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EXPRESSÃO FACIAL NO MANGÁ: UM VOCABULÁRIO PRÓPRIO

Natali Furquim de Souza


Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil

André Luiz Battaiola


Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil

RESUMO

O mangá, história em quadrinhos japonesa, possui elementos que o diferencia de outros tipos de
histórias em quadrinhos, um deles é a expressão facial dos personagens que possui significados
próprios, relacionados não somente à cultura japonesa, mas também à própria linguagem do mangá.
Com o objetivo de compreender as expressões faciais utilizadas no mangá, este artigo apresenta uma
análise sobre a relação entre as expressões faciais, as emoções representadas por elas e seus
significados dentro da linguagem do mangá. Esta pesquisa se classifica como básica, descritiva e
qualitativa, ela dá continuidade aos estudos sobre expressões faciais no mangá realizados por Souza e
Battaiola (2017) utiliza para análise das amostras os estudos de McCloud (2008) sobre expressões
faciais nos quadrinhos e os estudos de Russell (1999) sobre as emoções humanas, bem como
complementa a pesquisa desenvolvida por Cohn (2010) sobre a linguagem do mangá. Para esta
análise foram coletadas 60 expressões faciais encontradas em 12 diferentes títulos de mangá, na
primeira fase de análise essas amostras foram decompostas utilizando as expressões faciais
apresentadas por McCloud (2008), em seguida elas foram nomeadas de acordo com seus significados
dentro da linguagem do mangá, e por fim foram alocadas no diagrama circumplexo de Russell (1999)
de acordo com a emoção que representavam. Como resultado obteve-se um painel semântico
composto pelas amostras coletadas e os resultados obtidos em cada fase da análise para cada uma das
expressões faciais. As conclusões reforçam a ideia de que o mangá possui uma linguagem própria, o
que exige que tanto o quadrinista quanto o leitor tenham familiaridade com ela, o primeiro para
reproduzi-la e o segundo para compreendê-la. Assim, o painel é uma importante fonte de referência e
consulta, funcionando como um dicionário.

PALAVRAS-CHAVE: mangá: expressões faciais; emoção.

ABSTRACT

The manga (japanese comics) has elements that make it diferent from others comics, one of these
elements are facial expressions of characters, that have unique meanings and are related not only to
japanese culture, but also to mangas’ language. In order to understand the mangas’ facial expressions
this article present an analysis about relationship between facial expressions, emotions represented by
them and their meanings in mangas’ language. This research is classified like basic, descriptive and
qualitative, it continues the studies about mangas’ facial expressions done by Souza e Battaiola
(2017), use studies of McCloud to do sample analysis (2008) about comics facial expression and
studies of Russell (1999) about humans’ emotions to analyze the samples, this research also
complements the studies of Cohn (2007) about mangas’ language. For this analysis was collected 60
facial expressions found in 12 diferents manga titles, in the analysis’ first stage these samples were
decomponsed using the facial expressions presented by McCloud (2008), then the samples were
named according to their meanings in the mangas’ language, and finally they were placed in Russell's
circumplex diagram (1999) according to the emotion they represented. The conclusions reinforce the
idea that the manga has its own language, which requires both the cartoonist and the reader to be
familiar with it, the first to reproduce it and the second to understand it. Thus, the panel is an
important source of reference and consult, functioning like a dictionary.

KEY WORDS: manga; facial expressions; emotion.

INTRODUÇÃO

A expressão facial é o primeiro contato do leitor com um personagem em uma HQ,


história em quadrinhos. Segundo McCloud (1995) quanto mais icônico o rosto de um
personagem, mais fácil do leitor se identificar com o mesmo, por isso as HQs fazem grande
uso dessa iconicidade. Os mangás, HQs japonesas, têm uma grande capacidade para cativar
e envolver o leitor através da imersão (Souza e Battaiola, 2017), portanto o primeiro
elemento que cria essa relação de identificação é a expressão facial dos personagens, logo a
expressão facial no mangá é um elemento importante para transmitir e causar emoções ao
leitor. Neste contexto Souza e Battaiola (2017) ressaltam que o mangá conta com
expressões únicas, as quais formam uma linguagem própria dentro do mesmo.
As HQs são mais do que um simples entretenimento, mas, sobretudo, um meio de
comunicação. Elas podem ser usadas para facilitar o ensino e a aprendizagem (Brozo,
2012), bem como servir de objeto de inspiração para os profissionais de criação (Celeste e
Behling, 2012). Além disso, o consumo do mangá e de outras mídias correlatas à cultura
japonesa tem crescido cada vez mais com o passar dos anos (Eglem, 2013). Estudos
anteriores mostraram que o mangá possui características que tornam sua linguagem única,
uma dessas características são as expressões faciais com significados próprios que foram
sendo apropriados e reproduzidos em diferentes tipos de mangá (Cohn, 2007).
Com base nos estudos de Cohn (2015) sobre a linguagem visual japonesa nos
mangás e no estudo de Souza e Battaiola (2017) sobre como as emoções básicas são
representadas no mangá, este artigo se propõe a responder a seguinte pergunta: Expressões
faciais compoem um vocabulário próprio no mangá? Sendo assim, o objetivo desta
pesquisa é coletar, analisar e classificar expressões faciais características do mangá,
utilizando conceitos de Scott McCloud e James Russel para correlacionar expressões faciais
e emoções. O resultado final é um painel semântico composto pelas expressões faciais
coletadas, sua decomposição através das emoções básicas, sua nomeclatura e sua alocação
no modelo circumplexo.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo Scott McCloud (1995), as HQs são imagens pictóricas e outras justapostas
em sequência deliberada. O mangá é um tipo de HQ característica do Japão, segundo
Luyten (2011), eles existem desde meados de 1814, e o termo significa “rabiscos
descompromissados”. Segundo Chinen (2013) os mangás têm peculiaridades que lhes dão
propriedades exclusivas, são características inerentes a uma forma própria que os japoneses
criaram para contar suas histórias e que estabelecem um código que necessita ser aprendido
e decodificado para ser compreendido pelo leitor. Mesmo em se tratando de histórias
ficcionais, há uma humanidade nas ações e sentimentos, o que confere aos mangás um nível
de empatia raramente encontrado nas HQs ocidentais. O fato é que os japoneses concentram
a narrativa na emoção, o que influencia o estilo artístico e a narrativa dos mangás, o que
também significa que eles utlizam parte significativa da história no desenvolvimento dos
personagens e na criação de um contexto para eles.
Segundo Freitas e Nunes (2012), a linguagem visual utilizada pelo mangaká
(desenhista de mangá) é diretamente influenciada pelas diferenças no conteúdo narrativo e
no público alvo de sua obra. A interação de elementos verbais, visuais e culturais na
produção da arte sequencial, cria uma separação dentro das publicações dos mangás,
categorizando-os em grupos demográficos de acordo com o conteúdo. Existem,
basicamente, cinco demografias (classificação de mangás de acordo com o publico alvo):
Kodomo (mangá voltado ao publico infantil), Shounen (mangá voltado ao publico
masculimo adolescente), Shoujo (mangá voltado ao publico femino adolescente), Josan
(mangá voltado ao publico femino adulto) e Seinen (mangá voltado ao publico masculino
adulto). Além disso, os mangás ainda podem ser divididos de acordo com a tematica
abordada na obra, ação, terror, romance, etc (Biblioteca Brasileira de Mangás, 2017).
Apesar das diferentes demografias, o mangá possui características de linguagem que
fazem com ele seja reconhecido como mangá, à ênfase na transmissão de emoção para o
leitor é uma delas, mas essas características podem ser utilizadas de diferentes maneiras em
demografias diferentes.
No que diz respeito às emoções, segundo Paul Ekman (1972), existem sete emoções
básicas que são inatas a todos os seres humanos e universais a todas as culturas do mundo,
Tristeza, Raiva, Surpresa, Medo, Nojo e Alegria. Conforme McCloud (2008), quando se faz
uso de expressões faciais em HQs é preciso abordar quatro problemas: diferentes tipos de
expressões e de onde elas se originam, como essas expressões são formadas pelos
músculos, as várias estratégias para representar essas expressões graficamente e como as
expressões faciais funcionam em sequências quadrinísticas. Utilizando as expressões
básicas descritas por Paul Ekman (1972), intensificando-as e misturando-as, é possível
identificar outras expressões conhecidas, como podemos ver no esquema apresentado por
Scott McCloud na figura 1.

Figura 1: Emoções básicas e seus níveis de intensidade


Fonte: MCCLOUD, Scott. Desenhando Quadrinhos. São Paulo, Makron Books, 2008.

Contudo, além das expressões básicas e universais, existem também expressões que
só podem ser compreendidas em um contexto cultural específico. Segundo Chinen (2013),
dentre as metáforas visuais encontradas nos mangás, existem convenções, como por
exemplo, o rubor facial, que significa que o personagem está envergonhado, as gotas de
suor no rosto, que significam nervosismo, o sangramento nasal, que significa que o
personagem está excitado. Essas metáforas são consideradas convenções porque são
próprias da linguagem do mangá e é preciso um conhecimento prévio para entendê-las.
Ainda em se tratando de emoções, o modelo circumplexo Russel (1980) consiste de
uma representação pictórica de um espaço bidimensional, onde uma dimensão do
circumplexo captura a valência emocional (positivo-negativa) e a outra dimensão traduz o
nível de ativação (alto-baixo), A dimensão valência está relacionada à codificação do
ambiente como prazeroso ou desprazeroso. Para o estímulo em um determinado momento,
o sujeito pode atribuir um significado: bom ou ruim; útil ou prejudicial; recompensador ou
ameaçador (Barrett, 2008). Já a ativação é a dimensão da experiência que corresponde à
mobilização ou à energia dispensada; a baixa ativação, representada por sono, até a ativação
alta, representada pela excitação (Russell & Barrett, 1999). Desta forma, cada emoção
resultará de uma combinação linear entre estas duas dimensões e cada grupo se posiciona
em termos emocionais em algum quadrante do diagrama circumplexo, como, por exemplo,
uma emoção de valência emocional positiva e ativação alta está relacionada à alegria. O
autor ainda afirma:

(…) descrito como um espaço formado por duas bipolaridades, mas com dimensões
independentes, o grau de Prazer e o grau de Ativação. Prazer-Desprazer (ou
Valência) é uma dimensão da experiência que se refere ao tom hedônico. A ativação
é a dimensão da experiência que se refere ao sentido de mobilização ou de energia,
que pode ser visto como um contínuo, indo dormir, zonzo, relaxado ao alerta,
hiperativo e finalmente excitação” (Barrett e Russell, 1999).

O diagrama torna possível agrupar e distinguir emoções dividindo-as em quatro


grupos (figura 2). Estados afetivos que são próximos no circumplexo representam uma
combinação similar de valência e ativação percebida; já estados afetivos posicionados
diametricamente longe um do outro diferem em termos de valência e ativação (Russell,
1980). Assim, as quatro variáveis alocadas diagonalmente não são dimensões, mas ajudam
a definir os quadrantes no espaço do circumplexo (Russell, 1980).
Figura 2 : Modelo Circumplexo de Russel traduzido
Fonte: RUSSELL, James. A circumplex model of affect. Journal of Personality and Social
Psychobiology, 39, 1161-1178, 1980.

No primeiro quadrante Q1 estão alocadas emoções negativas e de baixa ativação,


são emoções relacionadas à raiva e ao medo, no segundo quadrante Q2 estão alocadas
emoções positivas e de alta ativação, são emoções relacionadas à alegria, no terceiro
quadrante Q3 alocadas emoções negativas e de baixa ativação, são emoções relacionadas à
tristesa, e no quarto quadrante Q4 estão alocadas emoções positivas e de baixa ativação, são
emoções relacionadas à calma.
A partir da revisão dos artigos já publicados nas Jornadas Internacionais de Histórias
em Quadrinhos, observou-se que existem poucos estudos relacionados ao mangá nas áreas
de artes e design. Apesar de o mangá ser tema recorrente nos artigos publicos neste evento,
ainda se tem poucos estudos que analisem a parte visual do mangá e suas caracteristicas.
MÉTODO DE PESQUISA

Esta pesquisa se caracteriza como básica, descritiva e qualitativa, tem o objetivo de


coletar, analisar e classificar expressões faciais características do mangá, a fim de
compreender a relação entre seus significados e sua representação visual.
Esse estudo análitico foi realizado em quatro fases:
1. Coleta e seleção de amostras:
• Este etapa foi realizada através da leitura dos primeiros capitulos de
cada título de mangá citados a seguir. Foi realizada uma busca por
expressões faciais típicas da linguagem do mangá.
2. Decomposição das expressões faciais:
• Foram utilizadas a seis emoções básicas (alegria, tristeza, medo,
raiva, surpresa e nojo) apresentadas por McCloud para esta
decomposição das expressões faciais coletadas.
3. Classificação dessas expressões faciais:
• As expressões faciais foram nomeadas de acordo com as emoções
que representam e seus significados dentro da linguagem do mangá.
4. Posicionamento no modelo circumplexo:
• Após identificar que emoções as expressões faciais representavam,
elas foram posicionadas no modelo circumplexo de Russell (1980),
de acordo com os eixos de valencia emocional e ativação.

DESENVOLVIMENTO

Foram coletadas para essa pesquisa 60 expressões faciais, presentes em 12 títulos de


diferentes mangás, são eles One Piece (Eichiro Oda), Ao Haru Ride (Io Sakisaka),
Bakuman (Tsugumi Ohba e Takeshi Obata), Chobits (CLAMP), Kami-Sama
Hajimemashita (Suzuki Julietta), Fullmetal (Hiromu Arakawa), Negima (Ken Akamatsu),
Nurarihyon no Mago (Shiibashi Hiroshi), Rurouni Kenshin (Nobuhiro Watsuki), Shigatsu
wa Kimi no uso (Naoshi Arakawa), Yowamushi Pedal (Wataru Watanabe) e Baka to Test
(Yui Haga), 9 deles da demografia shonen, 2 shoujo e 1 seinen. Foram selecionadas para
análise 20 expressões das 60, pois algumas expressões com o mesmo significado
apareceram em títulos diferentes.
Primeiro as amostras foram decompostas utilizando as expressões básicas e seus
níveis apresentados por McCloud, para fazer essa decomposição foram utilizadas como
base as nomenclaturas e desenhos definidos por McCloud (2008). Em seguidas estas
expressões foram nomeadas de acordo com seus significados dentro da linguagem do
mangá, operação realizada com base no conhecimento e experiência da autora. E por último
as expressões foram alocadas no diagrama circumplexo de acordo com seus nomes e
emoções das quais elas derivam.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O resultado final é o painel semântico composto pelas expressões coletadas e os


resultados obtidos em cada etapa da análise (figura 3).

Figura 3 : Painel Semântico


Fonte: Autor

A linha “Amostras Coletadas” indica as expressões faciais que foram selecionadas


após a coleta inicial de amostras, são ao todo 20 expressões faciais.
A linha “Análise por McCloud” indica a decomposição das expressões faciais
através das emoções apresentadas por McCloud (2008).
A linha “Nomeclatura” indica o nome dado a cada expressão facial de acordo com a
emoção que elas representam e seu significado dentro da linguagem do mangá.
A linha “Análise por Russell” indica o posicionamento de cada expressão facial (de
acordo com a emoção que representam) no modelo circumplexo.
Percebemos que a maioria das expressões é composta por duas emoções básicas
(alegria, raiva, medo, tristesa, surpresa e nojo), o que significa que não são emoções
complexas. Em alguns momentos, o desenho das expressões faciais não foi suficiente para
chegar à expressão da amostra, nesses casos o peso maior para a composição da expressão
foi a nomenclatura utilizada por McCloud (2008). Em outros casos, as expressões das
amostras representam emoções básicas, no entanto representam com exagero, por isso
foram compostas pela emoção básica representada com a adição de um símbolo de
intensidade identificado por uma seta direcionada para cima, é o caso da ultima amostra na
primeira fileira (figura 3), a emoção representada é a tristesa, mas a expressão facial do
personagem está exagerda.
Apesar da maioria dessas expressões serem fruto da soma de mais de uma emoção,
no momento em que foram alocadas no diagrama circumplexo levou-se em consideração a
emoção final formada pela soma das emoções básicas. Por exemplo, o Sadismo é formado
por uma emoção positiva e de alta ativação que é a Satisfação e uma emoção negativação e
de alta ativação que é a Raiva, mas o Sadismo se encaixa como uma emoção positiva e de
alta ativação. Portanto, uma emoção pode ter bases em emoções básicas opostas, mas é o
resultado dessa soma que define onde esta emoção se encaixa.
As expressões facais apresentadas são comumente encontradas em mangás, mesmo
em diferentes demografias e são utilizadas em sua maioria para intensificar a emoção
expressa pelo personagem. Algumas delas têm significados que são absorvidos pelo leitor
através do contexto ou da experiência na leitura do mangá. Essas expressões criam um
vocabulário através de suas metáforas visuais, por exemplo, os olhos com estrelas
combinados com o sorriso largo, demonstram que o personagem está encantado com algo
ou alguém, até mesmo emoções básicas são apresentadas através de metáforas visuais, a
expressão de raiva continua sendo percebida como raiva, ela é representada de maneira
minimalista, no entanto isso intensifica seu significado.
Esse tipo de uso da expressão facial raramente é encontrado em outros tipos de HQs,
por isso podemos chamá-las de convenções do mangá, expressões com traços e significados
singulares que muitas vezes fazem com que o leitor necessite do contexto ou tenha
experiência de leitura para compreendê-las. Assim, confirmamos a afirmação de Chinen
(2013) que diz que o mangá possui características que estabelecem um código que necessita
ser aprendido e decodificado para ser compreendido pelo leitor e dentro deste código
existem convenções.
Por outro lado segundo Cohn (2010) usar um vocabulário visual consistente permite aos
leitores a liberdade de se concentrar no conteúdo das expressões, ou seja, a mensagem da emoção
representada é passada pelo contexto geral, e não apenas pelas próprias expressões faciais. O que
significa que por mais que determinadas expressões tenham significados peculiares, é possível
compreendê-las com auxílio do contexto, aumentando assim o vocabulário visual do leitor.
Apesar da variedade de temas nas amostras coletadas e das diferentes representações para
expressões com significados similares, percebe-se que existe uma linguagem em que estas
expressões estão contidas. Nas figuras 4 e 5 percebemos a semelhança de representação da raiva
mesmo sendo em mangás de demografias diferentes, na figura 4 de Kami-sama Hajimemashita
(shoujo) e em seguida na figura 5 de Fullmetal Alchemist (shonen).

Figura 4: Expressão de raiva no mangá Kami-Sama Hajimemashita


Fonte: https://mangahostbr.net/manga/kamisama-hajimemashita-mh24879 (acessado em 17/05/18)
Figura 5: expressão de raiva no mangá Fullmetal Alchemist
Fonte:https://mangahostbr.net/manga/fullmetal-alchemist-mh24536 (acessado em 07/05/18)

Assim compreendemos que as expressões faciais dentro do mangá cumprem o papel


de enfatizar a emoção transmitida pelos personagens, isso cria empatia e identificação do
leitor com o personagem, reforçando a ideia de McCloud (1995) de que quanto mais
icônico o rosto de um personagem, mais fácil do leitor se identificar com o mesmo. Quando
as expressões faciais são desenhadas de forma exagerada, seus traços são minimizados, no
entanto, o significado e o impacto da emoção expressa são ampliados.

CONCLUSÃO

Concluímos que as expressões faciais dentro do mangá formam um vocabulário,


pois apesar de represetarem emoções básicas, comunmente estas expressões faciais têm
significados únicos no contexto do mangá, estes siginifcados necessitam ser absorvidos
pelo leitor através deste contexto para serem compreendidos. No entanto, isso não dificulta
a compreensão da HQ como um todo e sim acrescenta carisma a mesma. O modo como os
personagens se expressam cria empatia entre eles e o leitor, tornando a leitura mais
imersiva. Conforme o leitor le variados títulos de mangá este vocabulário de expressões é
absorvido por ele, aumentando seu repertório visual.
Estas expressões faciais como citado por Souza e Battaiola (2017) são apenas um
dos elementos enfáticos com o objetivo de causar e transmitir emoção ao leitor. O mangá
possui outras características que compõem uma linguagem com base em enfatizar mais a
emoção do que a ação dentro de suas histórias. Como citado por Chinen (2013), mesmo em
se tratando de histórias ficcionais, há uma humanidade nas ações e sentimentos que, confere aos
mangás um nível de empatia dificilmente encontrado no quadrinho ocidental.
Atualmente, o ensino sobre HQs é basicamente voltado ao estilo ocidental, mais
especificamente, o americano. A cultura oriental das HQs tem diferenças expressivas da
ocidental, as quais podem funcionar como um complemento no ensino de HQs. Essas
diferenças de linguagem impactam diretamente o público, portanto entender essas
diferenças auxilia tanto no ensino sobre HQs quanto na produção das mesmas.
Além disso, podemos tirar proveito desta empatia criada pelas HQs para utilizá-las
em outros meios, seja na educação infantil, no ensino de temas complexos como a
matemática (Brozo, 2012), e até na melhoria do design de alguns produtos, materiais
criados por designers que sejam acompanhados de ilustrações ou instruções visuais, em
especial, neste caso, o uso a linguagem das HQs pode facilitar o entendimento e ao mesmo
tempo propiciar ao usuário uma experiência mais agradável.
Por fim como referido por Cohn (2007) a linguagem visual é uma representação da
cultura de um lugar. Quando entramos em contato com a linguagem do mangá, não estamos
apenas lendo algo diferente, estamos entrando em contato com aspectos de outra cultura,
exemplificados através do desenho e do modo como ele é apresentado.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a CAPES pelo apoio financeiro que possibilitou esta pesquisa.

REFERÊNCIAS

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BBM RESPONDE: COMO SABER QUAL A DEMOGRAFIA DE UMA OBRA?. Disponível


em: <https://blogbbm.com/2017/06/02/bbm-responde-como-saber-qual-a-demografia/>.
Acessado em 28. jul. 2019.

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