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Universidade Licungo

Faculdade de Letras e Humanidades


Licenciatura em Ensino de Filosofia
1º Grupo. 4oAno

Aquibaro Nur Jaime

Basílio Serra Teixeira Basílio

Célio Rodrigues Carlos Faustino

Jorge Salgene Jorge

Mena Domingos Domingos

Mussa Daniel Saguar.

A ÉTICA DE ALAISDIR MACINTYRE

Quelimane

2022
Universidade Licungo

Faculdade de Letras e Humanidades


Licenciatura em Ensino de Filosofia

Trabalho de carácter avaliativo a ser


entregue ao Departamento de Letras e
Humanidades para a cadeira de Ética
III, como requisito de avaliação.

Drª. Catarina Matete.

Quelimane

2022
Índice

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................3
2. A ÉTICA DEALASDAIR MACINTYRE................................................................4
2.1. Biobibliografia de Alaisdir Macintyre....................................................................4
2.2. Principais obras do filósofo....................................................................................4
3. ÉTICA DAS VIRTUDES..........................................................................................5
4. OS três estágios do desenvolvimento lógico das virtudes.........................................6
4.1. As práticas...............................................................................................................6
4.2. A Tradição..............................................................................................................7
4.3. A Unidade Narrativa da Vida Humana...................................................................7
5. Virtude, um Substrato da Racionalidade...................................................................9
6. ÉTICA TELEOLÓGICA.........................................................................................10
6.1. A Reabilitação da Ética Teleológica.....................................................................10
5. Relevância da ética de Alaiscidir Mancietyre para a Sociedade Actual..................12
5. CONCLUSÃO.........................................................................................................14
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................15
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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho reflete em torno do pensamento ético do filósofo Alasdair


Macintyre,um pensador bastante influente e enriquecedor na área da Ética devidos as
suas célebres abordagens. No trabalho, está mais em destaque a obrado filósofo
intitulada por Depois da Virtude. No compto geral, o trabalho incide mais na vida e
obras do autor, não deixando de lado a sua abordagem ética, sua função em nossa
moralidade. Mancintyretambém fala de novosInstrumentos interpretativas, e a
explicação teleológica das virtudes como forma de superar as dificuldades e reconstruir
uma unidade conceitual para a noção de virtude na moral nos nossos dias.

O filósofo propõe três estágios conceituais do desenvolvimento lógico das


virtudes: as práticas, a unidade narrativa da vida humana e a tradição, mais em diante,
faz uma análise do actual estado das teorias éticas. As reflexões éticas do autor em
destaque partem do reconhecimento do estado de desordem do debate moral
contemporâneo e busca fornecer uma explicação dos fatos que originaram tal desordem.

1.1. OBJECTIVOS:

Geral

 Compreender o sentido da ética em Alasdair Macintyre.

Específicos:

 Anotar as características básicos da ética das virtudes de Macintyre;

 Explicar a Reabilitação da ética Teleológica em Macintyre;


 Analisar a moralidade contemporânea aa luz das ideias éticas de Macintyre.
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2. A ÉTICA DEALASDAIR MACINTYRE

2.1. Biobibliografia de Alaisdir Macintyre

Alasdair Macintyre, nasceu em Glasgow, na Escócia; fez os seus estudos no


Queen Mary College, na Universidade de Londres e na Universidade de Manchester. A
sua formação filosófica se deu através da filosofia analítica. Radicado nos Estados
Unidos desde 1969, onde deu a continuidade de uma importante carreira universitária,
ensinando Filosofia naUniversidade Nossa Senhora, Universidade de Vanderbilt,
Universidade de Boston e naDukeUniversity, com grande repercussão no debate ético-
político contemporâneo.

“Macintyre é considerado por muitos intelectuais como um dos pensadores que tem
escrito, de uma forma mais inteligente e informada, sobre ética, que para hoje constitui
uma das vozes mais autorizadas e singulares na área da ética” (Macinyre, p. 26. 2004).
Crítico radical do projeto iluminista moderno e defensor ferrenho da ética clássica das
virtudes, o pensamento maduro de Alasdair MacIntyre encontra-se expresso no
chamado “Projeto After Virtue”, iniciado em 1981. Profundamente influenciado pelo
pensamento filosófico de Aristóteles e de Tomás de Aquino, o filósofo escocês
conseguiu, numa obra notável, comentar e continuar a filosofia de Aristóteles e de
Aquino e, simultaneamente, construir uma teoria ética singular e inovadora.

O filósofo escocês, elabora novos instrumentos interpretativos, ao mesmo tempo


em que resgata aspectos apagados pelaModernidade por exemplo, a explicação
teleológica das virtudes para que se possa superar esta dificuldade e reconstruir uma
unidade conceitual para a noção de virtude na moral contemporânea. Essa unidade
evitou a leitura das virtudesde formarelativa, onde não há um critério objectivo acerca
do bem,razão pela qual, Alaiscidir propõe os três estágios conceituas do
desenvolvimento lógico das virtudes: as práticas, a unidade narrativa da vida humana e
a tradição.

2.2. Principaisobras do filósofo

 Uma Breve História da Ética (1966);


 Secularização e Mudança Moral (1967);
 Depois da Virtude (1981);
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 Cuja Justiça, qual Racional (1988);


 Três Versões Rivais da Investigação Moral (1990);
 Animais Racionais Dependentes (1999).

3. ÉTICA DAS VIRTUDES

A ética das virtudes é uma abordagem filosófica que entende a noção de virtude
como fundamental para o empreendimento ético. Para essa perspectiva, o valor de uma
ação moral diz respeito à vontade do sujeito, quando esta é reta e esclarecida e ele está
suficientemente informado sobre a natureza de seus desejos e sobre os seus objetos. “As
virtudes são compreendidas como as disposições do caráter moral do sujeito ou como as
formas de orientação da sua vontade” (Macintyre, 2004, p. 59). Assim, a ética das
virtudes se interessa prioritariamente pelo caráter virtuoso do ser humano e por suas
motivações íntimas.

Ou seja, ela é uma abordagem ética que entende a noção de virtude como a
noção primeira a partir da qual derivamos nossos juízos morais. A ética das virtudes
pergunta primeiramente “que traços de caráter tornam uma pessoa boa”, para só então
perguntar “qual é a coisa certa a fazer”. Para essa abordagem ética, portanto, os fatos
são anteriores às noções de dever e consequência na apreciação moral, deixando de
localizar o centro irradiador do valor moral no agir para localizá-lo no ser daquele que
age. Nesse sentido, a ética das virtudes constitui-se numa alternativa teórica às éticas
deontológicas e consequencialistas, na medida em que fornece uma descrição atraente
da motivação moral, enfatizando o papel das qualidades pessoais na apreciação moral.

A virtude é uma qualidade humana adquirida, cuja posse e exercício costumam


nos capacitar a alcançar aqueles bens internos às práticas e cuja ausência nos impede de
alcançar tais bens, o que equivale a afirmar que práticas que visam bens internos exigem
virtudes.Assim como as virtudes, as práticas são, ao mesmo tempo, um exercício que
educação.

O conceito de virtude defendido por Macintyre nessa reapropriação comporta


três momentos definidores diferentes e interligados entre si, os quais constituem sua
história: o primeiro consiste na descrição do que é uma prática; o segundo, na descrição
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da vida humana como uma ordem narrativa, e o terceiro, na descrição do que constitui
uma tradição moral.

Macintyre enxerga a retomada de uma ética de virtudes para a


contemporaneidade como saída do profundo pessimismo resultante da admissão do
fracasso do projecto iluminista de justificar racionalmente da moralidade, que insiste em
eleger uma moral universalmente válida e fundamentada exclusivamente pela razão.

As virtudes encontram sentido e finalidade não só no sustento dos


relacionamentos necessários para que se alcance a variedade de bens internos às
práticas, e não só no sustento da forma de uma vida individual em que cada indivíduo
pode procurar seu próprio bem como o bem de sua vida inteira, mas também no sustento
das tradições que proporcionam tanto às práticas quando às vidas o seu necessário
contexto histórico. (Macintyre, 2001, p 80).

4. OS três estágios do desenvolvimento lógico das virtudes

4.1. As práticas

O autor entende a prática como sendo algo mais do que um exercício físico ou
Intelectual, pois estes podem ser realizados sem que haja um envolvimento moral da
parte do agente, elas estão necessariamente vinculadas ao exercício de uma ou mais
virtudes,englobando intenção e acção.

Por exemplo: jogos nos quais os participantes, ao realizá-los, desenvolvem e


aperfeiçoam habilidades morais, intelectuais e de relacionamento, tal qual o xadrez ou o
futebol. Quanto mais jogamos, praticamos e aperfeiçoamos as habilidades físicas e
cognitivas, a condição para que haja padrões de excelência, práticas e virtudes é o seu
fim comum, o alcance da vida boa para o homem, a vida moral.

Nas práticas, os indivíduos podem encontrar bens à parte e melhores do que


aqueles valorados pelos seus desejos e paixões não dirigidas e dentro das quais eles
devem aprender como avançar além da sua ‘natureza humana não dirigida através da
disciplina destes desejos e paixões e do cultivo de hábitos virtuosos do intelecto e do
carácter.
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4.2. A Tradição

As concepções de virtude foram desenvolvidas desde Aristóteles até a


contemporaneidade, progressivamente desvinculadas da tradição da qual se originaram.
Com este movimento, acreditava-se estar tornando mais legítimas as teorias morais,
devido à aceitação da premissa de que tradição e racionalidade seguem direções
opostas. Macityre critica o contraste entre a tradição e a razão, entre a estabilidade e o
conflito, pois a sua ideia de tradição recusa essa dicotomia.

A tradição não se opõe à crítica, ela é permeável à crítica, ela é mesmo o lugar
da crítica, como podemos identificar na seguinte passagem: todo raciocínio acontece
dentro do contexto de algum modo de pensamento tradicional, transcendendo por
intermédio da crítica e da invenção, as limitações do que até então se pensava dentro
daquela tradição; isso é tão verdadeiro com a relação à física moderna, quanto com
relação à lógica medieval, Tradições quando vivas contêm continuidade de conflitos.
(Macintyre, 2001).

A racionalidade ética não é uma faculdade formal, mas um legado constituído


pela tradição na qual é posta em prática e dela constituinte. Em Tradição na ética de
utilizam-se as expressões que podemos traduzir por racionalidade constituída pela
tradição e, que podemos traduzir por racionalidade constitutiva da tradição, para ilustrar
o dinamismo da relação entre tradição e racionalidade no autor. A flexibilidade e a
consequente dificuldade de definição do conceito visam o abandono do sentido corrente
de tradição como algo estagnado e imutável. (Macintyre, 2001).

Uma tradição viva é, então, uma argumentação que se estende na história e é


socialmente incorporada, uma argumentação, em parte, exactamente sobre os bens que
constituem tal tradição. Dentro da tradição, a procura dos bens atravessa gerações.
Portanto, a procura individual do próprio bem é, em geral e caracteristicamente,
realizada dentro de um contexto definido pelas tradições das quais a vida do indivíduo
faz parte, e isso é verdadeiro com relação aos bens internos às práticas e também aos
bens de uma única vida.

4.3. A Unidade Narrativa da Vida Humana

A recuperação da unidade narrativa da vida humana proposta por Macintyre é,


na verdade, um projecto de reconstrução de uma unidade moral para o indivíduo
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contemporâneo, mediante o resgate de elementos conceituais obliterados pela


modernidade. O primeiro elemento é a ideia de que a inteligibilidade das acções morais
é conferida pela sua capacidade de inserir-se em narrativas, o segundo elemento é que
não há como atribuir responsabilidade moral sem uma noção forte de identidade
pessoal, também alcançada pela admissão de uma perspectiva narrativa da vida humana.

Enxergar a vida humana como uma narrativa dotada de início, meio e fim,
proporciona uma referência histórica para as virtudes, assim como demanda do
indivíduo que esteja consciente do fim ou dos fins aos quais está direccionando a sua
própria vida.Esta estrutura teleológica teria sido desconstruída ao longo da
modernidade, e com ela a ideia de que a unidade narrativa não é algo que alguém
precise lutar para ter, mas uma forma necessária para a existência humana.

Desse modo, mediante a diversidade de bens internos e externos que o indivíduo


se empenha em alcançar ao longo de sua vida, deve haver um bem prioritário e comum,
ao qual todos os demais estejam subordinados, sendo o grande exemplo o conceito
formal de felicidade ou vida plena aristotélica (eudaimonía). As práticas e as virtudes
precisam estar inseridas no cenário da busca por este (ou outro) bem maior, conferindo
inteligibilidade ao modo como os bens, as virtudes e as práticas se relacionam entre si, a
unidade de uma virtude na vida de alguém só é inteligível como característica de uma
vida unitária, uma vida que se possa conceber e avaliar na íntegra.

Nas suas reflexões, Macintyre se encontra dois tipos de obstáculos: os sociais e


os filosóficos. Os obstáculos sociais: provêm do modo como a modernidade divide a
vida humana numa série de segmentos, cada um com suas próprias normas e
modalidades de comportamento. (Macintyre, 2001).

Quanto aos obstáculos filosóficos, Macintyre olha o iluminismo de forma oposta


acredita que a autonomia, seja elamoral ou intelectual, precisa de critérios que estejam
inseridos num trama conceitual que, além de envolver elementos racionais, possua uma
estrutura narrativa, em que o exercício das virtudes específicas e das práticas que visem
bens internos tenham sentido não apenas em si mesmos, mas na vida do indivíduo como
um todo, assim como nas suas relações com os demais. Assim como Aristóteles, o
filósofo acredita que a única forma de se alcançar o saber prático é na relação com
outros indivíduos, na vida política.
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Com o abandono da concepção aristotélica de virtude, perdeu-se, também, a


forte noção de exemplo moral, que, muitas vezes, é o único dado capaz de oferecer
alguma sustentabilidade às decisões morais o primeiro tipo de obstáculo filosófico é
produto da filosofia moral analítica. Neste, o obstáculo para uma unidade narrativa da
vida humana reside, primeiramente, naseparação do indivíduo e seus papéis. Pensando
todos os papéis como figuras da inautenticidade, a virtude fica sem solo para se exercer.

De acordo com (Macintyre 2001) para Sartre, “apresentar a vida humana em


forma de narrativa é sempre deturpá-la. Não existem nem podem existir histórias
verdadeiras, a vida humana consiste em acções que não levam a lugar nenhum, que não
têm ordem”.Ao contrário do que propõe o existencialismo, Macintyre recupera a ideia
de uma “vida que possa se avaliar na íntegra”. Ou seja, trata-se de pensar uma forma de
identidade que perpasse várias situações ou práticas, e que as virtudes permitam
conceber, por exemplo, quando uma pessoa é corajosa ou paciente em vários tipos de
contexto.

Identidade de cada um será, ao modo das filosofias tradicionais, concebida como


“unidadenarrativa”, o conceito de um eu cuja unidade reside na unidade de uma
narrativa que une o nascimento à vida e à morte em forma de narrativa com começo,
meio e fim”,portanto, dizer que a vida humana constitui o seu sentido ao longo da
existência fica muito aquém da tese macintyriana de que este sentido se constitui, ao
longo das gerações, de forma intrínseca à moralidade vigente.

A recuperação de uma unidade narrativa para a vida humana é, portanto, uma


tentativa de recuperação da sua própria identidade, de uma rearticulação dos diversos
comportamentos nos quais a sua vida foi fragmentada, pois, para a identidade pessoal é
exactamente aquela identidade pressuposta pela unidade do personagem que a unidade
na narrativa requer.

5. Virtude, um Substrato da Racionalidade

A condição original do ser humano é racionalidade, em decorrência disso, seu


caráter inacabado, frágil e dependente implicam uma revisão do conjunto de virtudes
necessário para que o florescimento humano ocorra dentro da sociedade. O ser humano
enquanto animal racional vulnerável e dependente das virtudes necessárias para
sustentar as relações reciprocidade as quais ele se acha imbricado. Enquanto seres
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biológicos, somos extremamente vulneráveis, a ponto de devermos nossa própria


sobrevivência aos outros; dependemos dos demais membros da comunidade para a
consecução, não só do bem comum, mas também de grande parte dos bens individuais.

São as virtudes que permitem ao ser humano tornar-se um raciocinador prático


independente e participar das relações de reciprocidade que caracterizam a vida
humana. Por isso, MacIntyre acrescenta às virtudes da independência sua
contraparte necessária: as virtudes da dependência reconhecida. (Sousa, p 15:
2016).

Na medida em que somos seres biologicamente constituídos, nossa


sobrevivência e bom funcionamento dependem do acesso a um conjunto de bens
naturais básicos, tais como oxigênio, água potável e comida, cuja falta nos expõem, bem
como qualquer outro ser vivo, a uma situação de risco extremo. Em decorrência desse
tipo de vulnerabilidade e dependência, o pleno florescimento humano implica
considerar, em alguma medida, a própria natureza como um tipo de bem constitutivo
desse florescimento.

O papel das virtudes nesse contexto é reestabelecer uma nova relação entre o ser
humano e a natureza, na qual sejamos responsáveis não só por nós, mas também pelas
diversas formas de vida com as quais partilhamos o mesmo destino, devido ao poder
que sobre elas detemos. Diante disso, faz-se necessário, então, o acréscimo de um
terceiro conjunto de virtudes à tipologia apresentada por MacIntyre: além das virtudes
da independência e da dependência reconhecida, existem ainda as virtudes da
responsabilidade compartilhada.

6. ÉTICA TELEOLÓGICA

6.1. A Reabilitação da Ética Teleológica.

A reabilitação começa na sua obra intitulada por, "Depois da Virtude", traçando


uma narrativada história da filosofia moral que, em determinado ponto, sofreu uma
descontinuidade. Aética conseguiu dar conta dos problemas morais, segundo Macintyre,
até o começo damodernidade. Neste período, os iluministas descartaram toda a
importância da tradição e lançaram-se no projecto de dar uma justificativa puramente
racional para a moralidade.
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As tentativas de justificar racionalmente, a moralidade damaneira que os


iluministas queriam, tinha que fracassar por dois motivos: primeiro, por
aqueles que herdaram da tradiçãouma série de preceitos morais que ainda
consideravam válidos;e, segundo, queriam dar uma justificativa destes
preceitos sem recorrer aos esquemastradicionais que lhes davam sentido
(Ibidem. P. 27: 2001).

O esquema que funcionou desde a antiguidade clássica grega, passando pela


tradição muçulmana, judaica e cristã, chegando até Tomás de Aquino que realizou uma
síntese deste esquema, consistia num esquema teleológico. Tal esquema possuía um
triplo alicerce: o primeiro é a ideia do homem como ésem instrução; o segundo, do
homem-como seria se realizasse seu telos; e o terceiro, a ideia da ética como a ciência
responsável pela passagem de um estado ao outro.

Ora, se os iluministas excluem qualquer ideia de telos, pois acreditam que a


razão não pode conhecer nenhuma essência, o esquema se quebra. Sem a ideia de telos,
o que sobra é a ideia do homem como é sem instrução e uma série de preceitos éticos
que necessitam de fundamento, mas, ao mesmo tempo, esta possibilidade está perdida.
Ou seja, sem a ideia de como o "homem seria se realizasse seu telos", os preceitos éticos
parecem ser arbitrários. Sendo assim, se queremos uma ética capaz de lidar com nossos
problemas, devemos ver como é possível restabelecer o esquema clássico-teísta, ou
melhor, o esquema teleológico.

O filósofo do escocês defende que os juízos morais não são simples juízos que o
dos valores. Dizer que determinada acção é boa é bem diferente de dizer, por exemplo,
que beber"coca-cola" é bom. Ou seja, os juízos morais não são simples expressões de
preferências, eles possuem um conteúdo objectivo. Os juízos morais são consequências
de juízos de fato.

O "conceito funcional" entra no esquema teleológico da seguinte maneira,


suponhamos um relógio. Para que serve um relógio? Ora, para marcar as horas. Se
alguémpudesse escolher entre dois relógios, um que é de ouro, mas atrasa com
frequência e outrobarato, mas que nunca atrasa, quais destes seria melhor escolher? Sem
dúvida o que nãoatrasa, pois, a função do relógio é marcar as horas com precisão.
Poderíamos, então, dizerque o relógio barato é melhor que o de ouro, pois executa
melhor a sua função do queaquele. Desta forma, passamos de um juízo de fato a um
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juízo valorativo. Dizer que talrelógio não atrasa é um juízo de fato, mas dizer que pelo
motivo dele nunca atrasar ele émelhor ou é um bom relógio é um juízo de valor.

Assim, podemos perceber o papel que o conceito funcional desempenha na ética


teleológica de Alasdair Macintyre e o poder de explicação da inadequação das teorias de
matriz moderna iluminista, que abandonaram o conceito de telose, por isso,
fracassaram.Pois o que uma coisa deve ser deriva do porque ela é.Qualquer argumento
que passe de premissas que afirmam asatisfação dos devidos critérios a uma conclusão
que afirmeque "Isto é um bom x" em que "x" é um objecto especificadopor um conceito
funcional, será um argumento válido quepassa de premissas factuais a uma conclusão
normativa.

Com isto, Macintyre reabilita a passagem do "é" para o "deve", ou seja, os


juízosmorais (valorativos) são derivados dos juízos factuais, a não ser que se excluam
dos juízosmorais os "conceitos funcionais". “O telos de uma coisa está inscrito em sua
próprianatureza. O que algo deve ser depende do "para quê" alguém quer tal coisa, e,
para esta coisa ser uma boa coisa, ela deve fazer tudo aquilo que se espera que uma
coisa igual a esta,em boas condições, faça” (Ibidem. P 49. 2001).

5. Relevância da ética de Alaiscidir Mancietyre para a Sociedade Actual.

O pensamento filosófico de Alaiscidir Mancietyre reflete uma abordagem ética


actual que revitaliza o sentido das virtudes e a moral. Ma na sua ética fala do bem e diz
que somos respensáveis pelo bem-estar actual e futuro não apenas na humanidade, mas
todo mundo vivo do planeta. A capacidade de conservação e valorização das práticas e
atitudes éticas virtuosas partindo do tradicionalismo grego até aos nossos dias.

Com este pensamento ético, abriu-se um espaço inteiramente novo de


significado ético, para o qual não existe precedente nos modelos éticos tradicionais,
exigindo-nos que levemos em consideração não somente os interesses humanos, mas
também a natureza extra-humana com a qual partilhamos o mesmo destino. Essa nova
realidade implica uma ampliação do âmbito da ação humana, impondo-nos a
necessidade de estender a reflexão ética para além da esfera antropocêntrica e incluir o
respeito à natureza em geral como um bem de valor imprescindível.
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A promessa de uma paz perpétua, baseada no comércio, na racionalização


científica dos processos de decisão e das instituições, levou ao aumento sem
precedentes das tecnologias e do poder destrutivo das guerras. A promessa de uma
sociedade mais justa e livre, baseada na criação e distribuição da riqueza tornada
possível pela conversão da ciência em força produtiva, conduziu à espoliação dos países
periféricos e a um abismo cada vez maior entre ricos e pobres. Além disso, a redução da
ideia moderna de emancipação à racionalidade científica cognitiva-instrumental e a
elevação do princípio do mercado à condição de paradigma dominante de quase todas as
relações sociais contribuíram sobremaneira para chegarmos aonde chegamos.
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5. CONCLUSÃO

Alasdair Macintyre é considerado um dos autores que tem escrito, de uma forma
mais inteligente e informada, sobre ética, nos dias actuais e constitui uma das vozes
mais autorizadas e singulares neste domínio. Este pensador por sua vez foi influenciado
pelas reflexoes filosoficas de Aristóteles e São Tomás de Aquino.

Defende é que os juízos morais não são simples juízos de valor, enxerga a
retomada de uma ética de virtudes para a contemporaneidade como saída do profundo
pessimismo resultante da admissão do fracasso do projecto iluminista de justificar
racionalmente da moralidade, que insiste em eleger uma moral universalmente válida e
fundamentada exclusivamente pela razão.

As suas abordagens são de estima relevância para a sociedade actual, pois ele
trata da moralidade e das virtudes como um meio que garante a socialização e a boa
relação entre os homens dentro da sociedade. Ele compreende as virtudes como as bases
fundamentais que guiam a moralidade dos homens e a sua conduta.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Knight, Kelvin. Filosofia aristotélica: ética e politica de Aristóteles a Macintyre.


Cambridg: Imprensa política, 2007.

Lutz, tradiçãona ética do Alasdair Macintyre: relativismo, tomismo e filosofia. Livros


de lexington, 2004.

Macintyre,Alasdair. Crise epistemológica, narrativa dramática e a filosofia da ciência,


1977: nos ensaiosseleccionados. Nova Iorque:jornal universitário, 2006.

________________. Depois da Virtude. Trad. Jussara Simões. Rev. Helder Buenos


Aires de Carvalho. Bauru: EDUSC, 2001.

Marconi, M. de A. e Lakatos, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. 5ª Edição.

São Paulo. Editora Atlas S.A. 2003.

Sousa, José. As virtudes da responsabilidade compartilhada: uma ampliação da teoria


das virtudes de Alasdair Macintyre. Porto Alegre, 2016.

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