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MALYN NEWITT

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sua
intluencia Costa acima até a u
a Gaza c cstendendo a
Sobrepondo-se um pouco vale do Luangwa situava-se
ao
o interior até ao lago Malawi e política comunundo
Moçambique e para uma cultura social e
Esta região possuía uma
O norte de Moçambique ee
Zambeze.
dos muzungos do
comum de
domínio afro-português. menos
experiència também verilicava alguma homogeneid.
em 1890, mas
até aqui se dade.
conhecido dos Portugueses dialectos da lingua macua eram falada
todos matrilineares, e os
Os povos da região cram uma zona que fora unida nos
tratava-se de
Zambeze. Além disso, Macondes e onde o Islän
Cabo Delgado ao
caravanas comerciais
dos Yao e dos se
culos x v u e xix pelas
difundira rapidamente finais do século xix.
nos
económica, social e política encontravam e
zonas de cultura
Sobrepondo-se a estas amplas bases costeiras portuguesas. Estas foram
os círculos de influência
directa que irradiavam das
e historiadores ae
modo pelos contemporaneos
normalmente ridicularizadas de igual alem das armas das suas
controlavam algo para
salientaranm que os presidios dificilmente
termos de administração
colonial formal, assim sucedia, mas. aa
pequenas fortalezas. Em manitfestamente inadequada. Em 1890, a
é
considerar-se a influência real, a descrição
estendera-se bem atë ao interior, de modo que
influência comercial e política dos presídios
não tivessem tido contacto
existiam poucos moçambicanos, excepto no longínquo norte, que
com eles de uma forma ou de outra.
uma maior coerencia do que a grande
Todavia, se à nascença Moçambique apresentava futuro afigurava-se mais
africanos recém-formados, 0 seu
parte dos territórios coloniais colónia revelaram-se anos caóticos
mas para a
precário. A década de noventa foi de formação,
e anárquicos, durante os quais dificilmente conseguiu sobreviver. Verificaram-se ameaças

a fazerem abertamente intrigas a fim de


internacionais, com a Gr -Bretanha e a Alemanha
desmembrarem a nova entidade. Estas obstaram a que Portugal criasse uma estrutura
administrativa viável ao mesmo tempo que se submetiaà pressão internacional e passava por
uma crise política e a bancarrota.

Ameaças internacionais contínuas

Durante alguns anos após a partilha inicial da Africa Central, presumiu-se, de um modo
também uma nova divisão
que haveria mais ajustamentos de fronteira, possivelmente
e
geral,
territorial. Por razões diferentes, a Alemanha e a Gr-Bretanha sentiam-se cada vez mais
e a Africa Central era uma das zonas do mundo, conquanto
não
inseguras na década de 1890,
fosse de modo algum a mais importante, onde havia a possibilidade de se verificar uma

reacção neurótica excessiva. A Gr-Bretanha enfrentavao aumento da riquezae do poder no


Transval, que parecia estar a destruir o domínio britânico tradicional na Africa Meridional.
Para os novos imperialistas, como Joseph Chamberlain, a perda da influência na Äfricado Sul
poderia sabotar completamente os planos para um império mais unido, mais dinâmico. A
formulação mais evidente deste receio foi a noção de que o Transval pudesse vir a estabelecer
uma aliança estreita com os Alemäes, e possivelmente com os Portugueses, que fizesse
perigar a posição da Grã-Bretanha na África do Sul. Após o fiasco do Ataque de Jameson,en
1896, parecia realmente possível uma aliança germano-transvaliana. A política tradicional da
Gr-Bretanha fora de contenção do Transval controlando o seu acesso ao mar e por es
motivo a Gr-Bretanha se mostrara tão ansiosa por assegurar o controlo da baía de LDelagod
Todavia, otratado de 1869 entre Portugal e o Transval, e a arbitragem de MacMahon em lo
tinham conferido à república béer o acesso ao melhor porto na África Meridional na base u
comércio livre e sem qualquer controlo britânico. Restava tão somente construiruna
de caminho-de-ferro, que ficou concluída em finais de 1894. A Gr-Bretanha tentd
contrariar estas iniciativas negociando diplomaticamente o Tratado de Lourenço Mar
com Portugal em 1879, e levando Portugal a assinar acordos que proibiam a imporaa
armas de fogo e concediam direitos de trânsito às tropas britânicas. Além disso, atigurU
HISTÓRIA DE MOÇAMBIQUE
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dada altura que caminho-de-terro do Transval seria


o
posse dos Ingleses. Não obstante
ntinuou a ser umaprioridade urgente da política britânica, directa ou indirectamente,
para
hter 0 Controlo da baia de Delagoa, enquanto para o Transval subsistia como
obt
prioridade
igualmente vital a
protecção deste elo independente com o mundo exterior.
A insegurança da Alemanha proveio da sua posição na
Europa entre a Rússia e a França,
enão do seu império africano relativamente pouco significativo. Porém, os definidores de
nolíticas estavam cada vez mais convencidos de que a Alemanha tinha de se afirmar como
arande potência em várias partes do mundo para garantia da sua segurança na Europa. Foi na
década de 1890 que Tirpitz começou a criar uma frota alem de alto mar, iniciativa esta que
só poderia ser interpretada como um desafio directo à Grã-Bretanha.
O principal objectivo da política britânica na década de 1890 era afastar a ameaça de uma
aliançagermano-transvaliana e assegurar o isolamento diplomático dos Bóeres. Fulcral para
esta politica foi a anexaço formal, pela Gr-Bretanha, dos territórios dos Pondos, Zulus e
Tongas, o gue garantia o controlo de toda a costa leste da África do Sul até à fronteira
portuguesa. Estas anexações ficaram concluídas em 1896 e permitiram à Gr-Bretanha
compensar o Transval com a cessão concreta da Suazilândia em 1894. Todavia, a conclusão
da linha férrea do Rand a Lourenço Marques, também em 1894, conferiu um carácter de maior
urgência que viria a decidir por tratado internacional o futuro a longo prazo de Moçambique."
Em toda a década de 1890, as possessões coloniais portuguesas pareciam altamente
instáveis. A desordem ea anarquia em Angola e Moçambiqueea manifesta incapacidade dos
Portugueses em controlarem uma boa parte do interior, associadas à debilidade financeira,
tinham levado Portugal a abandonar o padrão ouro em 1891, fazendo com que Lord Salisbury
pensasse na necessidade de serem tomadas medidas com vista a uma futura crise em que a
as

potências poderiam ter de partilhar colónias portuguesas. Entabulou negociaçQes com


as
Alemanha para estabelecer as condições em que poderia ser concedido um empréstimo a
Por fim, em 1891,
Portugal, com a garantia das suas colónias como uma espécie de hipoteca.
a sua diplomacia triunfou e a Grã-Bretanha e a Alemanha assinaram um acordo secreto,
conhecido por Tratado de Westminster, que previa a partilha do império português na
colónias. A Alemanhaea Gr-
eventualidade de Portugal ser obrigado a abdicar das suas
de Moçambique, que daria à Alemanha o Norte e à
-Bretanha acordaram na partilha
Grã-Bretanha o Sul (incluindo, como lógico,
é a baía de Delagoa). Angola seria também
partilhada, com a Grã-Bretanha a receber
um corredor central ao longo do qual Sir Robert
Williams planeava já construir o seu
caminho-de-ferro de Benguela, e a Alemanha a receber
ficaria adjacente ao Sudoeste Africano alemão e
território a norte e a sul. A zona meridional
- u m a forte ambição dos imperialistas
daria à Alemanha o acesso ao porto de Moçâmedes
visto como um astucioso ludibriar dos Alem es
alemes na volta do século. Este tratado foi
mas era necessário mais do que um
mero
alravés da diplomacia habilidosa de Salisbury, divisão
Alemães da Africa Meridional.Teve como efeito a
Cxercicio no papel para excluir os comercial,
das colónias portuguesas por esferas
de intluëncia para efeitos de actividade
e a eliminação da fonte constante
de atrito
Investimento e mesmo iniciativas missionarias,
potências.
provocada pelas desconfianças múuas das grandes
bastante com o cujos termos não tardaram
tratado,
Muito embora Portugal se ressentisse fortalecimento do domínio de
mas o
ser conhecidos, no resultou daí o enfraquecimento
a Com as duas principais potências agora
relativamente
rortugal sobre o seu império. eventualidade de
nacionais seriam salvaguardados, na
Confiantes de que os interesses
uma grande parte da pressão
exercida sobre Portugal. Já
qualquer crise regional, foi retirada e hostilidade diplomática que
sentira na década de
estava sujeito à intensa propaganda
do Gr -Bretanha competiam por influência.
Além disso, em 1899,
680, quando a Alemanha e a Windsor), através do
com Portugal (o Tratado de
a
ura- Bretanha assinou um acordo secreto
coloniais de Portugal.
qual a Grã-Bretanha garantia a segurança das possessões
1913, constituiu um grande exemplo da
Otratado secreto com a Alemanha, renovadoem
tensão entre as
um
grandes potências, e proporciona rort
dneira como podia ser aliviada a
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criar
ideia de quC
a
rivalidade imperial ajudara a ac

ndições para o
atura, a Grä-Bretanh
contra a Pouco depois da sua
argumento mundial.
dos Bóeres, em que
Porte
guerra
eclodir da primeiraenvoltos na Scgunda
Guerra

nço
Lourenço
colaborou
Marques continuava:aberto
Transval viram-se o porto de a0s
com a
Grã-Bretanha:

encerrado aos Bóeres. Coma ocunac


plenamente
britânicas mas
das tropas m o d u s vivendi
sobre questões de män.
movimentos
1900, a
assinatura do
a C
obra e
auríferos em formal do Transval em 1902.
campos
1901 e a anexação Bretanha
do
caminho-de-ferro
cm
a possessão
portuguesa na baía de Delagoa já não
confiante de que
razoavelmente
sentia-se interessesmuito
emoora as
ambiçoes de certos dolt
aos seus factor ponderarna
ameaça ser um a
constituía uma
a Baía
continuassem a
política
sul-africanos em adquirirem
longo do século
xx.
regional ao
da Rodesia afastou-se gradualmente. Em reves
O perigo intervenção armada
de uma novo regime de pirataria
vira-se ameaçado pelo da
1891, Moçambique
traços. em 1890 Tora ocupado eregistaram-seconflitos
e
Oterritório portugues
British South African Company. a revolta do Barué contra Soica
fomentara subrepticiamente
armados. Além disso, Rhodes Gungunhana
o ainda independente insubmisso
e
em 1891 etentara negociações directas com brancos com a ideia de ocuparem uma parte do
mercenários
enviando armas e recrutando
a credibilidade de
Rhodes em Londres decaíra rapidamente
território de Moçambique. Todavia, dissolver-se o acordo cuidadosamente
e Salisbury não tinha qualquer
intenção de deixar
Rhodes encorajou a actuação por meios pacíficos, com
negociado com Portugal. Ao invés,
da Beira e à obtenção dos direitos de recrutamento de
vista à construção do caminho-de-ferro
mão-de-obra por parte dos Portugueses.
Com a eclosão da revolta dos Machonas em 189%6,
os dias da independência de Rhodes estavam contados, e após terminar a rebelião, o governo
Alto-Comissário britânico para a Africa do Sul.
da Rodésia ficou sob a estreita vigilância do
Mesmo assim, o aventureirismo de Rhodes ter-se-á mantido; os seus agentes continuaram a
actuar no enclave não pacificado do Barué até 1902, o ano da sua morte."
A intervenção militar ou política directa do exterior retrocedeu gradualmente enquanto
ameaça ao futuro de Moçambique como estado colonial, mas a invasão do capital estrangeioa.
conquanto lenta de início, não tardou a ganhar ímpeto. Em 1900, grandes zonas de
Moçambique eram ainda controladas por companhias com concessões estrangeiras, enquanto
outras haviam negociado para si extensos direitos e privilégios dentro do país. As razões de
tal serão melhorexplicadas analisando a situação desesperada que os Portugueses enfrentavam
na Africa Oriental na sequência dos tratados de partilha.

Moçambique e o novo imperialismo

Durante o século xviil, as cidades portuárias de Africa dedicaram-se completamenca


comércio do marfim. Este comércio foi dominado pelo capital indiano, os Indianos constituran
o maior sector e o mais
próspero da população nos portos e povoados do Zambeze, e todas
as normas comerciais provinham da India. Não existia comércio directo entre Portugal e a
Africa Oriental e apenas um navio
por ano- trazendo funcionários, condenauos
dadosligava Moçambique a Lisboa. O crescimento do comércio vou
ao renascimento do interesse negreiro, porem, i
comercial da metrópole
que as finanças portuguesas se tinham envolvido portuguesa na Afnca on ntal.. já
e es-
Cravos.
bastante no comércio brasileo
Durante periodo de ascendência liberal
o
posteriormente a 1831, desenvov m-
grandes estorços no sentido de estimular a actividade mas
económica nas colónias
esta legislação liberal
causou pouco impacte real em Moçambique. e o atricands ento
comércio portugues com a Alricae o investimento cresci quanto
nela limitaram-se à
o comércio colonial
(quase exclusivamente com as parte oes ide
cerca de 1% do comèrcio ulranarino colónias da África Ocidental) su
total de
Portugal pura 3-6% após 1841
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a sua acção. Em Outubro, Schultz conc

Rhodes levado
a prosseguir de
em Portugal, e
em troca de um subsídio
e a entrega
de aliança»
Gungunhana um «tratado no sul de Moçambique era mais firme do ue a
Contudo, domínio
portugues
espingardas. o Dezembro,. Gungunhana
reconheccu de novo Duhii
Manica. Em
sua presença em
em Fevereiro de 1891, Rhodes
fretou um navio
a v
soberania de Portugal, c quando, as armas prometidas, uma canh
o Limpopo com
Countess
estava of Carnarnvon,
a postos para subir
para apreender o navi0 e 1azer uma demonstração eficaz da ridade

portuguesa na da
Ao longo costa.
primeira parte de I891, Gungunhana continuou a tentar obter a protec
lecção
enviados a Londres em Abril. Não resulta muito clar
britânica e mandou, inclusivamente, dominio britänico ou apenas de
se se terá tratado de uma
tentativa séria de submissão ao
assinaram finalmente u
de 1891, a Gr -Bretanhae Portugal
ganhartempo, mas, em Junho do território de Gaza se situava dentro das fronteiras
tratado reconhecendo que a maior parte
continuava a ver Gaza como um estado
portuguesas." Apesar do tratado, Gungunhana
anos antes de o maior de todos Os reinos angunes ser
independente, e decorreram mais quatro

destruído.

O traçado das fronteiras de Moçambique

A linha contorcida de Moçambique moderno, fechada num abraço com os antigos


territórios da África Central Britânica, não representa qualquer consequência racional das
necessidades deumestado moderno, mas imortaliza o momento do dia 11de Janeiro de 1890,
emque a música cessoue os missionários, aventureiros, cônsules, pesquisadores de concessões.
caçadores brancos e toda a ralé das «partes interessadas» ficaram imobilizados em posturas
que um tratado internacional não tardaria a tornar inalteráveis. Se o estado de Moçambique
surgido das posteriores negociações incluía as antigas cidades do Litoral e o Zambeze que fora
português ou estivera soba influência portuguesadesde o séculoxvi, as suas fronteiras internas
reflectiam as actividades mais recentes dos aventureiros e caçadores de concessões. Os
acontecimentos mais decisivos dos cinco anos anteriores tinham sido a celebração com êxito
doTratado de Augusto Cardoso a leste do lago Malawi. em 1885, e dos Tratados de Buchanan
e Johnston celebrados a ocidente e sul em 1889, o fracasso de Andrada e
Sousa na ocupação
do norte do território dos Machonas quando o seu exército irregular foi derrotado em Mtoko.
em 1887, e o êxito dos aventureiros portugueses por oposição aos britânicos na conquista da
sensibilidade e de parte da confiança de Gungunhana durante os cinco prinmeiros anos do seu
reinado. O traçado final das fronteiras, porém, iria apresentar-se repleto de diliculdades, e.
numa determinada fase, em meados da década de
1890, pareceu que a música iria recomeçar
e reactivar-se o
corTopio de aventureiros e caçadores de concessões.
A reacção portuguesa imediata ao ultimato
foi procurar o
europeias para um processo de arbitragem, invocandoo Artigo 12."apoio
de outras potencias
de Berlim. Lord Salisbury recusou desde do Tratado do Congresso
o resultado da
logo qualquer concordância, lembrando sem düvida
arbitragem da baía de Delagoaque achara favorável a
do assunto atrasou as Portugal.
negociações sobre a fronteira até Abril, altura em
mas a discusSaao

conversações bilaterais em Lisb0a. Tendo que se entabularan


falhado a obtenção da
manter vivas as suas aspirações a um arbitragem. Portugal tenou
prolongamento contínuo do território através de Afnca.
e
propos em Maio a de
criaçao um sector entre
Angolae Moçambique que fosse administrau
conjuntamente pela Gr-Bretanha e por Portugal.
Eimportante a
politica destas propostas. A sobrevivência do
o rcgime
monárquico tinha sido ameaçada pelo ultimato. O governo portugues e de tou
de estabelecer compromissoS, muilo embora governo não estava em postao
soubesse que não
potênciacomo aGrä-Bretanha, que resolvera gerar conseguiria fazer trenteaua
da Africa Central. Por conseguinte, os polémicacomademarcação
das
Portugueses avançaram propostas que sabiamfronteltas
ireni
s
HISTORIA DE MOÇAMBIQUE
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recusadas e aguardaram que Ihes fosse imposta a solução da Grä-Bretanha. 0 governo


hritanico encontrava-se sob pressão da British South African Company, de Rhodes, que
se preparava para ocupar o território que lhe fora concedido por decreto e estava ansioso
nor que, se possível, nenhuma zona da alta savana a sul do Zambeze viesse para Portugal.
A 20 de Agosto de 1890, foi assinado um tratado que concedia à Grä-Bretanha as Teras
Altas do Shire eaalta savana do território dos Machonas, muito embora deixasse as terras altas
de Manica na esfera de Portugal. Zumbo foi reconhecido como o ponto mais ocidental da
influência portuguesa no Zambeze; para ládele ficariauma faixa de teritório britânico, apesar
de Portugal ter direitos especiais numa faixa ao longo da margem norte do rio onde poderia
construir estradas e caminho-de-ferro e erguer linhas de telégrafo. O tratado estava mais

preocupado com a liberdade de comércio e direitos de trânsito, que haviam provocado tensões
na década de 1880, e Portugal preferiu não alienar qualquer parte do seu
diplomáticas
território a um terceiro país sem o consentimento da Gr-Bretanha. Por último, Portugal
deveria arrendar território à Gr -Bretanha em Chinde, na foz do Zambeze, para a construção
de um porto, e concordou em criar uma linha férrea desde a foz do Pungue até ao território
sob protecção. O tratado ameaçava arrancar de um modo grosseiro a parra que cobria o facto
embaraçoso de que Portugal pouco mais era do que um estado-cliente da Gr-Bretanha.
Nos oito meses subsequentes aoultimato tinham-se verificado idas e vindas extraordinárias
os Portugueses se abstivessem de
na Africa Central. Muito embora Salisbury exigisse que
Rhodes e os seus agentes de
actividade nas zonas sujeitas a negociação, ninguém impediu
mas encontrou
levarem por diante as suas actividades. Alfred Sharpe percorreu Luangwa
o

bandeira portuguesa hasteada no território dos


toda a região sob o chicunda portuguëse uma
Rhodes entrou no território dos Machonas, e
Mpezenis. Em Junho, a «Coluna Pioneira» de celebrar tratados em Manica e
Colquhoun e Jameson foram enviados respectivamente para de Manica
em todos os pontos das terras altas
estudar um percurs0 até à costa. Encontraram
funcionários ao serviçoda Companhia
vestígios da presençae actividade de pesquisadores
ou

criaram uma guarnição na junção do Kafue e do


de Moçambique. Em Junho. os Portugueses
à região da Lunda. Porém, as tentativas
Zambeze, e em Agosto partiu uma expedição Malawi caíram por
sistema de tratados para leste do lago
portuguesas de estenderem o seu
às mãos dochefe Mataka. Entretanto,
terra quando Valadime a sua expedição se malograram método
Terras Altas do Shire através do
Buchanan reforçou a soberania britânica nas
canhoneiras portuguesas
improvisado de execução de dois portugueses. Na foz do Chinde,
cipais um nav110
dos motores, tentaram enfrentar
incapazes de navegar devido a sabotagem Durante o que foi, na
os seus canhões.
topográfico britânico, que respondeu disparando entretiveram-se a
internacional, os «homens no local»
Verdade, uma suspensão do direito ter provocado um
posicionar-se e cada vez mais de acções que poderiam
aproximar-se
incidente grave."
começou a tornar-se
mais séria. O govern0 portuguës, incapaz
Em Setembro, a questão Setembro, o Almirantado
de obter a aceitação de um tratado nas Cortes, demitiu-se a 16 de actO de
chegaram noticias de um
ordenou que uma canhoneira britânica subisse o Zambeze e
soldados de Rhodes
Novembro, alguns dos
pirataria por parte de Cecil Rhodes. A 15 de
de Mutasa e passaram ocupar
a
prenderam Andrada e Manuel António de Sousa na capital
Masekesa. Rhodes tencionava aproveitar-se do hiato diplomático e da rejeição, por parte de
a Chartereu
território posível para
Portugal, do tratado de partilha para garantir o máximo ele, eram
em Africa, reflectiu
Companye, se viavel, criar um corredor até ao mar. A possessão
nove-décimos dalei, e previa que Salisbury, que antes fora instigadoeespicaçadoelicazmen 77
em Manic.
e Johnston na zona do Shire, se revelasse igual mente instigável
por Buchanan
Todavia, OS «homens no local» tinham sido demasiado lentos. A 14 de Novemor
PortugaleaGra-Bretanha assinaram um acordo provisório (ummodus vivendi) que vigordtid
durante seis meses, aceitando os limites territoriais do tratado de Agosto. ale un re a
definitiva da fronteira. A Chartered Company resolveu ficar no mesmo sitio e reu
evacuar o território «portugu s», e as suas tropas ocupavam ainda Masekesaem
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Durante o princípio de 1891, os Porugieses tenlaram reunir uma expedição para env
Manica, enquanto Rhodes mandava um grupo armado ao Pungue para abrir umaestradado
mar até à alta savana. Quase todos os dias seregistava alguma confrontação entre o pe-
da Chatered Companyc os Portugucses. c a Companhia exigiu então em alto c bomsomu
intervenção do govemo britânico para vingar os insultos à bandeira. O incidente mais era
deu-se em Maio de 1891.quando tropas porluguesas e da Chartered Company se envolyvera
em Masckesa. Após um pequeno recontro, os soldados da Companhia perseguiram c
Portugueses em debandada até à costa. A 29 de Maio, parecia iminente um segundo combate
quando umemissáriodo Alto-Comissário BritâniconaÁfrica do Sul ordenou inequivocament
às forças da Chartered Company que se relirassem.
A 28 de Maio de 1891, a Grä-Bretanha e Portugal acabaram por assinar um tratado que
vinha de alguma forma alterar os termos aceites no ano anterior. Os acontecimentos em
Manica tinham-se reflectido numa nova fronteira que acompanhava a linha da escarpa e
deixava a capital de Mutasa do lado britänico da linha e Masekasa do lado português. A
demarcação inicial no Shiree região do lago não foi alterada, mas Portugal tinha motivos para
estar satisfeito, pois o reino de Gungunhana era reconhecido finalmente como pertencente à
esfera portuguesa, enquanto os extensos teritórios a norte do Zambeze, há muito ocupados
pelos chicundas portugueses, eram também incluídos em Moçambique. Através de uma
cláusula secreta do tratado, a pedido de Portugal, a Alemanha era nomeada a potência que
arbitraria quaisquer desinteligências. A satisfação derradeira para Portugal terá sido a ira de
Rhodes ante uma delimitação que realmente tirava o tapete de baixo da sua guerra de corso
teritorial.
Assim, Moçambique emergia finalmente das propostas e contra-propostas avulsas, das
reivindicagões sonorasde aventureiros e do emaranhado de mapas, Cor-de-Rosa ou outros.
Sem dúvida as suas fronteiras reflectiram em certa medida a evolução histórica da regio. Os
antigos portos marítimos de Iboe Quissanga a norte de Inhambane e Lourenço Marques, no
Sul, tinham sido incluídos no novo estado com grande parte do comércio interior de que
dependiam. Contudo, a baía de Delagoa ficou muito desligada do seu interior e manteve-se
isoladae quase um enclave no Estado Sul-Africano que despontava. No Zambeze, os antigos
territórios dos prazos foram incluídos em teritório português, tal como o interior de Sena no
Barué e Manica. Tete e Zumbo viram o seu interior setentrional incluído, mas a zona a sul
limitada aos braços inferiores dos rios Mazoe e Ruenha. As regiðes a oceste de Zumbo
perderam-se. A forma final do país apresenta três saliências Tete e Zumbo, rodeados em
três lados pelo território britânico, a saliência britânica nas Terras Altas do Shire rodeada por
terra lusa; e a saliência que engloba o porto de Lourenço Marques, avançando para sul no
território sul-africano. Moçambique estava encravado na Africa Central e do Sul Britânica.
qual peça de um quebra-cabeças- peça essa que ostentava cada vez mais a imagem do
empreendimento financeiro e do interesse imperial britânicos.

NOTAS

'C.S.NiCHOILS, The SwahiliCoast,; E.A. ALPERS, «Gujerat and the Trade of East Africa, c. 1500-1800»;
LJ. SAKAKAJ, «lndian Merchants in Fast Afiea: the
Triangular Trade and the Slave
R.C.F, MAuGHAM, Zanbezia. p. 276; W.P. JonNSON, «Seven Years' Travel in the Economy»
Region East of Lake
Nyasa», p. 533.
M. NWIT, «Drought in Mozambique, 1823-1831», p. 22
GIRHARD Lu SEGANG, «A First L0ok at the lmport and Export Trade of Mozanmbique. 1800-1914>,
p. 467.
A.RITA-Fi RRIRA, «A Sobrevivencia do nais traco.», pp. 304; ARI INIO CHIu.UNIX), «Quando conieçou
o comércio das oleaginosas em Moçambique?», pp. 512-13.
298 MALYN NEWITT

missionários, enviamos um representante do Govern.


Paraosagradar
poupar aos
contribuintes, lazcmos-Ihe ver que não contará com qualquer Para
de
que Ihe resta é a cloquência [...].21
armadas. A única
arma
forças
Africanos se dedicar ao comércio do marfim ea
Apesarde a Companhia dos Lagos nas encostas do monte Zomba, o volumns
agentes tercm começado cultivar café
a
dos seus
de Moçambique no começo da década de oitentad
do comércio britânico para o interior
ainda muito pequeno, muito inferior ao dos Franceses. A abolição da escravatura e a eclo
e seus seguidores não levou, em si. a
enérgicada actividade exploratória de Livingstone
revolução económica.

A Grã-Bretanha, Portugal e os Bóeres

Enquanto a actividade diplomática da Gr -Bretanha e a penetração comercial dos


mercadores indianos constituía umestímulo para o comércio ao longoda costa de Moçambique,
o desenvolvimento da agricultura de plantação e da extracção mineira preparava-se para
envolver as regiões meridionais de Moçambique, acompanhando de perto o desenvolvimento
do Natal e do Transval. Existe uma lógica geográfica na relação entre as longas terras litorais
de Moçambique e a alta savana do planalto interior. Os rios que nascem no planalto percorrem
a escarpa até à costa de Moçambique, nada o tipo de via para o interior que os rios
proporcionam em alguns continentes, mas mesmo assim importantes linhas de comunicação.
Não obstante, os portos e estuários fluviais constituem o acesso natural ao interior em metade
da zona oriental do continente africano. No hinterland imediato destes portos desenvolve-
ram-secomunidades muçulmanase afro-portuguesas que serviram o comércio internacional
e cujas redes comerciais ligavam Moçambique internamente aos povos da África Central e
externamente à Europa e Asia.
A lógica da geografia foi particularmente forte no caso da baía de Delagoa. A alta savana
situa-se a escassos 80 quilómetros para o interior da Baía e, pelo menos a partir do século xv1,
o marfim do interior e mais tarde o gadoe os escravos, foram levados para o porto a fim de
serem trocados por tecidos e utensílios. Numa das suas
primeiras iniciativas após a coloni
zação inicial do Transval, em finais da década de 1830, os emigrantes béeres tinham tentado
abrir uma estrada até ao mar. Em 1838, Louis Trigard e os seus
à Baía, depois de fortemente atacados pela malária e a
companheiros haviam chegado
doença do sono, servindo a sua viagem
épica para exemplificar as dificuldades do uso de bois e cavalos ao longo desta rota infestada
por moscas tsé-tsé.
Na década de quarenta, os emigrantes desenvolveram novas tentativas de abrir feitorias
nas proximidades da Baía, e, em 1848, o seu Volksraad votou uma verba para construir
uma estrada, mas semelhantes iniciativas
foram desencorajadas pelos
Portugueses, temendo estes uma intervenção britânica activa.4 Deste Ingleses
modo, durante pelos
e
duas
décadas, os Bóeres tiveram de considerar os portos do Natal e,
saídas comerciais, uma vez que as vias inclusivamente, do Cabo como
para leste Ihes estavam vedadas não só pela doença
e pela hostilidade
internacional, mas também pela hostilidade das chefias suázis,
tsongas. Contudo, por alturas de 1850, uma comunidade pedis e
fronteiriça de caçadores negreiros,
e
que o
republicano dificilmente conseguia controlar, instalara-se
governo
no Zoutpansberg e
começara a estabelecer ligaçoes com os comerciantes portugueses e caçadores de martim uc
Inhambane e Lourenço Marques, de entre os
quais o principal era o cada vez mais rico
poderoso João Albasini. Durante duas décadas, a
dade mista de comerciantes e caçadores de região noroeste da Baía viu uma conmu
elefantes bóerese
com os seus seguidores armados, afro-portugueses, juntamen
cooperarem em maior ou menor escala com os chefes locas
e com a
monarquia de Gaza mais distante, no desenvolvimento de um
escravos e gado que uilizava os portos coméreio de martin.
portugueses.
HISTÓRIA DE MOÇAMBIQUE
299

Todavia, os Transvalianos continuaram a


alimentar as ambições de criar o seu próprio
eaminho até à costa que os libertaria do
controlo britânico, e ficaram profundamente
alarmados com a nova tentaliva da Gr-Bretanha de reivindicação da soberania na Baía em
I861. Esta medida, ass0Ciada à crescente faltade terra. levou, em 1868, o presidente Pretorius
a exigir que as fronteiras do Iransval se estendessem até ao litoral. Tanto os governos
hritânico como portugues protestaram, e Portugal retaliou confirmando a sua soberania sobre
toda a baía de Delagoa, incluindo as orlas norte e sule reconhecendo como
portugues
território da Colónia de São Luis (o nome grandioso que Albasini dera à terra por ele adquirida
no interior)." Tratava-se de uma realidade fictícia que os Bóeres não desejavam nem
podiam continuar a levar por diante. Em Julho de 1869, eles e os Portugueses assinaram um
tratado que foi o
primeiro reconhecimento oficial do que viria a ser um dos
internacionais mais intimos e agitados. O tratado reconhecia a posse por parte de casamentos
Portugal da
baía de Delagoa e da costa até à latitude de 26° 30' S e fixava a fronteira oriental do Transval
ao longo da cordilheira do Lebombo. Todavia, não foi meramente um tratado de partilha
preocupado com a demarcação de fronteiras, pois Portugal e o Transval acordaram tambem
a construção de uma estrada que ligasse a alta savana ao porto. Os Portugueses ficaram tão
satisfeitos com o resultado. que concederam ao cônsul na Cidade do Cabo, Alfredo Duprat
que negociou o tratado, o título de visconde7
Manifestamente, o Transval reconhecia que. desde que não houvesse barreiras
alfandegánas, a possessão portuguesa da baía de Delagoa sóteria utilidade se lhe pertencesse
também o porto. O tratado assinalava também o fim da liberdade na fronteira. O governo de
Pretória estava agora cada vez mais preocupado com as comunidades do Zoutpansberg, e os
dias fáceis da escravatura e da caça iam chegar ao fim. Revelou-se também um dos tratados
que iriam definir tanto a constituição física como as relações futuras do moderno estado de
Moçambique. Muito embora os acordos confirnmassem a posse portuguesa da baía de
Delagoa. a fronteira traçada privava politicamenteo porto de grande parte do seu coméreio
com o interior, conquanto oS seus etetos tossem um pouco mitigados pela assinatura de um
acordo de livre troca em 1873, que permitia relações cconómicas mais estreitas com o

Transval.
Gr-Bretanha desafiou
Quando o tratado luso-transvaliano foi publicado, própria
a

imediatamente a possessão portuguesa da orla meridional da baía de Delagoa. O desafio da


Grã-Bretanha assentava no facto de a Baia ser uma zona ampla onde vinham desaguar quatro
dilerentes chefias. Portugal construíra uma fortaleza
rios cujos cursos eram controlados por
na orla sctentrional em
inais do seculo XVI, mas nunca impedira as outras potências de a
ou para Iins comerciais.
Em l825, o comodoro Owen hasteou a
usarem como ancoradoro
meridional, e esta reivindicaçao toi repetida por duas vezes na
bandeira britânica na orla
décadade sessenta. Ogoverno britanico estava preocupado comqualquer iniciativadiplomática
Bóeres a um porto portugues, pois temia que sua hegemonia pudesse
a
que pudesse ligar os relutante em aceitar Portugal e os Bóeres
fronteiras que
ser ameaçada. Estava 1gualmente
no interior da
bala de Delagoa na sequencia das negociações de que a
tivessem traçado
Gr -Bretanha fora excluída.
nitidamente asSOClado a politica britânica tradicional na África
O movimento estava ura-Bretanha tentara manter a sua suserania
Meridional. Após Mgragao bOCT, a
a Grande
araves do governo directo mas
tao controlando
boeres e o Seu
conci0,
sobre as repúblicas a abertura de uma estrada até à Baía,
Os portos
marítimos com acessO aoc t .A VEicar-se
bntanica. A Gr -Bretanha e Portugal estavam
isso iria destruir todas as bases ua ponuca
na Alrica
em 1871
OCIdedl,Crorugal sugeriu a disputa de ambas
que
Lambém em disputa arbitraoem
fosse submetida
ao presidente da França para
as z o n a s i a c v i a n o n continuava a ponderar a sua adjudicação,
Na entanto,enquanto o marccnai
iniciado os trabalhos
de construçao de uma estrada para o interior, e constituira-Se
tinham-se
ligar a Baía às recém-descobertas jazidas de ouro em
de transporte para
u m a empresa tomou a sua decisão em 1875, concedeu pleno controlo da
Ouando MacManon
Lydenburg.
MALYN NEWITT
300

a anos de incerteza e permitiu que os planoe


Baía a Portugal. Esta deliberação pos termo de uma linha férrea, fossem n
mas tambem de construção
não só de abertura da estrada na Africa Mer
a desmoronar-se toda a sua política
diante. A Grà-Bretanha viu começar
dional
económico no interior da Africa Meridional
estaava a
Entretanto, o desenvolvimento alirmar-se que a descoberta de
de mudança. E costume
originar outras forças revolucionárias
e de ouro em Lydenburg, em 1869, desencadearam uma
diamantes no rio Vaal. em 1867,
tragmentada. Contudo, no que
economicamente atrasada e
revolução industrial numa região desenvolvimento de uma cconomia regional
Meridional, o
concerne a toda a zona da Africa
muito antes. Na década de cinquenta. a
financeiro iniciara-se
centrada no empreendimento
cultura em grande escala da cana-de-açucar estava a ter como resultado uma procura de
mão-de-obra que a população africana naoqueria ou não podia satisfazer. Os recrutadores de
mão-de-obra começaram a deslocar-se aos portos no norte de Moçambique e os comerciantes

nesta Ocasião fizeram-no com o intuito de conseguirem


que penetraram no reino de Gaza
contratar operários e de comprar marfim. Em 1870, Umzila, o rei de Gaza, enviou uma
embaixada ao Natal, com a proposta de fornecimento de mão-de-obra contratada, o que, por
sua vez, ocasionou uma série de visitas ao território de Gaza por parte de St. Vincent Erskine
entre 1871 e 1875.30 Começou então uma emigração de mão-de-obra para sul em busca de
salários.
As descobertas de minérios no final da década de sessenta, e em particular o desen-
volvimento das escavações em solo seco em Kimberley no início da de setenta, começaram
a atrair o investimento industrial em grande escala, não só para trabalhar nas próprias minas,
mas também para a construção de vias férreaseo desenvolvimento de outros aspectos da
economia sul-africana. Quando foi descobertoo grande filão de ouro em Witwatersrand, em
1886, a Africa do Sul empreendera a industrialização maciça que iria envolver transportes,
construções, fábricas de dinamite e minas de carvão e o desenvolvimento de todas as
indústrias de serviços e consumo necessárias à comunidade mineira.
A industrialização da Äfrica do Sul acelerou a criação de uma economia regional para a
qual o sul de Moçambique seria forçosamente arrastado, em especial como fornecedor de
mão-de-obra. O crescimento das minas de diamantes e a perspectiva de desenvolvimento
rápido da baía de Delagoa como via principal para o interior encorajou o governo britânico
a realizara unificação política da Africa Meridional, de modo a que muitos problemas, e não
só os associados ao fornecimento de mão-de-obra, pudessem ser resolvidos a nível
regional.
Em 1874, o secretário colonial, Lord Cavarnon, lançou o seu esquema de confederação e
iniciou uma série de debates com os governos coloniais e
repúblicas bóeres, discussões que
ganharam uma maior urgência com a declaração do Presidente Frances, em 1875, de que toda
a Baía pertencia por direito a Portugal.
Entretanto, o presidente Burgers do Transval e os Portugueses seguiram em frente com
o caminho-de-ferro. A primeira concessão foi atribuída a George Moodie. mas este vendeu-a
ao governo do Trans val, e, em 1876, Burgers começou a angariar fundos
da linha, viajando com um prospecto até à para a construçao
os financeiros
Europa, comprando material circulante e tentando
convencer europeus mais cépticos a apoiaremo
maior credibilidade à ideia de um projecto. A fim de conterir
caminho-de-ferro,Burgers tentou a pacificaço final do
Zoutpansberg, e parece inclusivamente ter pensado em comprar a Baía a Portugal, como o
viriam fazer tantos outros mais tarde.
a
Entretanto,
construção de um troço da linha no seu terilório para a Portugal transferira
a concessão de

Lebombo. Campanhia Caminhos-de-Ferro do


de

Afigurava-se agora cada vez problemáica a


mais
governo britânico concluu que a estrategia mais sensataintegração
das repúblicas bóeres, e o
no império. Se a
seriatentar incorporá-las novamete
própria Grä-Bretanha nào conseguia controlar a Baía. e se o Transval tosse
construir uma estrada ou uma linha lerrea, a única
maneira de a Grã-Bretanha manter a sua
posição seria submeter o Transval a alguma forma de domínio
britânico. Em Abril de 1877.
HISTÓRIA IDE MOÇAMBIQUE

301

entrou no l ransval com


clhenstone
Theophilus Sh trinta polícias do Natal e ocupou Pretória, e,

decorridas
duas
semanas,
anex xou
oterritóriocomocolóniabritânica. A anexação interrompeu
onómico
odesenvolvimentod Transval-Moçambique
transformou radicalmente as
e
e cconómicas
o na regiäo. Por um lado,constituiu um passo
do objectivo a curto prazo de criar umaanexação
politicas a
relaçoes
sentido do objectivo: confederação, mas contribuiu
sentido
noobiectivo
gigantesco a longo prazo de integração das economias da parte meridional do
para
tambenp
ntinente. Era agora possível organizar os transporteseo fornecimento de mão-de-obra
Além diss0, a ideia do caminho-de-ferro de
a região. Al
is de toda Lourenço Marques, que
ria à política tradicional britânica
a l r a v é

s ealigurara tão na Åfrica do Sul. tornou-se


amente da
maior tância para
importân o seu
desenvolvimento racional, e
subit.
britânicos e ugueses começara
os
negociadores
a preparar um tratado em que o objectivo central seria
férrea
de construção da linha
o compromisso
Enquanto tinha lugar estes acontecimentos no Sul, as duas missõies escocesas criadas
Altas do Shire e rno lago Malawi tinham principiado a suscitar a questão muito
Terras
nas
do livre acesso às terrasaltas do Shire, por via do Zambeze, delas próprias e dos
p r e m e n t e

comerciantes que
estavam agregados. A discussão desta matéria coincidiu, e em certa
Ihes es
adida repetiu-se, comaquestao da navegaçao do Congo,em que Portugal mantinhade longa
data laços locais, mas a Bretanha possuía interesses comerciais e missionários cuja
nroteccão a preocupava. Foi nesta situaçao que a Grä-Bretanha, através do seu embaixador
em Lisboa, Robert Morier, entabulou negociações bilaterais com Portugal visando a criação
ordenada para o desenvolvimento de actividade comercial no interior do
de uma estrutura
Congoe do Zambeze-uma linha tradicional da política externa britânicae a extensão lógica

das políticas de
comércio livre que a Gr -Bretanha defendeu ao longo do século.
da construção de uma
Simultaneamente, os negociadores procuraram assegurar condições
as

linha férrea desde a baía


de Delagoa até å alta savana (agora seguramente sob o controlo
inspirado não só pelo mundo do comércio mas pelas necessi
britânico), um empreendimento
industrial.
dades da nova revolução à
conduziu as negociações, João de Andrade Corvo. pertencia
O ministro português que desenvolvessem nos moldes
ansiosos por que as colónias se
classe dos liberais portugueses
e antecipou a conclusão das
um acordo com a Gr-Bretanha,
do comércio livre. Quis chegar a no Zanmbeze, que veio
unilateralmente uma nova tarifa de l0%
introduzindo
negociações protegia o
elevada estrutura tarifária que, por norma,
alterar de um modo significativo a
regulares de navios a
comércio portuguès. Tentou também introduzir os primeiros serviços
termo ao tráfico
a Gr -Bretanha que punha
vapor no rio, e em 1878 celebrou um acordo com
de armas de fogo através do porto de Lourenço Marques.
num tratado pelo
acordos que Morier incorporou
1879, foi negociada uma série de
Em
do caminho-de-lerro e. por
sua

a Gra-Bretanha cooperaria com Portugal na construção sobre


qual das tarilas
livre no Zambeze, uma redução
Vez, os Portugueses garantiam a navegação pelas tropas
em trânsito e a utilização
do porto de Lourenço Marques
fo1 assinado
as mercadorias Tratado de Lourenço Marques,
ficou conhecido por
Danicas. Este tratad0, que ratificado. Inicialmente, opunha-Se
aos interesses
Maio de 1879, mas nunca chegou a ser
quando
beneficiária do Tratado; depois,
Gr -Bretanha como a única os
Pgueses que viam a relutantemente com a
sua implementaça0,

i ç a o política portuguesa concordou decidiu, em I881, que o


de Gladstone
governo
altura em queo
CSCS abandonaram-no na vitais respeitantes
a ivre navegiaçao
Bóeres. As cláusulas limite da
SVal deveria ser devolvido aos confluência dos rios
Ruo e Shire como o
a
fixavam a do Congo que
ir e (que, por acaso, então incorporadas
no Tratado
nao
Jurisd no interior) foranm Este tratado, que
guesa de 1884.
Grã R finalmente em Fevereiro do que o
eu tanae Portugal concluíram do Transval,
ainda mais acentuava
caminho-de-ferro
da escravatura
Trat a interessado no da era do comércio
livree da abolição
de comercio
CLourenço Marques as m a r c a s em troca
da garantia
Fa
a soberania do Baixo Congo Zambeze. Este tratado
a Portugal como do
livre 1Ceda tanto do rio Congo
c de culto e livre navegação
MALYN NEWITT
302
Portugal, e não fora aind.
da
Grã-Bretanha c
extremistas na
interesses 1884 o aboliu."
oposição dos Berlim em
do Congresso de
contou coma
soberania portuguese
convocação vamente a
ratificado quando a reconheciaefecti

bilaterais, a
Grã-Bretanha estado moçambican
Nestes tratados efectiva. O moderno
da ocupação pelas rotas seguidas oelae
no interior sujeito às disposiçõöes dos portos costeiros,
cruzado
do trabalho dos ae
interior mal delinido forma coerente
merce

emergia do sendo-1he conferida


uma
Grä-Bretanha perspectivavam
am
de comércio, com a
caravanas
negociados
tratados
tratados. Porém,
os que toda a região da
elaboravam os
surgir. Portugal acreditava
acabou por longa presenca
muito diferente do que virtude da sua
interesses em
um estado situava na sua esfera de Brasil-um
novo império numa
Africa Central se falavam de um
novo
em Lisboa
Ocidental e a
Oriental. Os tratados
comercial, e os políticos
unisse a Africa
continental que e s t a b e l e c e r a m as fronteiras de um
escala genuinamente realidade- não
encobrir esta Tratado de Tordesilhas moderna
teriam conscguido
bilaterais
foram uma espécie de
transcontinental, mas se podia expandir como
estado moderno Portugal
dentro da qual
demarcava uma esfera de influência
que
e ao seu próprio ritmo. historiadores. Se hou vessem sido
quisesse para os
um tormento
que conseguiram obstar
foram
Os tratados bilaterais uma vez
a disputa da
Africa Meridional,
ratificados, teriam impedido Alemanha, Leopoldo Il
da Bélgica, a
território da África Central entre a Rhodes a lançar uma
à compita pelo dificilmente se inmaginará
Cecil
Gr -Bretanha e Portugal. Além disso, do que mais tarde se
Meridional se a maior parte
tão gigantesca sobre a Africa interesses portugueses
sombra esfera dos
tivesse caído na
transformou nas duas Rodésias foram ratificados. O parlamento
os tratados não
internacionalmente aceite. No entanto,
controlo da baía de Delagoa nos
Gr -Bretanha assegurara o
português acreditava que a de construç o da via férrea, e
exercia sobre a proposta
bastidores através do controlo que e da descida
ressentia-se da liberdade de navegação,
da liberdade para as missões protestantes
e expor o «novo
diminuir a soberania portuguesa
das tarifas, o que, de um modo geral, parecia velho Brasil. O
britânico tão completo como o
sentido pelo
Brasil» a um domínio colonial da sua política
com o abandono, por parte
da Gr -Bretanha,
malogro dos tratados coincidiu a rebelião dos bÑeres do
Transval
último,
de uma confederação. A seca, a guerra e, por
Foi concedida novamente a
puseram os definidores
de políticas britânicas na defensiva.
retirou o seu apoio ao caminho-de-ferro da
autonomia de facto ao Transval e a Gr -Bretanha
retomaram as negociações particulares para a
baía de Delagoa. Portugal e o Transval
construção da linha.
Convenceu o
governo de
O fracasso dos tratados bilaterais teve outras consequências.
Portugal da realidade da ameaça internacional ao
informal império comercial afro-português
dos imperialistas empenhados sobre os partidários do comércio
e confirmou a supremacia
livre na formação da política colonial. O pensamento imperial afastava-se do liberalismo
tranquilo de meados do século e começava a criar uma linha de política mais forte que
dos teritórios africanos. Até aqui, Moçambique não fora
procurava a exploração mais directa
um estado na acepção moderna, mas um conjunto de povos ligados pelo comércio a uma fiada
de portos controlados pelos Portugueses. Agora, esta relação vaga e bastante informe iria ser
objecto da imposição de várias formas mais ou menos rígidas.

Portugal e o seu império africano

A medida que os povos de Moçambique começaram a ser cada vez mais atraídos pela
corrente veloz da economia mundial, também Portugal desenvolveu um novo interesse
pelos seus territórios alricanos. Na sequência do termo das Guerras Napoleónicas, mergulhou
num período de vintee cnco anos de conflitos civis quase constantes. Foi uma guerra que
conheceu a independência final do Brasil e o triunfo derradeiro da burguesia urbana de
Lisboa e do Porto apoiadas porelementos liberais da aristocracia- uma aliança de classes

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