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Do senso comum à

sabedoria
Opiniões

Ideias

Consens
o
O conjunto de concepções, geralmente aceitas
como verdadeiras em determinado meio social,
recebe o nome de senso comum.

O filósofo belga Chaim Perelman (1912-1984)


definiu o senso comum como uma série de
crenças admitidas por determinado grupo social
que acredita que elas são compartilhadas por
toda a humanidade.
O senso comum reflete o
entendimento médio, comum das
pessoas.
São usualmente generalizações,
cuja origem ou fundamentação
inicial já se perdeu.
Muitas dessas concepções podem
ser encontradas em frases feitas
ou em ditados populares.
Repetidas irrefletidamente no cotidiano, algumas
noções do senso comum manifestam ideias falsas,
preconceituosas ou parciais da realidade.

Outras, no entanto, revelam profunda reflexão sobre


a vida – o que chamamos sabedoria popular.

Mas há também aquelas que reproduzem


determinadas conclusões científicas popularizadas,
como “Vitamina C é boa contra resfriado”.
O que se verifica nas noções do senso comum é que, frequentemente, os
modos de consciência encontram-se emaranhados, formando uma
aglutinação acrítica (sem exame crítico) de juízos ou concepções,
provenientes tanto da intuição como do campo racional ou religioso.
Assim, o que caracteriza basicamente as convicções pertencentes ao
senso comum não é sua falta de veracidade (capacidade de expressar a
verdade ou não), mas sim sua falta de fundamentação, ou seja, o fato de
que as pessoas não costumam saber o porquê dessas noções.
Simplesmente as repetem irrefletida e automaticamente, pois é assim
que pensa o grupo social ao qual pertencem. Era o que Sócrates tentava
mostrar.
Desenvolvendo a consciência crítica
Ter em conta os limites do senso comum e procurar desenvolver
uma consciência mais crítica nos ajuda a não cair na armadilha das
opiniões e das aparências. Veja o seguinte exemplo do Sol.

• aparência – de forma intuitiva, parece não haver nenhum


problema com a noção de que o Sol nasce a leste, cruza o céu diurno
e se põe a oeste. todos podem comprovar esse fenômeno, que é
uma experiência diária, permanente e universal;
• conhecimento científico – só que os astrônomos sabem – e a
gente aprende desde cedo na escola – que isso é aparente: o que de
fato ocorre é que a terra gira em torno de seu eixo no movimento de
rotação, de oeste a leste, dando a impressão de que é o Sol que se
move de leste a oeste.
Buscando a sabedoria

A consciência filosófica implica, portanto, não apenas o processo de


estranhar-duvidar-questionar, mas também a prática de estabelecer
correlações entre as coisas, as informações, os fatos, os indivíduos
envolvidos e você mesmo/mesma dentro desse contexto.

Isso significa que a filosofia não tem apenas a importantíssima função


crítica (analítica). Ela realiza também uma função construtiva (sintética),
pois trata de considerar e relacionar todos os elementos de uma
totalidade, tentando organizar uma visão de mundo verdadeira ou, pelo
menos, mais próxima da verdade.
Conhecimento e sabedoria

Por que dizemos sabedoria e não conhecimento? Conhecimento é


uma palavra que tem vários significados, mas podemos sintetizá-los
em dois:
• Em um sentido amplo e geral (que se diz, em filosofia, lato sensu),
conhecimento é a percepção ou consciência que se tem de algo. Por
exemplo: o conhecimento de quem é fulano, o conhecimento do que
disse beltrano, o conhecimento de como se chega a tal lugar etc. trata-
se da simples consciência que se tem de algo, fruto de uma experiência
direta ou de uma informação recebida, que pode ou não estar
equivocada;
• já em um sentido mais específico e restrito (que se diz, em filosofia,
stricto sensu), conhecimento significa consciência do que algo
realmente é (ou seja, da verdade), por oposição ao conhecimento
ilusório ou enganoso.

Trata-se do que se sabe solidamente, de maneira fundamentada,


como é o saber dos especialistas (pelo menos em princípio).

É a episteme dos gregos. as diversas áreas da ciência buscam esse


tipo de saber (aliás, o termo ciência, em sua raiz etimológica latina,
significa “conhecimento”).
Os filósofos também buscam o conhecimento stricto sensu. Aliás,
foram eles que começaram a sistematizar essa busca há mais de 24
séculos, quando não havia separação entre filosofia e ciência. Foram
eles que iniciaram esse processo de tentar explicar os fenômenos
naturais e humanos sem o auxílio dos deuses e mitos, apoiando-se
progressivamente na razão.

Mas os filósofos procuravam igualmente um tipo de saber superior,


uma espécie de “conhecimento por detrás do conhecimento”, bem
como um “conhecimento que vai além do conhecimento”, que
permite estar lúcido em meio ao turbilhão da existência. É a esse
conhecimento integrador – que conduz à vida boa – que damos o
nome de sabedoria.
Uma expressão da visão integradora do
conhecimento, que ainda persistia em boa medida
na idade Moderna, é a metáfora da árvore do
saber, proposta por Descartes no século XVII.

No prefácio de sua obra Princípios de filosofia, ele


explica que toda a filosofia é como uma árvore,
cujas raízes são a metafísica, o tronco é a física e os
ramos que saem desse tronco constituem todas as
outras ciências, que se reduzem a três principais: a
medicina, a mecânica e a moral.

Observe que a teologia (ou religião) já não fazia


parte de seu projeto científico-filosófico.
Ciência e filosofia
Vemos então que, embora hoje em dia a filosofia e a ciência sejam
entendidas como duas áreas de estudo muito distintas e separadas,
nem sempre foi assim.
Desde a Grécia antiga, o saber filosófico reunia o conjunto dos
conhecimentos racionais desenvolvidos pelo ser humano:
matemática, astronomia, física, biologia, lógica, ética, política etc.
Não havia separação entre filosofia e ciência. Elas estavam fusionadas,
eram a mesma coisa. Até mesmo a investigação sobre Deus (a
teologia) fazia parte das especulações dos filósofos.
Essa visão integradora perdurou até o fim da idade Média. a partir
da idade Moderna, com o desenvolvimento do método científico,
aplicado primeiro pela física, a realidade a ser conhecida passou a
ser progressivamente dividida, recortada, atomizada em setores
independentes.

Desse modo, surgiram as diversas áreas de investigação científica


que conhecemos hoje, como a matemática, a física, a química, a
biologia, a geografia, a antropologia, a psicologia, a sociologia, entre
outras. acabava, assim, a antiga unidade do conhecimento.
1. Algumas noções do senso comum escondem ideias falsas, parciais ou
preconceituosas, enquanto outras revelam profunda reflexão sobre a vida. Como
você explica essa contradição?
2. Identifique, entre as afirmações a seguir, aquelas que podem ser consideradas
noções do senso comum e as que constituem meras opiniões ou crenças pessoais.
Justifique.
I. toda criança deve receber educação escolar.
II. Os dias de chuva são belos.
III. O cão é o melhor amigo do ser humano.
IV. Quanto maior a velocidade, maior o risco de acidente.
V. Os sorvetes de morango são os mais gostosos.
VI. Domingo é dia santo.
3. De que depende o desenvolvimento da
consciência crítica?

4. Destaque as semelhanças e as
diferenças entre o saber da ciência e o
saber da filosofia.

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