápido, apenas esse borrão de movimento.
Quem quer que fosse me deu um soco e saiu correndo.

Os dedos de Ford flexionaram em torno do meu ombro. — Porra, Bell.


Isso poderia ter sido muito pior. — Ele descansou o queixo no topo da
minha cabeça, sua respiração irregular. Eu me forcei a tentar me afastar,
mas Ford apenas se manteve firme. — Por favor. Deixe-me ficar aqui.
Preciso saber que você está aqui e está bem.

Engoli em seco, mas assenti contra seu peito. Eu não sabia quanto
tempo ficamos assim, mas finalmente, a respiração de Ford diminuiu e
seus músculos relaxaram um pouco. Ele aliviou seu aperto em mim, mas
manteve um braço em volta dos meus ombros. — Vai ficar tudo bem. Eles
vão descobrir quem fez isso. — Ele estudou meu rosto, olhos fixos na
minha bochecha, seu rosto endurecendo. — Você expulsou alguém do
bar ultimamente?

— Não desde o ano passado, eu não acho que é isso... — Minha frase
parou. Eu não sabia como dar voz ao que tinha visto. Se eu pronunciasse
as palavras, seria real e as imagens... isso parecia a maior violação de
todas.

Ford apertou meu ombro mais uma vez. — O que?

Engoli em seco, minha garganta parecendo grudar. — Eu tenho esse


álbum de lembranças...

— OK.

CATHERINE COWLES
— Comecei a fazer isso alguns meses depois que Violet morreu. São
todas as minhas memórias favoritas com ela. Há fotos, desenhos e
colagens. Tornou-se essa obra de arte viva. — Lágrimas começaram a
encher meus olhos. Eu investi muito naquele livro. Alegria, dor e tudo
mais. Toda vez que sentia falta da minha irmã, trabalhava em uma
página. Agora, quando eu precisava me lembrar dela, tirava da gaveta e
passava de alguns minutos a algumas horas rindo e chorando enquanto
recorria cada memória.

Ford passou a mão pelas minhas costas. — Isso parece bonito.

— Sim. — Seu corpo ficou rígido com o meu uso do pretérito. — Quem
invadiu arrancou todas as fotos. — Minhas lágrimas derramaram agora
e minha voz tremia. — Havia uma nota na parte de trás que dizia que eu
não a merecia, que nunca mereci.

Ford cuspiu uma maldição, seu olhar percorrendo o estacionamento,


depois a praia. — Vamos descobrir quem fez isso, Bell.

Mesmo que a polícia pudesse encontrar a pessoa, eu não tinha certeza


de que meu apartamento se sentiria como casa novamente.

CATHERINE COWLES
24

O PARAMÉDICO levantou os OLHOS ao examinar o rosto de Bell. — Não


há ossos quebrados que eu possa sentir ou sinais de concussão. Mas
acho que você vai ter um grande de olho roxo.

Eu me irritei com o tom do homem. — Não é engraçado.

Os olhos do homem brilharam. — Não estou sugerindo que sim.

— Todo mundo, acalme-se. — Bell levantou da maca. — Vai ser


engraçado quando eu contar a todos que tive alguns rounds com o Rocky
Balboa.

— Não, não vai—, eu rosnei. Eu sabia que não estava ajudando, mas
eu estava por um fio, e estava a ponto de perder a cabeça. Uma olhada
no interior do apartamento de Bell havia feito isso. A raiva que levaria
tanta destruição... quem quer que fosse o culpado, ele estava com
suficiente raiva para matar. Balancei minha cabeça um pouco e forcei
minhas mãos a relaxar.

— Ei, — começou o paramédico, — eu não te conheço?

Eo o olhei. — Acho que não.

— Sim. Eu estava alguns anos atrás de você na escola, mas os caras


da minha equipe de resgate ainda falam sobre isso. Foi um acidente e
tanto. Foi um milagre que vocês dois se salvaram.

Mas não tínhamos nos salvado. Na verdade, não. Nossas vidas foram
destruídas de uma maneira totalmente diferente. Eu queria bater no

CATHERINE COWLES
homem por trazer isso à tona. Mas como os policiais andavam por aí, isso
era uma péssima ideia.

Um homem parecendo jovem demais para ser um xerife apareceu e


colocou uma mão firme no ombro do paramédico. — Eu acho que é o
suficiente, Gil. Pegue seu equipamento e vá embora.

O paramédico murmurou algo baixinho, mas carregou a maca na


parte traseira do equipamento.

O xerife Raines se aproximou de nós. — Tudo bem, Bell. Os técnicos


da cena do crime estão procurando impressões digitais. Vai demorar um
pouco, mas quando terminar, você terá acesso total ao apartamento
novamente.

— Sim, um apartamento que foi destruído, — murmurou Bell.

— Nós vamos descobrir. Pode levar algum tempo, mas vamos


descobrir quem fez isso e prendê-los. — O xerife Raines deu um tapinha
no ombro dela. Era amigável, quase familiar, mas ainda não gostei. Ele
me lembrou o tipo de cara com quem Bell terminaria se eu
deixasse Anchor. Alguém arraigado na comunidade como ela era. Alguém
que não a forçaria constantemente a enfrentar lembranças dolorosas.
Alguém que nunca a decepcionaria.

Eu dei um passo à frente, passando um braço em torno de Bell. Em


vez de derreter ao meu lado como antes, ela endureceu. — O que você
sugere nesse meio tempo?

Raines olhou para o apartamento. — Eu recomendaria substituir


fechaduras, talvez até mesmo a porta externa, e consideraria um sistema
de segurança.

Eu dei-lhe um aceno rápido. — Eu já liguei para uma empresa de


segurança em Seattle sobre um sistema, mas ligarei para a loja de
ferragens aqui sobre colocar uma nova porta.

CATHERINE COWLES
Bell se virou, escapando do meu abraço. — Novas fechaduras são
suficientes, não preciso de mais nada.

Eu apertei os dentes. O choque estava passando, e Bell tinha


enlouquecido, ou pelo menos, estava irritada. Mas eu sabia que estava
simplesmente escondendo o medo que borbulhava por baixo. — Já estava
na minha lista de coisas, obter um sistema de alarme para todo o edifício.
Isso está apenas subindo um pouco a linha do tempo. — Ela não
precisava saber que agora eu estava recebendo o pacote premium em vez
do básico, ou que estava pagando do meu próprio bolso.

Bell murmurou algo baixinho sobre pretensos irmãos super protetores


e o xerife Raines riu. — É uma boa ideia, Bell. E enviarei um de meus
ajudantes em intervalos mais regulares até que os oficiais de verão de
Anchor estejam aqui.

A ilha não tinha uma presença policial durante todo o ano, mas
durante o verão, o departamento do xerife contava com pessoal extra, e
cada ilha da nossa pequena cadeia tem seus próprios oficiais dedicados
para lidar com os problemas 24 horas por dia que vinha com um fluxo
de turistas. Eu encontrei o olhar do xerife. — Nós agradecemos.

Uma caminhonete estacionou muito rápido, cuspindo cascalho.


Hunter saiu do veículo e correu para Bell, envolvendo-a em um abraço
forte. O que havia com todos esses caras tocando nela? Deus, eu
precisava me controlar.

— Você está bem? Caramba, seu olho!

Bell se livrou do meu irmão, segurando-o no braço. — Estou bem,


Hunt. Eu juro.

O olhar dele percorreu seu rosto e desceu por seu corpo como se
estivesse procurando outros ferimentos. — Você vai ficar comigo até eles
pegarem esse cara.

CATHERINE COWLES
— Oh inferno, não. — As palavras saíram antes que eu tivesse a
chance de considerá-las. — Se ela ficar com alguém, será comigo.

A cabeça de Hunter virou na minha direção. — E por que isso?

— Você esqueceu que atualmente está morando em um trailer com


uma cama minúscula. Tenho quartos extras e um sistema de alarme no
meu apartamento. — Eu odiava que meu irmão tivesse sido o único a
oferecer um lugar a Bell primeiro. Eu queria, mas sabia que não iria
exatamente dar certo. Eu já estava planejando convencer minha mãe a
fazer Bell ficar comigo dizendo o preocupada que ela ficaria se Bell
estivesse aqui sozinha. Era dissimulado, mas eu não me importava. Eu
precisava saber que ela estava segura.

Hunter endireitou-se a toda a sua altura. — Eu posso não ter as


instalações sofisticadas que você tem, mas pelo menos eu fico por aqui.

Bell levantou as mãos. — Eu não vou a lugar nenhum com nenhum


de vocês. — Ela olhou para Raines. — Você encontrará algo para prender
esses caras? Talvez trancá-los durante a noite?

Ele riu. — Verei o que posso fazer.

— Obrigada. Estarei no bar me preparando para o dia.

Bell entrou, e Raines voltou-se para mim e Hunter, todos os traços de


humor desaparecendo de seu rosto. — Vocês dois precisam se unir. Bell
não precisa que você faça isso quando ela está lidando com todo o resto.

Engoli em seco. O homem estava certo. Eu estava agindo como


um estudante do ensino médio. — Você está preocupado.

— Droga, estou preocupado. Isso é claramente pessoal, e quem quer


que seja esse monstro, é louco. — Um músculo em sua bochecha vibrou
quando ele olhou para o apartamento novamente. — Todos os

CATHERINE COWLES
travesseiros do sofá foram cortados. O criminoso usou uma faca. Isso não
indica coisas boas.

Todos os músculos do meu corpo se contraíram ao ponto da dor. —


Quanto tempo vai demorar para recuperar as impressões digitais?

— Vou me apressar em tudo que encontrarmos, mas acho que não


vamos encontrar.

— Porra, — Hunter murmurou.

Eu olhei para o meu irmão. — Eu já liguei para uma empresa de


segurança em Seattle. Paguei uma taxa de urgência e eles vão vir
amanhã.

— Isso é bom. — Hunter me estudou cuidadosamente, seu olhar


parecendo tentar ler nas entrelinhas. — O que está acontecendo com
vocês dois?

Raines pigarreou. — Eu vou checar meus homens.

Eu nunca desviei o olhar do meu irmão. — Não é da sua conta.

O corpo de Hunt deu um pequeno estremecimento. — Fui eu que


fiquei ao lado dela quando você saiu. Fui eu quem esteve aqui ano após
ano, quando você não conseguiu aguentar esse lugar. Então, me diga
como isso não é da minha conta.

Ele a amava à sua maneira. E, por mais puto que estivesse no


momento, tive que entender que ele esteve aqui por Bell todas as vezes
que eu não. E ele merecia a verdade. — Estou descobrindo as coisas.

— Você também está indo embora, — ele desafiou.

Eu não tinha mais tanta certeza. Não quando sair significava não ter
Bell na minha vida diariamente. — Eu estou descobrindo isso também.

— Ela sabe disso?

CATHERINE COWLES
— Ainda não.

Hunter riu. — Eu sei como isso vai acabar.

Eu sorri — Nada bem. — Se eu lhe dissesse agora que estava pensando


em ficar em Anchor, no bar, depois deste verão, ela poderia tentar me
jogar no oceano. — Eu tenho muito o que compensar, Hunt. E não apenas
com Bell. Eu sei disso.

O pomo de adão de Hunter balançou quando ele engoliu. — É bom, e


você sabe.

— Me desculpe, eu deixei você para lidar com tudo. — Eu tinha


colocado tanto nos ombros do meu irmão mais novo quando deveria ter
sido o contrário. Eu deveria estar protegendo-o, assumindo seus fardos.

Hunter olhou para o mar. — Entendi, Ford. Eu entendo. Não consigo


imaginar passar pelo que você passou aos dezoito anos. Eu vi como isso
fodeu com sua cabeça. Mesmo aos dezesseis anos, eu sabia que estava
deformando sua mente. Mas é como se você perdesse de vista
tudo, exceto sua dor e sua culpa. Você não podia me ver, mamãe, papai
ou alguém, nem mesmo Bell.

— Eu sei. E eu sinto muito.

Hunter assentiu. — Se você está pensando em ir atrás de Bell, precisa


ter certeza de que pode lidar em ficar nesta ilha. Porra, você não vai deixar
os fantasmas do passado mexer com sua cabeça. Você não pode libertar
essa garota pela segunda vez.

Engoli em seco. — Eu sei.

Hunter moveu o queixo. — Bom. Fico feliz que você esteja acordando.
— Seu olhar perfurou o meu. — Senti falta do meu irmão.

Puxei-o para um forte abraço. — Também senti sua falta.

CATHERINE COWLES
Depois de algumas batidas nas costas, Hunter me soltou e me deu um
empurrão. — Tudo bem, chega dessa merda piegas. Precisamos descobrir
o que vamos fazer com Bell.

— Eu estava pensando em manda-la com a mamãe.

Hunter começou a rir. — Você é brutal, mano.

Dei de ombros. Eu faria o que fosse necessário para manter Bell


segura.

CATHERINE COWLES
25

UMA BATIDA SOOU na minha porta e eu rapidamente enxuguei as


lágrimas sob meus olhos. — Quem é?

— Ford.

Meu peito esquentou quando aquelas malditas borboletas voaram na


minha barriga antes de empurrá-las para baixo. — Entre.

— Por que diabos sua fechadura nova não está fazendo o seu
trabalho? — Se as palavras de Ford não tivessem revelado à sua raiva, a
veia que bombeava na lateral do pescoço dele teria.

— Porque... — Eu desenhei a palavra. — A cada cinco minutos, um


dos membros da equipe ou clientes vem aqui para me checar, e eu cansei
de ter que levantar do chão para abrir a porta. — Fiz um gesto para a
bagunça que estava tentando resolver e limpar. Depois de três vasos
esmagados, eu finalmente decidi que tentar colá-los novamente era uma
causa perdida.

Ford deu alguns passos à frente, com um saco plástico na mão. — Eu


não acho que você deva ficar sozinha com alguém agora. Não sabemos
quem está por trás disso.

Eu arqueei uma sobrancelha para ele. — Então o que você está


fazendo aqui? Eu claramente não deveria estar sozinha com você. —
Minha cadela interior estava saindo, e eu sabia disso. Ford não fora nada
além de gentil, prestativo e solidário nas últimas dez horas, mas essa
doçura era perigosa para meu coração. Eu tinha que mantê-lo à
distância.

CATHERINE COWLES
Ford fez uma careta. — Eu não conto. Hunter, Crosby, Caelyn, Kenna
ou meus pais também não. Todo resto do mundo fica na lista de
suspeitos.

Eu fiquei boquiaberta com ele. — Você tem que estar brincando


comigo.

— Melhor prevenir do que remediar.

— Tanto faz, — murmurei e voltei a colocar pedaços de vasos nos


grossos sacos de lixo plástico que costumávamos usar em nossas lixeiras
no bar, eles podiam aguentar qualquer coisa.

— Vamos lá, Trouble, hora de uma pausa. — Continuei ordenando.


Ford riu. — Pedi a Pietro que fizesse o que fosse sua comida favorita.

Meus movimentos diminuíram quando cheirei o ar. — Lasanha?

— Com pão de alho parmesão e quatro sobremesas diferentes.

Coloquei o fragmento de vaso no saco de lixo e me levantei. — Você


joga sujo.

— Nunca disse que não.

Suspirei, esfregando minhas têmporas. — A cozinha está uma


bagunça ainda maior do que a sala de estar. Teremos que comer no sofá.
Enquanto todos os travesseiros foram destruídos, as almofadas do meu
sofá milagrosamente permaneceram intactas.

— Isso é bom. Tenho talheres, pratos, tudo o que precisamos.

Eu me afundei no sofá e tentei ignorar a destruição que eu quase não


havia arrumado. — Obrigada por me trazer o jantar.

Ford estendeu a mão e agarrou a minha. O calor era tão bom, tão
reconfortante, e eu me odiei um pouco por deixá-lo descansar lá. Este
homem pertenceu à minha irmã durante a maior parte de nossas vidas.

CATHERINE COWLES
E mesmo que meu coração o tivesse reivindicado, ele não tinha sido meu.
— Venha ficar comigo por alguns dias. Pelo menos até que possamos
limpar tudo isso.

Eu balancei minha cabeça e tirei minha mão da dele. Não posso. Por
um milhão de razões diferentes. Mas acima de tudo, porque eu sabia que
se saísse agora, nunca mais voltaria. Eu precisava recuperar meu espaço.
Exorcizar qualquer energia desagradável que permanecesse por aí e fazer
o meu lugar novamente. Talvez Caelyn pudesse queimar um pouco
daquela sálvia que tanto gostava. — Eu preciso ficar aqui.

— Nem minha mãe conseguiu convencê-la, hein?

Meu olhar voltou-se para o de Ford. — Foi você quem falou com ela,
não foi? — Kara usou sua melhor voz preocupada e me fez sentir horrível
por me recusar a ficar com Ford, mas eu sabia que precisava estar aqui.

Ele encolheu os ombros. — Não posso confirmar nem negar essas


alegações.

— Você é o pior.

— Não, eu estou preocupado.

A preocupação na expressão de Ford fez minha raiva derreter. — Eu


sinto muito. Eu só tenho que ficar. Eu preciso torná-lo meu novamente.

Ford suspirou, tirando a louça da bolsa e estendendo-a sobre a mesa


de café. — Entendi. Eu realmente entendo. Eu simplesmente não gosto.

— Kenna e Caelyn estão vindo mais tarde, e Kenna vai passar a noite.
Eu não vou ficar sozinha.

— Isso é algo, eu acho.

Meus lábios se curvaram no primeiro sorriso que eu tinha dado o dia


todo. — Eu estarei segura, Cupcake. Eu prometo. Eu tenho meu taco e

CATHERINE COWLES
esse bastão desde quando te convenci que queria experimentar o
beisebol.

Ford balançou a cabeça e sorriu. — Você sempre teve um balanço


ruim.

— Desta vez, vou apenas mirar no pau de um intruso.

Ford soltou uma risada sufocada. — Terei muito cuidado para me


anunciar antes de entrar neste apartamento.

— Homem inteligente.

Nós comemos principalmente em silêncio. Se falamos, não foi nada


sério. A comida ajudou, mas também me fez perceber como eu estava
cansada. Eu gemi quando puxei minhas pernas para o sofá. Ford pegou
um dos meus pés e depois o outro, puxando-os para o seu colo. Ele pegou
o esquerdo e começou a pressionar os polegares no meu arco coberto
pelas meias.

Eu reprimi um gemido. Eu não queria nada além de fechar os olhos e


mergulhar na sensação. Para esquecer tudo sobre um dos piores dias da
minha história. Para ignorar o fato de que o homem que me trazia
conforto já pertencera à minha irmã e que se ela ainda estivesse aqui, ele
provavelmente não estaria esfregando meus pés agora, estaria esfregando
os dela.

O pensamento era como um balde de água gelada despejado bem na


minha cabeça. Eu rapidamente puxei minhas pernas para trás, dobrando
meus joelhos no peito, como se isso me protegesse de todas as emoções
que vibravam através de mim.

Ford deixou cair as mãos. — Por que você fez isso?

CATHERINE COWLES
Recusei-me a desviar o olhar. Não poderia mesmo se eu tentasse,
porque aqueles olhos azuis dele pareciam me prender. — Eu não posso
tocar em você assim.

— Tenho certeza de que fui eu quem tocou em você.

— Não. — A palavra estalou como um chicote.

O olhar de Ford se cravou no meu. Seus olhos procurando,


procurando algo nas profundezas do meu rosto. — E se eu quiser mais?

Meu coração batia forte no peito, um trem de carga contra minhas


costelas. — Você não quer.

Ele arqueou uma sobrancelha. — Não deveria ser eu quem decide o


que eu quero?

— Nós já passamos pelo problema hoje. Suas emoções estão apenas


sobrecarregadas. E mesmo que você quisesse mais, mesmo que eu
quisesse... não posso ir lá com você, Ford. Por um milhão de razões.

Ele não disse uma palavra, mas havia uma atração em seu olhar, uma
que me fez inclinar para frente em vez de para longe. Ele deslizou a mão
sob a mecha do meu cabelo. —Trouble...

Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, a porta se abriu.
Caelyn parou com um grito agudo enquanto olhava para nós dois. — Opa,
eu sinto muito. Estamos interrompendo?

Endireitei no sofá, levantando-me. — Não. Ford estava saindo. Mais


uma vez obrigada pelo jantar. — Eu disse tudo sem uma vez fazer contato
visual com o homem em questão.

— Prometa que você ligará se vir ou ouvir algo suspeito.

— Eu vou. — Eu não faria. Eu pegaria meu taco, e eu chamaria xerife


Raines, ou Xerife Gostosão como Caelyn gostava de chamá-lo.

CATHERINE COWLES
Ford murmurou uma maldição, sabendo que eu estava mentindo
entre os dentes. — Eu estarei lá embaixo até fechar.

Kenna soltou um assobio baixo assim que a porta se fechou atrás de


Ford. — Aquilo foi...

— Quente como o inferno? — Caelyn sugeriu.

— Não, — eu avisei e rapidamente reuni nosso lixo, jogando-o nos


sacos junto com os restos do meu apartamento em ruínas.

— Bells, não precisamos conversar sobre isso, mas algo está


acontecendo entre vocês dois.

Amarrei o saco de lixo com um nó, puxando as pontas um pouco mais


severamente do que o necessário. — Nada está acontecendo entre nós.
Nunca haverá nada entre nós dois. — Abri uma nova sacola de lixo e
comecei a enfiar as coisas lá dentro, nem mesmo me preocupando em
considerar se era aproveitável. Se esse desgraçado, quem quer que fosse,
o tivesse tocado, eu não o queria no meu apartamento. Enfiei item após
item na sacola.

— Bell. — Eu estremeci quando Kenna colocou a mão no meu ombro.


— Deixe-nos ajudá-la.

Mordi meu lábio, tentando segurar as lágrimas. — Obrigada.

Caelyn colocou os braços em volta de nós duas, trazendo-nos para um


abraço. — É para isso que estamos aqui. Qualquer coisa que você precise.
Nos te apoiamos. Você pode morar com os pequenos terrores e eu por um
tempo. Você teria que dormir no sofá, mas não precisaria ficar aqui.

— Não há quarto extra no chalé de visita, mas você pode dormir no


meu sofá também. Ou tenho certeza de que Harriet lhe daria um dos
quartos da casa principal.

CATHERINE COWLES
Engoli de volta a bola de emoção se acumulando na minha garganta.
— Obrigada. — Eu liberei meu braço sobre as duas. — Mas eu preciso
ficar aqui. Eu preciso torná-lo meu lugar seguro novamente. Livrar-me
de todas as más lembranças e deixar apenas as boas.

Caelyn se endireitou. — Eu trouxe sálvia exatamente por esse motivo.


Podemos queimar depois de limparmos.

Kenna gemeu e eu ri. — Eu estava esperando que você pudesse.

A preocupação preencheu os recursos de Caelyn. — Você tem certeza


de que não quer falar sobre o Ford? Ele se importa com você, Bells.

Eu balancei minha cabeça. — Eu nunca vou poder ir lá. Não posso.

CATHERINE COWLES
26

EU MURMUREI uma maldição quando quase derrubei a garrafa de Jack


pela segunda vez.

— Como ela está?

Olhei para Crosby por uma fração de segundo antes de voltar minha
atenção para as bebidas que eu estava fazendo. — Ela está aguentando.
— Aguentando e deixando bem claro que ela não me necessitava. Seu
sistema de apoio estava firmemente no lugar, e eu não fazia parte dele.

Crosby tomou um gole de sua Guinness. — Eu não posso dizer se você


está chateado com o psicopata, Bell ou ambos.

Deslizei o Jack e a Coca-Cola para a mulher que estava do outro lado e


voltei para Crosby. — Este doente, Bell, eu mesmo, faça a sua escolha.
— Aparentemente, foi um dia de oportunidades iguais para minha raiva.
No entanto, eu não tinha direito, pelo menos no que dizia respeito a Bell.
Eu a deixei quando ela mais precisava de mim, e sabia que uma parte
dela me afastando era porque ela não confiava que eu iria ficar pela
segunda vez. Não confiava que eu estaria lá se ela precisasse de mim
agora.

— Você a ama?

Crosby jogou a pergunta de maneira tão casual que levei um segundo


para realmente aceita-la, mas quando o fiz, meus músculos travaram. —
Eu sempre a amei.

Crosby arqueou uma sobrancelha. — Inferno, isso é uma coisa incrível


de se perceber.

CATHERINE COWLES
— Não é assim. — Meus sentimentos por ela se transformaram ao
longo dos anos com certeza, mas a coisa mais louca era que eles
cresceram até quando estávamos separados. Eu não tinha percebido isso
na época, mas esses sentimentos sempre estiveram lá, constantemente
destruindo minha decisão. Ela sempre foi a coisa que me tentou a voltar.
Mesmo com o medo de que ela me culpasse pelo acidente, eu não
conseguia me lembrar de nós dois, do tipo imprudente, do tipo que
acendia um fogo em mim para chamá-la, vê-la. Essas lembranças
imprudentes quase me deixaram de joelhos. Eu não conseguia contar as
vezes que peguei meu telefone e passei o dedo sobre o nome dela nos
meus contatos. No entanto, eu sempre resisti.

— Então... — Crosby deixou a palavra cair quando ele colocou uma


batata frita na boca. — O que você vai fazer sobre isso?

Não era essa a pergunta de um milhão de dólares? — É uma situação


difícil. — Com quem eu estava brincando? Nos mover na direção que eu
queria seria como tentar desarmar uma bomba com dezenas de arames.
Um movimento errado e eu levaria todos nós para fora.

— Lento e constante, meu amigo, lento e constante.

Não era um plano ruim. Eu sabia que a única coisa que não podia
fazer era recuar. Quando Bell me afastava, eu precisava me manter firme.
Eu tinha que mostrar a ela com minhas ações que eu estava aqui para
ficar. Palavras bonitas não eram suficientes.

— Alguma atualização? — Hunter apareceu atrás dele, Ethan a


reboque.

Eu balancei minha cabeça. — Na verdade não. Kenna e Caelyn estão


com ela agora, ajudando-a a limpar a bagunça. Ela ficará bem. Mas
agora, ela está assustada. — Eu examinei os homens ao meu redor. —
Todos nós precisamos ficar de olho. — Quanto mais pessoas procurassem
algo suspeito, mais seguro seria para Bell.

CATHERINE COWLES
— Foi muito ruim? — Ethan perguntou.

Meus molares traseiros se juntaram quando me lembrei de ver o


espaço pela primeira vez. Se a pessoa responsável estivesse na minha
frente na hora, eu não tinha certeza de que não a teria matado. — Ele
destruiu quase tudo.

Ethan olhou ao redor do bar. — Os policiais tem alguma pista?

— Nada até agora.

Hunter balançou a cabeça. — Droga. Como ninguém viu nada?


Geralmente, há pessoas passeando com seus cães ou correndo. Alguém
deve ter visto um carro, algo que poderia ajudar.

Comecei a servir meio litro de cerveja. — Raines ainda está divulgando


a notícia. Os policiais dele voltarão amanhã para investigar os bairros
vizinhos, para ver se havia alguém por aí.

Crosby jogou uma batata frita de volta no prato. — Inferno, a fofoca


fará um trabalho melhor do que eles. As notícias já estão se espalhando,
mas podemos garantir que as pessoas perguntem se alguém viu alguma
coisa.

Deslizei duas cervejas pelo bar para Hunter e Ethan. — Isso não é
uma má ideia. — Por mais que eu odiasse a maneira como as fofocas se
espalhavam nesta cidade, as pessoas realmente se importavam. Eles
queriam ajudar sempre que podiam.

Crosby inclinou a cabeça para a área de jantar. — Este é o lugar


perfeito para começar. Peça aos garçons que perguntem enquanto estão
servindo. E podemos perguntar às pessoas no bar.

Hunter assentiu, dando um tapa nas costas de Crosby. — Boa ideia.


— Hunt olhou para mim, abaixando a voz como se as pessoas ao nosso
redor ainda não pudessem ouvir. — Como ela está realmente?

CATHERINE COWLES
Meu queixo endureceu. — Assustada, mas determinada.

— Estou entendendo que isso significa que ela não vai ficar com
nenhum de nós.

Eu ri apesar da minha frustração com a situação. — Nem mesmo a


conversa da mamãe poderia influenciá-la. — Olhei para as escadas dos
fundos. — Acho que ela precisa provar a si mesma que não tem medo de
ficar aqui.

Hunter murmurou uma maldição. — Ela é muito teimosa e orgulhosa.

— Ela está acostumada a lidar com as coisas sozinha agora. — E eu


odiava que ela tivesse se tornado assim.

— Ela está deixando Kenna e Caelyn ajudar.

Dei de ombros. — Elas são a família dela.

Hunter se endireitou. — Nós também.

— É diferente. — Eu sabia que Bell amava todos os membros do clã


Hardy. Mas isso não significava que ela baixasse completamente a guarda
ao nosso redor. Nós a machucamos. Mesmo tendo sido seus pais que nos
mantiveram afastados no começo, isso não mudou a ferida que estava lá.

Hunter olhou para o teto. — Eu odeio isso.

— Eu também, irmão. Eu também.

— A empresa de segurança ainda vem amanhã?

— Sim. — Coloquei outra cerveja e entreguei a Ethan.

— Que tal hoje à noite?

Agarrei a borda do balcão, dedos cravando na madeira da madeira. Eu


odiava a ideia de Bell ficar aqui, mesmo que Kenna estivesse planejando

CATHERINE COWLES
ficar. O que as duas fariam se alguém maior e mais forte invadisse? —
Acho que vou ficar no escritório.

Os lábios de Hunter se contraíram. — Nesse sofá velho e imundo?

— Papai esteve lá uma ou duas noites.

— Quando ele estava de castigo. E ele sempre voltava para casa


gemendo pela dor nas costas.

Eu ri. — Mas eram seus olhares doloridos que sempre faziam com que
mamãe o perdoasse.

Hunter balançou a cabeça. — Ela sempre teve um coração mole.

Crosby gritou. — Talvez sua aparência dolorida faça Bell sentir pena
de você.

Hunter bufou. — Ok, certo. Ela não é tão facilmente conquistada.

E não era essa a maldita verdade?

A noite passou devagar e rapidamente, tudo ao mesmo tempo.


Estávamos mais ocupados do que o normal, mas não porque a banda
tocava ao vivo. As pessoas vinham perguntar o que havia acontecido, se
o xerife havia encontrado o intruso, como Bell estava. Eu lutei contra o
desejo de morder a cabeça das pessoas. Em vez disso, pedi a eles que
divulgassem que, se alguém tivesse visto algo suspeito, entrassem em
contato com o escritório do xerife.

Eu me senti um pouco mal pelo xerife Raines. Ele não tinha ideia do
número de chamadas que seu escritório receberia amanhã. Todos, de
cidadãos bem-intencionados a avós intrometidas, ligariam para ele. Mas
talvez um deles tenha visto algo útil.

— Precisa de mais alguma coisa, chefe?

CATHERINE COWLES
Eu olhei para cima limpando o balcão. — Não, você vai para casa,
Hank.

Ele arrastou os pés, mas não se moveu em direção à porta. — Você


vai ficar, certo?

— Sim. Vou dormir no escritório, mas deixo a porta aberta para poder
ouvir se alguém tentar arrombar.

Os ombros de Hank cederam de alívio. — Boa. Cuide da nossa garota.

— Eu vou. — Fiquei feliz por Bell ter encontrado pessoas boas como
Hank, que a teriam de volta, que a tiveram enquanto eu estava fora.
Agora, eu só precisava provar que também poderia ser uma dessas
pessoas.

Passos soaram nas escadas, e Caelyn sacudiu quando ela virou a


esquina, a mão voando contra o peito. — Ford, nossa, você me assustou
pra caramba

Eu sorri, mas foi sem entusiasmo. — Caramba, hein?

Ela sorriu. — Tenho que tentar minimizar a maldição em torno dos


pequenos terrores.

— Compreensível. Como eles estão?

— Eles estão bem. — Caelyn descansou as palmas das mãos contra o


bar. — Como você está?

Havia uma preocupação genuína em seus olhos quando ela


perguntou, e meus ombros caíram em resposta. Eu estava tão cansado.
Exausto de tentar me provar para Bell, me preocupar com ela, e agora o
pesadelo de hoje. — Eu ainda estou combatendo o bom combate.

— Não pare. — Ela sussurrou as palavras como se Bell pudesse ouvi-


la a um piso à prova de som.

CATHERINE COWLES
Minha coluna se endireitou. Este foi o primeiro incentivo que eu recebi
do círculo interno de Bell. — Eu não estava pensando nisso. Você tem
alguma dica?

Caelyn apertou os lábios, olhando para as escadas. — Você não


pode desistir. Não pressione, mas também não recue. Eu sei que isso
pode não fazer sentido...

— Não, faz. — Estudei-a por um momento, cabelos castanhos claros


presos em duas tranças amarradas com elásticos coloridos e muita
esperança em seus olhos. — Acha que você poderia falar bem de mim?

Um sorriso travesso se estendeu por seu rosto. — Por favor, eu já estou


falando. — O sorriso dela se transformou brevemente em uma careta. —
Você pode ter mais uma batalha trazendo Kenna para o seu lado, no
entanto. Ela não perdoa facilmente.

Eu suspirei. — Obrigado, Caelyn. Eu vou conquistar vocês, uma de


cada vez. — Coloquei o pano. — Deixe-me levá-la até o seu carro.

Ela me dispensou. — Estou bem, Ford.

— Eu me sentiria muito melhor se o fizesse.

O humor fugiu do rosto de Caelyn. — Tudo certo. Você pode apenas


me assistir do outro lado.

Eu a acompanhei até a porta dos fundos, destrancando e mantendo


aberta para ela. — Chegue em casa em segurança.

— Eu vou. Felizmente, Will não escondeu o doce das garotas enquanto


ele estava de babá, e elas estão todas dormindo.

Eu ri. — Boa sorte com isso.

Ela deu um pequeno aceno, seu olhar pegando o meu. — Mantenha o


ritmo, Ford.

CATHERINE COWLES
Eu assenti. Eu manteria o maldito ritmo se isso me matasse. Mas,
pela primeira vez em muito tempo, algo estranho invadiu meu peito. Algo
que parecia muito com esperança.

CATHERINE COWLES
27

ESTIQUEI na ponta dos pés, esforçando-me para tirar o pó de todos os


cantos da luz acima do balcão. Eu quase consegui.

— Que diabos você está fazendo?

A voz aguda de Ford me fez gritar e puxar meu braço para trás,
enviando meu delicado equilíbrio fora de controle. — Ah Merda. — Meus
braços tremeram, mas assim que comecei a balançar para o lado, braços
fortes me pegaram e me puxaram em outra direção. Eu pousei com
um oomph contra um peito duro. Felizmente, foi minha bochecha sem
marcas que levou o peso da minha aterrisagem.

— O que. Você. Estava. Pensando? — Cada palavra foi escrita como


se fosse sua própria sentença.

Eu me afastei dos braços de Ford, endireitando minha camiseta e


puxando a bainha do meu short jeans. — Eu estava pensando que estava
limpando. O que isso se parece?

— Parecia que você estava


correndo riscos completamente desnecessários com sua segurança.

Eu ri. — Eu estava indo muito bem até que você me assustou.

Um músculo na bochecha de Ford parecia vibrar. — Não faça isso de


novo. É muito arriscado.

— Bem. Estamos fechados hoje, estou indo para a oficina. — A


empresa de segurança esteve aqui a manhã toda, mas percebeu que eles
precisavam de mais sensores do que originalmente trouxeram com eles.

CATHERINE COWLES
Dois dos caras haviam voltado para Seattle e voltariam no final da tarde
para terminar o trabalho. Eu pensei que era um desperdício perder um
dia inteiro de trabalho, mas Ford insistiu e ele era o chefe.

Ford olhou pela porta dos fundos para a oficina. — Faça-me um favor
e tranque a porta.

Minha coluna ficou rígida, mas quando percebi a preocupação


genuína em suas características, parte da tensão desapareceu. — Eu vou.

— Obrigado.

Eu balancei a cabeça, indo para o bar. Eu não sabia mais o que dizer
para Ford. Mas enquanto eu me afastava dele, meu corpo parecia
revoltar, meu estômago revirou e meu coração afundou. — Acostume-se
a isso, — murmurei para mim mesma. Ford poderia ficar cansado de Los
Angeles, mas também não ia ficar em Anchor.

Destranquei a oficina e entrei no espaço, fechando a porta. Os aromas


de serragem e ar do mar aliviou algo em mim. Às vezes, eu
colocava música enquanto trabalhava, afogando o mundo. Mas hoje eu
precisava de silêncio. Precisava do espaço para deixar meus pensamentos
se afastarem para que eu pudesse finalmente liberar algumas das minhas
preocupações.

Comecei a trabalhar colocando minha primeira demão de tinta no


armário, um lindo tom azul-petróleo que estava um pouco fora, mas
perfeito em minha mente. Perdi no vai e vem do pincel contra a madeira,
concentrando-me em alcançar cada pedaço de superfície perfeitamente.
Era uma espécie de meditação. Uma limpeza da minha mente. Nada
funcionava tão bem quanto isso.

Perdi toda a noção do tempo enquanto pintava, me perdendo no


trabalho. Eu me assustei ao ver o movimento na porta, mas suspirei

CATHERINE COWLES
quando vi a forma de Ford quando ele entrou. — O que há com você me
seguindo escondido?

— O que há com você e não está prestando atenção ao seu entorno?

A voz áspera de Ford parecia aquecer minha raiva e formigar minha


pele. — Eu tranquei a porta. Pensei que estava a salvo da distração.

— Só vim lhe dizer que a empresa de segurança se foi. Está tudo


pronto.

Olhei para fora. Em algum momento, o sol havia se posto e agora


estávamos no crepúsculo. Eu me levantei, arqueando as costas,
estirando. — Isso é bom.

Pequenas linhas apareceram entre as sobrancelhas de Ford. — Você


está sentindo dor?

— Passei muito tempo encurvada.

Ele deu alguns passos à frente. — Você trabalhou nisso a tarde toda?

Eu assenti. Era apenas o início. Quando me perdia ao fazer algo inteiro


e novo novamente, nada mais existia, apenas o trabalho à minha frente.

— Esta é a peça que pegamos na venda de garagem?

Eu ri. — É a propria. Parece um pouco diferente, hein?

Ford circulou o armário, curvando-se para ver mais de perto os


lugares. — Isto é incrível. Você poderia vendê-lo por um bom dinheiro.

Dei de ombros. — Às vezes eu faço. Outras vezes, eu os guardo. Mas


nunca vou aproveitar de ninguém.

— Eu não estava sugerindo isso. Mas você merece ser paga por todo o
seu trabalho duro.

CATHERINE COWLES
Minhas bochechas esquentaram. — Obrigada.

Ford encostou-se nas prateleiras na parede da oficina, seu olhar indo


do armário para mim e voltando novamente. — Você restaurou todas as
peças de mobiliário do bar, não foi?

Eu pressionei meus lábios. Foram momentos como esses em que me


senti a milhões de quilômetros de Ford, como se ele não me conhecesse.
Kenna, Caelyn, Hunter, todos sabiam o quanto eu havia trabalhado como
uma escreva por trazer de volta à vida o The Catch. Eles me trouxeram o
almoço ou o jantar enquanto eu trabalhava durante o dia e noite. Eles
foram para vendas de garagem e casas comigo enquanto eu procurava
pechinchas. Eles me ajudaram a transportar e pintar. E eles sabiam o
quanto tudo isso significava para mim. Ford tinha perdido tudo isso.

— A maioria das peças do bar são coisas que eu arrumei. Mas nem
tudo. — Com quem eu estava brincando? Era noventa e nove por cento
meu.

Ford engoliu em seco, como se a informação o machucasse de alguma


maneira. — Por que você está se escondendo de mim?

Recuei com a pergunta. Eu não estava me escondendo dele. Abri a


boca para dizer isso e depois me contive. Não era exatamente o que eu
estava fazendo? Ford Hardy me aterrorizava. Ele era o penhasco mais alto
do qual eu podia pular, a maior corrida e o pior potencial de lesão. Fiquei
me segurando, porque se ele não tivesse todas as minhas peças, então
talvez não doesse tanto quando ele partisse. Ou pior ainda, se ele ficasse
e encontrasse alguém para amar.

As lagrimas acumuladas queimaram nos meus olhos quando soltei


um suspiro trêmulo. — Por muitas razões.

Suas juntas ficaram brancas quando ele agarrou a borda da estante.


— Talvez você possa compartilhar algumas delas comigo.

CATHERINE COWLES
Soltei uma risadinha, mas era pequena em sua falsidade. Ele queria
que eu falasse em voz alta? Que eu o amava, mas não podia tê-lo? Que
um dia ele iria embora de novo? Que eu dancei na sombra da minha irmã
a maior parte da minha vida, e não corri o risco de fazer isso em um
relacionamento também? Meu estômago revirou com o pensamento
dele me comparando com Vi. Sua beleza clássica e graça para o meu
ímpeto e corpo marcado. Eu não conseguia olhar nos olhos de Ford e ver
a verdade lá.

— Você não confia em mim, não é?

Ele nunca desviou o olhar dos meu quando fez a pergunta, manteve a
voz calma e contida, mas as palavras me fizeram estremecer. Eu confiava
nele. Confiava nele com todo meu ser, exceto o meu coração. Eu mantive
meu olhar firmemente preso ao dele. — Não. Eu não.

Ford assentiu com firmeza, empurrando a estante e caminhando para


a porta, sem dizer uma única palavra. Quando a porta bateu atrás dele,
afundei lentamente no chão. Lágrimas fluíam livremente e agora sem
controle. Mordi com força a articulação dos dedos, silenciando o som de
qualquer soluço.

Eu era fraca. Tão fraca. Deixar que o medo dele partir, da possível
comparação, a culpa de sempre ter amado um garoto que pertencia à
minha irmã, corroem minha força, minha coragem. E essa fraqueza me
custaria minha chance de felicidade.

CATHERINE COWLES
28

EU DEIXEI a porta bater atrás de mim enquanto caminhava em direção


à praia. Eu estava agindo como um idiota mal-humorado e sabia disso.
Mas ouvir Bell dizer em voz alta que ela não confiava em mim... Cortou
profundamente, torcendo e girando a lâmina enquanto avançava.

Soltei um forte suspiro enquanto observava as ondas quebrando na


costa, escurecendo junto com o céu. A dúvida surgiu junto com a maré.
Talvez tudo se quebrou demasiado entre nós para que funcionasse.
Talvez eu estivesse louco por pensar que ela também se importava
comigo. Mas então eu me lembrava do brilho do calor em seus olhos
quando a tocava, a sua rápida respiração. O jeito que sua voz falhou
quando ela disse que, mesmo que ela quisesse mais, ela não poderia ir lá
comigo.

Ela estava assustada. Com medo porque eu a machuquei. — Droga.


— Eu tinha feito exatamente o que jurei que não faria. Eu a deixei quando
as coisas ficaram difíceis. A única mensagem que eu estava enviando
para ela era que eu não podia lidar com suas emoções, sua mágoa. Bell
precisava se sentir livre para compartilhar tudo o que estava
experimentando comigo: sua dor, sua raiva, seu medo. Eu tinha que ser
o suficiente forte para segurá-lo junto com ela, não importa quanta
agonia isso trouxesse.

Eu soltei outra maldição quando me virei para voltar à oficina e fazer


isso direito. O movimento apareceu na minha visão periférica, mas antes
que eu pudesse me virar para encontrar a fonte, a dor exxplodiu contra
o lado da minha cabeça, a luz brilhando atrás dos meus olhos antes da

CATHERINE COWLES
minha visão entrar em túnel. Minhas pernas pareciam sair de baixo de
mim, incapaz de obedecer à ordem do meu cérebro de ficar em pé.

A escuridão desceu. O mundo tremeu dentro e fora. Rochas


perfuraram minhas costas, cortando a carne como se eu estivesse
me movendo. Meu corpo estava se movendo, mas eu não era responsável
pela ação. Eu tentei forçar meus olhos a abrir, mas a escuridão me
envolveu novamente.

O fogo queimava no meu ombro. Alguém estava me puxando, as mãos


no meu pulso apertado. A dor no meu braço me levou de volta
à consciência. Eu gemi. A pressão aumentou e o puxão pareceu se
intensificar. Então a escuridão familiar me levou de novo.

A agua gelada bateu no meu rosto. Eu murmurei, virando minha boca


para longe do líquido salgado tentando me sufocar. Alguém amaldiçoou.
Havia pressão no meu pescoço, me empurrando para a água negra e
escura.

Quando meu corpo submergiu, despertou algo em mim, adrenalina


semelhante ao tipo que permitia às mães levantar carros para salvar seus
filhos. Me apartei o fundo do mar rochoso, meu ombro gritando de dor.
Eu levantei, meus olhos ardendo enquanto piscava para tirar a água
salgada deles. A figura na minha frente era apenas uma massa
embaçada. Eu balancei, mirando no meio, confuso, esperando atordoar
o agressor.

Peguei costelas e carne, e o agressor xingou. Uma voz masculina. Não


parei, fui dar um soco no queixo e sua cabeça se virou para o lado. Mas
a mudança me custou. Meu corpo, já enfraquecido pelo ataque, ficou sem
equilíbrio. O atacante aproveitou o momento, dando um golpe brutal ao
meu lado.

Gemi enquanto tentava me endireitar, rezando para não ter uma


costela quebrada ou um pulmão perfurado. Uma onda bateu em nós dois,

CATHERINE COWLES
enviando mais água salgada no meu rosto e olhos. Eu me endireitei, me
preparando para outro golpe, mas uma voz profunda da própria praia
chamou.

— O que diabos está acontecendo?

A figura na minha frente congelou por uma fração de segundo, e tentei


tirar a água dos meus olhos. Tentei identificar o homem na minha frente,
mas minha visão não cooperou. O homem partiu, saindo da água e na
direção oposta do cara correndo pela praia.

A adrenalina saiu de mim em um flash. Meu corpo cedeu quando caí


de joelhos, minha cabeça ficando logo acima da água.

— Você está bem?

Eu me levantei com a ajuda do cara que não hesitou em ajudar. —


Obrigado.

O homem me guiou para a praia onde eu podia me sentar. — Eu me


ofereceria para ligar para a polícia, mas não tenho telefone e não tenho
certeza se devo deixá-lo em paz agora.

— Ei! Vocês estão bem? — A voz de Crosby rompeu o ar da noite.

— Você tem um telefone? — o estranho perguntou.

— Sim.

— Chama a polícia.

Crosby murmurou uma maldição, agachando-se enquanto pegava o


telefone. — O que diabos aconteceu, Ford?

— Alguém tentou me afogar. — Minha garganta queimava enquanto


falava, a realidade das palavras me atingindo quando eu as disse. Alguém
tentou me afogar. O pânico começou a lamber minhas veias. — Bell. —
Eu me levantei.

CATHERINE COWLES
Crosby estava ao meu lado em um segundo. — Uau. Devagar ai
embaixo. Você precisa sentar.

— Eu tenho que garantir que Bell esteja bem. — O mundo girou


novamente e, de repente, tudo ficou preto.

E eu não senti mais nada.

CATHERINE COWLES
29

V OZES GRITANDO na praia me obrigaram a secar os olhos e ficar de pé.


Provavelmente eram apenas crianças. Meus amigos e eu fazíamos da
praia como nosso ponto de encontro durante todo o ensino médio. Mas a
última coisa que o The Catch precisava era de menores de idade bebendo
a passos de nossas portas.

Empurrei a porta da oficina para descobrir que já era noite. Eu pisquei


contra a escuridão, tentando fazer meus olhos se ajustarem. Não vi
nenhum grupo enorme de adolescentes na praia, apenas alguns caras,
um que parecia desmaiar. Ótimo. — Com licença, isso é propriedade
privada. Você vai ter que mudar a festa para a praia.

— Bell? — A preocupação na voz de Crosby fez minha coluna


endurecer. — Você está bem?

— Estou bem. O que está acontecendo? — Eu corri em direção às


figuras. Minha respiração congelou no meu peito enquanto meus
olhos estavam focados no homem na areia. Imóvel. Ele estava muito
quieto. E havia sangue escorrendo de uma ferida na testa. — Ford? — O
nome parecia como se fosse um milhão de minúsculas lâminas na minha
garganta.

Eu afundei na areia. Minhas mãos se moveram rapidamente sobre o


corpo de Ford, mas sem tocar. Eu estava com muito medo de que
qualquer contato causasse mais danos. — Ele está respirando? — Não
reconheci a voz que fazia a pergunta, era tão estranha aos meus ouvidos
quanto a de um estranho.

CATHERINE COWLES
Uma mão descansou no meu ombro. — Ele está respirando, Bell. E os
paramédicos estão a caminho

— O xerife?

— Ele vai nos encontrar no hospital.

Estendi a mão e gentilmente peguei a mão de Ford na minha. Estava


fria, muito fria. Lágrimas ardiam na parte de trás dos meus olhos. Isso
não estava acontecendo. A qualquer momento, eu acordaria e
perceberia que tudo isso era um pesadelo horrível. Mas os segundos se
passaram e nenhuma resposta. — O que aconteceu?

Uma garganta pigarreou e olhei para cima para ver que o terceiro
homem era Griffin Lockwood, e ele estava encharcado. — Eu estava
voltando para o meu barco e vi dois caras brigando na praia. Eu pensei
que eram apenas alguns idiotas de turistas bêbados, mas eu gritei, e um
cara foi embora.

Sirenes soavam ao fundo, e meu olhar voltou para Ford. — Eles estão
aqui. Eles te ajudarão. — Eles teriam que ajudar. Eu não o perderia
também.

— E LE VAI ficar bem, Bell.

Crosby segurou firmemente minha mão enquanto sentávamos em


uma sala de espera estéril. Eu não tinha visto esse quarto antes, mas
estava familiarizada demais com o próprio hospital. As dezenas de fotos
da natureza nas paredes e o cheiro de anti-séptico. Vai ficar tudo bem.
Ele vai ficar bem. Isso não teria o mesmo final da minha última viagem
por esses corredores.

— Devo ligar para Hunter? Os Hardys?

CATHERINE COWLES
— Não. — Eu me encolhi com a nitidez na minha voz. — Talvez ligue
para Hunter, mas não ligue para Kara e Frank. Não quero que eles se
preocupem. Se essa notícia desse outro golpe a Frank, eu nunca me
perdoaria.

— OK. — Crosby apertou minha mão e a soltou.

Os sons abafados da ligação de Crosby com Hunter só me fizeram


desconectar ainda mais. Minha visão ficou turva nas cadeiras vazias à
minha frente enquanto o tempo entrava e saía. Eu não ia perdê-lo. Eu
disse isso várias vezes para mim mesmo.

Uma voz clareou e um homem alto com cabelos grisalhos apareceu na


minha linha de visão. — Sou o Dr. Park e estou tratando o Sr. Hardy.

Eu me levantei, balançando um pouco. — Como ele está?

— Ele vai ficar bem.

Meus ombros caíram de alívio com as palavras do médico, e Crosby


apertou meu ombro. — Eu te disse, Bell. A cabeça dele é mais dura do
que você pensa.

O Dr. Park olhou para o prontuário de Ford. — Ele tem


um ombro deslocado, costelas machucadas, uma ferida que exigiu oito
pontos e uma concussão.

Estendi a mão cegamente para agarrar o braço de Crosby. — Isso ele


está? — Crosby fez uma careta para o médico, que parecia impenetrável
ao seu olhar.

— Ele recuperou a consciência, e nós o libertaremos esta noite...

Eu cortei o médico. — Isso é prudente? Ele não precisa de alguém para


monitorá-lo?

CATHERINE COWLES
O Dr. Park ergueu os olhos do gráfico. — Ele precisará de alguém para
ficar com ele, sim. Acordá-lo a cada poucas horas e fazer perguntas
simples. Mas, sinceramente, descobrimos que os pacientes se recuperam
melhor em suas próprias casas.

— Eu vou ficar com ele. — As palavras saíram antes que eu pudesse


considerar quão sábia era a oferta. Eu não me importei mais. Nada disso
importava. Eu quase perdi Ford, e as últimas palavras que eu disse a ele
foram de mágoa e raiva. — Ele foi capaz de contar o que aconteceu?

— Conseguimos juntar a maioria das peças devido aos ferimentos


dele. O Sr. Hardy preencheu o resto. Encontramos casca em seu
ferimento na cabeça, então assumimos que ele foi atingido por algum tipo
de pau ou galho. Os arranhões nas costas nos levam a acreditar que ele
foi arrastado em direção à água onde o agressor tentou afogá-lo. Foi
quando o Sr. Hardy recuperou e começou a revidar.

Meu estômago revirou, todo o seu conteúdo rebelando com a


imagem pintada em minha mente. — Com licença. — Corri para o
banheiro do outro lado do corredor, apenas a tempo de esvaziar meu
estômago no banheiro. Eu estava péssima e vomitei até que nada mais
surgisse. Minhas pernas tremiam quando eu saí da cabine e fui para a
pia. Lavei a boca e joguei água no rosto, secando-o.

Estudei o reflexo olhando para mim. Muito pálido, com olheiras


contornado meus olhos e meu olhar entre pânico e feroz. Eu precisava
ver Ford por mim mesma. Eu precisava tocá-lo. Para ter certeza de que
ele estava realmente seguro e não ia a lugar nenhum.

A porta se abriu lentamente e uma enfermeira apareceu com um


sorriso gentil. Ela tinha um ar de avó e estendeu uma garrafa de enxague
bucal pequeno. — Seu amigo pensou que você poderia querer isso.

— Obrigada. — Minha mão tremia quando peguei.

CATHERINE COWLES
— Você só me avisa se precisar de um pouco de suco ou bolacha, e eu
vou arranjar um pouco.

Eu concordei e ela saiu. Eu rapidamente lavei minha boca,


saboreando o alívio que o enxague bucal trouxe, e voltei para a sala de
espera. — Posso vê-lo agora?

A expressão do médico suavizou. — Claro que você pode. Vou pedir à


enfermeira que traga alguns documentos e instruções para cuidados em
casa. Hardy precisa ficar calmo por algumas semanas.

Eu balancei a cabeça e fui direto para a área de emergência que o


médico apontou. Minha mão congelou por um momento enquanto eu
agarrava a cortina, meu coração parecendo tropeçar. Eu não tinha
certeza do que faria se Ford me mandasse embora. Respirei fundo,
firmemente, e puxei o tecido áspero para o lado.

Os olhos de Ford focaram em mim. — Trouble.

Fiz a última coisa que queria. Eu comecei a chorar. Era como se todas
as emoções que eu estava segurando nas últimas doze horas se
derramassem de uma só vez.

— Trouble, — ele rosnou. — Vem aqui. Estou bem. Eu prometo.

Corri para a cama, tentando me controlar e falhei miseravelmente. —


Eu sinto muito. — Solucei entre as palavras.

Seu braço que não estava na tipoia estendeu a mão para a minha. Eu
peguei avidamente. — Você não tem nada para se desculpar.

Eu não conseguia parar minhas lágrimas. Ford soltou minha mão e


segurou meu rosto. — O que é isso tudo?

— Eu quase te perdi, e a última coisa que disse foi que não confiava
em você. — Os soluços começaram a voltar a sério.

CATHERINE COWLES
— Bell. — O rosto dele se suavizou. — Eu não deveria ter ido embora.
Eu não recuperei sua confiança, está tudo bem. Mas será algum dia.

Eu deixei minha cabeça cair na cama, pressionando contra a perna


de Ford. Ele passou a mão sobre o meu cabelo, a sensação de seus dedos
emaranhados nos fios, a coisa mais reconfortante que eu já senti. — Tudo
vai ficar bem.

Minha cabeça levantou. — Você viu quem o atacou?

Ford fez uma careta. — Eu gostaria. Estava escuro e a água salgada


mexeu com a minha visão.

Peguei sua mão na minha, tentando não a segurar com muita força.
— O que diabos está acontecendo por aqui?

— Eu não sei. Mas vamos descobrir.

— Nós vamos.

Eu me assustei, virando-me para ver um xerife Raines muito irritado.


Uma enfermeira estava boquiaberta atrás dele. Eu não a culpo. Ele
parecia um anjo vingador das trevas. — Oi. — Minha saudação saiu como
um chiado, mas o homem era seriamente intimidador quando estava com
tanta raiva.

Raines me deu um aceno rápido e depois voltou sua atenção para


Ford. — Sinto muito que isso aconteceu com você.

— Você e eu. — Ford riu, mas depois estremeceu, segurando as


costelas.

Eu fiquei de pé. — Você quer que eu chame uma enfermeira?

Ford apertou minha mão. — Estou bem, Trouble. Só um pouco


sensível.

CATHERINE COWLES
Meus olhos se estreitaram. — Você esquece que eu sei quando você
está mentindo. — Eu conhecia todas as histórias de Ford, e o movimento
de seus olhos era um claro indicio.

— Vou tomar os analgésicos quando chegar em casa. — Soltei algum


tipo de rosnado e ele sorriu. — Eu prometo.

O xerife Raines pigarreou. — Você viu alguma coisa?

Ford fez uma careta. — Não há muito que ajude, temo. Um homem.
Da minha altura e peso. Mas não consegui ver nenhuma característica
reconhecível. Estava escuro. Ele estava usando um chapéu. E meus olhos
estavam cheios de água salgada.

Raines tirou um bloco de notas do bolso e começou a rabiscar as


coisas. — Encontramos o ramo usado para atacar você, mas receio que
não tenhamos muita sorte com as impressões digitais. Estava
encharcado estava descascando.

— Então, de volta à estaca zero, — murmurei.

— Não é à estaca zero. — O xerife encontrou meu olhar de frente. —


Terei o maior número de homens que puder me dar ao luxo de vasculhar
a área circundante amanhã e perguntar às lojas da vizinhança se eles
têm câmeras fora de suas propriedades. Talvez tenhamos sorte.

Eu não ia prender a respiração. Anchor era um lugar seguro para se


viver a maior parte do tempo. Os crimes que enfrentamos foram pequenos
furtos, menores de idade bebendo e ocasionalmente uma apreensão de
drogas. Os lojistas não eram especialistas em segurança de nenhum tipo.
— Espero que você encontre algo. — A dúvida na minha voz lhe dizia o
improvável eu pensava que fosse.

— Vou telefonar para vocês amanhã e passarei para atualizá-los e


fazer uma declaração formal. — O olhar de Raines foi para Ford. — Se

CATHERINE COWLES
você pensar em algo novo, escreva-o, e discutiremos isso amanhã. E terei
agentes fazendo rondas pela sua casa e The Catch.

Um calafrio percorreu minha espinha. — Você acha que isso está


relacionado ao meu assalto? — Eu não tinha reunido os dois até aquele
momento, mas quais eram as chances de dois crimes não relacionados
ocorrerem tão próximos em uma ilha do tamanho de Anchor?

O rosto do xerife endureceu. — Eu acho que é provável. Só não sei


porquê.

— Bell, você vai ficar comigo esta noite.

O som agudo nas palavras de Ford me fez girar. — Eu já estava


planejando isso. — Meus olhos se estreitaram. — Mas você pede assim
novamente, e eu vou esquecer convenientemente onde coloco seus
remédios para a dor.

Os lábios de Ford se contraíram. — Justo.

— Vocês dois querem uma carona para a ilha? Ou devo me preocupar


que Bell vá jogá-lo ao mar?

Eu soltei uma risadinha. Minha voz parecia enferrujada, como se eu


não a tivesse usado há um tempo. — Acho que há uma chance de
cinquenta e cinquenta. Mas adoraríamos uma carona se você
também puder colocar Crosby junto.

Raines sorriu. — Sem problemas. Vou arrumar tudo e estar pronto


para ir quando você receber alta.

— Obrigado. — Eu segurei o olhar do xerife por um instante, querendo


que ele soubesse o quanto eu quis dizer aquelas duas palavras. Ele me
deu um aceno rápido e seguiu pelo corredor.

CATHERINE COWLES
Eu me virei para Ford, seu rosto estava sério novamente enquanto ele
falava. — Eu estava com tanto medo, Bell. Aterrorizado que em seguida
o cara fosse atrás de você, ou que ele já tivesse te machucado.

Minha garganta pareceu travar quando eu engoli. — Estou bem. Total


e completamente segura.

— Eu sei. Você pode me fazer um favor?

Eu olhei nos olhos azuis que eu poderia me perder para sempre. Eu


prometeria a ele o que ele quisesse, para limpar o medo que nublava
aqueles olhos lindos. Eu assenti.

Ford estendeu a mão, agarrando minha mão e me puxando em direção


à cama. — Eu preciso que você fique perto por um tempo.

— Eu posso fazer isso. — Mas eu sabia que perderia meu coração no


processo.

CATHERINE COWLES
30

EU GEMI QUANDO ME ESTIQUEI, minhas costelas doíam. Eu pisquei contra


a luz que estava muito brilhante. Tudo doía. Eu jurei que meus cílios de
alguma forma doíam. Olhei ao redor da sala, tudo voltando para mim em
flashes. A pancada na cabeça. A luta. Meu medo por Bell. Ela me acordou
a noite toda para me perguntar meu aniversário e quem era o presidente.

— Merda. — Esfreguei uma mão, o braço que estava livre, sobre meu
queixo barbeado e depois lentamente balancei as pernas para o lado da
cama e me sentei, deixando escapar uma ladainha de maldições. As
costelas seriam a minha morte.

Eu tinha concordado em tomar meio comprimido para dor ontem à


noite, mas não queria mais tomar. Mesmo com os bloqueios de alta
qualidade e o melhor sistema de alarme, eu queria estar no meu juízo. Se
o imbecil voltasse, eu não estaria drogado e deixaria Bell lutar com ele
sozinha. Apenas o pensamento apertou meu peito com a súbita
necessidade de vê-la.

Andei descalço pelo corredor, espreitando os quartos enquanto


caminhava. Cada vez que um aparecia vazio, meu coração batia um
pouco mais forte no peito. Quando cheguei à sala de estar, parecia que o
órgão poderia voar direto para fora do meu peito. Até que avistei Bell
enrolada em uma pequena bola no sofá.

Eu fiz uma careta. — O que você está fazendo?

Bell assustou-se, sentando rapidamente. — O que? Oh Olá. Você está


bem?

CATHERINE COWLES
— Claro que estou bem. Por que você está se contorcendo na posição
mais desconfortável do mundo no meu sofá, em vez de ficar em um dos
outros quatro quartos?

Foi a vez de Bell fazer uma careta agora. — Porque eu não queria
dormir profundamente. Eu tinha medo de não ouvir meu alarme e dormir
com ele quando deveria acordá-lo.

Suspirei. — Você precisa descansar. Você já passou por muita coisa.

— Estou bem.

Deus, eu odiava essa palavra. Nunca significava o que deveria. — Não,


você está exausta. Por que não preparo um café da manhã para você
dormir em uma cama de verdade? — Eu queria me aconchegar ao lado
dela e abraçá-la e nunca a deixa ir, mas não era isso que ela precisava
de mim agora.

— Que tal eu fazer o café da manhã, e então você pode tirar um


cochilo? — Reprimi um rosnado e Bell riu da minha expressão. Ela
levantou as duas mãos. — Está bem, está bem. Por que não tomamos
café juntos e depois podemos tirar uma soneca?

— Você está melhorando.

Antes que Bell pudesse responder, houve uma batida na porta. Ela
saiu do sofá como se fosse atender, mas eu a prendi com um olhar. —
Nem pense nisso. — Eu virei para a porta. Enquanto a parte de trás da
casa era composta por janelas que davam para o penhasco e o oceano
abaixo, a frente foi projetada para oferecer privacidade e segurança. Não
havia outra maneira de entrar ou sair da casa a não ser pelas pequenas
vidraças da porta da frente.

Olhei pela pequena abertura para ver o xerife Raines. Eu rapidamente


abri a porta. — Xerife.

CATHERINE COWLES
— Bom dia, Ford. Como está se sentindo?

Eu o conduzi para dentro. — Como se eu tivesse enfrentado um ataque


particularmente difícil em um jogo para o qual não estava treinando.

Raines riu. — Não é um sentimento divertido.

— Não, não é.

— Bom dia, xerife, — Bell cumprimentou.

— Por favor, me chame de Parker, vocês dois.

Bel assenti. — Ok, Parker, posso pegar um café para você? Ford e eu
estávamos prestes a tomar o café da manhã.

Ele estendeu a mão para indicar que Bell deveria indicar o caminho.
— Nós podemos fazer isso na cozinha. E nunca direi não ao café.

Bell imediatamente começou a preparar o café da manhã enquanto eu


começava a arrumar as bebidas. Puxando algumas canecas do armário,
olhei para Parker. — Então, você encontrou alguma coisa?

O xerife passou a mão pelo rosto, chamando a atenção para olhos que
claramente não tinham dormido o suficiente. — Não é isso que ajuda de
maneira significativa. O banco teve um breve vislumbre de alguém em
suas imagens de segurança, mas é por trás e não nos dá muito mais do
que já tínhamos antes.

Eu sabia que Bell esperava tanto, mas eu estava esperando que eles
tivessem algo útil. Parker pigarreou. — Eu preciso conversar com vocês
dois sobre algo, e não vai ser agradável.

Eu enrijeci, me aproximando de Bell, que parou de bater ovos. — O


que é isso?

— Pesquisei ontem à noite e vi que Ford estava dirigindo na noite em


que sua irmã foi morta, Bell.

CATHERINE COWLES
Seus músculos estavam visivelmente tensos quando ela pousou o
utensílio. — O que você está tentando dizer?

— Gostaria de saber se há alguém que ficou especialmente bravo após


o acidente. Não apenas chateado, mas realmente zangado.

A boca de Bell abriu e fechou enquanto ela tentava compreender o que


Parker estava perguntando. Eu limpei minha garganta. — Não tenho
certeza de que serei de muita ajuda aqui. Saí para a faculdade logo após
o acidente e não voltei aqui até agora. — Ao dizer isso de uma maneira
geral, me fez perceber como eu tinha sido um covarde. Eu meti o rabo
entre as pernas e corri.

Uma mão pequena e lisa deslizou na minha, nossos dedos


entrelaçados. A paz e o conforto que isso trouxe quase me deixaram de
joelhos, mas não consegui olhar para ela. — Havia muitas pessoas que
estavam tristes e outras que estavam com raiva.

Meu olhar foi para Bell. Ela engoliu em seco. — No topo da lista
estariam meus pais. Eles ameaçaram processar Ford se ele tivesse algum
contato comigo ou com eles.

Parker se endireitou em sua banqueta. — Seus pais sabem que a Ford


está de volta à cidade?

Bell assentiu. — Nós os encontramos há alguns dias no Rocco's.

— E como foi esse encontro?

O corpo de Bell estremeceu um pouco, e eu soltei sua mão, puxando-


a contra mim. Eu precisava de mais contato. Parecia que se eu tivesse
isso, poderia protegê-la de alguma forma. Minhas costelas gritaram em
protesto, mas eu as ignorei. — Não foi legal.

CATHERINE COWLES
Parker assentiu. — Eu vou ter que falar com eles. Existe mais alguém
em que você possa pensar? Alguém que expressou pensamentos ou
sentimentos que pareciam estranhos ou fora de lugar?

Um olhar distante tomou conta do rosto de Bell, que incluía lampejos


de dor a cada poucos segundos. Ela estava de volta no passado, o tempo
que a machucara tanto. Tive o repentino desejo de brigar com o xerife por
forçá-la a voltar para lá, mesmo sabendo que ele estava apenas tentando
ajudar. — Eu sei que havia pessoas que pensavam que Ford deveria estar
no funeral, mostrando seu apoio, mas honestamente é um pouco
confuso.

Essas pessoas não estavam erradas. Eu deveria estar lá, não importa
o que os pais de Bell tenham ameaçado. Uma mistura tóxica de raiva e
culpa rodou em meu intestino. — Sinto muito, Trouble. — Sussurrei as
palavras em seu ouvido, mas tinha certeza de que Parker ouviu.

Bell virou nos meus braços. — Não. Você não permitirá que os críticos
idiotas o façam se sentir culpado. Você estava sofrendo. Você tinha
dezoito anos e estava com medo. Nós dois cometemos erros, mas não
vamos permitir que pessoas que não têm lugar em nossas vidas nos
façam sentir mal por algo sobre o qual não sabem nada.

Os cantos dos meus lábios se levantam. — Às vezes, eu esqueço a fera


que você pode virar. — Era uma coisa perigosa para esquecer, porque
quando o fogo era apontado para você, as queimaduras podiam ser letais.
Mas era tão bonito de assistir.

Bell fez uma careta para mim, e Parker e eu caímos na gargalhada.


Ela ergueu as mãos. — Ninguém me leva a sério.

Puxei-a de volta contra mim com meu braço bom, pressionando meus
lábios no topo de sua cabeça. Os aromas de jasmim e aquela coisa que
eu sempre associei com Bell, mas nunca consegui identificar,

CATHERINE COWLES
encheram meus sentidos. Eu a respirei, deixando a fragrância acalmar
meus nervos tensos. — Nós levamos você a sério, Trouble. Confie em mim.

Parker pigarreou. — Vou continuar investigando quem pode ter


ressentimento contra Ford. Bell, você notou algo estranho antes ou
depois de Ford? Alguém prestando atenção em você? Nada mesmo?

Bell deu um pequeno empurrão em meus braços. — Os presentes.

— Presentes... plural? — Eu quase tinha esquecido o lenço de Vi que


havia sido deixado na porta de Bell, mas havia mais do que ela não tinha
me falado? Eu lutei contra o aperto nas minhas mãos enquanto fazia o
meu melhor para manter minha frustração sob controle.

Bell mordeu o lábio inferior. — Todo ano no aniversário da morte de


Violet e no aniversário dela, recebo presentes. Geralmente são flores e
uma foto dela ou de nós duas juntas.

Meu sangue ficou frio e meu batimento cardíaco pareceu diminuir. —


E você não contou a ninguém?

A cor tingiu as bochechas de Bell. — Sinceramente, pensei que era um


amigo. Alguém que queria mostrar seu apoio, mas não queria torná-lo
estranho. Nunca houve um nome, mas eles nunca foram ameaçadores.
Só ficou estranho com o lenço.

— Que lenço? — Parker pegou o caderno novamente e rabiscava


furiosamente.

Ajustei a alça da minha tipoia, querendo arrancar a maldita coisa. —


Alguém deixou o lenço favorito de Violet na porta de Bell com uma nota
dizendo a ela para não esquecer sua irmã.

— Foi estranho. E quase parecia um pouco cruel. Como se eu pudesse


esquecê-la.

CATHERINE COWLES
Deslizei minha mão sob a mecha dos cabelos de Bell, apertando seu
pescoço. — Pareceu ameaçador para mim. Pedi à equipe que ficasse de
olho, mas ninguém viu nada.

Parker anotou mais algumas coisas. — Você tem o lenço? Algum dos
presentes?

Bell assentiu. — No meu apartamento. Eles estão em uma caixa


no fundo do meu armário.

Parker levantou-se. — Gostaria de analisa-las, para o caso de haver


impressões.

— Claro. Caelyn está no comando hoje. Ela tem uma chave extra para
o meu apartamento, e eu posso lhe dar o código de segurança.

Parker estudou Bel por um momento. — Quantas chaves extras tem


sua casa e quem tem o código de segurança?

Bell ficou rígida e eu odiava que Parker a estivesse forçando a olhar


para todos em sua vida com olhos desconfiados. — Hunter, Caelyn e
Kenna têm chaves, mas nenhum deles tem o código de segurança. Não
preciso dar a eles desde que a Ford instalou o sistema.

Parker assentiu. — Vamos continuar assim. Quero que vocês dois


sejam cuidadosos. Fique com outras pessoas o máximo possível. Sem
correr sozinhos na praia ou algo assim. Fique de olho em quem está
agindo de forma suspeita. Se você perceber alguma coisa, por menor que
seja, me ligue.

Nós dois concordamos. Bell deu a Parker o código de segurança e ele


estava a caminho. Ela caiu contra a porta quando ela se fechou. — O
que diabos está acontecendo, Ford?

Estendi a mão boa, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha


dela e passando a mão pelo pescoço dela, apertando seu ombro. — Eu

CATHERINE COWLES
não sei, mas vamos descobrir. — Ela não parecia especialmente
esperançosa. E Deus, eu odiava isso. — Vamos tomar café da manhã, e
minha mãe me deu uma caixa de coisas que ela guardou para mim. Eu
acho que existem anuários lá. Podemos examiná-los e ver se isso guarda
alguma lembrança para você.

— Isso não é uma má ideia. — Um lampejo de esperança atingiu os


olhos de Bell. Trouble sempre se dava melhor quando ela podia agir. Ela
precisava de um propósito, sentir que poderia mudar suas
circunstâncias.

Comemos rapidamente, nenhum de nós tinha muito apetite após o


encontro com o xerife. Levei meu prato para a pia. — A caixa está na
garagem.

Bell pegou meu prato e colocou na máquina de lavar louça. — Nem


pense em tentar pegá-lo. Você sente no sofá. Eu pego a caixa.

Eu resmunguei, mas obedeci. Minhas costelas não estavam


exatamente felizes no momento, e me recusei a tomar outro comprimido
para a dor.

Bell se foi e voltou em questão de segundos, colocando a caixa


desgastada na mesa de café à nossa frente. Ela me deu um sorriso
devastador. — Realmente espero que não haja Playboys antigas nesta
caixa.

Eu ri. — Se minha mãe encontrou Playboys no meu quarto de


infância, eu realmente espero que ela tenha jogado fora.

Abri as abas superiores que estavam dobradas uma na outra. Havia


uma mistura total de itens, e de repente senti que qualquer um deles
poderia ser uma granada ativa. Saquei dois troféus de futebol e coloquei-
os na mesa.

CATHERINE COWLES
— Campeões estaduais no seu primeiro ano. Lembro desse jogo. —
Bell pegou o troféu, tirando o pó da placa.

Eu sorri. — Eu lembro que você enfeitou sua camiseta com o meu


número nela.

Aquele rosa lindo inundou o rosto de Bell. — Eu era uma nerd.

Eu olhei em seus olhos. — Eu amei. — A cor em suas bochechas se


intensificou, e eu comecei a ver aqueles anos crescendo através de uma
lente diferente. Todo o tempo que ela passou comigo, do jeito que ela
tinha sido minha maior líder de torcida e a defensora mais forte.

— O que mais você tem aí? — Bell ficou de pé, debruçado sobre a caixa
e tirou uma foto emoldurada. O polegar dela traçou o vidro. — Vocês dois
pareciam tão perfeitos naquela noite.

Éramos Violet e eu no nosso baile de formatura. Ela combinado minha


gravata borboleta com a cor do vestido e deu à florista instruções estritas
para o buquê e a flor na lapela. Tudo parecia perfeito do lado de fora
olhando. Mas nós tínhamos brigado muito naquela noite. Queria que ela
pensasse em ir mais longe do que Seattle para a faculdade, e ela se
recusara a aceitar a ideia. Ela acabou chorando no banheiro, e eu me
senti um idiota de primeira classe. — Nada é tão perfeito quanto parece.

Coloquei a foto na mesa de café e peguei o primeiro anuário. — Aqui


vamos nós.

Bell se acomodou no sofá e começamos a folhear as páginas. Eu parei


em um que continha uma foto de Bell, Kenna e Caelyn, os braços em
volta uma da outra e o rosto salpicado de tinta. Bell parecia adorável, e
algo mais. Ela tinha mais vida nos olhos do que qualquer um que eu já
tinha visto antes. Eu não podia explicar.

CATHERINE COWLES
— Esse foi o dia do serviço comunitário. Estávamos no time que pintou
bancos no parque e tenho certeza de que acabamos nos pintando mais
do que os bancos.

Eu sorri — Eu lembro. Eu tive que embrulhá-la em duas toalhas de


praia antes de colocá-lo no meu SUV. — Meu olhar pegou o de Bell. —
Você parecia um burrito adorável.

Aquele lindo tom de rosa estava de volta em suas bochechas. — Todas


as meninas ficaram com ciúmes que você veio me buscar. Se eles
soubessem que você me via como um burrito.

— Um burrito adorável, há uma diferença. — Algo se fechou no olhar


de Bell. Eu pressionei, tentando passar por isso e voltar para aqueles
verdes lindos. — E não te vejo tão adorável agora, Trouble. Você é muito
mais do que isso.

Algo que parecia muito com esperança brilhou em seus olhos antes
que ela o destruísse. — Qual é o próximo?

Reprimi um rosnado e virei a página. Uma risada estrangulada me


assustou. Nesta, havia uma foto de Hunter e Ethan vestidos com roupas
de líder de torcida, completas com perucas, pompons e saias. Seus braços
estavam em volta de Violet, que foi pega no meio da risada.

— Oh meu Deus, o jogo powder puff. Eu tinha esquecido totalmente


disso.

Uma vez por ano, as líderes de torcida e jogadores de futebol trocavam


de lugar para uma rodada de futebol. Hunter se certificou de que ele e
seus amigos tinham ido além e todos ficaram loucos quando viram os
meninos todos enfeitados. — Você sabe que ele mandou mamãe costurar
esses uniformes para eles.

— Não, ele não fez. — Eu balancei a cabeça e Bell balançou a cabeça.


— Kara era um soldado.

CATHERINE COWLES
— Ela adorou. Mas Hunter traçou a linha quando ela se ofereceu para
compartilhar seu batom.

Bell começou a dar risadas. — Eu teria pagado um bom dinheiro para


ver isso.

— Eu também.

O dedo de Bell passou por cima da foto de Hunter e Ethan. — Acho


que os dois tinham uma queda por ela.

Minhas sobrancelhas se ergueram. — Realmente?

Ela deixou escapar um som de escárnio. — Vamos lá, praticamente


todo mundo tinha.

— Ela tinha uma luz que atraía pessoas até ela.

O dedo de Bell parou logo abaixo do rosto de Violet. — Ela realmente


tinha. —

Continuamos folheando páginas, perdendo a memória. As fotos minha


com Vi não doía tanto. Era mais uma dor ligeira. Não era uma tristeza
pelo que eu perdi, mas por uma vida que foi cortada muito rápido. E
também havia uma dose saudável de alegria misturada, em todas as
memórias que nunca perderíamos.

Fechei o livro com um baque. — Trouxe de volta algo que pode ser
útil?

Bell dobrou as pernas até o peito, apoiando o queixo nos joelhos. —


Depois que tudo aconteceu, e eu percebi que você não voltaria, eu fiquei
com muita raiva. — Bell não olhou para outro lado enquanto falava, não
se escondeu de mim, mas eu podia sentir o arrependimento saindo dela
em ondas. — As pessoas se sentiram mal por mim. Eu tinha perdido
minha irmã e todos sabiam que você e eu éramos íntimos. Eu acho
que eles disseram coisas para me fazer sentir melhor, para mostrar que

CATHERINE COWLES
estavam do meu lado, por assim dizer, mas acho que a maioria não quis
dizer isso.

Eu cheguei mais perto, envolvendo minha mão livre em torno de sua


panturrilha. — Você tinha o direito de ficar com raiva.

— Você também. — Bell apertou os lábios antes de falar novamente.


— Você não merecia todas aquelas pessoas sussurrando sobre você pelas
suas costas, mesmo que você não estivesse aqui para vê-lo. Sinto muito
por ter alimentado aquela máquina.

Apertei a perna de Bell, me aproximando ainda mais dela. — Chega


de desculpas. Nós dois estávamos sofrendo. Nenhum de nós lidou com
isso da melhor maneira. O que importa agora é que não desperdiçamos o
tempo que nos resta.

O olhar de Bell travou com o meu. — Eu não quero perder nenhum


momento.

CATHERINE COWLES
31

HOUVE um som estridente nos meus ouvidos, como se de repente eu


estivesse submersa na água. Eu estava congelada no local quando Ford
se inclinou, hesitando por um momento antes de seus lábios
encontrarem os meus, como se ele estivesse me dando uma última
chance de me afastar, para dizer a ele que eu não esperava isso. Mas não
pude. Quase perdê-lo havia arrancado aquele último pedacinho de
restrição e autopreservação.

Os lábios de Ford encontraram os meus em uma tentação lenta e


inebriante. Eles eram tão quentes e surpreendentemente suaves, mas a
da barba por fazer enviou uma cascata de sensações em conflito sobre a
minha pele. Eu queria afundar na sensação, no beijo, em Ford. Eu queria
me perder em tudo o que era exclusivamente dele.

Sua língua moveu entre os meus lábios, e eu a recebi, enredando a


minha com a dele em um ritmo que só poderia ser nosso. Eu nunca tinha
experimentado algo assim. Era uma mistura de adrenalina e regresso a
casa, de corações acelerados e paz. Era como tudo em Ford: uma
justaposição potente e poderosa.

A mão de Ford deslizou sob o meu cabelo, seus dedos emaranhados


nos fios. Quando sua boca se separou da minha, soltei um gemido de
protesto. Ele manteve a mão na minha nuca, estudando meu rosto como
se procurasse sinais de pânico.

Meu peito arfava quando eu queria ter meu coração sob controle. —
Isso foi...

— Acho que não há palavras para descrever esse beijo, Trouble.

CATHERINE COWLES
Mordi meu lábio quando o calor atingiu minhas bochechas. — Mas
você parou.

Ford riu. — Existe uma quantidade de tortura que eu posso aguentar


quando sei que não vou poder ter você. E por mais que eu odeie dizer isso,
minhas costelas e braço não estão prontos para o que eu quero de você.
— Seu olhar percorreu meu rosto. — Se você quiser o mesmo.

O rugido nos meus ouvidos estava de volta. Este foi um momento que
eu sonhei desde que percebi que os meninos podem ser mais do que
colegas e colegas de escola. Meu coração parecia bater no meu peito. Eu
estava em guerra comigo mesma. Eu queria Ford mais do que meu
próximo suspiro, mas estava aterrorizada. — Eu quero você. Nós. Mas...

A mão de Ford apertou meu cabelo. — Mas o que?

— Mas acho que devemos levar as coisas devagar. — As palavras


saíram às pressas, mas senti alívio assim que foram liberadas. Lento e
constante. Era disso que eu precisava, uma chance de facilitar as coisas.
Eu queria rir, como se pudesse entrar em qualquer coisa em que Ford
Hardy estivesse preocupado. Meu coração e alma já estavam caindo em
descida que eu duvidava que tivesse algum controle.

Os lábios dele se contraíram. — Eu posso ir devagar. — Ele passou


sua boca contra a minha em um quase beijo. — Enquanto eu puder tocar
em você. — Outro toque. — Beijar você. — Sua mão provocou as atrás do
meu pescoço. — Sentir sua pele.

Eu estava praticamente ofegante. Eu me levantei. — Nós devemos sair


daqui. — Se eu ficasse trancada nesta casa sozinha com Ford por muito
mais tempo, acabaria nua e fazendo más escolhas na vida.

Os olhos de Ford brilharam. — Não pode resistir a mim, hein?

CATHERINE COWLES
Peguei um travesseiro e joguei nele, mas Ford bateu com a mão boa.
Peguei outro e apontei para ele. — Você tem um problema real de
autoestima.

— Eu realmente tenho. — Ele se levantou, se aproximando de mim. —


Um beijo para melhorar?

Estendi o travesseiro para mantê-lo na raia. — Oh, não, você não. Vou
dar um soco em seu ombro ruim, e não pense que não vou.

Ford riu, mas me contornou e foi pegar as chaves no prato perto da


porta. — Vamos. Vou comprar uma casquinha de sorvete.

Eu pisquei rapidamente à toa na rápida mudança dos eventos. —


Hortelã Oreo?

— Como se eu me dignasse a conseguir qualquer outra coisa.

Eu sorri — Homem inteligente.

— Lembra quando aquele idiota que você namorou no ensino médio


lhe trouxe Oreo regular em vez de hortelã?

Engoli minha risada com a lembrança, mas tentei arrumar meu rosto
em uma careta. — Ele não era um idiota. Ele era perfeitamente legal. Um
dos poucos garotos em que você não colocou o temor de Deus.

Ford bufou. — Você certamente terminou rápido com ele quando


trouxe esse sorvete para você.

Revirei os olhos. Ele não estava errado. Jim durou apenas uma
semana depois da proeza. Peguei minha camiseta e fomos para o SUV.
Eu fiz um movimento pelas chaves. — Você não vai dirigindo a lugar
nenhum até sair dessa tipóia.

Os passos de Ford vacilaram. — Você só pode estar brincando.

CATHERINE COWLES
Estendi minha mão. — Você ouviu o que o médico disse, sem dirigir
por duas semanas. — Ford não se mexeu. — Não me faça ligar para o
xerife Raines e fazer você ser preso.

Ford gemeu, mas deixou cair as chaves na minha palma aberta. —


Você dá um arranhão no meu bebê, e nós vamos ter problemas, Trouble.

Eu ri quando entrei e liguei o motor. O sofisticado SUV da Ford dirigia


como um sonho, não... era mais como dirigir uma nuvem. A viagem para
a cidade não demorou muito, mas quando estacionamos perto de Two
Scoops, era quase como se o beijo não tivesse acontecido. Voltamos à
normalidade da nossa brincadeira e amizade.

Lembrei de que isso era bom. Eu precisava dessa normalidade agora.


Ford passou um braço em volta dos meus ombros enquanto
caminhávamos em direção à Two Scoops, e qualquer aparência de
normalidade desapareceu em algumas batidas do meu coração.

Ele pressionou os lábios na minha têmpora. — Respire, Bell. Apenas


respire. — Respirei fundo e desejei que meus músculos relaxassem. — É
isso aí. Somos apenas você e eu. As coisas mudaram apenas um pouco.

Eu lutei contra o desejo de rir. Um pouco? Mais como se meu mundo


tivesse sido virado de cabeça para baixo.

Um sino tocou quando Ford abriu a porta do Two Scoops e me


conduziu diante dele. A Sra. Green olhou para o som e sorriu quando
ela me viu. — Bell, já faz muito tempo. Estou tão feliz que você veio. Ethan
me disse o que estava acontecendo. Meu garoto está preocupado com
você e eu também.

— É bom ver você, senhora Green. Estou bem, prometo.

— Eu já disse várias vezes, me chame de Cathy. Você não é mais


uma garotinha. — Seus olhos brilharam quando o braço de Ford envolveu
meus ombros. Ela limpou a garganta. — Ford, bem-vindo de volta.

CATHERINE COWLES
— Obrigado. É bom te ver.

— Você também... — A voz dela sumiu quando ela olhou de Ford para
mim e voltou. — Vocês dois não são... ?

O aperto de Ford no meu ombro aumentou, seus olhos endurecendo


uma fração. — Nós não somos o que?

— Vocês não estão namorando. É o que ela tem medo de dizer. — A


voz veio das costas quando o Sr. Green, um homem corpulento no final
dos anos sessenta, saiu. Ele nunca fez sentido para mim como o dono de
uma sorveteria, parecia mais um traficante ou um mafioso. Seu olhar se
estreitou em nós dois, mas depois se prendeu ao meu. — Mas você não
faria isso, faria, Bell? Isso seria muito estranho.

Engoli em seco, minha pele subitamente se tornando muito apertada


para o meu corpo. — Eu-eu...

— O que ela é educada demais para dizer é que isso não é da sua
conta. — Havia uma ponta dura na voz de Ford. — Mas posso ver que
você não está tão focado em manter os clientes, então vamos sair.

— Não, por favor—, Cathy começou. — Desculpe, foi apenas um


choque, só isso. Por favor fique..

Meus passos vacilaram, mas Ford deu um puxão rápido na minha


mão enquanto ele continuava em direção à porta. Dei a Cathy o que
esperava ser um sorriso simpático, mas não consegui olhar na direção do
Sr. Green.

Ford caminhou rapidamente em direção ao SUV, e eu quase tropecei.


— Você pode diminuir a velocidade?

Ele girou em mim. — Isso não te irrita demais?

Dei um passo instintivo para trás, a raiva parecendo rolar de Ford


em ondas. — Senhor Green? Sim. Cathy? Ela ficou surpresa. — Parei por

CATHERINE COWLES
um momento, observando todos os detalhes da forma de Ford, os
músculos tensos, os olhos ardentes e meu coração afundou. — Esse tipo
de coisa? Isso vai acontecer mais de uma vez. Esta é uma comunidade
pequena e as pessoas pensam que é seu direito compartilhar suas
opiniões sobre sua vida. A gente namorando, ou como você quiser
chamar... as pessoas vão falar. Se você não pode lidar com isso, é melhor
desistirmos antes que um de nós se machuque. — As palavras
queimaram minha garganta enquanto eu falava, e eu sabia que a perda
da possibilidade do que Ford e eu poderíamos seria me quebraria.

Um músculo em sua bochecha vibrou, mas seus olhos em chamas


não pareciam desviar os meus. — Eu não estou desistindo.

Mas eu não tinha certeza de que ele estaria em paz com o que as
pessoas desta ilha disseram sobre ele. E o que isso significava para a
nossa esperança de futuro?

CATHERINE COWLES
32

— ONDE VOCÊ VAI?

— À despensa para pegar mais guardanapos. Isso é permitido, chefe?


— Cada palavra saiu por entre dentes. Nas últimas duas semanas, minha
vida se transformou em uma cela. Todas as pessoas em minha órbita
pareciam ser super protetoras em um novo nível.

Hunter trazia sua equipe para almoçar todos os dias, às vezes voltando
para jantar também. Kenna veio me checar antes e depois do trabalho. E
Ford havia instruído toda a equipe de The Catch a não me deixar sem
vigilância por um momento. Foi por isso que Caelyn estava me olhando
torto enquanto eu caminhava pelo corredor.

— Ninguém mais vê o quão sexista e ridículo é que eu não possa ficar


sem atenção por sessenta segundos? Mas, aparentemente, está tudo bem
para Ford sair por conta própria? — Ele saiu hoje de manhã para pegar
suprimentos para o bar em Seattle e foi completamente sozinho. — Ele é
aquele que alguém tentou matar. — Assim que as palavras saíram da
minha boca, lágrimas encheram meus olhos. — Merda, merda, merda!

Minhas emoções estavam exageradas, e eu parecia chorar ou gritar


com a queda de um chapéu. Talvez eu estivesse na TPM. Eu esperava que
fosse isso, porque me recusei a me tornar essa pessoa louca para sempre.
Caelyn me puxou para um abraço apertado. — Sinto muito, querida. Eu
sei que isso é muito. Estamos todos preocupados.

Depois que eu fiquei em um dos quartos de Ford por mais duas noites,
e ele estava livre de sua tipoia e no caminho da recuperação, eu disse a
ele que estava voltando para casa. Ford não estava feliz. Na verdade, ele

CATHERINE COWLES
ligou todas as noites para ter certeza de que eu havia trancado todas as
minhas janelas e portas e acionado o alarme. Passamos de compartilhar
um tórrido beijo, para se como ele me visse como uma irmãzinha
novamente. Claro, ele me tocou, até roçou sua boca contra mim, mas
esses toques labiais só vieram em privado, longe de qualquer um que
pudesse julgar. E eles estavam sentindo falta do calor daquele primeiro
abraço.

Parte de mim ficou aliviada com o repentino distanciamento, mas


principalmente havia uma sensação esmagadora de decepção, de perda,
pela coisa com a qual nunca tive para começar. Saí do abraço de Caelyn.
— Eu vou me fechar no armário por pelo menos sessenta segundos e
colocar as coisas em ordem. Você acha que você pode manter os tubarões
afastados enquanto isso?

Caelyn sorriu. — Acho que aguento sessenta segundos. Mais tempo


que isso, e Hunter vai começar a perguntar onde você está.

Eu gemi. Ele agia como Ford. — Faça o que puder. — Eu andei em


direção ao armário, me fechando por dentro. Inclinei minha testa contra
a parede de tijolos, respirando fundo algumas vezes. — Segure a onda,
Bell. — Talvez fosse hora de umas férias. Eu poderia esvaziar minha
conta poupança e me afastar o mais longe que esse dinheiro me levasse.

Meu estômago revirou com a ideia de deixar Ford quando tudo


isso estava acontecendo. O xerife Raines ainda não tinha pistas. E
enquanto nada mais suspeito havia acontecido, todos ainda estavam no
limite. Eu me endireitei, sabendo que se eu não chegasse logo, Hunter
realmente viria me procurar, e eu não queria arrancar a cabeça dele
também.

Peguei o pacote de guardanapos e saí. Quando cheguei ao bar, meus


passos vacilaram. Esperando lá, e parecendo extremamente chateados,

CATHERINE COWLES
estavam meus pais. Ok, talvez meu pai não parecesse irritado, mas
minha mãe compensou isso. — Ei.

Eu não tinha certeza do que mais dizer. Eles deviam ter ouvido falar
sobre o meu apartamento ser vandalizado, e eu nem recebi uma ligação.
Foi uma verificação da realidade. Eles não faziam mais parte da minha
vida, e as chances eram de que nunca o fariam.

— Isabelle. — Minha mãe cuspiu meu nome como um insulto. E foi.

Eu tentei esconder me estremecimento, mas sabia que um lampejo


dele aparecia. — Posso pegar uma bebida para você? Um menu? — Todo
o restaurante meio cheio ficou em silêncio, contemplando o show.

— Como se eu fosse comer aqui. Provavelmente não está dentro das


normas.

— Heather... — meu pai avisou.

A cabeça dela virou na direção dele. — O que? Provavelmente não está.

Apertei minhas mãos na minha frente, recusando-me a ceder aos seus


jogos. — Tudo certo. Se você não está aqui para tomar uma bebida ou
uma refeição, por que não me diz o que fiz para irritá-la agora? Posso
dizer que não me importo, e você pode ficar ainda mais brava e sair.

A boca da minha mãe se abriu e fechou de novo e de novo. — Você,


você é... sabia que o xerife veio falar conosco? — Dei de ombros. — Ele
queria saber o nosso paradeiro na noite em que seu apartamento foi
vandalizado e na noite em que... aquele garoto foi atacado. Eu sei que ele
está perguntando por causa de algo que você disse.

Eu dei outro encolher de ombros. — É o que acontece quando você


ameaça pessoas inocentes com ações judiciais. É o que acontece quando
você mente e manipula. — Ela me fez acreditar que Ford não queria nada
comigo. Tinha dito que não podia viver com a culpa de matar minha irmã

CATHERINE COWLES
e que nunca mais queria ver meu rosto. Eu poderia perdoá-la por muito,
por querer que eu fosse alguém que não era, por não ser capaz de me
amar por quem eu era, mas acho que nunca seria capaz de perdoá-la por
isso.

O rosto da minha mãe ficou vermelho para um nível doentio. — Aquele


garoto Hardy nunca deveria ter aparecido aqui novamente. E você,
você não terá nada a ver com ele. Isso é uma ordem.

Eu ri, mas era baixo e feio. — Mãe, eu tenho tudo a ver com ele. Eu
sempre tive.

Ela ofegou. — Você não fez. Você não faria. — Ela estava assumindo
algo que não era exatamente verdade, mas eu não me importei. Ford
estaria na minha vida pelo resto dela. Não importava em que capacidade.
Ele era minha família, mais do que a mulher na minha frente era ou seria.
Os olhos dela se estreitaram. — Você pode cuspir no túmulo de sua irmã.
Ele a matou.

— Não, a chuva a matou fazendo a estrada escorregadia. Aquele cervo


a matou correndo pela rua. A caminhão a matou por estar dirigindo no
momento exato e não parando rápido o suficiente. — Minha voz engatou.
— Eu a matei porque me sentei no banco da frente. Ninguém a matou!
Foi um acidente! — Gritei as últimas palavras tão alto que jurei os pratos
chacoalhados.

O calor ardia nos olhos de minha mãe. — Deveria ter sido você. Vocês
dois. — A voz dela falhou. — Não a minha linda Violet.

Hunter apareceu nas costas dos meus pais. — Acho que é hora de
você sair, e vou ter que pedir para você não voltar.

— Este é o local de trabalho da minha filha. Eu virei a qualquer hora


que eu quiser— minha mãe ficou nervosa.

CATHERINE COWLES
— Eu não sou sua filha. — Eu disse as palavras baixas, mas todo
mundo as ouviu. — Você já perdeu uma filha. Parabéns, agora você
perdeu outra.

Minha mãe engasgou e eu não conseguia nem olhar para o meu pai.
Sua reação não importava. Ele era covarde demais para ficar contra sua
esposa, então nada disso importava.

Saí em direção à porta dos fundos. Hunter correu atrás de mim,


agarrando meu cotovelo. — Onde você vai?

— Eu preciso ficar sozinha. — Hunter abriu a boca para discutir, mas


eu o interrompi. — Por favor, eu vou ficar à vista das janelas traseiras,
mas deixe-me fingir que tenho algum pouco de privacidade. Eu só preciso
me enganar pensando que posso ficar sozinha por cinco minutos.

Ele me soltou. — Ok, Bell.

Com um aceno brusco, saí pela porta dos fundos, tentando escapar
das paredes que pareciam estar se fechando.

CATHERINE COWLES
33

EU EMPURREI a porta lateral do The Catch. Caminhando pelo corredor,


lentamente percebi como estava quieto. Eu podia ouvir todas as letras da
música rock dos anos 70 flutuando pelos alto-falantes. Um lampejo de
medo percorreu minha espinha, e eu acelerei meu ritmo.

A sala principal estava meio cheia, mas todas as conversas estavam


acontecendo em sussurros. Eu examinei a multidão. Darlene estava atrás
do bar enchendo uma jarra de cerveja. Caelyn estava entrando e saindo
das mesas. Não vi Bell em lugar algum. Meu peito parecia apertar,
dificultando um pouco a respiração.

Vi a Ethan e Pete em uma mesa. Eu me apressei. — Cadê meu irmão?

Ethan apontou para as portas dos fundos e vi Hunter parado ali,


olhando a praia. — Hunter, — eu chamei enquanto caminhava. Ele olhou
brevemente por cima do ombro e depois voltou o olhar para o oceano.
Meu aborrecimento aumentou alguns degraus. — Onde está Bell?

Hunter inclinou a cabeça para a praia. Havia uma figura sentada em


um pedaço gasto de madeira desgastada, olhando para a água. — Por
que diabos ela está lá sozinha? — Eu rosnei. — Eu pedi para vocês
fazerem uma coisa. Para não deixar Bell em paz. Os policiais não têm
ideia de quem está por trás de tudo isso e não temos ideia se eles querem
prejudicar Bell também.

Hunter nem sequer me deu a cortesia de sua atenção, apenas manteve


os olhos firmemente fixos em Bell. — Seus pais vieram.

O aperto nos meus ombros aumentou. — O que aconteceu?

CATHERINE COWLES
— O que você acha que aconteceu? Eles fizeram uma cena. Essa mãe
dela é uma verdadeira vadia.

Medo, espesso e insidioso, rastejou por dentro de mim. Nada e


ninguém entrou na cabeça de Bell como sua mãe. Sempre foi assim.
Porque uma mãe não podia ver sua filha pelo ser incrível, bonito e único
que ela era, eu nunca entenderia. Parte de mim esperava que perder
Violet acordasse Heather Kipton até o que estava bem na frente dela.
Aparentemente, esse não foi o caso. — O que ela disse?

Um músculo na mandíbula de Hunter flexionou. — Ela estava


chateada que o xerife pediu para falar com ela. Reprendeu Bell. Acusou
você de matar Violet. Disse a Bell que estava cuspindo no túmulo de sua
irmã. — Esse medo se intensificou, acrescentando-se a uma saudável
dose de culpa. Culpa por deixar Bell sozinha, agora e onze anos atrás.

— Não se atreva a aceitar essa merda. — Meu irmão cuspiu as


palavras em minha direção.

— Aceitar o que?

— A morte de Vi. Foi um acidente.

— Eu sei. — Pela primeira vez, a culpa que eu estava sentindo não


tinha nada a ver com a morte de Violet. Eu sabia que não era minha
culpa. Eu fiz o que pude para evitar o cervo, o penhasco, o caminhão que
se aproximava. Eu fiz o melhor que pude com o que tinha. Não foi
suficiente, mas não foi minha culpa. Não foi culpa de ninguém.

O olhar surpreso de Hunter saltou para mim. — Você sabe?

— Eu sei.

— Então você não vai correr?

Merda. Eu tinha estragado tudo com meu irmão. Ele estava


apenas esperando que eu o largasse novamente. Assim como Bell. Eu dei

CATHERINE COWLES
um tapinha no ombro dele. — Eu não vou a lugar nenhum, Hunt. Na
verdade, estou pensando em ficar. — Isso estava circulando em minha
mente há semanas. Bell tinha me perdoado, ela estava me dando uma
chance, e eu poderia aturar os moradores, críticos e intrometidos, se isso
significasse que eu a tinha.

Os olhos dele se arregalaram. — Você vai ficar?

— Estou tentando descobrir uma maneira de fazê-lo funcionar. —


Levaria algumas configurações criativas, algumas viagens para lá e para
cá, mas eu poderia fazê-lo.

— Bell sabe disso?

— Eu não quero contar nada a ela até que eu tenha tudo resolvido. —
A última coisa que eu queria fazer era prometer algo a Bell e voltar atrás
na minha palavra. Não achei que sobreviveríamos a isso. Sem mencionar,
as duas últimas semanas foram agitadas, para dizer o mínimo. O bar
estava lotado, mais com moradores intrometidos querendo saber o que
havia acontecido do que qualquer outra coisa, mas eu pegaria o dinheiro
deles com um sorriso. Eu tive que fazer viagens a outra ilha para
consultas médicas de acompanhamento, já que não achei que fosse uma
boa ideia marcar uma consulta com o único médico de Anchor, o pai de
Bell. Meus pais precisavam ter certeza de que seu filho estava seguro e
se recuperando. Mal tive um momento a sós com Bell.

— Eu acho que você deveria contar a ela.

— Eu vou. — Quando o momento for certo.

Meu irmão me deu um tapa nas costas e depois segurou meu ombro.
— Eu também a amo. E se você a machucar... — A dor brilhou nos olhos
de Hunter. — Apenas não.

CATHERINE COWLES
Eu endureci. — Não há, nunca houve nada parecido entre vocês dois,
certo? — Bell disse que não havia, mas algo no tom do meu irmão me
deixou tenso.

Hunter zombou. — Não. Nada como isso. — Seu olhar voltou para a
forma de Bell na praia. — Isso não significa que eu não me importo com
ela, no entanto. Só não a machuque.

Engoli em seco. — Farei tudo o que puder para impedir que isso
aconteça.

— Boa.

Empurrei a porta dos fundos e fui até Bell. Meus olhos examinaram a
praia circundante e as árvores que ladeavam a costa. Eu odiava como ela
estava exposta, que alguém poderia ter ido até ela. Eu não me importava
o quanto ela estava brava com seus pais, isso não significava que ela
poderia correr riscos com sua segurança.

Apertei meus dentes de trás em um ritmo constante quando me


aproximei de Bell. Eu me sentei ao lado dela no tronco, não confiando em
mim para falar ainda. Ela nem me olhou, apenas ficou olhando para o
mar. Eu podia sentir uma mistura de energias saindo dela em ondas: dor,
confusão, saudade. Passei um braço em volta dela, puxando-a para perto.
A pontada nas minhas costelas mal se registrou agora.

— Como foi o continente?

A pergunta era tão normal, tão uniformemente declarada, que quase


ri. — É realmente com isso que você está indo?

Bell deu de ombros e continuou observando as ondas quebrando. —


O que você quer que eu diga?

— Oh, eu não sei. Talvez 'minha mãe é louca e estou realmente


sofrendo agora'.

CATHERINE COWLES
Bell ficou em silêncio por um momento. — Dizer em voz alta não muda
nada.

Suspirei, passando a mão pelas costas dela. — Pode não mudar nada,
mas nomear pode tirar um pouco do poder. — Seus olhos se voltaram
para os meus por um breve momento antes de voltar para a água. — Eu
tive uma longa conversa com Vi no túmulo dela depois que cheguei aqui.
Não mudou o fato de que ela se foi, mas nomear essa culpa, dizer em voz
alta todas as maneiras que eu fodi... isso tirou um pouco do poder que a
culpa tinha sobre mim.

O corpo de Bell derreteu no meu com minhas palavras, aquela


liberação, o fato de ela estar encostada em mim, aliviou algo em mim. —
Estou feliz que ajudou, Ford.

— Mas você não quer falar sobre seus pais. — Meu coração se partiu
por causa dela, e tive o repentino desejo de sacudir a mãe e o pai dela até
que eles acordassem e percebessem o dano que estavam causando à
única filha que eles tinham.

Bell brincou com uma linha que havia se soltado em seu short jeans,
torcendo-o ao redor do dedo. — Ela nunca vai me entender. Ela não quer.
Ela só quer se apegar à raiva, porque se ela se apega a essa raiva, não
precisa sentir a dor. — Meu coração se partiu um pouco mais, também
por Heather Kipton, uma mulher que simplesmente não estava preparada
para lidar com esse tipo de perda.

— Estou triste por ela, honestamente. — Bell deu voz aos


pensamentos que se formavam na minha cabeça. — Mas posso ficar triste
por ela, sentir empatia por ela e ainda não a quero na minha vida. — Bell
olhou para cima, lágrimas não derramadas brilhando em seus olhos. —
Dói demais. Eu não posso mais fazer isso. Nem mesmo essas conversas
casuais e educadas quando nos encontramos na cidade. É tudo tão falso,

CATHERINE COWLES
e quando as coisas reais borbulham como hoje, quando sua cara
verdadeira aparece, é doloroso demais.

Puxei-a para mais perto de mim, pressionando meus lábios em sua


têmpora e os deixando lá por um momento, precisando dizer todas as
coisas que ela não estava pronta para ouvir. — Está permitido ser você
mesma.

Uma única lágrima caiu, caindo em cascata por sua bochecha. —


Tenho?

— Você tem e deveria. Você não precisa se punir, deixando-os vomitar


veneno em sua vida.

Bell pressionou sua bochecha no meu peito. — Toda vez que dou um
passo para trás, sinto-me tão culpada. Mas hoje foi a gota d'água. A
mente da minha mãe... é muito complicada, ela criou essa história para
alimentar sua raiva, mantê-la acesa, e eu me recuso a fazer parte dela.

— Bom.

— Você não acha que eu sou um humano horrível?

Eu pressionei meus lábios no cabelo de Bell, aquele perfume que era


só dela misturando-se com o ar do mar e me dando a minha paz. — Eu
acho que você é o melhor humano que eu conheço.

Ela soltou uma risadinha, a ação enviando vibrações agradáveis no


meu peito. — Não vamos ficar loucos.

Ficamos assim por um longo tempo. A bochecha de Bell contra o meu


peito, seu corpo envolvido nos meus braços, apenas ouvindo as ondas
baterem na costa. Mergulhei em tudo que pude: o seu cheiro, a sensação
dela pressionada contra mim, o som de sua respiração quase inaudível
no contexto das ondas.

— Senti sua falta, Bell.

CATHERINE COWLES
— Eu estou bem aqui.

Ela esteve aqui nas últimas duas semanas, mas ainda a sentia tão
longe. — Você poderia me fazer um favor?

— Depende do que é.

Eu ri. — Fique comigo por um tempo.

Bell gemeu. — Eu não sei...

— Por favor. Eu preciso disso. Saber que você está segura. Que seus
pais não serão capazes de aparecer sem aviso prévio e ficar cegos de
novo... — Minhas palavras foram cortadas porque percebi que toda a
preocupação super protetora não me levava a lugar nenhum com Bell.
Ela não queria ser protegida. — Bell, eu quero você comigo. Na minha
vida. No meu espaço. Sim, quero ter certeza de que você está segura, mas
também quero que você se aproxime.

Bell ficou quieta por um momento antes de falar. — As pessoas vão


falar.

— Deixe que falem.

Ela inclinou a cabeça para absorver minha expressão. — Você tem


certeza que pode lidar com isso?

O fantasma da minha explosão do lado de fora do Two Scoops ainda


pairava sobre nós. Eu não conseguia mentir e dizer que não me irritava,
mas Bell era o que importava, mais ninguém. — Eu não ligo para eles.
Eu me preocupo com você. Fica comigo. — Prendi a respiração enquanto
esperava sua resposta.

— OK. — Ela se inclinou, pressionando os lábios na minha bochecha.


Então ela se levantou e foi em direção ao bar. — Vamos lá, estamos
atrasados há tempo suficiente.

CATHERINE COWLES
Eu balancei minha cabeça enquanto estava de pé, rindo para mim
mesmo. Eu acho que a honestidade realmente valia a pena no final.

34

— V OCÊ NEM sequer pense em levantar isso— gritei para Ford quando
ele estendeu a mão para o balde de gelo que eu havia colocado na frente
da nossa caixa de gelo.

Crosby riu. — Cuidado, cara, não quero ser atingido por uma régua.

Eu fiz uma careta para ele. — Ele ainda está se recuperando. O médico
disse que ele precisa ter cuidado ao levantar por mais uma semana.

O sorriso no rosto de Ford me assustou. Eu esperava que ele estivesse


irritado por ter dito a ele para não levantar algo, como se isso fosse uma
ameaça à sua masculinidade. Em vez disso, ele tinha o maior e mais
engraçado sorriso que eu já vi. Ele me puxou para ele, meus braços
instintivamente passando por sua cintura. Ele pressionou os lábios na
minha testa. — Você está preocupada comigo.

Minhas bochechas esquentaram quando eu rapidamente olhei ao


redor do bar. Definitivamente tínhamos a atenção das pessoas. Saí de
seu abraço e imediatamente senti a perda. Ford poderia ter dito que não
estava preocupado com o que as outras pessoas poderiam pensar de nós
juntos. Ainda assim, não queria arriscar que outra pessoa
compartilhasse sua opinião ignorante conosco. — Claro que estou
preocupada. Você tem três costelas machucadas e um ombro deslocado.
Sem mencionar o ferimento na cabeça.

CATHERINE COWLES
— Você que gosta de mim, Trouble, — Ford chamou em uma voz de
canto enquanto servia uma fileira de doses.

— Não por muito tempo, — eu murmurei.

— Assistir a vocês dois é melhor do que uma novela.

Eu arqueei uma sobrancelha para Crosby quando peguei seu copo


vazio para enchê-lo novamente. — Você é um grande fã de Days of Our
Lives11?

— Nunca perco um episódio.

Eu ri. — É bom ter uma variedade de interesses.

— Olhos castanhos! Onde você esteve toda a minha vida?

Kenna olhou para Crosby enquanto caminhava até o


bar, Caelyn seguindo atrás dela. — Fazendo tudo o que posso para evitar
você.

Engasguei com a risada que me escapou, e os olhos de Caelyn


se arregalaram. Crosby sorriu quando tomou um gole de cerveja. — Você
está apenas tentando esconder seus verdadeiros sentimentos por trás de
suas insinuações. Eu sei que sou seu favorito.

— Favorito o que? Botequeiro? Advogado de meio período, preguiçoso


em tempo integral?

Ele arqueou uma sobrancelha na direção dela. — Às vezes, é bom


deixar o cabelo solto, se divertir um pouco.

— Tanto faz. — Kenna voltou sua atenção para mim. — Você e Caelyn
podem dar um tempo?

Olhei para Ford. — Você tem as coisas sob controle?

11
Days of our Lives é uma telenovela exibida originalmente pela NBC desde a sua estreia em 1965

CATHERINE COWLES
— Sim, apenas... — Ele olhou ao redor do bar. — Você vai ficar por
perto?

Eu teria dificultado muito a atuação dele, mas vi a preocupação


genuína em seus olhos. — Vamos apenas pegar uma mesa no pátio dos
fundos.

Alívio iluminou suas feições. — Obrigado.

Contornei o balcão e Caelyn imediatamente passou um braço pelo


meu. — Ele está cuidando de você.

Eu não disse nada em resposta. O que havia para dizer? Durante toda
a tarde, os toques foram frequentes e persistentes. Cada toque das mãos
de Ford havia reabastecido minhas reservas de força um pouco mais. Eu
não queria admitir o quanto a visita de meus pais havia me abalado, não
queria demonstrar. E eu com certeza não queria precisar de alguém para
me ajudar a me recuperar disso. Mas foi exatamente o que Ford fez. Sem
eu dizer a ele, de alguma forma sabia exatamente o que eu precisava.

— O que diabos está acontecendo? — Kenna virou-se para mim assim


que chegamos a um canto vazio do pátio. — Sua mãe apareceu de verdade
aqui e falou com você? E por que estou tendo que ouvir isso de Caelyn e
não de você?

Eu pisquei rapidamente. — Ela apareceu, junto com meu pai, que é


claro, não disse nada. E não liguei porque... porque... — Procurei no meu
cérebro o porquê não havia enviado uma mensagem para Kenna.
Normalmente, esse seria o meu primeiro passo, para que ela
e Caelyn soubessem. Mas eu não tinha porque...

— Porque ela tinha Ford aqui. — Caelyn me deu um sorriso gentil. A


romântica sem esperança nela estava brilhando.

Kenna examinou meu rosto se estava procurando uma lesão ou


tentando encontrar a verdade. — Ele estava lá para você?

CATHERINE COWLES
— Ele estava. — Um flash de medo rasgou através de mim tão rápido
e forte, que quase engasguei. Claro, ele estava lá por mim hoje, mas isso
não significava que ele estaria lá amanhã ou no dia seguinte. Eu construí
um sistema de apoio seguro. Era pequeno, mas sabia que podia contar
com as pessoas. Ford ainda era um desconhecido.

— Ele te ama, Bell.

Minha cabeça virou na direção de Caelyn. — Você não sabe disso.

Ela estendeu a mão e pegou minha mão. — Sim, eu sei. Está escrito
em cima dele. E não apenas como ele olha para você, mas em suas ações.
E ações são sempre mais importantes que palavras.

Meu coração parecia tropeçar em si mesmo, enquanto lutava para


bater mais rápido. Eu queria tanto acreditar nas palavras dela.

Kenna deu um passo mais perto de Caelyn e eu, com o rosto sério. —
Apenas tenha cuidado. Sei que ele tem sido bom com você ultimamente,
mas simplesmente não confio que ele vai ficar por aqui.

Engoli em seco. Ford não me fez promessas sobre o futuro. Inferno,


ele não me fez nenhum comentário sobre o amanhã. Mas eu não queria
perder essa chance em apenas um momento de felicidade, porque estava
muito envolvida com o que poderia acontecer daqui a algumas semanas
ou meses. Eu terminei de jogar pelo seguro. Eu não queria perder tudo o
que a vida tinha a oferecer porque estava com medo de me machucar.
Mas se eu realmente queria viver minha vida ao máximo, tinha que me
deixar amar a pessoa que meu coração queria acima de todos os outros.
Mesmo que fosse o salto mais assustador que eu já dei.

M EUS DEDOS TAMBORILARAM em uma batida ao longo das minhas


coxas, e meu estômago parecia palpitar a cada curva do SUV de Ford na

CATHERINE COWLES
subida de volta para sua casa. Eu realmente esperava que não tivesse
que pedir a ele para encostar para poder vomitar no acostamento.

— Você está quieta.

Engoli de volta o nervoso subindo na minha garganta. — Apenas


cansada, eu acho. — Eu estava o oposto de cansada. Minha ansiedade
parecia dobrar a cada segundo. Eu teria que correr pela ilha três vezes
para poder dormir esta noite.

Senti o olhar de Ford em mim por uma fração de segundo. — Se você


está tão cansada, por que parece que você está prestes a sair correndo?

Apertei meus lábios em uma linha firme. Ele me conhecia muito bem.
Mesmo depois de mais de uma década separados, ele ainda se lembrava
de todas as minhas histórias. Eu não disse nada, apenas deixei o silêncio
no veículo aumentar minha ansiedade. Eu não ia mais me segurar com
Ford. Eu não tentaria me convencer de que a amizade ou a construção
lenta de algo mais seriam suficientes para mim. Eu ia me deixar amá-lo e
não me permitiria me afogar em medo ou culpa por causa disso.

Assim que o pensamento viajou pelo meu cérebro, uma imagem de


Violet brilhou em minha mente. Eu empurrei para fora. Eu não conseguia
pensar nela agora. Mas que tipo de irmã isso me fazia?

Ford parou na frente de sua casa, desligando o carro. Eu movi no


piloto automático, desafivelando o cinto de segurança e pegando a
pequena mochila aos meus pés. Segui Ford até a casa, meu interior
parecendo se torcer ainda mais a cada passo.

Parei na sala, olhando para o mar escuro abaixo. Onde eu deveria ir a


seguir?

Ford apareceu de repente na minha frente, segurando gentilmente


meus ombros. — Bell, você está me assustando muito agora. Diga-me o
que está acontecendo nessa sua cabeça.

CATHERINE COWLES
— Eu estou assustada. — Com medo de que quando ele partisse em
alguns meses, eu ficaria arrasada. Assustada que ceder a essa coisa entre
nós significava.

— O que está assustando você agora?

— Eu te amo. — As palavras saíram antes que eu pudesse pensar


melhor nelas. E uma vez que comecei, não consegui pará-los. — Estou
lutando há tanto tempo. — Lágrimas começaram a se acumular nos meus
olhos. — Eu não queria te amar. E eu me sinto tão culpada, como se
estivesse roendo meu interior porque uma parte de mim sempre te amou,
e ceder a isso parece que estou dizendo que estou feliz que Violet se foi.
Que eu o escolhi e não posso. Não posso escolher porque amo vocês dois.

Um fogo ardeu nos olhos de Ford, uma chama azul que significava a
mais profunda das queimaduras. Ele segurou meu rosto em suas mãos.
— Você não precisa escolher. Você pode amar a nós dois.

Foi a coisa certa a dizer. Perfeito em sua simplicidade. Lancei-me em


Ford, as pernas envolvendo sua cintura quando meus lábios
encontraram os dele em um beijo contundente. Não era delicado ou
gracioso, era pura necessidade.

As mãos de Ford agarraram minha bunda, apertando a carne. Puxei


os fios de seu cabelo, forçando sua cabeça para trás, para que eu tivesse
melhor acesso à sua boca. No momento em que seus lábios encontraram
os meus, eu queria suspirar, como se alguma parte da minha alma
finalmente tivesse retornado a mim. A língua dele moveu, acariciando a
minha, alimentando o fogo que estava começando a queimar baixo na
minha barriga.

Ford rosnou quando eu me afastei. — Quarto, —eu ofeguei. —


Precisamos de uma cama.

CATHERINE COWLES
Ford riu, seus olhos brilhando. — Eu posso conseguir um quarto para
você. — Em vez de me colocar no chão, Ford simplesmente caminhou
pelo corredor comigo em volta dele como um macaco-aranha. Eu
pressionei meu rosto em seu pescoço, inalando profundamente. A colônia
amadeirada cheirava tão bem, mas era o cheiro que estava por baixo, o
que eu conhecia desde sempre, que eu realmente amava. Passei minha
língua ao lado do pescoço dele, dando um mordisco na orelha dele.

— Você quer que eu deixe você cair no meio do corredor?

Soltei sua orelha enquanto ria. — Eu acho que prefiro que você me
jogue na cama.

Ford fez exatamente isso. Depois de abrir a porta do seu quarto, eu


estava voando pelo ar e aterrissando com um pequeno oomph quando
bati no colchão macio. Ford olhou para mim, seu olhar percorrendo meu
rosto e meu corpo. Cada movimento de seus olhos parecia uma promessa
do que estava por vir.

— Sonho com isso desde o segundo em que vi você servindo aquela


cerveja atrás do bar.

Meus lábios se curvaram. — Então o que você está esperando?

Ford sacudiu a cabeça, tirando as botas e a camiseta. — Não. Estou


indo lento com você.

Meus olhos viajaram sobre seus ombros largos e o mar de músculos


definidos e bronzeados. Engoli em seco quando minhas mãos começaram
a coçar com o desejo de tocar nessa pele. Ford desabotoou seu jeans, e
eu assisti fascinada quando seu pau saltou livre. Deus, era lindo. Uma
coisa tão estranha de se pensar em um pênis, mas era verdade.

De repente, percebi que Ford estava completamente nu e eu ainda


estava completamente vestida. Sentei-me, pronta para equilibrar o

CATHERINE COWLES
campo. Ford estendeu a mão, acalmando minhas mãos. — Não. Eu terei
esse prazer.

Meus braços caíram ao meu lado quando Ford se ajoelhou no chão na


minha frente. Seus dedos foram para os botões da minha camisa. Lenta
e metodicamente, ele desabotoou cada um, seus olhos nunca se
afastando de sua tarefa. Minha frequência cardíaca parecia aumentar
com cada botão. Quando ele alcançou o último, ele cuidadosamente
deslizou a camisa dos meus ombros. Seus dedos percorreram minhas
costas e soltaram meu sutiã, enviando arrepios de antecipação pela
minha espinha o caminho todo.

Meus seios se soltaram e o olhar de Ford queimou em mim, traçando


as tatuagens e cicatrizes que cobriam meu lado, curvando-se ao redor do
meu peito e revestindo minha clavícula. De repente, me senti
constrangida e exposta. Eu devo ter feito uma pequena jogada, porque
Ford segurou meu rosto, olhando nos meus olhos. — Você é tão linda. —
Ele beijou o canto da minha boca. — Perfeita. — Seus lábios roçaram a o
lado da minha garganta e desceram pelo meu peito, aterrissando no início
da minha tatuagem. Seus lábios e língua traçaram minhas cicatrizes e os
desenhos que eu criei para fazer as pazes com elas.

Ford olhou de onde eles pararam na minha caixa torácica. — Elas são
lindas também, porque fazem parte de você.

Minha respiração ficou presa quando lágrimas se juntaram nos cantos


dos meus olhos. — Preciso de você, Ford. Agora.

Seus olhos ardiam com o calor azul que eu estava começando a amar.
Ford enfiou os dedos na cintura da minha bermuda e calcinha, puxando-
os pelos meus quadris, deixando-os no chão, junto com minhas
sandálias.

Ford colocou as mãos sob meus joelhos e deu um puxão rápido,


fazendo-me cair de volta na cama com a minha boceta à mostra para ele.

CATHERINE COWLES
Ele gemeu quando arrastou o nariz ao longo da minha coxa, parando e
pressionando um beijo no pequeno triângulo de pelos no ápice das
minhas pernas. — Você cheira a céu.

Tremi em resposta, e o aperto de Ford em minhas pernas se apertou.


— Eu preciso provar você.

— Eu preciso de você dentro de mim—, argumentei. Eu queria


experimentar tudo isso com a Ford. Explorar cada centímetro do corpo
dele. Mas agora, eu precisava senti-lo se movendo em mim, comigo, mais
do que tudo. — Por favor. — Eu nem me importei em implorar.

Ford levantou-se. — Só porque você pediu tão bem.

Eu sorri, mas ele parou quando o peguei, diante de mim, parecendo


tão devastadoramente bonito. — Estou tomando pílula. E estou limpa.

Aquela chama azul estava de volta. — Estou limpo. Eu tinha uma


consulta médica antes de deixar LA. — Ele arrastou um único dedo ao
longo do meu centro, provocando.

Eu choraminguei. — Por favor.

Ford se inclinou sobre mim, pairando, brincando comigo. — Adoro


quando você implora. Um dia desses, quando minha paciência for mais
forte, vou ver quanto tempo levo para extrair esse primeiro orgasmo.
Quanto eu posso fazer você implorar por isso.

Enganchei minhas pernas em volta da cintura de Ford, meus


calcanhares apertando os músculos do corpo logo acima de sua bunda.
— Mas não essa noite.

Um músculo no seu queixxo de Ford ficou tenso. — Não essa noite. —


Sua ponta bateu na entrada da minha boceta, e seu olhar travou com o
meu. — Você tem certeza?

CATHERINE COWLES
— Tenho certeza. — Eu nunca tinha tido tanta certeza de nada em
toda a minha vida. Não me importava se me perder em Ford significasse
que o mundo ao nosso redor queimasse. Eu precisava dele, precisava
disso, precisava me deixar livre para cair.

Ele entrou em mim em um deslize longo e suave. Eu não consegui


segurar meu gemido. Eu nunca fiz sexo sem camisinha, e parecia
perfeitamente adequado que Ford fosse o meu primeiro. Eu não queria
nada entre nós, nada que inibisse uma única sensação.

Ford soltou um palavrão. — Tão perfeita. Como você pode ser tão
perfeita? Como se você fosse feita para mim.

Estendi a mão, segurando sua bochecha com barba. Ford passou os


lábios nos meus e depois aprofundou o beijo quando ele realmente
começou a se mover. Com cada impulso e golpe, o calor baixo na minha
barriga aumentava.

Segurei os ombros de Ford, meus dedos afundando sua carne


enquanto meus quadris se levantavam para receber cada movimento. O
ângulo de seus impulsos mudou, e eu ofeguei quando algo dentro de mim
se apertou, um cordão invisível que aumentava.

Eu queria manter meus olhos abertos para ver todas as expressões


possíveis no rosto de Ford, mas não conseguia fazê-lo. Seus impulsos
aumentaram o ritmo, seu pau mergulhando impossivelmente mais
profundo, atingindo aquele ponto dentro de mim repetidamente. Picadas
de luz e sensação dançavam na minha pele, faiscando enquanto elas se
encaixavam ali, cavando até meu corpo ganhar vida. Pela primeira vez na
minha vida, senti tudo.

Um movimento do polegar de Ford no meu clitóris atingiu a partida


final de algo que eu não tinha ideia de como nomear. Era um buraco
negro de sensações, o modo como uma estrela explode e depois
desmorona sobre si mesma. Ford gozou com um grito, enchendo-me de

CATHERINE COWLES
um modo incrível e depois colapsando em cima de mim enquanto eu
lutava para respirar.

Ele rolou, me levando com ele. Meu peito estava ardendo enquanto eu
tentava recuperar meu equilíbrio. Comecei a rir. Eu não pude evitar. Era
como se todos os meus circuitos tivessem falhado, e a única coisa que
poderia me escapar era o riso.

— Você sabe, — disse Ford baixo no meu ouvido. — Os sons que você
está fazendo agora podem ser um verdadeiro golpe para minha
masculinidade.

Eu ri ainda mais. — Eu acho que desmaiei no meio do orgasmo. Eu


nunca experimentei algo tão intenso antes.

Ford sorriu contra o meu rosto, depois pressionou os lábios na minha


têmpora. — Estou feliz que você não desmaiou.

Minha risada diminuiu lentamente, e levantei meu rosto para que meu
queixo descansasse em seu esterno. Mordi meu lábio inferior.

— O que é isso, Trouble?

Meu estômago torceu. — Foi, hum, bom para você?

Num instante, eu estava de costas, Ford em cima de mim. — Eu ainda


estou dentro de você depois do sexo mais alucinante da minha vida, e
você está perguntando se foi bom? — Engoli em seco e assenti
lentamente. — Não, não foi bom. Foi o melhor que eu já tive. — Seu olhar
perfurou o meu. — Porque éramos você e eu, sempre será o melhor que
já tive.

Lágrimas picaram os cantos dos meus olhos. — Acho que minhas


respostas emocionais estão ficando um pouco confusas.

Ford riu. — Você é adorável, Trouble.

CATHERINE COWLES
Eu sorri, mesmo que fosse um pouco vacilante. — Você também é
adorável, Cupcake.

Ford fez uma careta. — Você me chama de Cupcake depois que eu te


fodi tão forte que você quase desmaiou. — Ele balançou sua cabeça. —
Parece que vou ter que tentar novamente. — Ele saiu de mim e eu
choraminguei com a perda. Levantando-se, Ford me pegou em seus
braços.

— Ford, seu ombro, — eu avisei. Ele me levantando não poderia ser


bom para a articulação que ainda estava se curando.

— Está bem. Mais do que, na verdade. Agora, é hora do banho.

Eu não ia discutir isso.

CATHERINE COWLES
35

EU GEMIA quando algo longo e duro me pressionou por trás. Eu arqueei


minhas costas. Meus músculos pareciam ter acabado de ter uma aula
brutal no campo de treinamento depois de não treinar por meses. Lábios
quentes pressionados no meu pescoço. — Dia.

— Alimente-me, — eu gemi. Ford riu e rolou seus quadris contra mim.


— Eu não quis dizer me dê seu pau. Embora eu tomasse como segundo
prato.

Uma risada estrangulada e rouca escapou dele. — Isso parece errado


em muitos níveis, mas também estou estranhamente excitado por você
falar sobre o meu pau como uma refeição.

Eu sorri, tentando encarar Ford. — Alimente-me com panquecas, e


depois verei o que posso fazer para tornar seus fetiches estranhos uma
realidade.

— Combinado. — Ele pressionou os lábios no canto da minha boca.


— Amo acordar com você em meus braços.

Meu coração tropeçou no meu peito. — Eu também. — Não era


um amo você, mas eu aceitaria.

— OK. — Ford empurrou para sentar e depois se levantou. — Vamos


pegar comida para você. — Eu olhei para a sua bunda apertada quando
ele caminhou até a cômoda e pegou algumas cuecas boxer. Ele olhou por
cima do ombro quando eu não respondi. — Trouble... você está olhando
para minha bunda?

CATHERINE COWLES
Eu concordei, não havia vergonha no meu jogo. — Estou tirando o
máximo proveito de poder olhar você.

Ford balançou a cabeça, sorrindo. — Eu me sinto tão usado.

— Oh, você ama isso.

Ele jogou uma camiseta enrolada na minha direção. — Sim, eu amo.

Fiquei o mais apresentável possível enquanto Ford preparava o café


da manhã. Meus dentes escovados e meu rosto lavado, mas não havia
muito que eu podia fazer com meu cabelo. Era um ninho de rato. Mas
toda vez que eu olhava no espelho, sorria. Estava nessa intrincada série
de nós, porque as mãos de Ford estiveram nele a noite toda. Um arrepio
agradável tomou conta de mim quando me lembrei da sensação dele
puxando-o para dar melhor acesso à minha boca quando ele fazia amor
comigo. — recomponha, Bell. — Optei por um coque gigante e bagunçado
no topo da minha cabeça e achei bom.

Andei pelo corredor e atravessei a sala até a cozinha. A casa que Ford
havia alugado era linda. Uma daquelas casas de aluguéis de temporada
de alto padrão que custam uma fortuna nos meses de verão, mas que
não têm muita personalidade. Era toda de vidro e móveis modernos. Meu
estômago revirou ao lembrar que este não era um lar permanente. Era
tudo muito temporário.

Eu queria perguntar a ele quais eram seus planos, mas isso parecia
um pouco sério demais depois de fazer sexo pela primeira vez. Estávamos
apenas começando a encontrar o nosso caminho. Eu não precisava
colocar pressão adicional em Ford.

— Eu não tenho mistura de panqueca, mas você aceita um sanduíche


de ovo e queijo?

Sentei em um banquinho no balcão. — Parece perfeito. Posso ter...?

CATHERINE COWLES
— Queijo extra no seu? Está feito. — Ele colocou um prato na minha
frente com um sanduíche de bagel que parecia ter mais queijo do que
ovo.

— Você sabe o caminho para o meu coração.

Ele sorriu. — Você quer suco de laranja ou café.

— Suco de laranja depois café.

— Chegando logo.

Ford pousou um copo alto de suco de laranja antes de se sentar no


banquinho ao meu lado. — Então, o que você quer fazer antes do trabalho
hoje?

Parti um pedaço de pão e comecei a pica-lo em pedaços pequenos e


uniformes no meu prato. — Eu estava pensando em visitar Violet. Talvez
você possa vir comigo? — Eu olhei para Ford. — Isso é muito estranho?
Só não quero sentir que estamos escondendo algo.

Ele estendeu a mão e apertou a parte de trás do meu pescoço. — Não


é estranho. Eu adoraria ir com você.

A tensão nos meus ombros diminuiu um pouco. Talvez isso não fosse
tão difícil quanto eu pensava. Eu tinha certeza de que seria inundada
pela culpa esta manhã, mas não foi assim. Eu me senti... feliz. Em paz.
Como se grande parte da minha vida estivesse se encaixando. Mas
eu queria ter certeza de que Violet ainda fazia parte dessa vida, mesmo
que ela tivesse ido. — Obrigada.

— Vamos parar na florista e pegar algumas flores para levar.

Peguei meu sanduíche. — Eles têm que ser em vasos.

Ford se virou, me estudando. — Por quê?

— Eu tenho um problema coisa com flores cortadas.

CATHERINE COWLES
— Ok... — Ford tomou um gole de café e esperou que eu explicasse.

Coloquei meu pãozinho de volta no prato. — Depois que Violet morreu,


nossa casa e meu quarto de hospital estavam cheios de flores. Tantos,
que eu perdi a conta. Não me interprete mal, eram pessoas que as
enviavam. Mas todas começaram a morrer na mesma época. E logo, meu
quarto de hospital e nossa casa, pareciam exatamente o que eram.
Santuários para os mortos e danificados. Toda vez que eu olhava para
elas, eu lembrava que Vi tinha ido embora. O que eu tinha perdido. Eu
queria lembrar a vida que ela viveu, não todo o resto.— Eu dei um
pequeno encolher de ombros. — Então, não há mais flores cortadas.

— É por isso que você coloca todos os vasos no túmulo de Vi.

Eu assenti. — Eu gosto de ter algo para cuidar também. Isso me dá


algo para fazer enquanto falo com ela. E parece que, eu não sei, estou
cuidando dela de alguma forma.

Ford colocou a mão na minha coxa, apertando. — Você a está


honrando, Bell. É lindo. — Ele olhou para o pequeno pedaço da minha
tatuagem que apareceu na minha blusa. — Sua tatuagem também a está
honrando, não é?

Eu sorri. — Violetas e jacintos silvestres.

— E você desenhou, não foi?

Coloquei minha mão sobre a dele, ligando nossos dedos. — Eu


desenhei e o tatuador colocou em mim. — Por mais que Ford dissesse
que minhas cicatrizes eram bonitas porque faziam parte de mim, eu sabia
que elas ainda o machucavam. Machucavam porque elas marcaram a dor
pela qual passei. — Eu não queria encobrir as cicatrizes. Eu queria fazer
as pazes com elas. Com tudo o que aconteceu. Esta foi à minha maneira
de fazer isso.

CATHERINE COWLES
Ford escorregou do banquinho e passou os braços em volta de mim.
— Você é tão corajosa. E sempre tão sabia.

— Estou curada, Ford. Eu estou segura. Essas cicatrizes não são sua
culpa.

Ele me segurou mais apertado, e eu passei meus braços em volta de


sua cintura. — Eu sei que não é minha culpa. Eu realmente sei. Mas eu
odeio não haver estado lá ajudá-la. É difícil me perdoar por isso.

Eu cerrei minhas mãos em sua camiseta. — Mas você vai precisar.


Assim como eu tenho que me perdoar por minha raiva em relação a você.
Estávamos perdidos em nosso próprio mundo de mágoa. E fazendo o
nosso melhor com o que tínhamos na época. Agora, estamos fazendo as
coisas de maneira diferente, porque temos novas ferramentas.

Ford pressionou os lábios no topo da minha cabeça. — Eu posso


prometer isso. Você nunca terá que enfrentar as coisas difíceis sem mim
novamente.

Não era uma promessa de permanecer em Anchor, mas estava perto.

Eu aceitaria e pronto.

CATHERINE COWLES
36

— EU NÃO ACHO QUE tudo isso vai se encaixar, Cupcake.

Olhei para a parte de trás do meu SUV, até a borda com vasos de
plantas. Eles eram todos de diferentes tamanhos, formas e cores. Bell
estava certa, eles nunca se encaixariam no túmulo de Vi. — Eu posso ter
exagerado um pouco.

Bell riu, o som pegando a brisa e se enraizando no meu peito. — Pode


ser?

Eu fiz uma careta zombeteira. — Podemos colocar o resto na minha


casa.

Ela sorriu, o movimento fazendo com que o verde em seus olhos


capturasse a luz. — Gosto da ideia de ter plantas para cuidar na sua
casa.

— Você vai ter que me ensinar como mantê-las viva. Eu tenho uma
péssima mão quando se trata de cultivar coisas. Meu jardineiro em Los
Angeles na verdade me pediu para não fazer nada com as plantas de lá.
Eu continuei matando-as.

Bell engasgou com uma risada e me deu um tapinha nas costas. —


Eu vou te ensinar como não ser um assassino de plantas.

— Obrigado. — Pegamos dois vasos do SUV e fomos para a igreja.


Enquanto passávamos pelas lápides, desta vez não havia desconforto,
simplesmente paz. Eu gostaria de pensar que Vi ficaria feliz que Bell e eu
tivéssemos nos encontrado dessa maneira. Esse era o tipo de garota que
ela teria sido, querendo que todos que ela amava fossem felizes.

CATHERINE COWLES
Meus passos vacilaram quando nos aproximamos do túmulo de Vi.
Toda aquela paz que estava construindo dentro de mim foi destruída em
uma única respiração. Todos os vasos e plantas com os quais Bell cuidara
com tanto carinho foram destruídos. Esmagado em um milhão de
pedacinhos.

— O que no...? — Bell não conseguiu nem terminar sua frase.

Meus olhos imediatamente começaram a vasculhar a área,


procurando por alguém que ainda estivesse por perto. Eu não vi nada.
Mas quando meu olhar rastreou a destruição no chão, ele pegou um
pedaço de papel no meio de tudo. Um pedaço de papel de caderno gasto
com barras grossas e furiosas para manuscrito. Elas são mentirosas. As
flores são mentiras. Eles te traíram, mas eu sempre vou te amar.

Meu intestino torceu. Este não era apenas alguém com raiva. Este era
alguém doente. Coloquei os vasos que estava carregando, tomando
cuidado para não contaminar nenhuma evidência. Depois peguei as
plantas de Bell e fiz o mesmo. Ela estava em choque, apenas encarando
seu amor por sua irmã quebrado no chão. Passei um braço em volta dela.
— Precisamos voltar no carro e ligar para o xerife Raines.

Ela assentiu, deixando arrastá-la para longe. Meus olhos continuaram


examinando o cemitério o tempo todo, procurando algo fora do lugar. Eu
mantive uma mão em volta de Bell e usei a outra para retirar meu
telefone. Eu toquei no contato de Parker. — Temos um problema. — Eu
rapidamente o informei. Quando terminei, enfiei o telefone de volta no
bolso.

— Ele está na ilha, então ele estará aqui em cinco. — Abri a porta do
passageiro para Bell, ajudando-a a entrar. Ela assentiu novamente, o
mesmo movimento rígido que fez meu intestino torcer. Eu fiquei ao lado
do veículo, incapaz de deixá-la, mesmo para apenas andar em torno do
maldito SUV.

CATHERINE COWLES
Bell se virou para mim, mas seus olhos não estavam focando. — Quem
está fazendo isso, Ford?

Estendi a mão, segurando seu rosto, e Bell deixou a cabeça cair no


meu peito. — Eu gostaria de saber, querida. Eu gostaria de saber, porra.
— disse apertando os dentes. O arrepio não estava diminuindo a
velocidade, e sua raiva estava aumentando, eu sabia disso pelo que meus
amigos Austin e Carter haviam passado em LA. O aperto no meu interior
se aprofundou. E se esse cara machucasse Bell de novo? Tentasse matá-
la? Essa dor em volta do meu peito estava de volta. Não havia mais
respiração fácil só porque Bell estava comigo. Eu poderia perdê-la. E se
eu perdesse, eu sabia que nunca iria me recuperar. Eu a puxei mais forte
contra mim. — Talvez devêssemos sair da cidade por um tempo. Só até
eles encontrarem esse cara.

Bell recuou. — Nós não podemos fazer isso. O bar está apenas
começando a ganhar movimento. Perderemos todo o progresso que
fizemos.

Senti um músculo no meu tique maxilar. — Eu não dou a mínima


para o bar. Eu me preocupo com a sua segurança.

A expressão de Bel endureceu, suas mãos agarrando minha camiseta.


— Eu não vou deixar alguém afastar para longe da minha casa. E o que
acontece se formos embora? Eles param de fazer isso, e não estamos mais
perto de descobrir quem eles são. — Ela parou por um momento,
estudando meu rosto. — Você ficaria bem em ficar longe para sempre?
Com nunca mais voltar?

Bell pareceu prender a respiração, esperando minha resposta. Tirei o


cabelo dela do rosto. — Não. Não estou procurando razões para correr.
Eu só quero você em segurança.

Os ombros dela relaxaram uma fração. Droga. Ela ainda estava


preocupada que eu fosse fugir. Eu precisava dizer a ela que eu ficaria.

CATHERINE COWLES
Foi o pior momento possível para compartilhar a decisão, mas eu não
aguentava a dúvida nos olhos dela por mais um segundo. Eu pressionei
meus lábios em sua testa. — Estou voltando para Anchor.

Ela se afastou, olhando fixamente nos meus olhos. — O que? Quando?

— Farei o meu gerente assumir o dia-a-dia dos bares


permanentemente ou vou vender. — Eu faria o que fosse preciso para
não perder Bell.

— Você não pode fazer isso. Você se esforçou tanto para transformar
esses bares no que eles são.

Eu trabalhei. Havia sangue, suor e provavelmente algumas lágrimas


ao longo do caminho. Mas Bell era mais importante. Ela sempre foi. Só
me levou muito tempo para vê-lo. — São negócios, Bell. Você... você é
tudo para mim. — Estava na ponta da minha língua dizer a Bell que eu
a amava, mas as palavras pareciam ficar presas na minha garganta, a
ansiedade me agarrando.

Sua expressão suavizou, e ela afastou uma mecha de cabelo do meu


rosto. — Eu amo você, Ford.

Eu passei meus braços em volta dela, a culpa me comendo por não


ser capaz de lhe dar essas palavras em resposta. Eu forcei a minha voz
sair mais leve. — Que bom que sim, porque eu vou ficar preso a você
como cola.

Ela deu uma risada. — E isso será uma dificuldade.

Eu sorri contra o cabelo dela. — Definitivamente terá suas vantagens.


— Minha cabeça levantou ao som de um carro se aproximando. Meus
músculos relaxaram um pouco quando vi as luzes no topo do SUV. — O
xerife está aqui.

Bell suspirou. — Aposto que somos as duas pessoas favoritas dele.

CATHERINE COWLES
— É o trabalho dele, Bell. Ele não se importa.

Parker desceu do seu SUV. — Vocês estão bem?

Eu dei um aceno rápido. — Estamos bem. Não posso dizer o mesmo


do túmulo de Violet.

— Vou dar uma olhada bem rápido e depois voltarei para conversar
com você e esperar pelos técnicos da cena do crime.

Inclinei a cabeça em concordância e esfreguei a mão pelas costas de


Bell. Eu queria que as palavras certas lhe dessem, que facilitassem sua
mente e trouxessem conforto, mas nada que eu sugerisse pareceu
adequado. Eu só poderia prometer uma coisa. — Eu vou mantê-la segura.
Eu não vou a lugar nenhum.

Ela inclinou a cabeça para trás para me olhar nos olhos. — Eu preciso
que você esteja seguro também. Prometa-me.

— Eu estarei seguro também.

Dentro de alguns minutos, Parker estava voltando para o nosso SUV.


— Sinto muito que vocês dois tenham encontrado isso.

— Obrigada. — A voz de Bell era suave, quase tímida, e eu odiava o


tom com tudo o que tinha em mim. Não havia atrevimento ou coragem,
nem a força vital usual que percorria tudo o que Bell fazia e dizia.

Eu encontrei o olhar de Parker. — É seguro assumir agora que isso


definitivamente é sobre Violet.

— Eu diria que sim. — Ele passou a mão na mandíbula. — Vocês dois


pensaram em nomes de alguém com quem eu devesse conversar?

Bell mordeu o lábio inferior. — Ninguém parecia bravo o suficiente


para fazer algo assim. Ou machucar Ford. Mas talvez eu apenas não

CATHERINE COWLES
estou vendo as coisas claramente. — Ela parou por um momento. —
Meus pais tinham álibis?

Meu coração se partiu pela garota que teve que fazer essa pergunta.
Eu odiava que houvesse dúvida suficiente em sua mente para pensar que
eles eram capazes disso.

Parker descansou as mãos no cinto. — Eles disseram que ambos


estavam em casa nas noites em questão.

— Alguém pode verificar isso? — A pergunta tinha que ser feita.

Ele balançou sua cabeça. — Os vizinhos não podem confirmar de


qualquer maneira.

— E você está falando de mais alguém? Algum outro suspeito? — Eu


estava perdendo a paciência com o quão lentamente essa investigação
estava se movendo. Eu precisava de Bell em segurança, agora.

— Receio não poder compartilhar uma lista de com quem


conversamos, mas estamos trabalhando para encontrar colegas de classe
de Vi, além de professores, treinadores, alguém que tivesse um
relacionamento com ela que ainda vive na ilha.

Meu queixo endureceu. — E o que diabos devemos fazer enquanto


isso? Apenas espere por aí como patos sentados?

— Ford. — Bell colocou a mão no meu peito, tentando me acalmar.


Mas nem mesmo o toque dela poderia me aliviar agora.

— Diga-me, Parker. Como devo manter Bell segura quando não faço
ideia de quem está vindo até nós? Quando poderia ser alguém em quem
confiamos? Conte-me.

Um músculo na bochecha de Parker tremeu. — Confie em mim, Ford.


Eu sei como você se sente. É o pior sentimento do mundo quando você
não pode proteger aqueles que ama. Mas estamos fazendo tudo o que

CATHERINE COWLES
podemos. Eu tenho dois agentes na ilha o tempo todo, e eles estão
dirigindo regularmente. — Ele parou por um momento. — Você sabe
atirar?

Bell se arrepiou. — Ah não. Sem armas.

Eu arqueei uma sobrancelha para ela. — Trouble, há uma Glock12 em


um cofre no meu quarto.

Ela suspirou, esfregando as têmporas. — Pelo menos está em um


maldito cofre.

Parker encontrou meu olhar. — Boa. Você pode obter uma licença de
transporte oculta. Farei o que puder para acelerar o processo para você.
Enquanto isso, pegue duas Teaser.

— Eu já tenho uma na minha bolsa.

Eu olhei para Bell. — Realmente? — Isso me surpreendeu. Bell sempre


foi um pouco pacifista. Odiava armas e violência de qualquer tipo. Eu não
conseguia imaginá-la pegando uma Teaser.

Ela sorriu para mim. — Sua mãe me deu antes de eu ir para a


faculdade. Ela não me queria sem proteção em uma cidade grande.

Deus, minha mãe era a melhor. Dei um beijo no topo da cabeça de


Bell, absorvendo a maneira como seu corpo se encaixava perfeitamente
no meu, tentando agarrar a paz que ela me deu. Bell estaria segura. Não
havia outra opção.

12
Tipo de pistola.

CATHERINE COWLES
37

MINHA CABEÇA ZUMBIA em uma batida constante quando Ford puxou


uma cadeira. — Sente. — Eu fiz uma careta para ele. Ele me encarou de
volta. — Por favor. — Parecia que a palavra doía. Eu sentei.

Os olhos de Caelyn saltaram entre nós dois como se ela estivesse


assistindo uma partida de tênis. — Entããããão... Algo que você quer nos
contar?

Eu virei minha carranca para ela. — Oh, você sabe, o de sempre. O


túmulo de Vi sendo vandalizado, deixando notas ameaçadoras chamando
Ford e eu de traidores.

Caelyn estremeceu. — Desculpe?

— Bell, — Kenna repreendeu.

Meus ombros caíram. Eu era uma idiota. Minhas amigas não


mereciam ter suas cabeças arrancadas só porque meu dia tinha sido um
pesadelo. Como uma manhã que começou tão perfeitamente pode ter se
transformado em um desastre, eu não tinha muita certeza. Estendi
a mão e apertei a mão de Caelyn. — Eu sinto muito. Foi apenas uma
manhã de merda.

Ela me deu um pequeno sorriso. — Eu sei. — Seus olhos se voltaram


para Ford, que estava indo para a porta lateral do The Catch, e então ela
olhou de volta para mim. — Parecia que havia alguma energia nova se
formando entre vocês dois.

O calor encheu minhas bochechas e mordi meu lábio inferior.


Definitivamente, havia algo novo e diferente entre Ford e eu. Olhei por

CATHERINE COWLES
cima do ombro, vendo o homem quando ele abriu a porta. Eu não queria
perdê-lo. Não queria perder essa novidade entre nós.

— Eles dormiram juntos, — disse Kenna com naturalidade, mas a


preocupação apareceu em sua expressão.

Minha cabeça balançou na direção dela. — Como você sabe disso?

Caelyn ofegou, e os lábios de Kenna se contraíram. — Está escrito em


vocês. Se você quer escondê-lo, vocês dois terão que trabalhar nas suas
caras de poker.

— Eu não quero esconder isso. — Mas Ford? Eu acho que não. Ele
tinha sido mais do que abertamente carinhoso em torno do xerife. Mas
isso mudaria em torno das pessoas que conhecíamos?

Caelyn se inclinou para a frente. — O que há de errado, Bell?

Esfreguei minhas têmporas, tentando o meu melhor para aliviar a


tensão que se acumulava ali. — É demais. — Parecia que mais e mais
estavam sendo empilhados no meu prato, e eu não tinha como lidar com
tudo. Não havia válvula de liberação para minha vida. E tão maravilhoso
quanto a noite anterior e esta manhã que estivera com Ford, apenas
aumentava as apostas.

Em vez de apreciar esse novo relacionamento entre nós, eu estava


tentando adivinhar cada palavra e ação, preocupando-me com o fato de
que um movimento errado faria este castelo de cartas ir ao chão.

— Você só pode estar brincando— murmurou Kenna. — O


que ele está fazendo aqui?

— Eu também senti sua falta, Olhos Castanhos.

Apertei meus lábios para esconder minha risada enquanto acenava


para Crosby e Hunter. — Ei pessoal. Você sabe que são bem-vindos a

CATHERINE COWLES
qualquer momento, — arqueei uma sobrancelha para Kenna — mas
vocês não deveriam estar trabalhando?

Kenna zombou. — Hunter talvez, mas estamos provavelmente apenas


interrompendo uma das sessões paddle de Crosby.

Crosby enviou a Kenna um sorriso que até eu tinha que admitir que
era devastador. — Você sabe que é sempre bem-vinda na minha prancha.

Ela estremeceu exageradamente. — Não, obrigada. Eu prefiro ficar


livre de doenças.

— Não se preocupe, Olhos Castanhos. Segurança primeiro. Minha


prancha e eu estamos sempre livres de doenças.

Caelyn engasgou com uma risada, e eu senti a cor subir nas minhas
bochechas. Ford puxou uma cadeira ao meu lado, me entregando uma
garrafa de água. — Chega de palhaçada, vocês dois. Crosby e Hunter
estão aqui porque eu os chamei.

Hunt puxou uma cadeira do meu outro lado, apertando meu ombro
enquanto ele se sentava. — Você está bem, Bells?

Eu assenti. Eu odiava a preocupação que vincava a testa de Hunter e


as olheiras sob seus olhos. — Estou bem, Hunt. Promessa. — Ele não
parecia acreditar em mim.

— Preciso da ajuda de vocês. — Ford deslizou uma mão em torno da


base do meu pescoço, massageando os músculos que poderiam muito
bem ter sido feito de pedra. — Este imbecil não está diminuindo a
velocidade, e eu estou preocupado que ele possa machucar Bell.

Meu estômago revirou quando tremia de raiva e a preocupação


começaram a crescer. — Ele machucou você também. E foi você quem ele
tentou matar. — Meu coração começou a acelerar. Se Ford estava muito
focado na minha segurança, ele iria negligenciar a sua.

CATHERINE COWLES
Ele deu um aperto em meu pescoço e pressionou seus lábios na lateral
do meu rosto. — Sim, ele tentou e falhou. Ele pensará duas vezes antes
de vir até mim novamente.

— Ou ele virá até você com uma arma, uma faca ou outra coisa.

— É por isso que estou recebendo uma licença de transporte oculta.


Eu vou estar seguro. Eu prometo.

Lágrimas quentes e raivosas começaram a se formar na parte de trás


dos meus olhos. — Você não sabe disso. Você não pode prometer.

— Bell. — Em um movimento fluido, Ford me puxou da minha cadeira


para o colo dele, passando os braços em volta de mim. — Eu vou ficar
bem. Eu vou tomar cuidado. Mas é realmente com você que estou
preocupado.

Enterrei meu rosto no pescoço dele, nem me importando com o que os


outros pensavam. Eu precisava do cheiro de Ford, seu toque. Eu queria
estar cercado por ele e nunca sair para tomar ar.

— Precisamos tomar cuidado com vocês dois. Mas meu irmão está
certo, Bell. Precisamos de olhos extras em você. Você não é exatamente
igual quando se trata de uma briga.

Ford assentiu. — É exatamente por isso que você está aqui. Você é a
única pessoa em quem confio além dos meus pais. Eu quero que você
fique de olho. E também queria perguntar se você notou alguém agindo
de forma suspeita.

Kenna resmungou algo sobre Crosby não ser confiável. Ford deve tê-
la calado com um dos olhares porque ela se acalmou.

— Posso pedir à minha equipe que fique de olho também,


— ofereceu Hunter. — Estamos em projetos no Anchor pelas próximas

CATHERINE COWLES
semanas, pelo menos, e estamos almoçando e jantando no bar quase
todos os dias.

— Não. — Eu me endireitei com as palavras de Ford.

Hunter se irritou. — Você não confia na minha equipe? —

— Não confio em ninguém que não esteja nesta mesa, além de mamãe
e papai, mas não podemos colocar essa merda neles. Eles estão lidando
com o suficiente. Quem quer que seja, eles estavam por perto quando Vi
morreu e estão perto, Hunt. Pode ser qualquer um.

A cor saiu do rosto de Hunter. — Merda, Ford. Como diabos devemos


manter Bell a salvo quando esse monstro pode estar chegando ao The
Catch todos os dias e não sabemos se é ele?

— É sobre isso que vamos falar hoje. Nós vamos criar um plano para
que nenhum de nós fique sozinho no bar. Estarei com Bell o máximo
possível, mas gostaria de outra pessoa como reserva.

Eu zombei. — E o que faz você ter tanta certeza de que eu quero você
por perto, amigo?

Minha pergunta sarcástica provocou apenas a reação que eu


esperava. Os lábios de Ford se contraíram. — Oh, eu tenho certeza que
você me quer por perto.

Uma risadinha veio da direção de Caelyn. — Estou feliz por estar


sempre disponível, mas apoio totalmente Ford como seu principal
guarda-costas.

Eu mostrei minha língua para ela. — Claro que você faz.

— Se eu puder assumir uma das mesas, posso trabalhar aqui


de manhã— Kenna ofereceu.

— Eu posso passar a tarde, — Crosby entrou na conversa.

CATHERINE COWLES
— E eu vou tomar noites, — disse Hunter por último.

Essa emoção familiar estava de volta, construindo na minha garganta.


Mas desta vez, era inteiramente feita de gratidão. Eu criei uma família
incrível. Não importava que meus pais não pudessem me aceitar ou me
amar por quem eu era; Eu tinha pessoas na minha vida que sim - e não
apesar de quem eu era, mas por causa disso. — Amo vocês, —eu
sussurrei, minha voz ficando rouca.

Ford esfregou uma mão nas minhas costas. — Obrigado.


Verdadeiramente. Eu esperava que a atenção desse canalha ficasse em
mim desde que eu fui responsável pelo acidente, mas algo em meu
interior continua me dizendo que ele está vindo por Bell.

Eu enrijeci no colo de Ford, virando-me lentamente para encará-lo. —


O que você acabou de dizer?

A testa de Ford franziu. — Que eu estou preocupado que ele vá atrás


de você?

Minhas mãos agarraram a camisa de Ford. — O acidente não foi sua


culpa.

O rosto de Ford suavizou. — Eu sei, Trouble. Eu só quis dizer que


quem está fazendo isso acha que foi minha culpa.

Estudei o rosto de Ford com cuidado, meu olhar procurando todos os


músculos e micro expressões. Tudo o que vi foi a verdade. — Bom. Não
me faça dar um tapa em você.

Ford riu e Crosby soltou um assobio baixo. — Você tem uma lutadora
em suas mãos, amigo.

— Eu não sei disso.

CATHERINE COWLES
E U e olhei para cima da planilha impressa, estralando meu pescoço.

Ford ergueu os olhos do laptop. — Você está cansada? Quer que eu te


leve para casa?

O calor inundou meu peito com a palavra casa, mas a dúvida se


seguiu rapidamente. Quanto tempo seria uma casa em Anchor para Ford,
quando ele estava sendo constantemente questionado pelo passado e
sendo atacado? Meus pais, os moradores, esse monstro nos seguindo.
Fechei meus olhos brevemente. Um dia de cada vez. Eu não queria
estragar o que estávamos construindo com o mundo sobre o futuro. Ele
estava tentando, e isso era tudo que eu poderia pedir. — Ainda não. Eu
preciso terminar isso.

Ford levantou-se do sofá. — Por que eu não ajudo você a relaxar um


pouco então?

Minha barriga deu uma pequena sacudida quando o calor azul se


acendeu nos olhos de Ford. Eu engoli em seco, forte. — O que você tem
em mente?

Ford cuidadosamente juntou os papéis na minha frente e os colocou


de lado. Os movimentos lentos e metódicos me embalaram em uma falsa
sensação de segurança. Assim que as impressões estavam no lado oposto
do meu espaço de trabalho, ele se moveu com uma velocidade que me
deixou ofegante. As mãos de Ford estavam em volta da minha cintura e
ele estava me levantando na minha mesa, mais rápido do que eu podia
piscar. — Ford.

Ele sorriu para mim enquanto procurava o botão no meu jeans. —


Sim?

— Hum, a porta? Nossos funcionários? — Eu estava me agarrando a


sorte, mas não queria me apegar tanto.

— A porta está trancada. — Ele lentamente abriu meu zíper.

CATHERINE COWLES
— Tudo bem. — Eu não conseguia disfarçar o tremor na minha voz.

Ford agarrou a cintura da minha calça jeans e calcinha, puxando-as


com força suficiente para que elas se libertassem, mesmo que eu
estivesse sentada. — Eu acho que tenho sido paciente o suficiente. Está
na hora de eu provar você. — Minhas respirações vieram mais rápidas.
— Você gostaria disso? — Eu balancei a cabeça, a umidade se
acumulando entre minhas pernas enquanto o calor se espalhava abaixo
na minha barriga.

— Incline-se para trás. — Eu fiz como instruído. — Segure a borda da


mesa. — Meus dedos apertaram a madeira enquanto Ford puxava
lentamente meu jeans pelas minhas pernas. Quando os nós dos dedos se
arrastaram pelas minhas coxas, eu tremi. — Tão suave. Tão macia. —
Ele deu um beijo na minha coxa. — Perfeita.

Meus jeans e sandálias saíram e bateram no chão. Ford se ajoelhou


diante de mim, abrindo meus joelhos. Eu lutei contra o desejo de me
contorcer. As luzes brilhantes do teto significavam que eu estava
completamente à mostra para ele. Ford olhou para mim. — Você quer
gozar?

Eu assenti. De alguma forma, havia perdido a capacidade de falar. Ele


sorriu. — Bom. Eu quero fazer você gozar, mas você tem que ficar parada.
Você não tem mais permissão para se esconder de mim. — Ele arrastou
um dedo pela minha boceta e depois o deslizou para dentro. — Não há
nenhuma parte de você que esteja escondida de mim. Entendido?

Eu assenti rapidamente.

— Eu preciso das palavras, Bell. — Seu dedo torceu dentro de mim,


fazendo um movimento de ir e vir.

Eu choraminguei. — Chega de se esconder.

CATHERINE COWLES
— Bom. — Ford aproximou o rosto da minha boceta, inspirando
profundamente. — Deus, eu não posso superar o seu cheiro.

Minhas pernas queriam fechar ao redor dele. Era muito, muito íntimo,
me fez sentir muito vulnerável. Ford virou o dedo novamente e eu lutei
contra o desejo de me contorcer. Eu respirei fundo, trêmula.

A língua de Ford deu um golpe longo e lânguido, e


eu quase me levantei da mesa. Ele imediatamente parou. — Assim
mesmo, querida.

Soltei um som que era uma entre um lamento e um gemido. Ford riu,
enviando uma onda de deliciosa sensação através de mim. — Você vai me
matar, — eu murmurei.

— Mas seria um bom caminho a percorrer.

— Você não está errado.

A língua de Ford moveu novamente. Provocando. Brincando.


Explorando cada parte de mim. Ele deslizou outro dedo para dentro e
minhas respirações vieram mais rápidas ainda. Minhas mãos doíam para
se mover, passar pelos cabelos de Ford, tocá-lo, mas no segundo em que
me mudei, Ford interrompeu todo movimento. — Não me faça parar seu
orgasmo, querida.

Rosnei de frustração e ele riu. — Você pode fazer isso, Trouble. Apenas
fique parada.

Minhas mãos agarraram a borda da mesa com tanta força que pensei
que poderia quebrar. — Eu ainda estou pirando.

A língua de Ford passou pelo meu clitóris, enviando milhões de


pequenas faíscas espalhadas pelas minhas terminações nervosas. — Tão
bem-comportada, quase nenhum problema. — Eu o teria chutado se não
precisasse tanto dele.

CATHERINE COWLES
— Por favor.

— Adoro quando você implora. — Seus dedos brincaram e torceram,


movendo-se mais rápido e mais fundo, e então seus lábios se agarraram
ao meu clitóris. Não era mais uma construção lenta de sensações, eu me
desfiz em pedaços. Era como se meu corpo simplesmente explodisse em
um milhão de pedacinhos antes que eles lentamente voltassem um para
o outro e se reunissem.

Eu estava ofegando, minhas mãos ficaram dormentes. — Isso foi... —


Eu não conseguia nem terminar a frase. O homem fritou meu cérebro.

Ford me deu um sorriso perverso quando ele se levantou. Ele passou


o polegar pelo lábio inferior e depois o lambeu. — Você tem um gosto
delicioso.

Merda... eu não sabia o que... Isso foi quente. Inclinei-me para frente,
procurando o botão do jeans de Ford, mas ele saiu do meu alcance,
balançando a cabeça. — Isso foi só para você.

Eu estiquei meu lábio inferior. — Mas eu quero.

Ford riu. — Esta noite. Quando realmente tivermos tempo para


brincar.

— Justo. — Pulei da mesa, minhas pernas um pouco bambas, e


rapidamente vesti minha calcinha e jeans.

Quando me levantei, Ford passou os lábios nos meus. — Obrigado.

Eu sorri para ele. — Tenho certeza que devo agradecer a você.

— Eu vou deixar você fazer isso mais tarde. — Eu deixei minha cabeça
cair no peito de Ford. — O que? — ele perguntou.

Eu não conseguia parar de rir. — Nunca mais poderei olhar para a


mesa da mesma maneira.

CATHERINE COWLES
CATHERINE COWLES
38

BATI na porta do quarto de hóspedes. — Está pronta? — Houve


algumas queixas por dentro, e eu tive que cerrar os dentes para não rir.

— Eu realmente não acho que isso seja necessário, — Bell chamou


pela porta.

— Eu acho que é muito necessário. — Provar a Bell que eu queria um


relacionamento real com ela não seria uma tarefa fácil. Palavras não eram
suficientes. Porque mesmo que eu tivesse dito a ela que estava
planejando ficar em Anchor, ainda podia ver as sombras de dúvida em
seus olhos. Ela precisava das minhas ações. Eu queria mostrar a ela que
não estava me escondendo do julgamento de ninguém. E eu queria que
toda a Anchor soubesse que ela era minha. Sem mais habitantes locais
farejando-a no bar e me fazendo querer bater na cabeça deles. Eu queria
que o mundo visse que ela foi tomada.

A porta se abriu. — Nós deixamos Caelyn e Darlene com no bar cheio.

Eu queria dizer algo sobre o fato de Hunter estar ajudando, mas eu


não conseguia formar palavras. Bell era absolutamente de tirar o fôlego.
Ela usava um vestido preto simples que devia ter sido feito de material
mágico, porque abraçava todos os vales e curvas. Colares em camadas
mergulhavam dentro e fora de seu decote, e seus cabelos loiros pendiam
em ondas ao redor do rosto. Meu olhar continuou viajando para cima e
para baixo em seu corpo, tentando absorver tudo, mas foram as botas de
caubói que me atraíram. Tudo o que eu conseguia imaginar era Bell em
nada além daquelas botas.

— Ford? Ford, você está bem?

CATHERINE COWLES
Comecei com o som de preocupação na voz de Bell e balancei minha
cabeça, sorrindo. — Tenho certeza que você acabou de deixar meu
cérebro em conserva.

Ela levantou uma sobrancelha. — Conserva de cérebro?

— Trouble... — Deslizei um braço em volta da cintura dela, puxando-


a contra mim. — Você parece... incrível.

Aquele adorável rosa cobriu suas bochechas. — Obrigada. Você está


muito bem.

Peguei sua boca em um beijo lento e preguiçoso. — Vamos, vamos sair


daqui antes que eu te leve para a cama e esqueça tudo sobre o jantar.

Bell mordeu o lábio inferior. — Eu poderia ficar por essa ideia.

— Não. Vou levá-la para um encontro adequado. Esta noite.

— Oh, tudo bem—, resmungou Bell.

Eu ri. — Só você iria reclamar sobre eu levá-la a um encontro. — Eu


a conduzi pelo corredor e fui em direção ao meu SUV.

— Eu não preciso de todos os vinhos e refeições sofisticados.

Abri a porta do passageiro e a ajudei a entrar. — Eu sei que você


não precisa, mas quero dar a você. — Fiz uma pausa, absorvendo a
preocupação em seus traços. — A menos que você esteja com medo de
que esse cara ainda esteja solto. — Nos últimos dias, nossos amigos
ficaram próximos. As únicas vezes em que estávamos sozinhos foram em
minha casa e a caminho do e para o trabalho.

Bell sacudiu rapidamente a cabeça. — Não é isso não. — Ela se


inclinou para frente, pressionando seus lábios nos meus. — Obrigada por
querer me mimar um pouco.

CATHERINE COWLES
A tensão nos meus ombros diminuiu um pouco. — Estou apenas
começando.

Bell gemeu e me empurrou. — Vamos. Alimente-me.

Eu ri e dei a volta no capô. O caminho para a cidade ocorreu sem


intercorrências, mas Bell estava impaciente, torcendo a alça da sua
bolsa, endireitando as rugas invisíveis no vestido. Algo estava
acontecendo com ela.

Parei em uma vaga de estacionamento em frente a um dos dois


restaurantes mais chiques da cidade. O Cove era uma antiga casa
vitoriana na água que havia sido transformada em pousada e
restaurante. As reservas eram difíceis de encontrar, mas uma dica
promissora para o maitre no início daquele dia me garantiu uma mesa.

Abri a porta de Bell e lhe ofereci minha mão. — Minha lady.

Ela balançou a cabeça, sorrindo. — Eu diria 'obrigado, gentil senhor',


mas você não é um cavalheiro.

Eu ofeguei em falsa afronta. — Como você pôde dizer uma coisa


dessas?

Bell riu como eu esperava, e eu a guiei pelo estacionamento e subi as


escadas. — Eu não venho aqui há anos. E a sopa de caranguejo é o meu
favorito.

Eu tracei pequenos círculos na parte inferior das costas. — Vamos


alimentá-la, então. — Ela estremeceu e eu sorri.

O maitre nos levou a uma mesa perto de uma janela com vista para o
porto, iluminada por luzes ao longo das docas e os barcos balançando na
água. Era perfeito. Ajudei Bell em seu assento, pressionando um beijo no
topo de sua cabeça e absorvendo seu perfume, o jasmim apenas um toque

CATHERINE COWLES
mais pesado hoje à noite. Eu não pude evitar, dei um beijo no seu ombro
nu. — Obrigado por vir comigo esta noite.

Rosa tingiu as bochechas de Bell. — Obrigada por me convidar.

Pedimos bebidas e debatemos sobre os melhores pratos. Eu insisti em


pedir comida demais para que Bell não tivesse que escolher. Nós rimos e
conversamos sobre nada muito sério. O uísque e a companhia de Bell me
aqueceram de dentro para fora. — Então, conte-me sobre os móveis.

Bell sorriu e abaixou a cabeça. Era raro que ela se tornasse tímida, e
isso só me intrigava mais. — Adoro trazer peças esquecidas de volta à
vida. Dando-lhes uma segunda chance.

Bell sempre foi capaz de ver o que os outros sentiam falta, o que havia
sob a superfície de um objeto ou pessoa, o potencial do que poderia ser.
— Essa peça na oficina é impressionante.

— Obrigada. Saiu ainda melhor do que eu esperava. — Ela tomou um


gole de vinho, examinando o restaurante.

— Você deveria começar um negócio paralelo. Ou até abrir uma loja.


— Eu queria mais para Bell do que apenas ajudar o bar da minha família
a funcionar. Eu queria que ela tivesse algo que fosse dela.

Ela torceu a haste do copo de vinho entre os dedos. — Esse é o sonho.


Mas eu realmente não tenho tempo para me dedicar a isso agora.

Minha mão apertou em volta do meu copo. Ela não teve tempo
porque estava tão envolvida com The Catch. Ela precisava de liberdade
para perseguir esse sonho, e precisava de alguém para tê-la de volta
enquanto o fazia. Eu seria essa pessoa.

Antes que eu pudesse fazer outra pergunta, Bell fez. — E você? Como
estão seus bares sem você na cidade?

CATHERINE COWLES
— Eles estão indo muito bem. — Eu sorri para a mesa. — Melhor do
que comigo, na verdade. Talvez eu estivesse gerenciando demais. Preciso
fazer uma viagem a Los Angeles em breve para discutir a entrega
definitiva para Luke. Mas acho que ele está pronto para a tarefa. —
Estudei o rosto de Bell enquanto falava, essa dúvida ainda subjacente às
feições dela. Eu lutei contra o desejo de amaldiçoar.

Ela tomou outro gole de vinho, seu olhar passando por cima do meu
ombro. — Isso é ótimo. Fico feliz que parece estar funcionando por
enquanto.

— O que você está olhando? — Eu me virei um pouco para entender


o que Bell estava vendo. Um casal de meia-idade estava sentado a uma
mesa perto de nós, conversando em silêncio, mas olhando
descaradamente para o nosso lado. Quando eles encontraram meu olhar,
eles imediatamente voltaram para as refeições.

— As pessoas estão olhando.

A voz de Bell era baixa, quase tímida, e eu odiava o tom. Eu olhei em


volta do restaurante. Ela não estava errada. Cada vez que meu olhar
pousava em outra mesa, as pessoas se voltavam como se fossem pegas
em flagrante. Apenas um punhado de comensais parecia estar imerso
na companhia um do outro. Um músculo na minha bochecha ficou tenso.

Sussurros e olhares. Havia tanto que eu amava em Anchor, coisas que


havia esquecido e redescoberto, mas a mente mesquinha sempre seria
uma luta. Um que eu estava mais do que disposto a superar se isso
significasse ter Bell na minha vida. — Cidades pequenas, — eu
resmunguei.

Bell alisou o guardanapo no colo. — Eles têm boas e más qualidades.

— Você quer dizer que eles são fofoqueiros intrometidos.

CATHERINE COWLES
Ela tomou outro gole de vinho. — Eles são. E você está fora há um
tempo, provavelmente não está acostumado a isso.

Isso era verdade. Eu amava o anonimato da vida da cidade. Mas havia


crescido solitário, quase vazio, nos últimos dois anos. Nenhum lugar era
perfeito. Mas Anchor... sustentava minha família, Bell, o negócio que eu
queria e ter certeza de deixar um legado para as gerações vindouras.
Quando pensei em fazer uma casa aqui, trouxe uma paz que eu nunca
tinha pensado em sentir. — Eu vou me acostumar com isso. — Ela
assentiu, mas não disse nada.

Nosso garçom apareceu à mesa. — Posso tentar você com nossas


ofertas de sobremesas para a noite?

Abri a boca para dizer que sim, mas Bell respondeu primeiro. — Eu
não acho que eu poderia comer mais nada.

— Apenas a conta. Obrigado. — Eu estudei Bell. Algo estava errado.


Seus olhos estavam apertados como se ela estivesse tentando encontrar
a resposta para algum problema ridículo de cálculo em sua cabeça. Ou
talvez ela simplesmente não se sentisse bem. — Você está bem?

Ela levantou a cabeça e ela assentiu. — Só tenho um pouco de dor de


cabeça. Acho que estou precisando de uma boa noite de sono.

— Vamos levá-la para casa e para a cama, então. — Ela sorriu


fracamente para mim. De alguma forma, não achei que uma dor de
cabeça fosse a história completa.

CATHERINE COWLES
39

— EU ACORDEI e você não estava na cama.

As palavras de Ford foram mais um rosnado do que uma declaração.


Eu dei o meu melhor sorriso e entreguei a ele uma omelete que eu
comecei a fazer no segundo em que o ouvi se mexer. — Acordei cedo e
não queria te acordar. — Mais como se eu mal tivesse dormido. Eu fingi
dormir até sentir que Ford havia caído no sono ao meu lado, e depois me
virei a noite toda.

Ford pegou o prato que eu lhe entreguei enquanto seu olhar viajava
pelo meu rosto, procurando. — Você deveria ter me acordado.

Meus lábios tremeram. — Ok, mal-humorado.

Ele fez uma careta para mim. — Eu não estou mal-humorado. Eu


apenas gosto de acordar com você em meus braços. Entrei em pânico
quando acordei e você não estava.

Meu coração apertou. Qual motivo? Que ele adorava me ter em seus
braços, ou que ele estava simplesmente preocupado que algo acontecesse
comigo? Eu não conseguia agarrar-me a nenhum tipo de perspectiva
quando se tratava de Ford. Eu disse a ele que o amava, mas ele nunca
retornou o sentimento. Ele disse que estava planejando ficar, mas algo
em mim duvidava que ele pudesse lidar com o que a vida seria dia após
dia. Meu estômago revirou. Qual era a verdade?

Ford deslizou para um banquinho no balcão da cozinha. — Qualquer


coisa que você queira fazer antes do trabalho?

CATHERINE COWLES
Girei meu celular entre os dedos. — Na verdade, eu tenho um encontro
com sua mãe.

Ford parou o pedaço de omelete a meio caminho da boca. — OK…

— Ela pensou que você poderia ir com seu pai em sua caminhada
diária enquanto assamos.

— Eu não sei, Bell.

Inclinei o quadril contra o balcão, encontrando o olhar de Ford. — Nós


ficaremos bem. As portas serão trancadas enquanto vocês estiverem fora.
— Eu odiava a preocupação nos olhos de Ford. Detestava o que isso
poderia significar. A ideia de que Ford poderia ter confundido a
preocupação com o amor havia chegado à minha cabeça por volta das
três da manhã, e eu não tinha sido capaz de deixar passar.

O OLHAR DE K ARA saltou do meu rosto para o de Ford e desceu para


nossas mãos entrelaçadas. Ela deu um gritinho. — Eu ouvi algumas
conversas pela cidade, mas vendo isso... vocês dois me fazem tão feliz.

Ela abraçou Ford e ele soltou minha mão para dar um tapinha nas
costas dela. — Ok, mãe. Vamos ligar de volta.

Frank riu. — Vamos Kara, deixe as crianças respirarem.

Ela se virou contra o marido, dando-lhe um olhar falso. — Você não


roubará minha alegria neste momento. Meu garoto está namorando uma
garota que eu amo como minha própria filha. Estou autorizada a ficar
animada.

Frank sorriu. — Apenas não os estrangule com um daqueles abraços


superexcitados.

CATHERINE COWLES
— Eu nunca. — Kara passou um braço em volta dos meus ombros. —
Vocês dois vão dar um passeio. E tome um longo tempo. Preciso de tempo
com sua namorada.

O calor me inundou com as palavras de Kara, mas um pavor se seguiu


de perto. Tantas pessoas seriam afetadas se esse relacionamento
explodisse na minha cara.

— Certifique-se de trancar a porta, mãe.

Kara acenou com o filho. — Eu irei, eu irei. — Entramos e ela virou a


fechadura. — Ele é protetor com você, hein?

Eu fiz uma careta. — Só um pouco.

Kara riu. — Você vai se acostumar com isso. — Ela olhou pela janela.
— E deve melhorar quando eles pegarem quem está fazendo isso.

— Acredito que sim.

Kara me levou para cozinha, onde os ingredientes já estavam


dispostos para biscoitos de chocolate. Eu sorri com a visão familiar.
Passei inúmeras tardes nesta cozinha crescendo, fazendo esses muito
biscoitos. Havia um calor vivido aqui que sempre esteve ausente
em minha própria casa. Nunca houve uma repreensão por fazer uma
bagunça, mas você sempre deveria limpá-la. Nunca houve críticas por
cometer um erro no cozimento, apenas uma mão gentil mostrando o
caminho. Lágrimas picaram os cantos dos meus olhos.

Kara agarrou meus ombros. — O que é isso, querida?

A inundação que eu estava tentando segurar se espalhou. E uma vez


iniciado, não consegui parar. As lágrimas rastrearam meu rosto cada vez
mais rápido. Eu não sabia como responder, não conseguia colocar em
palavras o que estava errado. Eu engasguei com a respiração. — Eu estou

CATHERINE COWLES
assustada. — As palavras saíram antes que eu pudesse pensar no que
elas significavam.

— Sente. — Kara me colocou em uma cadeira antes de correr


rapidamente para um copo de água, colocando-o na minha frente. Ela
esfregou a mão nas minhas costas. — É isso aí. Apenas deixe tudo sair.
Você está segurando muito por dentro.

Soluçei enquanto assenti, as lágrimas ainda chegando. Kara era tão


diferente de minha mãe, não me dizendo para guardar as coisas, mas em
vez disso me incentivando a deixar tudo que eu estava sentindo
em aberto. Ela sempre foi assim, sondando gentilmente, fazendo
perguntas que me levaram a pensar honestamente sobre o que eu estava
sentindo. Sem ela, eu não acho que teria lidado com a morte de Vi. Eu
simplesmente teria explodido em algum momento.

Eu não tinha certeza de quanto tempo se passou enquanto estávamos


sentadas à mesa da cozinha gasta, Kara esfregando minhas costas e eu
deixando as lágrimas caírem livremente, mas eventualmente meu choro
diminuiu e depois parou. Puxei outro lenço de papel da caixa em cima da
mesa. — Eu sinto muito.

Kara riu. — Você sabe que não pedimos desculpas por sentimentos
nesta casa.

Eu dei a ela um sorriso trêmulo. — Eu amo isso na sua casa.

Kara bateu na minha mão e empurrou meu copo de água para mais
perto. — Beba um pouco e depois vamos conversar sobre isso. Os
sentimentos não são tão assustadores quando sabemos por que os
estamos experimentando. — Eu balancei a cabeça e tomei um gole. — É
sobre o homem que está assediando você e Ford?

Ela escondeu bem sua preocupação, mas eu podia ouvi-la entrando


em seu tom. — Eu acho que isso faz parte.

CATHERINE COWLES
— Mas não é a maior parte.

Eu balancei minha cabeça.

— Ford, — ela sussurrou. Não foi uma pergunta. Foi uma afirmação.
Ela me conhecia muito bem.

— Ele disse que quer ficar, mas eu simplesmente não consigo deixar
de duvidar que isso seja possível. Eu o amo muito, mas ele não disse
essas palavras de volta. Estou preocupada que ele confunda cuidado e
preocupação com algo mais. — As palavras saíram rapidamente, os
pensamentos que estavam na minha cabeça a noite toda estourando. Eu
distorci cada palavra e ação de Ford para frente, para trás, de cabeça
para baixo e de dentro para fora. Eu os torci a tal ponto que estava me
deixando um pouco louca.

— Oh querida. — Kara pegou minha mão. — Eu gostaria de poder te


dar uma garantia de que ele ficará. Eu gostaria de poder lhe prometer
que tudo vai dar certo, mas não posso. Eu sei que meu filho te ama. Ele
pode não estar dizendo isso com suas palavras, mas ele está mostrando
isso com suas ações. Ele nunca pensou em voltar para Anchor
permanentemente antes de você.

Eu engoli contra as lágrimas que estavam se acumulando no fundo


da minha garganta. — Doeu muito quando ele saiu antes. E eu não estava
apaixonada por ele. Assim não. — Eu não sabia como era realmente ter
Ford. Agora eu sabia. O toque de seus dedos na minha pele, como eu me
sentia segura em seus braços, compreendida e vista, ele me fez sentir
exatamente do jeito que ouvia.

Kara apertou minha mão. — Eu gostaria de poder protegê-la de todas


as mágoas neste mundo, mas a única maneira de fazer isso é não viver,
e eu não quero isso para você.

CATHERINE COWLES
Mordi meu lábio inferior, assentindo. — Estou tão cansada de todas
as incógnitas. Cansada de ter medo de me machucar. Percebi que tinha
minhas paredes tão altas. — Eu levantei minha cabeça. — Kara, eu não
deixo ninguém novo entrar na minha vida. É você, Frank, Hunter
e minhas garotas. É isso aí, claro, sou amigável com outras pessoas, mas
não as deixo entrar. Não quero viver minha vida com medo o tempo todo.

— Então você vai ter que se deixar cair.

— Eu já caí. — Eu só esperava que o pouso não me matasse.

CATHERINE COWLES
40

— MAMÃE DISSE QUE você e Bell vieram visitar.

Entreguei a Hunter sua cerveja local e a Crosby, sua Guinness. — Nós


fizemos. Mas elas expulsaram papai e eu para que pudessem ter
conversas de garotas.

Hunter riu. — Fazer beicinho não é uma boa aparência para você,
mano.

Eu fiz uma careta. Eu estava fazendo beicinho, e era patético. — Eu


acho que estar com mamãe ajudou. Bell parecia um pouco melhor depois
do tempo que passaram juntas.

— Mamãe sempre sabe como cuidar de qualquer ferida.

Peguei um pano e limpei o balcão. — Eu só queria que ela me desse


uma pista de como fazer o mesmo. — Quando papai e eu voltamos da
nossa caminhada, ficou claro que minha mãe e Bell estavam chorando.
Eu puxei Bell em meus braços e dei a mamãe um olhar feio. Ela apenas
riu e me disse para não ser tão dramático. Mas nenhuma delas me disse
o que diabos estava acontecendo. Eu até encurralei mamãe sozinha na
cozinha para perguntar, e ela disse que as conversas entre Bell e ela
sempre seriam privadas.

Hunter riu. — Ela não contou o que elas conversaram, contou?

— Não, — eu rosnei.

Crosby sorriu quando tomou um gole de cerveja. — Sua mãe é a


melhor.

CATHERINE COWLES
— Não quando ela está guardando segredos e não me diz por que Bell
está chateada nos últimos dias.

— Há muita coisa acontecendo, irmão. Dê a ela uma folga.

Minha mão agarrou a toalha, empurrando-a com mais força na


madeira do balcão. Eu sabia que Bell tinha passado maus bocados
ultimamente. Os últimos meses haviam sido uma montanha-russa para
ela, e agora alguém estava à espreita e a fazia se sentir insegura. Mas era
mais. Eu não conseguia apontar exatamente, mas ela parecia que
esperava que o mundo inteiro caísse debaixo dela a qualquer momento.
E não havia nada que eu pudesse pensar em fazê-la se sentir segura,
firme. A sensação de impotência que me trouxe me irritava com as
pessoas todos os dias. Hank e Caelyn me deram uma folga desde o
almoço, mas Bell ainda estava perdida em seu próprio mundo.

— Talvez vocês dois devam viajar. Alguma distância pode ajudar, —


ofereceu Crosby.

— Não sei se é uma boa ideia, — argumentou Hunter.

Pendurei a toalha no gancho. — Eu já tentei fazê-la ir embora comigo.


Sem chance.

— Conseguir quem ir embora com você? — Ethan perguntou enquanto


se sentava em um banquinho vazio ao lado de Hunter.

— Bell, quem mais? — Hunter me olhou. — A menos que você tenha


outra namorada que não conhecemos.

Atirei um disco de frisbee e bateu no peito de Hunter — Não seja um


idiota.

— Sim, e definitivamente não deixe Bell ouvir você dizer algo assim,
— murmurou Crosby.

CATHERINE COWLES
Ethan tomou um gole de cerveja. — Então, vocês dois estão
oficialmente juntos?

— Nós estamos. — Os olhares só se intensificaram desde o nosso


encontro. Parecia que todo pessoal local que entrava estava aqui para ver
o show de Ford e Bell mais do que álcool e comida. Pelo menos Ethan
teve a decência de perguntar, em vez de falar sobre o assunto.

Ele olhou ao redor do bar. — Como as pessoas estão levando isso?

Hunter se mexeu no banquinho. — Principalmente apenas olhando e


sussurrando como idiotas intrometidos.

Examinei as mesas ao redor do bar, sobre Caelyn conversando um


pouco mais com a equipe de Hunter, meus olhos não parando até
chegarem a Bell. Ela sorriu para uma família enquanto anotava os
pedidos, mas a expressão era forçada. Que diabos estava acontecendo?

— Você está fazendo essa cara como se quisesse matar alguém, —


disse Crosby, tomando outro gole de cerveja.

Não alguém, apenas circunstância. Eu tinha na mente sequestrar Bell


e tirá-la daqui, não importa o que ela dissesse. Precisávamos de tempo,
apenas nós dois. — Ei, Caelyn, — eu chamei através do barulho do bar.

Ela enfiou o bloco de notas no bolso e seguiu na minha direção, sem


parecer muito feliz. — O que você fez com a minha garota?

Eu arqueei uma sobrancelha. — Sua garota?

— Sim minha garota. Ela era toda luz do sol e rosas, mesmo que o
mundo estivesse indo para o inferno ao seu redor. Mas agora, ela tem
olhos tristes. Eu não os vejo há muito tempo. Então, o que você fez?

Eu apertei meus dentes. — Eu não sei.

Caelyn levantou as mãos. — A sério? Então, como você vai consertar?

CATHERINE COWLES
Eu olhei para ela. — Vou perguntar se você e Hank podem fechar para
que eu possa levar Bell para casa mais cedo e chegar ao fundo disso. —
Ela ia me dizer o que estava acontecendo, mesmo que tivéssemos que
ficar acordados a noite toda. Minha garota era teimosa, mas eu também.

— Eu gosto de ouvir isso. Talvez tenha um bom sexo de reconciliação


para terminar a noite?

Hunter gemeu. — Eu não preciso ouvir isso.

— Caelyn... — eu avisei.

Ela levantou as duas mãos. — Tudo bem, tudo bem. Eu posso fechar.
— Seu olhar pareceu me atingir. — Basta trazer o sorriso dela de volta.

— Eu farei o meu melhor.

A noite parecia se arrastar, mais e mais moradores entrando, cada vez


mais com olhares questionadores. Eu estava a cerca de dois segundos de
morder a cabeça de alguém.

— Ei, Ford. — O tom era para ser sedutor, mas irritou meus nervos.

— Ei, Lacey. O que eu posso pegar para você? — A última coisa que
Bell precisava hoje à noite era Lacey levando-a a brigar. Bell não a
mencionara desde que voltei, mas os breves encontros que tive com Lacey
algumas semanas atrás me disseram que nada havia mudado em seu
mundo. E isso significava que ela provavelmente ainda estava dando a
mínima para Bell. Eu sofreria por receber os pedidos dela e fazê-la beber
a noite toda se isso significasse que ela deixasse Bell sozinha.

— Que tal um daiquiri? — Ela se inclinou sobre o bar, certificando-se


de me dar uma bela vista de seu amplo decote e arrancou uma cereja de
trás do balcão.

— Nós não servimos bebidas congeladas aqui, Lace. Que tal uma
vodca com cranberry?

CATHERINE COWLES
Ela fez um beicinho que deveria parecer fofo, mas apenas ridículo para
qualquer pessoa com mais de dez anos de idade. — Nem para mim? —
Lacey colocou a cereja na boca, puxando o caule.

— Nem mesmo para você. Vodca com cranberry?

Uma pitada de irritação cintilou em seu olhar. — Você pode preparar


um cosmo?

— Isso eu posso fazer. — Eu comecei a trabalhar colocando gelo em


uma coqueteleira.

— Então, Ford... — Lacey deixou suas palavras balançarem, e eu me


preparei para o que estava por vir. — Os rumores não são verdadeiros,
são? Eles devem ser algo que Isabelle começou.

Eu enrijeci, mas me forcei a adicionar o suco de cranberry na


coqueteleira. — Que rumores?

— Que vocês dois estão namorando. — Ela disse isso como se a ideia
fosse nojenta.

Eu adicionei um pouco de limão. — É a única vez que fico feliz em


dizer que a fábrica de boatos acertou. — Eu balancei a bebida antes de
servir em um copo de coquetel.

Eu me virei para ver Lacey boquiaberta para mim. Eu ignorei a reação


dela e coloquei o copo na barra. — Aqui está. São exatamente catorze
dólares. Deseja iniciar uma guia ou pagar agora?

Lacey reagiu, agarrando meu braço. — Você não pode, Ford. O que
Violet pensaria? Essa é a irmã dela.

Eu saí do aperto de Lacey, mas segurei seu olhar. — Você não sabe
nada do que Violet pensaria. E você sabe ainda menos sobre mim. Agora,
dinheiro ou a conta?

CATHERINE COWLES
41

EU NÃO POSSO VER ISSO. A imagem estava tão claramente queimada


em minha mente que era como se um ferro em brasa a tivesse colocado
ali. A mão de Lacey descansando gentilmente, quase com carinho, no
braço de Ford. Ela tinha preocupação escrita em todo o rosto. O que ela
sabia sobre Ford que exigia sua preocupação?

Eu forcei meu olhar para longe rapidamente, mas não foi rápido o
suficiente. Meu estômago revirou. Eu pulei quando uma mão pousou no
meu ombro. Eu gritei.

— Merda, me desculpe, Bell. Eu só queria ter certeza de que você


estava bem. Você parecia chateada.

Eu descansei uma mão no meu peito, respirando pesadamente. —


Desculpa. Eu estava em outro mundo.

O rosto de Hunter endureceu. — Alguém está lhe dando problemas?

Eu balancei minha cabeça. — Não, eu prometo. Estou pensando sobre


algo. — Quando Ford saiu, Hunter e Ethan tinha tomado sobre si
mesmos para cuidar de mim. Eu gostei, mas não era necessário.

— Está tudo bem com você e Ford?

Aparentemente, Hunter não estava desistindo. — Estamos bem. É


estranho ter pessoas sussurrando e olhando.

CATHERINE COWLES
Hunter examinou a multidão. — As pessoas vão falar. Você e Ford?
Ninguém pensou que eles veriam isso acontecer. Isso será motivo de
fofocas nos próximos anos.

Hunter estava certo. Em uma ilha do tamanho de Anchor, as pessoas


sempre conversavam, e eu sempre me deparava com Lacey entrando no
bar e colocando as mãos no meu namorado. Esse era o termo certo? Ford
e eu não havíamos feito acordos formais. Talvez ele pensasse que estava
livre para levar alguém para a cama. Eu balancei minha cabeça um
pouco. Aquele não era Ford.

— Bell, você tem certeza que está bem?

Eu assenti. — Eu só preciso correr para o banheiro. Até logo. — Eu


mal consegui entrar em uma das cabines antes que meu estômago
esvaziasse seu conteúdo. Eu me apoiei contra a parede enquanto
levantava. Eu sabia que meu cérebro estava torcendo as coisas, mas eu
não conseguia parar.

Quando meu estômago finalmente estava vazio, eu me levantei. —


Controle-se, Bell. — Fui até a pia, espirrando um pouco de água no rosto
e lavando a boca. Felizmente, mantivemos enxagues bucais e copinhos
embaixo da pia.

Respirei fundo e encontrei meu reflexo no espelho. Eu estava mais


pálida do que o habitual, círculos escuros ao redor dos meus olhos. Não
tinha a faísca lá como costumava haver. Eu pressionei minha palma no
meu peito, onde a tatuagem e as cicatrizes apareciam na minha camiseta.
— O que eu estou fazendo?

Fechei os olhos, esforçando-me para ouvir uma resposta, implorando


por algum tipo de segurança. Tudo que eu consegui foi o silêncio. Eu teria
que descobrir isso sozinha. Abri os olhos e deixei minhas mãos caírem
para os lados. Você tem que se deixar cair. Eu ouvi o eco das palavras de
Kara em minha mente. Talvez cair significasse dizer a Ford exatamente

CATHERINE COWLES
como eu me sentia e por que estava aterrorizada. Chega de adivinhar ou
distorcer seus motivos em minha mente, apenas coloque tudo lá fora.
Soltei um longo suspiro. Eu poderia fazer isso.

Minha mão tremia quando cheguei à porta do banheiro. Puxando para


abrir, quase tropecei de volta.

— Qual é o problema, Trouble?

Ford estava encostado na parede oposta, e o olhar de confusão e


preocupação cobrindo sua expressão picou a raiva fervendo logo abaixo
da superfície. Ele honestamente pensou que não me incomodaria ver
Lacey flertando com ele? Que não me mataria ver que ele a deixaria tocá-
lo?

Eu endireitei minha coluna, meus ombros para trás. — Você parecia


muito aconchegante com a minha boa amiga Lacey.

Ford ficou boquiaberto. — Você agora está falando sério?

Calor corou minhas bochechas. — Você sabe como me sinto sobre ela.

Ford passou a mão pelos cabelos, dando um bom puxão nas pontas.
— Eu estava tentando manter Lacey longe de você. Para distraí-la de lhe
dar merda. Sei que você teve algumas semanas difíceis e não queria que
ela aumentasse.

Fazia sentido na teoria. A proteção de Ford nunca esteve em questão.


Meus ombros caíram. Eu senti como se estivesse perdendo a cabeça. —
Ela tocou em você.

— Trouble... — Ford se afastou, afastando o cabelo do meu rosto. —


Saí disso em uma fração de segundos e disse a ela para cuidar de seus
próprios negócios.

CATHERINE COWLES
Talvez ele tivesse. Eu tinha visto a troca por não mais do que algumas
respirações. Eu não aguentava mais olhar para eles e imediatamente
desviei o olhar.

Ford suspirou, seu rosto endurecendo. — Você nunca vai confiar


completamente em mim, não é? O que tenho que fazer para me provar?

Eu me irritei com suas palavras. — Confiar em você? Eu me desnudei


por você. Contei coisas que não compartilhei com ninguém. Você invadiu
cada pedaço da minha vida. Mas eu nem sei como você realmente se sente
sobre mim. Eu digo que te amo, e você se esquiva. Você tem alguma ideia
do quanto isso dói?

A boca de Ford se abriu. — Bell...

Eu levantei a mão para silenciá-lo. — Não. Não. — Eu dei meia volta


e segui para a porta lateral. Eu precisava de ar. O que Ford teria dito
naquele momento, quaisquer promessas que ele estivesse prestes a fazer,
eu não teria sido capaz de acreditar nelas. Nem uma única palavra.

Empurrei a porta, o ar frio do oceano era um bálsamo para minha pele


corada. Eu andei em direção à praia. Eu precisava do som das ondas,
talvez até da sensação da água nos meus pés. Meu coração quebrou um
pouco mais. Eu estava tão cansada de ter que lutar para conseguir que
aqueles que eu amava me mostrassem que se importavam. Para me
mostrar que eles ficariam, mesmo quando as coisas ficassem difíceis.
Talvez Kara estivesse errada. Talvez eu tivesse me deixado cair cedo
demais e sem investigar o que havia no fundo do penhasco. Agora eu
estava no meu caminho rochas abaixo.

Passei por fora da minha oficina. Talvez eu me perdesse no trabalho


de restauração depois da minha caminhada. Essa seria a coisa certa para
me ajudar a passar a noite. Com um empurrão repentino, eu estava
voando para trás. Minha respiração ficou presa na garganta quando uma
mão cobriu minha boca. Um pano me sufocou. Eu bati, fazendo o meu

CATHERINE COWLES
melhor para dar uma cotovelada no cara do jeito que eu aprendi nas
minhas aulas de autodefesa. Mas meu mundo estava ficando um pouco
confuso nas bordas, e meus movimentos se tornaram desajeitados, como
se todos os meus membros carregassem vinte quilos extras.

Eu tentei morder a mão através do pano. Alguém amaldiçoou. A


doçura encheu minha boca e me fez vomitar. Fiz o meu melhor para gritar
por ajuda, gritar para Ford, mas só saiu como um sussurro.

CATHERINE COWLES
42

EU GIREI, batendo meu punho na parede. Felizmente, meus dedos


pousaram em uma viga de madeira e não no tijolo. Eu amaldiçoei. Eu
estraguei tudo. E, no entanto, enquanto tentava fazer com que as
palavras se curvassem em torno da minha língua, mesmo no silêncio do
corredor, não conseguia forçá-las a sair. Eu não tinha contado a ninguém
que os amava... uma memória me atingiu com uma força que me fez
tropeçar nos calcanhares. Desde o dia do acidente. Eu disse a Vi que a
amava segundos antes daquele cervo pular na frente do meu SUV.

Inclinei para frente, pressionando minhas mãos contra a parede de


tijolos, tentando enfiar as pontas dos dedos na pedra. Medo.
Algum monstro subconsciente, ainda que insidioso, estava me revirando,
me fazendo acreditar que, se eu não dissesse as palavras, nunca teria
que me machucar do jeito que me machuquei quando perdi Vi. Mas
segurar tinha machucado Bell da pior maneira possível. Eu a amava. Se
eu disse ou não as palavras, isso não mudaria. Eu a amava com tudo em
mim. Era mais que amor, era forte e real, alguma força vital sem nome
que acendia minha alma em chamas.

Afastei da parede. Tudo o que eu queria era consertar isso, mas tudo
o que eu dissesse agora pareceria vazio. Eu lutaria com unhas e dentes
para fazê-la acreditar. Eu imploraria e imploraria até que ela visse a luz
e acreditasse na verdade.

Passei a mão pelos cabelos e fui em direção à porta lateral. Meus


passos vacilaram quando me aproximei. Bell queria seu espaço,
precisava dele. Meu peito apertou. Eu não poderia dar a ela. Ela não

CATHERINE COWLES
podia estar sozinha. Minha mão pousou na maçaneta e ficou lá. Talvez
eu pudesse ficar de olho nela de longe. Dar a ela espaço, mas não muito.

Ela ia me mandar para o inferno se me visse a seguindo. Suspirei,


abrindo a porta. A raiva dela era apenas um risco que eu teria que correr.
O ar frio da noite me atingiu, e os pneus gritaram quando alguém saiu
do estacionamento muito rápido. Eu realmente esperava que não fosse
um cliente bêbado.

Examinei o estacionamento, iluminado pelos postes antigos que meus


pais tinham colocado. Não vi Bell em lugar algum. Meu coração acelerou
e meus pés também. Atravessei o estacionamento, vasculhando os carros
enquanto caminhava. Nada de Bell.

Fui para a oficina. Talvez ela tivesse encontrado sua paz lá. Eu tentei
a porta. Bloqueado. — Bell? — Eu chamei pela porta. Não havia nada.
Sem sons ou tremulação de luz.

Aquela opressão no meu peito ficou mais forte. Talvez ela tivesse ido
à praia. As ondas batendo sempre a acalmaram. Foi onde ela estava. Ela
tinha que estar.

Dei uma corrida, saltando sobre um pedaço de madeira e indo para a


água. Eu examinei a costa. A lua estava quase cheia, me dando luz
suficiente para ver. Bell não estava em lugar nenhum. Olhei para o norte
e sul, mas não vi nada. Ninguém. A praia estava completamente vazia.

Não. Não. Não. Isso não estava acontecendo. Não posso perder Bell
quando a encontrei. Puxei meu telefone do bolso, atingindo o contato do
xerife quando comecei a correr de volta para o bar.

— Xerife Raines.

— Bell desapareceu. Ela saiu, ficou fora da minha vista por menos de
cinco minutos e agora ela se foi.

CATHERINE COWLES
Parker deixou escapar uma série de maldições. — Estou a caminho,
mas vai demorar pelo menos trinta minutos. Estou enviando os agentes
da ilha agora. Fique aí.

Eu não poderia prometer isso a ele. Eu faria o que eu achasse que me


trouxesse Bell de volta. — Te vejo em breve. — Desliguei e abri a porta do
bar. Fui direto para o gabinete que abrigava o aparelho de som, cortando
a música.

Houve gritos de queixa e confusão murmurada. Eu não pensei, apenas


me mudei, subindo no bar. — Posso ter sua atenção, por favor? Alguém
viu Bell? Isabelle Kipton. Alguém a viu? Cabelo loiro, olhos verdes, muito
alta. — Fiz um gesto para os meus ombros.

Caelyn correu para o bar, Crosby em seus calcanhares. — O que


aconteceu? Cadê Bell?

Eu olhei de volta para a multidão. — Se todo mundo pudesse ficar


parado, nós agradeceríamos. A polícia estará aqui em breve para fazer
algumas perguntas. A próxima rodada de bebidas será por nossa conta.
— Pulei do bar, encontrando o olhar de Caelyn. — Eu não sei. Ela
desapareceu. — Apenas dizer as palavras em voz alta matou algo dentro
de mim.

Crosby soltou uma ladainha de maldições. — Onde você a viu pela


última vez?

Meu queixo funcionou como uma sensação de queimação reunida na


parte de trás dos meus olhos. — Indo para o estacionamento. — Isso foi
tudo culpa minha. Bell desapareceu, e alguém poderia estar
machucando-a agora. Nada disso teria acontecido se eu não fosse um
idiota estúpido e apenas contasse a ela como me sentia. Que eu a amava.

Darlene apareceu ao lado de Crosby. — Por que diabos ela estava


sozinha?

CATHERINE COWLES
A mão de Crosby pousou no ombro de Darlene. — O porquê não
importa. Só precisamos encontrá-la agora. O que Parker disse?

— Para ficar aqui. — A porta da frente se abriu e dois policiais


entraram. Eu acenei para eles. — Eu disse a todos para não sair, caso
você tivesse perguntas.

— Obrigado, — disse o oficial mais velho, agente Shepard. — Agente


Hughes, você começará a tomar declarações? — A policial mais jovem
assentiu e se dirigiu para a mesa mais próxima. — Ok, me acompanhe.

Eu fiz exatamente isso. Quando terminei, Kenna já havia chegado. Ela


estava estranhamente pálida, mas passou um braço em volta de
uma Caelyn chorando. O delegado Shepard fechou o caderno. — Raines
estará aqui a qualquer momento, mas pode valer a pena vocês conferirem
os locais regulares dela, caso ela esteja chateada o suficiente para fugir.

Aquilo não era Bell. Ela não era egoísta. Ela não teria saído sem dizer
uma palavra, porque sabia que isso aterrorizaria as pessoas que amava.
Mas eu daria qualquer desculpa para sair daqui. Fazer alguma coisa.
Qualquer coisa. — Ok, vamos dar uma olhada na minha casa e em alguns
outros lugares.

O oficial assentiu. — Apenas mantenha seu telefone com você e fique


junto, por precaução.

— Vou fazer. — Peguei meu telefone e cliquei o contato de Hunter.


Tocou e tocou antes de finalmente clicar no correio de voz.

— Você está ligando para seus pais? — Kenna perguntou.

Eu balancei minha cabeça. — Ela não teria ido lá. É tarde demais. E
eu não quero preocupá-los. Eu estava tentando Hunt.

A testa de Crosby franziu. — Ele não atendeu?

CATHERINE COWLES
— Não. — Eu fiz uma careta para o meu telefone. Eu o tinha visto
flertando bastante com uma loira. Ele provavelmente estava bem para
transar.

— Vamos para minha casa, verificar se Bell não está lá. Então vamos
fazer um plano. — Eu me virei para Darlene. — Eu preciso que você e
Hank mantenham o forte aqui. Seja meus olhos e ouvidos. Ligue-me se
alguém viu algo suspeito.

Darlene abriu a boca para discutir, mas depois pensou melhor. —


Claro que vamos.

— Obrigado. — O resto de nós fomos para o estacionamento. Esta ilha,


este bar, eles deveriam estar seguros. Mas em nenhum lugar realmente
estava. Foi algo que eu aprendi há muito tempo, mas parecia que o
universo estava morrendo de vontade de me dar outra lição.

CATHERINE COWLES
43

EU SOLTEI UM GEMIDO BAIXO. Minha cabeça estava me matando. Parecia


estar pulsando no ritmo da batida do meu coração. Eu gemia novamente,
rolando de costas. Eu bati em alguma coisa. As costas de um sofá? Eu
tinha bebido demais com as meninas e desmaiado no sofá ridiculamente
desconfortável de Kenna?

Meus olhos se abriram. Estava escuro, mas havia uma luz fraca
brilhando através de uma janela. Uma janela de carro. Eu estava no
carro? Não, um SUV. Pisquei mais rapidamente, tentando clarear o tom
ligeiramente vacilante da minha visão. O lado do veículo estava
esmagado.

Minhas respirações ficaram mais rápidas, cada uma tropeçando na


última, e nenhuma delas parecendo se segurar. Eu tinha sofrido um
acidente? Meu olhar disparou ao redor do veículo. Isso era familiar. Muito
familiar. As náuseas tomaram conta de mim quando eu peguei os
respingos de sangue que pontilham a porta. Eu estava presa neste SUV
por momentos que pareciam horas, segurando a mão da minha irmã
morta, esperando os paramédicos e bombeiros chegarem.

Eu me atrapalhei, tentando me sentar, mas algo me parou. Amarras.


Cordas nas minhas mãos e pés. Um grito se formou no fundo da minha
garganta, mas eu o engoli. Quem fez isso pode estar perto. Eu não poderia
deixá-los saber que eu estava acordada.

Tentei diminuir a respiração, inspirando profundamente. Meu


estômago palpitou. Não vomite. Não vomite, Bell. Fechei os olhos,
desejando que a sensação passasse. Quando os abri novamente, estava

CATHERINE COWLES
um pouco melhor. Olhei em volta do interior do veículo, procurando por
algo, qualquer coisa que pudesse ajudar.

Lentamente, eu me levantei, usando meu cotovelo como um gemido.


Olhei pela frente do carro e vi apenas o lado do penhasco e o oceano
abaixo. Meu olhar passou até que eu torci para olhar por cima do banco
traseiro. As janelas traseira e lateral estavam quebradas, mas não havia
sinal de vidro restante.

O movimento chamou minha atenção, uma figura andando de um


lado para o outro na escuridão. Eu apertei os olhos. Eu não conseguia
entender quem eles eram. Minha respiração ficou mais rápida
novamente, e eu tive que me forçar a desacelerá-la. Senão corria o risco
de desmaiar de novo.

Sair. Eu tenho que sair. Sair das cordas. Sair deste SUV. E muito,
muito longe da pessoa que andava por esse penhasco. Eu puxei os laços
em volta das minhas mãos. Eles estavam apertados, tanto que meus
dedos estavam formigando. Não havia como tirá-los sem uma faca. Por
que eu não era o tipo de pessoa que carregava um canivete com eles onde
quer que fossem? De agora em diante, eu faria. A primeira parada que eu
estava fazendo amanhã seria a The General Store, e eu estava comprando
o melhor canivete que eles tinham.

Soltei um suspiro longo e trêmulo. Isso não iria me ajudar agora. Eu


testei as cordas ao redor dos meus tornozelos. Eles estavam um pouco
mais frouxos, não tão apertados que estavam cortando minha circulação.
Inclinei-me, minha cabeça latejando bruscamente com o movimento,
fazendo meu estômago revirar. Fechei os olhos por um breve momento,
tentando acalmar o ataque de sensações.

Quando meus olhos se abriram, testei os laços em volta das minhas


pernas com os dedos. Eu poderia deslizar um dedo, talvez dois, mas o nó
que amarrava as pontas era muito apertado para que eu tivesse alguma

CATHERINE COWLES
esperança de desfazê-lo. Era algum tipo de nó de marinheiro com o que
pareciam laços e laços intermináveis. Eu murmurei uma maldição e
tentei inventar um plano diferente de ataque.

Estudei os laços da corda, desejando que me desse uma pista. O


material da minha calça jeans se amontoou embaixo das ataduras,
criando ondas de tecido. Puxei o material de uma perna. Mexeu-se.
Minha respiração engatou e meus dedos começaram a voar, puxando o
máximo que podiam com a destreza limitada que tinham. Agarrei e puxei,
trabalhando o mais rápido que pude, mesmo depois de perder todas as
sensações em meus dedos. Finalmente, uma perna do jeans se soltou e
se amontoou acima das cordas.

Eu testei as amarras. Houve um pouco mais de movimento. Talvez,


com as duas pernas do jeans ausentes, eu tivesse espaço suficiente para
progredir no nó. A segunda perna era mais fácil com aquele pequeno
espaço extra para respirar e, em pouco tempo, o tecido daquele lado
também estava amontoado acima das cordas.

Meu peito arfava e minha cabeça batia com o ritmo do meu coração.
Vamos, vamos, vamos. Eu testei o nó novamente. Nada. Eu amaldiçoei.
— Você pode fazer isso, Bell.

Dei um puxão na minha perna. Movimento. Meu coração acelerou.


Balancei o pé na bota, tentando deslizar para fora enquanto a corda
rasgava a pele nua da minha perna. Eu não me importei. Eu sofreria toda
a dor se pudesse sair daqui.

Eu resmunguei e puxei, torcendo minha perna de qualquer maneira


que eu pudesse pensar. Com um puxão final, meu pé escapou da bota e
das cordas. Engoli meu grito de vitória. Eu rapidamente usei minhas
mãos atadas o melhor que pude para libertar minha outra perna e colocar
minha bota de volta. Eu precisaria de sapatos quando corresse. Meus

CATHERINE COWLES
dedos pareciam um líquido pegajoso na panturrilha enquanto eu
colocava a bota. Eu estremeci.

Isso não importava. Eu estava saindo daqui. O som de passos contra


cascalho se infiltrou em meus sentidos. Muito tarde. Eu estava muito
atrasada.

— Bom. Você está acordada.

— Ethan? — Eu tinha que estar errada. Ele sempre foi tão


gentil comigo. Protetor, até. As peças estavam tentando se juntar em
minha mente, mas eu não conseguia entender.

Ele se inclinou na janela quebrada e eu rapidamente enfiei meus pés


sob o assento na minha frente. — Ei, Bell.

Ele disse isso com tanta naturalidade, da mesma maneira que me


cumprimentou um milhão de vezes no bar. Isso não era real. Não poderia
ser. — O que está acontecendo?

Ethan sorriu, e era um que eu nunca tinha visto nele antes. Era quase
um toque do mal, demente. Ou talvez eu estivesse vendo através dos
olhos de alguém que ele claramente amarrava na traseira de um carro.
— Eu tenho que admitir, seu pequeno ato inocente me enganou por um
tempo.

— Que ato inocente? — Meu coração batia forte no peito, batendo


dolorosamente nas minhas costelas.

Os olhos de Ethan ficaram frios. — Não tente essa besteira comigo.


Você. Terminou. Você não está manipulando mais ninguém.

— Do que você está falando? — Nada do que ele estava dizendo fazia
sentido. E quanto mais Ethan falava, mais meu estômago afundava.

— Eu tenho que fazer você parar.

CATHERINE COWLES
— Parar o que?

— Manipular! Eu te disse! — Ele saiu do SUV e começou o mesmo


ritmo irregular que eu já tinha visto antes. — Eu tenho que te mandar.
Você tem que ir.

Meus dedos apertaram as cordas que seguravam minhas mãos, os


pedaços irregulares cortando a pele sob minhas unhas. Minha voz tremia.
— Onde?

O olhar de Ethan voltou para mim. — Sobre o penhasco. Então você


pode morrer. Como você deveria ter o tempo todo.

CATHERINE COWLES
44

— FINALMENTE! — Eu olhei para o meu irmão quando ele entrou pela


porta.

— O que você quis dizer com Bell desapareceu?

— Exatamente o que eu disse, gênio. Talvez se você atendesse


seu telefone, em vez de se preocupar em transar, você estaria por dentro.

— Fiquei fora por uma hora, não achei que o mundo desmoronaria
nesse tempo.

Mas tinha. Meu mundo se desfez em questão de segundos, exatamente


como antes. Só que desta vez, não haveria retorno, não se algo
acontecesse com Bell. Fechei os olhos com força, beliscando a ponta do
nariz como se isso milagrosamente mudasse o que estava na minha
frente.

— Está bem, está bem. — Crosby ficou entre Hunter e eu. — Estamos
todos preocupados. O que precisamos fazer agora é apresentar uma lista
de lugares para verificar e pessoas com quem conversar.

Já tínhamos parado no túmulo de Vi e nas casas de Caelyn e Kenna.


Nenhum sinal de Bell. Eu não conseguia pensar em nenhum outro lugar
que ela fosse. Não por maldade, no meio da noite.

Hunter passou a mão no maxilar. — Vi Bell logo antes de sair. Ela


estava chateada, disse que todos os olhares e sussurros estavam
chegando a ela. Mas não acho que essa tenha sido a história toda. — Seu
olhar cortou para mim. — Você quer me dizer por que Bell estava
chateada, irmão?

CATHERINE COWLES
Eu me irritei com o tom de Hunter. — Não é da sua conta.

— Cale-se! — Kenna gritou. — Chega dessa besteira machista. Vocês


dois precisam se juntar, ou eu vou apresentar uma razão para o xerife
algemar vocês dois. Mentirei se for preciso. — Hunter e eu ficamos em
silêncio. — Hunter, pare de instigar seu irmão. — Ela se virou para mim.
— Ford, precisamos saber tudo, e isso inclui o porquê Bell estava
chateada. Sei que é provavelmente pessoal, mas qualquer coisinha pode
ajudar.

Crosby se inclinou para mais perto de mim. — Adoro quando ela estala
o chicote assim.

— Não é hora, Crosby, — Hunter avisou.

Enrosquei meus dedos atrás da cabeça, pressionando as mãos contra


o crânio, tentando segurar meu desejo de socar alguma coisa. — Ela
estava duvidando de como eu me sentia sobre ela. — Dizer as palavras
em voz alta cortou minha garganta, devastou meu peito. A última coisa
que Bell sentiu em relação a mim foi a dúvida. E isso ficaria comigo para
sempre. Eu limpei minha garganta. — Lacey Hotchkiss apareceu no bar.
— Kenna soltou o que parecia um grunhido. — Ela estava tentando dar
em cima de mim. Eu cortei. Mas Bell ainda estava chateada.

Inalei, o ar parecendo ter bordas irregulares, como era quando as


temperaturas estavam abaixo de zero. — Brigamos. Ela foi para lado de
fora. Eu me dediquei alguns minutos para me acalmar, e então eu a
segui. Eu sabia que ela ficaria chateada, que ela provavelmente queria
ficar sozinha, mas eu estava preocupado. Quando cheguei lá... ela se foi.
Eu ouvi um veículo saindo do estacionamento. — Engoli de volta a
queimação na minha garganta que de alguma forma estava rastejando
atrás dos meus olhos.

Crosby apertou meu ombro. — Nós vamos encontrá-la.

CATHERINE COWLES
Caelyn se inclinou para frente. — Hunt, você ligou para Ethan? Talvez
ele tenha visto algo e simplesmente não esteja aqui porque não sabe Bell
está desaparecida.

Hunter assentiu e ligou para Ethan. A sala estava tão silenciosa que
eu podia ouvir o toque do outro lado. Continuou sem parar, sem resposta
à vista. Palavras embaralhadas soaram, e Hunter chegou ao fim e discou
novamente. Desta vez, tocou uma vez e, em seguida, uma voz
abafada respondeu. As sobrancelhas de Hunter se uniram. — Ele me
enviou para o correio de voz.

Comecei a andar. — Ligue para ele novamente. Talvez ele pense que
você está tentando arrastá-lo para fora da cama para dar uma volta.

Hunt assentiu e bateu o nome de Ethan novamente. — Mesma coisa.


— Um lampejo de algo passou pelas feições do meu irmão.

Eu parei de andar. — O que é isso?

— Nada.

Meus músculos ficaram tensos e lutei contra o desejo de provocar


Hunter. — Isso não parece nada.

Ele soltou um suspiro frustrado. — Eu juro que não é nada, minha


mente está apenas procurando zebras quando eu deveria estar pensando
em cavalos.

— Que diabos você está falando? — Fui na direção dele, mas Crosby
colocou a mão firmemente no meu peito.

— É estupido. Acabei de me lembrar de algo do ensino médio.

— Que coisa do ensino médio? — Eu gritei.

Hunter brincou com o celular em suas mãos, girando-o em círculos.


— Ethan tinha uma queda enorme por Violet.

CATHERINE COWLES
O medo deslizou por minhas veias, grosso e sufocante, como alcatrão,
lentamente afogando minha capacidade de respirar.

— Não se assuste, Ford. Ele a esqueceu para sempre, até lhe deu flores
no ensino médio, violetas, mas ele nunca fez um movimento. Já lhe disse
que a paranoia está me afetando.

Caelyn se levantou, seu corpo parecendo tremer. — Ele estava muito


por perto, e por nenhuma razão real, especialmente depois que Vi
morreu.

A testa de Kenna se apertou. — Ele veio ao hospital algumas vezes,


até se ofereceu para levar Bell para fisioterapia, se os pais dela não
pudessem.

— Vocês chamam isso de boa pessoa, — argumentou Hunter.

Crosby levantou a mão. — Você teve esse momento de dúvida por um


motivo. Não nos custa nada dar uma olhada. Você sabe onde ele mora,
certo? — Hunter assentiu devagar. — Vamos bater na porta dele.
Nenhum dano, nenhuma falta. Precisamos saber se ele viu alguma coisa
de qualquer maneira.

— Não. — Minha visão estava ficando fora de foco quando o medo


afundou suas garras mais profundamente. — Temos que ir para outro
lugar primeiro. — Era sobre Vi, a morte dela. Seja Ethan ou outra pessoa,
havia apenas um lugar onde eles levariam Bell.

— Onde? — Kenna perguntou.

— O penhasco. — Onde o pesadelo começou.

CATHERINE COWLES
45

DE CIMA. Ethan queria me jogar de um penhasco. Como uma pedra ou


um pedaço de lixo, que ele chutaria para o lado. Seus olhos pareciam
brilhar de maneira não natural ao luar. Lixo era exatamente o que ele
pensava que eu era. — P-por quê? — Eu não pude evitar o leve tremor na
minha voz.

Ethan parou de andar e virou-se para olhar para mim. — Alguém tem
que colocar Violet em primeiro lugar.

— Como você me jogando de um penhasco, está colocando Violet em


primeiro lugar? — Sim, eu estava ganhando tempo, mas também
realmente queria saber. Precisava entender como uma mente havia
distorcido as coisas a um extremo.

O rosto dele endureceu. — Você está cuspindo no túmulo dela. No


cadáver de Violet. Você diz que a ama, mas está transando com o homem
que a matou! — Ethan começou a andar de novo, murmurando consigo
mesmo sobre traidores e outras coisas que eu não conseguia entender
direito.

Minhas mãos tremiam quando testei as cordas novamente. Muito


apertado. Elas não estavam relaxando. Mas meus pés estavam livres. Isso
teria que ser suficiente. Ethan era maior e mais rápido, mas eu tinha
adrenalina do meu lado. Adrenalina e desejo de viver. Eu só precisava de
uma chance de me afastar.

Mãos bateram no lado do SUV quando o rosto de Ethan apareceu na


janela quebrada. — Por que você fez isso? Por que você deixou o assassino
entrar?

CATHERINE COWLES
Soltei um suspiro trêmulo. — Porque eu o amo.

A mão de Ethan se esticou mais rápido do que eu podia me mover, e


ele agarrou meu cabelo com uma crueldade que me assustou. Ele puxou
os fios, aproximando meu rosto do dele. A dor tinha lágrimas se
acumulando nos meus olhos. — Você é tão egoísta. Você o ama mais do
que sua irmã? Seu sangue?

— Eu amo os dois. — Eu fazia, não havia ninguém nesta Terra que eu


amava mais do que Vi e Ford. Eu podia sentir isso, enraizado
profundamente no meu peito. Não era uma competição como eu temia.
Era como tentar comparar o sol e a lua. Os dois me puxaram como se
estivessem liderando o mar, fortes e rápidos, mas eu precisava deles de
maneiras diferentes.

O rosto de Ethan ficou vermelho quando seu aperto no meu couro


cabeludo aumentou. — Você é doentia.

A saliva salpicou meu rosto quando ele xingou, me jogando de volta


contra o assento. Minha cabeça bateu com a força, uma batida renovada
trovejando através do meu crânio. Náusea passou por mim em ondas.
Deixei-me fechar os olhos por apenas um momento, tentando acalmar o
tumulto de dor e doença correndo por mim.

Respirei fundo, estremecendo e forcei meus olhos a abrirem. Ethan


estava de volta ao ritmo. Maldizendo. Chutando pedras. As pedras
voaram sobre a encosta do penhasco. Do mesmo modo que faria se eu
não saísse daqui. Eu me endireitei no meu assento, estremecendo
quando desajeitadamente me levantei para uma posição sentada.

Eu duvidava que as portas com as janelas quebradas se abrissem,


mas quando Ethan me jogou, ele me levou até a outra porta. Mais perto
da liberdade. Eu olhei para Ethan. Ele ainda estava andando. Passei as
mãos pela porta e pela maçaneta. Era difícil, mas eu podia simplesmente
passar meus dedos pela trava e...

CATHERINE COWLES
— Talvez devêssemos ligar para ele.

Eu congelo. — Ligar para quem?

O rosto de Ethan apareceu na janela a abrindo novamente. — O


assassino. O assassino de Violet. Talvez possamos trazê-lo aqui e depois
jogar vocês dois. É assim que deve ser.

Meu coração batia forte no peito, sacudindo a caixa torácica. — Não.


Não ligue para Ford.

Ethan sorriu, o sorriso doente e torcido, e pegou seu telefone. Ele fez
uma careta para a tela. Tempo. Eu precisava ganhar tempo. Para me
libertar. Para correr. E ele não podia ligar para Ford naquele tempo. Meu
estômago revirou com o pensamento. — Você amou minha irmã?

Ethan congelou. Eu disse a primeira coisa que me veio à mente. Não


tive tempo de juntar todas as peças, mas meu cérebro deve estar fazendo
o trabalho inconscientemente. Ninguém fazia algo assim apenas por
diversão. Tinha que haver uma razão. E na raiz de tanto ódio só poderia
haver uma coisa... amor.

A garganta de Ethan trabalhou enquanto ele engolia. — Ela também


me amava.

Eu fiquei em silêncio, esperando que ele continuasse. Eu procurei em


minha mente por alguma lembrança de Ethan e Violet juntos. Nada além
de jogos de futebol e eventos escolares me veio à mente.

Ethan tomou meu silêncio como desacordo. — Ela fez!

— Ok, — corri para acalmá-lo. — Eu apenas... eu não sabia. Ela nunca


me contou. É difícil aprender coisas sobre sua irmã depois que ela já se
foi. — Ethan assentiu lentamente. — Você comprou o SUV porque a
amava? — Minha mente andava em círculos sobre como o veículo ainda
existia.

CATHERINE COWLES
— Eu tenho tudo que posso dela.

Segurei o apoio de braço o melhor que pude com meus dedos que
haviam perdido todo o movimento. — Como você conseguiu isso?

— Lote de destroços. Eles iam levar para Shelter Island para triturar.
Comprei por duzentos dólares. — Quem não faria perguntas sobre um
garoto de dezesseis ou dezessete anos comprando um carro que fizera
parte de um acidente mortal? Por que seus pais não fizeram perguntas?
— Eu consegui fazer funcionar novamente, apenas o suficiente. Eu estava
esperando. Esperando Ford voltar. Eu ia matá-lo nessa coisa. — Ele
corou. — Mas fiquei um pouco impaciente.

Minhas mãos tremiam. Ethan ficou impaciente quando ele bateu na


cabeça de Ford com um pedaço de madeira e o arrastou para o oceano.
— Ethan, —eu sussurrei. — O acidente não foi culpa de Ford. Um cervo
pulou na estrada. Ford tentou nos salvar.

— Era culpa dele! Não ouse dizer diferente! — Ethan caminhou para
a traseira do SUV. — É hora de você ir. Hora de terminar.

Merda, merda, merda. Eu fui longe demais. Não havia tempo para
distração ou qualquer outra coisa. Era agora ou nunca. Meus dedos
puxaram a trava da porta no momento em que o veículo começou a rolar
em direção ao penhasco. Eu saí, tropeçando enquanto caminhava.
Minhas mãos atadas pegaram o peso da minha queda e eu me levantei.

Ethan amaldiçoou. — Não! Você não vai fugir. Não é este o momento.

Eu corri o mais rápido que meus músculos permitiam. Minha cabeça


girava. Fiquei piscando, tentando limpar minha visão para não tropeçar.
Passos no cascalho soaram atrás de mim. Aproximando-se cada vez mais.
Eu empurrei meus músculos com mais força. Imaginei Ford em minha
mente, correndo para ele, na segurança que senti enquanto estava em
seus braços.

CATHERINE COWLES
Uma mão agarrou as costas da minha camisa, me puxando de volta.
— Acho que não. — Eu bati em um peito duro. — Você vai hoje à noite.
Não há mais pausas para você.

Lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto eu chutava e


arranhava, tentando conseguir qualquer coisa. Não tive sorte. A
inclinação íngreme e rochosa se aproximou, o mar negro girando em
torno das rochas irregulares abaixo. Não, não, não. Minha vida não ia
acabar assim. Mas Vi não queria que ela terminasse do jeito que tinha
terminado.

Meus pés tropeçaram quando as rochas cederam ao longo do


penhasco. Era muito íngreme. Eu rolaria para baixo e cairia nas rochas
abaixo. Se a queda não me matasse, a mistura de ferimentos e o mar
terminariam o trabalho. Eu não tinha nada, ninguém, nada que pudesse
me salvar agora. Mas quando Ethan me forçou a cair, eu não estava
sozinha. Minha mente viu apenas uma coisa: o rosto de Ford.

CATHERINE COWLES
46

BATI a porta do meu carro e minha respiração gaguejou nos meus


pulmões. Memórias me atingiram uma após a outra. Rindo com Vi e Bell
enquanto eu dirigia. Bell gritando. Eu tentando desviar. O barulho
doentio. O nada que se seguiu.

Meu SUV, o do acidente... Estava parado diante de mim. A mesma


placa. O mesmo... tudo. Exceto que o lado estava completamente
esmagado. O dano que deve ter sido causado na colisão. Meu interior se
torceu e agitou.

Um grito me tirou do torpor. Eu não pensei, apenas corri em direção


aos sons aterrorizados vindos da mulher que amava mais do que a
própria vida. Aquele aperto familiar aumentou dolorosamente em minhas
costelas novamente, cada passo parecendo torcer com mais força. Passos
atrás de mim me disseram que Crosby e Hunter estavam perto.

Eu gritei, mas foi abafado pelos ventos do oceano e pelo som das ondas
abaixo. Empurrei meus músculos com mais força quando a borda do
penhasco apareceu. O tempo diminuiu, parecia quase parar, como se
alguém tivesse pressionado o botão de pausa do Universo. Bell estava
presa em um penhasco por apenas um punhado de sua blusa, agitando-
se, procurando por algo que pudesse salvá-la. Eu estava perto, mas não
perto o suficiente. Ela estava sozinha. Eu a deixei quando ela mais
precisava de mim e agora... Ethan soltou seu braço.

Um grito gutural rasgou meu peito quando Bell deslizou pelo lado da
inclinação rochosa. Desapareceu. Ela se foi. Isso não estava acontecendo.
A dor que rasgava através de mim era como nada que eu já havia

CATHERINE COWLES
experimentado antes, fogo e gelo lambendo músculos e tendões, me
rasgando.

— Vá, Ford! Nós temos Ethan.

Foi a ordem de Hunter que me tirou disso. Talvez... Talvez a queda


não a tivesse matado. Talvez Bell estivesse na água abaixo. Corri em
direção à beira do penhasco, derrapando até parar apenas um fôlego de
passar por cima e cair. A água negra rodopiava abaixo. Eu me esforcei
para ver qualquer movimento.

— Ford?

A única palavra, instável e incerta, foi a coisa mais linda que eu já


ouvi. Meu olhar abaixou. — Bell. — Afundei no chão e deitei de bruços
para poder me inclinar para o lado. O lado do penhasco era constituído
por uma série de declives íngremes, e Bell oscilava sobre um deles, mãos
atadas, mas presas a um monte de raízes e pedras. Meu coração bateu
contra as minhas costelas quando as pedras cederam sob seus pés.

— Ford!

O pânico nos olhos de Bell quase quebrou algo em mim. Eu não


pensei, apenas alcancei, tentando me estabilizar com uma mão e agarrar
Bell com a outra. — Eu peguei você.

Terror brilhou em seus olhos. — Eu vou cair.

— Não. Você não vai. — Eu cerrei os dentes contra a tensão da


gravidade e minha posição embaraçosa. Eu a agarrei com meu braço
fraco, o mesmo que fora deslocado apenas algumas semanas antes. Eu
desejei que meu ombro ficasse no lugar. Eu não deixaria Bell cair. Eu não
a perderia.

Houve um suspiro atrás de mim. — Oh Deus. O que nós fazemos? —


A voz em pânico de Caelyn cortou o ar da noite.

CATHERINE COWLES
— Você e Kenna agarram meus tornozelos. Preciso de peso para me
manter no lugar.

Elas se moveram rapidamente. Seus braços e peso me prenderam.


Estendi a mão esquerda, segurando o outro pulso de Bell. — Ok, Trouble,
preciso que você me escute. — Os olhos de Bell estavam selvagens,
pulando de mim para as rochas e o turbilhão do oceano abaixo e depois
de volta. — Bell! Olhos em mim. — Ela obedeceu, mas o medo neles era
tão profundo que eu sabia que deixaria uma cicatriz que duraria para
sempre.

— Me escute. No três, você vai largar essas raízes, e eu vou te levantar.


— Eu poderia ter levantado Bell facilmente com um braço não
machucado, ela era leve, mas eu não tinha ideia se meu ombro cederia
quando eu começasse a puxar.

A cabeça de Bell balançou para trás e para a frente freneticamente. —


Eu não posso. Eu cairei.

— Você pode, Bell. Você é tão corajosa. Você consegue fazer isso. —
Tudo se resumia a uma coisa. Confiar em mim. Eu a fiz passar por isso.
Deixei-a quando ela mais precisava de mim. Mas eu estava aqui agora. E
eu vou ficar. Fixei meu olhar com o de Bell. — Eu te amo. Eu não estou
indo a lugar nenhum. Você está presa comigo para sempre. Por favor,
confie em mim.

Bell soltou um suspiro trêmulo. — OK.

A palavra era suave, quase perdida no som das ondas batendo nas
rochas abaixo e o vento chicoteando através das árvores. — Contando até
três. — Ela assentiu. — Um, dois, três!

Bell soltou e eu a puxei com tudo o que tinha em mim. Senti uma
sensação de queimação no ombro direito como se alguém tivesse levado
um maçarico até a articulação, mas não me importei. Ela estava mais

CATHERINE COWLES
perto. Quase em segurança, quase nos meus braços. Com mais um
puxão forte, eu rolei nós dois em terra firme, Bell pousando em cima de
mim.

Seu corpo tremia com soluços violentos. Coloquei meus braços em


volta dela e segurei firme, precisando da sensação dela contra mim, viva
e respirando. — Você está segura, Trouble. Você está segura. — Eu
repetia as palavras como se eu fosse incapaz de dizer mais alguma coisa.
Sirenes soavam ao fundo.

— Sinto muito, Ford. Eu sinto muito. — Bell pressionou o rosto no


meu pescoço enquanto ela chorava.

Eu a segurei mais apertado, indiferente ao meu ombro estar com uma


dor furiosa. — Você não tem nada para se desculpar.

— Eu confio em você. — Ela soluçou as palavras em um meio soluço.

— Eu te amo, Bell. Mais do que qualquer coisa ou qualquer um. Você


é tudo para mim.

— Bom, — ela murmurou contra a minha garganta. — Porque eu não


estou deixando você ir embora.

CATHERINE COWLES
47

BELL

E U me APOIEI contra a parede do chuveiro, deixando a água quente


cair em meu corpo. Doía os cortes e arranhões, mas eu gostei da picada.
Eu teria me banhado em álcool se fosse possível. Eu esfreguei e esfreguei
como se isso pudesse apagar o que aconteceu.

Eu pulei ao som da porta do chuveiro se abrindo. Ford entrou, a


tensão correndo através dele, fazendo seus músculos ondularem. — Oi.
— A palavra saiu tremula e eu odiava, a incerteza na minha voz, a
fraqueza.

— Venha aqui. — Fui sem hesitação, Ford me envolvendo em seus


braços fortes. — Você está segura.

— Eu sei. — E eu sabia. Ethan estava preso na cadeia com um olho


roxo e um nariz quebrado, cortesia de Crosby e Hunter, e ele não sairia
tão cedo. Não era isso. Era como se eu não pudesse sentir que meus pés
estavam de fato em terreno sólido.

Como se estivesse lendo minha mente, Ford pressionou seus lábios


nos meus cabelos molhados. — Vai levar tempo. Mas estarei com você a
cada passo do caminho.

Eu derreti nele com essas palavras. Eu não estava sozinha. Eu nunca


estive, e nunca estaria. O que eu não tinha percebido antes era que,
mesmo quando Ford se foi, eu ainda o carregava comigo, da mesma forma

CATHERINE COWLES
que mantinha Vi dentro de mim agora. As coisas que eles me ensinaram,
o incentivo e apoio que deram, mas acima de tudo, eu sempre tive o amor
deles, e sempre o teria. Nenhuma quantidade de frio poderia abafar esse
calor.

Inclinei minha cabeça para trás, encontrando o olhar de Ford. — Eu


te amo.

Ele fechou os olhos como se estivesse absorvendo cada sílaba e


incorporando-a dentro dele. Quando seus olhos se abriram, eles
brilharam com o fogo azul que eu tanto amava. — Eu também te amo,
Bell. Eu sempre senti isso de uma maneira ou de outra. Eu não disse isso
porque...

— Você não precisa explicar, Ford.

Ele roçou seus lábios nos meus. — Eu quero explicar. — Ele respirou
profundamente. — A última pessoa que eu disse essas palavras morreu.
Eu não as disse desde então. Para meus pais, Hunter, para ninguém. Eu
não percebi, mas estava segurando essas palavras por medo. Como
alguma forma de autoproteção equivocada. E magoei as pessoas que mais
amo por causa disso.

Meu coração se partiu um pouco mais pelo garoto que havia perdido
tanto tempo atrás, cujos ossos quebrados não haviam se curado direito,
e agora ele tinha que reajustá-los para garantir que tudo funcionasse
novamente. Eu pressionei um beijo em seu rosto barbeado. —
Obrigado por me dar as palavras.

Ele sorriu. — Vou dar a você quantas vezes quiser.

Mordi meu lábio inferior. — Como agora?

Ford pegou minha boca em um beijo longo e lento. — Eu te amo.

— E agora?

CATHERINE COWLES
Ele arrastou a língua para o lado do meu pescoço, pegando gotas
dispersas de água. — Eu te amo.

Segurei sua cintura com mais força. — Mostre-me.

Ford se afastou, seus olhos ardendo em um tom mais profundo de


azul. — Trouble, você passou por muita coisa hoje à noite.

Eu o puxei mais forte contra mim, seu corpo endurecendo sob as


minhas mãos. — Eu preciso disso, preciso de você, preciso saber que
estou viva.

Ford baixou a testa na minha, respirando profundamente. — Eu


nunca posso negar nada a você.

— Bom. — Peguei seu pau na minha mão, guiando-nos de volta para


o chuveiro. Levei um tempo explorando o corpo de Ford, meus dedos
testando cada relevo e curva, descobrindo que movimentos o deixavam
louco.

Passei o polegar sobre a cabeça do seu pau, e ele soltou um suspiro.


— Eu preciso estar dentro de você.

Minha boceta se apertou com a declaração. — Por favor.

Era a única palavra que ele precisava. Com uma suave mudança de
posição, Ford deslizou dentro de mim. Seus golpes eram lentos e
deliberados, uma mão apoiada na parede atrás da minha cabeça, a outra
segurando meu rosto. Ele nunca desviou o olhar. Ele estava se
imprimindo em mim, corpo e alma. Com cada golpe e carícia, com cada
toque de seu lábio e mordida de seus dentes. E quando eu gozei, foi com
o conhecimento profundo que eu era dele, agora e para sempre.

CATHERINE COWLES
F ORD me ENVOLVEU em uma das enormes toalhas macias do banheiro.
— Você tem certeza que está bem?

— Estou bem. — Eu estudei seus movimentos. — Mas parece que seu


ombro está incomodando você.

Ele estremeceu um pouco. — Eu acho que posso ter torcido hoje à


noite.

Meu estômago afundou. É claro que ele havia torcido, ele levantou um
ser humano ao lado de um penhasco. — Precisamos verificar isso.

— Eu vou, depois que eles revisem você.

Eu grunhi para ele. — Não acho inteligente esperarmos até amanhã.


Talvez devêssemos pegar um barco em Seattle e ir ao pronto-socorro.

Ford esfregou a nuca com a mão não ferida. — Na verdade, seu pai
está aqui. Ele está na cozinha com Crosby, Hunter e as meninas.

Meu rosto aqueceu. — Você fez sexo comigo enquanto meu pai estava
em casa?

Ford pressionou a boca em uma linha dura, como se estivesse


tentando muito evitar rir. — Você foi a única que dizia “mostre-me, Ford'.

— Eu vou te matar. — Seria uma morte lenta e dolorosa também.

Ford me puxou para seus braços. — Ele está preocupado com você.
Disse que ele queria verificar você por si mesmo, ver se você precisava ir
a um hospital.

— São apenas alguns hematomas e arranhões.

Ford levantou o braço para examinar meu pulso. — Isso não é apenas
hematomas e arranhões.

CATHERINE COWLES
Estremeci com a carne crua e exposta. — Vou deixar que ele me
examine se você olhar seu ombro primeiro.

— Combinado.

Ford estava vestido em questão de segundos enquanto eu demorava.


Eu não estava certa de que estava pronta para enfrentar meu pai. Ele
parecia um estranho agora, em vez do homem que me criou. Eu olhei
para Ford. — Vá em frente, examine esse ombro. Sairei em um minuto.

Ford me estudou com cuidado. — Você tem certeza?

Eu assenti. — Sim.

Ele foi, e eu cuidadosamente coloquei uma das camisetas de Ford


sobre minha cabeça. O algodão gasto era perfeitamente macio,
exatamente o que eu precisava neste momento. Eu pressionei uma mão
no meu peito, onde eu sabia que a tatuagem e a pele manchada estavam
abaixo. — Eu preciso de você comigo para isto, Sissy. — Eu não a ouvia,
mas sabia que ela estava lá.

Respirei fundo e saí do quarto, indo em direção às vozes suaves da


cozinha.

— Vou pedir uma ressonância magnética e estabelecer você com um


especialista que conheço em Seattle. Vou ligar para ele logo no início e
garantir que ele o receba esta semana.

— Obrigado, Dr. Kipton.

— Por favor, me chame de Bruce.

Eu estava na entrada da cozinha até Caelyn me ver. — Bell! Como


você está se sentindo?

Eu a envolvi no trigésimo abraço que eu dera a ela hoje à noite. —


Estou bem, prometo.

CATHERINE COWLES
— Vamos deixar seu pai ser o juiz disso, Trouble.

Eu olhei para Ford, que apenas riu.

— Por favor, — meu pai disse. — Gostaria de verificar você para


garantir que não haja nada que os paramédicos tenham perdido.

Eu balancei a cabeça, lentamente indo para a cozinha, onde meu pai


havia colocado sua maleta médica. Ele parecia diferente, mais velho e um
pouco atormentado. Fiquei surpresa que minha mãe o tivesse deixado
sair de casa em suas calças de corrida e um moletom amarrotado. Eu me
sentei em um dos bancos e Ford ficou instantaneamente nas minhas
costas.

As mãos enluvadas do meu pai eram gentis, tranquilizadoras. A


sensação deles era comovente e familiar. Quantas vezes ele me levantou
no balcão da cozinha para cuidar de um joelho esfolado ou tornozelo
torcido? Lágrimas queimaram a parte de trás dos meus olhos, mas eu me
recusei a deixá-las cair.

— Sinto muito que isso tenha acontecido com você, Bell.

Eu sacudi com o som do meu apelido saindo da boca dele. Nem uma
vez ele já havia usado isso antes, nem quando estávamos sozinhos.
Engoli em seco contra a emoção acumulada na minha garganta. — Eu
realmente estou bem.

— Eu vou limpar esses pulsos e tornozelos e enfaixar. Você deve


mantê-los cobertos pelos próximos dias, pelo menos.

— OK. Obrigada.

Ficamos em silêncio enquanto ele trabalhava, Ford esfregando uma


mão nas minhas costas e ocasionalmente dando um beijo na minha
cabeça.

CATHERINE COWLES
Meu pai tirou as luvas, jogando-as no lixo. — Tudo feito. — Ele olhou
ao redor da sala e depois de volta para Ford e eu. — Eu queria saber se
eu poderia ter uma palavra particular com você e Ford?

Eu endureci, mas Ford apertou meu ombro. — Claro.

— Nós deveríamos ir de qualquer maneira, — Kenna ofereceu.

Hunter deu um beijo rápido na minha bochecha. — Ligue-me se


precisar de alguma coisa.

— Eu também, — disse Caelyn. — Vou trazer jantar para vocês


amanhã à noite.

— Obrigada. — Eu sorri para ela.

— Eu não posso trazer refeições, mas posso trazer cerveja, — disse


Crosby com um sorriso.

Kenna murmurou algo baixinho e deu um forte empurrão em Crosby


em direção à porta. Quando o som da porta da frente se aproximando,
olhei para o meu pai. — O que é isso?

Ele suspirou, colocando-se em um dos bancos. — Tentei ser um bom


pai, mas agora vejo que cometi muitos erros ao longo do caminho.

Ele passou a mão no rosto e parecia profundamente cansado. Eu não


pude evitar a maneira como meu coração apertou em simpatia. Engoli,
minha garganta ficou seca. Uma parte de mim queria tranquilizá-lo de
que ele tinha sido um bom pai, mas havia muita dor e mágoa no caminho
dessas palavras. Em vez disso, optei pelo silêncio. Ford pressionou
minhas costas e eu agarrei sua mão, entrelaçando nossos dedos.

Meu pai soltou um suspiro. — Violet sempre foi uma criança fácil. Ela
apenas ia junto. Não perguntei o porquê. Parecia feliz em fazer o que sua
mãe e eu pedíamos. Mas você... — Ele riu. — Você sempre quis saber o
porquê, sempre foi contra a corrente. Eu deveria ter visto essa qualidade

CATHERINE COWLES
em você pela força que é, mas, em vez disso, sua mãe e eu ficamos
facilmente frustrados. Desculpe-me por isso.

A ameaça de lágrimas ressurgiu, mas eu as forcei a voltar e assenti


para que meu pai continuasse.

— Sua mãe e Violet tinham seus trabalhos de líderes de torcida


e caridade para lidar. Violet e eu sempre conversávamos sobre medicina.
Era sem esforço. Eu deveria ter encontrado coisas para fazer com você,
Bell. Eu deveria ter começado a desenhar ou pintar ou... alguma coisa.

Minha respiração engatou. — Não é que não tenhamos gostado das


mesmas coisas que machuca. É que você queria que eu fosse outra
pessoa. Você queria que eu fosse Violet. Especialmente depois que ela se
foi.

O pomo de adão do meu pai balançou quando ele engoliu. — Você está
certa. Eu nunca deveria ter pressionado você assim. Deixar sua mãe te
pressionar. Sinto muito se você já se sentiu sozinha em nossa casa ou de
alguma forma indigna.

Eu não estava sozinha. Eu tinha Ford. Por mais que eu amasse minha
irmã, ela também não me entendeu. Era Ford quem sempre esteve lá,
gentilmente me incentivando a seguir meu próprio caminho.

Papai me deu um olhar suave. — Estou tão feliz pelo que você fez.
Obrigado, Ford, por amar minhas duas filhas e tratá-las tão bem.

A mão de Ford se juntou a minha. — De nada, senhor.

Meu pai suspirou. — Não tenho certeza se compartilhar o que tenho


para lhe dizer é a coisa certa ou não, mas falei com o xerife Raines, então
sinto que é justo falar a você também.

Meu estômago palpitou e eu agarrei a mão de Ford com mais força. —


OK...

CATHERINE COWLES
— Algumas semanas antes do acidente, eu estava acordado até tarde,
observando as anotações do gráfico do mês. Violet chegou em casa
com seu toque de recolher, que era tão diferente dela. Quando eu a parei
no corredor, ela se dissolveu em lágrimas. Eu a trouxe para a cozinha e
fiz uma xícara de chá para ela, disse a ela que, fosse o que fosse,
poderíamos conversar, da maneira que sempre fizemos.

Papai estava perdido na memória como se estivesse de volta à mesa


da cozinha com Vi. — Ela disse que havia cometido o pior erro de sua
vida. Eu disse a ela que tudo era corrigível, só precisávamos conversar.
Foi quando tudo aconteceu. Ela bebeu demais e dormiu com alguém que
não era Ford. Ela dormiu com Ethan.

Ford congelou. O único movimento que eu podia sentir em seu corpo


era a batida do seu coração. Ninguém disse uma palavra. Com um
suspiro, algo em Ford diminuiu. Ele passou o outro braço em volta
de mim, embora eu soubesse que a dor em seu ombro devia estar
matando-o. — Nós éramos tão jovens. Crianças, realmente. Nós
estávamos fadados a cometer erros. Teria doído ferozmente naquela
época, mas agora... eu odeio que ela tenha vivido com toda essa culpa.

Soltei um suspiro que não tinha percebido que estava segurando.


Inclinando minha cabeça, pressionei meus lábios no braço de Ford. Ele
puxou com mais força ao meu redor. — Acho que sabemos o que fez
Ethan se fixar ainda mais nela.

Papai balançou a cabeça levemente. — Eu acho. O xerife deve


ser capaz de juntar todas as peças. Mas o que é importante para vocês
dois é o porquê.

— Porque o que? — Eu perguntei.

Meu pai encontrou meu olhar de frente. — Violet viu algo antes de
qualquer um de nós. Ela estava começando a perceber que ela e Ford
poderiam não ser para sempre, mas que você e Ford poderiam ser.

CATHERINE COWLES
— O que? — Isso era ridículo. Vi amava Ford como uma louca. Claro,
ela tinha estragado tudo, mas... meus pensamentos sumiram quando
meu pai interrompeu.

— Violet sempre via o vínculo entre vocês dois. Sabia que vocês
compartilhavam algo especial. Algo que ela pensou que poderia se
transformar em mais do que amizade quando chegasse a hora. — Ele
olhou de Ford para mim. — Ela estava tentando reunir coragem para sair
do seu caminho.

Um leve tremor percorreu o corpo de Ford. — Ela me disse que havia


algo importante que precisávamos conversar naquele fim de semana.
Íamos caminhar até o nosso lugar e conversar. Eu pensei que era sobre
os nossos planos de faculdade.

Meu pai deu a Ford um sorriso triste. — Ela estava tentando deixar
você ir.

CATHERINE COWLES
EPÍLOGO

DOIS MESES DEPOIS

— E NTÃO , O QUE VOCÊ ACHA ? — Mordi meu lábio inferior enquanto


observava Caelyn ocupar o espaço ao nosso redor. Eu tentei imaginar
isso através dos olhos dela. Era pequeno, mas minha carteira precisava
disso quando eu estava começando. E a localização não podia ser melhor.
À direita na Main Street, excelente para todo o tráfego turístico.

A loja em si era longa e estreita, mas eu já estava visualizando como


poderia encaixar melhor meus móveis no espaço. Eu comecei a pegar
pequenos detalhes que poderiam ser usados como decoração e depois
vendidos aos compradores. Mas a melhor parte de tudo foi que havia um
antigo espaço de armazenamento atrás da fileira de lojas que atualmente
não estava sendo utilizado. O proprietário estava me dando acesso por
apenas algumas centenas de dólares a cada mês. Seria a minha oficina e
unidade de armazenamento para peças extras. Se um cliente estivesse
procurando algo específico que eu não tinha na frente, eu poderia levá-lo
a oficina.

Caelyn sorriu. — É absolutamente perfeito. Quando você vai abrir?

Minha barriga fez uma série do que pareciam piruetas e cambalhotas,


uma mistura de excitação e nervosismo. — Espero estar em

CATHERINE COWLES
funcionamento em dois meses. Ainda há muito trabalho a ser feito. Quero
refazer o piso, pintar de novo...

Caelyn estendeu a mão e agarrou minhas mãos. — Você chegará lá.


Você já escolheu um nome?

— Second Chances. — Era perfeito em todos os sentidos, para os


móveis e para mim.

Caelyn fungou. — Eu amo isso.

— Não chore por mim, Caelyn. Se você chorar, eu vou chorar, e


quando Kenna chegar aqui, ela vai tirar sarro de nós duas.

Caelyn riu e me puxou para um abraço. — Está bem, está bem. Estou
tão orgulhosa de você, Bell.

Eu absorvi o calor de seu amor e apoio, simplesmente tendo um


momento para pensar em como eu era feliz. — Obrigada por estar aqui a
cada passo do caminho.

Caelyn e Kenna estavam ao meu lado desde aquela noite, dois meses
atrás, emprestando seus ombros, orelhas e o que mais eu pudesse
precisar. Ford brincou dizendo que ele precisaria de uma casa maior, ou
pelo menos um sofá maior, se Caelyn e Kenna estivessem se mudando.

Toda a minha família tinha sido incrível. Hunter, Crosby, as garotas,


os Hardys e Ford estavam comigo todos os dias no julgamento de Ethan.
Me fazendo rir quando pensei que seria impossível, me segurando quando
eu precisava gritar. Eles eram a família que eu construí para mim, e eu
não podia amá-los mais.

A maior surpresa de todas tinha sido meu pai. Ele começou a


aparecer. Tudo começou com alguns encontros para o café, mas agora
ele estava aprendendo a restaurar os móveis ao meu lado. Ele disse que

CATHERINE COWLES
precisaria de um hobby quando se aposentasse em alguns meses.
Estávamos nos conhecendo pela primeira vez.

Minha mãe não apareceu. De fato, a crescente proximidade entre


papai e eu tinha aumentado seu veneno. Mas isso não me incomodou do
jeito como antes. Em vez de me sentir magoada, apenas me senti triste
por ela. Meu pai não compartilhou meus sentimentos. Depois de anos
tentando conversar com ela, ele finalmente entregou os papéis do divórcio
há um mês e estava morando no meu apartamento acima do bar
enquanto procurava uma casa.

— A loja tem à aprovação de Ford?

Eu gemi. — Dificilmente. — A superproteção de Ford não havia


diminuído muito e abrangido todos os aspectos da minha vida. Isso
incluía querer que eu tivesse a melhor loja que o dinheiro pudesse
comprar. O dinheiro dele. Foram necessárias muitas conversas
longas para fazê-lo entender que eu precisava fazer isso sozinha. Ou
principalmente sozinha, de qualquer maneira. Eu pretendia usar seus
músculos para me ajudar a levantar móveis e reabilitar o espaço.

Caelyn riu. — Vocês dois fizeram a mudança oficial?

— Ainda não. — Uma semana após o ataque de Ethan, Ford deixou


claro que eu ficaria com ele. Era difícil para ele me deixar fora de vista
por um tempo. E eu entendi, lentamente diminuindo a distância para
uma noite de garotas ou uma viagem para outra ilha para caçar ventas
de garagem. Mas eu nunca tinha saído da casa dele. Não queria.

E agora, Ford estava oficialmente fazendo de Anchor Island sua casa


permanente. Ele colocou seus bares nas mãos capazes de seu gerente,
Luke. Ele voava a cada dois meses para checar as coisas, se encontrar
com a equipe e coisas do gênero. Eu até voei com ele da última vez, e LA
não era tão ruim quanto eu pensava que seria. Mas Anchor sempre seria
nosso lar.

CATHERINE COWLES
— Aposto que ele perguntará quando conseguir as chaves do novo
local.

Meu estômago revirou. Eu queria que ele fizesse isso. Ford


tinha melhorado em me dar as palavras junto com suas ações. Ele me
disse que me amava todos os dias, e eu nunca me cansei de ouvir. Mas
ele nem sempre percebeu que certas coisas precisavam ser discutidas.
Coisas como pedir oficialmente à sua namorada que vá morar com você.
Ele provavelmente apenas assumiu que eu viria junto. Foi apenas um
pouco frustrante. Principalmente, foi adorável.

Eu sorri para Caelyn. — Vou encontrá-lo lá depois disso.

Caelyn deu um pequeno grito e pulou quando bateu palmas. —


E então você vai me mostrar e Kenna amanhã, certo?

Eu ri. — Eu nem sei se vou morar lá.

Ela revirou os olhos. — Como se aquele homem deixara você dormir


sem ele. — Ela tinha razão.

A campainha antiga sobre a porta tocou. Eu me virei e acelerei. — Que


merda? — Kenna estava na porta, parada, encharcada da cabeça aos pés.
— O que aconteceu?

Suas bochechas coradas. — Crosby. — Ela disse o nome dele em um


grunhido.

Eu tive que pressionar meus lábios para não rir. — Ele jogou você
no tanque?

— Não, eu - eu nem posso falar sobre isso. No entanto, vou ter a minha
doce, doce vingança daquele homem. Não sei o que vai ser, mas será
épico. Como corante rosa em seu frasco de xampu.

Caelyn riu. — Mas você não tem um encontro daqui a duas horas?

CATHERINE COWLES
— Eu tenho. Obviamente, tive que cancelar. — Ela soltou um suspiro.
— Uma de vocês pode me dar uma carona para casa?

— Eu dou, — ofereceu Caelyn. — Bell tem que ir verificar sua nova


casa.

Os olhos de Kenna se arregalaram. — Ele perguntou?

— Não, ele não me pediu para morar. — Eu me virei para Caelyn,


dando-lhe um olhar falso. — Deixe-me de criar esperanças.

Caelyn deu um beijo na minha bochecha. — Suas esperanças devem


sempre aumentar.

M EU CARRO PASSOU pela curva da pista particular que levava à nova


casa de Ford. A brisa quente cortou minha janela aberta, o leve cheiro do
mar e o silêncio feliz aliviando algo em mim. Este realmente era o a casa
perfeita. Não era que eu não gostasse da casa de aluguel de Ford, mas
era tão estéril, quase excessivamente moderno. Eu sempre tive medo de
quebrar algo que valesse milhares de dólares.

Eu sorri quando meu carro chegou ao topo da colina e a antiga casa


de fazenda apareceu. Este lugar nos serve. Grama luxuriante e flores
coloridas enchiam um grande quintal cercado por florestas. Enquanto a
propriedade não tinha acesso à praia, tinha uma vista deslumbrante do
oceano. Não pude evitar a imagem de criancinhas de cabelos loiros
correndo pelo quintal, enquanto Ford e eu nos sentávamos na varanda
tomando uma limonada.

Eu balancei minha cabeça um pouco. Não era hora. Parei meu carro
ao lado do Ford na estrada de cascalho. Ao sair, levei um minuto para
admirar na casa. Precisava de trabalho, claro, mas as estruturas eram

CATHERINE COWLES
maravilhosas e era um projeto que eu e Ford poderíamos fazer juntos. Se
ele me quisesse.

Subi as escadas, abrindo a tela. — Ford?

— Venha aqui.

Minha respiração ficou presa quando entrei no vestíbulo. Ao redor e à


frente, no meio do corredor, havia vasos cheios das flores mais coloridas
de todas as formas e tamanhos. Um sorriso se estendeu lentamente pelo
meu rosto. — O que você fez, Cupcake?

— Por que você não entra e descobre, Trouble? — A voz de Ford veio
do que parecia um solário, um quarto cercado por janelas que seriam
perfeitas durante os meses de inverno, quando ficasse frio demais para
ficar do lado de fora.

Eu deixei meus dedos deslizarem levemente sobre as folhas e pétalas


de cada planta enquanto eu passava, seus aromas celestiais enchendo o
ar. Quando entrei na varanda, ofeguei. Havia flores por toda parte,
preenchendo todos os cantos e fendas do espaço. Eu nunca tinha visto
tantas coisas fora de uma estufa.

Quando eu olhei para Ford, parei de respirar completamente. O azul


de sua camisa de botão parecia fazer seus olhos brilharem, mas era o
amor neles que me queimava, simultaneamente me congelando no local.

Os lábios dele se contraíram. — Bell, vamos lá.

Minhas pernas pareciam obedecer sem que meu cérebro raciocinasse


com o comando, me levando direto ao homem. Eu respirei profundamente
quando Ford passou os braços em volta de mim, seu perfume único e
amadeirado cortando o ar com aroma floral ao nosso redor. Pressionei
meu rosto em seu peito, levantando meus lábios para beijar sua garganta.

— Senti sua falta.

CATHERINE COWLES
— Eu também. — Era tudo o que parecia poder retornar.

Ford riu, me puxando mais forte contra ele. — Você gosta deste lugar?

Eu assenti.

— Você quer torná-lo um lar comigo? —

Eu balancei a cabeça novamente, meu coração acelerando. — Sim.

— Você quer viver aqui comigo?

Meu coração disparou em uma batida rápida e gaguejante. — Dê-me


as palavras, — eu sussurrei.

Ford se afastou, enfiou a mão no bolso da calça e tirou uma caixa de


anel. — Case comigo.

Não houve hesitação, eu me lancei para ele. Felizmente, Ford me


pegou com uma mão embaixo da minha bunda e a outra ao redor das
minhas costas enquanto minhas pernas envolviam ele, e meus lábios
colidiram com os dele. Eu tomei sua boca em um beijo faminto, que dizia
tudo o que essas palavras não podiam.

Quando me afastei, Ford riu. — Isso quer dizer que sim?

Eu sorri — Não achei que fosse uma pergunta.

Ford apertou minha bunda. ―Não foi. Mas achei que você gostaria de
ver o anel antes de concordar.

Eu balancei minha cabeça um pouco. — O anel não importa. Somente


você e essa vida que vamos construir. É isso que importa.

Ford me relaxou em seu corpo e depois segurou meu rosto. — Eu amo


você, Bell.

— Mais do que respirar, — eu sussurrei.

CATHERINE COWLES
Ele puxou o anel da caixa e lentamente o deslizou no meu dedo.
Era perfeito. O anel era de um ouro rosado, o anel em si quase se parecia
com uma flor, com seu cenário intricado envolvendo um diamante
redondo. Eu suspirei. — Ok, talvez o anel importe um pouco.

Ford riu, pressionando um beijo no anel agora firmemente plantado


no meu dedo e depois me puxou de volta para seus braços. — Eu vou
fazer você feliz, Bell.

Eu olhei para o rosto de Ford, meus olhos cheios de lágrimas não


derramadas. — Você já faz, mais feliz do que eu jamais pensei possível.

CATHERINE COWLES
CENA BÔNUS

— Se eu mantenho esse segredo por mais de vinte e quatro horas


e, não contar a alguém logo, vou explodir.

Ford riu e entrelaçou os dedos nos meus, mantendo a outra mão


no volante. — Ainda bem que você está disposta a divulgar para todas
as pessoas que mais ama.

Eu olhei para ele com cuidado. — Você planejou a noite de jogo,


não foi?

Os lábios de Ford se contraíram. — Eu poderia ter sugerido à


minha mãe que o sábado seria o momento perfeito para reunir a
turma.

— E ela apenas precisou de um movimento para entrar de cabeça.


— Noites de jogo nos Hardys tinham ocorrido regularmente nos
últimos meses. Kenna, Caelyn, Hunter e Crosby vieram, até meu pai se
juntou.

— É o momento perfeito para contar a eles.

Virei nossas mãos unidas para que eu pudesse absorver o brilho


do anel que me mantinha em cativa desde que Ford o colocou no meu
dedo ontem à tarde.

— Seus olhos vão se cruzar se você continuar olhando para esta


coisa.

CATHERINE COWLES
Olhei para cima e mostrei minha língua para Ford. — Então você
não deveria ter me dado um anel tão bonito.

Ford sorriu. — Apenas o melhor para você.

Inclinei-me sobre o console e pressionei meus lábios em


sua bochecha raspada. — É perfeito. Obrigada.

— Te amo, Trouble.

Eu nunca me cansaria de ouvir essas palavras. Cada vez que


passavam pelos lábios de Ford, eu os puxava para perto e os guardava
para que eu pudesse carregar seu amor sempre. Esse era o problema
de suportar tanto antes de encontrar A pessoa; você apreciava muito
mais. Eu esperava que isso nunca mudasse.

Eu tracei um padrão nas costas da mão de Ford. — Todo mundo


estará lá?

— Até Crosby, que deve fazer Kenna agir como uma gata irritada.

Eu sorri pela janela. Eu pensaria que a experiência compartilhada


de me resgatar de uma morte certa traria paz entre os dois, mas
aparentemente não. Eles brigavam ainda mais agora. E quando você
introduzia qualquer tipo de jogo na mistura, era ainda pior. Ambos
eram competitivos, e Kenna constantemente acusava Crosby de
trapacear. — Podemos precisar instituir a cadeira do castigo ou algo do
tipo.

Ford soltou uma gargalhada. — Não é uma má ideia. Minha mãe


provavelmente tem algo no sótão.

— Nós vamos ter que fazer isso por ela.

Ford estacionou o SUV ao lado da estrada, atrás da caminhonete


de Crosby. — Parece que todo mundo já está aqui. Está pronta?

CATHERINE COWLES
Meu estômago fez uma série de acrobacias que desafiavam a
morte. Essas eram as pessoas que eu mais amava no mundo, e eu
queria tanto que elas ficassem felizes com nossas notícias. Eu sabia
que eles estavam bem, mas também estava preocupada que pensassem
que estávamos indo um pouco rápido.

Ford segurou meu rosto. — O que está acontecendo?

Eu cerrei minhas mãos em sua camisa. — Eu só quero que todos


fiquem tão animados como nós.

— Você não acha que eles ficarão?

— Eu só... estamos juntos há alguns meses.

— Mas nos conhecemos a vida toda. — Ford passou os lábios


pelos meus, quente e reconfortante e se sentindo como em casa. —
Eles entendem. Eles sabem o que temos é especial. Dois dias, dois
anos, isso não importa.

Deus, eu amava esse homem. Puxei-o para mais perto, meus


lábios a apenas um fôlego dos dele. — Eu amo você, Ford Hardy.

— Mais do que você jamais saberá, Bell Kipton.

Eu o diminui o pouco de distância e tomei sua boca em um beijo


profundo. O mundo caiu quando nos perdemos um no outro, sabendo
que esse era um tipo de amor para sempre. Eu me afastei do beijo um
pouco sem fôlego e atordoada, mas querendo mais. — Talvez não
tenhamos que ficar na noite do jogo até muito tarde.

Ford riu. — Trouble, eu fiz você gozar pelo menos seis vezes nas
últimas vinte e quatro horas.

Eu encolhi ombros exagerado. — As noivas exigem mais orgasmos


do que as namoradas.

CATHERINE COWLES
— Isso vai ser uma verdadeira dificuldade, deixe-me dizer.

Eu bati no peito de Ford com as costas da minha mão. — Vamos


lá, vamos compartilhar as notícias.

Saí do SUV antes que Ford pudesse dar a volta. Ele franziu a testa
para mim e eu ri. — Oh, não fique bravo. Eu posso lidar com abrir
minha porta desta vez.

— Sim, sim, venha aqui espertinha.

Eu sorri e pulei nas costas dele. — Que tal eu deixar você me levar
o resto do caminho? Isso vai acalmar seu orgulho de cavalheiro?

Ford voltou e beliscou minha bunda. — É um começo.

Eu gritei. — Ei, agora, isso não é jogar limpo.

— O que diabos vocês dois estão fazendo?

Eu olhei para cima e encontrei Hunter parado no pé da escada da


casa, com um olhar divertido no rosto. Estendi minha mão esquerda.
— Temos novidades.

— Minha nossa! Mãe, pai, venham aqui— Hunter berrou.

Ford apertou as pernas que estavam ao seu redor. — Eu pensei


que íamos contar a todos juntos?

— Eu mantive esse segredo por um dia inteiro; simplesmente


escapou. — Deslizei pelo corpo de Ford no momento em que Hunter
nos alcançou e nos puxou para um abraço.

— Estou tão feliz por vocês dois. — Ele nos soltou e bagunçou
meu cabelo. — Acho que agora você será oficialmente minha
irmãzinha.

CATHERINE COWLES
Eu fiz uma careta falsa. — Sou mais jovem que você menos de um
mês.

— Ainda é mais jovem.

— O que está acontecendo aqui fora? — Kara chamou enquanto


descia os degraus, o resto do nosso grupo desorganizado a seguindo.

Hunter sorriu. — Esses dois vão se casar.

Kara congelou quando seu pé bateu no último degrau. — O que?


— A única palavra saiu em um sussurro.

Ford passou um braço em volta de mim. — Pedi a Bell que se


casasse comigo, e ela teve o bom senso de dizer que sim.

Eu dei uma cotovelada no estômago dele. — Talvez eu tenha de


reconsiderar. Não tenho certeza se posso viver com esse tipo de ego.

Kara correu até nós, seus braços nos cercando quando suas
lágrimas caíram. — Oh, meus bebês, estou tão feliz por vocês.

Ford riu quando sua mãe finalmente se soltou e se virou para


mim. — E você estava preocupada com as reações de todos.

Eu não deveria estar. Fomos passados de braços em braços


abertos. As risadas e os gritos flutuando no ar enquanto minhas
garotas examinavam o anel. Eu olhei para cima para encontrar os dois
olhares. — Vocês serão minhas damas de honra, certo?

Caelyn me deu um sorriso aguado. — Claro que vamos.

Kenna sorriu. — Eu mataria a cadela que tentasse roubar meu


lugar naquele corredor.

Eu ri e me ajoelhei para poder estar ao mesmo nível de Mia e Ava.


— Vocês gostariam de ser minhas meninas das flores?

CATHERINE COWLES
Os olhos de Mia se arregalaram. — Vou usar um vestido de
princesa?

— O vestido mais princesa que pudermos encontrar.

Ela se lançou para mim. — Você é a melhor!

Eu encontrei o sorriso cauteloso de Ava. — E você, Avs ?

— Eu gostaria.

Eu me levantei exatamente quando meu pai apareceu. Ele me


puxou para um abraço gentil. — Estou tão feliz por você, Bell. Você
merece toda a alegria do mundo.

Eu o soltei e sorri. — Obrigada, pai.

Havia calor nas minhas costas quando braços familiares vieram ao


meu redor. — Feliz, Trouble ?

— A mais feliz.

CATHERINE COWLES

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