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CATHERINE COWLES
AVISO
A tradução foi efetuada pelo grupo Doll Books Traduções (DB) e
Valkyrias Traduções (VT) de modo a proporcionar ao leitor o acesso à
obra, incentivando à posterior aquisição. O objetivo do grupo é
selecionar livros sem previsão de publicação no Brasil, traduzindo-os e
disponibilizando-os ao leitor, sem qualquer forma de obter lucro, seja
ele direto ou indireto.
CATHERINE COWLES
Este livro é para todas as minhas irmãs incríveis. Elas não compartilham meu sangue, mas
compartilham minha alma. Obrigada pelo apoio, incentivo e amor. Sou eternamente grata por
estar cercada por tantas mulheres incríveis.
CATHERINE COWLES
.
CATHERINE COWLES
PRÓLOGO
PASSADO
Mas eu não era uma jovem, pelo menos não na opinião de minha mãe.
As jovens eram equilibradas e organizadas e nunca questionavam as
regras que seus pais lhes impunham. Eu questionava tudo, nunca fui
fácil, e estava muito desarrumada para obter qualquer tipo de aprovação
de meus pais.
CATHERINE COWLES
Violet apareceu de onde estava arrumando uma travessa de
aperitivos. — Lacey retruca porque você a provoca. Talvez vocês duas
sejam apenas mais parecidas do que gostariam de admitir e se irritam.
Eu olhei para minha irmã mais velha. A imagem perfeita da jovem que
meus pais desejavam que eu fosse, com seus cabelos de estilo impecável
e a postura de uma futura médica. Ela poderia muito bem ter sido uma
estranha. Quando isso aconteceu? Procurei em minha mente a data em
que o interruptor foi trocado, quando Violet havia deixado de ser amiga e
confidente, a irmã que sempre me protegera, para alguém que eu nem
conseguia entender a maior parte do tempo.
— Você pode ser amiga dela o quanto quiser, Vi. Aceito ter cobras
cruéis no meu círculo. — Olhei para minha mãe. — Ou dividindo uma
mesa de jantar com eles.
—Você está realmente tomando meu celular porque não quero jantar
com alguém que é horrível comigo? Que intimida minhas amigas e é cruel
com todos que não estão em sua pequena gangue de seguidores?
Eu tentei lhe dizer repetidamente que ela não é quem você pensa que é.
CATHERINE COWLES
Meus dentes de trás se apertaram quando enfiei minha mão no bolso
de trás, puxando o dispositivo que ela havia pedido e colocando na palma
da mão. Nenhum telefonema significava sem linha de emergência para
minhas melhores amigas, para Ford, para as pessoas que me mantinham
sã, em meio à insanidade que minha mãe provocava. Eu mantive meu
rosto cuidadosamente em branco. Eu não daria a ela a satisfação de
saber que ela me impactou de alguma forma. Ela não merecia saber que
tinha esse poder.
— Desde que você insiste em agir como criança, você será tratada
como uma. Seu toque de recolher agora é as nove da noite.
Eu não dei nada a ela. Eu já era uma prisioneira nesta casa cheia de
pessoas que preferem me julgar do que tentar entender de onde eu estava
vindo. Deus não permita que eles realmente ouçam o que eu tenho
a dizer.
Minha mãe soltou um suspiro exasperado. — Por que você não pode
ser mais como Violet? Ela é educada e prestativa, mas você insiste em
criar problemas e conflitos.
Cortou mais do que deveria. Se eu tivesse um dólar por cada vez que
ela dissesse algo parecido, eu seria capaz de ir para a faculdade em
qualquer lugar que eu sonhasse. — Mas eu não sou como ela, sou?
Então, provavelmente é mais seguro que eu vá embora quando seus
amigos estiverem aqui. Você não gostaria que eles soubessem o quão
decepcionante eu sou, não é?
CATHERINE COWLES
Meu pai entrou na cozinha, atraído pelas vozes altas. — Apenas a
deixe ir, Heather. Ela tem dezesseis anos, ela pode optar por pular um
jantar.
O olhar da mamãe cortou o meu pai, uma clara ameaça do preço que
ele pagaria mais tarde por me defender. Mas ele já estava acostumado
com sua veia vingativa e não vacilou. Ela voltou-se para mim. — Tudo
bem. Seja egoísta e imatura. Não é como se eu esperasse algo diferente
de você.
CATHERINE COWLES
Senti um puxão em um dos meus fones de ouvido e ele se soltou. Eu
reprimi um grito quando vi os cabelos loiro escuro que apareceu na
entrada da casa. Minha mão voou para o meu peito enquanto meu
coração acelerava. —Nossa, me dê um ataque cardíaco, por que não?
— Sim, Cupcake?
CATHERINE COWLES
— Eu respondi que estava lisonjeado, mas tinha uma namorada. —
Eu arqueei uma sobrancelha para ele. Ford sorriu. —
Eu estava lisonjeado, ele é um ótimo cornerback1.
Ford riu. — Então, você me deixou para lidar com elas sozinho.
1
O Cornerback (CB) (também chamado de corner) é um jogador de secundária ou
também defensive back field do futebol americano dos Estados Unidos e do Canadá. ... A posição
de cornerback requer velocidade e agilidade. Zagueiro.
CATHERINE COWLES
limpei minha garganta. — Provavelmente é melhor assim, não gostaria
que ela perdesse a mão. Lacey é susceptível de morder.
— Mas ela nunca fez você correr antes. — Claro, Ford sabia que havia
mais. — Fale comigo, Trouble.
CATHERINE COWLES
Felizmente, entre as duas tinham uma camisa extra e shorts. — Mas eu
tive que ir para casa sem sutiã e calcinha. Eu me senti muito vulnerável.
Uma lembrança das lágrimas que eu havia lutado durante todo o
caminho de casa tinha a raiva fervendo lentamente na minha barriga.
— Isso não está bem. Por que você não me contou? Ou seus pais? Ou
a Vi?
Forcei um pouco de alegria ao meu tom que não sentia. — Vocês têm
que ir e serem educados. Não quero um monte de idiotas como minha
irmã e meu cunhado.
Ford riu e bagunçou meu cabelo. Ele e minha irmã ainda não estavam
noivos, mas era uma piada que eu o chamava de cunhado porque era
apenas uma questão de tempo. Mas isso não era verdade. Usei o apelido
para me lembrar de como Ford me via, como uma irmãzinha. Para me
lembrar do que ele sempre seria para mim. Um irmão. O único problema
era que ele não era como um irmão. Ele era como algo completamente
diferente. Hormônios idiotas e estúpidos. Eu estava culpando tudo na
puberdade. Isso arruinou tudo.
Eu olhei para Ford, uma mecha de seu cabelo tocando sua testa da
maneira perfeita. — Você está ficando animado?
CATHERINE COWLES
— Vi não quer se afastar muito de casa.
Revirei os olhos. Minha irmã sempre jogou pelo seguro, fez tudo de
acordo com as regras. E a Universidade de Seattle era a faculdade mais
próxima que ela poderia encontrar em nossa pequena ilha na costa de
Washington. — É porque meus pais querem que ela fique perto? — Ela
quase sempre fazia o que eles pediam. Ford foi sua única grande rebelião.
Eles nunca foram loucos por ele, pensaram que ela poderia escolher
melhor, mas ela os desgastou com o tempo. Como ela não poderia? Até
pessoas cegas como meus pais tinham que ver o quanto ele
adorava minha irmã.
Ford pigarreou. — Eu acho que em parte ela não quer ficar tão longe
de tudo que sabe, de tudo que é confortável.
Ford riu quando uma cabeça loira apareceu pela porta no chão. Minha
irmã olhou para nós dois por um momento e depois soltou um suspiro
exasperado. — Eu deveria saber que a dupla da destruição estaria em
seu esconderijo secreto.
CATHERINE COWLES
Dei de ombros e fiz o meu melhor para dar um sorriso. — Ei, eu me
ofereci para torná-lo o trio de terror, mas você sempre se recusa a ir em
nossas missões.
Vi soltou uma risada leve, delicada e bonita, como ela era. — Talvez
seja melhor seguir o jogo e deixar mamãe e papai pensarem que você está
de acordo. Isso seria tão ruim?
Mordi meu lábio inferior. — Sim, seria. — Eu olhei para cima para
encontrar o olhar da minha irmã. Ela simplesmente não entendia. — Eles
querem que eu tenha amigos aceitáveis. Para eles, a filha de um advogado
é apropriada, por mais cadela delirante que ela seja. Porque, por mais
horrível que Lacey fosse comigo, ela era ainda pior com Kenna por algum
motivo, e eu nunca deixaria alguém entrar na minha vida que
machucasse minha melhor amiga, mesmo que fosse apenas para se
mostrar.
CATHERINE COWLES
O olhar dela se voltou para ele. — Acho que você também não. Iz faz
isso com Lacey, e Lacey não é tão dura quanto parece. Machuca
seus sentimentos.
— Você acha?
CATHERINE COWLES
você diz de eu levar minhas damas ao The Catch por alguma coisa
gordurosa?
Essa era a irmã que eu sentia falta, aquela que estava sempre do meu
lado, mesmo que ela não entendesse de onde eu estava vindo. — Ei,
Sissy2? — Ela olhou para mim. — Eu te amo mais que tudo.
— O que é?
2
Isabelle chama a irmã Violet de Sissy, como um apelido, que significa Maricas. Mas vou deixar no
original.
CATHERINE COWLES
Aquele calor familiar acendeu em mim novamente. Quando o mundo
faz você se sentir sem graça, era um presente ter alguém que pensava
que você brilhava.
Ele riu. — Se meu pai estiver trabalhando, ele garantirá que todos os
clientes pagantes fiquem sentados diante de nós.
CATHERINE COWLES
A brincadeira deles e o apelido fizeram meu estômago revirar. Tentei
evitá-los, me perder na chuva que escorria pela minha janela e na floresta
passando rapidamente enquanto contornávamos a ilha. Um flash de algo
apareceu no canto da minha visão. — Ford!
— Eu me sinto estranha.
— Vai ficar tudo bem. — Sirenes soaram a distância. Isso era bom.
Significava ajuda. — Vi, o que dói? — Não houve resposta, e meu olhar
CATHERINE COWLES
voltou para minha irmã. — Vi! — Os olhos dela tremeram. — Você tem
que ficar acordada, Violet. — Era o que eles sempre diziam naqueles
dramas médicos.
Seus olhos se abriram, mas seu corpo parecia ficar rígido, como se ela
estivesse tendo uma pequena convulsão. E então... nada. Silêncio, exceto
pelas sirenes longínquas e pela pancada da chuva. Silêncio quando
minha irmã olhou para mim, olhos artificialmente arregalados e sem
piscar. Silêncio enquanto eu observava minha irmã abandonar esta
Terra.
CATHERINE COWLES
1
PRESENTE
Kenna fez uma careta para o próprio tapete. — Não sei ao certo como
se torcer em um pretzel deve ajudá-la a encontrar a paz interior.
Eu reprimi uma risada. — Ela está feliz em nos dar essas aulas, então
continue com isso. — Eu gostava muito de ioga, mas adorava como essas
manhãs deixavam Caelyn feliz. Não doeu que realizamos as sessões em
um parque com vista para uma das praias mais lindas de Anchor Island.
A extensão de grama onde colocamos nossos tapetes mergulhava e rolava
até encontrar uma costa rochosa, a costa diminuindo e surgindo praias
cinzentas a penhascos escarpados. O ar salgado do mar que entrava era
um bálsamo para qualquer ferida.
CATHERINE COWLES
— Eu não sou rabugenta. Só estou estressada.
Ela mostrou a língua para mim. — Como você é uma boa amiga.
CATHERINE COWLES
anos, quando a mãe de Kenna não se incomodou com a responsabilidade.
E Caelyn desistindo da faculdade e seus sonhos de voltar à ilha para criar
seus irmãos quando eles foram retirados da custódia de seus pais.
—Oh, por favor. — Caelyn acenou com a mão na frente do rosto. —Diz
a garota que faz meus impostos de graça todos os anos desde que você
se formou.
CATHERINE COWLES
Dei dois abraços rápidos em ambas e fui para o meu carro. A brisa do
oceano bateu no meu cabelo, os fios loiros soprando no meu rosto. Puxei-
os para trás, capturando-os com um coque rápido antes de subir ao
volante.
Saindo, abri minha janela enquanto guiava meu carro pelas estradas
sinuosas da ilha, precisando de outro golpe de ar do mar. Anchor Island
era um lugar pequeno, com menos de duas mil pessoas na baixa
temporada. Se você morasse aqui por mais de um ano, conheceria quase
todo mundo. Era uma bênção e uma maldição.
Quando saí para a faculdade com Caelyn e Kenna, jurei nunca mais
voltar. Agora, eu sabia que nunca faria votos assim porque o universo era
uma criatura inconstante, e ele gostava de fazer você comer esse tipo de
promessa. Com três crianças sob seus cuidados, Caelyn precisou de toda
a ajuda que pudesse obter, assim que Kenna e eu nos graduamos,
voltamos direto para Anchor.
CATHERINE COWLES
fazer a diferença. Virei para a Main Street e sorri. Os lojistas estavam fora
em pleno vigor hoje fazendo a preparação de primavera: reabastecendo
as jardineiras, retocando a pintura, qualquer coisa para atrair os dólares
turísticos.
CATHERINE COWLES
Eu pensava nela quase todos os dias, mas era especialmente forte e
aniversários e datas importantes. E amanhã era o dia em que deveríamos
estar comemorando com seu bolo favorito de sorvete da Two Scoops.
Peguei minhas chaves e fui para a porta dos fundos. Quando eu a abri,
meus passos vacilaram, a visão na minha frente foi como um soco, da
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mesma maneira que era todos os anos. Inclinei para pegar o buquê de
violetas e o envelope. Inspirei profundamente, o doce aroma das flores me
envolvendo, ao mesmo tempo doloroso e reconfortante.
CATHERINE COWLES
2
CATHERINE COWLES
—Você precisa voltar para casa.
Meu sangue virou gelo. —Papai?— Minha voz ficou rouca com a única
palavra. Memórias da ligação que recebi da minha mãe histérica, me
dizendo que meu pai havia sofrido um derrame, me inundaram.
—Ele está bem. Está igual. Mas preciso que você ajude no bar.
CATHERINE COWLES
Senti um aperto no meu peito. —Eu não posso.
Hunter ficou em silêncio por alguns momentos. —Se você não voltar
para casa, teremos que vender.
Suas palavras pareciam cortar no meu peito. Eu não tinha visto o bar
no que parecia uma eternidade, mas de alguma forma, a ideia de perdê-
lo, deixando de lado outra coisa que parecia que fazia parte de mim, era
mais do que eu podia aguentar. —OK.
—OK? — Houve choque na voz do meu irmão. Talvez ele esperasse que
eu dissesse a eles para vender, mas eu não podia. Porque ele estava certo.
The Catch era o legado da nossa família. Eu não iria decepcioná-los
porque não conseguia lidar com os fantasmas do meu passado.
—Sim, tudo bem. Preciso de alguns dias para fechar a loja aqui e
contratar um gerente para os meus bares de Los Angeles. Mas eu estarei
aí em breve.
As palavras pareciam ter sido arrancadas dele. E isso não me fez sentir
como um idiota? Quando as coisas ficaram tão tensas com meu irmão
que me agradecer era como arrancar dentes? —Obrigado por tudo que
você tem feito. E me desculpe, por eu não estar dando o meu melhor.
Ouvi as palavras não ditas, “mas você não esteve aqui”. Deus, eu era
um idiota egoísta. Claro, eu tinha passado um mês em Seattle com minha
família quando meu pai estava no hospital e depois em uma clínica de
reabilitação, mas assim que eles voltaram para a ilha, eu corri de volta
para Los Angeles como o covarde que era. Eu não poderia fazer isso dessa
vez. Eu só tinha que esperar que eu pudesse recuperar o bar
rapidamente.
CATHERINE COWLES
—Eu não vou mais deixar as coisas práticas para você, Hunt. —
colocaria as peças que precisávamos no lugar antes de voltar para LA,
para que não houvesse uma carga tão pesada nos ombros do meu irmão.
Merda. Eu tinha muito o que compensar com meu irmão. —Vejo você
em alguns dias.
CATHERINE COWLES
3
Soltei um suspiro que fez meu cabelo esvoaçar ao redor do meu rosto.
—Sim.
Mordi meu lábio inferior e assenti. —Hunter diz que está trabalhando
para nos ajudar. Espero que isso chegue mais cedo ou mais tarde.
—Espero que sim, mas você sabe que não precisa me pagar. Vou
ajudar o tempo todo. Estou preocupada com você, Bell. Você vai ficar
louca tentando manter este lugar à tona.
CATHERINE COWLES
A preocupação em seus olhos tinha calor se espalhando por mim. —
Obrigada, mas eu tenho isso sob controle.
—Bell.
CATHERINE COWLES
Eu me virei com a voz familiar e sorri, contornando o bar e jogando
meus braços em volta do homem alto e musculoso. —Hunt, senti falta da
sua cara feia. Você tem trabalhado muito ultimamente. — Se o homem
passasse mais tempo nos canteiros de obras, começaria a respirar
serragem.
Dei uma risada e o soltei, batendo em seu peito. Isso doeu a minha
palma e eu fiz uma careta para Hunter. —Você tem músculos demais. —
Eu juro que ele tinha mais músculos toda vez que eu o via, e ele
certamente nunca estava sofrendo por falta de companhia feminina. Mas
para mim, ele sempre seria como o irmão que eu nunca tive. Um que
entrou quando o outro homem na minha vida havia enfiado o rabo no
meio das pernas e fugiu.
CATHERINE COWLES
— Está bem.
Um líquido frio passou por minha mão, e o garoto que eu conhecia fez
uma careta. —Veja o que você está fazendo.
CATHERINE COWLES
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Eu poderia muito bem ter enfiado uma faca em seu peito pelo olhar
em seu rosto, pela dor em seus olhos. Ela não disse nada, apenas se
virou e fugiu.
CATHERINE COWLES
Dei de ombros desviando da sua mão. —Sério, Hunter? Você não
poderia ter me avisado?
Meu irmão não tão pequeno apertou os dentes. —A última coisa que
você precisava era de outra desculpa para fugir.
Seu tiro acertou em cheio. Bem no estômago. —Me traga uma maldita
toalha.
—Guinness?
—Sim.
Peguei um copo e servi uma cerveja para ele. —Por conta da casa.
CATHERINE COWLES
Os dois passos que eu dei em direção à porta aberta eram instintivos,
como cordas invisíveis. Eu apenas pude ouvir suas palavras suaves.
—Sinto muito, Bell. Era sobre isso que eu queria falar com você.
Ford vai voltar por um tempo para ajudar. — Hunter se inclinou para
frente e pressionou os lábios nos cabelos dela. Quando diabos isso
aconteceu? —Eu deveria ter te contado antes, mas sinceramente não
tinha certeza se ele apareceria. Ele apenas mandou uma mensagem e
disse que tinha chegado à ilha, eu não achei que ele viria direto para cá.
Foi por isso que fiquei longe por tanto tempo. Claro, eram todas as
memórias que este lugar mantinha, mas mais do que tudo, era ela. Eu
sentia falta dela como um membro perdido, dores fantasmas e desejo por
algo que não existia mais, me atormentando diariamente. Mas eu estava
ao volante naquela noite e não havia como ela não me odiar pelo que
aconteceu. Eu sabia no segundo em que cheguei na sala de emergência
e eles me disseram que Violet havia morrido. Eu sabia que Isabelle me
odiaria para sempre. Mas conhecer e ver eram duas coisas muito
diferentes. Ver isso pôde me derrubar de onde eu estava.
Isabelle escapou dos braços do meu irmão. —Eu estou fazendo uma
pausa. Você ou seu cão de guarda pode me cobrir.
CATHERINE COWLES
— Que parte de você achou que era um bom plano não avisar
a nenhum de nós?
Passei a mão pelo meu cabelo e ele ficou pegajoso. —Eu não tive
escolha. Você sabe o que os pais dela ameaçaram.
—Eu sei entre isso e perder Vi, quase perdemos você. Mas também sei
que você poderia ter contatado a Bell mais tarde. Você sabe que eu teria
recebido uma mensagem para ela em um piscar de olhos. Mas você
acabou por sair da vida dela.
—Bell?
CATHERINE COWLES
muito tensa para o meu corpo, cada movimento rígido era um pouco
doloroso. E isso só ia piorar.
Era o mesmo que fazer a única pergunta que não queria responder.
Quanto tempo você vai ficar? —Estou confirmado durante o verão, mas
há uma opção para estender, se necessário. — Eu não precisaria disso.
Eu me esforçaria para colocar o bar de pé novamente, para que eu
pudesse deixar esse lugar e nunca olhar para trás. Eu voltaria para LA e
descobriria o que estava por vir. Havia uma coisa que eu tinha certeza:
não era Anchor.
CATHERINE COWLES
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CATHERINE COWLES
O suor escorria pelas minhas costas e eu peguei as pontas da minha
camisa de flanela, rasgando-a. Eu enrolei, os dedos enfiando no tecido.
Eu continuei pressionando, meus pés se movendo ainda mais rápido até
quase correr, memórias me assaltando de uma maneira que não faziam
há anos. Chorando na minha cama de hospital, meu corpo estremecendo
com soluços e dor. Minha irmã. Ford. Eu tinha perdido os dois. Violet
não teve escolha, sua vida foi arrancada em um único segundo. Mas
Ford... ele escolheu fugir. E isso pode ter deixado a ferida mais profunda
de todas.
CATHERINE COWLES
meus. Eu tinha pessoas que me apoiavam, que me ajudariam durante
esta temporada de tempestades.
Senti uma pontada de dor no meu peito. Kara e Frank sabiam que o
filho estava de volta à cidade? Hunter tinha escondido de mim, mas fiquei
chocada que Kara tivesse feito o mesmo. Ela e Frank se tornaram
segundos pais para mim nos anos seguintes ao acidente. Pessoas que me
entendiam muito melhor do que minha própria família. Foi Frank quem
me ensinou a reformar as peças de mobiliário, e Kara quem me ajudou a
aprender a escolher quais valia a pena salvar. Eles nunca me
pressionaram, sempre apoiaram.
Mas Ford nunca foi abordado quando eu estava presente na casa dos
Hardy. Eu escutei algumas notícias aqui e ali. Eu até cedi na época da
faculdade e pesquisei sobre ele no Google, encontrando um artigo no LA
Times intitulado “O rei da vida noturna expande seu reino por LA”. Havia
uma foto dele com um daqueles melhores lutadores e um músico famoso,
com um grupo de mulheres bonitas por trás deles. Ele não parecia estar
sofrendo nem um pouco. Enquanto isso, eu me lembrava daquela noite
toda vez que meu tecido cicatricial puxava, ou eu era forçada a ter um
encontro estranho com meus pais.
CATHERINE COWLES
Caelyn passou um braço em volta de mim, enquanto Kenna
pressionou seu ombro. Um amontoado contra a tempestade. Meu porto
seguro.
Elas não disseram nada por um longo tempo enquanto eu olhava para
o oceano, sabendo que a presença delas era o que eu mais precisava. Por
mais que elas quisessem consertar tudo para mim, elas não tinham
poderes mágicos para trazer minha irmã de volta ou impedir que Ford se
transformasse em um imbecil gigante. Eu olhei para Kenna. —
Caelyn ligou para você?
Caelyn apertou meu ombro. —Hunter disse para lhe dizer que ele está
cobrindo o bar pelo resto do dia.
CATHERINE COWLES
dinheiro não era o mesmo que apoio. Eu sabia disso melhor do que
ninguém. Eu receberia amor e apoio todos os dia. —Deus, eu sou tão
hipócrita.
—O que? É a verdade. Não vai ajudar Bell a fingir que tudo vai ser sol
e rosas. Vai ser péssimo.
Caelyn abafou uma risada, mas Kenna levantou a mão para um toque.
—Essa é minha garota. — Eu não peguei a mão oferecida. Ela encolheu
os ombros e a abaixou.
Soltei um longo suspiro. —Vai me matar toda vez que eu tiver que o
ver. Apenas, traz tudo de volta. Eu pensei que tinha feito um ótimo
trabalho ao lidar com tudo isso. De fazer as pazes. Eu sou feliz. Mas
CATHERINE COWLES
quando olhei para cima e vi o rosto dele... todos os muros que eu construí
pareciam desmoronar ao meu redor.
Mordi meu lábio inferior. —Eu nem sei se ainda vou estar no comando
da programação. Ele dirige todos aqueles bares chiques em LA. Aposto
que Hunter quer que ele faça o trabalho aqui também. É o negócio da
família dele, afinal. — Meu coração apertou. Ao longo dos anos, comecei
a pensar em The Catch como minha casa, os Hardys como minha família.
De alguma forma, eu entrei na vaga que Ford havia deixado. Mas agora
ele estava de volta, e aquele local não parecia mais meu.
CATHERINE COWLES
Olhei entre minhas duas amigas. —Deveríamos fazer algum tipo de
dança da chuva, mas para turistas. Dessa forma, se a temporada for boa
o suficiente, Ford escapará de volta para Los Angeles e a vida poderá
voltar ao normal.
—Bloqueio sexual?
CATHERINE COWLES
abri-los novamente. —São apenas alguns meses. Eu posso lidar com
qualquer coisa por alguns meses.
CATHERINE COWLES
6
Eu fiz uma careta falsa na direção de Isabelle. —Eu não estou mal-
humorado.
CATHERINE COWLES
a maioria que dizia que ela poderia ser transformada em alguma obra de
arte. —Você é pior do que uma garota de TPM assistindo ao The Notebook3.
Isabelle espiou da madeira. —Algo está errado. Você ficou mais quieto
que o normal. E você nem riu quando Hunter tropeçou nos cadarços pela
oitava vez ontem.
Eu a estudei por um momento, a garota que era tão sábia além de seus
anos e parecia ver coisas que ninguém mais podia ver. Desci em um tronco,
olhando para a água. — Eu briguei com meu pai.
Isabelle virou o pedaço de madeira várias vezes nas mãos. —Você pode
querer mais da sua vida do que os outros pensam que você deveria ter.—
Olhei para vê-la estudando os cortes e ranhuras no bastão. —Você não
precisa se encaixar no molde deles.
—Nem você.
3
Aqui no Brasil seria o filme Um Diário de uma Paixão.
CATHERINE COWLES
todas as razões para não o fazer, abrindo minha porta e saindo. Eu ativei
o alarme enquanto caminhava em direção à entrada dos fundos.
Talvez meu irmão tenha gastado todo o orçamento do bar para refazer
o interior, pensando que isso resolveria todos os nossos problemas. Eu
precisava revisar os livros. Um ambiente elegante era importante, mas
um bar e restaurante bem-sucedidos eram muito mais que isso.
CATHERINE COWLES
Minha mão pairou sobre a familiar porta vermelha. Eu dei duas
batidas rápidas.
—Entre.
—Ei, Isabelle. — Minha voz saiu com dificuldade, como se não tivesse
sido usada em semanas.
Ela limpou a garganta. —Eu não tinha certeza se você viria hoje.
CATHERINE COWLES
Sentei em uma das cadeiras em frente à mesa antiga. — Estou aqui.
— Nossos olhares travaram. Um impasse silencioso. — Olha, me
desculpe, ter aparecido assim...
Bell levantou uma mão para me cortar, seus olhos se fixando nos
meus. —Seus pais, Hunter, são tudo para mim. Se eles querem você em
casa, ótimo. Eles querem que você administre o bar por alguns meses?
Bem. Você e eu? Podemos fingir que nunca nos conhecemos antes de
hoje. Novo começo para nós dois.
CATHERINE COWLES
A surpresa e uma boa dose de ceticismo brilhavam naqueles olhos
verde-musgo. —Você não quer apenas implementar o que quer que seja
igual aos seus clubes de Hollywood?
Eu não pude lutar contra a contração dos meus lábios. —Não tenho
uma abordagem única para meus bares. E mesmo que eu soubesse, seria
incrivelmente míope da minha parte não ouvir a pessoa que administra
este lugar nos últimos anos, a mulher que conhece a comunidade muito
melhor do que eu.
—Eu não estou aqui para assumir e tornar sua vida miserável. Só
estou aqui para ajudar.
O olhar de Bell endureceu. Ela abriu a boca para dizer algo e depois
fechou-a, fechando os olhos e respirando fundo.
CATHERINE COWLES
Mas não consegui reescrever a história e não tinha palavras para
melhorar nada disso. Não achei que nenhuma palavra tivesse esse poder.
Mas talvez eu pudesse ajudar com o bar. Ajudar Bell e minha família
para que pelo menos não se afogassem mais em preocupações. Era uma
coisa tão pateticamente pequena. Mas era alguma coisa. E alguma coisa
era melhor que nada.
CATHERINE COWLES
7
ABRI a porta do SUV e sai para a grama na frente da casa que não
tinha mudado nada nos onze anos que eu tinha ido. Até as persianas
foram pintadas da mesma cor. Meu peito apertou quando me mudei para
o caminho de tijolos e caminhei em direção à casa.
Eu assenti, engolindo em seco. A última vez que vi meu pai, ele ainda
tinha problemas com a fala e precisava de ajuda para caminhar e garantir
que não perdesse o equilíbrio e caísse. Havia algo em ver um pai, uma
pessoa que você sempre viu como invencível, lutar tanto. Matou um
CATHERINE COWLES
pouco de algo dentro de mim. Caminhei pelo pequeno vestíbulo, indo
para a sala de estar, mas parei de seguir minha trilha. Uma foto familiar
estava pendurada na parede. Eu, Violet e Isabelle, abraçados, sorrindo
tão amplamente que você podia ver que a Isabelle faltava um dente da
frente.
A dor que atravessou meu peito foi o que eu imaginei que parecia
ser atingido por um raio. A explosão foi instantânea, ocorreu em questão
de segundos, mas os efeitos posteriores podem ficar com você por
semanas. Eu fechei meus olhos, me afastando da atração que a foto tinha
em mim e entrando na sala de estar.
CATHERINE COWLES
—Deus me livre. Eu tento mantê-lo saudável. Você sabe que se você
morrer antes de mim, eu vou conseguir um daqueles jovens corpulentos
que gostam de mulheres mais velhas.
Esfreguei meus olhos, mas não pude evitar o riso que me escapou. —
Acho que vou precisar limpar meus ouvidos e olhos.
Passar meses na casa dos meus pais, com minha mãe andando atrás
de mim seria mais do que eu poderia aguentar. Eu precisava de espaço e
solidão para conseguir passar este verão. A casa de estilo craftsman4
moderno que encontrei era perfeita. Espaçosa, com uma vista incrível. Se
tivesse sido em qualquer outro lugar do mundo, eu adoraria morar lá,
mas parecia mais uma prisão bonita. —Eu consegui uma casa no
penhasco.
Estendi a minha mão e apertei a da minha mãe. —Eu vou ficar bem.
Eu posso cozinhar, você sabe. Mas eu vou estar no bar na maioria dos
4
Estilo Craftsman: compartilhava a filosofia de reforma do movimento britânico, incentivando a
originalidade, a simplicidade de forma, os materiais naturais locais e a visibilidade do artesanato, mas se
destacava, particularmente em bangalôs no estilo Craftsman, com o objetivo de enobrecer casas modestas
para uma classe média americana em rápida expansão.
CATHERINE COWLES
dias, para que eu possa sempre fazer uma refeição lá ou em outro lugar
da cidade. — Eu ainda não havia explorado muito, então não fazia ideia
de quanto tudo havia mudado e quais seriam minhas opções.
Minha mãe engasgou. —O que você fez com aquela garota para fazê-
la fazer isso?
Papai zombou. —Ela tem um dos espíritos mais gentis que eu já vi,
você deve ter feito algo para deixá-la tão irritada.
—Vou dar um tapa na cabeça daquele garoto na próxima vez que o ver.
O que ele estava pensando, sem dizer a ela que você estava voltando? —
Minha mãe se levantou, colocando biscoitos em guardanapos e
entregando-os a mim e papai. Ela sempre fazia alguma coisa quando
ficava nervosa.
CATHERINE COWLES
—Você disse que ia dar um tapa na cabeça dele.
Engoli em seco. —Sim. Mas não quero magoar você, porque sou um
fraco.
CATHERINE COWLES
mais olhar para trás. Mas também fui covarde, e foi o que deixou essas
galhos de ódio se enraizarem. E eles cavaram suas garras
profundamente.
—Espere, você me disse que Bell estava bem. Depois do acidente, você
disse que ela estava bem. — Foi uma das coisas que me permitiu ficar
em Seattle, e não voltar. Agora, tudo que eu podia ver era Bell em uma
cama de hospital, sozinha e assustada.
CATHERINE COWLES
Meus pais compartilharam outro olhar, mas foi meu pai quem falou.
—Ela estava, e está, mas teve alguns ferimentos que exigiram cirurgia e
seu corpo estava muito machucado. A recuperação dela levou tempo.
Mamãe apertou meu joelho. —Espero que vocês dois voltem à amizade
que compartilhavam. Vocês são pessoas diferentes agora, mas seus
corações são os mesmos.
—Eles ainda estão por aqui?— Eles eram duas pessoas que eu
definitivamente não queria ver.
CATHERINE COWLES
Os lábios da mamãe pressionaram juntos em uma linha firme. —Eles
estão. E depois de tudo o que eles fizeram com Bell, eu gostaria de chutá-
los sempre que os encontrar.
CATHERINE COWLES
8
— BELL !
Os cabelos loiros de Mia voaram para trás quando ela se lançou para
os meus braços. Eu a peguei com uma risada abafada. — Cae-Cae disse
que poderíamos jantar aqui hoje à noite. E Kenna também está aqui!
Olhei por cima da cabeça dela para ver Kenna, Caelyn e os outros
dois irmãos de Caelyn, Will e Ava. Soprei no pescoço de Mia fazendo um
barulho. —Bem, se isso não é sorte para mim? Minhas pessoas favoritas
em um só lugar.
Mia olhou para Kenna e depois de volta para mim. —Pra que você
precisa de apoio? Você está brincando de polícia e ladrão?
CATHERINE COWLES
—Certo. — Ele estendeu a mão para Mia, e ela se jogou dos meus
braços para os dele. Ela ama seu irmão mais velho. Meus lábios
apertaram enquanto eu observava Will guiá-las até o estande e ajudá-las
a entrar. Ele já era maduro para a sua idade. Ele e Caelyn não tiveram
escolha. Mas doía meu coração saber que ele havia perdido a chance de
ter uma infância real e despreocupada. Caelyn tentou insistir para que
ele saísse com seus amigos, participasse de equipes esportivas, qualquer
coisa que ela pudesse pensar, mas ele passava a maior parte do tempo
em casa com ela e as meninas, ajudando o máximo que podia.
Fiz uma careta, olhando por cima do ombro para o bar, onde Ford
estava servindo bebidas e conversando com os clientes. Se ele estava
infeliz por estar aqui, ele escondeu bem. —Eu o estou evitando.
Kenna bufou. —E por quanto tempo você será capaz de manter isso?
Mordo meu lábio inferior. —Não muito. Ele está revisando os livros e
os detalhes do dia a dia esta semana, mas em algum momento, teremos
que fazer um plano para o futuro.
—Estou bem. Prometo. — Eu tinha que estar. Não havia outra escolha.
Eu passaria por isso exatamente como tinha passado por todo o resto da
minha vida até agora.
CATHERINE COWLES
Caelyn se dirigiu para seus irmãos, e eu me virei para encarar Kenna.
Os braços dela estavam cruzados sob o peito e a sobrancelha tinha um
ligeiro arco. —Não me engane, Bell. Como você está?
—Bell...— Kenna abaixou a voz para que ninguém pudesse nos ouvir.
—Se isso é demais, você pode sair. Precisamos de uma secretária na
empresa de contabilidade. Venha trabalhar comigo.
Kenna fez uma careta na direção de Ford. —Bem. Vamos lá, eu preciso
de uma bebida.
5
A Grey Goose é uma marca de vodca produzida na França. Foi criado nos anos 90 por Sidney
Frank, que o vendeu em 2004 para a Bacardi. O Maître de Chai para Grey Goose é François
Thibault, que desenvolveu a receita original da vodca em Cognac, na França.
CATHERINE COWLES
Kenna. Meu nome é Kenna. Uma palavra, cinco letras. É realmente difícil
de lembrar?
Ele sorriu para ela, e eu tive que admitir, era devastador. —Todo
mundo te chama de Kenna. Eu preciso de algo um pouco mais original.
Eu não conseguia mais segurar minha risada. —Vocês dois são piores
que um casal de velhos.
Kenna voltou seu olhar para mim. —Como se alguma vez eu tivesse
caído tão baixo assim.
—Você me machucou.
Eu senti sua energia antes de ouvir sua voz. Era calor e um leve
zumbido. Eu mantive meu olhar focado para frente.
—Ei, Kenna. — Ford descansou a mão no bar. Era pelo menos quinze
centímetros de onde a minha estava, mas ainda tinha que lutar contra o
desejo de me afastar, dar um passo atrás, fugir e nunca olhar para trás.
—Ford. — Sua voz era fria, o tom geralmente reservado para aqueles
que machucaram alguém que Kenna amava. Ah Merda. —Estou surpresa
em vê-lo aqui. Eu tinha certeza de que você já teria fugido de novo.
—Olhos castanhos...
CATHERINE COWLES
A cabeça dela virou na direção de Crosby. —Fique fora disso, garoto
surfista, você não sabe nada sobre o que está acontecendo.
Ela se levantou do banquinho. —Eu sei mais do que você. Você sabe
por quê? Eu estive aqui. Eu fui ao hospital todos os dias. Estes terríveis
compromissos de fisioterapia quando ela saiu. Para o funeral. E onde você
estava?
Ford abriu a boca para falar, mas Crosby falou primeiro. —Deus, eu
amo quando sai esse fogo dela.
Sua declaração me fez sorrir. —Sabe, um dia desses você vai provoca-
la demais, e eu não farei nada para salvá-lo.
Crosby olhou para Kenna. —Alguém tem que dar um pouco de vida
para ela.
CATHERINE COWLES
Eu me virei para Ford, e ele parecia tão perdido que meu coração se
partiu um pouco mais. Mas eu não queria que meu coração se partisse
por ele. Foi ele quem saiu sem dizer uma palavra. Ele não ganhou essa
emoção, meu coração se partiu por sua dor. Eu endireitei minha coluna.
— Eu vou trabalhar no salão um pouco. Você assume o bar?
Ele se assustou com a minha voz, mas assentiu bruscamente. Saí sem
dizer outra palavra, caminhando entre as mesas, procurando qualquer
desculpa para escapar.
Uma mão saiu e agarrou meu pulso. Virei-me e pronto para dar uma
cotovelada, em quem quer que fosse, na barriga. — Uau, aí! Sou eu.
Eu fiz uma careta para Hunter. Ele estava ligando sem parar nos
últimos dois dias. Eu não tinha retornado. Não estava pronta para a
conversa que precisávamos ter. Nós nos tornamos próximos nos anos
desde o acidente, e ele era uma das pessoas em que mais confiava, mas
ele rompeu esse vínculo de uma maneira que não era fácil de reparar. —
O que você está fazendo aqui?
CATHERINE COWLES
Eu tentei dar um sorriso ainda mais. — Nova em folha. Agora, vamos
pegar suas bebidas. O que vai ser? — Eu me deixei ir do ritmo de servir
as mesas, o mar de rostos familiares, e fiz tudo o que pude para evitar os
olhos azuis atrás do bar.
CATHERINE COWLES
ver depois do acidente sugeriu o projeto. Uma saída artística e uma
maneira de lembrar minha irmã.
Virei uma página e minha mão parou. A foto que eu colei no papel
tinha sumido. Eu havia decorado a área ao redor com desenhos de
árvores, grama do pântano e o lago onde a foto havia sido tirada.
Deveriam ter sido três rostos sorridentes olhando para mim. Violet, eu e
Ford. Meus dedos deslizaram pela página onde estava o instantâneo, o
papel rasgado apenas um pouco. A cola secou e a foto se soltou?
CATHERINE COWLES
Fui à gaveta onde guardava o livro. Procurando dentro, eu vi vazio.
Tentei pensar na última vez que o tirei. Talvez alguns meses atrás? Meu
estômago torceu. Deve ter caído, e eu joguei fora quando limpava e não
prestei atenção.
CATHERINE COWLES
9
Até a voz de Bell era diferente, mais rouca de alguma forma, mas
assustadoramente familiar ao mesmo tempo, assim como tudo nela.
Deus, eu senti falta dela me enchendo o saco. Houve tantas vezes que eu
quase atendi o telefone. Tantas vezes eu quase voltei para vê-la. Mas o
medo do que eu encontraria quando chegasse aqui sempre me afastou.
Tomei outro gole da cerveja. Pelo menos ela estava falando comigo
hoje. —Hank está me fazendo meu almoço mais cedo. Eu acho que posso
lidar com uma Pale Ale6 .
6
Pale ale é uma cerveja fermentada de topo, feita com malte predominantemente pálido. A maior
proporção de maltes claros resulta em uma cor mais clara.
CATHERINE COWLES
Ela congelou, depois se virou lentamente para mim, sua expressão
cautelosa. — Sim?
— Não existe mas. Você é a razão pela qual este lugar não caiu. — Eu
encontrei seu olhar e continuei olhando, desejando que ela realmente me
ouvisse. — Obrigado, — limpei a garganta — por estar aqui quando não
estava. Quando não pude.
Isso me cortou. Não era sua dedicação aos meus pais, mas o fato de
ela ter deixado claro que sua contribuição para o futuro de The Catch não
tinha nada a ver comigo. — Eu imagino que devemos a você algum
pagamento em atraso.
CATHERINE COWLES
Ela disse — dinheiro— como se fosse uma palavra suja. Merda. Eu
estava bagunçando tudo isso. — Eu não quis dizer que você fez. Mas
posso dizer que você fez horas extras.
Passei a mão pelo cabelo. Isso não estava nos levando a lugar nenhum.
— Bem, obrigado. Quero dizer. E o lugar parece incrível. — Eu esperava
encontrar um grande pagamento por uma remodelação de bar em algum
lugar dos livros, mas só encontrei despesas com tinta, luminárias de
segunda mão e outros itens baratos.
Ela levantou uma sobrancelha. — Você não quer ser responsável pelo
orçamento?
Tomei outro gole da minha cerveja. — Não. Você está tomando boas
decisões com o bar. Você é mais inteligente do que eu. Eu só quero lhe
dar um pouco mais de espaço para respirar.
CATHERINE COWLES
Ela ficou em silêncio por um minuto, e fiquei surpreso com o quanto
queria que ela gostasse da minha ideia, o quanto ansiava por sua
aprovação. Anos atrás, os papéis eram invertidos. Era sempre Bell que
me perguntava o que eu pensava disso ou daquilo, se eu gostava de um
desenho em que ela estava trabalhando ou algo assim. E agora, eu estava
prendendo a respiração para ouvir o que ela pensava sobre uma mudança
nos negócios.
Bell riu e foi o som mais doce que eu ouvi em um longo e maldito
tempo. — Meu gênio musical está acima do seu salário.
CATHERINE COWLES
A porta da frente se abriu e olhei para o relógio. Não era hora de abrir
nossas portas. — Desculpe, não estamos abertos...
Ethan deu um tapa nas costas dele. — É Bell. Ela vai te perdoar. Você
só precisa dar a ela alguns dias para que volte ao normal.
Eu queria que Bell tivesse boas pessoas em sua vida, e meu irmão era
o melhor. Mas acho que, quando se tratava disso, eu também queria um
espaço. Sentia falta dela. Mais do que eu queria admitir. Ouvir sua risada
CATHERINE COWLES
antes tinha sido o melhor tipo de dor, cheia das lembranças mais doces
e do desejo mais profundo de um tempo que se foi para sempre. Porque
eu nunca mais seria essa pessoa, o garoto que pensava que era. Alguém
que nunca experimentou verdadeira devastação. O homem que eu seria
se o acidente nunca tivesse acontecido era um estranho para mim. Tudo
que eu sabia era quem eu era agora, mas eu não tinha certeza do quanto
eu ainda o conhecia.
Ethan bateu as mãos no bar. — Tudo bem, essa tensão familiar está
me deixando super desconfortável. Então, que tal comermos?
CATHERINE COWLES
Caelyn apareceu do corredor com uma balde de gelo. — Caras
gostosos. — Ela soltou um assobio baixo. — O que vocês estão fazendo
aqui tão cedo? Não que eu esteja reclamando do colírio para os olhos.
Foi Caelyn quem falou. — Não foi Hunter. Quero dizer, ele ajudou com
alguns trabalhos pesados, mas foi tudo Bell.
Hunt pigarreou. — Sim. Ela está tendo aulas on-line para design de
interiores. — Ele olhou ao redor do espaço, um pequeno sorriso
inclinando seus lábios. — Ela tem um talento real para isso.
CATHERINE COWLES
livros, que ela fez as coisas parecerem muito mais caras do que eram. —
Por que ela não está estudando em Seattle?
Meu olhar viajou para a porta dos fundos. Aquela atração agora
familiar havia retornado. Por que diabos Bell não tinha me dito que ela
tinha sido a única a renovar o bar quando repassamos as despesas dos
últimos anos? Meu coração apertou. A melhor pergunta era
por que ela iria? Ela não confiava em mim. Queria que eu saísse da vida
dela o mais rápido e humanamente possível. Eu poderia deixar o bar para
ela no final do verão. Eu poderia deixar a ilha também. Mas eu queria
ganhar o perdão dela primeiro. Seu perdão e, com sorte até sua amizade.
CATHERINE COWLES
Mas isso não importava. Eu tinha que fazer as pazes, e ele não
iria interferir no meu caminho.
CATHERINE COWLES
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Ford deixou claro que ele não estava em Anchor para ficar. Ele era
apenas mais um turista de passagem. Mas alguém que tinha o poder de
deixar destroços em seu rastro. E essas ruínas seriam eu. Ele nem
pretendia fazer isso, mas eu seria destruída da mesma forma. Já estava
acontecendo. Apenas aqueles pequenos vislumbres das brincadeiras que
costumávamos compartilhar, a camaradagem, o apoio. Ele me dava esses
vislumbres, talvez até um olhar longo e duro, mas depois os levava
quando saía. E eu teria que viver com aquele buraco no meu peito
novamente.
CATHERINE COWLES
eu não fizesse contato visual, talvez eles entendessem a mensagem e me
deixassem em paz.
— Por que não me disse que foi você quem renovou o bar?
A voz de Ford era dura, seu tom um pouco irritado, um toque de dor.
Eu ainda podia lê-lo como se não estivéssemos separados por mais de
uma década. Eu levantei um ombro e deixei cair. — O que isso importa?
Eu mantive meu olhar na água, sem dizer nada. O silêncio era minha
única armadura. Cada palavra que eu dava a ele tornava difícil quando
ele se afastava, voltava à sua vida extravagante em Los Angeles e deixava
minhas memórias sombrias.
CATHERINE COWLES
A mão de Ford estremeceu em torno da minha. — Por favor. Você tem
que me deixar tentar.
Eu não tinha que deixá-lo fazer nada. Mas enquanto eu olhava nos
seus olhos azuis, que não haviam mudado nada, descobri que ainda era
uma tola por sua dor. Faria o que pudesse para ajudar. Mesmo que isso
me fizesse uma estúpida. Mesmo que isso significasse que eu estaria
sofrendo ainda mais em três meses. Engoli aquela bola de emoção
novamente. — Eu não posso te dar o que tínhamos antes... — Minha voz
saiu entrecortada. — É muito difícil, e eu... eu não sou a mesma pessoa
que costumava ser.
— Tudo o que posso lhe dar é um novo começo. Podemos nos conhecer
como as pessoas que somos agora. — Meu olhar endureceu. — Não quero
desenterrar o passado, Ford. É uma zona proibida. Você vai lá e
terminamos. — Era muito difícil. Eu não poderia ir lá com ele quando
tudo que eu queria por tantos anos era seu conforto e apoio. Falar sobre
Violet com a única pessoa que a amava tanto quanto eu, mas que também
nos entendeu melhor do que ninguém.
CATHERINE COWLES
— Então, você está pensando em começar seu próprio negócio?
Revirei meus olhos e olhei para minhas mãos. — Não tenho certeza.
Adoro reinventar um espaço, dando vida a móveis antigos. Eu já fiz
alguns projetos aqui e ali para amigos... no entanto, o bar de longe é
o maior.
O que eu não disse foi que o bar era para ser meu cartão de visita.
Algo que poderia mostrar do que eu era capaz. Mas meus devaneios de
restauração de móveis e espaços como carreira haviam desaparecido
quando entrei para garantir que The Catch continuasse funcionando.
Eu ri. — Eles são tão bonitos. — Eu disse “bonito” como se fosse uma
palavra suja. As fotos que eu tinha visto dos clubes da Ford eram lindas,
mas eram perfeitas demais, tudo elegante e harmonioso. Eu precisava de
algo com um pouco mais de alma.
CATHERINE COWLES
Houve uma rápida labareda de calor nos olhos de Ford antes que ele
a escondesse. Uma chama que fez meu estômago mergulhar como se
estivesse em uma montanha-russa. Nem uma vez em todo o tempo que
passamos juntos, eu já tinha visto alguma sugestão de atração, qualquer
sinal de que ele me via como algo além de uma irmãzinha honorária. O
menor lampejo de esperança tentou enraizar-se na minha barriga, e eu
imediatamente a tranquei. Eu não estava indo para lá. Não era possível
por vários motivos. Eu forcei meu olhar longe de ombros largos e do
maxilar raspado de Ford.
— Você não poderia me pagar, e não posso dizer que estou morrendo
de vontade de visitar uma cidade onde metade dos moradores tem
plástico na cara. — Ok, então eu estava um pouco amarga. Mas quase
parecia que Los Angeles era a cidade que roubara Ford. Eu não estava
ansiosa para passear pelas ruas.
CATHERINE COWLES
A pergunta teve a facilidade que deslizou em meus músculos, fugindo
novamente. — Eles estão iguais. — Nada e ninguém jamais mudaria
Bruce e Heather Kipton. Nem a morte de uma filha e a fuga da outra.
Tudo sempre seria culpa de outra pessoa. Eles nunca considerariam
olhar ao redor para ver se poderiam ser a causa de alguma coisa.
— Você os vê muito?
CATHERINE COWLES
11
Perdê-la não era exatamente a frase certa. Ela estava perdida para
mim há mais de uma década, mas vendo-a novamente... eu sabia que
não queria que isso se transformasse em para sempre. Ela pode não ser
capaz de me perdoar pelo acidente, por não a encarar depois, mas talvez
eu possa devolver minha vida à sua vida. E se havia algum remanescente
da garota que eu conhecia, seu estômago era um ótimo lugar para
começar.
CATHERINE COWLES
estreitaram levemente. —Essa sua sombra sentiu sua falta,
especialmente.
Calor subiu pela parte de trás do meu pescoço. —Eu não estava pronto
para voltar.
Puxei minha carteira, mas Jules levantou a mão. —Nem pense nisso.
Este é um presente de boas-vindas. Faz bem ao meu coração vê-lo
recuperando os sentidos.
CATHERINE COWLES
—Jules...— O nome dela saiu como um pedido rouco. Eu não
aguentava. Não conseguia lidar com as palavras dela. Estar na padaria
era quase demais para suportar. As guloseimas que eu costumava pegar
para deixar no armário de Vi eram uma surpresa. Todas as vezes que
trouxemos Bell aqui para escapar dos pais delas. Mas quando você
adicionava a dor, eu sabia que Bell havia experimentado porque meus
reflexos não foram rápidos o suficiente... Foi demais. Aquele alcatrão
familiar e insidioso do ódio a mim mesmo avançou pelo meu corpo em
uma onda lenta.
—Eu sinto muito. Eu não deveria ter mencionado. Estou feliz que você
voltou. — Jules sorriu para mim, mas foi forçado agora.
—Está bem. — Eu olhei para a rua. A calçada que nós três já andamos
inúmeras vezes. Parecia outra vida. Mas era com quem eu tinha que fazer
as pazes. Porque se não o fizesse, eu perderia tudo o que eu tinha
deixado: minha família, o bar, Bell. Empurrei todos eles para o lado por
tanto tempo, que tinha esquecido o quanto eles eram importantes para
mim. Mas menos de uma semana atrás, e eu sabia que não queria colocá-
las em segundo plano para sempre. Eles eram importantes demais. Muito
vital. Então, eu teria que lidar com o passado.
CATHERINE COWLES
Eu lutei contra o estremecimento que se contorcia através dos meus
músculos. —Está tudo bem.
—Parece bom. Não seja um estranho. E diga a Bell que eu disse oi.
—Eu vou, — eu gritei por cima do ombro quando abri a porta e saí no
ar fresco da primavera. Voltei para The Catch, saco de papel na mão.
Cada loja que passei tinha outra lembrança, uma mistura de alegria e
dor. O restaurante que eu levei Violet para o nosso primeiro encontro
oficial. A florista onde eu tinha conseguido seu buquê para o baile. A loja
de pintar sua própria cerâmica que levamos Bell todos os anos no
aniversário dela. Meu peito ficou mais apertado a cada passo, mas eu não
lutei como costumava fazer. Em vez disso, deixei as memórias virem,
passando por mim de uma loja para a outra.
Meu olhar captou uma figura do outro lado da rua. Uma muito
familiar e não exatamente bem-vinda. Heather Kipton congelou no meio
do caminho, seu olhar se estreitando. Eu pensei que talvez houvesse um
lampejo de dor em seus olhos, mas agora eu só via ódio. Não foi o primeiro
olhar desdenhoso que foi enviado em meu caminho desde que voltei, mas
foi o mais feroz.
CATHERINE COWLES
Aquele dor familiar apertou minhas costelas, tornando difícil respirar
fundo. Era com isso que eu teria que conviver, dia após dia, enquanto
permanecesse em Anchor. Os olhares que acusavam sem dizer uma
única palavra. Forcei meus olhos a fecharem por um breve momento.
Valia a pena. Pela minha família. Por Bell. Não era para sempre, era
apenas um verão. Eu poderia suportar qualquer coisa por algum tempo
se isso significasse ganhar o perdão deles.
Revirei meus ombros para trás quando cheguei à porta do The Catch,
puxando minhas chaves e destrancando a fechadura. Fechei a porta
atrás de mim, trancando a fechadura de volta no lugar. As luzes estavam
acesas e a música estava tocando baixo no fundo. Vi Bell atrás do bar.
Seus cabelos estavam presos no alto da cabeça quando ela se esticou na
ponta dos pés para contar garrafas de licor em uma prateleira. Ela usava
uma camiseta que abraçava suas curvas de uma maneira que significava
tortura para todos os caras que passassem pelas portas deste lugar hoje.
The Catch estava impresso em letras vermelhas em estilo retrô no peito.
Engoli em seco, me forçando o olhar para o lado. Não me lembrava disso
em nenhum lugar do uniforme.
CATHERINE COWLES
—Sim. Mas é para mim.
—Eu vou pegar o café. — Ela fez uma pausa, seu sorriso vacilando um
pouco. —Como você quer o seu?
—Bem, que bom que estou aqui. É muito mais facil com ajuda.
Bell mordeu seu muffin e gemeu. Eu desviei meus olhos. —Estes são
bons demais. Eu tenho um acordo mental comigo mesma. Só posso
entrar no The Mad Baker duas vezes por semana. Eu sempre falhei.
Bell se mexeu na cadeira e não disse nada. O que ela poderia dizer?
Que foi minha própria culpa que eu senti falta deles? Que isso me serviu
certo? Eu mudei de assunto. —O que você acha de fazer audições para
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bandas na próxima semana? Posso colocar um anúncio no jornal, talvez
online de alguma forma aqui?
— Die Hard8.
7
No Brasil se chama a Princesa Prometida (1988). Uma aventura de conto de fadas sobre uma linda jovem,
Buttercup, e seu amor verdadeiro. Um menino, Westley, vira pirata para salvar sua amada das garras de
um príncipe terrível. Para se reencontrar, o casal deve lutar contra os demônios de um reino místico.
8
No Brasil se chama Duro de Matar. Die Hard é uma série cinematográfica estadunidense de filmes de ação que
teve início em 1988 com o filme-título, baseado no romance Nothing Lasts Forever de Roderick Thorp. A série é
estrelada pelo ator e produtor Bruce Willis como o policial John McClane, um detetive do Departamento de Polícia
de Nova Iorque, que acaba envolvendo-se em crises violentas na grande metrópole.
CATHERINE COWLES
assistindo Bruce Willis chutar um traseiro. Naquele momento, percebi
que não sabia como eram os Natais. Eu conhecia todos os detalhes de
como eram as celebrações antes, desde a festa de Natal da família Kipton,
até a decoração da casa de gengibre de Violet e Bell, como os pais
costumavam pendurar as meias de Vi e Bell nas extremidades de suas
camas. Mas parecia que Bell tinha pouco ou nenhum relacionamento
com os pais nos dias de hoje.
Eu odiava pensar que ela estava sozinha em um dia que sempre amou.
A culpa voltou a mim com a ideia de que poderia ser minha culpa. Eu
limpei minha garganta. —Quais são suas outras tradições de Natal?
O sorriso de Bell ficou gentil. —Isto é.— Ela tomou outro gole de café.
—E você? Sua família vai para LA, certo?
Isso nunca me incomodou antes, pedindo para minha família vir para
LA ou algum outro destino para as férias. Mas agora, voltando a Anchor,
vendo tudo o que eu tinha tirado de meus pais e irmão no Natal, eu me
senti um idiota egoísta. —Sim. Eu normalmente os levo para lá, ou às
vezes vamos para o Havaí ou o México.
CATHERINE COWLES
—Dê-me meu chocolate quente e caminhadas geladas pela praia a
qualquer dia.
Bell colocou a mão suavemente sobre a minha. Foi a primeira vez que
ela me tocou voluntariamente, a primeira vez que ela estendeu a mão. O
calor que a encheu fluiu em minha mão. Ela abriu a boca para dizer
algo, mas depois se conteve. Ela apertou minha mão e se levantou. —
Obrigada pelo muffin.
CATHERINE COWLES
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—Isabelle?
Eu estremeci com o som do nome que não parecia mais como o meu.
Levantei, me estremecendo. —Ei mãe. O que você está fazendo aqui? —
As vendas de garagem não eram exatamente os programas típicos da
minha mãe. Eles eram um dos meus lugares seguros. Eu me tornei uma
mestre na determinação dessas áreas em minha pequena ilha nos
últimos anos. Torne-se hábil em evitar possíveis desentendimentos com
meus pais.
Ela alisou as rugas invisíveis no seu casaco. —Eu só estou fora para
o meu passeio matinal. — Ela olhou para a variedade de mercadorias no
gramado dos Perkins. —O que você está fazendo aqui? Seu trabalho paga
tão pouco que você precisa comprar os restos de outras pessoas?
Apertei meus dentes de trás. —Você nunca sabe que tesouros pode
encontrar em uma venda de garagem.
CATHERINE COWLES
—Não se preocupe, mãe. Não é da sua conta.
—Eu já disse várias vezes, eu prefiro Bell.— Mas ela nunca concordou
com meus pedidos, apenas continuou me chamando de Isabelle. Meu pai
parou de dizer meu nome completamente, como se, ao fazer isso, ele não
tivesse que irritar a mim ou minha mãe. Mas isso me deixou
dolorosamente triste.
—Eu te dei esse nome. E não lhe dei o nome de algo que você encontra
no campanário de uma igreja ou no guidão de uma bicicleta. Chamei você
de Isabelle, que é um nome bonito. Não entendo por que você não quer
usá-lo.
—Eu já expliquei isso para você muitas vezes, você simplesmente não
quer ouvir. — Eu mantive minha voz calma, mesmo que estivesse
sentindo tudo menos isso. Eu disse aos meus pais que sentia que
precisava de um novo começo. Pedi que me chamassem Bell em vez de
Isabelle. Até cai em lágrimas quando expliquei o porquê. Isso não me
levou a lugar algum com ela.
—Tudo bem, mãe. Eu tenho que ir. Eu te vejo por aí. Diga ao papai
que eu disse oi.
—Espere.
—Sim?
CATHERINE COWLES
Ela puxou a gravata do seu casaco. —Você já ouviu falar que Ford
Hardy voltou?
—Você conseguiu um acordo. Mal posso esperar para ver como você o
transformou.
CATHERINE COWLES
poder convencer Frank a me emprestar sua caminhonete para levar o
armário de volta à oficina atrás de The Catch. Houve uma leve pontada
no meu peito com o pensamento. Eu costumava subornar Frank para me
ajudar a carregar e desfazer qualquer peça de mobiliário que eu tivesse
comprado, mas desde seu derrame, ele simplesmente não era estável o
suficiente. Mas ele estava ficando mais forte a cada dia, e eu tinha que
me apegar a esse fato.
Eu estava feliz por ela. Ela estava sem Ford por perto por muitos anos.
Houve uma vibração no meu peito, uma pitada de saudade. O
conhecimento de que eu também queria Ford na minha vida. Mas eu
estava com muito medo de alcançá-lo.
Kara soltou seu abraço, mas segurou meus ombros. —Te amo como
se você fosse minha, Bell.
CATHERINE COWLES
Minha voz engasgou. —Amo você também.
Frank revirou os olhos para o céu, mas sabiamente não disse nada
sobre nossas expressões chorosas. Ele voltou para mim. — Você está aqui
para eu dar uma surra em você no gin rummy9 pela milionésima vez?
—Te amo mais que a vida, querida. Mas eu vou enlouquecer se você
me manter trancado por muito mais tempo.
Kara bufou, mas sua expressão suavizou, e ela lhe deu um beijo
rápido. —Você tem sorte de eu te amar, e que estou disposta a levá-lo ao
The Catch na próxima semana.
9
Gin Rummy é um jogo de baralho normalmente jogado entre 2 a 4 pessoas. Muito parecido com o
buraco, é o vencedor aquele que conseguir baixar todas as cartas de sua mão.
CATHERINE COWLES
—Você é a luz da minha vida. — Kara zombou e Frank riu. —Vamos
lá, Bell. Me mostre duas mãos de gin rummy, e depois eu jogarei as
chaves da caminhonete para você.
—Sim?
Perdemos rodada após rodada de gin rummy, rindo até meu estômago
doer e apenas curtindo a conversa fiada e relembrando. O tempo passou.
Levantei os olhos das minhas cartas e espiei o relógio na parede. —Ok,
velho, esta tem que ser minha última mão.
—Ela está me chamando de velho, isso significa que ela não tem nada.
CATHERINE COWLES
Eu disse quando levantei uma carta da pilha de empates. Minha boca
formou um sorriso quando eu lentamente me levantei.
Frank se levantou e jogou as chaves para Ford. —Por que você não
dirige para Bell? Você pode ajudá-la a colocar o armário dentro e fora da
caminhonete.
CATHERINE COWLES
—Mas o Ford está aqui. Então, por que incomodar Kenna?
Ford riu. —Parece que eu acabei de me oferecer para lhe dar um canal
radicular sem anestesia.
Eu fiz uma careta para ele. —Eu só não quero que você tenha que sair
do seu caminho na sua manhã de folga.
—Vamos lá. — Meu tom era cortante, frio, mas não podia ser ajudado.
Ford saiu de sua casa de infância. Olhei para trás para acenar para
Frank e vi um olhar de preocupação gravado nas linhas de seu rosto.
Porcaria. Eu não queria colocar nenhum estresse adicional nos ombros
do homem, essa era a última coisa que ele precisava. Forcei um sorriso e
depois me virei para a garagem.
CATHERINE COWLES
A viagem para a casa dos Perkins foi silenciosa, o silêncio fazendo a
viagem parecer duas vezes maior. Cada segundo fazia minha pele coçar
um pouco mais. Eu odiava o jeito que as coisas estavam, parecia errado e
não natural, mas eu não tinha como consertar isso. Eu acho que é por
isso que eu amava trazer essas peças antigas de volta à vida. Havia tanta
coisa neste mundo que não tínhamos controle, coisas, pessoas e
relacionamentos que estavam destruídos sem possiblidades de consertar.
Mas essas mesas, armários, cadeiras esquecidas... aquelas que eu
poderia consertar, aquelas que eu poderia dar uma segunda chance.
CATHERINE COWLES
respirar mais facilmente. Foi como se os pesos que estavam nos meus
pulmões finalmente tivessem aumentado.
—Sem problemas.
Meu peito apertou. —Você não precisa me agradecer, Ford. Adoro eles.
Farei o que puder para ajudar.
CATHERINE COWLES
Ele assentiu. —Vamos lá, eu vou levá-la de volta para o seu carro.
CATHERINE COWLES
A testa de Ford franziu. —Sim, por cerca de dez minutos antes de eu
ir à casa dos meus pais. Por quê?
—Bell…
Eu levantei uma mão. —Está tudo bem, Ford. Vamos pegar meu carro.
CATHERINE COWLES
—Certo. Agora vamos. — Eu não conseguia evitar o arrepio quando
entrei na caminhonete, meu olhar varrendo a rua e a praia, procurando
algo fora do lugar. Mas tudo estava como deveria ser.
CATHERINE COWLES
13
CATHERINE COWLES
A voz de Crosby me tirou da minha exploração. Eu limpei minha
garganta. —Você precisa de outra cerveja?
Ele riu. —Eu estou bem com esta. Você deveria ir à fogueira depois de
fechar.
Eu fui a muitas ao longo dos anos, quase sempre com Violet do meu
braço, amando a sensação dela tão perto enquanto o fogo queimava
contra a tela de fundo que era o oceano escuro. Tentei tocar esse
sentimento, agarrar o sentimento de amá-la, mas não consegui. Não fui
capaz em anos. Era como uma fotografia agora, uma que eu podia pegar
e olhar, ficar tão feliz por tê-la, mas não pude entrar nela.
CATHERINE COWLES
Crosby me sorriu. — Gostar da irmãzinha da sua namorada morta faz
isso com um homem. — Meu corpo deu um pequeno estremecimento com
as palavras dele, e Crosby fez uma careta. — Desculpe, isso saiu um
pouco mais honesto do que deveria.
Crosby colocou uma batata frita na boca. — Ela olha para você da
mesma maneira.
Meu queixo endureceu. Nós não tínhamos. E Bell estava levando tudo
muito a sério. Eu coloquei Caelyn, Darlene e Hank em alerta, e eles
estavam de olho em todos os clientes que espreitavam onde não
deveriam estar. Até agora nada. — Não sei porra nenhuma.
— Talvez Bell esteja certa, e foi apenas alguém que pensou que estava
fazendo algo legal e não percebeu o como era assustador. — Crosby não
parecia acreditar em uma palavra que estava saindo de sua boca.
CATHERINE COWLES
Peguei um copo e servi mais duas cervejas, entregando aos clientes no
bar. — Estamos todos atentos, então, quem quer que seja, tem que saber
que ele não pode continuar com essa merda.
CATHERINE COWLES
Ambos pareciam congelar quando Hunter disse algo que eu não pude
ouvir a Bell. Depois de um momento, a cabeça dela caiu no peito dele, e
ele a abraçou. Eu queria desviar o olhar, mas não consegui. Eu nunca
fui uma pessoa excessivamente ciumenta. Mas não havia como negar que
era exatamente o que pulsava em minhas veias agora.
Chutei uma pedra aos meus pés. — É bom saber que tenho alguém
que pode me socorrer se eu tiver problemas.
— A qualquer momento.
CATHERINE COWLES
Meu olhar captou um movimento pelo canto do meu olho. Era como
se meu cérebro já estivesse treinado para procurá-la. Bell apareceu junto
ao fogo novamente, Hunter ao seu lado, não se tocando, mas perto. Bell
deu um passo em direção às chamas, estendendo as mãos para aquecê-
las. Ela precisava da porra de uma jaqueta. Estávamos quase no verão
agora, mas ainda estava frio à noite.
CATHERINE COWLES
se combinassem para formar uma única imagem. Estendi a mão e agarrei
seu ombro. — Bell— O nome dela foi estrangulado pela emoção tentando
escapar da minha garganta.
— OK...
Ela agarrou minhas mãos, sua pele tão suave e delicada contra a
minha, carne que eu rasguei e parti. — O que está acontecendo?
— Eu sinto muito...
— Deus, Bell. Por tudo. Por dirigir muito rápido na chuva. Por brincar
com você e Vi em vez de observar a estrada com cuidado. Por não reagir
mais rápido. — Minha voz engasgou. — Eu não sabia. Eu não sabia que
você se machucou. — Estendi a mão, incapaz de me conter, colocando a
palma da mão sobre seu coração, exatamente onde suas tatuagens e
cicatrizes apareciam em seu vestido. — Suas cicatrizes. Eles são minha
culpa. Claro que você não pode me perdoar. Você tem que viver com o
lembrete de que eu te deixei assim todos os dias.
CATHERINE COWLES
Minha boca se abriu e fechou, mas não consegui encontrar palavras.
Claro que ela estava com raiva de mim por causa das cicatrizes.
Bell se inclinou para frente e colocou uma mão sobre o peito. — Essas
cicatrizes não me deixam feia, Ford. Eles dizem ao mundo que sou uma
sobrevivente.
CATHERINE COWLES
14
Abri a porta dos fundos e fui até as escadas. Quando eu estava prestes
a chegar ao último degrau, uma mão pegou meu cotovelo. — Bell,
espera...
Meu olhar viajou pelo rosto de Ford. Havia apenas uma palavra para
descrevê-lo. Devastado. Seu peito subiu e desceu em um ritmo que
combinava com o meu. Eu odiava sua dor, queria estender a mão e puxá-
lo para mim, mas não consegui. Porque por mais que eu não quisesse
CATHERINE COWLES
que ele se machucasse, não podia deixá-lo se aproximar o suficiente para
me causar mais dor.
— Eu nunca culpei você pelo acidente, Ford. — Era uma loucura para
mim que ele pensasse uma coisa dessas. — Ninguém é culpado. Por tanto
tempo, eu desejei que alguém a tivesse. Alguém ou qualquer coisa para
focar minha raiva e dor. Mas não foi você. Não foi o cervo. Não foi a chuva.
Para que a pessoa em quem você confiou com todo o seu ser pense tão
pouco de você, acredite que você o culparia por
um acidente simplesmente porque ele era o único ao volante... Meus
músculos se contraíram com o pensamento. Abri e fechei meus punhos,
tentando fazer com que o resto de mim se libertasse. Eu não aguentava
mais, doía muito.
CATHERINE COWLES
Peguei minha bolsa e chaves e desci as escadas do lado de fora. Prendi a
respiração e cheguei ao fundo, como se isso pudesse me tornar invisível.
Eu corri para o meu carro e sentei atrás do volante.
— Posso ficar aqui esta noite? — Minha voz falhou, as lágrimas fluindo
livremente.
CATHERINE COWLES
que você estivesse em sua jornada. Eu me aconcheguei mais fundo
debaixo das cobertas. — Te amo.
Suas mãos foram para seus pequenos quadris. — Você teve uma festa
do pijama e não me contou?
Engoli uma risada. — Que tal termos a nossa própria neste fim de
semana? — Os lábios de Mia se apertaram como se ela estivesse
pensando se isso era suficiente para fazer as pazes. — Vou trazer
guloseimas do The Mad Baker...
CATHERINE COWLES
O olhar de Will viajou pelo meu rosto, permanecendo nos meus olhos
que eu sabia que ainda estavam vermelhos e um pouco inchados. Ele não
disse uma palavra sobre isso, no entanto. — Vou pegar as bebidas de
todos.
— A qualquer momento.
Soltei um longo suspiro. — Eu não tenho certeza. Não tão forte como
na noite passada.
CATHERINE COWLES
Caelyn esfregou uma mão nas minhas costas. — O luto tem uma
maneira de distorcer o modo como vemos a nós mesmos e ao mundo ao
nosso redor. Ele pensando nessas coisas, não tem nada a ver com você.
É porque ele se culpa.
Meu corpo ficou tenso quando ela disse, amor. Claro que eu amava
Ford. Ele estava na minha vida desde o dia em que nasci. Mas a palavra
tinha a culpa borbulhando dentro de mim. Culpa pelos sentimentos que
tive pelo namorado da minha irmã, culpa pelos fios de atração que ainda
sentia hoje.
CATHERINE COWLES
Ela levantou um ombro e me deu um pequeno sorriso. — Porque ele
faz parte de você.
CATHERINE COWLES
15
Foi o egoísmo que causou mais danos. Não acreditar nas mentiras de
Heather. Não foi minha incapacidade de evitar o cervo. Não as cicatrizes
que haviam sido esculpidas na pele de Bell. E eu não tinha ideia de como
curar uma ferida que eu havia infligido por estar tão focado em mim
mesmo. E não era apenas Bell que eu machucava dessa maneira. Foram
meus pais. Hunter. Amigos do ensino médio que eu tinha ignorado e
deixado para trás.
Eu passei a mão sobre pelo meu rosto e virei para o mar. Eu queria
consertar isso. Para curar esses relacionamentos. Mas eu não tinha ideia
de por onde começar. Ondas após ondas colidiram com a costa. Eu podia
sentir cada golpe. Cada colisão era uma lembrança da mágoa que eu
infligi naqueles que amava porque não conseguia lidar com o passado.
CATHERINE COWLES
Inspirei profundamente, o ar frio e salgado picando no meu nariz. Eu
tinha que encarar isso. Talvez eu não consiga curar as mágoas passadas,
mas poderia me impedir de causar novos danos. Olhei em volta,
avaliando onde estava.
CATHERINE COWLES
Violet teria gostado se pudesse vê-la. Quem sabe, talvez ela pudesse. Não
havia nada na pedra que representasse quem ela foi para mim. Nada que
dizia primeiro amor ou algo parecido.
Estudei as flores ao redor da lápide. Não eram ramos como nos outros
túmulos. Eram plantas em vasos claramente muito bem cuidados. Eu me
ajoelhei no chão, encostado na lapide atrás de mim. — Sua irmã não
esconde as coisas como você. Não consegue esquecer tão facilmente.
Elas sempre foram tão diferentes quanto a noite e o dia, mas essas
diferenças pareciam se destacar ainda mais em contraste. As coisas que
eu tanto amava em Violet, sua gentileza, a comodidade que tínhamos um
com o outro, não sabia se seriam suficientes para mim agora. Só de
CATHERINE COWLES
pensar nisso, meu interior se agitou. Meu relacionamento com ela sempre
foi fácil. Nós nos conhecíamos de trás para frente.
Minha mente captou esse último ponto. Mas nós nos conhecemos? Ela
conhecia meus ingredientes de pizza favoritas e que eu sempre me
sentava no banco do meio da fileira do meio de uma sala de cinema, mas
ela sabia as coisas que estavam abaixo? Eu não tinha compartilhado com
ela o quanto eu queria viajar pelo mundo. Só tinha sugerido que eu
duvidara do nosso plano de ir para a Universidade de Seattle e depois
voltar para a ilha para me casar e começar uma família.
— Sinto muito, Vi. — Minha voz saiu engasgada quando uma lágrima
escapou. — Você mereceu muito mais. Uma vida cheia de todos os seus
sonhos se tornando realidade. Deus, eu queria tanto isso para você.
Mesmo que eu ache que não seria o homem que daria a você.
CATHERINE COWLES
Mordi o interior da minha bochecha. — Você ficaria muito orgulhosa
dela. Adoro vê-la brilhar. — Mas era mais do que isso, palavras que não
pude dizer em voz alta. Lugares que eu não podia me permitir ir, mesmo
na minha cabeça. Havia essa atração por Bell, baixa e constante, mas
cada vez mais forte. Eu não sabia o que fazer com isso. Eu continuava
tentando lutar contra isso, mas estava começando a duvidar que era forte
o suficiente.
CATHERINE COWLES
16
— Olhe para mim, Bell. — Não pude. — Por favor. — Foi a crueza em
sua voz que forçou meu olhar a obedecer. Havia tanta dor em seus olhos,
agonia que chamava pelos meus. Eu dei um único passo adiante. — Eu
estraguei tudo muitas vezes. Mas nada vai doer mais do que você pensar
que eu não me importo. Pensei em você todos os dias, queria
telefonar para vir vê-la...
— Então por que você não fez? — Meu tom não era acusador, isso era
fato. Eu só precisava da verdade.
CATHERINE COWLES
Eu apertei meus dentes. — Eu tenho tempo. — Não há mais rodeios.
Eu precisava ouvir tudo.
Seu corpo parecia tremer quando ele respirou fundo. — Quando pedi
a meus pais que encontrassem uma maneira de vê-la, eles me disseram
que seus pais haviam recusado o acesso deles. Eles não nos queriam nem
perto de você ou deles. Quando eu insisti, sua mãe veio ao meu quarto
de hospital e me informou que, se eu entrasse em contato com você eles
me processariam por homicídio culposo. Deus, Bell. Eu era tão jovem. Eu
pensei que sabia tudo. Mas olhando para trás, eu era apenas uma
criança. Ela disse que você não queria me ver, e parte de mim acreditava
nela.
CATHERINE COWLES
Era como se alguém estivesse rasgando meu interior. Lágrimas
queimaram meus olhos, tentando se libertar. — Ford... — Eu não sabia
o que dizer depois disso, só consegui dizer o nome dele.
CATHERINE COWLES
Ford estremeceu. — Eles não acharam que era o lugar deles. E eles
não queriam causar mais dor a você.
Fiquei tão magoada com a partida de Ford, por não estar aqui para
me apoiar, e ele era a única pessoa que eu queria, que eu não fui capaz
de considerar como tudo isso poderia ter transtornado sua mente.
Mentiras se enraizaram em sua cabeça e em seu coração. E elas estavam
gritando com ele por mais de uma década. — Não foi sua culpa, Cupcake.
— Um tremor o percorreu com minhas palavras. — Por favor, me ouça.
Não foi sua culpa.
CATHERINE COWLES
andássemos sem mancar, sem dor. E agora nós dois estávamos
totalmente quebrados.
— Sinto muito que meus pais tenham feito isso com você. Eu não
sabia. — A culpa fluiu em torno dos músculos e tendões, formando um lar
no meu peito.
Ford esfregou uma mão nas minhas costas. — Eu sei que você não
sabia, Trouble.
Eu queria saber o que ele estava vendo, a cena em que estava perdido.
Ele estava imaginando a garota que deixou para trás? Aquela que tinha
CATHERINE COWLES
sido todo joelhos e cotovelos. Ou algo completamente diferente? Eu limpei
minha garganta. — Depois da hora do almoço, você quer ir a um lugar
comigo?
— OK.
Era tão simples quanto isso com Ford. Ele não tinha a bagagem que
eu tinha. Porque eu amei esse homem a vida toda. Adorava-o quando
criança, quando eu o perseguia pelo quintal, minhas perninhas não
me levavam aonde eu esperava ir. Esmagou-me no ensino médio quando
assisti seus jogos de futebol com Vi. Eu caí de cabeça quando ele me
disse que eu era digna, mesmo que não quisesse ser médica como minha
irmã e meu pai. Eu o amaria para sempre, e o preço que eu teria que
pagar agora era a culpa. Culpa e sabendo que eu nunca teria a única
coisa que meu coração queria acima de todas as outras. Ele.
CATHERINE COWLES
17
— Não. — Ela sorriu para mim com aquele sorriso travesso que eu
costumava ver tantas vezes em seu rosto. Mas isso me afetou
diferentemente desta vez, mexeu em algo mais profundo. E, ao mesmo
tempo, havia um prazer doloroso, recuperando algo que eu pensei que
estava perdido para mim para sempre.
Abri a porta do passageiro do meu SUV, mas Bell não entrou, apenas
ficou olhando para mim, esperando que eu respondesse. — Eu senti
muita falta. Há muito o que conversar. — Eu não tinha certeza de qual
CATHERINE COWLES
seria sua reação a isso. Eu tinha perdido muita coisa por causa da minha
própria estupidez e egoísmo. Talvez ela não quisesse passar os meses em
que eu tinha certeza de que seria necessário me atualizar até mesmo
sobre as coisas importantes.
Bell se curvou, mas se virou para mim antes que eu pudesse fechar a
porta. — Talvez você esteja perdendo as coisas que dão vida ao coração.
Nem sempre são as grandes realizações glamorosas. Às vezes, são as
coisas cotidianas que têm significado.
Ela não estava errada. E eu basicamente caguei por todas essas coisas
do dia a dia. Meus pais. Meu irmão. The Catch. Bell. Eu defraudei a todos.
CATHERINE COWLES
Não havia nada que eu pudesse fazer para mudar o passado, mas com
certeza poderia fazer algo sobre o futuro. — Você sempre foi sábia apesar
dos seus anos.
Fechei a porta, com cuidado para ser suave. Se havia uma coisa de
que eu tinha certeza em tudo isso, era que eu não via mais Bell como algo
infantil. Seria muito mais fácil se eu o fizesse. Contornei a frente do meu
veículo e entrei. — Então, para onde?
Bell riu. — Espero que não seja tão ruim. — Ela soltou a bolsa, seus
olhos nunca deixando os meus, avaliando cuidadosamente qualquer
reação que eu pudesse ter. — Gosto de fazer piqueniques no túmulo de
Vi. — Meu coração disparou no meu peito, mas eu não disse uma palavra.
Bell pressionou. — Eu sinto falta dela. Sinto falta de falar com ela. Mesmo
quando ela não me entendia, ela estava sempre lá. Então, eu vou almoçar
e contar a ela sobre a minha semana. Compartilhar histórias loucas do
bar, o que estou lendo, quaisquer avistamento de baleias.
CATHERINE COWLES
Bell apertou os lábios e assentiu. — Sim. — Ficamos em silêncio por
um breve momento. — Você acha estranho?
Algumas pessoas podem achar isso mórbido, levar o meu almoço para
o túmulo. Tenho certeza de que as pessoas da cidade fofocavam sobre
isso como loucas. Mas eu conhecia o coração por trás disso. — Eu fui lá
pela primeira vez ontem.
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Tipo de sanduíche.
CATHERINE COWLES
Deus, eu senti falta disso. Tanto que parecia impossível que eu tivesse
ficado longe por tanto tempo.
CATHERINE COWLES
amarga por sua irmã ter sido tirada dela muito cedo. E ela não me culpou
pelo acidente. Ela estava simplesmente feliz por ter nós três juntos da
única maneira que poderíamos estar.
Eu senti que isso era verdade, mas também que ela estava escondendo
algo. Eu não a culpo. Eu ainda não tinha demonstrado ser digno de
possuir os seus segredos. Mas eu acabaria sendo. — É o mais bonito
aqui.
— Eu não vou discutir isso. — Bell sempre quis correr mais rápido,
pular mais alto e brincar com as crianças grandes. Eu sorri para o meu
colo quando me lembrei de que ela havia enganado sua mãe para assinar
uma permissão para deixá-la jogar futebol americano dizendo que era
uma forma de líder de torcida. Heather Kipton ficou horrorizada quando
ela e o marido apareceram no campo, esperando ver a filha vestida com
um uniforme de torcida e, em vez disso, a encontraram com roupas de
futebol e brincando com meninos dois e três anos mais velhos que ela.
CATHERINE COWLES
Bell gemeu, caindo de costas. — Fiquei de castigo por um mês.
— Isso soa bem. Novo item do menu? — Eu não tinha lido muito o
menu desde que voltei. Eu estava muito focado em números e pensando
em maneiras de trazer mais clientes.
— Boa.
CATHERINE COWLES
Bell olhou para a lápide. — Conto a ela sobre a minha semana. Como
se eu tivesse encontrado um pedaço de madeira especialmente obsceno
em minha caminhada hoje de manhã.
Bell riu, pegando o telefone e me mostrando uma foto que ela havia
tirado. Honestamente, parecia um pau torto. Tinha até uma
protuberância em uma extremidade, que parecia as bolas. Eu ri tanto
que meus olhos começaram a lacrimejar. — Por que você tirou uma foto?
CATHERINE COWLES
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Ela pegou sua bandeja. — Bom pra você. Aqueles caras na mesa seis
são gostosos.
CATHERINE COWLES
— Sim.
Ele limpou a garganta. — Eu sei que você não é uma criança, Bell.
— Boa. Agora, que isso já está resolvido, você tem alguns clientes
esperando por você. — Inclinei minha cabeça para o final do bar. Ford
abriu a boca como se quisesse dizer algo e depois fechou novamente, indo
até os clientes que o chamavam. Ford poderia saber que eu era uma
mulher adulta em teoria, mas eu tinha certeza que ele sempre me veria
como aquela garota de quinze anos em sua mente. E isso não acabou de
doer?
CATHERINE COWLES
Lacey e eu nunca nos tornamos amigas, para grande desgosto dos
meus pais. Mas nós ficamos principalmente em cantos opostos da vida
na ilha. Ela não vinha no The Catch desde que eu comecei a trabalhar
aqui. Claro, agora que Ford estava de volta, aqui estava ela. Fiquei
sinceramente surpresa por ter demorado tanto. Meu estômago revirou
quando os dois riram, Lacey passando seus longos cabelos loiros por
cima do ombro. Agarrei a borda do bar e forcei meu olhar de volta para o
homem na minha frente. — Uh, sim. Eu acho que as pessoas estão
empolgadas com a banda.
— De quem foi?
Eu sorri — E que isso seja um aviso para você nunca me irritar. — Ele
levantou as mãos em sinal de rendição. — Então, onde está seu chefe?
— Eu não tinha visto muito de Hunter desde que fizemos as pazes.
— Sempre faço. Toda a atenção que ele recebe das mulheres não pode
subir a cabeça.
CATHERINE COWLES
Ethan levantou a bebida em um brinde. — Amém a isso.
— Falando no diabo.
CATHERINE COWLES
que Ford voltasse à minha vida para eu perceber que eles ainda estavam
lá, apenas fervendo sob a superfície.
— Bell?
CATHERINE COWLES
— Bem, ele precisa aprender que eu posso cuidar de mim mesma, —
eu resmunguei.
Hunt me apertou com força e me soltou. — Ele vai. — Ele olhou para
o irmão. — E se ele causar algum problema, me avise, e eu o darei um
bem grande.
— Eu acho que estou bem, — disse Ethan, segurando seu copo ainda
meio cheio.
Ethan fez uma careta, olhando de Ford para Hunter e de volta. Ele
provavelmente estava debatendo se pedir outro Jack e Coca-Cola
terminaria em uma briga entre irmãos. Eu realmente esperava que não.
CATHERINE COWLES
Eu caminhei por entre as mesas lotadas, chamando a Darlene. — Você
precisa de ajuda?
CATHERINE COWLES
eles podem levar seus almoços para caminhadas diárias. Eu verificaria
as trilhas ao redor do penhasco e talvez fizesse uma viagem de caiaque
para observar as baleias.
CATHERINE COWLES
eu os pedirei que se retirem ou Hank me ajudará a fazê-lo. Eu não preciso
de você entrando e arruinando minhas gorjetas ou dos garçons.
CATHERINE COWLES
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Eu fiz uma careta para Caelyn. — Não dormi bem ontem à noite. Este
café vai me impedir de assassinar pessoas. — A verdade é que eu me virei
a noite toda, repetindo a discussão com Ford várias vezes na minha
cabeça. Agora que eu o tinha de volta na minha vida, odiava a ideia de
estarmos em desacordo. Mas havia muita bagagem em nossa amizade, e
parte de mim se perguntou se seria possível não explodirmos um no
outro.
— Tudo bem, vocês duas. Cada uma de nós tem suas próprias
maneiras de funcionar, e vamos deixar assim.
CATHERINE COWLES
Kenna soltou uma risada rouca. — Você parece uma criança amuada.
Nem todo mundo está apaixonado pelo seu nível de vida saudável.
Ela caiu contra o banco. — Oh, tudo bem. — Ela olhou de volta para
a água. — Agora sei por que ele nunca pediu sobremesa.
CATHERINE COWLES
Soltei um som estrangulado que era parte riso e parte tosse. — O que?
— Eu segui sua linha de visão até uma estrutura enorme que descia a
doca. Não só o homem era alto e fornido, mas também usava uma
expressão que ameaçava machucar quem se metesse no caminho.
— Por quê?
CATHERINE COWLES
— Hmmmm. — Kenna tamborilou com os dedos ao longo da lateral da
xícara de café. — Então, e a cena da noite passada no The Catch?
Claro que elas já sabiam. Sabiam desde o dia em que comecei a ter
aquelas borboletas voando na minha barriga quando Ford estava por
perto. Ouviram meus medos de que eu nunca sentiria por ninguém do
jeito que me sentia por ele. E elas me seguraram enquanto eu chorava
CATHERINE COWLES
quando soube que ele se foi para sempre. Então, é claro, sabiam que
esses sentimentos não iriam simplesmente desaparecer.
Eu sorri para ela, mas por trás disso era apenas uma pitada de
preocupação. A última coisa que ela precisava era construir aquele
homem introvertido em sua mente em algo que ele não era. — Certo, tudo
bem. Mas tenho que tentar alguma coisa, e não é como se houvesse
muitas opções em uma ilha de mil e quinhentas pessoas.
CATHERINE COWLES
Kenna virou-se na cadeira e ficou de frente para mim, colocando uma
longa perna embaixo dela. — O que há com o repentino desejo
desesperado de namorar?
— Eu ainda não posso acreditar que eles fizeram essa merda—, Kenna
murmurou.
CATHERINE COWLES
Caelyn apertou meu ombro. — Então você deve lutar por isso, querida.
Você sabe melhor do que ninguém que só tem uma vida preciosa.
Foi Kenna quem respondeu. — Porque ela sente que estaria traindo
Violet.
CATHERINE COWLES
20
— FORD HARDY.
— Eu estou.
Seu olhar voltou para mim. — Sem ter consideração pela família que
você destruiu, por quanta dor causará que eles vejam você aqui.
— Você com certeza ficou longe o suficiente antes. Mas agora você está
de volta e está partindo o coração de Heather. E não consigo imaginar
CATHERINE COWLES
como deve ser doloroso para Isabelle vê-lo no trabalho todos os dias. Você
precisa ficar longe daquela garota, de sua família. Conceda a eles
qualquer pouco de paz que lhes resta.
— Tenho que ser sincero, senhora Hotchkiss, isso não é da sua conta.
— Eu me afastei quando ela ofegou e depois caminhei na direção de The
Catch.
— Ford, espere!
Eu não tinha palavras para a mulher na minha frente. Ela poderia ter
sido amiga de Vi, mas eu nunca gostei dela, e agora, ela era basicamente
uma estranha. Se ela pensou que eu abriria minhas feridas para ela, ela
estava enganada. Antes que eu pudesse falar, a senhora Hotchkiss gritou
do outro lado da rua. — Lacey, fique longe desse cara. Nós precisamos ir.
Lacey olhou para a mãe e depois de volta para mim. — Eu sinto muito.
Eu vou ao bar em breve e nós podemos conversar.
CATHERINE COWLES
— Não é necessário. — Minhas palavras foram frias e eu não consegui
evitar.
— Não, você não está, e nunca entenderá. — Antes que ela pudesse
dizer mais alguma coisa, eu me virei e fui em direção ao bar. Era assim
que a vida em Anchor sempre seria, uma pessoa aleatória enfiando o
nariz nos meus negócios e me dizendo como se sentia sobre a minha vida,
o que eles pensavam que eu precisava fazer para curar. Ou pior. Bell pode
ter me perdoado, mas havia muitas pessoas nesta pequena ilha que não.
Fiz uma pausa por um momento, sem saber como responder. Era uma
tortura e exatamente onde eu precisava estar. Houve momentos, como o
que eu acabei de encontrar, que aqueceram meu sangue e trouxeram
minhas piores lembranças. Mas havia também uma sensação de paz em
Anchor que eu tinha esquecido, algo que nunca encontraria em Los
Angeles. Havia conforto em ter minha família próximo. E havia algo
completamente diferente em ter Bell ao alcance do braço. Algo em que eu
queria me apoiar, mas ainda não queria olhar muito de perto.
CATHERINE COWLES
A culpa me roeu por dentro. Austin sempre fora honesto comigo.
Claro, ele manteve suas emoções guardadas, mas nunca me escondeu
grandes eventos do seu passado. Eu escondi o que parecia uma vida
inteira dele e de nosso outro amigo, Liam. — Isso faz parte. Há algumas
coisas no meu passado... — Lutei para encontrar as palavras certas.
Como você contava a alguém algo assim? — No verão anterior à minha
ida para a faculdade, sofri um acidente. Minha namorada e sua irmã
estavam no carro comigo. Violet, minha namorada, não sobreviveu. —
Minha voz ficou mais rouca a cada palavra, captando as sílabas do nome
de Vi. — Eu não voltei desde então.
CATHERINE COWLES
outro membro. Ela era simplesmente uma parte de mim. Eu não
pensei muito sobre isso, apenas era. Essa garota, que sempre foi sábia
apesar dos seus poucos anos, viu coisas sobre mim que ninguém mais
viu, como se ela morasse dentro das partes mais profundas da minha
mente. E, Deus, eu senti falta disso quando essa parte de mim ficou
quieta, quando ela ficou em silêncio. Essas dores fantasmas nunca
desapareceram.
— Você está pior do que eu pensava, se você quer que eu chute sua
bunda.
Eu coloquei toda a força que pude para enviar a pedra na minha mão
para o oceano. — É tão complicado, pra caralho. É essa bagunça de culpa,
desejo e raiva e tantas outras coisas pelas quais não tem nome, e isso
está me fazendo questionar tudo.
CATHERINE COWLES
cabeça. Claro, Bell tinha sido dois anos mais nova que eu, mas ela era
adoravelmente fofa. Eu tinha perdido tudo o que ela trouxe para minha
vida porque eu estava distraído com a beleza clássica de Violet? Vi e eu
fazíamos sentido. Titular do time de futebol e uma das líderes de torcida.
Parecia tão clichê agora, tão... vazio. Eu a amava da maneira que
um garoto de dezoito anos podia, mas não tínhamos profundidade.
Conhecíamos os pedidos de café e o corpo um do outro, mas sabíamos
alguma coisa que ficava abaixo da superfície? Eu não tinha mais certeza.
— Assim é a vida Ford. Nada é tão preto e branco como queremos que
seja. Tudo são tons de cinza. Tudo o que podemos fazer é tentar fazer as
melhores escolhas com o que está à nossa frente.
CATHERINE COWLES
em mim. Eu soltei uma maldição. — Mas eu estou indo embora. Dentro
de alguns meses, eu vou embora novamente. Eu só precisava que
estivéssemos em um lugar melhor quando o fizer. Não quero perdê-la
quando partir. Isso significa que a única coisa que pode ser é amizade.
Havia muitos obstáculos em nosso caminho para ter mais. Eu nem tinha
certeza de que Bell queria mais, mas o jeito que eu a peguei olhando para
mim às vezes me dizia que poderia haver.
Austin ficou quieto por um momento. — Ford, não foi você quem me
disse para não perder a melhor coisa que já havia passado comigo? Eu
brinquei por muito tempo com Carter e quase a perdi. Não
consigo imaginar o homem que seria se a perdesse. Eu não quero isso
para você.
Inclinei minha cabeça para trás para olhar o sol espiando através das
nuvens cinzentas. — Não posso, A. Poderia estragar tudo. — Mais
importante ainda, minha chance de manter Bell na minha vida de
qualquer maneira real.
CATHERINE COWLES
Ele não tinha que me dizer isso, era tudo o que consumia minha
mente.
CATHERINE COWLES
21
— Isso tem algo a ver com um certo chefe nosso? — Darlene arqueou
uma sobrancelha.
CATHERINE COWLES
Esfreguei um ponto invisível na mesa. — Ele é todo seu.
Mas Ford não era meu. Todas essas pessoas estavam confundindo seu
jeito super protetor do irmão mais velho com ciúmes ou interesse. Só doía
mais saber como eles estavam errados.
O homem jogava sujo. Sua voz matinal sexy e meu apelido? Letal. Eu
limpei minha garganta. — Terminarei em um minuto. Eu só quero acabar
isso.
Alguns segundos depois, senti calor nas minhas costas. Muito perto.
— Tenho certeza de que a mesa estava limpa há vinte passadas.
CATHERINE COWLES
piscadela, caminhou na direção do armário onde guardamos os materiais
de limpeza.
Dei um tapa no ombro dela enquanto me dirigia para a pia do bar para
lavar as mãos. — Eu não posso lidar com o seu sarcasmo antes de tomar
meu café.
— Bem, venha aqui e tome um pouco deste delicioso café com leite
que aquele pedaço de homem acabou de trazer para você.
CATHERINE COWLES
— O que? — Eu não pude evitar gaguejar em minhas palavras. — Nós
não podemos. Nós temos que trabalhar. — Sem mencionar o fato de que
ficar sozinha com Ford no meu estado atual era uma ideia horrível.
Fiz uma careta para as costas dele quando ele se virou para pegar a
vassoura e a pá de lixo. — Eu vou limpar isso. Você vai subir as escadas
para vestir o que usa em caminhadas e depois nós sairemos daqui todo
o dia.
— Somos nós.
CATHERINE COWLES
F ORD PAROU seu SUV em um dos lugares de estacionamento nos
arredores da cidade. — O General Store? Para o almoço?
— O que é isso?
— Meu estômago.
Ele desligou o motor e pulou para fora do SUV. — Bom. —Parecia que
eu estava arrastando o homem para a morte, não a um local de almoço
em potencial.
CATHERINE COWLES
Ela se virou ao som da minha voz, os cabelos presos em um coque
casual, as pulseiras nos braços balançando. — Bell. O que você está
fazendo aqui? — Seus olhos se arregalaram para o homem atrás de mim.
— Ford. Oi. — Sua última frase saiu como um rangido.
Caelyn sorriu para nós dois. Merda. Ela estava tendo muitas
esperanças. Pude ver nos seus olhos, ela já estava escrevendo um grande
final romântico para Ford e eu, e isso a esmagaria quando as coisas não
fossem assim. — Isso, eu posso fazer por você.
CATHERINE COWLES
Eu parei com suas palavras. — Bem, já faz um tempo. — Eu não pude
evitar a atitude defensiva em minha voz. A ideia de que ele não gostava
da mulher que estava agora diante dele, me deu a súbita vontade de me
arrastar para dentro de mim.
CATHERINE COWLES
22
Eu caí para o lado dela, fazendo cócegas no local que eu sabia que
era extremamente sensível. Ela soltou um grito agudo que teve dois
pássaros de uma árvore próxima voando. — O que é que foi isso?
CATHERINE COWLES
combinou coisas em que eu nunca teria pensado. Meu sanduíche tinha
presunto e algum tipo de pasta de damasco, junto com coisas que eu nem
reconhecia. Mas tinha um gosto delicioso.
Com essa única palavra, eu sabia que a confiança não foi devolvida.
E queimava. Aquele fogo furioso. Não em Bell, mas em mim mesmo, por
destruir um dos presentes mais preciosos que já recebi. Mas isso era a
coisa da vida. Muitas vezes, não percebíamos que os presentes mais raros
e mais bonitos já estavam em nossa posse. Às vezes, nós não descobrimos
a verdade antes que fosse tarde demais. Recusei a deixar que fosse esse
o caso. Eu faria o que fosse necessário para consertar o que tinha
quebrado.
Ela sorriu. — Tudo. Por que você os iniciou? Qual é o seu favorito? O
que você fará a seguir.
CATHERINE COWLES
— Era outra coisa que era apenas lógica. Eu tinha algumas conexões,
pessoas que estavam dispostas a investir. O primeiro bar ainda é o meu
favorito. É o que eu passo mais tempo, aquele que foi o mais difícil de
entregar as rédeas.
— O gerente que está comigo há mais tempo. Eu confio nele, e ele está
fazendo um ótimo trabalho. Acho que ainda sou um pouco maníaco por
controle com meus bebês. Embora tivesse ficado mais fácil nos últimos
dois anos. Quando cheguei, liguei para Luke todos os dias, às vezes duas
vezes por dia, para verificar as coisas. Mas agora, eu me vi esperando por
seus relatórios semanais.
Eu olhei de volta para Bell. O sol batia em seus cabelos, mechas loiras
de seu rabo de cavalo captando a luz. Suas bochechas estavam rosadas
pela caminhada, e seus olhos verdes pareciam dançar e brilhar. Ela
nunca pareceu mais bonita. — O que deve ser difícil? — Havia uma dor
na minha voz que eu não conseguia disfarçar, uma mistura de emoções.
CATHERINE COWLES
O olhar de Bell voou para o meu. — Realmente? — Eu assenti. — Por
quê?
Meu olhar viajou sobre o rosto dela. — Acho que significa que estou
pronto para seguir em frente. — Ficamos em silêncio, o ar dançando entre
nós. Eu dei uma risada forçada. — Você sempre foi uma pequena e sábia
Yoda.
Era seu coração e alma que eram como Yoda. O resto dela era tudo
menos isso. — O que passa entre você e Hunter? — Amaldiçoei a
pergunta que havia escapado antes que eu pudesse considerar o que
poderia revelar.
CATHERINE COWLES
— Vocês estavam namorando? Amigos? — Minha respiração parou
enquanto eu esperava que ela respondesse.
Ela pegou o telefone e olhou para a tela. — Eu posso fazer isso. O que
você quer comer?
— Rocco's?
CATHERINE COWLES
— Justo. — Estacionei meu SUV em uma vaga no centro da cidade.
Saltando, fui abrir a porta de Bell, mas ela já estava fora do veículo. —
Eu teria feito isso para você.
Eu fiz uma careta na direção dela, e a risada que ela estava segurando
escapou. — Talvez eu quisesse ser um cavalheiro.
CATHERINE COWLES
Pietro pegou minha mão em um aperto vigoroso. — Qualquer amigo
de Bella é um amigo meu. Bem-vindo, bem-vindo. — Ele então pegou Bell
pelos braços e deu-lhe um beijo em cada bochecha. — Você está muito
magra. Você precisa vir aqui com mais frequência.
Bell nos levou a uma mesa contra a parede em direção à parte de trás
do restaurante, e eu não pude deixar de me perguntar se ela não queria
que nenhum transeunte nos visse. Eu não a culpo. Eu tinha certeza que
as pessoas falariam se nos vissem no que parecia um encontro.
Ela estava mais certa do que sabia. Bell e sua sabedoria Yoda. —
Pietro parece um personagem.
— Ele é o melhor. Venho uma vez por semana com Will, Ava e Mia
para dar uma folga a Caelyn e passar um tempo juntos com eles.
Pietro sempre faz uma sobremesa especial para eles e tem pequenos
brinquedos para Ava e Mia.
— As crianças?
CATHERINE COWLES
Eu assenti. Eu queria saber o que havia acontecido com os pais de
Caelyn, mas não queria bisbilhotar.
Abri meu menu. — Eu poderia vir com você no seu próximo encontro
semanal aqui. — Eu não tinha certeza de como Bell reagiria a essa ideia.
Talvez fosse como brincar de casinha. Talvez eu estivesse invadindo seu
tempo especial com Will, Ava e Mia.
— Isso é impressionante.
CATHERINE COWLES
Ele encolheu os ombros. — Se houver sobras, você as leva para casa.
— Nenhuma.
CATHERINE COWLES
A ponta afiada da minha raiva me pegou de surpresa. Por tanto tempo,
não senti nada além de culpa quando se tratava dos Kiptons. Mesmo
quando Heather ameaçou me processar se eu tivesse algum contato com
a família deles, eu deixei passar. Eu recebi toda a culpa que ela queria
colocar em meus ombros. Afinal, eu estava dirigindo naquela noite. Se eu
tivesse reagido de maneira diferente, talvez a filha dela ainda estivesse
aqui.
Mas agora, havia um fogo baixo no meu interior. Eu sabia que eles
estavam sofrendo, mas eles machucaram muitas pessoas com suas
ações. A filha deles, acima de tudo. E isso era algo que eu não tinha
certeza se poderia perdoar.
— O que... o que você está fazendo aqui? O que você está fazendo
com ele ? — Heather estremeceu.
Bell deu um passo à frente, mas sua mãe se moveu para bloqueá-la.
— O que você está pensando, Isabelle? Isso é uma vergonha.
CATHERINE COWLES
— Você também, pai. — As palavras de Bell eram um rouco sussurro,
cheio de tanta dor que parecia puxar os músculos em meu peito.
Olhei para ver Bell olhando fixamente para fora do para-brisa. — Seu
pai?
Bell virou-se para mim. — Eu não vi assim naquele tempo, mas sim.
Eu só precisava ser outra pessoa. Alguém que não desperdiçaria essa
vida preciosa que me foi dada. Eu não queria ser a pessoa que deixava
seus pais pressioná-la. Vi desperdiçou tanta energia se preocupando com
o que as outras pessoas pensavam dela. Perdê-la me fez ver como todos
perdemos tanto tempo em coisas sem importância. Eu não queria olhar
para trás e pensar que me afastei da vida que eu queria.
CATHERINE COWLES
A voz de Bell tropeçou em um soluço. — É como se eu desaparecesse
lentamente para eles. A pessoa que eles conheciam não existe mais, e
eles não têm interesse em conhecer a nova eu. Então, eu apenas... fui
embora.
CATHERINE COWLES
23
Movi meus dedos para frente e para trás ao longo da fenda, tomando
cuidado para não pressionar muito levemente ou com muita força. Era
um equilíbrio, delicado. Havia sempre alguma dor envolvida em trazer
um pedaço de volta à vida. Camadas de uma existência antiga que
precisavam ser removidas para que algo novo pudesse surgir. Às vezes,
eu até me via conversando com a peça. Explicando que toda a dor valeria
a pena no final.
Eu não tinha essas palavras para dizer hoje. Elas não seriam críveis,
nem mesmo para um móvel. Na noite anterior, meu sono tinha sido
agitado, salpicado de pesadelos e sonhos cheios de ansiedade que haviam
deixado minha camiseta e meu short úmido de suor. Eu me levantei antes
do sol e saí para o lugar onde sempre encontrava consolo.
Mas hoje não foi um alívio, soprei a fenda que acabara de lixar,
limpando a poeira. Isso bastaria por agora. Eu me endireitei, arqueando
as costas e olhando para o relógio na parede. Merda. Eu precisava tomar
banho e trocar de roupa para o trabalho.
CATHERINE COWLES
Meu estômago apertou ao pensar em ver Ford. Ontem à noite, ele me
segurou por pelo menos meia hora enquanto eu chorava tudo no
banco da frente do seu SUV. Quando finalmente me recuperei, não sabia
o que dizer. As coisas entre nós estavam mudando, mas eu não podia
deixar ir para onde eu queria. Amizade. Tinha que ser o suficiente. E por
mais que isso matasse, isso significava colocar um muro em volta do
meu coração. Chega de abraços cheios de lágrimas ou algo do tipo.
CATHERINE COWLES
Eu corri para frente, meus joelhos batendo no chão duro enquanto eu
caí. Meu álbum de lembranças. Eu rapidamente folheei as páginas, todas
as fotos se foram. Quando cheguei à última página, havia uma nota
escrita em letras pretas furiosas.
CATHERINE COWLES
olhou na minha cara. — O que diabos aconteceu? O que está
acontecendo?
CATHERINE COWLES
Ford me puxou mais apertado. — Ok, obrigado. Nós vamos ficar do
lado de fora. — Ele enfiou o telefone de volta no bolso. — Eles vão mandar
alguém, mas demorará um pouco. Por que não sentamos?
CATHERINE COWLES
— Eu sei eu sei. Isso foi estúpido. Mas esta é uma cidade pequena,
quase nada de criminoso acontece aqui. Entrei e estava apenas...
destruído. Quem fez isso ficou com muita raiva.
Engoli em seco, mas assenti contra seu peito. Eu não sabia quanto
tempo ficamos assim, mas finalmente, a respiração de Ford diminuiu e
seus músculos relaxaram um pouco. Ele aliviou seu aperto em mim, mas
manteve um braço em volta dos meus ombros. — Vai ficar tudo bem. Eles
vão descobrir quem fez isso. — Ele estudou meu rosto, olhos fixos na
minha bochecha, seu rosto endurecendo. — Você expulsou alguém do
bar ultimamente?
— Não desde o ano passado, eu não acho que é isso... — Minha frase
parou. Eu não sabia como dar voz ao que tinha visto. Se eu pronunciasse
as palavras, seria real e as imagens... isso parecia a maior violação de
todas.
— OK.
CATHERINE COWLES
— Comecei a fazer isso alguns meses depois que Violet morreu. São
todas as minhas memórias favoritas com ela. Há fotos, desenhos e
colagens. Tornou-se essa obra de arte viva. — Lágrimas começaram a
encher meus olhos. Eu investi muito naquele livro. Alegria, dor e tudo
mais. Toda vez que sentia falta da minha irmã, trabalhava em uma
página. Agora, quando eu precisava me lembrar dela, tirava da gaveta e
passava de alguns minutos a algumas horas rindo e chorando enquanto
recorria cada memória.
— Sim. — Seu corpo ficou rígido com o meu uso do pretérito. — Quem
invadiu arrancou todas as fotos. — Minhas lágrimas derramaram agora
e minha voz tremia. — Havia uma nota na parte de trás que dizia que eu
não a merecia, que nunca mereci.
CATHERINE COWLES
24
— Não, não vai—, eu rosnei. Eu sabia que não estava ajudando, mas
eu estava por um fio, e estava a ponto de perder a cabeça. Uma olhada
no interior do apartamento de Bell havia feito isso. A raiva que levaria
tanta destruição... quem quer que fosse o culpado, ele estava com
suficiente raiva para matar. Balancei minha cabeça um pouco e forcei
minhas mãos a relaxar.
Mas não tínhamos nos salvado. Na verdade, não. Nossas vidas foram
destruídas de uma maneira totalmente diferente. Eu queria bater no
CATHERINE COWLES
homem por trazer isso à tona. Mas como os policiais andavam por aí, isso
era uma péssima ideia.
CATHERINE COWLES
Bell se virou, escapando do meu abraço. — Novas fechaduras são
suficientes, não preciso de mais nada.
A ilha não tinha uma presença policial durante todo o ano, mas
durante o verão, o departamento do xerife contava com pessoal extra, e
cada ilha da nossa pequena cadeia tem seus próprios oficiais dedicados
para lidar com os problemas 24 horas por dia que vinha com um fluxo
de turistas. Eu encontrei o olhar do xerife. — Nós agradecemos.
O olhar dele percorreu seu rosto e desceu por seu corpo como se
estivesse procurando outros ferimentos. — Você vai ficar comigo até eles
pegarem esse cara.
CATHERINE COWLES
— Oh inferno, não. — As palavras saíram antes que eu tivesse a
chance de considerá-las. — Se ela ficar com alguém, será comigo.
CATHERINE COWLES
travesseiros do sofá foram cortados. O criminoso usou uma faca. Isso não
indica coisas boas.
Eu não tinha mais tanta certeza. Não quando sair significava não ter
Bell na minha vida diariamente. — Eu estou descobrindo isso também.
CATHERINE COWLES
— Ainda não.
Hunter moveu o queixo. — Bom. Fico feliz que você esteja acordando.
— Seu olhar perfurou o meu. — Senti falta do meu irmão.
CATHERINE COWLES
Depois de algumas batidas nas costas, Hunter me soltou e me deu um
empurrão. — Tudo bem, chega dessa merda piegas. Precisamos descobrir
o que vamos fazer com Bell.
CATHERINE COWLES
25
— Ford.
— Por que diabos sua fechadura nova não está fazendo o seu
trabalho? — Se as palavras de Ford não tivessem revelado à sua raiva, a
veia que bombeava na lateral do pescoço dele teria.
CATHERINE COWLES
Ford fez uma careta. — Eu não conto. Hunter, Crosby, Caelyn, Kenna
ou meus pais também não. Todo resto do mundo fica na lista de
suspeitos.
Ford estendeu a mão e agarrou a minha. O calor era tão bom, tão
reconfortante, e eu me odiei um pouco por deixá-lo descansar lá. Este
homem pertenceu à minha irmã durante a maior parte de nossas vidas.
CATHERINE COWLES
E mesmo que meu coração o tivesse reivindicado, ele não tinha sido meu.
— Venha ficar comigo por alguns dias. Pelo menos até que possamos
limpar tudo isso.
Eu balancei minha cabeça e tirei minha mão da dele. Não posso. Por
um milhão de razões diferentes. Mas acima de tudo, porque eu sabia que
se saísse agora, nunca mais voltaria. Eu precisava recuperar meu espaço.
Exorcizar qualquer energia desagradável que permanecesse por aí e fazer
o meu lugar novamente. Talvez Caelyn pudesse queimar um pouco
daquela sálvia que tanto gostava. — Eu preciso ficar aqui.
Meu olhar voltou-se para o de Ford. — Foi você quem falou com ela,
não foi? — Kara usou sua melhor voz preocupada e me fez sentir horrível
por me recusar a ficar com Ford, mas eu sabia que precisava estar aqui.
— Você é o pior.
— Kenna e Caelyn estão vindo mais tarde, e Kenna vai passar a noite.
Eu não vou ficar sozinha.
CATHERINE COWLES
esse bastão desde quando te convenci que queria experimentar o
beisebol.
— Homem inteligente.
CATHERINE COWLES
Recusei-me a desviar o olhar. Não poderia mesmo se eu tentasse,
porque aqueles olhos azuis dele pareciam me prender. — Eu não posso
tocar em você assim.
Ele não disse uma palavra, mas havia uma atração em seu olhar, uma
que me fez inclinar para frente em vez de para longe. Ele deslizou a mão
sob a mecha do meu cabelo. —Trouble...
Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, a porta se abriu.
Caelyn parou com um grito agudo enquanto olhava para nós dois. — Opa,
eu sinto muito. Estamos interrompendo?
CATHERINE COWLES
Ford murmurou uma maldição, sabendo que eu estava mentindo
entre os dentes. — Eu estarei lá embaixo até fechar.
CATHERINE COWLES
Engoli de volta a bola de emoção se acumulando na minha garganta.
— Obrigada. — Eu liberei meu braço sobre as duas. — Mas eu preciso
ficar aqui. Eu preciso torná-lo meu lugar seguro novamente. Livrar-me
de todas as más lembranças e deixar apenas as boas.
CATHERINE COWLES
26
Olhei para Crosby por uma fração de segundo antes de voltar minha
atenção para as bebidas que eu estava fazendo. — Ela está aguentando.
— Aguentando e deixando bem claro que ela não me necessitava. Seu
sistema de apoio estava firmemente no lugar, e eu não fazia parte dele.
— Você a ama?
CATHERINE COWLES
— Não é assim. — Meus sentimentos por ela se transformaram ao
longo dos anos com certeza, mas a coisa mais louca era que eles
cresceram até quando estávamos separados. Eu não tinha percebido isso
na época, mas esses sentimentos sempre estiveram lá, constantemente
destruindo minha decisão. Ela sempre foi a coisa que me tentou a voltar.
Mesmo com o medo de que ela me culpasse pelo acidente, eu não
conseguia me lembrar de nós dois, do tipo imprudente, do tipo que
acendia um fogo em mim para chamá-la, vê-la. Essas lembranças
imprudentes quase me deixaram de joelhos. Eu não conseguia contar as
vezes que peguei meu telefone e passei o dedo sobre o nome dela nos
meus contatos. No entanto, eu sempre resisti.
Não era um plano ruim. Eu sabia que a única coisa que não podia
fazer era recuar. Quando Bell me afastava, eu precisava me manter firme.
Eu tinha que mostrar a ela com minhas ações que eu estava aqui para
ficar. Palavras bonitas não eram suficientes.
CATHERINE COWLES
— Foi muito ruim? — Ethan perguntou.
Deslizei duas cervejas pelo bar para Hunter e Ethan. — Isso não é
uma má ideia. — Por mais que eu odiasse a maneira como as fofocas se
espalhavam nesta cidade, as pessoas realmente se importavam. Eles
queriam ajudar sempre que podiam.
CATHERINE COWLES
Meu queixo endureceu. — Assustada, mas determinada.
— Estou entendendo que isso significa que ela não vai ficar com
nenhum de nós.
CATHERINE COWLES
ficar. O que as duas fariam se alguém maior e mais forte invadisse? —
Acho que vou ficar no escritório.
Eu ri. — Mas eram seus olhares doloridos que sempre faziam com que
mamãe o perdoasse.
Crosby gritou. — Talvez sua aparência dolorida faça Bell sentir pena
de você.
Eu me senti um pouco mal pelo xerife Raines. Ele não tinha ideia do
número de chamadas que seu escritório receberia amanhã. Todos, de
cidadãos bem-intencionados a avós intrometidas, ligariam para ele. Mas
talvez um deles tenha visto algo útil.
CATHERINE COWLES
Eu olhei para cima limpando o balcão. — Não, você vai para casa,
Hank.
— Sim. Vou dormir no escritório, mas deixo a porta aberta para poder
ouvir se alguém tentar arrombar.
— Eu vou. — Fiquei feliz por Bell ter encontrado pessoas boas como
Hank, que a teriam de volta, que a tiveram enquanto eu estava fora.
Agora, eu só precisava provar que também poderia ser uma dessas
pessoas.
CATHERINE COWLES
Minha coluna se endireitou. Este foi o primeiro incentivo que eu recebi
do círculo interno de Bell. — Eu não estava pensando nisso. Você tem
alguma dica?
CATHERINE COWLES
Eu assenti. Eu manteria o maldito ritmo se isso me matasse. Mas,
pela primeira vez em muito tempo, algo estranho invadiu meu peito. Algo
que parecia muito com esperança.
CATHERINE COWLES
27
A voz aguda de Ford me fez gritar e puxar meu braço para trás,
enviando meu delicado equilíbrio fora de controle. — Ah Merda. — Meus
braços tremeram, mas assim que comecei a balançar para o lado, braços
fortes me pegaram e me puxaram em outra direção. Eu pousei com
um oomph contra um peito duro. Felizmente, foi minha bochecha sem
marcas que levou o peso da minha aterrisagem.
CATHERINE COWLES
Dois dos caras haviam voltado para Seattle e voltariam no final da tarde
para terminar o trabalho. Eu pensei que era um desperdício perder um
dia inteiro de trabalho, mas Ford insistiu e ele era o chefe.
Ford olhou pela porta dos fundos para a oficina. — Faça-me um favor
e tranque a porta.
— Obrigado.
Eu balancei a cabeça, indo para o bar. Eu não sabia mais o que dizer
para Ford. Mas enquanto eu me afastava dele, meu corpo parecia
revoltar, meu estômago revirou e meu coração afundou. — Acostume-se
a isso, — murmurei para mim mesma. Ford poderia ficar cansado de Los
Angeles, mas também não ia ficar em Anchor.
CATHERINE COWLES
quando vi a forma de Ford quando ele entrou. — O que há com você me
seguindo escondido?
Ele deu alguns passos à frente. — Você trabalhou nisso a tarde toda?
— Eu não estava sugerindo isso. Mas você merece ser paga por todo o
seu trabalho duro.
CATHERINE COWLES
Minhas bochechas esquentaram. — Obrigada.
— A maioria das peças do bar são coisas que eu arrumei. Mas nem
tudo. — Com quem eu estava brincando? Era noventa e nove por cento
meu.
CATHERINE COWLES
Soltei uma risadinha, mas era pequena em sua falsidade. Ele queria
que eu falasse em voz alta? Que eu o amava, mas não podia tê-lo? Que
um dia ele iria embora de novo? Que eu dancei na sombra da minha irmã
a maior parte da minha vida, e não corri o risco de fazer isso em um
relacionamento também? Meu estômago revirou com o pensamento
dele me comparando com Vi. Sua beleza clássica e graça para o meu
ímpeto e corpo marcado. Eu não conseguia olhar nos olhos de Ford e ver
a verdade lá.
Ele nunca desviou o olhar dos meu quando fez a pergunta, manteve a
voz calma e contida, mas as palavras me fizeram estremecer. Eu confiava
nele. Confiava nele com todo meu ser, exceto o meu coração. Eu mantive
meu olhar firmemente preso ao dele. — Não. Eu não.
Eu era fraca. Tão fraca. Deixar que o medo dele partir, da possível
comparação, a culpa de sempre ter amado um garoto que pertencia à
minha irmã, corroem minha força, minha coragem. E essa fraqueza me
custaria minha chance de felicidade.
CATHERINE COWLES
28
CATHERINE COWLES
minha visão entrar em túnel. Minhas pernas pareciam sair de baixo de
mim, incapaz de obedecer à ordem do meu cérebro de ficar em pé.
CATHERINE COWLES
enviando mais água salgada no meu rosto e olhos. Eu me endireitei, me
preparando para outro golpe, mas uma voz profunda da própria praia
chamou.
— Sim.
— Chama a polícia.
CATHERINE COWLES
Crosby estava ao meu lado em um segundo. — Uau. Devagar ai
embaixo. Você precisa sentar.
CATHERINE COWLES
29
CATHERINE COWLES
Uma mão descansou no meu ombro. — Ele está respirando, Bell. E os
paramédicos estão a caminho
— O xerife?
Uma garganta pigarreou e olhei para cima para ver que o terceiro
homem era Griffin Lockwood, e ele estava encharcado. — Eu estava
voltando para o meu barco e vi dois caras brigando na praia. Eu pensei
que eram apenas alguns idiotas de turistas bêbados, mas eu gritei, e um
cara foi embora.
Sirenes soavam ao fundo, e meu olhar voltou para Ford. — Eles estão
aqui. Eles te ajudarão. — Eles teriam que ajudar. Eu não o perderia
também.
CATHERINE COWLES
— Não. — Eu me encolhi com a nitidez na minha voz. — Talvez ligue
para Hunter, mas não ligue para Kara e Frank. Não quero que eles se
preocupem. Se essa notícia desse outro golpe a Frank, eu nunca me
perdoaria.
CATHERINE COWLES
O Dr. Park ergueu os olhos do gráfico. — Ele precisará de alguém para
ficar com ele, sim. Acordá-lo a cada poucas horas e fazer perguntas
simples. Mas, sinceramente, descobrimos que os pacientes se recuperam
melhor em suas próprias casas.
CATHERINE COWLES
— Você só me avisa se precisar de um pouco de suco ou bolacha, e eu
vou arranjar um pouco.
Fiz a última coisa que queria. Eu comecei a chorar. Era como se todas
as emoções que eu estava segurando nas últimas doze horas se
derramassem de uma só vez.
Seu braço que não estava na tipoia estendeu a mão para a minha. Eu
peguei avidamente. — Você não tem nada para se desculpar.
— Eu quase te perdi, e a última coisa que disse foi que não confiava
em você. — Os soluços começaram a voltar a sério.
CATHERINE COWLES
— Bell. — O rosto dele se suavizou. — Eu não deveria ter ido embora.
Eu não recuperei sua confiança, está tudo bem. Mas será algum dia.
Peguei sua mão na minha, tentando não a segurar com muita força.
— O que diabos está acontecendo por aqui?
— Nós vamos.
CATHERINE COWLES
Meus olhos se estreitaram. — Você esquece que eu sei quando você
está mentindo. — Eu conhecia todas as histórias de Ford, e o movimento
de seus olhos era um claro indicio.
Ford fez uma careta. — Não há muito que ajude, temo. Um homem.
Da minha altura e peso. Mas não consegui ver nenhuma característica
reconhecível. Estava escuro. Ele estava usando um chapéu. E meus olhos
estavam cheios de água salgada.
CATHERINE COWLES
você pensar em algo novo, escreva-o, e discutiremos isso amanhã. E terei
agentes fazendo rondas pela sua casa e The Catch.
CATHERINE COWLES
Eu me virei para Ford, seu rosto estava sério novamente enquanto ele
falava. — Eu estava com tanto medo, Bell. Aterrorizado que em seguida
o cara fosse atrás de você, ou que ele já tivesse te machucado.
CATHERINE COWLES
30
— Merda. — Esfreguei uma mão, o braço que estava livre, sobre meu
queixo barbeado e depois lentamente balancei as pernas para o lado da
cama e me sentei, deixando escapar uma ladainha de maldições. As
costelas seriam a minha morte.
CATHERINE COWLES
— Claro que estou bem. Por que você está se contorcendo na posição
mais desconfortável do mundo no meu sofá, em vez de ficar em um dos
outros quatro quartos?
Foi a vez de Bell fazer uma careta agora. — Porque eu não queria
dormir profundamente. Eu tinha medo de não ouvir meu alarme e dormir
com ele quando deveria acordá-lo.
— Estou bem.
Antes que Bell pudesse responder, houve uma batida na porta. Ela
saiu do sofá como se fosse atender, mas eu a prendi com um olhar. —
Nem pense nisso. — Eu virei para a porta. Enquanto a parte de trás da
casa era composta por janelas que davam para o penhasco e o oceano
abaixo, a frente foi projetada para oferecer privacidade e segurança. Não
havia outra maneira de entrar ou sair da casa a não ser pelas pequenas
vidraças da porta da frente.
CATHERINE COWLES
— Bom dia, Ford. Como está se sentindo?
— Não, não é.
Bel assenti. — Ok, Parker, posso pegar um café para você? Ford e eu
estávamos prestes a tomar o café da manhã.
Ele estendeu a mão para indicar que Bell deveria indicar o caminho.
— Nós podemos fazer isso na cozinha. E nunca direi não ao café.
O xerife passou a mão pelo rosto, chamando a atenção para olhos que
claramente não tinham dormido o suficiente. — Não é isso que ajuda de
maneira significativa. O banco teve um breve vislumbre de alguém em
suas imagens de segurança, mas é por trás e não nos dá muito mais do
que já tínhamos antes.
Eu sabia que Bell esperava tanto, mas eu estava esperando que eles
tivessem algo útil. Parker pigarreou. — Eu preciso conversar com vocês
dois sobre algo, e não vai ser agradável.
CATHERINE COWLES
Seus músculos estavam visivelmente tensos quando ela pousou o
utensílio. — O que você está tentando dizer?
Meu olhar foi para Bell. Ela engoliu em seco. — No topo da lista
estariam meus pais. Eles ameaçaram processar Ford se ele tivesse algum
contato comigo ou com eles.
CATHERINE COWLES
Parker assentiu. — Eu vou ter que falar com eles. Existe mais alguém
em que você possa pensar? Alguém que expressou pensamentos ou
sentimentos que pareciam estranhos ou fora de lugar?
Essas pessoas não estavam erradas. Eu deveria estar lá, não importa
o que os pais de Bell tenham ameaçado. Uma mistura tóxica de raiva e
culpa rodou em meu intestino. — Sinto muito, Trouble. — Sussurrei as
palavras em seu ouvido, mas tinha certeza de que Parker ouviu.
Bell virou nos meus braços. — Não. Você não permitirá que os críticos
idiotas o façam se sentir culpado. Você estava sofrendo. Você tinha
dezoito anos e estava com medo. Nós dois cometemos erros, mas não
vamos permitir que pessoas que não têm lugar em nossas vidas nos
façam sentir mal por algo sobre o qual não sabem nada.
Puxei-a de volta contra mim com meu braço bom, pressionando meus
lábios no topo de sua cabeça. Os aromas de jasmim e aquela coisa que
eu sempre associei com Bell, mas nunca consegui identificar,
CATHERINE COWLES
encheram meus sentidos. Eu a respirei, deixando a fragrância acalmar
meus nervos tensos. — Nós levamos você a sério, Trouble. Confie em mim.
CATHERINE COWLES
Deslizei minha mão sob a mecha dos cabelos de Bell, apertando seu
pescoço. — Pareceu ameaçador para mim. Pedi à equipe que ficasse de
olho, mas ninguém viu nada.
Parker anotou mais algumas coisas. — Você tem o lenço? Algum dos
presentes?
— Claro. Caelyn está no comando hoje. Ela tem uma chave extra para
o meu apartamento, e eu posso lhe dar o código de segurança.
CATHERINE COWLES
não sei, mas vamos descobrir. — Ela não parecia especialmente
esperançosa. E Deus, eu odiava isso. — Vamos tomar café da manhã, e
minha mãe me deu uma caixa de coisas que ela guardou para mim. Eu
acho que existem anuários lá. Podemos examiná-los e ver se isso guarda
alguma lembrança para você.
CATHERINE COWLES
— Campeões estaduais no seu primeiro ano. Lembro desse jogo. —
Bell pegou o troféu, tirando o pó da placa.
— O que mais você tem aí? — Bell ficou de pé, debruçado sobre a caixa
e tirou uma foto emoldurada. O polegar dela traçou o vidro. — Vocês dois
pareciam tão perfeitos naquela noite.
CATHERINE COWLES
— Esse foi o dia do serviço comunitário. Estávamos no time que pintou
bancos no parque e tenho certeza de que acabamos nos pintando mais
do que os bancos.
Algo que parecia muito com esperança brilhou em seus olhos antes
que ela o destruísse. — Qual é o próximo?
CATHERINE COWLES
— Ela adorou. Mas Hunter traçou a linha quando ela se ofereceu para
compartilhar seu batom.
— Eu também.
Fechei o livro com um baque. — Trouxe de volta algo que pode ser
útil?
CATHERINE COWLES
estavam do meu lado, por assim dizer, mas acho que a maioria não quis
dizer isso.
CATHERINE COWLES
31
Meu peito arfava quando eu queria ter meu coração sob controle. —
Isso foi...
CATHERINE COWLES
Mordi meu lábio quando o calor atingiu minhas bochechas. — Mas
você parou.
O rugido nos meus ouvidos estava de volta. Este foi um momento que
eu sonhei desde que percebi que os meninos podem ser mais do que
colegas e colegas de escola. Meu coração parecia bater no meu peito. Eu
estava em guerra comigo mesma. Eu queria Ford mais do que meu
próximo suspiro, mas estava aterrorizada. — Eu quero você. Nós. Mas...
CATHERINE COWLES
Peguei um travesseiro e joguei nele, mas Ford bateu com a mão boa.
Peguei outro e apontei para ele. — Você tem um problema real de
autoestima.
Estendi o travesseiro para mantê-lo na raia. — Oh, não, você não. Vou
dar um soco em seu ombro ruim, e não pense que não vou.
Engoli minha risada com a lembrança, mas tentei arrumar meu rosto
em uma careta. — Ele não era um idiota. Ele era perfeitamente legal. Um
dos poucos garotos em que você não colocou o temor de Deus.
Revirei os olhos. Ele não estava errado. Jim durou apenas uma
semana depois da proeza. Peguei minha camiseta e fomos para o SUV.
Eu fiz um movimento pelas chaves. — Você não vai dirigindo a lugar
nenhum até sair dessa tipóia.
CATHERINE COWLES
Estendi minha mão. — Você ouviu o que o médico disse, sem dirigir
por duas semanas. — Ford não se mexeu. — Não me faça ligar para o
xerife Raines e fazer você ser preso.
CATHERINE COWLES
— Obrigado. É bom te ver.
— Você também... — A voz dela sumiu quando ela olhou de Ford para
mim e voltou. — Vocês dois não são... ?
— O que ela é educada demais para dizer é que isso não é da sua
conta. — Havia uma ponta dura na voz de Ford. — Mas posso ver que
você não está tão focado em manter os clientes, então vamos sair.
CATHERINE COWLES
um momento, observando todos os detalhes da forma de Ford, os
músculos tensos, os olhos ardentes e meu coração afundou. — Esse tipo
de coisa? Isso vai acontecer mais de uma vez. Esta é uma comunidade
pequena e as pessoas pensam que é seu direito compartilhar suas
opiniões sobre sua vida. A gente namorando, ou como você quiser
chamar... as pessoas vão falar. Se você não pode lidar com isso, é melhor
desistirmos antes que um de nós se machuque. — As palavras
queimaram minha garganta enquanto eu falava, e eu sabia que a perda
da possibilidade do que Ford e eu poderíamos seria me quebraria.
Mas eu não tinha certeza de que ele estaria em paz com o que as
pessoas desta ilha disseram sobre ele. E o que isso significava para a
nossa esperança de futuro?
CATHERINE COWLES
32
Hunter trazia sua equipe para almoçar todos os dias, às vezes voltando
para jantar também. Kenna veio me checar antes e depois do trabalho. E
Ford havia instruído toda a equipe de The Catch a não me deixar sem
vigilância por um momento. Foi por isso que Caelyn estava me olhando
torto enquanto eu caminhava pelo corredor.
Depois que eu fiquei em um dos quartos de Ford por mais duas noites,
e ele estava livre de sua tipoia e no caminho da recuperação, eu disse a
ele que estava voltando para casa. Ford não estava feliz. Na verdade, ele
CATHERINE COWLES
ligou todas as noites para ter certeza de que eu havia trancado todas as
minhas janelas e portas e acionado o alarme. Passamos de compartilhar
um tórrido beijo, para se como ele me visse como uma irmãzinha
novamente. Claro, ele me tocou, até roçou sua boca contra mim, mas
esses toques labiais só vieram em privado, longe de qualquer um que
pudesse julgar. E eles estavam sentindo falta do calor daquele primeiro
abraço.
CATHERINE COWLES
estavam meus pais. Ok, talvez meu pai não parecesse irritado, mas
minha mãe compensou isso. — Ei.
Eu não tinha certeza do que mais dizer. Eles deviam ter ouvido falar
sobre o meu apartamento ser vandalizado, e eu nem recebi uma ligação.
Foi uma verificação da realidade. Eles não faziam mais parte da minha
vida, e as chances eram de que nunca o fariam.
CATHERINE COWLES
e que nunca mais queria ver meu rosto. Eu poderia perdoá-la por muito,
por querer que eu fosse alguém que não era, por não ser capaz de me
amar por quem eu era, mas acho que nunca seria capaz de perdoá-la por
isso.
Eu ri, mas era baixo e feio. — Mãe, eu tenho tudo a ver com ele. Eu
sempre tive.
Ela ofegou. — Você não fez. Você não faria. — Ela estava assumindo
algo que não era exatamente verdade, mas eu não me importei. Ford
estaria na minha vida pelo resto dela. Não importava em que capacidade.
Ele era minha família, mais do que a mulher na minha frente era ou seria.
Os olhos dela se estreitaram. — Você pode cuspir no túmulo de sua irmã.
Ele a matou.
O calor ardia nos olhos de minha mãe. — Deveria ter sido você. Vocês
dois. — A voz dela falhou. — Não a minha linda Violet.
Hunter apareceu nas costas dos meus pais. — Acho que é hora de
você sair, e vou ter que pedir para você não voltar.
CATHERINE COWLES
— Eu não sou sua filha. — Eu disse as palavras baixas, mas todo
mundo as ouviu. — Você já perdeu uma filha. Parabéns, agora você
perdeu outra.
Minha mãe engasgou e eu não conseguia nem olhar para o meu pai.
Sua reação não importava. Ele era covarde demais para ficar contra sua
esposa, então nada disso importava.
Com um aceno brusco, saí pela porta dos fundos, tentando escapar
das paredes que pareciam estar se fechando.
CATHERINE COWLES
33
CATHERINE COWLES
— O que você acha que aconteceu? Eles fizeram uma cena. Essa mãe
dela é uma verdadeira vadia.
— Aceitar o que?
— Eu sei.
CATHERINE COWLES
um tapinha no ombro dele. — Eu não vou a lugar nenhum, Hunt. Na
verdade, estou pensando em ficar. — Isso estava circulando em minha
mente há semanas. Bell tinha me perdoado, ela estava me dando uma
chance, e eu poderia aturar os moradores, críticos e intrometidos, se isso
significasse que eu a tinha.
— Eu não quero contar nada a ela até que eu tenha tudo resolvido. —
A última coisa que eu queria fazer era prometer algo a Bell e voltar atrás
na minha palavra. Não achei que sobreviveríamos a isso. Sem mencionar,
as duas últimas semanas foram agitadas, para dizer o mínimo. O bar
estava lotado, mais com moradores intrometidos querendo saber o que
havia acontecido do que qualquer outra coisa, mas eu pegaria o dinheiro
deles com um sorriso. Eu tive que fazer viagens a outra ilha para
consultas médicas de acompanhamento, já que não achei que fosse uma
boa ideia marcar uma consulta com o único médico de Anchor, o pai de
Bell. Meus pais precisavam ter certeza de que seu filho estava seguro e
se recuperando. Mal tive um momento a sós com Bell.
Meu irmão me deu um tapa nas costas e depois segurou meu ombro.
— Eu também a amo. E se você a machucar... — A dor brilhou nos olhos
de Hunter. — Apenas não.
CATHERINE COWLES
Eu endureci. — Não há, nunca houve nada parecido entre vocês dois,
certo? — Bell disse que não havia, mas algo no tom do meu irmão me
deixou tenso.
Hunter zombou. — Não. Nada como isso. — Seu olhar voltou para a
forma de Bell na praia. — Isso não significa que eu não me importo com
ela, no entanto. Só não a machuque.
Engoli em seco. — Farei tudo o que puder para impedir que isso
aconteça.
— Boa.
Empurrei a porta dos fundos e fui até Bell. Meus olhos examinaram a
praia circundante e as árvores que ladeavam a costa. Eu odiava como ela
estava exposta, que alguém poderia ter ido até ela. Eu não me importava
o quanto ela estava brava com seus pais, isso não significava que ela
poderia correr riscos com sua segurança.
CATHERINE COWLES
Bell ficou em silêncio por um momento. — Dizer em voz alta não muda
nada.
Suspirei, passando a mão pelas costas dela. — Pode não mudar nada,
mas nomear pode tirar um pouco do poder. — Seus olhos se voltaram
para os meus por um breve momento antes de voltar para a água. — Eu
tive uma longa conversa com Vi no túmulo dela depois que cheguei aqui.
Não mudou o fato de que ela se foi, mas nomear essa culpa, dizer em voz
alta todas as maneiras que eu fodi... isso tirou um pouco do poder que a
culpa tinha sobre mim.
— Mas você não quer falar sobre seus pais. — Meu coração se partiu
por causa dela, e tive o repentino desejo de sacudir a mãe e o pai dela até
que eles acordassem e percebessem o dano que estavam causando à
única filha que eles tinham.
Bell brincou com uma linha que havia se soltado em seu short jeans,
torcendo-o ao redor do dedo. — Ela nunca vai me entender. Ela não quer.
Ela só quer se apegar à raiva, porque se ela se apega a essa raiva, não
precisa sentir a dor. — Meu coração se partiu um pouco mais, também
por Heather Kipton, uma mulher que simplesmente não estava preparada
para lidar com esse tipo de perda.
CATHERINE COWLES
e quando as coisas reais borbulham como hoje, quando sua cara
verdadeira aparece, é doloroso demais.
Bell pressionou sua bochecha no meu peito. — Toda vez que dou um
passo para trás, sinto-me tão culpada. Mas hoje foi a gota d'água. A
mente da minha mãe... é muito complicada, ela criou essa história para
alimentar sua raiva, mantê-la acesa, e eu me recuso a fazer parte dela.
— Bom.
CATHERINE COWLES
— Eu estou bem aqui.
Ela esteve aqui nas últimas duas semanas, mas ainda a sentia tão
longe. — Você poderia me fazer um favor?
— Depende do que é.
— Por favor. Eu preciso disso. Saber que você está segura. Que seus
pais não serão capazes de aparecer sem aviso prévio e ficar cegos de
novo... — Minhas palavras foram cortadas porque percebi que toda a
preocupação super protetora não me levava a lugar nenhum com Bell.
Ela não queria ser protegida. — Bell, eu quero você comigo. Na minha
vida. No meu espaço. Sim, quero ter certeza de que você está segura, mas
também quero que você se aproxime.
CATHERINE COWLES
Eu balancei minha cabeça enquanto estava de pé, rindo para mim
mesmo. Eu acho que a honestidade realmente valia a pena no final.
34
— V OCÊ NEM sequer pense em levantar isso— gritei para Ford quando
ele estendeu a mão para o balde de gelo que eu havia colocado na frente
da nossa caixa de gelo.
Crosby riu. — Cuidado, cara, não quero ser atingido por uma régua.
Eu fiz uma careta para ele. — Ele ainda está se recuperando. O médico
disse que ele precisa ter cuidado ao levantar por mais uma semana.
CATHERINE COWLES
— Você que gosta de mim, Trouble, — Ford chamou em uma voz de
canto enquanto servia uma fileira de doses.
— Tanto faz. — Kenna voltou sua atenção para mim. — Você e Caelyn
podem dar um tempo?
11
Days of our Lives é uma telenovela exibida originalmente pela NBC desde a sua estreia em 1965
CATHERINE COWLES
— Sim, apenas... — Ele olhou ao redor do bar. — Você vai ficar por
perto?
Eu não disse nada em resposta. O que havia para dizer? Durante toda
a tarde, os toques foram frequentes e persistentes. Cada toque das mãos
de Ford havia reabastecido minhas reservas de força um pouco mais. Eu
não queria admitir o quanto a visita de meus pais havia me abalado, não
queria demonstrar. E eu com certeza não queria precisar de alguém para
me ajudar a me recuperar disso. Mas foi exatamente o que Ford fez. Sem
eu dizer a ele, de alguma forma sabia exatamente o que eu precisava.
CATHERINE COWLES
— Ele estava. — Um flash de medo rasgou através de mim tão rápido
e forte, que quase engasguei. Claro, ele estava lá por mim hoje, mas isso
não significava que ele estaria lá amanhã ou no dia seguinte. Eu construí
um sistema de apoio seguro. Era pequeno, mas sabia que podia contar
com as pessoas. Ford ainda era um desconhecido.
Ela estendeu a mão e pegou minha mão. — Sim, eu sei. Está escrito
em cima dele. E não apenas como ele olha para você, mas em suas ações.
E ações são sempre mais importantes que palavras.
Kenna deu um passo mais perto de Caelyn e eu, com o rosto sério. —
Apenas tenha cuidado. Sei que ele tem sido bom com você ultimamente,
mas simplesmente não confio que ele vai ficar por aqui.
CATHERINE COWLES
subida de volta para sua casa. Eu realmente esperava que não tivesse
que pedir a ele para encostar para poder vomitar no acostamento.
Apertei meus lábios em uma linha firme. Ele me conhecia muito bem.
Mesmo depois de mais de uma década separados, ele ainda se lembrava
de todas as minhas histórias. Eu não disse nada, apenas deixei o silêncio
no veículo aumentar minha ansiedade. Eu não ia mais me segurar com
Ford. Eu não tentaria me convencer de que a amizade ou a construção
lenta de algo mais seriam suficientes para mim. Eu ia me deixar amá-lo e
não me permitiria me afogar em medo ou culpa por causa disso.
CATHERINE COWLES
— Eu estou assustada. — Com medo de que quando ele partisse em
alguns meses, eu ficaria arrasada. Assustada que ceder a essa coisa entre
nós significava.
Um fogo ardeu nos olhos de Ford, uma chama azul que significava a
mais profunda das queimaduras. Ele segurou meu rosto em suas mãos.
— Você não precisa escolher. Você pode amar a nós dois.
CATHERINE COWLES
Ford riu, seus olhos brilhando. — Eu posso conseguir um quarto para
você. — Em vez de me colocar no chão, Ford simplesmente caminhou
pelo corredor comigo em volta dele como um macaco-aranha. Eu
pressionei meu rosto em seu pescoço, inalando profundamente. A colônia
amadeirada cheirava tão bem, mas era o cheiro que estava por baixo, o
que eu conhecia desde sempre, que eu realmente amava. Passei minha
língua ao lado do pescoço dele, dando um mordisco na orelha dele.
Soltei sua orelha enquanto ria. — Eu acho que prefiro que você me
jogue na cama.
CATHERINE COWLES
campo. Ford estendeu a mão, acalmando minhas mãos. — Não. Eu terei
esse prazer.
Ford olhou de onde eles pararam na minha caixa torácica. — Elas são
lindas também, porque fazem parte de você.
Seus olhos ardiam com o calor azul que eu estava começando a amar.
Ford enfiou os dedos na cintura da minha bermuda e calcinha, puxando-
os pelos meus quadris, deixando-os no chão, junto com minhas
sandálias.
CATHERINE COWLES
Ele gemeu quando arrastou o nariz ao longo da minha coxa, parando e
pressionando um beijo no pequeno triângulo de pelos no ápice das
minhas pernas. — Você cheira a céu.
CATHERINE COWLES
— Tenho certeza. — Eu nunca tinha tido tanta certeza de nada em
toda a minha vida. Não me importava se me perder em Ford significasse
que o mundo ao nosso redor queimasse. Eu precisava dele, precisava
disso, precisava me deixar livre para cair.
Ford soltou um palavrão. — Tão perfeita. Como você pode ser tão
perfeita? Como se você fosse feita para mim.
CATHERINE COWLES
um modo incrível e depois colapsando em cima de mim enquanto eu
lutava para respirar.
Ele rolou, me levando com ele. Meu peito estava ardendo enquanto eu
tentava recuperar meu equilíbrio. Comecei a rir. Eu não pude evitar. Era
como se todos os meus circuitos tivessem falhado, e a única coisa que
poderia me escapar era o riso.
— Você sabe, — disse Ford baixo no meu ouvido. — Os sons que você
está fazendo agora podem ser um verdadeiro golpe para minha
masculinidade.
Minha risada diminuiu lentamente, e levantei meu rosto para que meu
queixo descansasse em seu esterno. Mordi meu lábio inferior.
CATHERINE COWLES
Eu sorri, mesmo que fosse um pouco vacilante. — Você também é
adorável, Cupcake.
CATHERINE COWLES
35
CATHERINE COWLES
Eu concordei, não havia vergonha no meu jogo. — Estou tirando o
máximo proveito de poder olhar você.
Andei pelo corredor e atravessei a sala até a cozinha. A casa que Ford
havia alugado era linda. Uma daquelas casas de aluguéis de temporada
de alto padrão que custam uma fortuna nos meses de verão, mas que
não têm muita personalidade. Era toda de vidro e móveis modernos. Meu
estômago revirou ao lembrar que este não era um lar permanente. Era
tudo muito temporário.
Eu queria perguntar a ele quais eram seus planos, mas isso parecia
um pouco sério demais depois de fazer sexo pela primeira vez. Estávamos
apenas começando a encontrar o nosso caminho. Eu não precisava
colocar pressão adicional em Ford.
CATHERINE COWLES
— Queijo extra no seu? Está feito. — Ele colocou um prato na minha
frente com um sanduíche de bagel que parecia ter mais queijo do que
ovo.
— Chegando logo.
A tensão nos meus ombros diminuiu um pouco. Talvez isso não fosse
tão difícil quanto eu pensava. Eu tinha certeza de que seria inundada
pela culpa esta manhã, mas não foi assim. Eu me senti... feliz. Em paz.
Como se grande parte da minha vida estivesse se encaixando. Mas
eu queria ter certeza de que Violet ainda fazia parte dessa vida, mesmo
que ela tivesse ido. — Obrigada.
CATHERINE COWLES
— Ok... — Ford tomou um gole de café e esperou que eu explicasse.
CATHERINE COWLES
Ford escorregou do banquinho e passou os braços em volta de mim.
— Você é tão corajosa. E sempre tão sabia.
— Estou curada, Ford. Eu estou segura. Essas cicatrizes não são sua
culpa.
Eu aceitaria e pronto.
CATHERINE COWLES
36
Olhei para a parte de trás do meu SUV, até a borda com vasos de
plantas. Eles eram todos de diferentes tamanhos, formas e cores. Bell
estava certa, eles nunca se encaixariam no túmulo de Vi. — Eu posso ter
exagerado um pouco.
— Você vai ter que me ensinar como mantê-las viva. Eu tenho uma
péssima mão quando se trata de cultivar coisas. Meu jardineiro em Los
Angeles na verdade me pediu para não fazer nada com as plantas de lá.
Eu continuei matando-as.
CATHERINE COWLES
Meus passos vacilaram quando nos aproximamos do túmulo de Vi.
Toda aquela paz que estava construindo dentro de mim foi destruída em
uma única respiração. Todos os vasos e plantas com os quais Bell cuidara
com tanto carinho foram destruídos. Esmagado em um milhão de
pedacinhos.
Meu intestino torceu. Este não era apenas alguém com raiva. Este era
alguém doente. Coloquei os vasos que estava carregando, tomando
cuidado para não contaminar nenhuma evidência. Depois peguei as
plantas de Bell e fiz o mesmo. Ela estava em choque, apenas encarando
seu amor por sua irmã quebrado no chão. Passei um braço em volta dela.
— Precisamos voltar no carro e ligar para o xerife Raines.
— Ele está na ilha, então ele estará aqui em cinco. — Abri a porta do
passageiro para Bell, ajudando-a a entrar. Ela assentiu novamente, o
mesmo movimento rígido que fez meu intestino torcer. Eu fiquei ao lado
do veículo, incapaz de deixá-la, mesmo para apenas andar em torno do
maldito SUV.
CATHERINE COWLES
Bell se virou para mim, mas seus olhos não estavam focando. — Quem
está fazendo isso, Ford?
Bell recuou. — Nós não podemos fazer isso. O bar está apenas
começando a ganhar movimento. Perderemos todo o progresso que
fizemos.
CATHERINE COWLES
Foi o pior momento possível para compartilhar a decisão, mas eu não
aguentava a dúvida nos olhos dela por mais um segundo. Eu pressionei
meus lábios em sua testa. — Estou voltando para Anchor.
— Você não pode fazer isso. Você se esforçou tanto para transformar
esses bares no que eles são.
CATHERINE COWLES
— É o trabalho dele, Bell. Ele não se importa.
— Vou dar uma olhada bem rápido e depois voltarei para conversar
com você e esperar pelos técnicos da cena do crime.
Ela inclinou a cabeça para trás para me olhar nos olhos. — Eu preciso
que você esteja seguro também. Prometa-me.
CATHERINE COWLES
estou vendo as coisas claramente. — Ela parou por um momento. —
Meus pais tinham álibis?
Meu coração se partiu pela garota que teve que fazer essa pergunta.
Eu odiava que houvesse dúvida suficiente em sua mente para pensar que
eles eram capazes disso.
— Diga-me, Parker. Como devo manter Bell segura quando não faço
ideia de quem está vindo até nós? Quando poderia ser alguém em quem
confiamos? Conte-me.
CATHERINE COWLES
podemos. Eu tenho dois agentes na ilha o tempo todo, e eles estão
dirigindo regularmente. — Ele parou por um momento. — Você sabe
atirar?
Parker encontrou meu olhar. — Boa. Você pode obter uma licença de
transporte oculta. Farei o que puder para acelerar o processo para você.
Enquanto isso, pegue duas Teaser.
12
Tipo de pistola.
CATHERINE COWLES
37
CATHERINE COWLES
cima do ombro, vendo o homem quando ele abriu a porta. Eu não queria
perdê-lo. Não queria perder essa novidade entre nós.
— Eu não quero esconder isso. — Mas Ford? Eu acho que não. Ele
tinha sido mais do que abertamente carinhoso em torno do xerife. Mas
isso mudaria em torno das pessoas que conhecíamos?
CATHERINE COWLES
qualquer momento, — arqueei uma sobrancelha para Kenna — mas
vocês não deveriam estar trabalhando?
Crosby enviou a Kenna um sorriso que até eu tinha que admitir que
era devastador. — Você sabe que é sempre bem-vinda na minha prancha.
Caelyn engasgou com uma risada, e eu senti a cor subir nas minhas
bochechas. Ford puxou uma cadeira ao meu lado, me entregando uma
garrafa de água. — Chega de palhaçada, vocês dois. Crosby e Hunter
estão aqui porque eu os chamei.
Hunt puxou uma cadeira do meu outro lado, apertando meu ombro
enquanto ele se sentava. — Você está bem, Bells?
CATHERINE COWLES
Ele deu um aperto em meu pescoço e pressionou seus lábios na lateral
do meu rosto. — Sim, ele tentou e falhou. Ele pensará duas vezes antes
de vir até mim novamente.
— Ou ele virá até você com uma arma, uma faca ou outra coisa.
— Precisamos tomar cuidado com vocês dois. Mas meu irmão está
certo, Bell. Precisamos de olhos extras em você. Você não é exatamente
igual quando se trata de uma briga.
Ford assentiu. — É exatamente por isso que você está aqui. Você é a
única pessoa em quem confio além dos meus pais. Eu quero que você
fique de olho. E também queria perguntar se você notou alguém agindo
de forma suspeita.
Kenna resmungou algo sobre Crosby não ser confiável. Ford deve tê-
la calado com um dos olhares porque ela se acalmou.
CATHERINE COWLES
semanas, pelo menos, e estamos almoçando e jantando no bar quase
todos os dias.
— Não confio em ninguém que não esteja nesta mesa, além de mamãe
e papai, mas não podemos colocar essa merda neles. Eles estão lidando
com o suficiente. Quem quer que seja, eles estavam por perto quando Vi
morreu e estão perto, Hunt. Pode ser qualquer um.
— É sobre isso que vamos falar hoje. Nós vamos criar um plano para
que nenhum de nós fique sozinho no bar. Estarei com Bell o máximo
possível, mas gostaria de outra pessoa como reserva.
Eu zombei. — E o que faz você ter tanta certeza de que eu quero você
por perto, amigo?
CATHERINE COWLES
— E eu vou tomar noites, — disse Hunter por último.
Ford riu e Crosby soltou um assobio baixo. — Você tem uma lutadora
em suas mãos, amigo.
CATHERINE COWLES
E U e olhei para cima da planilha impressa, estralando meu pescoço.
CATHERINE COWLES
— Tudo bem. — Eu não conseguia disfarçar o tremor na minha voz.
Eu assenti rapidamente.
CATHERINE COWLES
— Bom. — Ford aproximou o rosto da minha boceta, inspirando
profundamente. — Deus, eu não posso superar o seu cheiro.
Minhas pernas queriam fechar ao redor dele. Era muito, muito íntimo,
me fez sentir muito vulnerável. Ford virou o dedo novamente e eu lutei
contra o desejo de me contorcer. Eu respirei fundo, trêmula.
Soltei um som que era uma entre um lamento e um gemido. Ford riu,
enviando uma onda de deliciosa sensação através de mim. — Você vai me
matar, — eu murmurei.
Rosnei de frustração e ele riu. — Você pode fazer isso, Trouble. Apenas
fique parada.
Minhas mãos agarraram a borda da mesa com tanta força que pensei
que poderia quebrar. — Eu ainda estou pirando.
CATHERINE COWLES
— Por favor.
Merda... eu não sabia o que... Isso foi quente. Inclinei-me para frente,
procurando o botão do jeans de Ford, mas ele saiu do meu alcance,
balançando a cabeça. — Isso foi só para você.
— Eu vou deixar você fazer isso mais tarde. — Eu deixei minha cabeça
cair no peito de Ford. — O que? — ele perguntou.
CATHERINE COWLES
CATHERINE COWLES
38
CATHERINE COWLES
Comecei com o som de preocupação na voz de Bell e balancei minha
cabeça, sorrindo. — Tenho certeza que você acabou de deixar meu
cérebro em conserva.
CATHERINE COWLES
A tensão nos meus ombros diminuiu um pouco. — Estou apenas
começando.
O maitre nos levou a uma mesa perto de uma janela com vista para o
porto, iluminada por luzes ao longo das docas e os barcos balançando na
água. Era perfeito. Ajudei Bell em seu assento, pressionando um beijo no
topo de sua cabeça e absorvendo seu perfume, o jasmim apenas um toque
CATHERINE COWLES
mais pesado hoje à noite. Eu não pude evitar, dei um beijo no seu ombro
nu. — Obrigado por vir comigo esta noite.
Bell sorriu e abaixou a cabeça. Era raro que ela se tornasse tímida, e
isso só me intrigava mais. — Adoro trazer peças esquecidas de volta à
vida. Dando-lhes uma segunda chance.
Bell sempre foi capaz de ver o que os outros sentiam falta, o que havia
sob a superfície de um objeto ou pessoa, o potencial do que poderia ser.
— Essa peça na oficina é impressionante.
Minha mão apertou em volta do meu copo. Ela não teve tempo
porque estava tão envolvida com The Catch. Ela precisava de liberdade
para perseguir esse sonho, e precisava de alguém para tê-la de volta
enquanto o fazia. Eu seria essa pessoa.
Antes que eu pudesse fazer outra pergunta, Bell fez. — E você? Como
estão seus bares sem você na cidade?
CATHERINE COWLES
— Eles estão indo muito bem. — Eu sorri para a mesa. — Melhor do
que comigo, na verdade. Talvez eu estivesse gerenciando demais. Preciso
fazer uma viagem a Los Angeles em breve para discutir a entrega
definitiva para Luke. Mas acho que ele está pronto para a tarefa. —
Estudei o rosto de Bell enquanto falava, essa dúvida ainda subjacente às
feições dela. Eu lutei contra o desejo de amaldiçoar.
Ela tomou outro gole de vinho, seu olhar passando por cima do meu
ombro. — Isso é ótimo. Fico feliz que parece estar funcionando por
enquanto.
CATHERINE COWLES
Ela tomou outro gole de vinho. — Eles são. E você está fora há um
tempo, provavelmente não está acostumado a isso.
Abri a boca para dizer que sim, mas Bell respondeu primeiro. — Eu
não acho que eu poderia comer mais nada.
CATHERINE COWLES
39
Ford pegou o prato que eu lhe entreguei enquanto seu olhar viajava
pelo meu rosto, procurando. — Você deveria ter me acordado.
Meu coração apertou. Qual motivo? Que ele adorava me ter em seus
braços, ou que ele estava simplesmente preocupado que algo acontecesse
comigo? Eu não conseguia agarrar-me a nenhum tipo de perspectiva
quando se tratava de Ford. Eu disse a ele que o amava, mas ele nunca
retornou o sentimento. Ele disse que estava planejando ficar, mas algo
em mim duvidava que ele pudesse lidar com o que a vida seria dia após
dia. Meu estômago revirou. Qual era a verdade?
CATHERINE COWLES
Girei meu celular entre os dedos. — Na verdade, eu tenho um encontro
com sua mãe.
— Ela pensou que você poderia ir com seu pai em sua caminhada
diária enquanto assamos.
Ela abraçou Ford e ele soltou minha mão para dar um tapinha nas
costas dela. — Ok, mãe. Vamos ligar de volta.
CATHERINE COWLES
— Eu nunca. — Kara passou um braço em volta dos meus ombros. —
Vocês dois vão dar um passeio. E tome um longo tempo. Preciso de tempo
com sua namorada.
Kara riu. — Você vai se acostumar com isso. — Ela olhou pela janela.
— E deve melhorar quando eles pegarem quem está fazendo isso.
CATHERINE COWLES
assustada. — As palavras saíram antes que eu pudesse pensar no que
elas significavam.
Kara riu. — Você sabe que não pedimos desculpas por sentimentos
nesta casa.
Kara bateu na minha mão e empurrou meu copo de água para mais
perto. — Beba um pouco e depois vamos conversar sobre isso. Os
sentimentos não são tão assustadores quando sabemos por que os
estamos experimentando. — Eu balancei a cabeça e tomei um gole. — É
sobre o homem que está assediando você e Ford?
CATHERINE COWLES
— Mas não é a maior parte.
— Ford, — ela sussurrou. Não foi uma pergunta. Foi uma afirmação.
Ela me conhecia muito bem.
— Ele disse que quer ficar, mas eu simplesmente não consigo deixar
de duvidar que isso seja possível. Eu o amo muito, mas ele não disse
essas palavras de volta. Estou preocupada que ele confunda cuidado e
preocupação com algo mais. — As palavras saíram rapidamente, os
pensamentos que estavam na minha cabeça a noite toda estourando. Eu
distorci cada palavra e ação de Ford para frente, para trás, de cabeça
para baixo e de dentro para fora. Eu os torci a tal ponto que estava me
deixando um pouco louca.
CATHERINE COWLES
Mordi meu lábio inferior, assentindo. — Estou tão cansada de todas
as incógnitas. Cansada de ter medo de me machucar. Percebi que tinha
minhas paredes tão altas. — Eu levantei minha cabeça. — Kara, eu não
deixo ninguém novo entrar na minha vida. É você, Frank, Hunter
e minhas garotas. É isso aí, claro, sou amigável com outras pessoas, mas
não as deixo entrar. Não quero viver minha vida com medo o tempo todo.
CATHERINE COWLES
40
Hunter riu. — Fazer beicinho não é uma boa aparência para você,
mano.
— Não, — eu rosnei.
CATHERINE COWLES
— Não quando ela está guardando segredos e não me diz por que Bell
está chateada nos últimos dias.
— Sim, e definitivamente não deixe Bell ouvir você dizer algo assim,
— murmurou Crosby.
CATHERINE COWLES
Ethan tomou um gole de cerveja. — Então, vocês dois estão
oficialmente juntos?
— Sim minha garota. Ela era toda luz do sol e rosas, mesmo que o
mundo estivesse indo para o inferno ao seu redor. Mas agora, ela tem
olhos tristes. Eu não os vejo há muito tempo. Então, o que você fez?
CATHERINE COWLES
Eu olhei para ela. — Vou perguntar se você e Hank podem fechar para
que eu possa levar Bell para casa mais cedo e chegar ao fundo disso. —
Ela ia me dizer o que estava acontecendo, mesmo que tivéssemos que
ficar acordados a noite toda. Minha garota era teimosa, mas eu também.
— Caelyn... — eu avisei.
Ela levantou as duas mãos. — Tudo bem, tudo bem. Eu posso fechar.
— Seu olhar pareceu me atingir. — Basta trazer o sorriso dela de volta.
— Ei, Ford. — O tom era para ser sedutor, mas irritou meus nervos.
— Ei, Lacey. O que eu posso pegar para você? — A última coisa que
Bell precisava hoje à noite era Lacey levando-a a brigar. Bell não a
mencionara desde que voltei, mas os breves encontros que tive com Lacey
algumas semanas atrás me disseram que nada havia mudado em seu
mundo. E isso significava que ela provavelmente ainda estava dando a
mínima para Bell. Eu sofreria por receber os pedidos dela e fazê-la beber
a noite toda se isso significasse que ela deixasse Bell sozinha.
— Nós não servimos bebidas congeladas aqui, Lace. Que tal uma
vodca com cranberry?
CATHERINE COWLES
Ela fez um beicinho que deveria parecer fofo, mas apenas ridículo para
qualquer pessoa com mais de dez anos de idade. — Nem para mim? —
Lacey colocou a cereja na boca, puxando o caule.
— Que vocês dois estão namorando. — Ela disse isso como se a ideia
fosse nojenta.
Lacey reagiu, agarrando meu braço. — Você não pode, Ford. O que
Violet pensaria? Essa é a irmã dela.
Eu saí do aperto de Lacey, mas segurei seu olhar. — Você não sabe
nada do que Violet pensaria. E você sabe ainda menos sobre mim. Agora,
dinheiro ou a conta?
CATHERINE COWLES
41
Eu forcei meu olhar para longe rapidamente, mas não foi rápido o
suficiente. Meu estômago revirou. Eu pulei quando uma mão pousou no
meu ombro. Eu gritei.
CATHERINE COWLES
Hunter examinou a multidão. — As pessoas vão falar. Você e Ford?
Ninguém pensou que eles veriam isso acontecer. Isso será motivo de
fofocas nos próximos anos.
CATHERINE COWLES
como eu me sentia e por que estava aterrorizada. Chega de adivinhar ou
distorcer seus motivos em minha mente, apenas coloque tudo lá fora.
Soltei um longo suspiro. Eu poderia fazer isso.
Calor corou minhas bochechas. — Você sabe como me sinto sobre ela.
Ford passou a mão pelos cabelos, dando um bom puxão nas pontas.
— Eu estava tentando manter Lacey longe de você. Para distraí-la de lhe
dar merda. Sei que você teve algumas semanas difíceis e não queria que
ela aumentasse.
CATHERINE COWLES
Talvez ele tivesse. Eu tinha visto a troca por não mais do que algumas
respirações. Eu não aguentava mais olhar para eles e imediatamente
desviei o olhar.
CATHERINE COWLES
melhor para dar uma cotovelada no cara do jeito que eu aprendi nas
minhas aulas de autodefesa. Mas meu mundo estava ficando um pouco
confuso nas bordas, e meus movimentos se tornaram desajeitados, como
se todos os meus membros carregassem vinte quilos extras.
CATHERINE COWLES
42
Afastei da parede. Tudo o que eu queria era consertar isso, mas tudo
o que eu dissesse agora pareceria vazio. Eu lutaria com unhas e dentes
para fazê-la acreditar. Eu imploraria e imploraria até que ela visse a luz
e acreditasse na verdade.
CATHERINE COWLES
podia estar sozinha. Minha mão pousou na maçaneta e ficou lá. Talvez
eu pudesse ficar de olho nela de longe. Dar a ela espaço, mas não muito.
Fui para a oficina. Talvez ela tivesse encontrado sua paz lá. Eu tentei
a porta. Bloqueado. — Bell? — Eu chamei pela porta. Não havia nada.
Sem sons ou tremulação de luz.
Aquela opressão no meu peito ficou mais forte. Talvez ela tivesse ido
à praia. As ondas batendo sempre a acalmaram. Foi onde ela estava. Ela
tinha que estar.
Não. Não. Não. Isso não estava acontecendo. Não posso perder Bell
quando a encontrei. Puxei meu telefone do bolso, atingindo o contato do
xerife quando comecei a correr de volta para o bar.
— Xerife Raines.
— Bell desapareceu. Ela saiu, ficou fora da minha vista por menos de
cinco minutos e agora ela se foi.
CATHERINE COWLES
Parker deixou escapar uma série de maldições. — Estou a caminho,
mas vai demorar pelo menos trinta minutos. Estou enviando os agentes
da ilha agora. Fique aí.
CATHERINE COWLES
A mão de Crosby pousou no ombro de Darlene. — O porquê não
importa. Só precisamos encontrá-la agora. O que Parker disse?
Aquilo não era Bell. Ela não era egoísta. Ela não teria saído sem dizer
uma palavra, porque sabia que isso aterrorizaria as pessoas que amava.
Mas eu daria qualquer desculpa para sair daqui. Fazer alguma coisa.
Qualquer coisa. — Ok, vamos dar uma olhada na minha casa e em alguns
outros lugares.
Eu balancei minha cabeça. — Ela não teria ido lá. É tarde demais. E
eu não quero preocupá-los. Eu estava tentando Hunt.
CATHERINE COWLES
— Não. — Eu fiz uma careta para o meu telefone. Eu o tinha visto
flertando bastante com uma loira. Ele provavelmente estava bem para
transar.
— Vamos para minha casa, verificar se Bell não está lá. Então vamos
fazer um plano. — Eu me virei para Darlene. — Eu preciso que você e
Hank mantenham o forte aqui. Seja meus olhos e ouvidos. Ligue-me se
alguém viu algo suspeito.
CATHERINE COWLES
43
Meus olhos se abriram. Estava escuro, mas havia uma luz fraca
brilhando através de uma janela. Uma janela de carro. Eu estava no
carro? Não, um SUV. Pisquei mais rapidamente, tentando clarear o tom
ligeiramente vacilante da minha visão. O lado do veículo estava
esmagado.
CATHERINE COWLES
um pouco melhor. Olhei em volta do interior do veículo, procurando por
algo, qualquer coisa que pudesse ajudar.
Sair. Eu tenho que sair. Sair das cordas. Sair deste SUV. E muito,
muito longe da pessoa que andava por esse penhasco. Eu puxei os laços
em volta das minhas mãos. Eles estavam apertados, tanto que meus
dedos estavam formigando. Não havia como tirá-los sem uma faca. Por
que eu não era o tipo de pessoa que carregava um canivete com eles onde
quer que fossem? De agora em diante, eu faria. A primeira parada que eu
estava fazendo amanhã seria a The General Store, e eu estava comprando
o melhor canivete que eles tinham.
CATHERINE COWLES
esperança de desfazê-lo. Era algum tipo de nó de marinheiro com o que
pareciam laços e laços intermináveis. Eu murmurei uma maldição e
tentei inventar um plano diferente de ataque.
Meu peito arfava e minha cabeça batia com o ritmo do meu coração.
Vamos, vamos, vamos. Eu testei o nó novamente. Nada. Eu amaldiçoei.
— Você pode fazer isso, Bell.
CATHERINE COWLES
dedos pareciam um líquido pegajoso na panturrilha enquanto eu
colocava a bota. Eu estremeci.
Ethan sorriu, e era um que eu nunca tinha visto nele antes. Era quase
um toque do mal, demente. Ou talvez eu estivesse vendo através dos
olhos de alguém que ele claramente amarrava na traseira de um carro.
— Eu tenho que admitir, seu pequeno ato inocente me enganou por um
tempo.
— Do que você está falando? — Nada do que ele estava dizendo fazia
sentido. E quanto mais Ethan falava, mais meu estômago afundava.
CATHERINE COWLES
— Parar o que?
CATHERINE COWLES
44
— Fiquei fora por uma hora, não achei que o mundo desmoronaria
nesse tempo.
— Está bem, está bem. — Crosby ficou entre Hunter e eu. — Estamos
todos preocupados. O que precisamos fazer agora é apresentar uma lista
de lugares para verificar e pessoas com quem conversar.
CATHERINE COWLES
Eu me irritei com o tom de Hunter. — Não é da sua conta.
Crosby se inclinou para mais perto de mim. — Adoro quando ela estala
o chicote assim.
CATHERINE COWLES
Caelyn se inclinou para frente. — Hunt, você ligou para Ethan? Talvez
ele tenha visto algo e simplesmente não esteja aqui porque não sabe Bell
está desaparecida.
Hunter assentiu e ligou para Ethan. A sala estava tão silenciosa que
eu podia ouvir o toque do outro lado. Continuou sem parar, sem resposta
à vista. Palavras embaralhadas soaram, e Hunter chegou ao fim e discou
novamente. Desta vez, tocou uma vez e, em seguida, uma voz
abafada respondeu. As sobrancelhas de Hunter se uniram. — Ele me
enviou para o correio de voz.
Comecei a andar. — Ligue para ele novamente. Talvez ele pense que
você está tentando arrastá-lo para fora da cama para dar uma volta.
— Nada.
— Que diabos você está falando? — Fui na direção dele, mas Crosby
colocou a mão firmemente no meu peito.
CATHERINE COWLES
O medo deslizou por minhas veias, grosso e sufocante, como alcatrão,
lentamente afogando minha capacidade de respirar.
— Não se assuste, Ford. Ele a esqueceu para sempre, até lhe deu flores
no ensino médio, violetas, mas ele nunca fez um movimento. Já lhe disse
que a paranoia está me afetando.
CATHERINE COWLES
45
Ethan parou de andar e virou-se para olhar para mim. — Alguém tem
que colocar Violet em primeiro lugar.
CATHERINE COWLES
Soltei um suspiro trêmulo. — Porque eu o amo.
CATHERINE COWLES
— Talvez devêssemos ligar para ele.
Ethan sorriu, o sorriso doente e torcido, e pegou seu telefone. Ele fez
uma careta para a tela. Tempo. Eu precisava ganhar tempo. Para me
libertar. Para correr. E ele não podia ligar para Ford naquele tempo. Meu
estômago revirou com o pensamento. — Você amou minha irmã?
CATHERINE COWLES
— Eu tenho tudo que posso dela.
Segurei o apoio de braço o melhor que pude com meus dedos que
haviam perdido todo o movimento. — Como você conseguiu isso?
— Lote de destroços. Eles iam levar para Shelter Island para triturar.
Comprei por duzentos dólares. — Quem não faria perguntas sobre um
garoto de dezesseis ou dezessete anos comprando um carro que fizera
parte de um acidente mortal? Por que seus pais não fizeram perguntas?
— Eu consegui fazer funcionar novamente, apenas o suficiente. Eu estava
esperando. Esperando Ford voltar. Eu ia matá-lo nessa coisa. — Ele
corou. — Mas fiquei um pouco impaciente.
— Era culpa dele! Não ouse dizer diferente! — Ethan caminhou para
a traseira do SUV. — É hora de você ir. Hora de terminar.
Merda, merda, merda. Eu fui longe demais. Não havia tempo para
distração ou qualquer outra coisa. Era agora ou nunca. Meus dedos
puxaram a trava da porta no momento em que o veículo começou a rolar
em direção ao penhasco. Eu saí, tropeçando enquanto caminhava.
Minhas mãos atadas pegaram o peso da minha queda e eu me levantei.
Ethan amaldiçoou. — Não! Você não vai fugir. Não é este o momento.
CATHERINE COWLES
Uma mão agarrou as costas da minha camisa, me puxando de volta.
— Acho que não. — Eu bati em um peito duro. — Você vai hoje à noite.
Não há mais pausas para você.
CATHERINE COWLES
46
Eu gritei, mas foi abafado pelos ventos do oceano e pelo som das ondas
abaixo. Empurrei meus músculos com mais força quando a borda do
penhasco apareceu. O tempo diminuiu, parecia quase parar, como se
alguém tivesse pressionado o botão de pausa do Universo. Bell estava
presa em um penhasco por apenas um punhado de sua blusa, agitando-
se, procurando por algo que pudesse salvá-la. Eu estava perto, mas não
perto o suficiente. Ela estava sozinha. Eu a deixei quando ela mais
precisava de mim e agora... Ethan soltou seu braço.
Um grito gutural rasgou meu peito quando Bell deslizou pelo lado da
inclinação rochosa. Desapareceu. Ela se foi. Isso não estava acontecendo.
A dor que rasgava através de mim era como nada que eu já havia
CATHERINE COWLES
experimentado antes, fogo e gelo lambendo músculos e tendões, me
rasgando.
— Ford?
— Ford!
CATHERINE COWLES
— Você e Kenna agarram meus tornozelos. Preciso de peso para me
manter no lugar.
— Você pode, Bell. Você é tão corajosa. Você consegue fazer isso. —
Tudo se resumia a uma coisa. Confiar em mim. Eu a fiz passar por isso.
Deixei-a quando ela mais precisava de mim. Mas eu estava aqui agora. E
eu vou ficar. Fixei meu olhar com o de Bell. — Eu te amo. Eu não estou
indo a lugar nenhum. Você está presa comigo para sempre. Por favor,
confie em mim.
A palavra era suave, quase perdida no som das ondas batendo nas
rochas abaixo e o vento chicoteando através das árvores. — Contando até
três. — Ela assentiu. — Um, dois, três!
Bell soltou e eu a puxei com tudo o que tinha em mim. Senti uma
sensação de queimação no ombro direito como se alguém tivesse levado
um maçarico até a articulação, mas não me importei. Ela estava mais
CATHERINE COWLES
perto. Quase em segurança, quase nos meus braços. Com mais um
puxão forte, eu rolei nós dois em terra firme, Bell pousando em cima de
mim.
CATHERINE COWLES
47
BELL
CATHERINE COWLES
que mantinha Vi dentro de mim agora. As coisas que eles me ensinaram,
o incentivo e apoio que deram, mas acima de tudo, eu sempre tive o amor
deles, e sempre o teria. Nenhuma quantidade de frio poderia abafar esse
calor.
Ele roçou seus lábios nos meus. — Eu quero explicar. — Ele respirou
profundamente. — A última pessoa que eu disse essas palavras morreu.
Eu não as disse desde então. Para meus pais, Hunter, para ninguém. Eu
não percebi, mas estava segurando essas palavras por medo. Como
alguma forma de autoproteção equivocada. E magoei as pessoas que mais
amo por causa disso.
Meu coração se partiu um pouco mais pelo garoto que havia perdido
tanto tempo atrás, cujos ossos quebrados não haviam se curado direito,
e agora ele tinha que reajustá-los para garantir que tudo funcionasse
novamente. Eu pressionei um beijo em seu rosto barbeado. —
Obrigado por me dar as palavras.
— E agora?
CATHERINE COWLES
Ele arrastou a língua para o lado do meu pescoço, pegando gotas
dispersas de água. — Eu te amo.
Era a única palavra que ele precisava. Com uma suave mudança de
posição, Ford deslizou dentro de mim. Seus golpes eram lentos e
deliberados, uma mão apoiada na parede atrás da minha cabeça, a outra
segurando meu rosto. Ele nunca desviou o olhar. Ele estava se
imprimindo em mim, corpo e alma. Com cada golpe e carícia, com cada
toque de seu lábio e mordida de seus dentes. E quando eu gozei, foi com
o conhecimento profundo que eu era dele, agora e para sempre.
CATHERINE COWLES
F ORD me ENVOLVEU em uma das enormes toalhas macias do banheiro.
— Você tem certeza que está bem?
Meu estômago afundou. É claro que ele havia torcido, ele levantou um
ser humano ao lado de um penhasco. — Precisamos verificar isso.
Ford esfregou a nuca com a mão não ferida. — Na verdade, seu pai
está aqui. Ele está na cozinha com Crosby, Hunter e as meninas.
Meu rosto aqueceu. — Você fez sexo comigo enquanto meu pai estava
em casa?
Ford me puxou para seus braços. — Ele está preocupado com você.
Disse que ele queria verificar você por si mesmo, ver se você precisava ir
a um hospital.
Ford levantou o braço para examinar meu pulso. — Isso não é apenas
hematomas e arranhões.
CATHERINE COWLES
Estremeci com a carne crua e exposta. — Vou deixar que ele me
examine se você olhar seu ombro primeiro.
— Combinado.
Eu assenti. — Sim.
CATHERINE COWLES
— Vamos deixar seu pai ser o juiz disso, Trouble.
Eu sacudi com o som do meu apelido saindo da boca dele. Nem uma
vez ele já havia usado isso antes, nem quando estávamos sozinhos.
Engoli em seco contra a emoção acumulada na minha garganta. — Eu
realmente estou bem.
— OK. Obrigada.
CATHERINE COWLES
Meu pai tirou as luvas, jogando-as no lixo. — Tudo feito. — Ele olhou
ao redor da sala e depois de volta para Ford e eu. — Eu queria saber se
eu poderia ter uma palavra particular com você e Ford?
Meu pai soltou um suspiro. — Violet sempre foi uma criança fácil. Ela
apenas ia junto. Não perguntei o porquê. Parecia feliz em fazer o que sua
mãe e eu pedíamos. Mas você... — Ele riu. — Você sempre quis saber o
porquê, sempre foi contra a corrente. Eu deveria ter visto essa qualidade
CATHERINE COWLES
em você pela força que é, mas, em vez disso, sua mãe e eu ficamos
facilmente frustrados. Desculpe-me por isso.
O pomo de adão do meu pai balançou quando ele engoliu. — Você está
certa. Eu nunca deveria ter pressionado você assim. Deixar sua mãe te
pressionar. Sinto muito se você já se sentiu sozinha em nossa casa ou de
alguma forma indigna.
Eu não estava sozinha. Eu tinha Ford. Por mais que eu amasse minha
irmã, ela também não me entendeu. Era Ford quem sempre esteve lá,
gentilmente me incentivando a seguir meu próprio caminho.
Papai me deu um olhar suave. — Estou tão feliz pelo que você fez.
Obrigado, Ford, por amar minhas duas filhas e tratá-las tão bem.
CATHERINE COWLES
— Algumas semanas antes do acidente, eu estava acordado até tarde,
observando as anotações do gráfico do mês. Violet chegou em casa
com seu toque de recolher, que era tão diferente dela. Quando eu a parei
no corredor, ela se dissolveu em lágrimas. Eu a trouxe para a cozinha e
fiz uma xícara de chá para ela, disse a ela que, fosse o que fosse,
poderíamos conversar, da maneira que sempre fizemos.
Meu pai encontrou meu olhar de frente. — Violet viu algo antes de
qualquer um de nós. Ela estava começando a perceber que ela e Ford
poderiam não ser para sempre, mas que você e Ford poderiam ser.
CATHERINE COWLES
— O que? — Isso era ridículo. Vi amava Ford como uma louca. Claro,
ela tinha estragado tudo, mas... meus pensamentos sumiram quando
meu pai interrompeu.
— Violet sempre via o vínculo entre vocês dois. Sabia que vocês
compartilhavam algo especial. Algo que ela pensou que poderia se
transformar em mais do que amizade quando chegasse a hora. — Ele
olhou de Ford para mim. — Ela estava tentando reunir coragem para sair
do seu caminho.
Meu pai deu a Ford um sorriso triste. — Ela estava tentando deixar
você ir.
CATHERINE COWLES
EPÍLOGO
CATHERINE COWLES
funcionamento em dois meses. Ainda há muito trabalho a ser feito. Quero
refazer o piso, pintar de novo...
Caelyn riu e me puxou para um abraço. — Está bem, está bem. Estou
tão orgulhosa de você, Bell.
Caelyn e Kenna estavam ao meu lado desde aquela noite, dois meses
atrás, emprestando seus ombros, orelhas e o que mais eu pudesse
precisar. Ford brincou dizendo que ele precisaria de uma casa maior, ou
pelo menos um sofá maior, se Caelyn e Kenna estivessem se mudando.
CATHERINE COWLES
precisaria de um hobby quando se aposentasse em alguns meses.
Estávamos nos conhecendo pela primeira vez.
CATHERINE COWLES
— Aposto que ele perguntará quando conseguir as chaves do novo
local.
Eu tive que pressionar meus lábios para não rir. — Ele jogou você
no tanque?
— Não, eu - eu nem posso falar sobre isso. No entanto, vou ter a minha
doce, doce vingança daquele homem. Não sei o que vai ser, mas será
épico. Como corante rosa em seu frasco de xampu.
Caelyn riu. — Mas você não tem um encontro daqui a duas horas?
CATHERINE COWLES
— Eu tenho. Obviamente, tive que cancelar. — Ela soltou um suspiro.
— Uma de vocês pode me dar uma carona para casa?
Eu balancei minha cabeça um pouco. Não era hora. Parei meu carro
ao lado do Ford na estrada de cascalho. Ao sair, levei um minuto para
admirar na casa. Precisava de trabalho, claro, mas as estruturas eram
CATHERINE COWLES
maravilhosas e era um projeto que eu e Ford poderíamos fazer juntos. Se
ele me quisesse.
— Venha aqui.
— Por que você não entra e descobre, Trouble? — A voz de Ford veio
do que parecia um solário, um quarto cercado por janelas que seriam
perfeitas durante os meses de inverno, quando ficasse frio demais para
ficar do lado de fora.
CATHERINE COWLES
— Eu também. — Era tudo o que parecia poder retornar.
Ford riu, me puxando mais forte contra ele. — Você gosta deste lugar?
Eu assenti.
Ford apertou minha bunda. ―Não foi. Mas achei que você gostaria de
ver o anel antes de concordar.
CATHERINE COWLES
Ele puxou o anel da caixa e lentamente o deslizou no meu dedo.
Era perfeito. O anel era de um ouro rosado, o anel em si quase se parecia
com uma flor, com seu cenário intricado envolvendo um diamante
redondo. Eu suspirei. — Ok, talvez o anel importe um pouco.
CATHERINE COWLES
CENA BÔNUS
CATHERINE COWLES
Olhei para cima e mostrei minha língua para Ford. — Então você
não deveria ter me dado um anel tão bonito.
— Te amo, Trouble.
— Até Crosby, que deve fazer Kenna agir como uma gata irritada.
CATHERINE COWLES
Meu estômago fez uma série de acrobacias que desafiavam a
morte. Essas eram as pessoas que eu mais amava no mundo, e eu
queria tanto que elas ficassem felizes com nossas notícias. Eu sabia
que eles estavam bem, mas também estava preocupada que pensassem
que estávamos indo um pouco rápido.
Ford riu. — Trouble, eu fiz você gozar pelo menos seis vezes nas
últimas vinte e quatro horas.
CATHERINE COWLES
— Isso vai ser uma verdadeira dificuldade, deixe-me dizer.
Saí do SUV antes que Ford pudesse dar a volta. Ele franziu a testa
para mim e eu ri. — Oh, não fique bravo. Eu posso lidar com abrir
minha porta desta vez.
Eu sorri e pulei nas costas dele. — Que tal eu deixar você me levar
o resto do caminho? Isso vai acalmar seu orgulho de cavalheiro?
— Estou tão feliz por vocês dois. — Ele nos soltou e bagunçou
meu cabelo. — Acho que agora você será oficialmente minha
irmãzinha.
CATHERINE COWLES
Eu fiz uma careta falsa. — Sou mais jovem que você menos de um
mês.
Kara correu até nós, seus braços nos cercando quando suas
lágrimas caíram. — Oh, meus bebês, estou tão feliz por vocês.
CATHERINE COWLES
Os olhos de Mia se arregalaram. — Vou usar um vestido de
princesa?
— Eu gostaria.
— A mais feliz.
CATHERINE COWLES