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AULA 1

6/10/2021

Anabela Leão: email: aleão@direito.up.pt

Horário de atendimento: 6ª feira das 9h às 11h

Objeto de estudo da Ciência política: tem como objeto de estudo os factos políticos, estuda o
que “realmente é”, o ser, ao contrário de Direito Constitucional que estuda o que “deve ser”,
segundo as normas instruídas pelo Estado. Assim, é uma disciplina interdisciplinar, pois
relaciona-se com outras disciplinas.

AULA 2

8/10/2021

• Os comportamentos humanos são imprevisíveis, ao contrário de outro tipo de factos.


• A Ciência política é uma ciência social que mostra proximidade com outras ciências,
como história, sociologia, etc.

Factos políticos
Ciência política ocupa-se de uma modalidade de factos sociais, os factos políticos. Estes são
aqueles factos que se relacionam, direta ou indiretamente, com o acesso (exemplo: eleições),
titularidade (exemplo: primeiro-ministro) e exercício (exemplo: legislar) e o controlo do poder
político (exemplo: tribunal constitucional). É sobre estes factos políticos que a ciência política
se vai debruçar. Trata do “ser”, do que é concreto, e não daquilo que “deve ser”.

No seu sentido amplo (latu sensu), diz respeito a todas as ciências que estudam factos políticos.
Em sentido estrito (sricto sensu) a ciência política é autónoma, tem um objeto de estudo
próprio, mas está aberta ao diálogo com estas outras ciências, como a sociologia – diálogo
interdisciplinar. É uma ciência interdisciplinar, em que muitas das vezes recorre a métodos
típicos de outras ciências sociais.

Ciência política obriga a pensar em “político” e “poder” e assenta na reflexão teórica sobre as
ideias políticas: ideias que o homem discute sobre fenómenos como, por exemplo, a luta pelo
poder, o seu exercício, a sua legitimidade, as suas finalidades e limites, entre outros, como
formas de governo e a escolha dos seus governantes.

Quando falamos de político pensamos em fenómenos políticos, pessoas que têm cargos
políticos. Por sua vez, quando falamos em política como objeto da ciência política falamos da
arte de governar o que é de todos, a comunidade.

Isto deriva do facto do homem ser um ser social e está inserido em:

Sociedades particulares: onde nos juntamos a outras pessoas por maior afinidade ou devido a
interesses comuns, como a família.

Sociedade comum, global: todas as pessoas participam independente das nossas afiliações
particulares, dos nossos interesses. Tem de se gerir esta comunidade, onde há interesses
diferentes e bens escassos, de forma pacífica e com ordem, com justiça. Tem de ser gerida para
bem dos fins gerais e não de acordo com interesses particulares. Exemplo: Estado. Para isso é
preciso criar regras e afetar recursos para corresponder aos interesses da comunidade e ao seu
benefício e organizar a sociedade.

Muitas dessas regras são regras jurídicas que são impostas a todos e por todos devem ser
cumpridas.

Falar em ciência política é falar numa comunidade de fins gerais e falar no poder político dessa
comunidade, mas nem sempre houve poder político.

O que é o poder?
Há vários tipos de poder: poder do Homem sobre a Natureza e poder do Homem sobre o
Homem. O que interessa mais à ciência política é o poder político e do homem sobre o homem.
O poder é a possibilidade de impor algo a alguém, de impor uma vontade, uma conduta, a
outrem, se necessário contra a vontade. Existe quem rege, ou seja, quem detém o poder e quem
obedece.

O poder tem a finalidade de gerir conflitos entre pessoas e organizar a sociedade,


estabelecendo um conjunto de regras para tornar possível a convivência em comunidade. Para
este se manter, o poder tem de ser visto como legítimo. Pretende resolver conflitos de interesse
que podem surgir entre aqueles que concorrem na utilização de bens finitos. Visa tornar a
convivência possível, gerir os conflitos entre pessoas, onde pessoas diferentes possam viver
pacificamente.

• Aristóteles defende vários poderes: poder dos pais sobre os filhos (benefício dos filhos);
poder despótico, ou seja, poder do senhor sobre o súbdito (benefício do senhor); poder
dos governantes sobre os governados, que pretende o bem comum, vai de acordo aos
interesses de todos – poder político.
• John Locke: defende que o que é importante é o fundamento do poder que é exercido;
preocupa-se com o facto de os governados aceitarem o que os governantes propõem,
ou seja, é um poder limitado pelos direitos das pessoas, defendendo o indivíduo perante
o Estado. Associa-se à ideia das sanções. O poder depende de um contrato em que as
pessoas (os governados) aceitam que exista o poder.
• Para Bobbio, os meios utilizados para condicionar o comportamento do outro têm por
base a distinção do poder económico, ideológico e político. Outros autores definem-no
como uma “distinção entre governantes e governados” (Duguit), como uma “faculdade
de traçar livremente a sua própria conduta ou de definir a conduta alheia” (Marcello
Caetano), ainda como uma “faculdade de mandar e a capacidade de se fazer obedecer”
(Freitas do Amaral).
• Marcelo Rebelo de Sousa: “O poder político é um poder de injunção dotado de
coercibilidade material, um poder de natureza vinculativa marcado pela suscetibilidade,
quer no uso da força física, quer da supressão, não resistível, de recursos vitais.”

A ciência política ocupa-se dos factos políticos e eles relacionam-se com o poder político, que
é dotado que coercibilidade.

O poder tem um sentido, que aponta para a ideia de legitimidade – se as pessoas não virem o
poder como legítimo, ele não resistirá no tempo, as pessoas não o aceitarão (a legitimidade é
um conjunto de crenças e valores que levam as pessoas a respeitar o poder).

O poder político gere a sociedade de acordo com critérios socialmente respeitados e legítimos,
organizando-a e garantindo a sua coesão no que toca a uma convivência social pacífica.
Funciona, ainda, como um mecanismo destinado à resolução de conflitos de interesse
resultantes daqueles que concorrem ao acesso de bens finitos através, por exemplo, dos
tribunais.

É, não obstante, organizado, legitimado e limitado pelo Direito. Simultaneamente, os


mecanismos do Direito são exercidos pelo poder político para a construção de regras. Ele exerce-
se por meio da força e da autoridade e, segundo Jorge Miranda, “não basta o governante invocar
qualquer intenção do seu poder ou ter, pura e simplesmente, a força material para se fazer
obedecer; ou apresentar-se ao serviço deste ou daquele projeto ou ideologia. Tem ainda de
obter o consentimento, pelo menos passivo, dos destinatários do poder. Tem ainda de se
configurar como autoridade”. Neste sentido, o “consentimento, pelo menos passivo, dos
destinatários do poder” pode ser visto como a legitimidade do poder político, que é fundamental
para a sua existência.

Coercibilidade: não significa violência nem coação, pois é apenas uma mera possibilidade do
uso da força. Significa que é algo que possa ser imposto contra a vontade, pela força (não
necessariamente força física). O Estado tem o poder de o fazer se não for respeitado
voluntariamente através, por exemplo, dos tribunais.

• Coercibilidade material VS Coação material - “coercibilidade material quer dizer


suscetibilidade do uso da força física ou da pressão material. Distingue-se da coação material
que se define pela plena efetivação de uma ou de outra. Ou seja, o conceito de coercibilidade
revela-se numa ideia de potencialidade, ao passo que o conceito de coação se exprime em
termos de atualização”.

A autoridade é um conceito próximo de poder. Respeitamos o poder, nomeadamente a


autoridade, porque sabemos que é benéfico e porque se acredita que é um poder legítimo.

Conceito de influência aproxima-se também de poder, ou seja, a capacidade de


influenciar/orientar comportamentos, mas sem o impor a outrem. Quem tem influência não
tem necessariamente de ter poder, mas quem tem poder, normalmente, tem influência.

O que é legitimidade?
Remete para crenças. Um conjunto de valores, razões, que levam as pessoas a respeitar o poder.
Esta varia ao longo da história, pois a nossa conceção de origem do poder varia ao longo do
tempo.

• Dois tipos de legitimidade:

Legitimidade de título: forma como o titular do poder foi designado, como foi admitido para o
cargo. Ex: eleição ao invés de violência.

Legitimidade de exercício: relaciona-se com a forma como o titular exerce o poder. Tem título,
mas pode governar, tanto de forma certa como de forma errada. Ex: Hitler.

Pode-se ter legitimidade de título, mas não legitimidade de exercício e ter legitimidade de
exercício sem legitimidade de título. Os dois conceitos não têm de ser acompanhados.

Tem um título legítimo aquele que foi designado como titular, aquele que foi designado de uma
forma que a sociedade considera legítima e este passa a ter exercício do poder (legitimidade de
exercício).
A legitimidade muda ao longo do tempo e atualmente é associada ao sufrágio (democracia).
Está dependente de crenças, sendo uma espécie de consentimento, enquanto que a Legalidade
está dependente do Direito e de normas. Assim, é possível uma ação política ser legal e ilegítima
ao mesmo tempo e vice-versa. A Legitimação é a construção de algo de forma legítima,
relacionando-se com o procedimento que faz atingir um resultado.

• Max Weber distinguiu 3 tipos de legitimidade política: tradicional (de acordo com as
tradições), carismática (depende do carisma da pessoa, como o facto de ser persuasiva)
e racional (organização da vida política para atingir determinados fins, através de regras
e leis). Assim, percebemos que há crenças diferentes nos diferentes regimes políticos.

Legitimidade vs legalidade
O que é legal cumpre a lei, o que está de acordo com as regras jurídicas, o que está dependente
do Direito; e a legitimidade é construída e muda ao longo tempo e é necessário respeitar ideias
e valores que são importantes para dada comunidade, podendo haver leis que vão contra estes
valores. Por exemplo: A tortura é legal porque está na lei, no ordenamento jurídico de
determinado país, mas não é legítima, pois desrespeita a vida, não traduzindo a vontade da
comunidade.

Nos Estados de Direito os direitos humanos têm de ser respeitados. Mas pode acontecer que
um estado tenha normas, constituições, leis só que os direitos humanos não sejam respeitados
devido ao carácter injusto de tais normas, constituições, leis, etc. Assim, serão verdadeiramente
leis? Será mesmo Direito? Há quem defenda que sim e quem defenda que não.

É possível a ação política ser legal e ilegítima ao mesmo tempo e vice-versa. Legal, pois estaria
enquadrada nas regras em vigor no âmbito de uma determinada ordem jurídica; e ilegítima caso
as regras em vigor que sustentam a ação política não traduzissem a vontade da comunidade e
transcendessem a vontade dos governantes.

A legitimidade é algo que se constrói. Não é propriamente um resultado.

Legitimação: construção de algo de forma legítima, relacionando-se com o procedimento para


atingir um resultado. O procedimento é importante para garantir um resultado positivo. O
procedimento não pode ser indiferente, pois pode afetar a legitimidade.

Estado
Estado é comunidade política por excelência. É uma organização político-jurídica de uma
sociedade, dispondo de órgãos próprios que exercem o poder sobre determinado território.
Pode haver poder político acima e abaixo do Estado e podemos encontrar também poder
político noutras entidades sem ser o Estado. Há poder político sem ser apenas no Estado e
também há ciência política para além do Estado. Enquanto fenómeno político, é uma
comunidade de homens concretos.

O Estado é uma manifestação do político. É um fenómeno histórico, não existiu sempre e não é
garantido que exista sempre.

O Estado tem personalidade jurídica (coletiva e pública) com órgãos próprios, havendo
suscetibilidade de estabelecer contratos, ser titular de direitos e obrigações e ser
responsabilizado pelo cumprimento ou não delas.
É preciso identificar características que nos permitam dizer que temos um Estado. Estado define-
se como comunidade de pessoas que se estabelece num determinado território para aí exercer
o poder político, estabelecer regras. Três elementos do estado: povo, território, poder político.
Para estarmos perante um estado tem de existir cinco traços fundamentais/características (em
qualquer momento histórico):

• Complexidade: (de organização e atuação): Estado é uma pessoa coletiva não sujeita
ao princípio da especialidade, é uma sociedade de fins gerais que procura satisfazer as
necessidades coletivas (Estado tem uma multiplicidade de fins, órgãos e serviços) ao
invés de qualquer outra pessoa coletiva que está sujeita ao princípio da especialidade,
isto é, grupos ou associações que se regem por fins particulares.
• Autonomia do poder político: autonomia entre a sociedade civil e o poder político.
Estado destaca-se da sociedade civil, no entanto, é composto por uma comunidade de
pessoas sujeita a um poder que se destaca. A esfera do Estado, do poder político, é
completamente independente perante a esfera social (sociedade civil).
• Coercibilidade: suscetibilidade de aplicação coativa, ou seja, caso as normas não sejam
cumpridas, há instrumentos que permitem a sua aplicação (exemplo: tribunal). Cabe ao
Estado a administração da Justiça entre as pessoas e grupos e por isso tem de lhe caber
também a função de quando necessário recorrer a uma força, os tribunais. Ou seja, há
apenas uma possibilidade de que as normas sejam impostas pela força (não
necessariamente força física).
• Institucionalização: fixação e enraizamento do Estado como realidade atemporal e
ahistorica, independentemente de mudarem governantes e políticos. Ideia de duração,
de permanência do poder. O que garante que o Estado permaneça é a Constituição, que
surge “o Ser do Estado”, a lei suprema, um conjunto de normas que garante a sua
manutenção e que regula a vida da comunidade.
• Sedentariedade/territorialidade: o Estado tem um espaço físico que corresponde ao
espaço geográfico onde são aplicadas as normas. Permanece no tempo e fixa-se no
território, não havendo Estado nómada. A sedentariedade corresponde à necessidade
de um espaço físico para que o Estado realize o seu poder.

NOTA: Maquiavel foi o primeiro autor a usar a palavra “Estado” em sentido moderno.

NOTA2: Há relação entre o poder político e o Direito. As normas são critérios de


comportamento, como se deve fazer, o que fazer. O poder político faz/impõe normas, mas está
limitado por normas, por exemplo as constitucionais. Ou seja, o direito limita o poder político.

Direito constitucional: preocupa-se com as normas da constituição. Ajuda a fundar o Estado.

Ciência política é empírica, parte de conceitos para analisar a realidade e parte da realidade para
tentar estabelecer tendências e identificar regularidades. Foi desenvolvida a partir do século
XIX. Nem sempre houve ciência política, nem da forma como a fazemos hoje.

AULA 3 13/10/2021

História das ideias políticas: é importante para perceber muitos problemas que existem hoje,
como a tirania, o populismo, etc. Há vários modos diferentes de organizar a exposição de uma
História das Ideias Políticas: um é o critério alfabético (por autores), outro é o critério ideográfico
(por assuntos) e outro, o critério cronológico (por épocas). A ciência política optou pelo último
modo.

A introdução à história das ideias políticas está dividida em cinco períodos:

1. A Antiguidade Clássica;
2. A Idade Média;
3. A Idade Moderna;
4. O Iluminismo;
5. A Idade Contemporânea.

Nota: Consultar manual da história das ideias políticas de Diogo Freitas do Amaral.

ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Diz-se que a Grécia originou a política democrática e a reflexão teórica sobre a coletividade
e o poder, sendo composta por homens de pensamento; enquanto Roma nos deu o Direito,
sendo composta por homens de ação.

PÉRICLES: anos 495 a 430 a.C. – Defesa da Democracia Ateniense


❖ Vida e obra
1. Foi um nobre ateniense que esteve no governo de Atenas durante 15 anos mediante 15
eleições sucessivas, sendo um governante bem-sucedido, simbolizando o período áureo
da democracia ateniense, que ficou conhecido como “século de Péricles”. Compôs
também a apreciada figura do estadista moderno e sábio, do patriarca cívico.
2. Acreditava na lógica eleitoral para fundamentar o exercício do poder político.
3. Viveu na altura de consolidação da democracia e do apogeu do desenvolvimento de
Atenas.
4. Além de acentuar o carácter democrático do regime, estabeleceu o poderio naval e
colonial de Atenas e fomentou a cultura.
5. Não deixou nenhuma obra escrita, foi fazendo discursos e o que nós sabemos de
características de Péricles foi descoberto através dos seus discursos, reproduzidos por
Tucídides. Discurso: “Oração fúnebre”: Guerra do Peloponeso entre Atenas e Esparta,
sendo que defende aqueles que combatem pela democracia, contra a tirania (Atenas vs
Esparta). Este elogio fúnebre é para os soldados que morrem defendendo a democracia
e suas instituições. Além disso, conduziu Atenas nos dois primeiros anos desta guerra.
❖ Pensamento político
6. Considerava que era importante que um governante estivesse convencido do mérito da
sua governação, do seu regime, da sua pólis e, com isso, defende os ideais democráticos
de maneira eficaz, pois conseguia convencer o outro, era alguém com carisma político.
7. Péricles defende a democracia enquanto sistema de todos, tomando posição no debate
geral sobre qual a melhor forma de governo.
❖ O elogio de Atenas
8. Defende que se há guerreiros mortos em defesa da Pátria, é porque esta o merece e é
digna de veneração e respeito.
9. Refere que os motivos de prestígio, força e felicidade de Atenas são as “instituições
políticas” e os “Costumes de Atenas”.
10. Sublinha que a Constituição política de Atenas está longe de imitar os outros, pois
Atenas é que é o exemplo a seguir. Assim, mostra o seu orgulho nacional/patriótico e as
virtudes do regime ateniense que se vão contrapondo à crítica dos regimes alheios.
❖ Democracia, igualdade e liberdade
11. Refere que Atenas é uma democracia porque o Estado é administrado de acordo com o
interesse de todos, do povo e não de uma minoria.
12. Defende a igualdade entre todos os cidadãos e a liberdade individual, principalmente a
de opinião, pois permitia o debate sobre a política, todos dizem livremente o que
entendem sobre os negócios públicos e podem e devem discuti-los na praça pública
(“ágora”). Refere que a igualdade se manifestava no facto de as leis assegurarem a todos
um tratamento idêntico no que respeita aos conflitos particulares e onde cada um
obtém consideração em razão do seu mérito, sendo que a classe social não importa.
Quanto à liberdade, refere que a suspeição não tem lugar, ao contrário do que acontecia
em Esparta.
13. Em Atenas não há coação, existe liberdade, reina o princípio do debate democrático, a
eloquência, a deliberação colegial
14. Trouxe a ideia de defesa da democracia e acentuou ideias como liberdade de opinião;
igualdade entre todos; defesa de uma grande sociedade, sem coação, com abertura do
estado; sociedade com abertura no que diz respeito às ideias e um certo nacionalismo,
pois defende a virtude de Atenas em relação a outras cidades.
❖ Vida e costumes atenienses
15. A vida em Atenas era agradável e próspera e faz referência à prática de uma economia
aberta ao exterior e ao comércio internacional livre.
❖ Guerra e formação da juventude
16. Elogia os regimes e costumes atenienses.
17. Refere que a cidade está aberta a todos, não exigem autorizações especiais; ao contrário
de Esparta onde só podiam residir estrangeiros mediante autorização dos governantes.
18. Refere que outros povos sujeitam os filhos a treinos penosos, habituam-nos desde tenra
idade à coragem viril, ao contrário do que acontece em Atenas que, com uma vida sem
coação, lutam na mesma com tanto ardor para enfrentar os perigos.
❖ Atenas, escola da Grécia
19. Refere que Atenas é a escola da Grécia, pois lá sabem conciliar o gosto do belo com
simplicidade; gosto do estudo com energia; usam a riqueza para a ação e não para exibir;
refere que não é vergonha ser pobre e que vergonha é não procurar para deixar de ser
pobre; os homens podem se dedicar a ambos os negócios particulares e do Estado e
todos podem entender de questões políticas. Atenas é a cidade de que os Homens não
se quiseram despojar e pela qual caíram corajosamente em combate e que pela defesa
da cidade, os descendentes aceitarão sofrer.
❖ Elogio da morte em defesa da Pátria
20. Salienta a bravura dos soldados na guerra, que apagaram o mal com o bem e os seus
serviços públicos compensaram os seus erros da sua vida privada. Nenhum deles
escolheu o prazer ao dever e assim vão ter glória imortal.
21. Exorta aos vivos para que saibam honrar o exemplo dos que morreram no cumprimento
do dever.
22. Refere que a liberdade se confunde com a felicidade e a coragem com liberdade e para
não olhar com desdém os perigos da guerra, pois para um homem o apoucamento
causado pela cobardia é mais doloroso que a morte que se enfrenta com coragem,
animado por uma esperança comum.
❖ Críticas
23. Trata-se de um discurso parcial e demasiado otimista, que ocultou dificuldades e perigos
da época.
24. Estaria a descrever uma democracia inexistente, ou porque nem todos os habitantes
tinham direito de voto ou porque se consentia e praticava a escravatura, ou porque as
grandes massas não tinham acesso à educação e cultura. Porém, há quem defenda
que foi, pois respeitava a liberdade de opinião, de entrar e sair do país e outras
liberdades essenciais e conferia aos cidadãos a participação no debate de questões, as
quais eram livremente decididas.
25. Para outros era um ditador e não um democrata ou também um imperialista,
dominador de outros povos. Porém, não se pode confundir ditadura com influência
pessoal, autoridade natural, capacidade de liderança, pois estas devem ser
características de um chefe político. Quanto à acusação de imperialismo, apesar de
verdadeira, nada ou pouco tem a ver com o carácter democrático do regime político
ateniense nem do seu líder.

XENOFONTE: anos 430 a.C a 350 a.C. – O elogio da ditadura


❖ Vida e obra
1. Antípoda de Péricles, pois faz um elogio da ditadura e da autoridade, defendendo
Esparta como uma sociedade fechada em que as liberdades eram limitadas (ao contrário
de Atenas) e escreveu várias obras em que vemos esse elogio.
2. Nasce por altura da morte de Péricles e é discípulo do filósofo Sócrates, ficando
revoltado com a sentença que foi atribuída a Sócrates e é por isso que combate por
Esparta contra Atenas e assim em Atenas (era ateniense) foi banido e privado dos seus
bens. Depois deste acontecimento e de deixar de combater converte-se a uma vida
rural, escrevendo durante 20 anos e dedicando-se à agricultura.
❖ Pensamento político de Xenofonte
3. Preferia a ditadura. Desejava a aventura e a guerra. Defendia que a igualdade e a
liberdade ameaçavam o Estado e defendia uma conceção autoritária e aristocrática do
poder.
4. Admirava e servia Esparta.
❖ Elogio de Esparta
5. Elogia Esparta como sociedade fechada e como regime ditatorial e é esse o objeto da
sua obra “A República dos Lacedemónios”.
6. Refere que Esparta foi o Estado mais poderoso e ilustre da Grécia devido às suas
instituições.
7. Para ele era razoável que o Estado interviesse nas áreas da sociedade, nos casamentos
e no desenvolvimento da vida conjugal; que a educação dos jovens fosse feita por
funcionários do Estado e de harmonia com uma disciplina estrita e austera. Defendia a
disciplina e a obediência, o silêncio e o treino militar.
8. Tinha uma lógica comunitária, defendendo que as refeições deviam ser feitas em
publico e em comum e não se podia comer em casa; defendia a limitação da circulação,
sendo que Esparta vive como sociedade fechada; não suportava a ideia de vida luxuosa,
dizendo que os homens livres não podiam tocar em assuntos de dinheiro.
9. Era importante um estado forte e totalitário em que os estrangeiros seriam banidos e
que os de Esparta não poderiam ir para o estrangeiro, devido ao receio de que os
cidadãos fossem infetados pelos vícios do estrangeiro e se o fizessem perderiam os seus
direitos.
10. Dizia que quanto mais as magistraturas fossem poderosas, mais se imporão aos
cidadãos e os resolverão a obedecer. E para que ninguém desobedeça, para que ordem
e disciplina reinem, estabelece-se o policiamento total das atividades individuais: cada
cidadão controla e fiscaliza os demais, todos se observam uns aos outros, o que traduz
uma rivalidade.
11. O indivíduo é subordinado ao Estado e entre o cidadão e o poder, é o poder que
prevalece.
12. O Direito não visa proteger a pessoa humana, mas a coletividade.
13. As leis de Esparta são importas como normas de origem humana e como preceitos de
emanação divina, referindo que é ilegal e ímpio desobedecer a leis consagradas pelo
oráculo.
14. Xenofonte reconhece que Esparta não corresponde ao modelo por ele descrito e atribui
a decadência ao facto de os espartanos não respeitarem as leis de Licurgo, não
aceitarem viver na mediocridade e terem passado a “gostar de ouro” e a apreciar
“viagens no estrangeiro”.
❖ Chefe e suas qualidades
15. A política é o conhecimento do que é preciso saber e do que é preciso ser para governar
bem um país. É uma arte, a arte suprema, a arte real.
16. O domínio da arte política será o grau mais elevado que o homem pode atingir na vida,
a atividade humana mais importante.
17. Apologia do chefe: aquele que pela sua aptidão natural é o mais habilitado a assumir e
exercer o poder e é o que sabe. É preciso terem o dom da palavra, persuadir, apelar à
razão e aos sentimentos dos governados. O chefe é o que sabe mandar e se faz
obedecer, não é chefe quem quer, nem necessariamente quem ocupa um lugar de
chefia.
18. O chefe manda fazer o que é necessário fazer e o dever do súbdito é obedecer.
❖ O poder
19. O poder é a faculdade de mandar e a capacidade de se fazer obedecer. São as qualidades
do chefe, a sua aptidão natural, superioridade e carisma que leva os súbditos á aceitação
da autoridade e ao acatamento das ordens dadas pelo chefe.
20. Refere que quanto ao talento de comandar há entre os homens grandes diferenças de
inteligência.
❖ Aquisição e exercício do poder
21. O poder não é fenómeno jurídico, mas sim psicológico. Não resulta das leis, mas da
mentalidade e atitudes dos homens.
22. O poder é uma autoridade que não provém de hierarquia, nem de uma investigação
regular e conforme ao Direito. o poder merece-se, conquista-se, toma-se e exerce-se.
23. O que importa nos governantes não é a legitimidade de título, mas a eficácia
demonstrada no exercício do poder (legitimidade de exercício). É pelo exercício do
poder que o chefe se torna bom e útil, mesmo que na sua origem tenha estado um ato
ilegítimo.
24. O melhor governo é o governo de um só, um governo de autoridade, militar, ou seja,
uma ditadura, refere que o poder não deve ser exercido pelo chefe no seu interesse
pessoal, deve-se assegurar o bem dos que o escolheram e dos soldados.
25. Ideia de que o Estado deveria ser forte e absoluto. O seu chefe, de igual modo, deve ser
totalitário e concentrar em si o poder enquanto unidade, daí a relação com a lógica
comunitária que defendia, onde todos estão inseridos dentro da cidade [fechada] e nela
é proibida uma vida de luxo e a liberdade de posse e circulação de bens.
26. Xenofonte é o primeiro defensor do regime político ditatorial: não respeita a lei para
garantir o acesso ao poder por via legítima e pacífica; elogio à guerra e violência; chefe
definido pelo modelo militar do general; redução do cidadão à obediência passiva, sem
debate prévio e sem aprovação dos representantes do povo, às ordens dadas pelo chefe
omnisciente e omnipotente – semideus.
27. Não faz a defesa da monarquia hereditária e não presta atenção à legitimidade de título
dos governantes, apenas se preocupando com a conquista violenta do poder e com o
respetivo exercício.
28. O poder não vem do povo nem é exercido por assembleias representativas deste: é um
poder pessoal do chefe, exercido por autoridade exclusiva deste sobre os seus
subordinados. O poder é validamente exercido pela força.
29. Foi percursor do Estado Totalitário Moderno (nazismo e comunismo): defensor do
poder pessoal do chefe infalível e todo-poderoso; critica à democracia ateniense e
elogios à sociedade fechada e antidemocrática de Esparta.
❖ Críticas
30. Uns defendem que foi o defensor da Monarquia tradicional, autoritária, mas não
ditatorial nem tirânica.
31. Referem que teria feito a prefiguração das monarquias helenísticas, baseadas num
Estado grande, forte e altamente povoado.
32. Para outros é o percursor das ditaduras contemporâneas.
33. Critica que se coloca a Xenofonte é o facto de defender a tirania e desrespeitar as
fórmulas consagradas pela lei para garantir o acesso ao poder por via legítima e pacífica.
34. Critica-se também o facto de enaltecer a violência, a guerra e a obediência cega.

PLATÃO: anos 429 a.C. a 347 a.C. – As primeiras ideias comunistas


❖ Vida e obra
1. Natural de Atenas, mas tem no seu pensamento um desprezo por esta, devido ao
julgamento e morte de Sócrates e então adquire simpatia por Esparta.
2. Dedica-se ao ensino, fundando a “Academia”, a mais célebre universidade do mundo
antigo, onde expõe o seu pensamento como filósofo.
❖ Pensamento político
3. É conhecido como filósofo e criou a teoria das ideias, a alegoria da caverna e a defesa
da imortalidade da alma.
4. Foi o 1º grande pensador político a apresentar o que chamamos de “projeto da
sociedade”: modelo de sociedade ideal, que possa ser mais justa e racional do que
aquela em que vivemos, baseada na justiça e interesse geral.
5. Então, a esse propósito, ataca a família e a propriedade privada, considerando estas
instituições responsáveis pelos males da sociedade presente e que, por isso, devem
desaparecer na sociedade futura.
6. Estuda as diferentes formas de governo numa perspetiva dinâmica, em que regimes se
sucedem uns aos outros, numa evolução histórica.
7. Primeiro defensor de uma sociedade coletivista, centrada e dominada pelo Estado,
como forma de resolver o problema da justiça, em busca do ideal de sociedade justa.
❖ Política e os políticos
8. Vê a política como uma ciência teórica ( que se divide em ciência do comando ou
ciência do julgamento. O comando pode ser direto – direito de educar os indivíduos;
ou indireto) ou prática (na prática está a lógica da arte de governar, defendo a
persuasão, a sabedoria, o governo com base na Razão).
9. Para ele a política era a ciência, arte de educar “rebanhos de bípedes, não cornudos e
sem plumas – isto é, os homens!”
10. Dois sentidos de política: Política como uma forma de conhecimento, uma ciência, útil
à educação dos homens; ou como uma arte, a arte de governar e conduzir os homens
em sociedade.
11. A arte de governar pela persuasão tem o nome de política, mas o governo assente na
força é a tirania. A política é, então, a arte de governar homens com o seu
consentimento. Só esta é uma arte real, só ela comanda, escolhe e unifica.
12. O melhor governo é o da sabedoria, da Razão, inteligência. O governante ideal é o
filósofo: defesa da entrega do poder ao “Rei-Filósofo”, isto é, ao rei que saiba tornar-se
filósofo, ou ao filósofo que consiga vir a ser rei. Mas não chega ter conhecimentos para
governar.
13. Defende que os políticos não podem ser moderados, pois são incapazes de combater e
ficam à mercê de quem os atacar; nem podem ser violentos pois empurram o país para
a guerra, suscitam inimigos e arruínam a pátria.
14. O ideal de Rei-Filósofo nunca existiu e Platão considera todos os políticos como maus.
❖ Em busca da justiça
15. A justiça não é encarada como um valor situado no plano das relações individuais, mas
antes no plano coletivo, no plano do Estado, que é a única entidade capaz de assegurar
esta virtude.
16. A justiça é um valor ou virtude que consiste em dar a cada um o que é seu, praticando,
cada homem, na relação com o outro, a igualdade, equidade, a boa-fé. Porém, Platão
apenas se preocupa com as relações entre o poder dos governantes e a justiça.
17. Critica a sociedade ateniense e procurar assentar um Estado justo: que seja uno, em vez
de um Estado dividido em dois grupos inimigos – os pobres e os ricos.
18. Como alcançar a justiça? Há que partir da alma individual para o Estado. A injustiça
divide as partes da alma, tornando impossível qualquer ação adequada e fecunda. Cada
coisa, cada instituição tem uma virtude que a faz desempenhar bem a sua função e
consiste em garantir a harmonia das várias partes ou elementos que a compõe: essa
virtude é, na alma, a justiça.
19. Procura da justiça no Estado, na Cidade: deixa de ser um atributo individual para ser um
atributo do Estado ideal, do Estado e sociedade justa.
❖ Cidade Ideal
20. O modelo ideal de organização política e social da cidade assenta num paralelo entre a
alma individual e a cidade.
21. A cidade deve ser estruturada de acordo com a alma: três partes- racional (plano das
ideias), irascível (compreende os impulsos e afetos do ser humano) e sensual (integra as
necessidades elementares do homem); a cada uma destas partes corresponde uma
qualidade: racional – sabedoria; irascível – coragem; sensual – desejo. A submissão da
coragem e desejo á razão consiste na temperança, ou seja, aquilo que compete a cada
um sem se intrometer na esfera própria dos demais. A justiça é o ordenamento das três
partes, cada uma na sua esfera e desempenhado a respetiva função. A justiça, devido à
sua função ordenadora, acaba por ser a mais importante das virtudes da alma.
22. Na cidade Platão vê três classes: 1º magistrados – governantes (parte racional da alma,
deve atuar segundo a razão e governar a cidade); 2º guardas – militares (parte irascível
da alma, deve atuar segundo a coragem e deve garantir a defesa e segurança da cidade);
3º lavradores e artífices – trabalhadores (parte sensual da alma, deve atuar segundo o
desejo e assegurar o sustendo material da cidade).
23. Quer os guardas quer os lavradores e artífices serão as classes subordinadas aos
magistrados e devem obedecer às suas decisões: temperança.
24. Cada uma das classes deve fazer o que lhe compete, sem se intrometer na esfera das
demais: justiça. – Novo conceito de justiça, que tem a ver com a correta ordenação do
Estado, em que este impõe cargos e não deixa ninguém sair do lugar que lhe compete
no sistema do conjunto. É o todo que dirige e integra a atuação das partes.
❖ Seleção dos cidadãos para as três classes
25. Assegurar um bom governo: garantir o recrutamento adequado de cada cidadão para a
sua função. A escolha de cada atividade não é feita livre e individualmente, é ao Estado
que esta compete.
26. A virtude que mais contribui para a perfeição da Cidade é a Justiça.
27. Cada um deve ser escolhido de acordo com a sua alma para uma das três classes:
✓ Possuem a razão: governar a cidade – magistrados;
✓ Irascíveis: defender a cidade – guardas;
✓ Sensuais: alimentar e fazer funcionar a cidade – agricultores ou artesãos.
28. Teoria dos metais: cada alma tem um legado, um metal, que é deixado por Deus. A alma
do magistrado é de ouro; os guardas com alma de prata; e os trabalhadores com alma
de ferro, bronze. Esta teoria serve de fundamento à defesa da intervenção do Estado (e
não da família ou da liberdade individual) na escolha da profissão.
29. As classes mais importantes para a delegação são as primeiras e são as que têm menos
gente. A dos trabalhadores é a mais populosa.
❖ Abolição da propriedade privada
30. Refere que as duas primeiras classes são as mais importantes para o bom governo da
cidade e entre estas duas a mais importante é a dos guardas, pois é no seu seio que se
escolhem os que vão governar, passar para a primeira classe. É preciso garantir que os
guardas são devotos à cidade e que cumpram a sua função de “conter os cidadãos do
interior, no caso de alguns recusarem obedecer às leis, e repelir ataques do exterior”.
31. Os guardas têm de obedecer às decisões dos magistrados e devem conter o uso da força
contra os seus concidadãos que não dispõem de armas.
32. Defende uma boa educação para os guardas e que é necessário eliminar na sua classe a
propriedade privada e a riqueza.
33. Platão preconiza uma cidade comunista, embora só para a classe dos guardas: não
podem ter bens próprios, a não ser coisas de primeira necessidade; nenhum terá
habitação e quanto à alimentação, é fixada pelos outros cidadãos, como salário de
vigilância que assegurem que não lhes sobra nem falta para um ano. Tomam juntos as
suas refeições e viverão em comum.
34. Defende que tudo isto é necessário para assim eliminar o egoísmo pessoal, assegurar a
dedicação dos guardas, pois se tiverem património próprio a defender se
desinteressarão do bem geral da cidade, tendo por objetivo a dedicação dos guardas à
causa comum.
35. Os magistrados são os únicos que possuem propriedade privada e estão passíveis de
constituir família, porque são a classe dotada de sabedoria e, por isso, devem fazer
perpetuar o seu legado perfeito.
36. Defende que só a sua Cidade é una: as outras cidades são múltiplas, cada uma tem “pelo
menos duas cidades, inimigas uma da outra, a dos pobres e a dos ricos”. Percebemos
que achava que o maior mal social era o fosso que separava pobres e ricos.
❖ Abolição da família
37. Depois de determinar o papel dos homens reflete sobre o das mulheres: devem
cooperar com os homens na guarda da Cidade, ir com eles à caça, em vez de ficar em
casa, incapazes de fazer algo sem ser gerar e alimentar os filhos.
38. As mulheres devem ter a mesma instrução que os homens, pois podem fazer os mesmos
serviços. A prática da ginástica, tanto por homens ou por mulheres, é feita de forma nua
– defesa do nudismo.
39. Proclama a abolição do casamento e da família e refere que “as mulheres dos guardas
serão comuns a todos esses homens, nenhuma delas coabitará em particular com
nenhum deles; os filhos serão comuns, e os pais não conhecerão os seus filhos, nem os
filhos conhecerão os pais”.
40. Pensa que é vantajoso a comunhão das mulheres e dos filhos. Porém, não confia nestas
para os educar e então os filhos são entregues a amas.
41. Cabe aos magistrados, ao Estado, escolher os homens e mulheres que se vão unir para
procriar: os homens superiores devem encontrar-se mais vezes com as mulheres
superiores do que os homens inferiores se encontrem com mulheres inferiores. É
preciso educar os filhos dos primeiros e não dos segundos, para que a classe dos guardas
esteja isenta de desordens.
42. O número de uniões e quando as realizar os magistrados decidirão. Só os jovens que se
tenham destacado na guerra podem escolher as suas mulheres, como recompensa.
❖ Importância da educação
43. A educação, tal como o comunismo dos bens, das mulheres e dos filhos, é algo que só
lhe interessa enquanto respeita à organização das classes superiores. Visa preparar os
guerreiros e, a partir destes, os magistrados.
44. Primeiro: educação física e musical (ginástica e música); passar por provas
experimentais (dor, medo, prazer); ensinar artes militares e as ciências (geometria,
astronomia, etc). Daqui sairão os indivíduos mais aptos para o serviço das armas.
45. Aos trinta anos, os melhores guerreiros são educados na arte do diálogo e na filosofia.
46. Aos cinquenta anos os que ultrapassaram estas provas e a educação terão atingido o
mais elevado nível de conhecimento, virtude e sabedoria – podem ser escolhidos para
magistrados.
47. Assim triunfará a Sofiocracia (governo da sabedoria) - classe de homens justos e
virtuosos, com almas de ouro, possuídos pela verdade e razão, isentos de egoísmo e
imunes às seduções da riqueza e famílias.
❖ Tipologia das formas de governo
48. Formas de governo:
✓ Monarquia: divide-se em Sofiocracia - forma de governo exercida pelo Rei-Filósofo; e
tirania - exercício do poder por um só, sem a base de sabedoria que existe no rei-filósofo
e apenas com imposição de regras, violento.
✓ Oligarquia: pode-se dividir em timocracia - poder exercido pelos guardas, em que se
instala o predomínio do espírito guerreiro sobre a sabedoria; e plutocracia - poder
exercido pelos mais ricos, voltado contra os pobres.
✓ Democracia - poder exercido por uma multidão que é incapaz de ter a verdadeira razão,
verdade e sabedoria. A sabedoria só existia em alguns, não na multidão.
✓ Democracia aristocrática - alguns mais superiores acabam por ter o poder. Meio
caminho entre oligarquia e democracia. Para a democracia aristocrática, Platão defende
a propriedade privada e a família.
❖ Sucessão cíclica das formas de governo
49. Defendia a existência de evolução das formas de Estado, que estas não são imutáveis,
que evoluem e se transformam de acordo com as circunstâncias. O ideal seria a
monarquia sociocrática e a pior seria a tirania.
50. No início da evolução está a sofiocracia, mas a partir daí existe decadência. Da
sofiocracia passa para a timocracia - poder dos guardas que já não querem obedecer ao
rei e tomam o poder pela força devido à desordem na regulação dos nascimentos e na
teoria dos metais. Guerreiros ficarão ricos e desprezarão os pobres, passando para a
Oligarquia, governo de várias classes, de alguns, além do poder dos guardas. Depois, as
massas revoltadas contra o poder dos ricos e aproveitando a sua fraca defesa tomará o
poder que passa para a democracia. Mas população não pode exercer o poder, poisé
desorganizada e as lutas entre fações farão cair a cidade na desordem e então o povo
terá tendência para entregar o poder nas mãos de um chefe todo-poderoso e então
volta para a tirania, poder de uma só pessoa e não tem a sabedoria que tem a
sofiocracia. É um modelo que sofre alterações, mas volta ao mesmo ponto, ao ponto
ideal, pois o tirano vai reconverter-se à filosofia.
❖ Melhor forma de governo
51. A melhor forma de governo era a sofiocracia, entregue a um Rei-Filósofo que decide
sozinho, como numa monarquia absoluta. É uma pessoa com o máximo de
conhecimento.
52. Entendemos que é uma ditadura, pois não há direito de propriedade, de constituição da
família, da educação dos filhos, porque nenhum cidadão possui liberdade de escolha da
profissão, porque não há parlamento nem debate político. Faz uma censura de Estado
a poetas e a teatros e tem um comando autoritário que vai levar a uma obediência cega.
53. O governante ideal está acima da lei e pode ignorá-la sempre que o interesse da
coletividade assim o exija: o estadista deve forçar os cidadãos a ir contra os códigos e
tradições se isso for melhor que acatar as leis. Platão não quer governo de leis, mas
antes governo de homem sobre os demais homens.
54. Primeiro a propor uma organização social de tipo comunista: não democrático,
totalitário, abolição da propriedade privada, do casamento e educação dos jovens ao
monopólio do Estado.
55. Foi percursor dos movimentos modernos que preconizam o feminismo, a libertação
sexual, a prática do nudismo, o aborto, etc. Defendia o controlo estadual dos artistas e
o eugenismo.
56. O comunismo de Platão nada pretende fazer pela classe de agricultores e artesãos.
57. A sua ideologia não reveste carácter económico, pois não se destina a alcançar a
igualdade entre classes ou entre cidadãos.
58. Platão defende o aborto eugênico, o infanticídio, para manter a pureza dos guardas
(pois estes não podiam ter família) e magistrados (quando houvesse algum problema
com a criança) e assim faz a defesa da violência do Estado (para não haver deformações
nas pessoas e manter a pureza).
59. Está nos antípodas do Estado de Direito e por isso é criticado, pois não há regras que
limitam o exercício do poder.
Aula 4 15/10/2021

ARISTÓTELES: 384 – 322 a.C. – A primeira defesa da sociedade pluralista


1. Conhecido por “Estagirita”, pois nasce na cidade de Estagira, na Macedónia.
2. Foi viver para Atenas. Aristóteles era observador de Atenas e não como cidadão, era
meteco, não gozava dos direitos próprios da cidadania.
3. Fundador da ciência política, pois foi professor, investigador e cientista da política e do
Direito constitucional.
❖ Pensamento político
4. Defende a ideia democrática numa lógica diferente de Péricles: não tem uma cidade
ideal, pois sabe que não se iria realizar, é apenas um realista (observa).
5. É defensor do bom senso, equilíbrio, moderação, da virtude. O ideal a atingir não é a
cidade justa, mas sim o bom cidadão, justo, virtuoso, orientado para a felicidade por um
Estado ético e tutelar.
6. Interessa-se mais pela análise científica do que pela proposta política: não foi político,
foi politólogo, observando os factos, regimes, constituições e extrai desse material
recolhido o estabelecimento de tipologia, classificações e comparações, bem como a
dedução de regularidades, relações causais, leis científicas.
7. Contributos para a História das ideias políticas: conceção acerca da natureza humana,
da qual deduz depois como consequências as suas outras observações e propostas;
crítica da cidade ideal de Platão e, portanto, a defesa da família, da propriedade privada
e do pluralismo social; análise das classes sociais e o papel preponderante reconhecido
às classes médias; a defesa do primado da lei sobre a vontade dos homens; a
classificação dos regimes políticos sãos e degenerados; teoria do regime misto como
forma ideal de governo.
❖ O Homem e a política
8. Refere que somos um animal político (zoon politikon), pois somos feitos para viver em
sociedade. Diz ainda que o Homem isolado, sem regras, é o pior de todos os animais, o
mais cruel. Na ordem da natureza, a cidade existe antes da família e de cada indivíduo,
ou seja, o homem não se basta a si próprio, depende dos outros, tem uma tendência
natural para a vida em sociedade.
9. Esta tendência natural do homem para a vida em sociedade é a base de todas as
doutrinas sobre a origem natural do Estado e do poder.
❖ Noção de Estado
10. No Estado Grego, o conceito de “Estado” era globalizante e abrangia os domínios
públicos e privados. A vida familiar, a moral, a religião, as educações dos filhos eram
assuntos de Estado: este era competente para os regular e decidir.
11. A comunidade perfeita seria a comunidade para um bem supremo, o seu bem é o bem
supremo.
12. Vê o homem como uma soma de virtudes que vão necessitar de boas leis para a
felicidade.
13. É necessário que, para que os homens sejam bons, o governo e as leis do país sejam
orientadas para a construção do bem, sendo que as leis são muito necessárias para o
controlo público. É através das leis que nós podemos tornar-nos bons.
14. A política está ao serviço da moral: as leis devem conduzir à virtude do bom cidadão e
do homem de bem.
15. O Estado não é apenas um fenómeno político ou jurídico: é ético, moral e religioso.

❖ Crítica das ideias de Platão


16. Defende a superioridade do pluralismo social e político ao contrário de Platão que
defendia o modelo da unicidade imposto a um país, que reduziria a cidade a uma família
e a família a um indivíduo. Refere que a Cidade se compõe de uma multidão de homens
que são todos diferentes.
17. Ataca a conceção platónica do comunismo das mulheres e dos filhos, tal como dos bens.
18. Defende a existência da família, mostrando repugnância – moral e social – por um tipo
de sociedade (de Platão) onde pais e filhos não se possam conhecer.
19. Refere que abolir a família e a propriedade era anular a possibilidade de praticar duas
vertentes fundamentais: estimar e dignificar as mulheres pelo seu ato e a liberalidade
no emprego dos nossos bens. Diz ainda que este comunismo de bens conduziria a rixas,
violência que criava corrupção geral.
❖ Classes sociais e a defesa do predomínio das classes médias
20. Refere que as classes sociais são definidas em função das condições económicas, da sua
função ou influência na vida política e no funcionamento do Estado.
21. Na análise que fazia da sociedade fazia uma tripartição: ricos, muito pobres e
intermédios. Integra os três numa sociedade equilibrada, sã e tenta que não haja
violência (liga a violência aos mais ricos) e uma lógica de instigação, rebelião ligada aos
mais pobres. Se a classe dos mais ricos ou muito pobres for dominante, haverá
desordem.
22. A sociedade da classe média é a mais equilibrada, onde vigora o princípio da legalidade
e a melhor forma de governo. É onde existe mais harmonia e os homens submetem-se
facilmente à razão. Não desejam os bens dos outros, como os pobres, nem são objeto
de ciúmes, como os ricos.
23. Por isso, é necessário que a república seja composta o mais possível por cidadãos
semelhantes e iguais (em termos económicos), o que só acontece quando estão numa
situação média.
❖ Defesa do primado da lei e da separação de poderes
24. Primado da lei sobre a vontade dos homens (princípio da legalidade). Porém, se houver
um homem em excesso de qualidade, ele será a própria lei e governará em monarquia.
Mas, a regra geral é a do respeito pela lei, da observância da legalidade e do sistema de
leis, objetivas e impessoais acima da vontade do homem.
25. A lei delega para que nos magistrados julgam e decidam justamente e os órgãos
executores da lei devem atender às circunstâncias de cada caso. A lei “é a razão sem
apetite”, não olha às paixões incontroláveis, como faz o poder pessoal.
26. Separação de poderes: Cada constituição tem três partes – delibera sobre os negócios
públicos; respeita aos cargos públicos; a que julga. (estamos bem perto do poder
legislativo, executivo e judicial).
❖ Classificação dos regimes políticos
27. A forma de governo de um Estado é constituída pelo estabelecimento das
magistraturas, sobretudo daquela que tem supremacia sobre as outras.
28. Regimes políticos: não há um só que seja visto como legitimo e conveniente. Vê regimes
sãos: monarquia (dá-se o nome de realeza quando tem por fim o interesse geral),
aristocracia (governo de um pequeno nº de homens, ou vários, mas não um só para o
bem do Estado e da sociedade), república (a multidão governa no sentido de interesse
geral)– têm por fim o bem comum dos cidadãos; degenerados: tirania (monarquia
governada de acordo com o interesse do monarca), oligarquia (interesse dos ricos) e
democracia (interesse dos pobres) – têm por fim o bem particular.
29. Monarquia tem como degenerada a tirania; aristocracia-oligarquia; república-
democracia.
30. Regimes mais frequentes na prática: oligarquia e democracia: predomínio das classes
privilegiadas ou das classes trabalhadoras.
❖ Melhor forma de governo
31. Ciência política serve para procurar para cada situação, a melhor forma de governo para
cada país e cada época.
32. Defende que a tirania é a pior forma de governo, seguida da oligarquia e depois da
democracia.
33. Chega à conclusão que o melhor é viver numa república de carácter misto com
elementos de oligarquia e democracia, apoiada no predomínio das classes médias.
❖ Sucessão cíclica das formas de governo
34. O ciclo não começa no ótimo, mas no regime que historicamente se considera ter sido
o primeiro; a evolução não é linear, embora caminhe para uma melhoria gradual e o
encerramento do ciclo termine com a melhor forma de governo.
35. Sequência dos regimes políticos segundo Aristóteles: Monarquia (governo dos povos
mais primitivos, mas sendo que há cidadãos que se destacam pelo seu mérito e os
problemas são cada vez maiores, o poder não pode continuar nas mãos de um só, tem
de ser partilhado) e então passa para a aristocracia (transforma-se num grupo social
egoísta e rico, passando a governar pelos seus interesses), passando para a oligarquia
(perdem apoios e fecha-se sobre si mesmo). Só um poder despótico e unificado pode
manter os privilégios – tirania. Mas os cidadãos não aguentam a opressão e reivindicam
o governo – democracia. Os excessos da democracia obrigam a dotar uma forma mais
moderada, em que o elemento oligárquico é chamado a colaborar e que resultará
melhor se se apoiar na classe média – república (mista).

CÍCERO: anos: 106-43 a.C – defesa do direito natural e contra a tirania


❖ Vida e obra de Cícero
1. Era um filósofo, um moderado (do ponto de vista político e social), um centrista, um
cultor da letra escrita e falada. Era também advogado e político. Era romano.
2. Combateu a tirania durante a sua vida.
3. Escreveu “De Republica” e “De Legibus”.
4. Recebe inspiração intelectual da Grécia, mas que procura adaptar a Roma.
❖ Pensamento político
5. É um dos representantes do estoicismo e nas bases do seu pensamento está uma
filosofia idealista: no princípio do mundo e realidade está a razão; a ideia de devoção ao
dever e do controlo que cada um tem de si mesmo; defende a existência de um Deus
único, cuja relação com os homens é semelhante à de um pai para com os filhos; era
defensor da igualdade entre os homens; ideia de um Estado mundial e cidadania
universal e direito natural de origem divina.
❖ Dever de participação política
6. Dever moral social: dever de participação na vida política e este dever deve ser dado
pelos governantes.
7. Defende que é natural que os homens participem na vida política, pois têm necessidade
de agir e porque querem a salvação comum; refere que o homem bom deve procurar a
virtude e que está só se possui quando se aplica e a mais alta aplicação é o governo da
cidade; os valores fundamentais apregoados por filósofos e moralistas são criados ou
confirmados pelos governantes, que são o exemplo.
8. Diz que o político é mais importante que o filósofo, pois consegue, através das leis que
faz aprovar e do poder de comando que exerce, obriga todo o povo a cumprir.
9. Refere que é normal conviver com homens desonestos na política e que esse é um preço
a pagar e que se não for assim, serão sempre os homens desonestos que triunfam, o
que é necessário evitar.
10. Conclui que é necessária uma preparação metódica, constante, para na altura própria
atingir os mais altos cargos políticos – carreira política.
11. Diz que o ideal é uma vida entre contemplativa e ativa, uma síntese entre a filosofia e a
vida política.
❖ Formas de governo
12. Formas do governo: distingue a monarquia (poder para uma pessoa), da aristocracia
(algumas pessoas escolhidas) e da democracia (totalidade do povo). Nenhuma destas
formas era vantajosa: na monarquia deveria existir uma ideia por parte do monarca de
amor aos soberanos, porém há abuso do poder. Aristocracia aplicava a ideia de
sabedoria, portanto cabia aos mais ricos e aos interesses destes. A democracia está
ligada à liberdade, mas havia mau ou dificuldade de uso desta mesma forma de governo,
devido à cegueira e abusos de poder da multidão.
13. Critica a tiragem à sorte, pois não é regime adequado.
14. Defendia uma forma de governo mista, que reunisse justamente as três formas de
governo, (monarquia para afirmação do poder; aristocracia para lucidez e
conhecimento; princípio popular para que haja liberdade e justiça para o povo) e o
poder distribuído pelos diferentes estratos sociais.
15. Faz distribuir as funções públicas por órgãos do Estado: o magistrado supremo (Cônsul),
assembleia deliberativa (senado) e órgãos que administrem a justiça (tribunais).
❖ Líder e homem de Estado
16. Além do Senado e do povo tem de existir um magistrado que possua e exerça o poder
individualmente, o Cônsul. Representava o povo, sustentava a dignidade e honra do
país, executava as leis, respeitava os direitos de cada um e cumprir as obrigações
confiadas à sua lealdade. O magistrado tem de obedecer às leis, respeitar os direitos do
senado e a liberdade do Povo. O magistrado está abaixo da lei, embora esteja acima dos
governados, porque é o governante.
17. A lei destina-se a assegurar a liberdade dos cidadãos e a limitar o poder e autoridade
dos magistrados.
❖ Combate contra a tirania
❖ Cícero e o Direito Natural
18. Direito Natural: lei verdadeira, conforme à natureza, presente em todos os homens,
constante e eterna. Conduz-nos a fazer o que devemos, e proíbe-nos o mal desviando-
nos dele. Não é permitida nenhuma alteração a esta lei que é eterna e imutável, que
rege todas as nações em todos os tempos.
19. Deus único que ensina a lei. A este pertence-lhe a conceção, a deliberação e aplicação
dessa lei. Quem a ignorar sofrerá castigo.
20. Ou seja, existe uma natureza, uma ordem natural, que foi criada por Deus e é descoberta
pela razão humana; dela resulta um direito natural que impõe direitos e deveres aos
homens que têm de acatar sob pena de desrespeitarem a própria natureza humana e
receberem sanções.
21. Os principais imperativos decorrentes do direito natural são universais, eternos e
invariáveis; o direito positivo, o Estado, os governos, não podem alterar essa lei, nem
podem dispensar ninguém da obediência aos seus preceitos.
22. Defende a existência de uma Humanidade e da dignidade do ser humano, a igualdade
de todos os seres humanos do ponto de vista jurídico e a igualdade de direitos.
23. Critica a escravatura e a tirania.
24. Considera que é importante a ordem natural, sendo defensor desta, sem um sistema
necessariamente organizado, mas limitado pela legalidade.

IDADE MÉDIA
SANTO AGOSTINHO: anos: 354-430 a.C. – visão pessimista do Homem e do Estado
1. Nasceu em África.
2. Aderiu á lógica maniqueísta- doutrina de uma seita religiosa persa: a vida, o mundo e o
homem são dominados pelo conflito entre a luz e as trevas, o bem e o mal, havendo o
deus do bem e o deus do mal que se encontram em conflito.
3. Inspirado em Platão.
4. Converte-se em cristão aos 32 anos e rejeita a vida de luxúria e prazer.
5. Em 392 torna-se padre e em 396 Bispo de Hipona.
❖ Pensamento político
6. Escreveu livros sendo importante o “Cidade de Deus”: aqui distingue a cidade de Deus,
a cidade Celeste em que há procura da justiça e os homens vivem segundo o espírito e
a “cidade terrena” que vive de acordo com a carne e os prazeres. Uma é a cidade do
bem e outra a cidade do mal e ambas estão em luta permanente e disputam a posse
do mundo. A vida presente é uma luta, só no futuro poderá haver paz.
7. A Cidade Celeste não corresponde à igreja nem a Cidade Terrena ao Estado: a distinção
das cidades atende antes à maneira de ser dos homens, à sua forma de vida, ao espírito
e finalidades com que atuem. Tanto na Igreja como no Estado há homens pertencentes
às duas cidades. Daí que o Estado em si não pode ser considerado nem como bom ou
mau, depende de quem o governa.
8. Só na cidade celeste há verdadeira paz, justiça e bem. Na cidade terrena, os homens
esforçam-se por alcançar a paz, mas não há paz sem deus; alcançar a justiça, mas não
a há sem Deus; alcançar o bem, mas não o há sem Deus. Apenas há aparência destes
três aspetos, que são o reflexo dos verdadeiros valores da paz, justiça e bem.
❖ Conceção sobre a natureza humana
9. A necessidade de se alcançar a perfeição é muito difícil de alcançar, pois tem visão
pessimista sobre a espécie humana, sendo que alguns se afastam da perfeição e não
se conseguem libertar do pecado e outros tentam chegar lá e salvarem-se. A minoria
está na cidade de deus (assembleia de santos) e a maioria na cidade terrena
(assembleia de pecadores).
10. Características principais do Homem: egoísmo, arrogância, vontade de dominar os
outros e a tendência para procurar o bem próprio e desprezar o bem dos outros. É um
ser marcado pelo pecado. As três tendências mais negativas do Homem pecador na
cidade terrena são o apetite pelos bens materiais, a paixão do poder ou domínio de
outros homens e o desejo sexual. Estes apetites são insaciáveis.
11. Não acredita na ideia de progresso histórico, isto é, no aperfeiçoamento ou melhoria
da Humanidade: para ele o Homem será sempre pecador e a cidade terrena nunca terá
Paz, Justiça ou Bem.
❖ Noção de Estado
12. Da visão pessimista do Homem tem consequência relativamente ao Estado: conceção
repressiva do Estado em que vigoram as ideias de prevenção de maus
comportamentos, sanção e repressão.
13. A graça de Deus não serve para base da organização social, pois só libera uma pequena
minoria da grande massa dos pecadores: por isso, se a graça divina é inadequada à
estruturação da vida social, outros meios têm de ser encontrados. Esses meios são
organizados pelo Estado: a prevenção, a sanção e a repressão.
14. A paz e a segurança devem ser asseguradas pela coação e a punição, para evitar que
elas sejam destruídas pelas forças poderosas do pecado. O principal instrumento do
Estado para obter a paz e a segurança é o sistema jurídico, o Direito, garantido pela
força do Estado. O Direito não consegue atuar sobre consciências, apenas consegue
atuar sobre os comportamentos exteriores, evitando que os Homens cometam
agressões, ou punindo-as ou reprimindo-as.
15. O Estado não deve (porque é impossível) procurar tornar os homens bons e virtuosos,
apenas deve fazer reinar a paz e a segurança exteriores nas relações sociais entre os
homens. O Estado é uma ordem exterior e coerciva, não tem a ver com o bem e a
justiça, apenas com a paz e segurança na cidade terrena.
16. A cidade de Deus é uma ordem de amor e o Estado, na cidade terrena, é uma ordem
de coação: o medo da punição é a salvaguarda da paz e segurança.
❖ Dever de obediência ao Poder Político
17. Existia um dever de obediência face ao poder político, pois todo o poder vem de Deus
e o poder é um dom de Deus concedido aos homens.
18. O dever de obediência ao poder é absoluto. Não há limitações ao poder dos
governantes. Não há espaço para justificação da desobediência ou para formas de
resistência dos governados.
19. Não se pode distinguir entre bons ou maus governantes e formas de governo justas ou
injustas: a todos se deve igual obediência.
20. O dever de obediência a leis e decisões dos governantes só é excluído pelo Bispo de
Hipona quando elas sejam contrárias à lei de Deus, mas mesmo nesse caso os
governantes podem punir os que desrespeitaram a lei.
21. O Estado deve ser duro e repressivo e os cidadãos devem aceitar a autoridade do poder.
O que interessa não é ser bem governado, mas manter a liberdade interior que permite
amar a Deus sobre todas as coisas e preparar o ingresso futuro na “Cidade de Deus”.
❖ A Paz
22. A principal finalidade a prosseguir no uso do poder é a paz. O mal está na guerra, na
tortura, abuso da força, etc. e a paz é o bem supremo da cidade, existe uma aspiração
em direção a esta.
23. A paz do corpo é a disposição harmoniosa das suas partes; a paz na cidade é a concórdia
bem ordenada dos cidadãos no comando e na obediência; a paz da Cidade Celeste é a
comunidade perfeitamente ordenada e harmoniosa no gozo de Deus e no gozo mútuo
dos homens em Deus; a paz de todas as coisas é a tranquilidade da ordem e a ordem é
a disposição dos seres iguais e desiguais, designando para cada um o lugar que é seu.
❖ Funções da autoridade
24. A autoridade do exercício do poder comanda, dá (prover) e aconselha. Estes sãos os
deveres do chefe (desde o chefe de família ao imperador), que traduzem três funções:
✓ Função de comando: mais importante e mais difícil dos deveres do chefe: o
poder não é propriedade pessoal, mas uma função, um serviço. Quem o
exerce deve evitar a vaidade, o orgulho, bem como a paixão característica
dos governantes – a paixão do domínio.
✓ Função de prever as necessidades do país e em prover a sua satisfação. É
preciso saber distinguir o que é bom ou mau para o povo. Não deve haver
corrupção, o jogo dos prazeres, o culto da riqueza, etc. o chefe deve reprimir
os abusos dos ricos e impor-lhes o serviço dos pobres e do Estado.
✓ Chefe como conselheiro do seu povo: não deve apenas comandar e prever
mas também aconselhar e deve fazê-lo com espírito fraterno.
❖ A Igreja e o Estado
25. Defendia que os poderes eclesiásticos e civis são distintos e independentes. Cada um
se move na sua esfera própria de jurisdição e atua por sua conta, só sendo responsável
perante Deus. Não esquecer que a cidade de Deus é superior à cidade terrena.
26. A Igreja deve aceitar o Estado tal como ele é, com os erros que o caracterizam,
oferecendo-lhe, na pessoa dos seus fiéis, cidadãos bons e virtuosos. A igreja devia ser
uma escola de civismo.
27. Agostianismo político ou doutrina da supremacia da Igreja sobre o Estado:
✓ Intervenção do Estado contra as seitas heréticas – o Estado devia punir com
as suas leis os hereges, funcionando como “braço secular” da Igreja e
aceitando as definições da verdade religiosa dadas por esta – subordinação
do Estado à Igreja.
✓ Conceção da cidade de Deus como algo superior à Cidade terrena. Mas nem
aquela correspondia à Igreja, nem esta ao Estado.
28. A necessidade de o Estado se submeter à religião e caminhar para Deus, como
elemento da cidade Celeste, ia provocar o desvio que nela estava implícito.
❖ Críticas
29. Contemporização com a escravatura; conceção demasiado pessimista do Homem e do
mundo; a visão repressiva do Estado; feição conservadora imprimida a uma ordem
social estática e não evolutiva; recusa da noção de progresso histórico, como se a
humanidade fosse incapaz de progredir.

SÃO TOMÁS DE AQUINO: anos: 1225-1274 – conceção cristã da política


❖ Vida e obra
1. Era dominicano, doutorado. Foi grande intelectual da Europa medieval e grande nome
da Igreja, sendo canonizado e proclamado como “patrono universal das Universidades
e escolas católicas”.
❖ Pensamento político
2. Viveu no século XIII e tinha-se dado um facto de muita importância cultural: tinham
passado a ser conhecidas na Europa as traduções de Aristóteles. Percebeu a grandeza
do pensamento de Aristóteles, mas a igreja considerava as obras deste pagãs e, sendo
este monge, católico, não podia desprezar o pensamento cristão.
3. Assim, vai dar para a história da Igreja e do pensamento político e filosófico europeu,
uma síntese entre cristianismo e aristotelismo. S. Tomás de Aquino recebe algumas
influências de Santo Agostinho, mas a sua obra é fundamentalmente aristotélica.
4. É diferente de Santo Agostinho, pois é otimista. Para ele os efeitos do pecado original
não são destrutivos. Como não são destrutivos não destroem a natureza humana. Para
ele há, no Homem, apesar do pecado original, muito de bom e de positivo.
❖ Visão geral do mundo e do homem. As leis
5. O mundo e o homem foram criados por Deus e Deus governa o mundo. Deus estabelece
as leis gerais do universo e deixa que os acontecimentos decorram, depois, de acordo
com essas leis e a vontade dos homens. De forma indireta o governo determina as leis
do universo que tem de ser cumpridas.
6. Lei - ordem de razão imposta para o bem comum e promulgada por aquele que tem a
seu cargo uma comunidade.
7. Quatro espécies de leis: lei terna, lei natural, lei humana e lei divina.
8. Lei eterna: lei geral do universo estabelecida por deus para todos os seres por ele
criados; como o mundo é governado por Deus, toda a comunidade se rege pela razão
deste.
9. Lei natural: participação por parte dos seres criados (criaturas racionais) na razão
estabelecida pela lei eterna. O homem participa na razão eterna pela qual se inclina
naturalmente ao ordenamento dos seus atos para os seus fins. Preceito fundamental: O
homem existe para fazer o bem e evitar o mal.
10. Lei Humana: imposta para aplicar regra da lei natural: a ideia de mandar fazer o bem e
evitar o mal. A Lei humana tem origem na lei natural.
11. Lei divina: normas que Deus formulou para orientar a lei humana.
12. Conceção de universo criado por Deus, o lugar do homem nesse mundo e as leis que
regulam tanto um como o outro.
❖ O homem e a sociedade
13. Homem que s. Tomás vê como animal social, mas também os animais irracionais são
animais sociais pois têm instintos para se juntar em grupos.
14. Porém, ao contrário destes, o Homem é um animal político, ou seja, um ser que exige,
para se poder manter e desenvolver, a vida na sociedade política, no Estado, com o fim
de satisfazer as suas necessidades espirituais e materiais. A vida em sociedade é própria
do homem porque ele não seria capaz de prover a tudo o que é necessário à vida com
os seus próprios meios. Por isso a sociedade política é a sociedade perfeita, pois é a
única capaz de proporcionar a satisfação de todas as necessidades da vida.
15. Tem de haver um certo “princípio de governo” no seio da comunidade: com um grande
nº de pessoas, qualquer comunidade se desintegraria se não houvesse alguém que
tivesse a seu cargo o bem comum. Para prosseguir um fim quando se está a escolher os
meios para o atingir, alguém tem de proporcionar uma direção, se se pretende que esse
fim seja eficazmente atingido. Daí a necessidade de governo dos povos e do poder
político.
16. Não considera que a relação política entre governantes e governados seja consequência
do pecado original: para ele, já no paraíso essa relação existia.
17. O Estado tem uma ordem natural: é produto da natureza e da razão. É uma
consequência do carácter social e político do homem, que exige uma autoridade que
governe para se realizar o bem comum. O Estado é uma exigência racional da natureza
humana e porque o homem é um ser dotado de inteligência e de razão, ele contribui
através de atos voluntários seus para criar e manter a sociedade política.
❖ Estado e os seus fins
18. Distingue vários tipos de organização da sociedade, como a família, o município, mas
apenas o estado é a sociedade perfeita, que procura o bem comum e possui todas as
virtualidades. O fim do Estado é o bem comum, onde se incluem finalidades de ordem
material, intelectual, espiritual e religiosa.
19. O fim do Estado não é apenas a obtenção do bem comum, tem também uma dimensão
individual: pressupõe e exige que todos e cada um dos homens possam não apenas
viver, mas viver bem, traduzindo a ideia de felicidade individual.
❖ A pessoa e o Estado
20. O homem não é só indivíduo; é pessoa, tem natureza racional, goza de liberdade, tem
direitos próprios em função da sua dignidade, pois foi criado à imagem e semelhança de
Deus.
21. O homem não se integra na comunidade política com todos os aspetos do seu ser. O
homem não é uma simples peça do mecanismo estadual, tem autonomia, goza de
independência, é um ser com fins próprios, diretamente em ligação com Deus e por isso
não pode ser esmagado nem absorvido pelo Estado.
❖ Origem do poder
22. Teoria de poder: todo o poder vem de Deus. A sociedade é exigência da natureza, que
tem de ter uma autoridade. Todas as exigências da natureza vêm de Deus, portanto a
autoridade é uma exigência da natureza e precede de Deus.
23. Defende uma relação de Deus com o povo, em que deus transmite o poder ao povo,
tem origem divina, povo esse que determina quem são os governantes e lhes transmite
o poder. Todo o poder vem de deus através do povo. – Doutrina da ordem popular do
poder ou doutrina da soberania popular.
24. Em teoria, o exercício do poder pode ser estabelecido/exercido pelo povo ou pelos seus
representantes. Isto corresponde a uma verdadeira revolução de pensamento político
porque está na origem na conceção de poder democrático na europa ocidental, na ideia
de que o povo pode escolher os governantes.
25. Há um poder que vem de deus para os cidadãos que ou o exerce diretamente
(impossível) ou delegam representantes, os governantes. A titularidade do poder
pertence ao povo; o seu exercício poderá caber ao próprio povo, coletivamente, ou a
governantes por ele escolhidos.
❖ Regimes políticos
26. Três formas justas de governo: monarquia, aristocracia e república. São legítimas, nelas
o governo atua de forma justa face ao bem comum. Para ele o regime melhor, na teoria,
era a monarquia (pág. 180 e 181). Mas na prática acaba por cair numa lógica de regime
misto: monarquia temperada por aristocracia com elementos da república, pois a
aristocracia, pelos seus conhecimentos, era capaz de uma boa gestão dos negócios
públicos e o povo decidia sobre a vida coletiva e o rei que dirige. A monarquia garantirá
a unidade e eficácia do poder; a aristocracia contribuirá com a superioridade do mérito
para a boa administração e a república assegurará a participação dos cidadãos no
governo do país.
27. Três formas injustas: tirania, oligarquia e democracia. Atuam injustamente face ao bem
comum. O pior regime era o regime da tirania, porque apesar de um poder unido ser
eficiente, também pode fazer mal. É uma lógica opressiva que pode ser usado para o
bem ou para o mal. São seguidos os interesses pessoais e não os do bem comum. Gera
medo aos cidadãos, ninguém se sente livre e seguro e o tirano quando dominado pelas
suas paixões não governa de acordo com a sua razão, é capaz de fazer o pior. O tirano é
forte perante os seus súbditos, mas fraco perante os seus inimigos.
28. Se a tirania não for excessiva, mais vale tolerá-la do que correr o risco de perigos maiores
enfrentando-a. Os que se levantam contra um tirano podem falhar e assim levarão o
tirano a maior selvajaria. Não se aconselha o assassínio do tirano. O remédio contra a
tirania deve assentar na autoridade pública do que nos juízos privados dos indivíduos.
O melhor remédio contra a tirania é a possibilidade de escolher os representantes; a
comunidade que tem o direito de eleger o rei tem também direito de o depor se este
falhar nos deveres do seu cargo, pois os súbditos deixam de estar vinculados ao
juramento que fizeram para com ele; súbditos apelam para o poder superior a fim de
que este deponha ou corrija o tirano; podem recorrer a deus, pois pode transformar o
coração cruel de um tirano, tirá-lo do mundo ou deixá-lo impotente.
29. Ideia democrática, ideia de representatividade, é diferente de forma de governo. Ele
não chamava democracia ao que nós hoje chamamos democracia.
30. Aconselha os príncipes cristãos sobre os seus deveres de governantes: proporcionar
uma vida virtuosa segundo a lei de Deus; garantia da paz e unidade do país; prevenção
de crimes, reprimir a violência e fazer justiça; defesa do seu reino contra os inimigos;
prover os locais públicos, proporcionado aos mais necessitados meios de subsistência.
31. defende que a lei humana deve ter força diretiva e coativa, impondo pela força os
comportamentos. O soberano não está sujeito à coação, pois é ele que dispõe da força
pública e esta não pode ser usada contra ele, mas está sujeito à sua força diretiva, aos
seus comandos e está sujeito a deus.
32. Só a vida eterna poderá compensar os príncipes da tarefa difícil de governar, a riqueza
e honra não importa.
❖ Estado e Igreja
33. Relação entre poder espiritual e temporal (poder dos Homens, do tempo): ambos são
legítimos e têm origem divina, reconhecendo a primazia do poder espiritual sobre o
poder temporal, mas só no que se refere à salvação das almas.
34. O poder secular só está subordinado ao espiritual enquanto tal subordinação for
requerida por Deus, enquanto for necessária para a salvação da alma. No que respeita
à salvação da alma, deve-se obedecer mais ao poder espiritual que temporal, mas nas
que digam respeito ao bem civil, deve-se obedecer mais ao bem temporal do que ao
espiritual.

IDADE MODERNA
MAQUIAVEL: anos 1469-1527 – o poder liberto da moral
❖ Vida e obra
1. Era natural de Florença e Itália ainda não existia como país unificado.
2. Obra mais conhecida é “O Príncipe”, publicada depois da sua morte, tendo a sua obra
caído no Index da igreja católica.
3. Ficou conhecido pelo adjetivo “maquiavélico”.
❖ Pensamento político
4. Defendia a república em relação à monarquia.
5. Saudoso das proximidades do poder, confessa que o seu objetivo é “obter o favor de
um príncipe”. Oferece-lhe então o que julga possuir de mais valioso, não cavalos, nem
ouro, etc., mas o conhecimento das ações dos grandes homens, adquirido numa
experiência das coisas modernas e numa continuada leitura das antigas, que considera
as fontes principais do pensamento político de Maquiavel (experiência das coisas
modernas e leitura das coisas antigas).
6. A natureza humana é sempre a mesma, constante e imutável, sendo lícito recorrer à
história para entender o presente ou prever o futuro.
7. Considerava que para se conhecer a natureza dos povos é necessário ser-se um príncipe
e para se conhecer a natureza de um príncipe tem de se ser popular.
8. O seu livro aconselhava o príncipe sobre como chegar ao poder e como o conservar
quando o tivesse. Faz recomendações sobre a arte de governar. É como uma “gramática
do poder”.
9. Fim político: conquistar e manter o poder.
10. Quebra com a tradição greco-latina, pois não situa o Estado perante o mundo nem
perante o cosmos, não se preocupando com a existência de leis eternas e universais ou
com qualquer referência ao direito natural e também na medida em que opta pelo
realismo político contra o idealismo ético.
11. Quebra com a tradição medieval cristã, pois omite referências à lei natural, nunca fala
em Deus, ignora as limitações morais dos governantes, aconselha à prática de atos
imorais e quando fala na religião é para afirmar que ela é útil ao Estado porque ajuda a
convencer os povos a obedecer às leis.
❖ Noção de Estado
12. É o 1º autor a utilizar a palavra “Estado” com o sentido que ela hoje tem. A realidade
do Estado Moderno dá os primeiros passos. É a época do Renascimento onde acaba o
feudalismo, nascem os primeiros Estados nacionais, o poder real monopoliza o
emprego da força pública ao serviço do bem comum. Estado no sentido de comunidade
política soberana na ordem interna e internacional.
13. O Estado no Renascimento é um Estado Monárquico, é o principado, o poder real, o
absolutismo principesco.
❖ Classificação dos regimes políticos
14. É o autor que pela 1º vez apresenta uma classificação bipartida dos regimes políticos.
Entre república e monarquia ou república e Principados. A monarquia é governada pela
vontade de um só indivíduo: soberano singular; a república é dirigida por uma vontade
coletiva, seja de poucos ou de muitos: soberano coletivo.
15. A República abrange tanto a aristocracia como a democracia dos clássicos e então
distingue entre repúblicas aristocráticas e repúblicas populares ou democráticas.
16. Não faz distinção entre formas de governo boas e más. Não há formas de governo
ilegítimas, o que há é umas mais convenientes do que outras, conforme as
circunstâncias.
17. Não faz juízos morais: não se discute entre rei e tirano; se o rei é bom ou mau. Não se
distingue em função de critérios éticos, mas em função do êxito político. Bom é quem
é capaz de conquistar o poder e o consegue manter. Não há juízos éticos na política, o
único critério é o do êxito político, não interessa se se usa crueldade ou não.
❖ Melhor forma de governo
18. Não distingue formas de governo sãs e degeneradas, mas tem preferências feitas por
critérios de conveniência política e não por critérios morais.
19. Considera uma melhor forma de governo: prefere a república, que é um governo que
melhor defende a liberdade.
20. Critica a monarquia, pois é hereditária e há filhos que degeneram os pais e que se
entregam ao luxo e aos prazeres, o que faz com que sejam odiados e do ódio nasce o
medo que conduz à tirania, que se caracteriza por instabilidade.
21. Vê duas formas de modalidade de república: aristocrática liderada pelos nobres e
democrática governada pelo povo.
22. Admite que há casos em que o governo por um homem (monarquia) só é necessário:
quando se funda um novo estado (a organização inicial do que quer que seja não pode
ser determinada por muitos, dado que a divergência das suas opiniões impede-os de
concordar sobre o que é melhor); quando se faz uma reforma das instituições do Estado
(quando o governo está reservado a muitos, não é possível promover os interesses de
muitos contra a vontade de poucos); e quando há circunstâncias de grande perigo
público (órgãos constitucionais confiam a salvação da Pátria a um homem providencial
por um período determinado, durante o qual ele fica legalmente autorizado a usar de
plenos poderes para restabelecer a normalidade da vida coletiva – em Roma chamava-
se ditadura).
❖ Política como ciência
23. 2º grande politólogo depois de Aristóteles, pois não se preocupa em fazer juízos sobre
aspetos religiosos.
✓ Procura estabelecer as leis da política, ou seja, leis que retratam a forma como
os fenómenos políticos acontecem e as razões porque acontecem, em vez de
procurar deduzir os deveres impostos aos governantes pela religião, Ética ou
Direito Natural.
✓ Observação da realidade política: através da leitura das coisas antigas, o estudo
da história, quer através da experiência das coisas modernas, ou seja, a
experiência vivida por ele nos seus cargos, embaixadas, na sua vida.
✓ Purifica o método da política: reivindica a autonomia do fenómeno político e a
autonomia do estudo da política, em relação a outros fenómenos sociais e em
relação a outras disciplinas do pensamento. Liberta a ciência política de
conceitos morais e considera q os políticos têm de ser julgados pelo êxito ou
fracasso do seu regime e não se foram pessoas bondosas ou maldosas.
❖ Formulação das leis da política
24. Sem a formulação de leis que expliquem a causalidade da política, esta não pode ser
considerada como ciência.
25. Procura estabelecer algumas leis da política, segundo um esquema lógico “quando
acontece X, acontecerá necessariamente Y”, ou se “se quiser que suceda Y, é necessário
preparar X”.
26. A par destas leis, que são objetivas, meramente descritivas, outras vão já no sentido de
dar ao príncipe certos conselhos, estabelecendo regras de ação.
❖ Nacionalismo
27. Foi um nacionalista.
28. Não havia em Itália um Estado nacional e edificado, havia apenas cidades-estado.
Durante muitas invasões à Itália, nenhuma das cidades tinha força para se lhes opor e
considerava que a culpa disto era do papado, um obstáculo à unidade Italiana, pois era
fraco para a assegurar e forte para a tolerar.
29. Maquiavel torna-se defensor de uma Itália unida, armada e despadrada, afirmando que
ama mais a pátria do que a alma. E para que Itália seja unida e forte, é necessário um
príncipe que detenha o poder que construa um Estado forte e que possua um exército
nacional.
❖ A amoralidade política
30. Política como amoral e defendia a “razão de Estado”, de acordo com a qual o estado
deve obedecer a regras próprias de ação, diferentes da regra moral que é aplicada aos
indivíduos.
31. Tudo o que seja necessário para ascender e manter o poder é legítimo e deve ser feito,
independente de ser ou não condenado pela moral.
32. A moral só deve ser aplicada na vida privada dos indivíduos.
33. Enumera qualidades dos homens em geral: liberdade, generosidade, piedade,
fidelidade, coragem, etc. e refere que o príncipe tem de compreender que algumas
coisas que parecem virtudes levariam, se seguidas, à sua própria ruína e outras que
parecem vícios, resultarão numa maior segurança e bem-estar.
34. Doutrina amoral de Maquiavel conjugada com o princípio da razão de Estado: nas
ações dos “príncipes”, os que têm poder, só se deve atender ao fim que se pretende e
nada mais: o da conquista e manutenção do poder. Se existir conquista de poder os
meios utilizados vão ser valorizados: o fim justificou o meio, porém estes meios podem
ser ilegítimos e ainda assim serão considerados como honrosos e louvados.
35. É esta a essência do maquiavelismo: desde que se aceite um determinado fim a seguir,
todos os meios são bons para o alcançar, mesmo que constituam atos imorais ou até
crimes.
36. Constrói uma razão de estado: o príncipe deve ser cruel quando necessário; mais vale
ser temido que amado; deve usar da boa ou má fé consoante lhe seja útil (bem quando
possível, mau quando seja necessário); não é preciso ter todas as qualidades, é só
preciso parecer tê-las; e deve delegar aos outros as tarefas que sejam impopulares e
conceder a ele próprio os favores ou benefícios; um princípe que deseje manter o
Estado é frequentemente forçado a praticar o mal.
37. “Crueldades bem usadas” e “crueldades mal-usadas”: o erro não está, para ele, no
governante cometer uma crueldade, mas sim em usar mal a crueldade, e portanto
perder politicamente. O mal, segundo Maquiavel, não consiste em cometer um crime,
consiste em praticar um erro político.
38. Dois métodos de lutar: um pelo direito e o outro pela força: o primeiro é o método dos
humanos e o segundo dos animais; mas às vezes o primeiro método é insuficiente e
torna-se necessário recorrer ao segundo, portanto o príncipe tem de saber usar os dois.
39. Não há nestas máximas e na doutrina que elas condensam uma simples descrição,
neutra e objetiva, dos atos ilegítimos praticados pelos governantes: há sim uma
filosofia amoral que preconiza, recomenda e aconselha.
40. Não critica o mal feito pelos governantes e recomenda o uso deste para fins políticos.
Propõe-se a ensinar todos os príncipes a proceder dessa forma, sob pena de não terem
êxito e de fracassarem: amoralismo político.

JEAN BODIN: anos: 1530-1596 – Construção do conceito de “soberania”


❖ Vida e obra
1. Viveu em França.
2. Ambiente político em França é de crise: vivia numa altura em que o poder da monarquia
era fraco, havia lutas religiosas entre católicos e protestantes e num clima de guerra
civil, defendendo que se deve fortalecer o poder real.
3. Adere a uma “terceira via” – o partido dos Políticos – que preconiza a tolerância religiosa
e o fortalecimento sólido do poder real, com o monarca colocado fora e acima das
disputas de religião.
4. Defende a tolerância religiosa.
5. Obra que lhe deu fama: “Os seis livros da República”.
❖ Pensamento político
6. Clima de divisão entre católicos e protestantes que se gladiavam de morte; rei com
poder muito enfraquecido sem conseguir impor autoridade e a paz. Então, Bodin quer
construir um Estado forte, centrado num poder real e eficaz.
7. Passa-se na altura do feudalismo em que o rei media forças com os senhores feudais,
estava sujeito ao poder da nobreza e do papado, discute de igual para igual com outros
poderes de facto, como o religioso e está condicionado pelos outros poderes de Estado
– os “parlamentos” (tribunais) e os estados gerais (cortes).
8. Teoria da franco gália: frança deveria continuar a ter uma monarquia limitada pelo povo
e pelos direitos da nobreza e se deve combinar os elementos aristocrático e popular.
9. Bodin sustenta a tese contrária e defende que se deve respeitar o poder real, a
origem hereditária – principio da soberania: poder absoluto e prepétuo de uma
república. O rei não está sujeito a condições postas pelo povo; todo o poder do Estado
pertence ao Rei e não pode ser partilhado com mais ninguém, nem com o clero, nem
com a nobreza nem com o povo.
❖ “Os seis livros da República”
10. Soberania: fundamento de todas as repúblicas; regimes políticos: diferentes formas de
exercer a soberania; estrutura social e administrativa da nação; ponto de vista
sociológico, as diferentes fases da república e as condições do seu equilíbrio e do seu
funcionamento, formulando uma teoria das causas das revoluções e uma teoria das
condições geográficas e climáticas que influenciam a vida política de cada país;
finalidades da vida social e alguns problemas concretos, como a censura, finanças,
moeda, etc. terminando por discutir qual o melhor regime político, de entre todas as
modalidades estudadas.
11. Socorre-se do método histórico, pois acredita que o melhor laboratório da análise
política é a história e chega ao ponto de dizer que a principal função da história é a de
ser útil à política.
❖ A República, ou o Estado
12. A República, ou como hoje em dia dizemos, o Estado, é o governo reto, um poder
político que deve ser subordinado à moral, à justiça e ao direito natural. É um domínio
exercido sobre os homens livres e que se contrapõe à noção de tirania, que Bodin
condena.
13. O Estado é o governo que incide sobre várias famílias: a República é um agregado de
famílias, não um agregado de indivíduos.
14. O poder doméstico é comparável ao poder soberano: o reto governo da casa de família
é também o verdadeiro modelo do governo da República.
15. República tem a ver com o governo daquilo que é comum às diferentes famílias. É
preciso que haja algo em comum e de carácter público, como o recinto da cidade ou o
tesouro público.
16. Só o que é público compete ao Estado. Não compete intervir naquilo que pertence à
esfera privada das pessoas, na vida das famílias e na sua propriedade. A propriedade e
a família são dois limites ao poder soberano.
17. Poder soberano, a soberania
❖ A soberania
18. A soberania é o fator de unidade e coesão do Estado, é o poder absoluto e perpétuo de
uma República.
19. Elementos da soberania: a soberania é um poder: faculdade de impor aos outros um
comando a que eles devem obediência; é um poder perpétuo: não pode ser limitado no
tempo, assentando o princípio da continuidade do Estado: quaisquer que sejam as
mudanças dos governantes, o Estado continua sempre; soberania é um poder absoluto:
não está sujeito a condições ou encargos postos por outrem, que não recebe ordens ou
instruções de ninguém e que não é responsável perante nenhum outro poder. O
soberano só deve juramento a Deus.
20. A soberania é una e indivisível, não pode ser dividida por dois governantes, nem por
vários órgãos. Tem de estar toda na mão do Rei.
21. A soberania é própria e não delegada: pertence por direito ao Rei e não provém de
eleição pelo povo ou de nomeação pelo Papa ou Imperador.
22. A soberania é irrevogável, que significa um princípio de estabilidade política: o povo não
tem o direito de retirar ao seu soberano o poder político que este possui por direito
próprio.
23. A soberania é suprema na ordem interna, representa um poder que não tem nem pode
admitir outro poder com quem tenha de partilhar a autoridade do Estado, e
independente na ordem internacional, não depende de nenhum poder supranacional.
É o nacionalismo a afirmar-se na esfera da política externa.
24. A soberania é uma força imponente e majestosa, colocada ao serviço do Estado
Moderno e do Rei que o personifica e governa.
❖ Conteúdo da soberania
25. Poder de comandar e se fazer obedecer.
26. Poder legislativo: poder de fazer leis e revogá-las. O poder de legislar não pode ser
compartilhado com as cortes ou com os Parlamentos. A lei passa a prevalecer sobre o
costume, porque a lei vem do monarca e o costume vem do povo e o soberano é o rei e
não o povo.
27. Poder de declarar guerra e fazer a paz; poder de instituir cargos públicos e promovê-los;
o poder de julgar em última instância; o poder de agraciar os condenados; o poder de
cunhar e emitir moeda; o poder de lançar impostos e taxas, etc.
❖ Limites da soberania
28. Admite limites ao poder real: a soberania tem de ser um governo reto, e a retidão obriga
a respeitar a moral e as leis divinas e naturais ou seja, isto obstaculiza o poder: limites
morais, religiosos, económicos, sociais, ou seja, limites de facto. O soberano tem de
tratar dos assuntos comuns e não privados. A soberania está limitada pelas leis humanas
comuns a todos os povos, ou seja, pelo direito internacional. A soberania está limitada
pelas leis fundamentais do reino: leis sobre sucessão do trono, inalienabilidade do
património da coroa e sobre a necessidade de consentimento dos Estados Gerais
(cortes) para a declaração da guerra ou lançamento de impostos; soberania deve aceitar
o pluralismo natural da sociedade, formado por municípios, corporações, etc. Se o rei
violar alguns destes limites não responde no plano terreno, apenas perante deus. A
figura de deus tem influência no rei, mas não a igreja em si.
29. Como pode conciliar-se a noção de soberania como poder absoluto com a ideia de
limitação do poder? O poder de decisão final, a última palavra, pertence sempre ao rei,
detentor da soberania: os outros corpos sociais protestam, representam-se, mas não
decidem.
30. Não existe constitucionalismo para Bodin, pois este exige que os governantes
respondam perante os homens, seus iguais, e não perante Deus.
31. Assim, os limites ao poder não eram limites jurídicos, mas morais e sociológicos, que ele
podia violar como quisesse.
❖ Problema da origem do poder em Bodin
32. O Estado, com a distinção entre governantes e governados, não surge
espontaneamente, como decorrência da natureza social do homem, surge voluntária e
formalmente, em consequência de um contrato ou pacto social entre homens livres e
individuais. A razão e a luz natural levam a crer que a força e violência deram princípio
e origem às Repúblicas.
33. Origem do poder, da sociedade e do Estado: um período inicial de “estado de natureza”,
em que cada um goza de liberdade natural para agir de acordo com a sua razão, mas em
que através da guerra se passa ao “estado de sociedade”, no qual os vencedores passam
a cidadãos e os vencidos escravos, uns e outros governados pelo chefe dos primeiros,
tornado rei pela vitória no campo de batalha, o poder tem origem na violência. Aqui,
entre as duas repúblicas já constituídas e lideradas pelos respetivos chefes,
desencadeia-se uma guerra, uma sai vencedora e a outra vencida. : versão do livro 1.
Versão do livro 2: refere que para manter a segurança das suas vidas e bens os homens
se uniram pacificamente e quando era atacados pelos inimigos, os povos reuniam e
nomeavam um chefe com poder soberano para os defender. Aqui o poder não tem
origem na violência, mas sim numa dupla decisão pacífica, a decisão de viver em
sociedade e a decisão de escolher um chefe. Temos uma República constituída, e
governada com poder soberano. Esta versão contem a verdadeira explicação da origem
do poder.
34. Tem uma teoria dupla sobre a origem do poder: uma contratualista quanto às primeiras
sociedades humanas que se constituíram pacificamente em Estados e uma teoria do
primado da violência quanto às Repúblicas formadas por absorção de outras em
resultado de uma guerra.
❖ Classificação das formas políticas
35. Três classificações distintas:
✓ Formas de Estado: atende ao critério do número de titulares da soberania. Se a
soberania pertence a um príncipe sozinho, temos a Monarquia; se pertence a
todo o povo, temos a democracia ou Estado Popular; se pertence a uma
minoria, temos a aristocracia ou Estado Aristocrático. Não distingue entre
formas sãs ou degeneradas; não importa a qualidade boa ou má dos regimes,
mas sim definir a sua natureza. Condena a figura do regime misto, porque a
soberania é indivisível e o rei tem todos os poderes do Estado – legislativo,
executivo e judicial.
✓ Tipos de regime: critério do maior ou menor respeito pelos direitos dos
súbditos. O Estado é definido pela titularidade da soberania e o governo é
caracterizado pela forma do exercício do poder. Por exemplo: o estado pode ser
uma monarquia, mas ser governado popularmente. Apresenta três formas de
Estado: monarquia, aristocracia e democracia, em que cada uma delas pode ser
governada de três formas diferentes: o modo legítimo, senhorial ou tirânico.
Bodin só desenvolve a ideia de monarquia. Monarquia senhorial: Rei é senhor
das pessoas e dos seus bens; Monarquia real: cada um tem a sua liberdade
natural e a propriedade dos seus bens; Monarquia tirânica: Rei abusa da
liberdade dos súbditos livres como se fossem escravos e dos bens alheios como
se fossem seus. Tirano não é o que se mostra severo ou rigoroso (o rei deveria
sê-lo), mas aquele que ofende as leis de Deus ou da natureza.
✓ Formas de governo: critério dos graus de participação dos diferentes estratos
sociais no exercício do poder. O Estado é definido pela titularidade da soberania
e o governo é caracterizado pela forma do exercício do poder. Por exemplo: o
estado pode ser uma monarquia, mas ser governado popularmente. Apresenta
três formas de Estado: monarquia, aristocracia e democracia, com as três
formas de exercer o poder sobre cada uma delas: forma monárquica,
democrática ou popular e forma aristocrática. A monarquia, aristocracia e
democracia podem ter governo popular, aristocrático ou real.
❖ Melhor forma política
36. A democracia e aristocracia não é o ideal (consultar vantagens e desvantagens na pag.
339 e 340 e 341).
37. A monarquia hereditária e masculina é a preferida. Tem os seus perigos, como as
mudanças de reinado, as lutas dinásticas, as regências, os reis jovens. Mas é a melhor
forma de Estado, pois o principal atributo da República, que é o direito de soberania, só
existe e se conserva na monarquia, pois só um pode ser soberano; há atos que só podem
ser realizados por uma única pessoa, como conduzir um exército; o monarca é que tem
de ditar a lei aos súbditos, o contrário significaria a ruína das monarquias, mas também
dos súbditos; a monarquia é colmo a “família, que é imagem de uma República e que só
pode ter um chefe”; refere que todas as leis naturais nos conduzem à monarquia; Bodin
cita todos os filósofos que, antes dele, também manifestaram preferência pela
monarquia, como Platão, Aristóteles, Xenofonte, etc.
38. Há diferença entre aconselhar e comandar: o conselho de várias cabeças pode ser
melhor que o de uma só; mas para resolver, decidir e mandar, uma só fá-lo-á melhor
que muitas.
39. A monarquia real deve ser simples, mas o governo deve ser composto por populares e
aristocratas. Não haverá governo duradouro e estável se lhe faltar união entre os
poderosos e humildes. Monarquia real é um aperfeiçoamento face à senhorial. A
monarquia real é a única legitima e deve associar ao governo do estado os vários estados
sociais: monarquia aristocrática quando só dá benefícios aos nobres e popular quando
dá benefício a todos, defendendo o regime misto pela necessidade de unir ricos e pobres
que faziam o governo durar e viver harmonicamente.
40. O rei soberano é o único fator de concórdia social, numa sociedade dividida em classes
sociais. Assume a lógica de papel moderador das classes médias, em que a república se
compõe de bons e maus, fracos e fortes, unidos por aqueles que constituem um termo
médio entre uns e outros. Defende a sua união e não a divisão.
41. O rei concentrava nas suas mãos os poderes legislativo, executivo e judicial; e no plano
dos direitos individuais, não havia garantias judiciais de defesa dos súbditos contra os
atos ilegais do Rei ou dos seus agentes.
42. Bodin deu ao absolutismo a base teórica que faltava, foi o grande teorizador da
monarquia absoluta europeia.
THOMAS HOBBES: anos: 1588 – 1697 – Fundamentos contratuais de um Estado forte
❖ Vida e obra
1. Nasce em Inglaterra e resolve isolar-se em Paris onde esteve 12 anos e escreveu grande
parte da sua obra: Leviathan: origem bíblica que designa um monstro marinho.
2. Justifica um poder absoluto: ainda que não necessariamente o de um Rei hereditário. O
Estado tem de ser forte e garantir a paz e segurança. Não se preocupa com a forma de
governo. Estado forte, encabeçado num governante autoritário, independente da
natureza do regime ou da forma de governo, e sem cuidar de saber qual o modo por
que esse governante ascendeu ao poder – sucessão, conquista, golpe de Estado, etc.
❖ Pensamento político de Hobbes
3. Pensamento autoritário e tendente a reforçar a monarquia absoluta.
4. Hobbes parte do que podemos chamar como uma base do medo. Pensou e escreveu
sob o signo do medo (da desordem, da morte, da anarquia e da guerra). Há um paradoxo
de uma doutrina individualista que conduz a um Estado forte e autoritário, proclamar
que Hobbes foi um “individualista que teve medo”.
5. O grande objetivo a atingir, através da política e do Estado, é a paz e a segurança.
6. Integrado no movimento intelectual mais avançado do seu tempo, aproveitando os
ensinamentos e conclusões de Bacon, Descartes e Galileu, procura descobrir um
método para atingir o conhecimento. Procura fazer da política uma ciência.
7. Parte de uma análise materialista do mundo e da vida, passando daí para uma conceção
própria acerca da natureza humana, Hobbes deduz delas o que o Estado deve ser, ou
como deve ser entendido e explicado, para cumprir a sua missão de garantir aos homens
a paz e segurança de que necessitam para viver em sociedade. Não encontramos nada
de indutivo, nem experiência, nem recurso à história para fornecer exemplos ou
demonstrações; tudo são deduções.
8. Teoria política como uma conclusão lógica baseada nos princípios da natureza humana.
9. Constrói um sistema completo, assente numa visão global do mundo e do homem.
10. Para Hobbes há um objetivo a atingir, um instrumento a organizar para o efeito e uma
explicação teórica a dar para justificar um e outro: o objetivo é garantir a paz e
segurança aos cidadãos; o instrumento é o Estado (máxima concentração de autoridade
capaz de proporcionar a máxima segurança; e a explicação teórica justificativa da
construção é o novo fundamento para a obediência dos governados em relação ao
poder dos governantes – a vontade individual de todos os cidadãos, expressa no
contrato social.
❖ “Leviathan”: nome de um monstro bíblico escolhido para simbolizar o Estado
11. O estado é um monstro, um Leviathan, que combate outros monstros, monstros que
são ainda mais perigosos do que ele.
12. Dizia que a pior tirania é melhor que uma guerra ou anarquia.
13. O Estado identifica-se com um poder supremo e absoluto.
❖ Materialismo naturalista de Hobbes
14. Materialismo naturalista, em que analisa cientificamente o homem e as suas
características essenciais: na origem de todos os pensamentos do homem está a
sensação, pois não há qualquer conceção na mente humana que não tenha sido
primeiro lá colocada através dos órgãos dos sentidos. As causas das nossas sensações
são os objetos exteriores a nós, que através da mediação dos nervos e outros elementos
do corpo, atingem o nosso cérebro e o nosso coração. Os movimentos da matéria
exterior produzem movimentos internos na matéria do nosso corpo.
15. Hobbes trata das paixões e afirma: paixões são o começo interior dos movimentos
voluntários, que, quando dirigidos a um objeto exterior que nos atrai, aquilo que é bom
se chamam desejos, ou quando relativos a algo que nos repele, aquilo que é mau, se
chamam aversões – uns e outros não sendo mais do que movimentos, de aproximação
ou de afastamento.
16. Estas noções de bom ou mau, de bem e mal, são sempre relativas à pessoa que as usa,
pois não há nada que seja absolutamente bom ou mau, nem há uma regra comum sobre
o bem e mal que se possa extrair da natureza dos objetos.
17. Os prazeres são sensações que sentimos quando algo se nos apresenta como bom e
pode ser referente a um objeto presente ou a um objeto futuro, a uma expectativa
futura.
18. A natureza humana procura o que julga bom e afasta o que julga mau. O mais natural
é que o homem queira satisfazer os seus prazeres. A felicidade é o êxito continuado de
um homem na obtenção daquelas coisas que ele pretende, não é o repouso de um
espírito satisfeito, mas um progresso contínuo do desejo de um objeto para outro.
19. Não existe um bem absoluto, que se possa atingir e manter de uma vez por todas, pois
a vida é movimento e não pode existir sem o desejo ou medo.
20. Há necessidade de cada homem querer sempre mais e melhor.
21. O poder de um homem, em geral, são os seus meios presentes de alcançar no futuro o
que se afigurar como bom. Tanto é poder o poder natural (ex. faculdades do corpo e do
espírito), como o poder instrumental (ex. a riqueza, a reputação, as amizades, etc.).
coloca em primeiro lugar como inclinação geral de toda a humanidade um desejo
perpétuo e sem descanso de adquirir poder e mais poder, desejo esse que só cessa com
a morte. Este desejo conduz os homens à competição uns com os outros, porque tanto
as riquezas, como as honras, como o poder político, são bens escassos, que não podem
pertencer a todos plenamente: conduz à guerra, rivalidade, inimizade, porque o meio
de um competidor satisfazer o seu desejo é matar, submeter ou repelir o outro.
22. A guerra não é inevitável: se alguns homens possuem maneiras de ser que os conduzem
ao conflito, muitos outros encaminham-se para a necessidade de viver em paz. Hobbes
não aceita a ideia de que a vida em sociedade é natural, nem a noção de que o Estado é
uma realidade que se impõe ao homem sem que este tenha uma palavra a dizer sobre
o assunto, nem a doutrina que o poder político vem de Deus e os súbditos lhe devem
obediência por mandato divino. Procura demonstrar que é por um ato racional e
voluntário que os homens optam por viver em sociedade e por obedecer ao Estado,
sendo que é o melhor para eles, do que uma vida em anarquia ou guerra civil.
❖ O “estado de natureza”: conceção pessimista acerca da natureza humana
23. Para Hobbes, o ser humano é egoísta e egocêntrico: move-se pela procura da sua
felicidade, do que é bom para si (e para os seus mais próximos) e, para não deixar piorar
a sua condição, tem de procurar aumentar o seu poder, em riqueza, honras ou
autoridade.
24. Refere que a natureza fez os homens iguais uns aos outros, na faculdade do corpo e
espírito e então a diferença entre um homem e outro não é tão considerável que um
homem possa reclamar para si mesmo qualquer benefício ao qual outro homem não
possa pretender tanto como ele.
✓ Faculdades do corpo: igualdade consiste em que o mais fraco tem força para
matar o mais forte.
✓ Faculdades do espírito: nenhum aceita ser menos esperto, ou eloquente, ou
sabedor do que outrem e não há melhor sinal da igual distribuição de alguma
coisa do que todos estarem contentes com o seu quinhão.
25. Desta igualdade de capacidades resulta a igualdade na esperança de conseguirmos
atingir os nossos fins. Se os mesmos homens desejarem a mesma coisa, da qual não
possam gozar ambos, eles tornam-se inimigos e esforçam-se por destruir o outro. Na
desconfiança de um para com os outros não há forma de ninguém se proteger que seja
tão razoável como a antecipação, isto é, atacar primeiro ou associar-se com outros para
se defender.
26. Por outro lado, os homens desejam ser apreciados pelos outros e perante um sinal de
desprezo, tenderão a ressarcir-se infligindo dano ou produzindo vingança.
27. Na natureza humana encontramos três principais causas de conflito: competição (torna
os homens agressivos para o ganho); desconfiança (defesa) e vaidade (reputação).
❖ Estado de natureza: a guerra generalizada entre os homens
28. Durante o tempo em que os homens viverem sem um poder comum que os mantenha
a todos em respeito, estarão na condição a que chamamos guerra: uma guerra de todos
contra todos. Isto aconteceria sem Estado e sem autoridade – no “estado de natureza”.
29. Nesta guerra as noções de justo ou injusto, certo ou errado, não têm lugar; onde não há
poder comum não há lei e onde não há lei não há justiça ou injustiça, pois não são
faculdades do corpo ou do espírito; são qualidades que se relacionam com o homem em
sociedade, não em solidão.
30. No “estado de natureza” não há propriedade, nem domínio, nem distinção entre “meu”
e “teu”.
31. Os desejos e paixões humanas não são pecado, nem as ações que precedem destes, até
que os homens conheçam uma lei que as proíba. Eles não o podem saber até que sejam
feitas leis e nenhuma lei pode ser feita até que os homens tenham chegado a acordo
sobre a pessoa que há-de fazê-las.
32. O “estado de natureza” tem uma tripla dimensão:
✓ “estado de natureza” no passado: em alguns casos ele foi uma realidade que
historicamente precedeu o “estado de sociedade”; e, nos outros casos, pode
pensar-se que as coisas poderiam ter-se passado assim (modelo hipotético do
passado).
✓ “estado de natureza” no presente: ele existe nas tribos selvagens, nos países
em guerra civil e na sociedade internacional em geral, pois não há sobre os reis
e outras pessoas de autoridade soberana, qualquer poder que os impeça de se
guerrearem.
✓ “estado de natureza” no futuro: ele existirá se algum país vier a cair em situação
de guerra civil (estado de natureza como modelo de regressão) e pode ser
concebido como hipótese possível para convencer os homens presentes a
aceitarem viver em “estado de sociedade” (modelo hipotético do futuro).
❖ O “estado de natureza” – fatores conducentes à paz e ao “estado de sociedade”
33. Como é q se vai passar de estado “mau”, no sentido em que as pessoas são egoístas e
egocêntricas, para um estado de sociedade em que as pessoas vivem pacificamente? O
estado de natureza é uma condição péssima dominado pelas paixões, mas ao mesmo
tempo estas paixões podem gerar uma situação para os homens de medo, o que leva a
que desejem a paz e uma vida confortável.
34. Também a razão permite que os homens saiam do “estado mau”, sugerindo “cláusulas
de paz”, sobre as quais os homens podem ser levados a fazer um acordo. Estas cláusulas
são chamadas de “leis da Natureza”.
❖ O “estado de natureza”: o medo da morte e a primeira lei da Natureza
35. A maior paixão do homem, a sua sensação mais forte e o principal motivo das suas ações
é o medo da morte.
36. Já vimos que todos os homens são iguais, mas veremos se todos são livres: a liberdade
entende-se como ausência de impedimentos exteriores que possam tirar ao homem o
poder de fazer o que achar melhor segundo o seu julgamento ou os ditames da sua
razão. Segundo Hobbes, o principal direito de cada um no “estado de natureza”, é a
liberdade que cada homem tem de usar o seu poder como ele mesmo quiser, para
preservar a sua própria natureza, a sua própria vida e de fazer o que quer que seja que,
segundo o seu julgamento e a sua razão, ele considere o meio mais adequado para
aquele fim.
37. A primeira lei da Natureza é uma disposição ou regra geral, descoberta pela razão,
segundo a qual um homem é proibido de fazer tudo quanto for destrutivo da sua vida
ou de reduzir os meios de a preservar, bem como de omitir tudo quanto ele considerar
que melhor poderá conservar a sua vida. Assim, num estado de natureza caracterizado
pela guerra de todos contra todos, todo o homem tem o direito e dever de fazer tudo o
que preservar a sua vida contra os seus inimigos.
38. Tem de se ser pela paz e não pela guerra e, portanto, pela passagem do estado de
natureza ao estado de sociedade. No primeiro, sem estado e sem governo, nunca
ninguém terá a garantia de estar seguro da sua vida e dos seus bens. No estado de
natureza, a tática da antecipação é sempre a mais adequada à sobrevivência dos
homens. Reina sempre a desconfiança e a qualquer momento surge a violência.
39. Todo o homem se deve esforçar por conseguir a paz (procurar a paz e mantê-la) e
quando não a puder obter, todo o homem tem o direito de procurar e utilizar todos os
auxílios e vantagens da guerra (defesa de nós próprios).
❖ O “estado de natureza”: necessidade da paz e a segunda lei da natureza
40. A primeira lei da natureza impunha o dever de procurar a paz e a manter. E a razão e
experiência humana comandam para que isso se concretize.
41. A paz é um objetivo a alcançar e como se vai alcançar? Renunciar de uma lógica de
direitos absolutos, e abdicar de parte do seu poder e direitos, e fiquem satisfeitos com
a sua porção de liberdade, deixando alguns direitos para um poder que garanta a ordem.
42. Estado como criação voluntaria dos homens através de um contrato: a renúncia a um
direito pode implicar a extinção desse direito, ou a transferência dele para outrem; e a
transferência coletiva dos direitos de todos para alguém é um contrato.
43. O contrato só é válido e obrigatório se houver Estado e um Poder comum que obriguem
as partes a cumpri-lo. É necessário existir um poder comum: os homens deviam
conferir/transferir poderes a um só, a um poder comum. O rei é um beneficiário do
contrato.
❖ O contrato social: passagem do Estado de Natureza ao Estado de sociedade
44. É necessário instituir um “poder comum” para manter o respeito e dirigir as ações dos
homens para o bem comum. O poder comum é quando os homens conferem todo o seu
poder e força a um Homem, ou uma assembleia de homens, que possa reduzir todas as
vontades, pela maioria das vozes, a uma só vontade. O soberano tem de proteger as
pessoas no que tem em conta a paz e segurança comuns e cada um tem de se submeter
à sua vontade, do soberano, e os seus juízos, ao juízo dele.
45. A instituição do Estado é mais do que consentimento, ou concordância; é uma unidade
real de todos os homens, em uma e mesma pessoa, construída por contrato de todos
os homens com todos os homens. É a ideia da personalidade jurídica do Estado a
despontar.
46. O contrato social é um contrato de todos os homens com todos os homens. Verifica-se
que o contrato social de Hobbes não é feito entre o povo e o rei (soberano), mas apenas
entre os cidadãos eles mesmos: o soberano não é parte do contrato, é um terceiro
beneficiado por ele, pois dele recebe o seu cargo e Poder.
47. Feito isto, a multidão assim unida numa só pessoa é denominada Estado. Isto é a génese
daquele grande Leviathan, daquele deus moral, a quem todos devemos, sob o Deus
imortal, a nossa paz e defesa. O poder e a força que lhe são concedidos, permite que o
terror que eles inspiram modelem as vontades de todos, em ordem a obter a paz no
interior e o apoio contra os inimigos do exterior. Aquele que assume esta função é o
soberano, que tem poder de soberania e todos os outros são seus súbditos.
48. Contrato social: união dos homens num Estado; renúncia de todos eles a uma parte do
seu direito de se governarem e respetiva transferência para o Soberano; a instituição
deste e dos respetivos poderes; a escolha da forma de governo desejada (monarquia ou
República); configuração do conjunto como uma unidade personificada – uma pessoa
coletiva; autorização da prática dos atos necessários para atingir os fins tidos em vista
(defesa exterior e segurança interna); ideia de representação.
49. Cada um, no contrato, autoriza o soberano a praticar atos próprios da respetiva função,
como reconhece ele próprio ser o autor de quaisquer atos que o soberano pratique no
que concerne à defesa e segurança comuns.
50. O soberano será o representante do povo, porque lhe foi dado pela maioria o direito de
encarnar a pessoa deles todos.
51. Direito público do estado moderno: todos nascem livres e iguais (princípio da liberdade
e igualdade); o poder pertence ao povo (princípio da soberania popular); governantes
atuam em nome do povo (governo representativo) e o Estado atua de acordo com a
vontade do maior número (princípio da maioria).
52. Constrói, por um método democrático, um poder autoritário. Os súbditos não podem
alterar a forma de governo; o poder soberano não pode ser confiscado; ninguém pode
contestar contra a instituição do Soberano aprovada pela maioria; os atos do soberano
não podem ser contestados pelos súbditos; o que quer que o soberano faça não é
punível pelos súbditos; o soberano é o único capaz de manter a paz e segurança dos
seus súbditos; o soberano tem o direito de fazer leis e fazer justiça e decidir sobre todas
as controvérsias; cabe fazer a guerra ou a paz; soberano escolhe os seus conselheiros e
ministros, tanto na paz como na guerra; soberano recompensa ou pune os seus
súbditos, e deve fazê-lo arbitrariamente onde a lei não indicar a medida mais adequada;
soberano atribui as honras e define as ordens a que hajam de pertencer os seus
súbditos, conforme o mérito.
Todos estes poderes são indivisíveis e insuscetíveis de limitação.
53. Defende um poder absoluto que tem limites: os direitos inalienáveis do homem: os
homens só se obrigam perante o Soberano no âmbito dos fins que o determinam a
formar o Estado, isto é, para garantir a paz e a segurança, tanto no plano externo como
interno; a obrigação dos súbditos tem a ver com a manutenção da paz e da segurança,
mas não com a auto-conservação do indivíduo, que faz parte da liberdade dos súbditos,
pois o direito à vida é inalienável. E os direitos á propriedade privada: o poder é
autoritário, mas não totalitário, não pretende absorver na esfera política todas as
iniciativas individuais e instituições privadas.
54. É um Estado autoritário, mas não totalitário, pois apenas nega ou limita os direitos
políticos do cidadão, mas lhe deixa uma vasta esfera de liberdade no campo económico,
social e cultural.
55. Ao Estado cabe a defesa nacional e a segurança interna, ao passo que as atividades
produtivas são tarefas do Estado na sua própria liberdade, pertencem à sociedade civil,
ou iniciativa privada.
56. No estado de sociedade, a distribuição das terras pelos súbditos é um poder do
soberano.
57. Nos casos em que o soberano não ditou nenhuma lei, o súbdito tem liberdade de fazer,
ou não fazer, o que melhor entender de acordo com o seu juízo discricionário.
58. No estado de natureza não há direito, nem justiça, as leis da natureza não são de
carácter jurídico; no estado de sociedade só é direito aquele que é produzido pelo
Estado através da lei, cuja validade não pode ser contestada.
59. Há necessidade de um poder coercivo.
❖ Formas de governo
60. Aceita a classificação tripartida: as formas de governo classificam-se atendendo ao
número de pessoas que detêm a soberania: se for uma só, temos a monarquia; se forem
várias, mas poucas, temos a aristocracia; se forem todas, temos a democracia.
61. Critica as teorias de Aristóteles quanto à distinção entre formas de governo sãs e
degeneradas, e quanto à desejabilidade de um governo misto, pois a soberania não
poder ser dividida nem partilhada, é una e indivisível.
62. Nega ao parlamento a qualificação de representação nacional: o representante é o rei e
não os deputados enviados pelos eleitores para o aconselharem ou para lhe
apresentarem petições ou queixas.
63. Manifesta preferência pela Monarquia, o governo de um só homem. O importante é
que o poder seja exercido por um só homem, não que esse poder seja considerado como
recebido de Deus, ou seja transmitido por via hereditária. Hobbes não aceita a doutrina
do direito divino dos reis e não é favorável à sucessão monárquica hereditária: para ele,
o próprio soberano, por ato expresso ou tácito da sua vontade, tem o direito e dever de
escolher quem lhe há de suceder.
64. Governo de um só: este tem de ter maior aptidão para produzir a paz e segurança do
povo, pois é para esse fim que o Estado e governo são instituídos; quem exerce o poder
como soberano tem sempre em vista a prossecução do bem público, mas também a
realização do seu próprio interesse particular. É na monarquia que isto acontece, pois
as riquezas, o poder e honra de um rei decorrem das riquezas, força e reputação dos
seus súbditos.
65. O governo de um só homem, dotado de plenos poderes, não deriva da graça de Deus,
mas de um “contrato social”, subscrito pelo povo, não segue a linha hereditária e não
partilha com o parlamento, nem qualquer limitação perante os súbditos.
ILUMINISMO

JOHN LOCKE: anos: 1632-1704 – fundador do liberalismo político


❖ Vida e obra
1. Inglês que regressa à Inglaterra em 1688, data da “revolução gloriosa”, que depôs Jaime
II.
2. Religioso, protestante de confissão calvinista, cria bases para os liberais europeus
contrárias as dos absolutistas.
3. Locke foi admirado por todos os liberais europeus, mas foi também odiado por todos os
conservadores de então (absolutistas).
❖ Pensamento político de Locke
4. Até ao século XVII, todo o governo era absoluto, existindo quer pela tradição, quer pelo
direito divino dos reis e assim admitia-se que “nenhum homem nasce livre e todos os
homens são desiguais”.
5. Inovação de Locke: sustenta a posição contrária anteriormente defendida pelos
absolutistas – todo o governo deve ser limitado nos seus poderes e só existe pelo
consentimento dos governados, pois todos os homens nascem livres e iguais.
6. Semelhante conceção constitui uma revolução no mundo das ideias e serviria de base à
mais importante alteração política que eclodiu no século XVIII, na América e na Europa
– a Revolução Liberal.
❖ Noção de poder político
7. Para Locke o poder político é “o direito de fazer leis, para as quais se possa estabelecer
como sanção a pena de morte, ou consequentemente quaisquer outras menos graves,
para regular e preservar a propriedade, empregar a força da sociedade na execução de
leis e defender a comunidade dos ataques externos, e tudo isto para assegurar o bem
público”.
8. É o primeiro autor a afirmar que o Estado é a única entidade terrena (de natureza não
divina) que possui o direito de vida e de morte sobre os homens.
❖ Origem do poder e o estado de natureza
9. O estado de natureza é uma situação em que não há poder político e em que os homens
vivem entregues a si próprios, sem qualquer organização de tipo político em que se
afirme um poder capaz de governar a comunidade.
10. Para Locke passa-se do estado de natureza para o estado de sociedade, onde já existe
poder político, através de um contrato entre os homens, um pacto social feito com o
consentimento de todos para atribuir a alguns o poder de governar a comunidade.
11. Locke difere de Hobbes, no sentido em que não considera o estado de natureza como
positivo nem negativo, mas como aquilo que cada homem quiser que seja.
12. Para Locke tinha de se admitir duas hipóteses, ou se assume que todos os reis governam
em consequência de atos de força ou então tem de se procurar outra fonte de
legitimidade que não seja um ato de deus. Os homens nascem livres e iguais, e assim
como exercerem a sua liberdade e se comportarem uns perante os outros, assim o
estado de natureza será melhor ou pior.
13. No estado natureza não há leis e cada um se rege pelos seus critérios, cada um segue a
lei natural, segundo os critérios da razão. Não há poder político que regule a liberdade
e a propriedade individual, nem órgãos de controlo social como os tribunais, todos têm
de fazer justiça pelas suas próprias mãos – princípio da justiça privada.
14. É um estado insatisfatório, negativo, Locke acaba por o admitir, pois não se assegura
aos homens uma defesa dos seus direitos, não há leis nem tribunais, nem a garantia da
propriedade e da liberdade. Todos os que vivem num estado de natureza acabam por
perceber que é necessário passar para o estado de sociedade, pois o sistema de cada
um fazer o que quer leva à injustiça e insegurança, e essa passagem vai corresponder à
delegação do estado de legislar, executar as leis e julgar os criminosos. Ou seja, sistema
de justiça pública.
❖ Estado de sociedade
15. A existência de Estado pressupõe a renúncia que cada homem faz ao seu direito de
repressão das infrações da lei natural. É a vontade contratual de todos os cidadãos que
cria o Estado.
16. Estado de sociedade: cada um renuncia do direito natural e relega ao Estado o poder de
legislar, julgar e executar.
17. Tudo se faz com o consentimento tácito de todos e neste consentimento não passam
todos os poderes, é uma delegação limitada. A transferência de poderes individuais a
favor do poder político não é ilimitada, antes se destina a possibilitar a vida em
sociedade, protegendo e garantindo a liberdade e propriedade de cada cidadão. Locke
não considera aceitável passar todos os poderes para o rei e o Estado não deve interferir
na vida privada dos indivíduos, a transferência de poderes apenas se limita à política e
tem em vista o bem público, tem de se limitar à vida pública e política.
18. Esta transferência consiste numa delegação de poderes e não numa alienação.
❖ Divisão de poderes
19. Poder político desdobra-se em três faculdades: a primeira consiste na capacidade de
fazer leis (poder legislativo); a segunda consiste na capacidade de aplicar a lei a casos
concretos, quer através da administração pública, quer por intermédio dos tribunais
(poder executivo); a terceira consiste na capacidade de conduzir as relações
internacionais com os outros Estados (poder federativo). Ainda não considera o poder
judicial, mas tinha já os tribunais em mente. Estes poderes correspondem a órgãos
distintos:
✓ Poder legislativo – parlamento (assembleia dos representantes do povo,
livremente eleitos).
✓ Poder executivo e federativo – rei e seu governo.
20. Para defender a liberdade e a propriedade de cada um, para garantir a existência de um
governo limitado, deverá existir uma divisão de poderes dentro do Estado.
21. O poder legislativo, o mais importante, não deve ser exercido de forma permanente,
pois isso dava-lhe demasiada força. Este deve ser descontínuo ou intermitente. O poder
executivo, subordinado às leis e ao poder legislativo era menos perigoso e podia ser
exercido de forma constante – deve ser um poder contínuo, que visa assegurar a
continuidade da governação do Estado.
❖ Limitação do poder político
22. O poder não é concebido de forma ilimitada, encontra-se sujeito aos limites do Direito
natural e dos direitos individuais do cidadão, como o direito à saúde, à vida,
propriedade.
23. Refere que as maiorias, embora possuam o direito de governar, não podem esmagar as
maiorias só por possuírem esse poder.
24. Esta tese influenciou o constitucionalismo, no qual se nota um esforço de limitação do
poder das maiorias legislativas, através de constituições escritas.
25. Locke admite o direito de insurreição (levantamento contra o poder estabelecido)
contra a tirania, que designa como “direito de apelar para o céu”.
26. Os homens eram cidadãos, titulares de direitos originários decorrentes da natureza
humana e descobertos pela razão, direitos esses que eram oponíveis ao Estado e que,
por isso, constituíam uma forma de limitação do poder político.

ROSSEAU: anos: 1712-1778 - ideia de soberania popular e defesa da República


1. A sua grande obra é “O contrato social”.
❖ Pensamento político
2. Como iluminista que era, entendia que os homens começaram por viver em Estado de
natureza. Mas, contrariamente a Hobbes e Locke, Rosseau considerava que o estado de
natureza era o paraíso perfeito, onde o homem era feliz, livre, fazia o que queria e tudo
corria bem. – Teoria do Bom Selvagem: o homem é naturalmente bom, puro, a
sociedade ou civilização é que o corrompe.
3. Era no estado de natureza que os homens começavam a cultivar as terras e adquirir o
apego à posse da terra, nascendo o sentimento da propriedade individual. Assim,
começam a surgir as desigualdades entre os homens, porque uns exploram melhor a
terra ou têm mais sorte com esta. Assim, com a desigualdade surgem os conflitos, a
agressividade. E os homens, que quando eram selvagens eram bons, passam a ser
egoístas, ambiciosos e maus. A vida tranquila transforma-se em luta permanente.
4. O homem percebe que não pode continuar a viver assim e então, em vez de se
continuarem a destruir, decidem unir-se uns aos outros, nascendo o Estado, através de
um contrato social – contrato que os homens celebram entre si para tentar preservar o
que for possível da sua liberdade primitiva, de modo a que ninguém tenha de suportar
um dono, nem tenha o direito de impor a sua vontade a outrem. O contrato social é um
pacto, um acordo de vontades, através do qual cada homem aliena a sua liberdade ao
Estado, mas ao alienar os seus direitos e a sua liberdade em favor do Estado o homem
não deixa de ser livre, porque participa na soberania exercida pelo Estado, no fundo está
a obedecer a si próprio.
5. O contrato social implica a alienação total de cada associado com todos os seus direitos
a toda a comunidade, o que lhe garante a sua liberdade, na medida em que se
estabelece uma obrigação igual para todos e obedecer a todos é não se entregar a
ninguém, é o mesmo que obedecer-se a si próprio, onde cada um adquire sobre todos
os outros os mesmos direitos que os outros adquirem sobre ele.
❖ Vontade geral e soberania popular
6. Se o Estado, por exemplo, é composto por 10 000 cidadãos, implica que cada membro
do Estado tem pela sua parte uma décima milionésima parte da autoridade suprema.
Então, se cada um tem uma fração do todo, para reconstituir a soberania na sua
integralidade não há senão que adicionar todas as parcelas. É isso a eleição, é isso o
voto: cada um dá o seu voto e a soma representa a vontade geral. Por assim dizer, a
vontade geral é a vontade do corpo político, ou seja, o Estado.
7. Como se determina a vontade geral? Pela contagem dos votos e não é necessário que
haja unanimidade, basta a vontade da maioria. Desde que uma maioria se exprima,
temos a garantia de que ela representa a vontade geral.
8. Rosseu, ao contrário de Locke, refere que a maioria tem sempre razão e que por isso
não é necessário limitá-la. As minorias é que estão enganadas, quem está em minoria
nunca tem razão: por isso a soberania é infalível, a vontade geral traduz o interesse
coletivo, exprime o bem-comum.
9. Quem desobedecer tem de ser constrangido pela força à obediência. E como a maioria
nunca se engana e tem sempre razão, e dado que a maioria exprime a vontade geral e
garante a liberdade possível do homem, Rosseau conclui que quem estiver em minoria
e for obrigado a obedecer à maioria está apenas sendo obrigado a ser livre.
10. Rosseau é o grande inspirador do Estado totalitário moderno.
11. Defende a democracia direta.
12. A lei é o modo de expressão e revelação da vontade geral. A vontade geral vem do
soberano, isto é, do povo. O povo é soberano – soberania popular.
13. Refere que a soberania é inalienável, e então não pode haver representação política, ou
seja, votar para eleger representantes que ficam depositários da nossa vontade não faz
sentido, pois uma vontade não se representa: ou é a mesma ou é outra; ou é minha
vontade ou é vontade de outros; não há meio termo. Não pode haver democracia
representativa, só é legítima a democracia direta. Logo, os deputados não são
representantes do povo. Podem preparar uma lei, mas não a podem aprovar, só o povo
o pode fazer, ou seja, todas as leis têm de ser submetidas a referendo popular,
introduzindo-se a ideia de referendo como instrumento de governo, como instrumento
de governo da democracia direta.
❖ Crítica da monarquia e defesa da República
14. Defensor da República como forma de governo e ataca a monarquia, pois para ele só é
legítimo o governo que provém da vontade geral, como é feito pelo povo através das
eleições. Portanto, não é legitimo o governo monárquico, que não emana da soberania
popular, mas da tradição, do costume, da sucessão hereditária.
15. A soberania é exercida pelo povo através da vontade geral e esta é inalienável, o que
provoca que a vontade geral possa a todo o tempo mudar de governo. Os governantes
não são donos do povo, são apenas seus comissários, seus funcionários e por isso o povo
pode destitui-los sempre que quiser.
16. É contra a monarquia absoluta, pois esta é como uma tirania, igreja católica e
aristocracia feudal.
❖ Regimes políticos. Sistema de governo convencional
17. O regime político ideal era o da liberdade, igualdade e bom governo.
18. Partidário de um governo a que chamamos sistema convencional, um sistema de
governo em que o povo elege uma assembleia com poderes limitados pela democracia
direta, em que por sua vez essa assembleia elege uma comissão delegada para exercer
o poder executivo, mas em que o governo não é titular de um poder próprio, autónomo,
do poder executivo, antes funciona como simples delegado do legislativo, da
assembleia.
19. Sistema de governo convencional: poder político se estrutura sob a forma de uma
pirâmide de assembleias delegadas: a assembleia legislativa é delegada do povo, o
governo é uma comissão delegada do legislativo, o chefe de estado é colegial, assim
sucessivamente.
20. Os órgãos do poder só têm competências delegadas e por isso os seus poderes podem
ser-lhes retirados de um momento para outro: o povo delega no parlamento, o
parlamento delega no governo, o governo delega nas suas comissões delegadas e tudo
pode voltar de novo à origem, porque não há poderes próprios, só há competências
delegadas permanentemente revogáveis.
21. Considera a soberania una e indivisível e então é negativo fragmentar o respetivo
objeto, o poder legislativo e o poder executivo, a força e vontade do corpo político. A
melhor Constituição será aquela em que o poder executivo estiver unido ao legislativo:
quem faz as leis sabe melhor como elas devem ser interpretadas e executadas. Era a
negação de Montesquieu.
22. O novo regime tem de ser democrático, pois se todos os homens nascem livres e iguais,
o poder político está em todos eles e assim todos eles podem celebrar um contrato
social, aprovar a constituição e assim criar o Estado.
23. O novo regime tem de assegurar a liberdade individual de todos que tem lugar na
assembleia constituinte (aprova contrato social) e na assembleia legislativa que faz as
leis.
24. O contrato social esta na formação da Constituição.
25. O novo regime tem de assegurar a igualdade entre todos os cidadãos, situação que, para
Rosseau, não existiu no passado, tendo de se aplicar a regra da unanimidade para
igualdade jurídica: na aprovação do contrato social e no direito de todos os cidadãos
fazerem parte do poder legislativo.
26. Igualdade social: condena as desigualdades que existem, mas não apresenta formas de
a resolver.
27. Pretende criar uma religião civil, pois era contra religioso e ataca a igreja católica e
preconiza que esta deve ser um fenómeno privado e uma questão interior.
28. Poder legislativo: é ao poder legislativo que compete fazer as leis necessárias aos
homens e rejeita a atribuição do poder legislativo ao Parlamento, só o povo, numa
assembleia universal, podia fazer as leis.
29. Poder executivo que diverge de Locke e não é um poder de acordo com Rosseau, não
deve pertencer ao rei nem aos ministros, não deve ter poder próprios, defendendo o
governo de assembleia.
30. Considera que é natural que os regimes políticos se vão degenerando e ou toma o povo
o poder de substituir os ministros ou de forma revolucionária rompendo com o contrato
social.
❖ Melhor forma de governo
31. O melhor regime político era uma República (melhor forma de governo) democrática,
baseada na soberania popular expressa através do voto e exercida, diretamente pelo
povo, sem a medição das instituições representativas, com apelo frequente ao
referendo popular nos moldes da democracia direta e sem separação de poderes, ou
seja, com um sistema de governo de assembleia, de tipo convencional. Mas, este
modelo era demasiado belo para ser adotado em toda a parte.
32. Só era possível em pequenos Estados ou pequenos cantões era possível a democracia.
33. Em vão se procurará dar a todos os países e em todas as épocas a mesma Constituição
ou a mesma forma de governo: estão hão de sempre variar consoante o lugar e
momento.
34. Rosseau acaba por admitir que na prática o que sucederá é que os pequenos Estados de
dimensão média possuirão um governo aristocrático e os grandes Estados viverão sob
um governo monárquico.
35. O conceito de democracia totalitária é um conceito em si muito contraditório.

MONTESQUIEU: anos: 1689-1755 – doutrina da separação de poderes


❖ Vida e obra
1. A sua obra essencial é “O espírito das Leis”, onde formula a teoria da separação dos
poderes, e que contribuiu para a revolução americana e francesa.
2. Conciliou duas tendências opostas: a tendência aristocrática da França e da sua família
e o constitucionalismo britânico.
❖ Pensamento político
3. Foi um bom politólogo e um cultor da sociologia jurídica e política, pois decide estudar,
na perspetiva do espírito das leis – e não na da sua letra – as consequências das diversas
formas políticas, sociais e económicas sobre o direito, isto é, estuda as leis, não em si
mesmas, mas integradas no seu ambiente natural e social.
4. Formula uma perspetiva aberta sobre o fenómeno político ao admitir a influência da
educação, condição feminina, do volume populacional, da natureza geográfica do
território e dos climas, entre outros, sobre o direito que rege uma determinada
sociedade: as leis, no seu significado mais amplo, são as relações necessárias que
derivam da natureza das coisas.
❖ Influência dos climas e do território
5. O ar frio faz com que as fibras do corpo se aproximem, o que torna os homens mais
fortes, confiantes e dinâmicos; o ar quente relaxa e afasta as fibras umas das outras, o
que torna os homens mais moles, fracos. Nos estados onde o ar é frio, são prósperos e
ricos e nos Estados do Sul, onde há ar quente, são pobres e atrasados.
6. Estudando o novo regime liberal de democracia
7. As dimensões do território de um Estado: quando é pequeno é mais fácil o exercício do
poder político, podendo adotar-se um governo democrático e moderado; se for maior
é mais difícil o poder político, o Estado tem de ser muito forte para evitar o
fracionamento do território e a dispersão política dos habitantes, onde há regimes
menos moderados.
8. O bom legislador é aquele que sabe fazer leis que anulam as más tendências que o clima
e o território provocam nos seres humanos e o mau legislador é o que faz o contrário.
❖ Classificação dos regimes políticos
9. Três tipos de sistemas políticos:
✓ República: poder soberano pertence ao povo e o seu cidadão consiste na virtude
cívica dos cidadãos.
✓ Monarquia: poder soberano que pertence a um só, de acordo com as leis, ao
Rei, e o seu princípio assenta na honra.
✓ Governo despótico: poder soberano pertence a um só, sem leis que o limitem,
a um tirano e o seu princípio consiste no medo.
10. Natureza de governo: aquilo que o governo é em si mesmo, a sua estrutura, o seu
mecanismo de funcionamento. Expressa-se no direito constitucional.
11. Princípio de um governo: aquilo que faz o governo agir, a ideia fundamental dos
governantes num dado regime político, que acaba por moldar o espírito geral do país se
perdurar por vários anos. Encontra expressão nas leis civis, sociais e económicas.
12. Regime político ideal: a monarquia, mas não uma monarquia absoluta, pois ele é liberal.
Ele defende uma monarquia limitada e aponta três limitações:
✓ Limitação do Direito: faz parte da natureza do governo monárquico ser
subordinado à lei; quando não, é um governo despótico.
✓ Limitação pelo pluralismo político-administrativo: elabora a teoria dos poderes
ou corpos intermédios. Limitação pelas autonomias municipais e corporativas,
pelas ordens ou estados (clero, nobreza e povo), pela reunião dos Estados-
gerais, devendo estes ser convocados pelo Rei.
✓ Limite pela separação dos poderes.

A monarquia limitada é o protótipo do governo livre, porque é o regime das distinções,


separações e equilíbrios.
❖ Princípio da separação de poderes
13. É necessário garantir a todos os homens a liberdade individual. A liberdade é o direito
de fazer tudo aquilo que as leis permitem e o direito de não fazer nada que as leis não
imponham. Para isso é necessário que o poder político esteja limitado pelo direito e pela
autonomia dos corpos intermédios e que ele próprio, o poder político, esteja repartido
entre diferentes órgãos do Estado.
14. Princípio da separação de poderes: que os poderes estejam separados para que se
impeçam uns aos outros de provocar abusos que prejudiquem os cidadãos.
15. Classificação dos poderes do Estado: poder legislativo, executivo e judicial.
✓ Poder legislativo: parlamento;
✓ Poder executivo: Rei e seu governo (junta-se ao poder executivo, o poder
federativo de que Locke falava);
✓ Poder judicial: tribunais. O juíz só pronuncia o que está na lei, só aplica a lei aos
factos, surgindo a teoria do juíz neutro, como um pc que determina a lei.

É preciso que os três poderes não estejam reunidos nas mesmas mãos.

16. A separação de poderes é garantia da liberdade individual, pois cada um dos poderes
do Estado desempenhará a sua função, mas não mais do que isso e ao mesmo tempo
impedirá os outros de exorbitarem da sua própria função.
17. Em cada poder do Estado estão contidas duas faculdades – a de estatuir e a de impedir.
Significa que cada poder do Estado deve ter a possibilidade de tomar decisões sobre a
sua esfera própria de competência, mas também a possibilidade de travar certas
decisões dos outros poderes do Estado, de modo a que exista um sistema de controlos
recíprocos que impeçam qualquer dos poderes de assumir a totalidade do poder e de
abusar dele.

Estes três autores vão fomentar as revoluções liberais - constituição escrita e separação e
interdependência de poderes: revolução inglesa, francesa (declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão) e americana e constitucionalismo liberal.

IDADE CONTEMPORÂNEA
Uma fase cuja gestação começou com os iluministas e que, politicamente, se inicia com duas
grandes revoluções: Americana e Francesa.

Plano político - abolição do absolutismo; proclamação dos Direitos do Homem, aparecimento


das constituições escritas; adoção da República como forma política; início do parlamentarismo
e aparecimento dos primeiros partidos políticos propriamente ditos.

Plano económico-social (esta fase é no século XIX e inícios do século XX) – afirmação do
liberalismo económico; proclamação do princípio da não intervenção/redução do Estado na vida
económica e social; marcada pela industrialização e pelo aparecimento da questão operária e
pelo embate que este liberalismo terá com os movimentos socialistas.
ABADE DE SIEYÈS: anos: 1748-1836 – povo como elemento do Estado e a soberania
nacional
1. Um dos pensadores da revolução francesa, em que seis meses antes da Revolução
escreveu: “O que é o terceiro Estado?”.
2. Grande construtor do Estado liberal saído da Revolução Francesa.
3. Apresenta reivindicações que visam combater o absolutismo:
✓ Que todos os representantes do terceiro estado nos Estados Gerais fossem
membros do terceiro estado (era costume haver membros do clero e nobreza a
representar o povo nos Estados Gerais);
✓ Que o número de representantes do terceiro estado fosse igual à soma dos
representantes do clero e da nobreza, ao contrário do que acontecia;
✓ Que todas as votações dos Estados Gerais fossem feitas por cabeça e não por
ordens, porque até ali o clero em conjunto tinha um voto, a nobreza tinha outro,
de onde resultava que o clero e a nobreza normalmente venciam por dois a um.
4. Apresenta o conceito de Nação, considerando que esta detém a soberania e que a
Nação é o povo – povo no sentido de terceiro estado. o clero e a nobreza não são a
Nação, só o povo é.
5. Defende o conceito de soberania nacional como equivalente a soberania popular.
6. Defende a representação política, ao contrário de Rosseau. Ele defende-a e constrói
toda a sua teoria do Estado na base da ideia de representação política.
7. Funções do Estado são quatro e chamava a cada uma delas “vontade”:
✓ Volonté constituante: poder constituinte;
✓ Volonté petitionnaire: direito de os cidadãos apresentarem petições aos
poderes públicos;
✓ Volonté gouvernante: poder de governar;
✓ Volonté legislative: poder de legislar.

Ou seja, desta análise percebemos que distingue entre poderes constituintes e constituídos. A
teoria da separação de poderes diz respeito aos poderes constituídos; mas antes deles e acima
deles há o poder constituinte: poder de fazer/modificar/substituir uma Constituição, ou seja, o
poder originário do povo enquanto poder soberano.

8. Distingue entre poder governamental e poder legislativo.

DUAS GRANDES CORRENTES DE PENSAMENTO NA REVOLUÇÃO FRANCESA


9. A revolução francesa mostra choque entre correntes: corrente liberal, inspirada em
Locke e Montesquieu; e Jacobina, que se inspirava em Rosseau.
10. A corrente liberal aceitava a monarquia constitucional; um governo limitado, para
garantia dos direitos do Homem; valor supremo era a liberdade.
Vs
Corrente jacobina rejeita a monarquia constitucional e defende a República; preconiza
um governo totalitário para fazer avançar a revolução; valor supremo era a igualdade.
11. A revolução francesa suscitou muitas reações: desenvolvimento de diferentes
12. perspetivas de como devia ser a evolução social e houve quem negasse a revolução.
BURKE
1. Ponto de referência do seu pensamento – conservadorismo, que transmite a ideia de
tradição, manutenção da ordem.
1. Salvaguardar os princípios da tradição.
2. Critica a revolução, pois acredita na continuidade, tradição e permanência dos valores.
3. Não punha em causa a separação de poderes, nem o liberalismo político, etc., mas
continuava a defender a proposta conservadora.
4. Recusa da ideia da Revolução, propondo a ideia de rutura.
5. Em termos económicos, estado que não intervêm muito em matérias económicas e
sociais - Defesa de um Estado de intervenção mínima – Estado mínimo.
6. As coisas podem mudar, mas não por via de corte revolucionário.

ALEXIS DE TOCQUEVILLE: anos: 1805-1859 – início da ciência política moderna


1. Era um aristocrata liberal e a ele se deve o início da ciência política moderna.
❖ Pensamento político
2. Estuda a democracia, não tanto do ponto de vista jurídico, mas sobretudo do ponto de
vista sociológico, analisando nos EUA a influência da democracia real, autêntica, que aí
encontrou, sobre as instituições políticas e sobre as ideias, sentimentos e costumes
privados dos americanos.
3. Para ele a democracia (americana) conjuga igualdade e liberdade – entendendo por
liberdade, tanto a liberdade dos antigos como a dos modernos e entendendo por
igualdade, tanto a igualdade jurídica, como a igualdade social, realçando os esforços que
a sociedade deve fazer para dar aos pobres uma ajuda que lhes permita elevarem-se
acima da sua condição.
4. Chama a atenção para os riscos da democracia: a maioria dos autores refere que o maior
risco da democracia é o excesso de individualismo, gerador de desordem com tendência
para anarquia; ele vê na democracia o perigo oposto, o perigo do despotismo. – forma
de governo na qual uma única entidade governa com poder absoluto.
5. O que contribuiu para este perigo de despotismo no poder democrático?
✓ A centralização administrativa e o intervencionismo do Estado.

O intervencionismo do Estado, que começa nas obras públicas e se alarga à economia, às


relações de trabalho e à religião, caridade e moral, atinge o pleno controlo dos cidadãos e das
suas próprias almas.

6. Sustenta que o mais importante é lutar contra o despotismo e preconiza como forma
de o evitar: a descentralização; a limitação do papel do Estado na vida coletiva; a
participação dos cidadãos no exercício do poder político; a solidariedade social e a
contenção do intervencionismo económico.
7. Identifica também o risco da tirania da maioria: a maioria não pode fazer tudo, tem de
haver garantias para que isso não aconteça e isto é garantido pela participação do povo
na política e pelos órgãos de poder mais descentralizados. ?????????
SURGIMENTO DAS IDEIAS SOCIALISTAS
1. Socialismo europeu do século XIX: tentativa de resolver a questão social decorrente da
industrialização e visou um fim de justiça social. Este socialismo foi causado pela miséria
operária em sociedades industriais. Procurou corrigir/combater o capitalismo.
2. Há uma preocupação com as classes trabalhadoras, em que muitos vivem em extrema
pobreza – surgem, assim, os primeiros movimentos socialistas.
3. Desenvolvimento das ideias socialistas – acabam por ser um conjunto de ideias que tem
na base o ideal de justiça social e tem como características fundamentais:
✓ A análise política deve se subordinar à análise económica;
✓ A rejeição do tipo de sociedade em que se tem vivido no mundo ocidental,
desde o século XIX, e a exigência de uma nova ordem económica e social;
✓ Ataque à propriedade privada, tida como causa de todos os males da sociedade;
✓ Defesa da apropriação coletiva dos principais meios de produção;
✓ Proposta de atribuição ao Estado de extensas funções na economia, quer
empresariais (empresas públicas), quer de direção central (planeamento
económico).
4. São características do socialismo, que começa por ser doutrina económica, mas que
apresenta consequências a nível político, designadamente, na conceção de sociedade,
do Estado, do poder político, da liberdade e dos sistemas políticos.
5. Socialismo moderno nasce na Europa no século XIX, como reação ao conjunto de
realidades económicas e sociais negativas: crises económicas frequentes; perturbações
sociais consequentes do progresso técnico, industrialização e capitalismo; situação
miserável do operariado, etc.
6. Engels defendia dois tipos de socialismo: socialismo utópico e científico, sendo que só o
marxismo era científico e todas as outras formas, como a de Platão, eram socialismo
utópico.

KARL MARX (1818-1883) E ENGELS – socialismo marxista


1. São os dois maiores representantes do socialismo dito “científico”, a que se prefere
chamar “marxista”, pois tem base científica.
2. As principais influências recebidas por Marx foram:
✓ No plano dos factos: reação contra a condição social de miséria em que vivia o
proletariado no início e meados do século XIX e o impacto da sua ascensão
política devido à conquista do direito de voto ou sufrágio universal.
✓ No plano das ideias: influência do cientismo e do evolucionismo, com Darwin;
do positivismo, com Comte; etc.
❖ Pensamento político
3. Pensamento de Marx e Engels em sete pontos fundamentais:

Uma filosofia geral: assenta as ideias num conjunto de pressupostos filosóficos que se traduzem
na conjugação da filosofia dialética com no materialismo histórico. Filosofia dialética dividida
em duas grandes filosofias: filosofia do ser e filosofia da vida (pág.150) e o materialismo é a ideia
de que aquilo que é fundamental no mundo é a matéria, não o espírito; é a evolução da matéria
que determina a evolução das ideias, das leis, etc; o materialismo histórico é uma interpretação
da história em que esta evolui a partir de choques contrários, através do embate entre teses e
antíteses (a denominada “dialética”), sendo que só a meio da luta podem surgir novas sínteses
progressivas e enriquecedoras. Esta evolução é condicionada por fatores materiais, económicos
e não por causas espirituais, morais ou políticas, ou seja, as condições materiais influenciam o
decurso dos acontecimentos. O materialismo histórico significa uma visão económica da história
e da sociedade, assente na dialética. A luta de classes (luta entre proletários e proprietários) é o
motor da história.

Uma teoria da história: Marx interpreta a história como uma guerra entre as classes sociais: luta
de classes é o motor da evolução histórica. Para Marx e Engels, a evolução histórica processou-
se assim: 1ºfase - comunismo primitivo e integral dos bens; depois, surgindo a propriedade
privada dos meios de produção, terá começado a luta de classes, da qual emanou o Estado
capitalista ao serviço da classe exploradora; depois, contra o Estado capitalista apareceu a luta
de classes trabalhadoras, das quais emerge o socialismo em evolução para o comunismo. Marx
afirma também que são as forças materiais, nomeadamente as económicas, que determinam a
evolução da sociedade. Refere que, tal como os fiéis se alienaram a Deus, também os cidadãos
se alienam ao Estado e nessa alienação todos perdem uma parte do seu ser. Esta alienação
explica-se pelo facto de os poderosos (governantes, sacerdotes, militares, etc) imporem as
alienações para manterem o seu domínio e poder e os pobres e fracos aceitam-nas, como
crenças em paraísos, para se evadirem da sua miséria e, por isso, Marx acusa a religião de ser o
“ópio do povo”.

Para Marx as ideias dominantes em certo país ou época não são ideias puras, não descendem
de Deus ou da Razão, nem encaminham a vida e a história; são apenas o reflexo das relações
materiais (económicas e sociais) entre fortes e fracos, ricos e pobres. ou seja, quem conduz a
evolução da história são as forças materiais, económicas, produtivas.

O Direito, a Política, a Moral, Religião, Arte, são tudo ideias (super-estruturas) que resultam da
configuração que em cada fase tiverem as forças económicas e as relações de produção (infra-
estruturas). A infra-estutura comanda a super-estrutura.

A infra-estrutura identifica-se com as relações de produção e a super-estrutura consiste em tudo


o que não possui autonomia face à infra-estrutura, como o Direito, Política, Religião, etc. o modo
de produção cria todo o edifício social.

Uma doutrina do Estado e do Direito: o Estado é o principal elemento de qualquer super-


estrutura: vai evoluindo à medida que as circunstâncias económicas se modificam, sendo um
instrumento da exploração e opressão de uma classe sobre outra classe. Com o aparecimento
da propriedade privada, há uma divisão entre os homens – os que possuem propriedade privada
(proprietários) e os que não possuem e assim surgem as classes sociais, que se definem pela
posição que os indivíduos ocupam relativamente aos meios de produção. As duas classes
começam a afirmar-se, dando origem a um antagonismo de classes e a uma luta de classes.
Quando o antagonismo se agudiza e possa existir perigo de rebelião por parte dos explorados,
a classe exploradora para se defender vai criar um aparelho que permita manter a lei e a ordem
estabelecida: o Estado, ou seja, é o instrumento de dominação e repressão de uma classe sobre
outra. A função do Estado é perpetuar a exploração, opressão e dominação da classe proletária
nas mãos da classe dominante.

O Estado nasce quando a classe dos proprietários se torna cada vez menor e mais rica e a classe
dos trabalhadores maior e mais pobre; mas, conclui que o Estado tenderá a desaparecer,
quando, por uma revolução inevitável, os proletários tomarem o poder e aniquilarem a
burguesia e assim a razão do Estado existir desaparecerá, pois haverá sociedade sem classes
onde não há opressão de uma classe pela outra.

O Direito também é uma super-estrutura comandada pela infra-estrutura, relações de


produção. O Direito é um mero produto da correlação de forças. O legislador não cria o Direito,
apenas o revela, impondo normas que sejam necessárias ao desenvolvimento do tipo de
produção económica da sociedade, ou seja, normas indispensáveis à dominação da burguesia
sobre o proletariado. Assim sendo, o Direito não é determinante, mas determinado.

Uma conceção da religião e da moral: religião e moral são instituições distintas com funções
sociais diversas. A função da religião é uma função de classe: dar aos proprietários uma
justificação para a legitimidade do seu domínio sobre os proletários e é dar aos proletários uma
ilusão sobre as condições da sua vida, em que podem imaginar um paraíso; a religião deixará de
existir quando for implantado o socialismo, pois a sua função é servir os interesses da classe
dominante e quando este for implantado não haverá classes.

A moral representa o código ético de uma sociedade, a regra de distinção entre o bem e o mal.
Há uma moral capitalista (burguesia) que morrerá com o capitalismo, e terá de haver uma moral
socialista que a substitua. A moral tem função de proteger o modo de produção e as estruturas
de classe em cada tipo de sociedade: cada modo de produção gera ideias e sentimentos sobre
o bem e o mal, que são necessários à manutenção desse modo de produção e tudo o que
constitua forma de o manter é bom. A moral depende do momento, da conjuntura e está
subordinada aos interesses do proletariado na luta de classes, pois mesmo que seja preciso
roubar ou mentir, a moral deve conduzir à vitória do proletariado.

Uma análise económica do capitalismo: Marx considera que o capitalismo é baseado no lucro
e é um sistema condenável, porque repousa sobre a exploração do homem pelo homem e
condenado, porque fatalmente será abolido pela evolução histórica que o substituirá pelo
socialismo. A concentração das empresas capitalistas, fará a crescente pauperização do
proletariado, pois vão ser mais explorados.

Os capitalistas, detentores da propriedade privada dos meios de produção, pretendem a


arrecadação da mais-valia das produções económicas, o que é condenável, pois esta deve
pertencer à coletividade e não a uma minoria. No socialismo, a propriedade dos meios de
produção é da coletividade e então os particulares já não retêm para seu lucro pessoal as mais-
valias, pois vão para o Estado que as redistribui.

O capitalismo é a crise mais aguda da evolução social: no capitalismo moderno o modo de


produção é coletivo (grandes empresas com muitos trabalhadores), mas a estrutura da
propriedade é individual (propriedade privada dos meios de produção) e devido a este
desfasamento, Marx considera que se verifica a crise social e se torna necessária a luta de
classes, para pôr termo a essa contradição e acabar com a exploração do homem sobre o
homem (capitalista explorar proletário), o que gerará a sociedade socialista.

Uma previsão sobre o advento do socialismo: o contraste do confronto entre a burguesia cada
vez mais rica e reduzida e o proletariado cada vez mais pobre e numeroso, irá explodir por força
da luta de classes – os trabalhadores farão a revolução, vão se apoderar dos instrumentos do
Estado e abolirão o capitalismo, implantando o socialismo: será uma sociedade sem classes,
assente no princípio da apropriação coletiva dos meios de produção.
A burguesia lutará contra o proletariado, defendendo-se através do aparelho repressivo do
Estado e o proletariado lança a sua arma principal – a greve.

Uma utopia sobre a sociedade comunista: a sociedade comunista será igualitária e justa, em
que todos serão livres e iguais e em que não haverá classes sociais – é a “sociedade sem classes”
e onde a distribuição dos rendimentos se fará segundo o principio de dar “a cada um segundo
as suas necessidades”; o Estado deixará de fazer falta, pois se não há classes sociais, não há
oposição nem luta de classes, também não há necessidade de repressão e assim este não tem
justificação, tal como a religião. Marx defende um comunismo total, abrangendo os bens de
produção e de consumo, ninguém terá nada a que possa chamar “seu”. Estende o comunismo
à família, condenando a apropriação dos filhos pelos pais e sustenta a substituição do casamento
pela união livre.

4. A conceção marxista influenciou a Revolução Russa de 1917 e a criação do Estado


Soviético. Esta revolução deu origem ao chamado “marxismo-leninismo”.
5. Há a ideia de determinismo – não o determinismo cego do destino, mas o determinismo
da evolução económica.
6. A política, o Estado e o Direito resultam da forma como a sociedade está organizada em
termos socioeconómicos e não ao contrário.
7. Segundo Marx, é a “praxis”, a ação, que indica o sentido da história e fornece ao homem
as condições para uma atuação eficaz e toda a ação deve ser realizada no sentido da
evolução histórica. Qual o sentido da história para Marx? É a passagem da produção
individual e familiar para a produção coletiva (propriedade individual para a
propriedade coletiva dos meios de produção). Essa passagem resultará da vitória do
proletariado.
8. Marx defende que há duas fases distintas na implantação do socialismo:
✓ Fase inferior: ditadura do proletariado – classe operária se apossa, pela
violência, do Estado e do seu aparelho repressivo, ocupando a administração
pública, economia e sociedade, de modo a extinguir a burguesia e o capitalismo.
Aqui a economia será organizada pelo princípio “a cada um segundo o seu
trabalho”, abolindo o lucro e a mais-valia.
✓ Fase superior: comunismo.

MARXISMO-LENINISMO
LENINE
1. liderou os bolcheviques e foi um dos que organizou a revolução de 1917. Era herdeiro
das ideias de Marx, apresentando apenas algumas diferenças, dando origem ao
marxismo-leninismo.

Filosofia: defende que o idealismo favorece a burguesia e o materialismo favorece o


proletariado, então é necessário optar por este.

Teoria da história: a sua tese fundamental é que a revolução não se deu quando Marx previra e
se deu um novo fôlego ao capitalismo. Convence-se que o capitalismo entrará na sua última
etapa, em que os países capitalistas lutam uns contra os outros, o que dará condições objetivas
e subjetivas para uma revolução socialista na Rússia e em todo o mundo.
Teoria da Revolução: refere que na Rússia, tal como em todas as monarquias absolutas, há duas
revoluções a fazer: 1º - revolução liberal burguesa, que permitirá passar da autocracia ao
constitucionalismo parlamentar; 2º - revolução socialista proletária: passar do
constitucionalismo parlamentar à ditadura do proletariado.

Propõe uma aliança estável entre operários e camponeses: “ditadura do proletariado e do


campesinato”, reivindicando as nacionalizações e a reforma agrária (expropriação dos grandes
latifúndios e a sua distribuição pelos camponeses) e pedindo o fim da guerra, dar todo o poder
aos sovietes e a nacionalização da terra.

Na noite de 25 de outubro reúne o congresso dos sovietes e a direção bolchevique propõe: paz
imediata; nacionalizações; reforma agrária; constituição de um governo exclusivamente
composto por bolcheviques, conseguindo triunfar na Revolução de Outubro.

O Partido: teoriza um partido comunista, revolucionário, composto por profissionais da


Revolução. Um partido de massas, organizado sobre princípios autoritários (o centralismo
democrático), um partido considerado o guia e dirigente do proletariado e do Estado, a
vanguarda da classe operária. A partir de 1918 designa-se de partido Comunista, em que se dá
a dissolução de todos os grupos e tendências internas e a proclamação de que só o Partido
Comunista é capaz de unir e organizar a vanguarda do proletariado e de toda a massa do povo
trabalhador. Passa-se de ditadura do proletariado para ditadura sobre o proletariado.

O Estado: refere que o Estado é uma organização de força e organização da violência para
supressão de uma classe e ataca a democracia parlamentar. Defende que o Estado irá
desaparecer, mas que antes entrará em decomposição. Surge um modelo de Estado que se
contrapõe ao Estado pluralista, não admitindo pluralismos (ao Estado burguês), seja na forma
de democracia parlamentar ou na república presidencialista. Surge uma nova conceção de
Estado:

✓ O Estado deve ser governado, não por quem ganha as eleições, mas por quem merece
governá-lo e por quem quer governá-lo, ou seja, o proletariado. É legítimo que tome o
poder pela força, mesmo que eleitoralmente represente uma minoria.
✓ O Estado não reconhece a oposição e só aceita um partido – partido único.
✓ A sede do poder político não é o Estado, mas sim o Partido. É este que dirige a política
do país e os órgãos do Estado devem obedecer às diretrizes do Partido Comunista. É o
guia orientador do Estado e da Sociedade. O Partido é o centro do poder.
✓ O sufrágio para designar governantes não é de base individual, mas de base
institucional, por comissões ou conselhos, por sovietes formados a partir das bases.
✓ Estado não reconhece o princípio da separação de poderes, mas sim a concentração de
poderes, a unidade, para assim ser eficaz na sua ação.
✓ Estado não reconhece as liberdades de consciência religiosa, de criação cultural, de
opinião filosófica e não admite direitos políticos. Promove o ateísmo, dirige a criação
cultural e escolhe a orientação filosófica adequada para o país. Estabelece a censura
oficial em 1922. É um Estado totalitário.
✓ Estado assume para si a economia: transfere das mãos dos particulares para a
titularidade pública a exploração das principais atividades económicas (nacionalizações
e reformas agrárias); controla o pouco que resta do setor privado (controlo operário);
vai dirigir e planear, de forma rígida, a partir do governo, o conjunto da economia
(planeamento imperativo, economia de direção central total). É um Estado coletivista.
Lenine idealizara um Estado aberto à livre expressão da opinião das bases, mas aconteceu o
contrário. O controlo operário fracassou; as greves foram proibidas por serem ilógicas num
Estado que era suposto pertencer aos trabalhadores; e os sindicatos deviam ser apenas um
veículo de transmissão das ordens do Partido para os trabalhadores.

A revolução de outubro deveu-se muito ao facto de se ter criado um novo partido político e o
Estado não desaparece, como defendia Marx, e também não é liberal, como se defendia nas
revoluções Francesa e Americana. É um estado de grande dimensão que assume muitas funções
e precisa de muitos funcionários, é uma realidade grande: intervém em muitos aspetos da vida
económica e social, sendo um Estado fortemente burocratizado.

ESTALINE: despotismo totalitário ao serviço do Comunismo.


1. Para este estado totalitário contribuiu Estaline – vive-se fase de consolidação do regime
soviético.
2. Estaline é menos vocacionado para a ideia de revolução mundial, mas apenas
implementar o “socialismo em um só país”: Rússia.
3. Teorizador da revolução feita de cima para baixo e apoiada de baixo para cima. (pág.295)
4. Para atingir o comunismo é necessário reforçar o Estado e a sua ditadura, não há defesa
da inexistência do Estado, pelo menos enquanto o capitalismo for um perigo e não
desaparecer o perigo do ataque militar do Ocidente à URSS.
5. Reconhece que as classes na sociedade socialista continuam, mas sem interesses
antagónicos e refere que quando há lutas de classes é necessário que o proletariado
saia vitorioso.
6. Comunismo é a doutrina do Estado soviético e os interesses do Estado são superiores a
quaisquer outros interesses, mesmo em relação aos direitos individuais de cada um.
7. Pensar de modo diferente do que o Estado e o Partido, preconiza um crime a castigar
severamente, daí que seja necessário multiplicar os órgãos de fiscalização e repressão.
8. Os direitos fundamentais estão ao direito do estado, da ideologia.
9. No plano político como dirigente, subordina todo (Estado, ideologia e partido) ao objeto
de industrialização do país, que deve ser feita à custa do setor agrícola. Em 1929 lança
a coletivização da agricultura, coletivização rural e implementou a coletivização da
economia – plano quinquenal – planos imperativos da economia.
10. Temos um estado totalitário que não respeita as liberdades individuais, a dignidade do
homem e muito burocratizado.

Estaline não acrescentou muito ao plano das ideias, mas desenvolveu a ideia de terror utilizado
pelo Estado.

NOTA: O marxismo-leninismo, que atingiu o apogeu no Estado Soviético, não foi a única forma
de defender a preocupação com a classe trabalhadora. Houve mais propostas que defendiam
que o Estado tinha de intervir para melhorar as condições destes, sem ser necessariamente pela
via do marxismo, como, por exemplo, através do Estado Providência.

Outras perspetivas que se preocupavam com a classe trabalhadora:

Democracia-cristã
Encíclica do Papa: alertar para o Estado dar condições mínimas de dignidade.
1. Síntese entre catolicismo e liberalismo: Democracia-Cristã.
✓ Não exigiam a separação da Igreja e do Estado; preconizavam um entendimento
cordial entre o poder civil e o poder espiritual, para manutenção pacífica do regime
democrático.
✓ Aceitação da democracia e liberalismo político.
✓ Prioridade à situação dos pobres e à melhoria do seu bem-estar e condições de vida.
2. Ao início não tinha impacto em termos políticos, mas depois acabou por ter, criando-se
partidos políticos. Os partidos democratas-cristãos tinham o nome de “partidos
católicos” e o seu programa era a luta pela liberdade religiosa e liberdade de ensino ou
luta contra o protestantismo.
3. Mas, Pio IX, na sua encíclica “Quanta cura”, onde continha o Syllabus (lista onde indicava
os erros modernos, como o liberalismo e o socialismo), não defendendo o liberalismo
político.
4. Em 1891, quando publicada a encíclica “Rerum Novarum”, a Igreja concretiza,
verdadeiramente, a sua adesão ao liberalismo político e democracia. Aqui nasce a
segunda democracia cristã.
5. A democracia cristã acentua a ideia da subsidiariedade, de ajuda. Defende que não se
deve eliminar as estruturas existentes na sociedade e dá importância à pessoa na
sociedade.

NOTA: Houve autores que rejeitaram a revolução, mas pela via democrática: surge a social
democracia ou socialismo democrático: criticam o marxismo.

EDWARD BERNSTEIN (1850-1932) – revisionismo e a divisão do movimento socialista.


1. Apesar de influenciado pelas ideias marxistas e pelo socialismo britânico, rejeita a teoria
revolucionária de Marx, defendendo uma proposta reformista e não revolucionária.
2. Recusa o materialismo histórico e filosófico. Recusava o materialismo, em nome de uma
fatalidade económica: de início as condições económicas foram determinantes, mas a
evolução das sociedades permitiu ao homem libertar-se de condicionamentos
económicos e influir no curso da história.
3. Defendeu que o valor vinha da utilidade dos bens e com o aumento do poder de compra
houve melhoria das condições de vida dos operários.
4. O capitalismo mostrava-se mais organizado e cada vez havia mais proprietários.
5. Recusava a lei do empobrecimento crescente dos trabalhadores: havia uma difusão da
propriedade, os trabalhadores cada vez em maior número se tornavam proprietários e
que a classe média estava a aumentar. Para ele a noção de classe não assentava na
titularidade ou não de meios de produção, mas sim na posse de condições de vida.
6. Defendia aliança entre trabalhadores e camponeses.
7. Havendo interesses comuns às diversas classes, um interesse político manifesto na
aliança do proletariado com a classe média e campesinato, não se deviam apregoar
atitudes revolucionárias. Era a favor da democracia e da colaboração das classes.
8. Preconizava uma melhoria do nível de vida dos proletários.
9. Defendia que a social democracia não devia atacar os liberais, pois estes eram os
melhores aliados, porque a social democracia só teria êxito se fosse o sucessor do
liberalismo.
10. Defende nacionalizações, mas feitas aos poucos.
11. Convicto de que a evolução para o socialismo era inevitável, não por causa de um
determinismo económico, mas porque o ideal socialista está presente em cada homem.
12. Defendia que a dialética estava errada, pois deforma a realidade e aponta para a
revolução, sendo que, na realidade, a evolução é progressiva e o capitalismo marcha
para o socialismo e então este se irá impor, gradualmente, sem convulsões.
13. Fundador do socialismo democrático, separando comunistas e socialistas. Continua a
defender a importância da regulação do Estado, mas vai recusar, como vimos, alguns
aspetos importantes do marxismo: a história não está predeterminada e propõe a
evolução em vez da revolução; a lei em vez da violência. Através da legalidade, eleições,
defesa destas perspetivas dentro de um quadro legal, e não pela revolução que se vai
atingir o socialismo. Tem de se alagar o sufrágio, para empoderar as pessoas, incluindo
as mulheres e apontar medidas para um Estado social, que valoriza a saúde e educação
financiadas através de impostos e proibição do trabalho infantil.
14. Defende que sem democracia não há socialismo.

JEAN JAURÈS: socialismo parlamentar


1. As suas ideias políticas baseavam-se numa formação humanista, idealista, republicana
e laica. Preconizava um socialismo humano, democrático, na tradição ocidental e da
Revolução Francesa (socialismo que fosse um complemento da Revolução Francesa).
2. Preconizava uma síntese entre o materialismo e o idealismo: são as ideias que
comandam a evolução histórica. Os fenómenos económicos, não podem, por si só,
explicar as formas da atividade intelectual, moral e religiosa da Humanidade. O motor
da história não é a luta de classes nas relações de produção.
3. Entende que há várias classes e entre todas há ligações, interesses comuns,
transigências.
4. Não há empobrecimento crescente do proletariado, que tem visto melhorar a sua
condição económica e social e então não há previsão para a queda do capitalismo.
5. Rejeita as teses extremas do socialismo revolucionário de Marx e do reformismo gradual
de Bernstein: situa-se entre estas duas posições: evolução revolucionária em
democracia.
6. Estado neutro, em que cada fase história exprime a relação das classes: hoje reflete a
primazia dos proprietários e no futuro podem ser os proletários. Então, só em caso
extremo se deverá lançar uma insurreição violenta.
7. Considera que a evolução para o socialismo é inevitável.
8. Defende a verdadeira sociedade socialista: vigora a soberania do trabalho, onde se
atinge o fim da exploração capitalista e onde a propriedade dos meios de produção é
pública. A forma de chegar a esta sociedade assenta numa transformação progressiva,
em democracia, do capitalismo em socialismo – socialismo parlamentar, onde a luta de
classes deve ser substituída pela luta de partidos.
9. Como se dá a transformação do capitalismo em socialismo, no quadro do regime
democrático?
✓ Através da democracia e do sufrágio universal;
✓ Legislação social que faça progredir a justiça.
✓ Através de imposto – instrumento da coletivização.
10. Vantagens da democracia:
✓ Assegurar a liberdade individual;
✓ Protege os capitalistas contra os riscos da violência e da surpresa;
✓ Aos trabalhadores, dá-lhes possibilidade de irem vencendo obstáculos e
conquistando mais benefícios e vantagens.
11. Influenciou o desenvolvimento de políticas sociais.

NOTA: após os anos 80, surge o neoliberalismo, em que o estado apenas é regulador e não
presta serviços. Além disto, o século XX é confuso, pois temos a convivência de perspetivas
diferentes acerca do que é a política e do que é o Estado: há estados constitucionais,
representativos e de Direito e os Estados Fascistas, tendo na base conjunto de conceções
políticas diferentes.

ESTADOS FASCISTAS
Existem ideias fascistas em sentido amplo – tentativa de construir um regime anti-liberal e anti-
comunista, assente num Estado forte, usando contra a democracia liberal e contra o comunismo
um modelo de Estado inspirado no modelo soviético (referido mais à frente) e temos o modelo
do fascismo italiano e do nacional socialismo, que são ideias em sentido estrito. Há grandes
contradições e diferenças entre estes modelos.

Contextualização: Nos finais do século XIX e início do século XX, predomina uma crise
económica, desenvolvem-se questões e preocupações sociais, desenvolvendo-se as ideias
socialistas e acontece a Primeira Guerra Mundial.

Fascismo manifesta-se pela primeira vez em Itália: fundado em 1919. O Fascismo foi-se
alargando a outros regimes e países que adotaram conceções de poder relacionadas com esta
matriz, em que vigoravam ideias racistas, corporativistas, etc. Exemplo: Alemanha, com Hitler,
através do Nacional-Socialismo (Nazismo).

Os fascismos são regimes antiliberais e opõem-se ao Comunismo e ao Estado Liberal, propondo


um diferente tipo de Estado: forte, totalitário, que, apesar de diferente, usa alguns aspetos
comuns ao soviético: partido único; propaganda para espalhar a ideologia e influenciar o povo;
concentração de poderes; limitação das liberdades, controlo político da economia e da vida
privada.

Tanto num caso como noutro (Fascismo e Nacional-Socialismo) há aceitação da violência;


desrespeito da democracia liberal; importância do partido (único); exaltação do Estado e
exaltação do Chefe, que é visível na figura dos líderes carismáticos.

Alguns autores acentuam que o Fascismo é assente num estado forte e que o nacional-
socialismo assenta na ideia de raça.

MUSSOLINI: anos: 1883-1945 – Partido Nacional Fascista


1. 1919: funda e torna-se o chefe do Partido Nacional Fascista.
2. 1922: marcha sobre Roma que lhe permite tomar o poder pela força, construindo e
edificando o Estado Fascista Italiano.
3. Desenvolveu a teoria do corporativismo: as forças económicas e sociais devem ser
organizadas por associações, de acordo com as suas características. Agrupa, então, 22
corporações, cada uma dirigida por um Conselho formado por patrões e trabalhadores.
Em 1929, Mussolini decreta a abolição da Câmara dos Deputados e põe no seu lugar a
Câmara dos Fáscios e das corporações: era a abolição do sufrágio universal, substituído
pelo sufrágio corporativo ou institucional. É um corporativismo de Estado, pois não
representa a auto-direção da economia, mas sim o controlo total da economia pelo
poder político. Através das corporações, o Estado controla a economia e a sociedade.
4. Defende uma conceção estadista, anti-individualista. Em vez de as pessoas serem o
centro do estado, são apenas um elemento do estado. É o contrário da filosofia liberal
em que o poder era limitado pelos Direitos das pessoas.
5. O estado é uma unidade ética, tem espécie de vida própria.
6. Do ponto de vista político há concentração de poderes pelo chefe que é o líder do
partido.
7. Existe restrição das atividades políticas e laborais; criação de polícia secreta; partido
único e rejeição da separação de poderes.

HITLER: anos: 1889-1945 – Partido Nacional Socialista Alemão


1. Campanha eleitoral vigorosa, que o faz ganhar as eleições em 1933, tornando-se
Chanceler e ascendendo à chefia do Estado em 1934: constrói, então, o Estado
totalitário nazi, preparando a nação para a guerra.
2. Em 1939 faz anexações a territórios estrangeiros, como a Áustria ou a Polónia. – daqui
resulta a Segunda Grande Guerra.
3. Na Alemanha acentua-se o racismo, que se concretiza de modo mais violento contra
judeus – antissemitismo. O racismo assenta na ideia de desigualdade entre as raças,
julgando que há uma raça superior a todas as outras, a raça ariana, cuja missão é
estabelecer a sua superioridade e domínio por todo o mundo. O Estado deve, então, ser
posto ao serviço desta conceção: deve velar pela pureza da raça e pela sua expansão em
todo o mundo.
4. Defende que os homens do mesmo sangue devem pertencer ao mesmo Reich e então,
os não arianos que vivem na Alemanha, particularmente os judeus, devem ser
controlados, condicionados e exterminados; os arianos que vivem fora da Alemanha
devem passar a pertencer à grande nação alemã, para que os países onde eles existem
devem ser anexados pela Alemanha. Isto levou às câmaras de gás e holocausto e à II
Guerra Mundial.
5. Concentrou os poderes que pertenciam ao Presidente da República e Primeiro Ministro,
concentrou em si todos os poderes, considerando-se o guia da Alemanha, considerando
se “o poder”. É inspirado no fascismo italiano.
6. Acentua e exalta a figura do chefe ao ponto de este ser o critério de decisão. O partido
e Estado são afastados pelo chefe. O direito não limita o poder, está ao serviço do poder
e é usado como o chefe quer.
7. O sistema político assenta na mobilização das pessoas, numa mobilização política forte.
8. O poder deve corresponder à realização da ideologia. É totalitário, pois não é uma
república, monarquia, um despotismo, é um totalitarismo, em que não há só medo, é
algo mais intenso, como terror. A essência do governo totalitário é o terror e a
importância da ideologia.

Os regimes totalitários de extrema-direita nascem, como percebemos, dos dois países que
vivem intensamente a Primeira Guerra Mundial: Alemanha que é humilhada por ter sido
derrotada e Itália que fica enfraquecida. Vivia-se, em ambos, uma crise económica, com alta
inflação, desemprego e fome e uma grave crise política, com instabilidade governativa, fraqueza
e impotência da democracia parlamentar liberal para fazer frente aos problemas económicos e
sociais e à ameaça dos partidos comunistas que começavam a tornar-se fortes – medo e força
crescente do anti-comunismo.

Influências doutrinárias e ideológicas:

✓ Nacionalismo defendia a teoria da autarcia económica, que defendia que os Estados se


deviam tornar economicamente autossuficientes;
✓ Culto do Estado;
✓ Belicismo;
✓ Corporativismo;
✓ Racismo;
✓ Conceção do super-homem.

ASPETOS COMUNS AO FASCISMO E NAZISMO


1. Primado da ação: doutrinas que tendem a desvalorizar o aspeto intelectual ou
ideológico da política, para acentuar o primado da ação.
2. Aceitação da violência: ambos aceitam a necessidade de violência, quer para opor a
outras formas de violência, quer para tomar o poder e mantê-lo.
3. Doutrina de governo minoritário: o poder deve pertencer aos melhores, aos mais
capazes, independente de resultados eleitorais.
4. Desprezo pela democracia liberal: consideram-na um mau regime, um regime incapaz,
fraco e débil.
5. Exaltação do Estado: o Estado é o valor supremo e coloca-se acima do indivíduo. É o
transpersonalismo, que se contrapõe ao personalismo, para o qual a pessoa humana
vale mais do que o Estado e que o Estado serve para servir a pessoa humana. Pelo
contrário, o transpersonalismo defende que os indivíduos devem servir o Estado. Este
Estado omnipotente e totalitário transcende a vida política e invade a economia,
cultura, religião e a vida familiar.
6. Centralização e concentração de poderes: defendem a submissão dos poderes do
Estado ao Governo; a supressão dos órgãos municipais eleitos e a sua substituição por
delegados nomeados pelo Governo Central; censura à imprensa; controlo do Estado
sobre os sindicatos e associações patronais; enquadramento estatal da juventude;
multiplicação de polícias secretas e milícias especiais. Dá origem a um Estado
totalmente centralizado, um poder totalmente concentrado.
7. O chamado “Fuhrerprinzip”: nação e estado reconhecem-se num homem que assume
uma chefia carismática. Estabelece-se uma relação direta entre ele e o povo e assume-
se como um condutor (Duce em Itáliano e Fuhrer em Alemão).
8. Novas conceções do Direito e da Justiça: o Direito é manifestação do espírito do povo,
captado e interpretado pelo chefe. O Direito, público e privado, deve afirmar e garantir
o primado dos interesses e necessidades do povo como comunidade. É lícito o que traz
vantagem ao povo e ilícito o que o prejudique.

NOTA: Século XIX - liberalismo e desenvolvimento das ideias socialistas em consequência da


industrialização.
Século XX – modelo de estado constitucional: liberdade, separação e interdependência de
poderes, limitação do poder.

A seguir à II guerra mundial surge uma crítica ao totalitarismo e defesa da democracia.


Muito do pensamento político surgiu daqui: a partir da segunda guerra mundial surge a proteção
dos direitos humanos, como a Declaração dos Direitos Humanos. Desenvolvem-se, então,
tratados e declarações que protegem os Direitos Humanos. Surge, também, o Conselho da
Europa onde se insere o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

Depois da II guerra mundial discute-se se haverá o fim das ideologias, mas também é na
altura em que se desenvolve novas ideologias, como a proteção do meio ambiente, as ideologias
ecologistas.

A corrente/pensamento liberal continuou a desenvolver-se, defendendo que o Estado


deve promover igualdades e liberdades: autores igualitários. Há autores que defendem mais a
liberdade e condenam a intervenção económica: são autores libertários: exacerbam a liberdade,
como Hayek, Nozick. Há pensadores que defendem que os pensadores liberais pensam muito
individualmente e se esquecem que vivem em sociedade e, defendem que o Estado deve
valorizar a comunidade e não os indivíduos sozinhos: autores comunitaristas, como Taylor.

Todos estes autores acabam por influenciar a conceção do Estado e a sua influência e
intervenção.

Após a II Guerra Mundial, estaríamos a agir para um modelo de vida em que se pressupõe o
bem-estar e os grandes choques ideológicos ter-se-iam esbatido. Estaríamos a ir para uma
cultura comum.

Fukuyama suscita a ideia do fim da História, defendendo que haverá um estilo de vida que será
partilhado por todos. Mas esta hipótese não tem aderência à realidade. Uma coisa é dizer que
desapareceu uma certa ideologia, outra é dizer que deixamos de ter ideologias: continuamos a
ter ideologias novas e não o seu fim. A ideia de que estamos a conduzir para um só modelo
também tem críticas, pois continua a haver contradições fortes, como a nível de religião.

A ideologia é neutra, não é boa nem má; é um sistema de crenças que não é meramente
abstrato. Pretende orientar a ação política, dar um modelo de vida que as pessoas implementem
em termos políticos. Mas, há um sentido negativo de ideologia: como estratégia de dominar ou
oprimir as pessoas, como nos regimes totalitários e como estratégia de mistificação da
realidade. Na Ciência política, usa-se o sentido neutro.

As ideologias ajudam a perceber a vida política, mas não são meramente ideias, são ideias com
peso social, o que significa que orientam a ação política. Professor Adriano Moreira diz que as
ideologias implicam adesão emocional, não é algo completamente racional.

Nota: Não há apenas ideologias políticas, mas a para a Ciência política são estas que interessam,
pois são orientadas para a luta, conquista e manutenção e exercício do poder político.

As ideologias mudam ao longo da história, tal como mudam as pessoas, a história e os seus
objetivos: acabam por ser uma visão partilhada sobre o que é ou devia ser o mundo, num
determinado momento e contexto histórico. Ideologias fazem todo o sentido no contexto
democrático, porque a democracia é caracterizada por pluralidade de ideologias, em que se
pode discutir e contrapor ideologias. A democracia favorece a existência de muitas ideologias e
estas fazem mover a democracia, pois há muitas ideias acerca do que é o Estado.
Como vamos organizar as ideologias? Uma das classificações é a distinção entre direita e
esquerda. Outra distinção é organizar as grandes ideologias em três grupos: o liberalismo
(defesa da liberdade individual, como valor fundamental), socialismo (ideia da igualdade social)
e conservadorismo (o que une os pensadores conservadores é o medo mudança, defendem a
tradição), que funcionam como macro ideologias e dentro destes grupos temos ideologias
diferentes. Por exemplo: dentro do liberalismo podemos ter o liberalismo clássico ou
neoliberalismo; o socialismo pode ser o comunismo ou socialismo democrático.

Distinção entre esquerda e direita: o que está à esquerda e à direita num país pode ser diferente
de outro. A esquerda é mais igualitária e direita menos; esquerda mais igualdade social e direita
com critérios menos abrangentes sobre isso; esquerda não defende tanto a propriedade
privada, tal como faz a direita; esquerda: planificação económica e direita liberdade do mercado;
esquerda acentua mais a prestação coletiva de serviços e a direita o contrário. Ou seja, a direita
é um espaço político onde se conservam valores tradicionais, e a esquerda é um espaço político
onde se substitui os valores antigos por novos e se pretende melhorar a situação dos cidadãos.
O espaço político pode ser preenchido por partidos ou ideologias.

Dia 27/10/2021

Política
Forma de Estado: articulação entre os três elementos – povo, território e poder político.

Forma de governo é um modo concreto de uma comunidade organizar o seu poder político e
estabelecer, em concreto, a distinção entre governantes e governados. Estas formas de governo
tentam responder com legitimidade do poder, da liberdade política em concreto. Pode ser
República ou Monarquia.

Regime político: conjunto de instituições políticas por meio das quais um Estado se organiza de
maneira a exercer o seu poder sobre a sociedade, ou seja, é a forma como o poder é exercido.

Sistema de governo: corresponde à ideia de que há diferentes organizações no modo como o


governo determina as suas decisões. É o modo como os órgãos se relacionam entre si,
concretização entre competências e relações entre os principais órgãos políticos do Estado,
como o Parlamento e o Governo. Há diferentes relações entre os órgãos que têm função de
governo:

Três sistemas de governo: Sistema parlamentar, presidencial e semipresidencial:

Sistema parlamentar: o centro é o parlamento, e o governo está presente no parlamento, sai


do mesmo, tendo uma responsabilidade que é, fundamentalmente, perante os deputados.
Exemplo: Alemanha. O chefe de estado tem funções que não são de responsabilização do
governo, este não tem poder político ativo, apenas poder simbólico. É através do parlamento e
apenas através deste que se formam as soluções do governo e o governo é apenas responsável
perante o parlamento, ou seja, o governo pode ser destituído, apenas, pelo parlamento. É o
governo que tem a centralidade das medidas que são tomadas. Há dois órgãos com poder
político ativo: parlamento e governo. O chefe de Estado tem apenas poder simbólico.

Sistema presidencial: sistema de governo americano, em que o presidente da república assume


a função executiva (que é distinta da função parlamentar) e presidencial. O presidente é o chefe
do executivo e o parlamento determina a legislação. Ou seja, não existe governo autónomo nem
responsabilidade política entre o Chefe de Estado e o Parlamento, não se podem destituir um
ao outro. Pode haver, neste sistema, bicameralismo: duas câmaras distintas entre si, a câmara
alta e a câmara baixa, com funções de natureza legislativa.

Sistema semipresidencial: exemplo de França e Portugal. Apesar de o presidente da república


não ter funções executivas, o governo é duplamente responsável perante o presidente da
república e parlamento. Ou seja, o governo pode ser destituído pelo Parlamento e pelo chefe de
Estado. O presidente pode ir às reuniões do conselho de ministros se for convidado pelo
governo. Em França o primeiro ministro preside ao governo, mas é o presidente da república
que preside ao conselho de ministros, e que também representa França exteriormente.

PORTUGAL

Portugal é um Estado unitário - o poder político (executivo e legislativo) é central. No entanto,


possui um cariz parcialmente regional, pois admite a existência de autonomias insulares
(Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira). A descentralização do poder pode ser
administrativa, quando se fala das autarquias locais - poder único com fenómenos de
descentralização para as autarquias; e fenómenos de descentralização política que dá origem a
regiões políticas nas Regiões Autónomas, que têm governo próprio com poder legislativo.

Temos um Estado de direito democrático, de acordo com o qual o nosso Estado está sujeito às
regras do Direito que são democraticamente limitadas, em primeira via pela Assembleia da
República, mas também pelo Governo, que tem dupla responsabilidade política, perante o
Parlamento e o Presidente da República.

Os órgãos de soberania no nossos sistema são: Presidente da República; Assembleia da


República (parlamento); governo e tribunais.

Esta divisão corresponde a uma separação de poderes entre poder legislativo: assembleia e
governo; judicial: tribunais; executivo: governo.

O Presidente da República

• Tem poder moderador, regula as instituições democráticas.


• Representa a República Portuguesa, garante a independência nacional, a unidade do
Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas e é, por inerência,
Comandante Supremo das Forças Armadas. – Artigo 120 da CRP.
• É eleito por períodos de cinco anos por sufrágio universal direto e secreto, dos cidadãos
portugueses eleitores recenseados no território nacional, bem como dos cidadãos
portugueses residentes no estrangeiro (artigo 121), podendo ser eleito para presidente
da República todos os cidadãos eleitores portugueses de origem, maiores de 35 anos. –
Artigo 122 da CRP.
• O Presidente da República não pode ser reeleito por mais de 2 mandatos consecutivos.
Não é admitida a reeleição para um terceiro mandato consecutivo, nem durante o
quinquénio imediatamente subsequente ao termo do segundo mandato consecutivo. –
Artigo 123 da CRP.
• As candidaturas a PR têm de ter um conjunto de assinaturas de cidadãos eleitores:
mínimo 7500 e máximo de 15000. – Artigo 124, nº1 da CRP. Estas assinaturas devem ser
apresentadas no Tribunal Constitucional, até trinta dias antes da data marcada para a
eleição. – Artigo 124, nº2 da CRP.
• É eleito por um sistema eleitoral maioritário. É eleito presidente o candidato que tiver
mais de metade dos votos, sendo os votos em branco desconsiderados e se não houver
maioria na primeira volta, tem de haver uma segunda volta. – Artigo 126 da CRP.
• O mandato do Presidente da República tem a duração de cinco anos e termina com a
posse do novo Presidente eleito. Em caso de vagatura, o Presidente da República a
eleger inicia um novo mandato. Artigo 128.
• No Artigo 133 da CRP percebemos as competências do Presidente da República:
a) Presidir ao Conselho de Estado;
b) Marcar, de harmonia com a lei eleitoral, o dia das eleições do Presidente da
República, dos Deputados à Assembleia da República, dos Deputados ao Parlamento
Europeu e dos deputados às Assembleias Legislativas das regiões autónomas;
c) Convocar extraordinariamente a Assembleia da República;
d) Dirigir mensagens à Assembleia da República e às Assembleias Legislativas das regiões
autónomas;
e) Dissolver a Assembleia da República, observado o disposto no artigo 172.º, ouvidos
os partidos nela representados e o Conselho de Estado;

f) Nomear o Primeiro-Ministro, nos termos do n.º 1 do artigo 187.º : deve ouvir os


partidos da assembleia e ter em conta os resultados eleitorais;
g) Demitir o Governo, nos termos do n.º 2 do artigo 195.º (quando se torne necessário
para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o
Conselho de Estado), e exonerar o Primeiro-Ministro, nos termos do n.º 4 do artigo
186.º; Em caso de demissão do governo, o Primeiro-Ministro do governo cessante é
exonerado na data de nomeação e posse do novo Primeiro-Ministro (artigo 186, nº4).
h) Nomear e exonerar os membros do Governo, sob proposta do Primeiro-Ministro;
i) Presidir ao Conselho de Ministros, quando o Primeiro-Ministro lho solicitar;
j) Dissolver as Assembleias Legislativas das regiões autónomas, ouvidos o Conselho de
Estado e os partidos nelas representados, observado o disposto no artigo 172.º, com as
necessárias adaptações;
l) Nomear e exonerar, ouvido o Governo, os Representantes da República para as
regiões autónomas;
m) Nomear e exonerar, sob proposta do Governo, o presidente do Tribunal de Contas e
o Procurador-Geral da República;
n) Nomear cinco membros do Conselho de Estado e dois vogais do Conselho Superior
da Magistratura;
o) Presidir ao Conselho Superior de Defesa Nacional;
p) Nomear e exonerar, sob proposta do Governo, o Chefe do Estado-Maior-General das
Forças Armadas, o Vice-Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, quando
exista, e os Chefes de Estado-Maior dos três ramos das Forças Armadas, ouvido, nestes
dois últimos casos, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

Nota: o facto de a Assembleia da República ser dissolvida não quer dizer que os
deputados percam o estatuto de deputados e que o governo deixe de estar ativo.

Governo
• O Governo é o órgão de condução da política geral do país e o órgão superior da
administração pública. Artigo 182
• Artigo 183: O Governo é constituído pelo Primeiro-Ministro, pelos Ministros e pelos
Secretários e Subsecretários de Estado.
• Artigo 186:
1. As funções do Primeiro-Ministro iniciam-se com a sua posse e cessam com a sua
exoneração pelo Presidente da República.
2. As funções dos restantes membros do Governo iniciam-se com a sua posse e cessam
com a sua exoneração ou com a exoneração do Primeiro-Ministro.
3. As funções dos Secretários e Subsecretários de Estado cessam ainda com a
exoneração do respetivo Ministro.
4. Em caso de demissão do Governo, o Primeiro-Ministro do Governo cessante é
exonerado na data da nomeação e posse do novo Primeiro-Ministro.
5. Antes da apreciação do seu programa pela Assembleia da República, ou após a sua
demissão, o Governo limitar-se-á à prática dos atos estritamente necessários para
assegurar a gestão dos negócios públicos.

• Artigo 187:
1. O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos
representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais.
2. Os restantes membros do Governo são nomeados pelo Presidente da República, sob
proposta do Primeiro-Ministro.
• Artigo 188: Do programa do Governo constarão as principais orientações políticas e
medidas a adotar ou a propor nos diversos domínios da atividade governamental. Artigo
192: 1. O programa do Governo é submetido à apreciação da Assembleia da República,
através de uma declaração do Primeiro-Ministro, no prazo máximo de dez dias após a
sua nomeação e 4. A rejeição do programa do Governo exige maioria absoluta dos
Deputados em efetividade de funções, ou seja, 116 deputados.
Na altura de discussão do programa de governo, qualquer partido pode impor a sua
rejeição e o governo pode pedir uma moção de confiança à Assembleia da República e
para que esta seja aceite tem de haver maioria relativa. – artigo 193. Mas, poderá ser
também a Assembleia da República a votar moções de censura ao Governo sobre a
execução do seu programa ou assunto relevante de interesse nacional e esta moção de
censura é votada por maioria absoluta, então é preciso que haja 116 votos a favor da
aprovação desta, que, assim, rejeitará o programa de governo. – artigo 194.
• Artigo 190: O governo é responsável perante o Presidente da República e a Assembleia
da República. Ou seja, o PR e a AR podem demitir o governo.
• Artigo 195: 1. Implicam a demissão do Governo: a) O início de nova legislatura; b) A
aceitação pelo Presidente da República do pedido de demissão apresentado pelo
Primeiro-Ministro; c) A morte ou a impossibilidade física duradoura do Primeiro-
Ministro; d) A rejeição do programa do Governo; e) A não aprovação de uma moção de
confiança; f) A aprovação de uma moção de censura por maioria absoluta dos
Deputados em efetividade de funções.
2. O Presidente da República só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário
para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o
Conselho de Estado.
Tribunais

• Artigo 202:

1. Os tribunais são os órgãos de soberania com competência para administrar a justiça


em nome do povo.
2. Na administração da justiça incumbe aos tribunais assegurar a defesa dos direitos e
interesses legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade
democrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e privados.
• Os tribunais são independentes e apenas estão sujeitos à lei. Nos feitos submetidos a
julgamento não podem os tribunais aplicar normas que infrinjam o disposto na
Constituição ou nos princípios nela consignados.

Assembleia da República

• Artigo 147: A Assembleia da República é a assembleia representativa de todos os


cidadãos portugueses.
• Artigo 148: A Assembleia da República tem o mínimo de cento e oitenta e o máximo de
duzentos e trinta Deputados, nos termos da lei eleitoral.
• Artigo 150: São elegíveis os cidadãos portugueses eleitores, salvas as restrições que a lei
eleitoral estabelecer por virtude de incompatibilidades locais ou de exercício de certos
cargos.
• Artigo 171:
1. A legislatura tem a duração de quatro sessões legislativas (ou seja, 4 anos).
2. No caso de dissolução, a Assembleia então eleita inicia nova legislatura cuja duração
será inicialmente acrescida do tempo necessário para se completar o período
correspondente à sessão legislativa em curso à data da eleição.
• Artigo 172:
1. A Assembleia da República não pode ser dissolvida nos seis meses posteriores à sua
eleição, no último semestre do mandato do Presidente da República ou durante a
vigência do estado de sítio ou do estado de emergência.
3. A dissolução da Assembleia não prejudica a subsistência do mandato dos Deputados,
nem da competência da Comissão Permanente, até à primeira reunião da Assembleia
após as subsequentes eleições.
• Artigo 179:
1. Fora do período de funcionamento efetivo da Assembleia da República, durante o
período em que ela se encontrar dissolvida, e nos restantes casos previstos na
Constituição, funciona a Comissão Permanente da Assembleia da República.
2. A Comissão Permanente é presidida pelo Presidente da Assembleia da República e
composta pelos Vice-Presidentes e por Deputados indicados por todos os partidos, de
acordo com a respetiva representatividade na Assembleia.
• Artigo 180: 1. Os Deputados eleitos por cada partido ou coligação de partidos podem
constituir-se em grupo parlamentar.
• Orçamento de Estado

Artigo 105: 1. O Orçamento do Estado contém:

a) A discriminação das receitas e despesas do Estado, incluindo as dos fundos e serviços


autónomos; b) O orçamento da segurança social.

2. O Orçamento é elaborado de harmonia com as grandes opções em matéria de planeamento


e tendo em conta as obrigações decorrentes de lei ou de contrato.

3. O Orçamento é unitário e especifica as despesas segundo a respetiva classificação orgânica e


funcional, de modo a impedir a existência de dotações e fundos secretos, podendo ainda ser
estruturado por programas.

4. O Orçamento prevê as receitas necessárias para cobrir as despesas, definindo a lei as regras
da sua execução, as condições a que deverá obedecer o recurso ao crédito público e os critérios
que deverão presidir às alterações que, durante a execução, poderão ser introduzidas pelo
Governo nas rubricas de classificação orgânica no âmbito de cada programa orçamental
aprovado pela Assembleia da República, tendo em vista a sua plena realização.

O Orçamento de Estado deve entrar em vigor em janeiro. Primeiro vota-se na generalidade,


depois na especialidade e depois há uma votação global. Se houver maioria contrária ao
orçamento, este não pode voltar a ser discutido e chumba.

Neste caso que Portugal está a viver, se o orçamento não for aprovado, o Presidente da
República vai dissolver a assembleia da república: há uma interrupção do mandato do
parlamento que é eleito por 4 legislaturas. Dissolver a Assembleia implica marcar eleições.

Casos de dissolução da Assembleia da República:

1. Governo inicial de Cavaco Silva (moção de censura da Assembleia que foi aprovada) –
apresentação de uma associação de governo para governação (PS, PCP e PRD) – Mário
Soares, Presidente da República, convoca eleições.
2. Fim do segundo governo de José Sócrates: governo termina na sequência da não
aprovação do pacto de estabilidade e desenvolvimento – o Primeiro Ministro pede a
demissão e o Presidente da República dissolve o Parlamento.
3. Pedro Santana Lopes: Jorge Sampaio enquanto Presidente da República dissolve a
Assembleia da República, mas não demite o governo; este apresenta por sua vontade a
demissão.

A Assembleia da República estar dissolvida não implica que o governo seja demitido. Não parece
que o Presidente da República vá demitir o governo, pois para o fazer tinha de estar em causa o
funcionamento das instituições democráticas.

Consequência de o orçamento não ser aprovado: país passa a partir de 1 de janeiro a viver em
regime de duodécimos: o orçamento é previsão de despesas e receitas e as despesas são
previstas para o ano inteiro e quando se vive em situação de duodécimos só se pode gastar um
pouco em cada mês, 1/12 em cada mês. Por o orçamento não ter sido aprovado, temos de ter
um orçamento no dia 1 de janeiro e como este, novamente, não foi aprovado, continua em
funcionamento o orçamento de 2020 para 2021 e depois em cada um dos meses pode-se aplicar
1/12 da despesa que estava prevista para o ano anterior.
Nota: Para que haja um grupo parlamentar tem de haver, no mínimo, 2 deputados. Por outro
lado, os grupos parlamentares representam partidos que foram a eleições, mas em caso de
coligações pode haver mais do que um grupo parlamentar na mesma coligação.

A Assembleia da República e governo têm funções distintas e modos de função distintas. A


Assembleia tem função política e legislativa (artigo 161) e função de controlo de natureza
política e é a assembleia representativa de todos os portugueses. Por sua vez, o governo é o
órgão de condução da política geral do país e o órgão superior da administração pública; tem
também função legislativa, em matérias não reservadas à Assembleia da República e
competência administrativa e poder executivo (artigos 198 e 199).

Ao contrário da Assembleia da República, não há eleição do governo, este é escolhido pelo


Presidente da República. Existe uma necessidade de submeter o programa de governo à
Assembleia da República e só depois do programa ser discutido e aprovado na AR é que começa
o total exercício das funções do governo.

NOTAS:

• É possível que se dissolva a AR e tenha de se convocar eleições e se mantenha o governo


em plenitude, pois são órgãos de soberania diferentes.
• O governo é demitido quando toma posse outro governo.
• Se houver dissolução da Assembleia o governo não pode apresentar outro orçamento.
• A AR quando dissolvida passa a funcionar em comissão permanente (artigos 172 e 173),
o que não prejudica o mandato dos deputados; a AR deixa de reunir em plenário e sim
em comissões permanentes, onde estão representantes de todos os partidos – artigo
179. Esta deixa de ter poder legislativo quando dissolvida e só voltará a ter quando for
eleita outra AR.
• Ao votar para a AR não se esta a eleger o governo, mas sim deputados.
• O governo depende da ar. A demissão do governo pode ser feita pelo parlamento (AR)
e pelo Presidente da República.
• É possível ter assembleia dissolvida e governo em funções.

Art 133 e 195

Órgãos de soberania que são eleitos: Assembleia da República e Presidente da República.

A AR e seus deputados são eleitos por círculos eleitorais geograficamente definidos na lei, a qual
pode determinar a existência de círculos plurinominais e uninominais, bem como a respetiva
natureza e complementaridade, por forma a assegurar o sistema de representação proporcional
e o método da média mais alta de Hondt na conversão dos votos em número de mandatos. 2. O
número de Deputados por cada círculo plurinominal do território nacional, excetuando o círculo
nacional, quando exista, é proporcional ao número de cidadãos eleitores nele inscritos. – Artigo
149. As candidaturas são apresentadas, nos termos da lei, pelos partidos políticos, isoladamente
ou em coligação, podendo as listas integrar cidadãos não inscritos nos respetivos partidos. -
artigo 151. Artigo 153: 1. O mandato dos Deputados inicia-se com a primeira reunião da
Assembleia da República após eleições e cessa com a primeira reunião após as eleições
subsequentes, sem prejuízo da suspensão ou da cessação individual do mandato. Artigo 156:
poderes dos deputados: a) Apresentar projetos de revisão constitucional; b) Apresentar projetos
de lei, de Regimento ou de resolução, designadamente de referendo, e propostas de deliberação
e requerer o respetivo agendamento; c) Participar e intervir nos debates parlamentares, nos
termos do Regimento; d) Fazer perguntas ao Governo sobre quaisquer atos deste ou da
Administração Pública e obter resposta em prazo razoável, salvo o disposto na lei em matéria
de segredo de Estado; e) Requerer e obter do Governo ou dos órgãos de qualquer entidade
pública os elementos, informações e publicações oficiais que considerem úteis para o exercício
do seu mandato; f) Requerer a constituição de comissões parlamentares de inquérito; g) Os
consignados no Regimento.

As competências da AR estão no artigo 161.

Com a dissolução, como já foi dito, o mandato dos deputados não fica prejudicado e inicia-se a
15 de setembro, terminado a 15 de junho. - artigo 174

Conselho de Estado, órgão político de consulta do Presidente da República. O facto de o


conselho de estado ser um órgão de consulta não quer dizer que o Presidente da República
tenha de seguir, obrigatoriamente, o que ele diz. O Conselho de Estado é presidido pelo
Presidente da República e composto pelos seguintes membros:

a) O Presidente da Assembleia da República; b) O Primeiro-Ministro; c) O Presidente do Tribunal


Constitucional; d) O Provedor de Justiça; e) Os presidentes dos governos regionais; f) Os antigos
presidentes da República eleitos na vigência da Constituição que não hajam sido destituídos do
cargo; g) Cinco cidadãos designados pelo Presidente da República pelo período correspondente
à duração do seu mandato; h) Cinco cidadãos eleitos pela Assembleia da República, de harmonia
com o princípio da representação proporcional, pelo período correspondente à duração da
legislatura. – artigo 142.

Compete ao Conselho de Estado: a) Pronunciar-se sobre a dissolução da Assembleia da


República e das Assembleias Legislativas das regiões autónomas; b) Pronunciar-se sobre a
demissão do Governo, no caso previsto no n.º 2 do artigo 195.º; c) Pronunciar-se sobre a
declaração da guerra e a feitura da paz; d) Pronunciar-se sobre os atos do Presidente da
República interino referidos no artigo 139.º; e) Pronunciar-se nos demais casos previstos na
Constituição e, em geral, aconselhar o Presidente da República no exercício das suas funções,
quando este lho solicitar. – artigo 145.

Nota: PM é responsável perante o PR e AR; e os ministros são responsáveis perante o PM e AR;


e os secretários de estado são responsáveis perante o PM e o respetivo ministro. Quando um
ministro se demite, os secretários de estado desse ministro também vão embora. – artigo 191.

Aula prática 2/11/2021

NOTA: COMO POR ARTIGOS NO EXAME? Usar a sigla CRP e o artigo pode ser colocado, por
exemplo, 133º/1/a

Caso prático número 1:

• Quid iuris? Qual Direito?


1. De acordo com o artigo 133, alínea e), o Presidente tem competência para dissolver a
assembleia da República. Mas, esta competência tem de ir em encontro com o artigo
172, em que esta não pode ser dissolvida nos seis meses posteriores à sua eleição, no
último semestre do mandato do Presidente da República e só a pode dissolver depois
de os partidos representados na assembleia e o Conselho de Estado (artigo 133, alínea
e). Se o conselho de estado não concordar com a decisão do Presidente da República,
nada acontece, pois este é apenas órgão consultivo.
2. Neste caso em concreto o requisito temporal, o do último semestre do mandato, tem
de ser respeitado e não está a ser, pois quer dissolver a assembleia no último dia do seu
mandato.
3. O Presidente decide dissolver a assembleia, da maneira correta, se não respeitar a
maneira correta aplica-se o Artigo 172, alínea 2. O Ministro da defesa não aceita a
decisão porque o governo não foi demitido e por isso não pode haver eleições, o que é
uma ideia errada.
Que efeitos tem a dissolução da assembleia no exercício do poder do governo?
Nenhuma.
A causa de demissão do governo é o início da nova legislatura – há eleições legislativas
e com a nova legislatura o “governo cai” – artigo 195 nº1, alínea a. O governo não cai
com a dissolução da assembleia. Se o governo se demitir pode haver legislativas ou
então pode se formar uma nova maioria dentro do governo já existente. Pode haver
governo sem assembleia durante 60 dias.
Estando a assembleia dissolvida não deixamos de ter o parlamento, apenas a assembleia
deixa de funcionar em plenário, e começa a funcionar em comissão permanente: artigo
179.
4. A única forma de interromper a legislatura é dissolver a assembleia que é competência
exclusiva do PR. Se o PR tiver a ser substituído, quem o tiver a substituir não pode
dissolver a AR (artigo 139). A comissão permanente não pode rever a
constitucionalidade.
5. Portanto, este projeto não deve andar para a frente.
6. Os decretos de lei são aprovados pelo governo e estes não têm de passar pela
assembleia e assim o governo pode ou não aprovar estes.

Caso prático número 2:

• Quid iuris?
1. Presidente da República, depois das autárquicas nomeia um PM com quem nunca falou.
2. PR nomeia o PM – artigo 133 e 187. Apesar de ser um ato próprio do PR, este tem de
ouvir os partidos, mas mesmo que os partidos na assembleia não concordem com a
nomeação ele pode nomear e tem de ter em conta os resultados eleitorais das eleições
legislativas (não das autárquicas). Não é um ato inteiramente livre. A pessoa escolhida
tem de ter viabilidade, não se vai escolher uma pessoa do PAN porque provavelmente
as suas propostas iam ser muitas vezes chumbada.
3. O PR não pode nomear alguém que não conhece, teria de falar primeiro com a
assembleia e depois nomear.
4. O PR só pode demitir o governo quando tal se torne necessário para assegurar o
regulamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado. – Artigo 195.
5. Os restantes membros do governo são nomeados pelo PR, sob proposta do PM. São
pessoas que têm de ser da confiança do PM. Depois de se ter nomeado o governo, este
tem de apresentar o programa de governo que é analisado pela Assembleia da
República, para os 4 anos de legislatura. Tem se considerado que não tem natureza
normativa, ou seja, o Tribunal Constitucional não pode analisar, só tem fiscalização
política pela assembleia e tem de ser submetido no máximo dez dias após a nomeação
do PM – artigo 192. Art.195 - a rejeição do programa de governo implica a demissão do
governo. Este, para ser rejeitado precisa da maioria absoluta dos deputados em
funções, ou seja, precisa de 116 votos contra (assembleia constituída por 230
deputados, portanto a maioria é sempre 116!! Independentemente do nº de pessoas
que esteja no parlamento).
6. O PM ao defender a independência de parte de Portugal não ia em conta ao artigo 6.
7. O governo, ao longo da legislatura, pode pedir uma moção, um voto de confiança à
assembleia. É o momento em que o governo percebe que precisa de reforçar o seu
poder e precisa de saber se tem o apoio da assembleia. Se os deputados não confiarem,
o governo tem de se demitir. Para ser aprovada a moção de confiança, não tem de haver
consenso, tem de haver apenas maioria relativa (mais um voto a favor do número dos
que estão contra e é aprovado). Se houver empate a moção não é aprovada e o governo
cai na mesma. Artigo 193.
8. Neste caso concreto, o governo pede moção de confiança, pois estava num momento
de fragilidade e refere-se que a “moção foi aprovada por 115 deputados”, mas não
sabemos, pois não há referência aos votos contra que houve, pois aqui tem de ser
aplicado o principio da maioria relativa.
9. Moção de censura: assembleia quer censurar o governo, a querer que o governo caia
porque não tem condições para continuar a governar. Só quando é aprovada por
maioria absoluta é que o governo cai, ou seja, quando 116 deputados votam a favor da
moção de censura. Artigo 194.

Caso prático número 3:

• Quid iuris?
1. O Presidente da República demitiu o governo e para isto ser correto é necessário que
tenha ouvido o Conselho de Estado e que esteja em causa o regular funcionamento das
instituições democráticas, o que não é referido no caso prático.
2. No Artigo 123 é referido que o Presidente da República não pode ser reeleito para um
terceiro mandato consecutivo, nem durante o quinquénio imediatamente subsequente
ao termo do segundo mandato consecutivo.
3. No artigo 187, nº2 refere que os membros do governo são nomeados pelo Presidente
da República, sob proposta do PM.
4. A moção de censura não vai implicar a demissão do governo uma vez que não há maioria
absoluta.

Aula teórica 3/11/2021

A matéria que sai no exame é até à quarta feira anterior ao exame.

12 e 24 de novembro não há aula. – substituição no dia….

Aula teórica 5/11/2021


Dia 4 de novembro foi anunciado que o Presidente da República vai dissolver a assembleia da
república a marca eleições legislativas para dia 30 de janeiro. A assembleia vai ter de ser
recomposta.

Chegamos ao fim do Estado? pensou-se esta hipótese por causa da globalização. O Estado
começa a ter menos poderes, pois há questões que só conseguimos resolver a nível global e há
o surgimento de instituições que suga o poder do Estado, como a UE. O Estado está a mudar, a
realidade está diferente, mas não significa que tenha deixado de fazer sentido enquanto
realidade política.

O estado é um tipo de sociedade política, é uma experiência história que pode deixar de existir.
Definimos estado enquanto organização política se tiver três elementos: povo, território e poder
politico. Comunidade de pessoas que se organiza num território para aí exercer o poder político.
Diogo FA refere que o Estado existe para realizar a ideia de projeto social, para o bem comum.
Diferentes teorias sobre o Estado: correntes q o defendem q o estado surge espontaneamente;
produto da sociedade que desejam associar-se – correntes contratualistas: hobbes, lock,
rosseau; a conceção marxista refere que o estado n é independente das relações de produção,
da economia, mas que através da luta de classes se atinge o comunismo e o estado deixa de
fazer sentido – teoria da negação do Estado; os organicistas: deriva de órgão, o nestado é vista
comol uma entidade viva, que ajuda a viver e que precisa de ter diferentes órgãos e tal como as
pessoas vivem e morrem, tmb o estado vive e morre e sofre alterações, o estado é uma realidade
e n uma realidade jurídica; correntes realistas: olham para o estado como um facto, uma
realidade de poder, n tendo dimensão jurídica. enquanto os normativista vêm o Estado como o
direito: estado e direito são a mm coisa, estado é dimensão jurídica. Estas diferentes formas de
olhar paea o estado: estado é simultaneanete uma realidade de poder organizado por normas
jurídicas q n existe no vazio, +e uma cimunidade d pessoas que se organiza, uma realidade social
– estado comunidded vs estado de poder.

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