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relação com o aprender

Teoria histórico-cultural e sua


LEARNING THEORIES AND THE DESIGN OF E-LEARNING ENVIRONMENTS - EDU620-1.3
Teoria histórico-cultural e sua relação com o aprender • 2/12

Teoria histórico-cultural e sua relação


com o aprender
Conteúdo organizado por Tatiana dos Santos em 2018 do livro Learning
Environments by Design, publicado em 2015 por Catherine Lombardozzi. Revisão
2020

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender os princípios da teoria histórico-cultural e sua relação com a
aprendizagem.

Introdução
A teoria histórico-cultural surge na primeira metade do século XX na antiga União
Soviética. Ela possui quatro grandes autores: Vygotsky, Luria, Leontiev e Davydov.
Vygotsky elaborou um conjunto de obras relevantes até os dias de hoje para
compreender o processo de aprendizagem e desenvolvimento do ser humano.
Em sua obra A formação social da mente, ele afirma que a linha orientadora de
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suas pesquisas consistia em “caracterizar


os aspectos tipicamente humanos do
comportamento e elaborar hipóteses de
como essas características se formaram
ao longo da história humana e de como
se desenvolvem durante a vida de um
indivíduo (Vygotsky 2016, p. 21)”.
Sua preocupação fundamental girava em
torno de três grandes questões:
a) compreender como o ser humano
se relaciona com o seu meio físico e
social;
b) conhecer como as relações entre
o homem e o trabalho trouxeram
consequências psicológicas para o ser
humano;
c) entender as relações entre os usos de
instrumentos e o desenvolvimento da
linguagem.

Ele investigou as funções psicológicas


superiores que consistem no modo típico
de funcionamento psicológico humano
diante das capacidades de solucionar
problemas e armazenar informações, da
capacidade de memória e formação de
conceitos, dentre outros processos mentais.
O termo “superiores” tem a conotação
de que essas funções psicológicas são
mecanismos tipicamente intencionais,
ou seja, são processos psicológicos
controlados pelo ser humano a partir do
processo de internalização da cultura.
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Você já deve ter visto como ocorre o processo de desenvolvimento por meio
da filogênese e da ontogênese. A filogênese é o processo de sucessões de
alterações de ordem biológica dos seres vivos. O processo de ontogênese é a
sucessão de transformações individuais pelas quais passa cada sujeito em si desde
o seu nascimento até a morte. Ao mesmo tempo em que sofremos alterações de
ordem filogenética (espécie), passamos também por transformações sucessivas
e individuais (sujeito). As modificações pelas quais cada sujeito passa são
reproduções das modificações na espécie.
Para conviver em uma sociedade, é preciso que o processo de constituição da
pessoa seja mediado pela cultura. Por meio do processo de aculturação, o
sujeito torna-se humano ao apresentar capacidades, tais como o raciocínio
lógico-matemático e a linguagem articulada, por exemplo. É importante
salientar que a cultura é fundamental, sobretudo nas sociedades contemporâneas,
em que a grande maioria das pessoas foi submetida ao processo de escolarização.
Ao conviver em uma sociedade escolarizada, com os saberes necessários saber lidar
com as demandas cotidianas, requer-se um processo específico de aculturação e
um processo específico de aprendizagem. De acordo com Oliveira (2014, p. 38),
“[...] cultura, entretanto, não é um sistema estático ao qual o indivíduo se submete,
mas como uma espécie de ‘palco de negociações’, em que seus membros estão num
constante movimento de recriação e reinterpretações de informações, conceitos e
significados”.
No conjunto de teorias da aprendizagem, há três grandes abordagens: a inatista,
a empirista e a interacionista. As teorias inatistas são aquelas que defendem
que tudo o que o ser humano necessita para aprender já é dado a priori na sua
estrutura. As teorias empiristas (ambientalistas) são aquelas que valorizam muito
a interação com o meio que oportunizará, de forma determinante, a aprendizagem
do sujeito. As teorias interacionistas apontam que o meio é importante tanto
quanto o ser humano. O ser humano interage com os estímulos do meio e, com
estes, modifica a si mesmo na medida em que modifica os mesmos estímulos. Isso
requer um papel estimulante, tanto do meio, quanto do sujeito.
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Quadro 3.1 – Descrição das abordagens inatista, empirista e interacionista

Teoria da
Características
aprendizagem
• Assegura que as capacidades básicas do ser humano são inatas

• Enfatiza fatores maturacionais e hereditários como definidores da


constituição do ser humano e do processo de conhecimento (biologismo).

• Considera que o desenvolvimento (biológico maturativo) é pré-requisito


para a aprendizagem.
Inatismo
• Entende, portanto, que a educação em nada contribui para esse
desenvolvimento, já que tudo está determinado biologicamente segundo a
programação genética.

• Confia nas práticas educacionais espontaneístas, pouco desafiadoras:


primeiro esperar para depois fazer.
• Atribui ao ambiente a constituição das características humanas.

• Privilegia a experiência como fonte de conhecimento e de formação de


hábitos de comportamento (empirismo).

• Diz que as características individuais são determinadas por fatores externos


aos indivíduo e não necessariamente pelas condições biológicas.

Empirismo • Suas práticas pedagógicas estão baseadas no assistencialismo,


conservadorismo, direcionismo e tecnicismo: ensino bom, aprendizagem
(ambientalismo)
boa.

• Supervaloriza a escola, já que o aluno é um receptáculo vazio, uma “tábula


rasa”: deve aprender o que se lhe ensina.

• Faz predominar a palavra do professor, regras e transmissão verbal do


conhecimento: o professor é o centro do processo de ensino-aprendizagem;
o professor, um ente ativo... o aluno, um ente passivo.
• Parte da ideia de que o biológico e o social interagem (unidade dialética),
e o biológico (cérebro principalmente) constitui a base da aprendizagem
Interacionismo social.

• Considera o interno (biológico e psicológico) em interação com o externo


(meio, ambiente natural e social).
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• Defende o desenvolvimento da complexa estrutura humana como um


processo de apropriação pelo homem da experiência histórica e cultural.

• Assegura que nessa interação o homem transforma seu meio e é


transformado nas suas relações culturais.

• Valoriza o papel da escola, em particular, e da sociedade, em geral, do ponto


Interacionismo
de vista individual (para o desenvolvimento pessoal) e do ponto de vista
social (para o desenvolvimento da própria sociedade)

• Assegura que a aprendizagem se produz pela interação do sujeito que


aprende (mediado) e do sujeito que ensina (mediador), porém quem
aprende autoconstrói seu próprio conhecimento.

Fonte: adaptado de Díaz (2011).

O Desenvolvimento das Funções Psicológicas


Superiores
Para a teoria histórico-cultural, o desenvolvimento das funções psicológicas
superiores sempre ocorre por meio de um processo denominado mediação.
Para essa abordagem, não há um contato direto do sujeito com o objeto ou
conhecimento a ser apropriado. Entre o estímulo e a resposta, há algo que
possibilita a conexão de aprendizagem (mecanismo de aprendizagem).

Figura 3.1 – Processo de desenvolvimento das funções psicológicas de acordo com a teoria histórico-cultural

Estímulo Resposta

Mediação

Fonte: elaboração da autora.

A mediação consiste na relação do homem com o mundo e com outros. Por meio
desse processo é que as funções psicológicas superiores se desenvolvem. Para
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Vygotsky (2016), a mediação ocorre pelos instrumentos que regulam as ações


sobre os objetos e pelo signo, cuja função é orientar as ações sobre as funções
psicológicas.
Os elementos mediadores do desenvolvimento das funções psicológicas superiores
são os instrumentos e os signos.
Exemplos:
• Luz acesa: algo que está entre você e a curiosidade de saber se há alguém ou
não no apartamento. A luz acesa teria um papel de instrumento. O instrumento
possibilita agir sobre o objeto ou o conhecimento a ser apropriado. A
utilização de instrumentos e de signos, embora distintos, relaciona-se à
evolução da espécie humana (filogênese) e ao desenvolvimento de cada
sujeito (ontogênese). Os instrumentos auxiliam na realização concreta da
ação humana, ajudando o ser humano em sua atividade psíquica. Os signos
possibilitam ao ser humano o controle e a regulação do seu comportamento,
proporcionando a consciência e a reação voluntária aos significados
representados pelo instrumento mediador.
• Acesso à agenda no celular: hoje é possível que a pessoa acesse o
conhecimento estabelecendo uma ponte. Não é preciso memorizar os
números de telefones, pois eles estão registrados na memória. Indo mais além,
percebemos que o processo ontogenético (processo sucessivo individual de
transformações) ocorre por meio da mediação pela cultura sem a necessidade
de interação direta sobre os objetos do mundo. Ao interagir com os signos é
que se dá o desenvolvimento das funções psicológicas superiores.
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Estudo de Caso

Maria Isabel, a menina galinha

Maria Isabel passou os primeiros oito anos de sua vida em um galinheiro,


junto às galinhas, enquanto sua mãe trabalhava no campo.
Era alimentada apenas com milho, couves cortadas e uma caneca de café.
Por conviver nesse contexto, a menina, que herdara os hábitos das aves,
comportava-se como se fosse uma delas. Não falava, só emitia ruídos
parecidos com os das galinhas. Andava com os braços curvados para trás
como se imitasse um par de asas, bicava coisas no chão, ciscava e sempre
virava a cabeça de lado para olhar. Quando foi encontrada, apresentava
características específicas, como: subdesenvolvimento ósseo; grande
debilidade; cabeça demasiado pequena para a idade; face com semelhanças
flagrantes com os galináceos (perfil, posição labial, dentição formada como
se fosse um bico); olhos grandes (rasgados no sentido descendente); posição
dos braços muito idêntica à das asas das galinhas.
O que influenciou o desenvolvimento dessas características na
pequena Isabel?

Saiba Mais
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Veja também o seguinte vídeo:

“Grandes Educadores Lev Vygotsky”, escrito e apresentado por


Marta Kohl de Oliveira. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=T1sDZNSTuyE>.

Na ponta da língua
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Referências Bibliográficas
DÍAZ, Félix.O Processo de Aprendizagem e seus Transtornos. Salvador: EDUFBA,
2011.
LOMBARDOZZI, Catherine. Learning Environments by Design. Alexandria:
Association for Talent Development, 2015.
OLIVEIRA, Marta Khol. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo
sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 2014.
VYGOTSKY, L. S. Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 2016.
Você pode acessar o livro base deste tema
na Biblioteca Lirn:

Learning Environments by Design


Catherine Lombardozzi
Alexandria: Association for Talent Development, 2015

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