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EPISTEMOLOGIA GENÉTICA – ISCAT/ MALANJE - 2023/2024

Epistemologia Genética
Introdução
Caro estudante, este conteúdo, vai proporcionar vantagens impares, na medida em que
vai colocar à tona pontos essenciais para a compreensão do pensamento epistemológico a
estudar neste semestre, no que tange à sua gênese, estrutura e articulação dos objectivos do
ensino e aprendizagem.
Ressalta-se que a teoria científica, deve ser incorporada à prática individual ou
colectiva, uma ciência aplicada e edificada na actualidade. Como se sabe, a vida do Homem,
obedece dinâmicas fazendo de si, ser em constante mutação. Por isso, é que o Homem, deve
buscar recursos e estratégias de acção, na tentativa de acompanhar a evolução que se
direcciona paralelamente à educação, ciência e mundo.
A Epistemologia enquanto ciência dontem, mas sobretudo de hoje, procurou se
adaptar e ainda se adapta a novos contextos projectados pela história do conhecimento e saber
humano; enquanto ciência dos porquês quase propõe-se como co-herdeira legítima da
filosofia no questionamento do objecto, natureza, métodos e fins do saber científico.
Na recostrução dos seus aspectos genealógicos evidencia-se a Grécia, berço da
civilização e cultura científica, porem, já um bom tempo para cá, ela deixou de ser apanágio
de uns, para assumir proporções cada vez mais universalista, requisito importante para a sua
autonomia.
O pensar epistemológico, decorre entre polémicas, discussões, levantamento de ideias,
certezas e incertezas, dúvidas e acertos, uma incógnita no caminho crítico e explicativo no
discurso sobre a ciência. Em fim, é tudo na linha da afirmação segundo a qual, o saber, a
ciência e a epistemologia são instrumentos afins direccionados para o aprimoramento do
Homem na busca do conhecimento.
O Homem, distingue-se dos outros animais, porque, enquanto estes limitam-se a
registar as impressões sensíveis e a seguir os instintos imediatos, ele quer conhecer o porquê
das coisas e propõe fins para conseguir. Quanto o porquê das coisas e os fins, assumem um
sentido geral, último, absoluto, ultrapassa-se o horizonte do conhecimento comum e científico
e penetra-se no campo da Filosofia. Ela, representa o esforço para se chegar a uma explicação
exaustiva e concludente da vida, da História e da realidade.
Precisamente ao manifestar-se como reflexão sobre as questões vitais e fundamentais,
a filosofia refere-se íntima e directamente à situações históricas, refletindo as instâncias que

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Elaborado pelo Docente, Manuel Rodrigues dos Santos Pacheco. (Licenciado em Psicologia da
Educacão, Pós- Graduado em Supervisão Pedagógica e Mestrado em gestaõ de R. Humanos.
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delas emergem para a vida de um povo. A filosofia é perspectiva da realidade que a


humanidade forma em determinado momento da sua história.
Não se pode falar de Epistemologia sem antes analizar o conhecimeno, visto que
encontra-se em todas áreas do saber e comstitui o elemento principal no campo da
Epistemlogia. A palavra conhecimento, tem hoje um prestígio científico, que remonta à
tradição filosófica dos pré-socráticos. Mas, é no interior da própria filosofia que existe uma
oposição irreconciliável entre idealistas, materialistas, racionalistas, impiristas, aprioristas e
construtivistas.
O conhecimento constitui um assunto importante em várias áreas do saber, que vão
desde a Matemática à Física da Química à Biologia da Antropologia à história da Pedagogia à
Psicologia etc.
Etimologicamente, o termo conhecimento deriva do latim, apartir dos termos cognitio
e cognescer, que se enraízam nos termos gregos gignosko, e gnosis, que querem dizer,
captação conjunta, compreensão, ter presente na razão o sentido real ou pensamento
verdadeiro. Já no Dicionário de Língua Portuguesa (2011, p.168), refere o conhecimento,
como “conjunto de noções acerca de um assunto”.
A Epistemologia apoia-se em duas actividades conexas, das quais ela permanece,
entretanto, distinta; a história e a sociologia das ciências por um lado, que ela utiliza para
descrever as formas de construção científica.
A epistemologia surgiu com Platão, ele opõe-se a crença ou opinião. A crença é um
determinado ponto de vista subjectivo. O conhecimento é crença verdadeira e justificada. A
teoria de Platão, abrange o conhecimento teórico, considerado como o conjunto de todas
aquelas informações que descrevem e explicam o mundo natural e social que nos rodeia. Este
conhecimento, consiste em descrever, explicar e predizer uma realidade, isto é, analizar o que
ocorre, determinar por que ocorre dessa forma e utilizar estes conhecimentos para antecipar
uma realidade futura.
Esta disciplina (Epistemologia), foi fundada na segunda metade do séc. XIX, e cujo
objecto consiste em submeter a um exame crítico os princípios, as hipóteses e os resultados
das disciplinas científicas, determinar o seu valor lógico e o seu alcance objectivo.
O termo Epistemologia, foi criado pelo filósofo escocês James Frederick Ferrier
(1808–1864), vindo a ser utilizado por James Ward em 1883, e retomada por Baldwin, que
desina desta forma por projecto de construção de uma teoria de conhecimento fundada sobre

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as construções evolucionistas e desenvolvimentalistas enriquecendo o método longitudinal


proposto por Stanley Hal na sua Psicologia Genética.
Jean Piaget, retornou o projecto e integrou dois aspectos no campo da Epistemologia:
filosofia das ciências e teoria do conhecimento. A ambição de Jean Piaget, foi de descrever a
génese dos conhecimentos científicos na espécie humana. Para o autor em referência, a
ontogénese dos conhecimentos científicos, foi considerada como a recapitulação da história
das ciências.

Conceito etimológico

Epistemologia é uma palavra de origem grega:


Episteme (conhecimento) e Logos (estudo, razão, tratado, discurso). Atendendo a
definição etimológica, significa, discurso ou tratado do conhecimento.
Já do vocábulo francês, epistemologie, ao passo que do inglês, epistemology.
É um ramo da Filosofia que trata da natureza, das origens, formas de aquisição e
validade do conhecimento.
- A Epistemologia busca as respostas para as diversas questões do universo. É uma
das principais áreas da Filosofia; é vista como filosofia das ciências.
- Refere-se especificamente à parte da gnosiologia que estuda os requisitos necessários
à produção do conhecimento científico, incluindo os fundamentos, a validade, a consistência
lógica das teorias e os limites. E uma disciplina filosófica interessada na investigação; é tida
como a teoria do conhecimento. Ela relaciona-se com a metafísica, a lógica.
- É o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das diversas
ciências.

Genética é um ramo da Biologia que estuda os processos hereditários, ou seja,


estuda os carateres psicológicos e físicos que um indivíduo herda dos seus progenitores
(herança biológica).
Numa visão geral, a epistemologia genética é uma teoria fundada em uma linha
evolutiva que busca compreender o desenvolvimento do ser humano, ou melhor, a gênese do
conhecimento no ser humano, a partir de suas bases biológicas.

Com isso, a epistemologia genética defende que o conhecimento não pode ser
concebido como algo predeterminado nem nas estruturas internas do sujeito nem nas

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características preexistentes do objecto. Mas, na interacção produzida por ambos (sujeito e


objecto).

Entre as principais questões debatidas pela epistemologia, destacam-se:

 O que é o conhecimento?
 Como obter o conhecimento?

Ante a questão da possibilidade do conhecimento, o sujeito pode tomar diferentes


atitudes:

 Dogmatismo: atitude filosófica pela qual podemos adquirir conhecimentos


seguros e universais e ter certeza disso;
 Cepticismo: atitude filosófica oposta ao dogmatismo, a qual duvida de que seja
possível um conhecimento firme e seguro, sempre questionando e pondo à
prova as ditas verdades. Esta postura, foi foi defendida por Pirro de Élis;
 Relativismo: atitude filosófica defendida pelos sofistas que nega a existência
de uma verdade absoluta e defende a ideia de que cada indivíduo possui sua
própria verdade, que é em função do contexto histórico do indivíduo em
questão;
 Perspectivismo: atitude filosófica que defende a existência de uma verdade
absoluta, mas pensa que nenhum de nós pode chegar a ela senão apenas uma
pequena parte. Cada ser humano, tem uma parcela de verdade. Esta teoria foi
defendida por Nietzsche e notam-se nela ecos do platonismo.

Para Japiassu (1975), refere que há dois tipos de epistemologia:

Global ou geral – trata do saber globalmente considerado, com a virtualidade e os


problemas do conjunto de sua organização, quer sejam especulativos, quer científicos;

Específica – leva em conta uma disciplina intelectualmente constituída em unidade


bem definida do saber e de estudá-la de modo próximo, detalhado e técnico, mostrando sua
organização, seu funcionamento e as possíveis relações que ela mantém com as demais
disciplinas.

A Epistemologia pode dividir-se em dois sentidos básicos:

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a) A crítica do conhecimento científico: exame dos princípios, das hipóteses e das


conclusões das diferentes ciências, tendo em vista determinar seu alcanse e seu valor
objectivo;
b) A filosofia da ciência (impirismo, racionalismo, materialismo, etc) e a história do
desenvolvimento científico.

A E p i s t e m o l o g i a , o b j e c t i v a explica: a continuidade entre processos


biológicos e cognitivos; conhecer, analizar, todo processo gnosiológico do ponto de vista
lógico, linguístico, sociológico, interdisciplinar, político, filosófico e histórico, bem como o
desenvolvimento e o funcionamnto cognitivo.

Tem como objecto de estudo a origem, a estrutura, métodos a validade do


conhecimento, bem como o desenvolvimento e o funcionamnto cognitivo.
Todo saber, no âmbito da sua cientificidade, requer os seguintes requisitos:
 Objecto de estudo próprio;
 Métodos de estudo;
 Objectivos de estudo;
 Conceitos universais (conteúdo, matéria);
 Aplicação prática e utilidade social.

Epistemologia e filosofia

Epistemologia é a teoria racional do conhecimento certo ou teoria da ciência.


A Filosofia é uma palavra de origem grega: Philos-amigo e Sophias- sabedoria, que
literalmente significa amigo da sabedoria. Narra-se que o termo foi enventado por Pitágoras,

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que certa vez, ouvindo alguém chamá-lo sábio e considerando este nome muito elevado para
si mesmo, pediu que o chamassem simpliesmente filósofo, isto é amigo da sabedoria
(Mondin, 2007).
A Filosofia é conhecimento, forma de saber que, como tal, tem esfera própria de
competência, a respeito da qual procura adquirir informações válidas, precisas e ordenadas.
Sabemos, por exemplo, que a botânica estuda as plantas, a geografia estuda os lugares, a
história os factos a medicina as doenças, etc. Quanto a filosofia, que coisa estuda? No dizer
dos filósofos, estuda todas as coisas (Mondin, 2007).
Aristóteles, que foi o primeiro a fazer pesquisa rigorosa e sistemática em torno desta
disciplina, diz que a filosofia como “estudo das causas últimas de todas as coisas”.
Descartes afirma que o Filosofia “ensina a raciocinar bem”; Hegel, entende como
«saber absoluto»; para Whitehead, o papel da Filosofia é o de “fornecer uma explicação
orgânica do universo”. Para Tartuce (2006) a filosofia é a fonte de todas as áreas de
conhecimento humano. Vários são os autores que definem filosofia.
Filosofia é a ciência da totalidade das leis do universo e do fundamento último de
todas as coisas à luz da razão. Ela busca a verdade precedentes de uma utilidade prática
através de uma reflexão crítica e problematizante da realidade.
A história da Filosofia divide a Filosofia em oriental e ocidental.
A filosofia oriental compreende:
 Filofofia indiana;
 Filosofia chinesa e
 Filosofia egípcia.
A filosofia ocidental compreende:
 Filosofia grega;
 Filosofia patrística;
 Moderna e
 Filosofia contemporânea.
A Filosofia oriental é diferente da Filosofia ocidental, porque a oriental é
tendencialmente religiosa, embora possa ter certos princípios racionais, ao passo que a
Filosofia ocidental e basicamente racional, uma investigação constante das causas últimas
de todas as coisas.
Por isso, a filosofia maioritariamente estudada é a ocidental; aquela que surge no
séc. VI a.C. por intermédio de Tales de Mileto, numa das ilhas da Asia Menor do império
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grego, a Jónia, a qual se estente por todo o mundo, de geração em geração. Desta maneira, a
Filosofia torna-se a primeira ciência racional criada pelo Homem para facilitar a
compreensão do mundo.
A Filosofia objectiva, a obtenção do conhecimento, permitindo deste modo a
elaboração de uma cosmovisão; estimular a pesquisa, quer seja científica quer seja
especulativa ( excelência pedagógica); promover a cultura da humanidade.
Não consiste em buscar fins práticos, não tem interesses externos como a ciência, a
arte, a religião e a técnica que tem em vista alguma vantagem.
Quanto ao objecto de estudo, toda realidade em geral é objecto de conhecimento da
Filosofia.
A Filosofia utiliza métodos como: Especulativo - que consiste em abordar um
problema ou de criar uma teoria visando uma perspectiva ampla e final. Através dele
constrói-se um sistema ou um corpo de explicação. E método analítico - que consiste na
analise lógica dos problemas mais íntimos, das relações da linguagem, significado dos
termos, para se examinar a coerência, o rigor do texto ou da linguagem.
A Filosofia apresenta quatro princípios fundamentais:
 Rigorosidade; ex:
 Radicalidade- ela não se apresenta com dúvidas;
 Historicidade- cada teoria tem a sua época;
 Globalidade - definição comum ( o que é telefone em Angola, é em toda parte
do universo).
Os problemas centrados na Filosofia antiga eram o cosmo e a moral. Hodiernamente,
a Filosofia preocupa-se com quatro grandes problemas: a injustiça; problemas do estado
com a democracia; problemas da religão e da moral.
Alguns filósofos franceses também utilizaram o termo epistemologia, para designar
o estudo geral do saber especulativo e científico, assim como a ciência, a Teologia, a
Filosofia.
Para Castanon (2007) a palavra epistemologia é o estudo geral dos métodos,
histórias, critérios funcionamento e organização do conhecimento sistemático ou seja ele é
especulativo, teológico religioso ou científico.
Num sentido restrito ela pode ser chamada de Filosofia da ciência, estudo
sistemático das condições de possibilidade, métodos e critérios.

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Epistemologia e ciências humanas

As ciências humanas ou humanidades são conhecimentos criteriosamente organizados


da produção criativa humana, estudada por discilplinas como Filosofia, História, Direito,
Antropologia cultural, Ciência da Religião, Arqueologia, Teoria da arte, Cinema,
Administração, Dança, Teoria musical, Design, Literatura, Letras, entre outras. O ponto
comum entre estas ciências é o de descrever as complexidades da sociedade humana, do
aparelho psíquico e de suas criações. Ou seja, têm o ser humano como seu objecto de estudo
ou seu foco. Estas ciências, com relação à Epistemologia têm uma extrema interligação visto
que ela é está presente em diferentes áreas do saber, porém é compreendida por teoria do
conhecimento.
Tal como noutras ciências, particularmente em humanas, a Epistemologia elabora um
dado processo cognitivo para que assim torna um conhecimento tanto como de Ciências
Humanas assim como de outras ciências recebem dados que passa por uma operação lógica
tornando-a como informação, depois interpreta e por final da interpretação deixa de ser
informação e passa a ser conhecimento.

As rupturas epistemológica nos diferentes autores

De forma genérica, os expoentes da interpretação epistemológica do séc. xx, colocam


na base da produção do conhecimento científico o binómio experiência razão e deixam claro
que o sentido vai do racional para o real, e não na ordem inversa como teorizam os filósofos
clássicos.
Outro traço comum é a identificação de que a observação, a experiência, a
experimentação não constituem fonte de conhecimento, pois, a ciência é concebida
construindo-se hipóteses (conjecturas) e confrontando-as, posteriormente, com o mundo real.
A ciência dá conta dos factos. Mas não são os factos em si mesmos que são fontes de
descobrimento. A ciência tenta explicar os factos inventando hipóteses (proposições) e
sistemas de hipóteses (teorias) e sistemas de teorias num processo cada vez mais abstracto.
A idéia de constução da ciência através da “racionalidade” ou seja, o impirismo e o
indutivismo estão superados como modelo de constução do conhecimento científico. A
ciência começa na mente, na imaginação, na criatividade do cientista. Entretanto, nenhuma
filosofia dispensa a comparação das consequências das teorias com os dados observacionais.
E exactamente esse o diferencial que garante credibilidade à ciência.

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É possível perceber ainda que o conceito de “racionalidade”, foi mudando ao longo


desse século, passando da ideia de sistematicidade lógica, aonde racionalidade era sinónimo
de logicidade (como em Popper), para uma visão mais abrangente sob o argumento de que a
racionalidade não apresenta única, mas ao contrário, abarca muitas teorias e sistemas
conceituais (Toulmin e Maturana).
As teorias epistemológicas mais recentes, têm adoptado uma visão evolucionista,
contrária a ideia de que a ciência busca teorias verdadeiras, verdades absolutas ou princípios
universais (válidos para todos os homens). Entra em cena uma filosofia evolucionista,
permeada pela mudança e selecção dos conceitos gerando mudanças nas próprias
comunidades científicas que os compartilham. Ou seja, novas ideias e novas teorias surgem
continuamente e a comunidade científica permanentemente julga, selecciona, modifica ou
abandona ideias e teorias. Sobrevivem as mais aptas, a exemplo do mundo natural, sendo que
essas mudanças também modificam o cientista, o ser humano.
Além disso, as teorias epistemológicas mais recentes passaram a destacar também os
factores sociais, políticos, económicos, culturais e históricos como factores que realmente
interferem (ou filtram) no processo de mudança conceitual e no avanço da ciência. A
epistemologia do século xx, também se preocupou em desendeusar o fazer científico, que
durante muito tempo usufruiu dessa condição descontextualizada. Acreditamos que tal visão,
é importante na medida em que a actividade científica passa a ser entendida como uma
actividade humana igual a qualquer outra, com dificuldades e carências, com apogeus e
conquistas, realizadas por homens e mulheres dotados de preconceitos e necessidades, sonhos
e emoções como quaisquer outras profissões.
O crescimento da ciência, requer curiosidade e paixão pelo explicador (Maturana),
desconfiança em relação à opinião prevalecente (Feyerabend), coragem para dizer não
(Bachelard) e sensibilidade para a novidade (Feyerabend e Toulmin).
Relativamente as rupturas epistemológicas nos diferentes autores, apresentam os
seguintes pressupostos:
Gaston Bachelard, defende uma polaridade epistemológica, mostrando que para se
adequar a ciência actual, a filosofia das ciências deve ser uma filosofia de dois polos: realista
e idealista, empirista e racionalista ao mesmo tempo. Bachelard, refere que a experiência nova
diz “não” à experiência antiga sem com isso negar tudo o que foi produzido anteriormente,
mas sim no sentido de modificar, alertar e desafiar a construção de um pensamento científico
mais avançado.
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Assim, o erro assume um papel importante, pois se aprende com ele. Corrigir os erros
significa procurar eliminar o que Bachelard chama de obstáculos epistemológicos (ambição
de pensar o conhecimento de um ponto de vista único) e obstáculos pedagógicos (analogias
com conceitos simples acabam limitando o espírito científico. Quando se avança no
conhecimento científico, aumenta o papel das teorias. Para que esse avanço ocorra, é
importante e indispensável que ocorra uma alternaância entre o impirismo e o racionalismo,
pois ambas as doutrinas são importantes, estão ligadas, se complementam.
Thomas Kuhn na sua obra Kuhniano, em síntese, a postura epistemológica acredita,
entre outras coisas, que a produção do conhecimento científico começa com observação
neutra, se dá por indução, é cumulativa e linear e que o conhecimento científico daí obtido é
definitivo. Kuhn, refere que o progresso do conhecimento científico, intercala períodos de
ciência normal e de revolução científica. A ciência normal ocorre em fases longas nas quais as
comunidades científicas aderem a um mesmo paradigma e nesses periódos a ciência torna-se a
resolução de quebra-cabeças, problemas são resolvidos. Por conseguinte, criam-se
paradigmas, que é um conjunto de valores, métodos, crenças técnicas compartilhados por uma
comunidade científica na fase de ciência normal. A medida que vão surgindo anomalias que o
paradigma vigente não consegue resolver, ocorre uma crise e ruptura, aparecem as resoluções
científicas. Surge então, um novo paradigma. O novo e o velho paradigma, as novas e as
velhas teorias, são incomensuráveis, pois são diferentes maneiras de ver o mundo. Quando as
comunidades aderem por convicção ou por convencimento ao novo paradigma, ocorre uma
nova fase de ciência normal (sob o enfoque do novo paradigma). Esse processo sucessivo,
gera avanço do conhecimento científico.
A espistemologia platónica sustenta que o conhecimento é inato. De tal modo que a
aprendizagem seria o desenvolvimento das ideias escondidas na alma, que aflorariam como
resultado de um interregotório. Amistoso Platão acreditava que a alma existia antes do
nascimento sobre a forma de Deus com perfeito conhecimento de tudo. Assim quando algo é
aprendido, na verdade é apenas lembrado.
Karl Popper, tenta focalizar a epistemologia no racionalismo crítico, ou seja o
conhecimento científico puro como uma construção do homem, que valendo-se da
imaginação, propõem problemas voltados para explicação de alguns aspectos da realidade (o
mundo natural).
O cientista faz hipóteses falsificáveis para solucionar os problemas e essas conjeturas
são criticadas e testadas através da experimentação e observação. Algumas hipóteses
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sobrevivem e outras são iliminadas, porque são submetidas a críticas e provas mais rigorosas.
Para o autor o objectivo da ciência é construir teorias com conteúdos explicativos cada vez
maior. As teorias podem ser cietíficas ou não científicas, sendo que o critério de demarcação
entre elas e a falseabilidade. As teorias científicas devem prever alguns acontecimentos que
possam ser falseadas, enquanto as teorias não científicas, não são falsificáveis. A falsificação
e a testabilidade podem resultar na corroboração ou na modificação das teorias num processo
que gera o avanço do conhecimento científico.
Imre Lakatos tenta relacionar a ciência no conceito de programa de investigação
científica. Os programas de investigação científica constituem conjuntos de regras
metodológicas a serem seguidas pela investigação (eurística positiva) e as rotas a serem
evitadas (euristica negativa), estes programas podem ser progressivos e regressivos. A
constante substituição de programas regressivos por progressivos garantem o avanço da
ciência. Os programas de investigação, são formados pelo núcleo firme (contém a teoria
principal que é irrefutável) e o cinturão protector (teorias auxiliares), estas teorias, podem ser
refutadas.
Laudan a ideia principal deste autor aparece sintetizada naquilo que ele chama de
modelo de resolução de problemas. Para o autor, o ojectivo da ciência é produzir teorias
eficazes na resolução de problemas científicos. Resolução de problemas impírico modifica e
gera novas teorias científicas, enquanto a resolução de problemas conceituais aumenta a
clareza e precisão das teorias. O surgimento de problemas anómalos (resolvidos por teorias
rivais) suscita dúvidas a respeito da teoria que está mostrando, mas não é suficiente para
abandoná-la. À medida que um problema científico é resolvido, novos problemas vão sendo
propostos com objectivo de aprofundar os conhecimentos, esclarecer aspectos duvidosos e
tornar as teorias mais precisas, e esse processo é essencial para o progresso da ciência.
As tradições de invetigação são conjuntos de diretrizes, técnicas, métodos e
teorias cujo objectivo é resolver ao máximo os problemas, sendo que a coexistência de teorias
rivais e tradições de investigação rivais é uma regra, pois motiva a resolução de problemas e
conduz ao avanço da ciência. Tanto as teorias quanto as tradições de investigação, vão
mudando com o tempo e podem gerar novos problemas conceituais ou impíricos num
processo contínuo.
Stephen Toulmin, diz que o indivíduo adquire através do aculturamento e da
linguagem um conjunto de conceitos a respeito do mundo onde vivi; mas também exerce o
seu papel de criador intelectual modificando esses conceitos e criando novos. Deste modo, os
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conceitos, sendo elementos fundamentais do pensamento e da compreensão humana, são


compartilhados pela comunidade e são permanentemente criticados num processo que é
histórico e cultural e que gera a mudança conceitual. Essa mudança conceitual num processo
recursivo se reflete sobre o próprio indivíduo (que também é actor) permitindo que ele
adquira e melhore a sua compreensão. Nesse sentido, a compreensão não está baseada em
princípios fixos e imutáveis, mas pressupõe uma interdisciplinaridade, uma interação entre o
homem, os conceitos e o mundo onde vive, tal que a ciência deve avançar em conjunto, tanto
a teoria quanto a prática, tanto os aspectos filosóficos quanto os aspectos científicos.
O conhecimento científico se divide em disciplinas que se compõem de: populações de
conceitos com capacidade explicativa e populações de cientistas que possuem um ideal
explicativo. A diferença entre a capacidade explicativa das teorias e o desejo de explicar dos
cientistas dá origem aos problemas científicos que geram novidades e mudança conceitual que
por sua vez pode levar à solução de alguns problemas e a identificação de outros. Esse
processo é contínuo, tem por base o desejo de explicar os fenómenos e leva ao crescimento da
ciência. As disciplinas são responsáveis pela transmissão intelectual através das gerações.
Mas não se pode ignorar que estão em contínua transformação por factores intelectuais
(internos a cada disciplina), sociais, políticos, económicos (externos) e que todos esses
factores funcionam como filtros limitando ou incentivando a mudançã coneitual e o avanço da
ciência.
Humberto Maturana expressa a ideia de que existem dois caminhos explicativos ao
se fazer ciência. Objectividade sem parênteses e objectividade com parênteses.
 Objectividade sem parênteses, pressupõe uma realidade independente do
observador. Esse é o caminho que apenas tolera o outro negando a sua forma
de explicação, tudo em nome da razão, da universalidade. Esse caminho não
leva ao crescimento da ciência.
 Objectividade com parênteses, não nega a existência da realidade, podemos ter
tantas realidades quantos forem os nossos domínios operacionais (acções)
levando em conta que o domínio de acção de cada um respeita e aceita a
explicação do outro e pressupõe que a emoção está na base do fazer científico
(paixão pelo explicar).
Maturana, entende o último caminho, leva ao fenómeno do conhecer, sendo este um
processo dinâmico, baseado na convivência social, onde são definidos critérios de validação
das explicações científicas, pois as experiências precisam ser reprodutíveis e quando aceitas
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pela comunidade científica tornam-se explicações científicas que geram o progresso da


ciência. O cientista e os objectos existem na linguagem, ou seja, tanto a observação,
experimentação, quanto ao objecto dessa acção, ganham sentido através da interacção com o
meio e com os outros indivíduos. A ciência avança se houver uma permanente reformulação
das experiêncas, porém com elementos da experiência do próprio cientista, do homem
enquanto ser humano no prazer de explicar as coisas. O fazer do cientista, está conectado ao
quotidiano, pois ele próprio é parte dele. Claramente Maturana procuara desendeusar a
ciência.
Paul Feyerabend expressa as suas ideias a favor do anarquismo epistemológico
entendido como uma oposição a um princípio único fechado a opções (no sentido de que os
cientista utilizam no seu fazer princípios não conhecidos e irracionais. Anarquismo
epistemológico requer violações as regras metodológicas e epistemológicas. Tais violações
são necessárias ao progresso da ciência, pois permitem introduzir hipóteses novas sem que
precisem se ajustar às teorias bem aceites, ou seja, pessupõe a contra-indução e contra-regra.

Para Feyerababend, fazer ciência pressupõe admitir novas concepções, alternativas


incompatíveis, confrontar ideias novas e antigas, e levar em conta a discrepância entre
hipóteses e observações. Tudo isso, vai contra regras metodológicas tradicionais. Nesse
sentido, defende o pluralismo de teorias que possibilite o cientista fugir da uniformidade de
opinião, que destrói seu poder de imaginação. Se assim não fosse, não teriámos a ciência tal
como a conhecemos hoje. Nesse sentido Feyerabend, critica o racionalismo crítico de Popper
e entende a ciência como um empreendedorismo anárquico resultado de um processo
histórico, heterogénio e complexo aonde comparecem factores psicológicos e sócio-
económicos e políticos.

A epistemologia e as matrizes científicas

A Psicologia, desde o seu, nascimento como ciência independente vive uma crise
permanente caracterizada pela grande diversidade de postura, metodológica e teóricas que por
actuarem como gerador de uma variedade de escolas e seitas psicológica foram denominadas
de matrizes psicológicas do pensamento a partir do séc XVII pode-se observar uma
reedefinição das relações sujeito/objecto. A razão contemplativa passa a ser substituída pela
razão e acção instrumental a finalidade utilitária emerge como justificativa e legitimação da
ciência, ao lado da tradicional busca da verdade objectiva.

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Elaborado pelo Docente, Manuel Rodrigues dos Santos Pacheco. (Licenciado em Psicologia da
Educacão, Pós- Graduado em Supervisão Pedagógica e Mestrado em gestaõ de R. Humanos.
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Este novo modo de existência prática teórico se fará reconhecer na obra de vários
filósofos, entre eles Frances Bacon e René Descartes.
No primeiro momento encontramos dois grandes grupos de matrizes do pensamento
psicológico:
1) Matrizes cientificistas: são aquelas que se apegam dos modelos e práticas das
ciências naturais.
2) Matrizes românticas são aquelas que valorizam a subjectividade e a experiência
individual do sujeito.
As matrizes cientificistas podem ser:
Homostética e quantificadora; são aquelas que estão presentes em todas as
tentativas de se fazer da Psicologia uma ciência natural essa matriz orienta o
pesqizador para a busca de ordem natural dos fenómenos psicológicos.
Atomicista e mecanicista; são aquelas que orientam os pesquisadores para a
procura de relação deterministas ou probabilísticas.
Funcionalista e organicista: caracteriza-se por uma noção de causalidade
funcional. Os fenómenos incorpora para os corpos em suas próprias definições.
divede-se em duas:
a) Ambientalista aquela que tem influência do meio na acção.
b) Nativistas aquela que tem a natureza herdada das funções adaptativas.
Já as matrizes românticas podem ser: a) vitalistas e naturalistas.
São aquelas que valoriza o qualitativo o indeterminado, o criativo, o espiritual
etc. no lugar do interesse tecnológico domina o que o interesse estético, contemplativo
e apaixonado.

Tipos de conhecimentos

O tema em foco tem por finalidade apontar e comentar os tipos de conhecimentos


existentes no universo.
Estes conhecimentos são agrupados em quatro, a partir das suas concepções do
homem e do mundo, o que resultará em definições de objectos próprios de estudo, de
objectivos diferentes e técnicas específicas para cada um:
a) Empírico/popular ou especulativo;
b) Científico/tecnológico;
c) Religioso/teológico;
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d) Filosófico.
Conhecimento empírico - é obtido ao acaso. É um conhecimento vulgar e ao mesmo
tempo ametódico.
Característica: valorativo, reflexivo, assistemática, verificável, falível inexato.
Conhecimento científico-vai além do conhecimento empírico, das simples
constatação ou experiência.
Característica real ou factual, contingente, sistemático, verificável falível
aproximadamente exato.
Conhecimento filosófico - baseia-se no uso da razão para questionar os problemas
humanos e para discernir, habilita o homem a fazer uso das suas faculdades intelectuais,
filosofar é interrogar e a interrogação por sua vez parte da curiosidade.
Característica valorativo, racional sistemático, não verificável, infalível exato.
Conhecimento religioso - baseia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas ou
valorativas, por terem sido reveladas pelo sobrenatural. É um conhecimento revelado e ocorre
quando há algo oculto ou um mistério.
Características valorativo, inspiracional, sistemático, não verificável, infalível, exato.

Evolução e relação entre a Epistemologia e a Psicologia

Epistemologia evoluiu bastante visto que ela se focaliza em tratar de vários factores
tais como: genéticos, sociais ou ambientais e condições derivadas de exposição
microbiológica, tóxica, traumática, etc. que determinam a ocorrência e a distribuição de
saúde, doença, defeito, incapacidade e morte entre os grupos de indivíduo.
Possui uma extrema relação com a Psicologia visto que a epistemologia o seu foco de
estudo é o conhecimento do homem porém é bem provável que este conhecimento de facto é
armazenado na mente do indivíduo, a psicologia tem como a prioridade em fazer os estudos
psíquicos deste homem.

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Génese da epistemologia genética piagetiana

Falar da génese da epistemologia genética é basicamente poder debruçar acerca da


origem, mudanças ou evolução da teoria acima mencionada. A teoria piagetiana tenta
responder as questões como o conhecimento se forma. Como passamos de um estado de
menor conhecimento de um estado de maior conhecimento. Enfim, como evolui o
conhecimento. Piaget considerou que se estudasse, cuidadosa e profundamente, a maneira
pela qual as crianças constroem as noções fundamentais de conhecimento lógico, tais como as
de tempo espaço, objecto, causalidade, etc. poderia compreender a gênese e a evolução do
conhecimento humano.
Então entender como evolui constitui-se a preocupação científica de Piaget, para tanto,
ele desenvolve uma profunda e extensa investigação teórica e experimental do
desenvolvimento (a Epistemologia genética) é a teoria que consiste numa síntese das teorias
então existente. O apriorismo e o empirismo. Piaget não acredita que o conhecimento seja
inerente ao próprio sujeito, como postula o apriorismo, nem que o conhecimento provenha
totalmente das observações do meio que o cerca como postula o empirismo. O conhecimento
é desenvolvido através de quatro fases. Para Piaget o conhecimento é gerado através de uma
interação do sujeito com seu meio.

Desenvolvimento cognitivo

Estádios de desenvolvimento cognitivo

Jean Piaget (1896-1980), revolucionou a teoria do desenvolvimento intelectual,


interessou-se essencialmente pela Epistemologia genética que pretende estudar como se
estrutura o conhecimento, a sua natureza e evolução.
O desenvolvimento intelectual está relacionado com a génese do conhecimento, dai a
designação de Psicologia Genética. Piaget é um construtivista e internacionalista na medida
em que defende uma posição que não é nem inatista o património genético é determinante,
nem é empirista tudo advém do meio, dando ao sujeito um papel activo na construção do
conhecimento e do desenvolvimento. A sua formação de biólogo influencia a maneira como
perspectivar o processo adaptativo através da assimilação e da acomodação, numa dinâmica
interactiva individuo-meio.

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Ao afirmar o carácter activo que o sujeito desempenha no processo de conhecimento,


demarcou-se das concepções anteriores, das correntes inatistas behavioristas, conforme os
seguintes esquemas:
Concepção inatista: O sujeito é resultado das potencialidades transmitidas por
hereditariedades. O meio desempenha um papel pouco relevante no seu desenvolvimento.
Sujeito Meio

Concepção behaviorista: O comportamento do ser humano e o seu desenvolvimento


despende, totalmente do meio em que o sujeito se encontra inserido. Está concepção integra-
se num movimento mais amplo: o empirismo

Sujeito Meio

Concepção construtivista: Através da observação e da experiência, Piaget ultrapassou


o primado do sujeito e do meio, demonstrando que há uma interacção entre ambos na
construção do conhecimento. A vida psíquica desenvolve-se através da troca entre o sujeito e
o meio, o conhecimento advém das interacções sujeito/meio. O comportamento do indivíduo,
a inteligência, resulta de uma construção progressiva do sujeito em interacção com o meio.

Sujeito Meio

A concepção construtivista de Piaget parte da tese de que o conhecimento não depende


nem só do sujeito, nem só objecto. As estruturas da inteligência não são apenas inatas, mas
produto de uma construção contínua do sujeito agindo sobre o meio. O desenvolvimento
cognitivo faz-se por mudanças de estruturas através de invariantes funcionais, isto é, e
mecanismos de adaptação, que aos a assimilação e a acomodação.
Assimilação: é o processo mental pelo qual se incorporam os dados de experiencia, aos
esquemas de acção e aos esquemas operatórios existentes. É um movimento de integração do
meio ao organismo.
Organismo (sujeito) Meio

Acomodação: é o processo mental pelo qual os esquemas existentes vão modificar-se


em acção das experiencias do meio. É um movimento do organismo no sentido de se
submeter ás exigências exteriores, adequando-se ao meio.

Organismo (sujeito) Meio

Adaptação: é o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação.


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Organismo (sujeito) Meio

Estes movimentos são interactivos, pois o facto de o sujeito integra os dados do meio e
estes serem assimilados permite que os esquemas evoluem e que, portanto, sejam mais
capazes de responder aos problemas. Existem actividades mentais em que há um predomínio
da assimilação (jogo simbólico) e outras em que há um predomínio da acomodação
(imitação).
A inteligência é perspectivada como adaptação como uma adaptação do indivíduo e
das suas estruturas cognitivas ao meio. Esta adaptação é orientada pela Equilibração entre as
acções do organismo sobre o meio e as do meio sobre o organismo. Isto é, há um processo
interno que regula o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação.
O desenvolvimento cognitivo é fruto de factores biológicos de maturação, experiencias
do mundo físico, inter-relação e transmissão sócia e, ainda, de um mecanismo auto-regulador
que é a Equilibração. É pela Equilibração que o sujeito melhor se adapta ao meio, isto é, que a
sua inteligência progride no sentido de um pensamento cada vez mais complexo.

Assimilação Acomodação

(da experiência á mente) (da mente á experiência)

Equilibração (estado de equilíbrio de adaptação cada vez mais estáveis)

Piaget aponta quatro (4) factores que explicam o desenvolvimento, a saber:

A Hereditariedade, a maturação interna, este factor, deve certamente ser


considerado sob todos os pontos d vista, mas é insuficiente, porque nunca actua no estado
puro ou isolado. Se por toda a parte intervém um efeito de maturação, esse efeito permanece
indissociável dos efeitos do exercício da aprendizagem ou da experiencia. A hereditariedade
não é, pois um factor que actua por si só, ou seja isolável psicologicamente.
A experiencia física, a acção dos objectos, constitui um factor essencial, que se trata
de subvalorizar, mas que, por si só é insuficiente. A lógica da criança, em especial, não advém
da experiencia dos objectos, o que não é de maneira nenhuma a mesma coisa, isto é, a parte
activa do individuo é fundamental, não bastando a experiencia extraída do objecto.
A transmissão social, o factor educativo no sentido lato factor determinante, sem
dúvida, no desenvolvimento, mas, só por si, insuficiente pela seguinte razão evidente, para

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que uma transmissão seja possível entre o adulto e a criança, ou entre o meio e a criança
educada, é necessário que haja, por parte da criança, assimilação do que se pretende inculcar-
lhe de fora.
Factor de Equilibração a partir do momento em que haja três (3) factores, é desde
logo necessário que se equilibre entre si, mas há, além disso um factor fundamental desde
desenvolvimento, compreende, então ao mesmo tempo, a possibilidade de aceleração e a
possibilidade duma aceleração que ultrapasse certos limites.
Estádios de desenvolvimento
A evolução faz-se por estádios, que são estruturados de conjuntos que tem a sua
unidade funcional, o que vai permitir caracteriza-los. Cada estádio é diferente do outro, do
ponto de vista qualitativo tem as suas formas próprias de adaptação ao meio. O
desenvolvimento vai no sentido de uma melhor acomodação do sujeito ao meio. Estes podem
ser caracterizar-se por:

 Uma estrutura com características próprias;


 Uma ordem de sucessão constante, embora exista diferenças cronológicas;
 Uma evolução integrativa, isto é, as estruturas adquiridas são integradas no estádio
seguinte. As novas estruturas são assim hierarquicamente superiores.

Segundo Piaget, o desenvolvimento ocorre segundo quatro estádios. A saber:

1. Estádio sensório-motor (0-18/24 meses)

É um estádio de desenvolvimento que se caracteriza por um inteligência prática que se


aplica á resolução de problema e que põe em jogo as percepções e o movimento, dai a
designação de Sensorios-motor. É uma inteligência baseada na acção, anterior á linguagem e
ao pensamento. A criança nasce como reflexos a actividades espontânea e vai evoluindo
devido ao confronto com as experiencias com o mundo envolvente, ela tem um papel activo
no seu desenvolvimento.
Os primeiros esquemas de acção são os de reflexos inatos, como a sucção e a
preensão, as capacidades sensoriais, como a audição, a visão, o olfacto e o tacto, ainda não
coordenadas entre si.
A construção do objecto permanente, que se inicia cerca dos 9 meses, é um marco
importante no desenvolvimento da inteligência.

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Para saberes se um bebé já adquiriu esta noção, pode fazer uma experiencia: a frente
dele tapa o boneco, com que está a brincar com uma fralda. Se ele sabe que o boneco está
apenas escondidos, levanta a fralda e recupera-o. Estes da construção do objecto
permanente desatará a chorar, pois, ao deixar de ver é como se ele deixasse de existir.
Neste período começa a haver mudanças qualitativa na inteligência da criança, faz-se a
transição de uma inteligência sensório-motor para uma inteligência representativa e
simbólica. Assim, a criança é capaz de imitar, sem presença do objecto.

2. Estádio Pré-operatório (2-7anos)

A existência de representações simbólicas vai permitir a criança poder usar uma


inteligência diferente. Para Piaget, há inteligência antes da linguagem, mas não há
pensamento. O pensamento corresponde a uma acção interiorizada, assente na capacidade de
simbolização, e não na acção imediata e de direito como no período sensório-motor. A criança
passa a poder representar objecto ou acções por símbolos. Ao falar, ao brincar, ao fazer de
conta, ao desenhar, exercer uma função simbólica, pois vai representar uma coisa por outra.

Entre os dois (2) e os sete (7) anos, distingue-se dois (2) subestádios:

 O pré-conceptual ou de exercer da função simbólica 2-4anos;


 O do pensamento intuitivo, cerca dos 4 aos 7 anos.

A principal característica deste estádio, ao nível do pensamento, é o egocentrismo.

O egocentrismo intelectual é o entendimento pessoal de que o mundo foi criado para si


e pela incapacidade de compreender as relações entre as coisas. A criança não compreende o
ponto de vista do outro porque centra-se no seu ponto de vista, ela está auto-centrada.
O egocentrismo está nas frases como: há vento porque estou com muito calor; a noite
vem quando é para ir para a cama; a lua segue-me… este egocentrismo, que é muito marcada
no começo deste estádio, vai sofrendo uma parcial descentração á medida que se aproxima do
estádio seguinte.
Há outras características mentais presentes neste estádio:

 Animismo – atribuição a objectos inanimados de emoções e pensamentos. A criança


bate a mesa ou um outro objecto onde se magoo, diz á boneca que tem que comer a
sopa toda ou afirma que o sol lhe sorriu; desenha o sol ou a lua como uma cara;

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 Realismo – sem a preocupação de objectividade, a realidade é construído pela


criança. Se no animismo ela da vida as coisas, no realismo dá corpo, isto é,
materializa as suas fantasias. Se sonhou que o lobo está no corredor, pode ter medo
de sair do quarto.
 Finalismo – as acções interessam pelos resultados práticos. As crianças estão sempre
a questionar os adultos; no entanto, embora se diga que estão na idade, dos porquês,
nesta idade procura-se, sobre tudo, saber para que?

O pensamento infantil neste estádio é sincrético, isto é, de uma forma global e


confusa, não diferencia o essencial do superficial, a parte do tudo o particular do geral. O
pensamento intuitivo, a partir dos 4 anos, já com uma certa descentração cognitiva vai
permitir solucionar alguns problemas e possibilitar muitas aprendizagens. Este pensamento é
irreversível isto é, a criança esta sujeita as configurações perceptiva sem compreender a
diferenças entre as transformações reais e aparentes. Ela vai poder classificar e enumerar
objecto por aproximações sucessivas embora sem uma lógica de conjunto.

3. Estádio das operações concretas (9-11/12 anos)

A criança tem um pensamento lógico com a capacidade de fazer operações mentais.


Isto é, a criança organiza o pensamento em estrutura de conjunto e os seus raciocínios lógicos
são também reversíveis. É pela reversibilidade que ela pode entender que 2+2 são 4, também
4-2 são 2. Ela compreende que, se pode somar, também se pode subtrair, e que as duas
operações estão relacionadas.
A não reversibilidade do anterior estádio pré-operatório era impeditiva desta
compreensão. As experiencias de conservação da matéria sólida e liquida são muito
exemplificativas dos tipos de raciocínios essenciais.
Graças aos esquemas mentais operatórios, a criança consegue agora compreender a
relação parte-toda, a noção de tempo e de espaço globais, de velocidade, a fazer operações de
classificação e de seriação, obter a conservação do número.

4. Estádio formal (11/12-15/16 anos)

Caracteriza-se por um pensamento abstracto e pelos exercícios de raciocínios


hipotético dedutivo. O adolescente desprende assim do real, sem precisar de se apoiar em
factos, pode pensar abstractamente e deduzir mentalmente sobre varias hipóteses que se
colocam: é capaz de resolver problemas através de enunciados verbais. O adolescente exercita
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ideias no campo do possível e pensa sobre o pensamento, são estas capacidades que vão
permitir definir conceitos e valores, assim como estudar determinado conteúdos escolares,
como a Geometria Descritiva, a Filosofia, etc.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Lisboa.
Almeida, A. R. S. (1999). A emoção na sala de aula. Papirus. São Paulo.
Bee, H. (1996). A criança em Desenvolvimento. Artes médicas. Sao Paulo.
Furtado, Ana M. B.; Teixeira, M. (2001). Psicologia: uma introdução ao estudo da Psicologia.
Saraiva. Sao Paulo.
Mueller, F.L. (sd). A Psiclogia contemporânea. 3ªed. Publicações Europa América.
Piaget, J. (1972). Psicologia e Epistemologia: Para uma teoria de conhecimento. Forence. Rio
de Janeiro.
Piaget, J. (1973). A Psicologia. 2ªed, Livraria Bertrand. Lisboa.

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