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Cap 15
Cap 15
TERCEIRIZAÇÃO
Ângelo Márcio Pinto Leite
Professor Adjunto da UFVJM
Amaury Paulo de Souza
Professor Titular da UFV
Carlos Cardoso Machado
Professor Titular da UFV
Introdução
A nova ordem mundial, baseada na abertura do mercado e
globalização da economia, tem levado as empresas brasileiras a
mudanças radicais de estrutura (reestruturação produtiva), dada à
necessidade de ajustamento a padrões internacionais de produtividade,
qualidade e custo e elementos básicos da competitividade.
A reestruturação produtiva nas empresas está ocorrendo
principalmente em virtude da introdução de inovações tanto
tecnológicas como organizacionais e de gestão, buscando alcançar
uma forma de trabalho integrada e flexível. Nesse sentido, as
empresas estão desenvolvendo e implementando diferentes modelos
de gestão e de estruturas organizacionais, a fim de modificar suas
formas de produzir e, ou, de prestar serviços.
É dentro desse contexto que a terceirização surgiu e vem
ganhando força, como alternativa para as empresas racionalizarem
recursos, redefinirem suas operações e funcionarem com estruturas
mais enxutas e flexíveis. A terceirização está se fixando como
424 Leite, Souza e Machado
Caracterização
Conceitos e definições
De acordo com Brasil (1993), terceirização corresponde a um
processo de transferência, dentro da firma (empresa-origem), de
funções que podem ser executadas por outras empresas (empresa-
destino). Essas funções incluem tanto atividades de apoio quanto
aquelas relacionadas diretamente com o processo de produção da
firma.
Segundo Cappo (1996), terceirizar é transferir para terceiros
atividades que não fazem parte do negócio principal da empresa.
Do ponto de vista jurídico, terceirização é uma forma de
flexibilização administrativa, que trata genericamente de
Terceirização 425
Histórico
O termo "terceirização", do inglês outsourcing (out = externo,
fora e source = fonte, lugar de origem, ou seja, compra de produtos e
serviços externos), originou-se nos Estados Unidos no início da
Segunda Guerra Mundial e consolidou-se por volta da década de 50.
Nessa época, a técnica administrativa de terceirização foi
desenvolvida e adotada primeiramente com sucesso pelas indústrias
automobilísticas americanas e, posteriormente, pelos japoneses e
europeus.
Segundo Leiria (1995), o processo da terceirização no Brasil foi
introduzido no final da década de 80 e início de 90, quando da
abertura do mercado pelas multinacionais de automóveis, que,
buscando agilidade, transformaram-se em meras montadoras
intencionalmente dependentes da produção de peças entregue a outras
inúmeras empresas.
Cabe ressaltar, no entanto, que o termo foi utilizado pela
primeira vez em meados da década de 80, pelo engenheiro Aldo Sani,
426 Leite, Souza e Machado
Evolução
Nos países desenvolvidos, a terceirização foi adotada pelas
empresas com o intuito de tornar suas estruturas administrativas mais
enxutas, flexíveis e ágeis. As atividades por elas consideradas
secundárias eram transferidas ou distribuídas a prestadores de serviço,
com o objetivo de centrar esforços no seu negócio principal (obtenção
do produto final).
No Brasil, além da preocupação com a transferência de
atividades secundárias, as empresas encontraram uma brecha para
reduzir custos, principalmente os custos fixos e de mão-de-obra, visto
que estariam isentas de pagar os encargos sociais e, ou, benefícios
extras concedidos aos trabalhadores.
Foi principalmente na última década, quando da abertura de
mercado, globalização da economia e estabilização da moeda, que a
terceirização realmente ganhou maior destaque no Brasil.
Ressalta-se que tendo sido utilizada inicialmente mais em
situações de emergência e, ou, para reduzir custos de produção, a
terceirização está sendo considerada cada vez mais nos últimos
tempos, como uma estratégia de negócio, conforme mostra a figura
15.1.
Terceirização 427
Passado Hoje
1989 2002
Razões da terceirização
As empresas estão terceirizando porque na legislação brasileira
não existe nenhum impedimento legal para a adoção da verdadeira
terceirização. Do ponto de vista jurídico, a terceirização é considerada
uma atividade lícita inerente à administração de uma empresa, visto
que "a Constituição Federal não abriga qualquer dispositivo que vede
tal tipo de negócio jurídico e, por via de conseqüência, inexiste Lei
ordinária que proíba semelhante operação" (SAAD, 1993). Cabe
destacar que, atualmente, essa matéria é disciplinada pelo enunciado
331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que livra o tomador do
vínculo, regulamenta a terceirização nas atividades-meio, cria a
responsabilidade subsidiária do tomador e o exclui da lide quando não
tiver sido citado no título executório.
As empresas também terceirizam, porque os tabus estão caindo
e, atualmente, até mesmo setores antes considerados estratégicos,
como o de recursos humanos, informática, telemarketing e mesmo o
financeiro, estão sendo repassados para prestadores de serviço.
Do ponto de vista das contratantes, há outras razões para se
terceirizar:
• focalizar as áreas que geram vantagem competitiva;
• possibilitar melhoria da qualidade nas atividades não-essenciais;
• ter acesso a novas tecnologias, sem arcar com os custos financeiros;
• assegurar acesso a recursos qualificados;
• compartilhar riscos operacionais e financeiros com um terceiro; e
428 Leite, Souza e Machado
O Processo de Terceirização
Requisitos Preliminares
Antes de se pensar nas etapas a serem seguidas durante a
implementação de um processo de terceirização, é fundamental que a
empresa esteja consciente e segura da vontade de adotar essa
ferramenta, isto é, que esta seja a melhor solução.
Estando a empresa-origem decidida a adotar a terceirização, é
preciso haver uma preparação de todos os envolvidos, dada a grande
mudança cultural interna que ocorrerá. Assim, o envolvimento, bem
como o comprometimento de todos com o processo, é fundamental,
pois uma empresa é tida como um conjunto de processos interligados
e voltados a obter resultados comuns.
A terceirização deve ser encarada com bastante seriedade e
cuidado, pois, se o processo não der bons resultados, é difícil voltar ao
status anterior.
Terceirização 429
Fase 2 - Desenho
Definição da localização
Desenho de processos
Definição da estrutura
Definição de sistemas e tecnologia
Nível de serviço acordado
Plano de implantação
Fase 3 - Implantação
Preparação da infra-estrutura
Implantação de sistemas
Movimentação de pessoal
Treinamento
Fase 5 - Acompanhamento
Acompanhamento durante o período de estabilização da estrutura
Ajustes finos em processos, sistemas, estruturas e pessoas
Mensuração dos benefícios
430 Leite, Souza e Machado
Melhoria contínua
Principais Desafios
O sucesso da terceirização depende da superação de alguns
desafios. Por exemplo:
• mudança comportamental dentro da empresa contratante (aceitação
do processo);
• equalização das culturas empresariais (interfaces);
• gerenciamento das mudanças com relação ao tomador e prestador de
serviço);
• monitoramento contínuo do processo;
• estabelecimento de critérios de avaliação justos e confiáveis; e
Terceirização 433
Aspectos Econômicos
Apesar de alguns artigos tentarem mostrar que a terceirização
foi introduzida no Brasil como parte do processo de reestruturação
produtiva, para Ramalho (1993), esse processo vem sendo adotado
como forma de resolver os problemas conjunturais das empresas, por
meio da redução de custos, principalmente custos fixos e de mão-de-
obra. Aliado a isso, a terceirização tem proporcionado redução do
número de empregos e precarização das condições de trabalho.
Na visão das entidades sindicais e dos críticos desse processo,
muito mais do que tornar as empresas competitivas, o objetivo
principal da terceirização tem sido reduzir os custos com mão-de-obra
via transferência do pagamento de encargos sociais e demais
benefícios para os terceiros. Além disso, o custo fixo da empresa-
origem é reduzido, devido ao repasse de máquinas e equipamentos
para os terceiros, bem como pela redução de certos investimentos,
como infra-estrutura, treinamento de pessoal etc. (Brasil, 1993).
No Quadro 15.1 são apresentados alguns resultados advindos da
implementação do processo de terceirização em diversas empresas.
Continua...
prazos de entrega
Fonte: SINDICATO... (1993)
Aspectos Sociais
Ressalta-se que são justamente os aspectos sociais que têm sido
o alvo da maior parte das críticas ao processo de terceirização,
particularmente de entidades sindicais e, ou, alguns juristas e
advogados do trabalho.
De acordo com Beltran (1997), as principais críticas e, ou,
distorções que têm sido embutidas ao processo de terceirização
correspondem a:
Plano individual:
• fraude aos direitos trabalhistas ou falsas terceirizações, por meio da
contratação de empresas "picaretas" que não respondem pelos
direitos regularmente assegurados aos trabalhadores;
• rebaixamento do padrão salarial e de benefícios do trabalhador;
• inobservância das normas de segurança do trabalho;
• transferência de passivos trabalhistas; e
• transferência de riscos do negócio ao terceiro e seus contratados.
A verdadeira Parceria
Os dados setoriais indicam que algumas empresas estão
executando ainda serviços silviculturais com equipes próprias. Com a
evolução qualitativa da terceirização, com certeza aumentará a
probabilidade de essas empresas substituírem as equipes próprias, por
terceiros. Há, portanto, muitas oportunidades para expansão da
terceirização.
Ainda de acordo com esse autor, para viabilizar essa expansão,
muitas providências deverão ser tomadas pelos terceiros para
aumentar o grau de segurança dos contratantes. Contratadas e
contratantes estabelecerão mecanismos de controles operacionais e
organizacionais que permitirão melhor integração de esforços e de
conhecimentos. Na medida em que os interesses das partes sejam
respeitados, haverá condições para se consolidar a verdadeira parceria
empresarial, preconizada pela terceirização. Acredita-se que, a curto e
médio prazos, muitas ações e procedimentos serão alterados pelas
contratantes e pelos contratados.
Da contratante
• contratos mais longos, com cláusulas discutidas e negociadas para
contemplar os reais interesses técnicos e financeiros das partes e do
negócio. Os contratos com interesses parciais e impositivos deverão
Terceirização 439
Do prestador de serviços
• contratação de profissionais tecnicamente preparados para
acompanhar e contribuir com sugestões operacionais;
• mecanismos de controle da mão-de-obra, das máquinas e dos
equipamentos utilizados nos serviços de campo;
• maior investimento no preparo e na qualificação da mão-de-obra
operacional e de apoio;
• descentralização operacional e administrativa das unidades de
trabalho, com simplificação e agilização dos processos de decisão;
440 Leite, Souza e Machado
100
100
100
71
66 63,3 69,3 56,3
80
60
%
40
20
CORTE
Corte EXTRAÇÃO
Extração CARREG.
Carregamento
TRANSP.
Transporte DESCARREG.
Descarregament MÉDIA
Média
Considerações Finais
Percebe-se que vencer o desafio de administrar num mercado
globalizado significa atender a todas as condições impostas, para que
as empresas obtenham sucesso nesse novo cenário.
Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE PAPEL E CELULOSE.
ANFPC, Relatório Estatístico Florestal. São Paulo: 1996.
BRASIL, H. G. A empresa e a estratégia da terceirização. Revista de Administração
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BELTRAN, A.P. Flexibilização, globalização, terceirização e seus impactos nas
relações de trabalho. Revista LTr, v.61, n.04, p.490-495, 1997.
CAPPO, P. Sucesso da terceirização depende do correto planejamento. O Papel, n.6,
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CASTANHEIRA, J.A. O terceiro será o primeiro. Exame, ago, p.56, 1992.
GIOSA, L.A. O porquê da terceirização. Estado de Minas, n.19.834, 16 jun., 1996.
GIOSA, L.A. Terceirização - uma abordagem estratégica. 5ª ed., São Paulo: Pioneira,
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LACERDA, R. & COSTA, L.F. Estruturando indicadores de desempenho dos
serviços de terceirização, monitorando a qualidade e produtividade. São Paulo, 2000.
27p.
Terceirização 445