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Recurso PMERJ 2024 - Prova verde (n. 02).

Português
Questão n. 03
A questão acima traz intepretação de trecho textual, no qual coteja linguística
(glotologia). Linguística é a ciência que se ocupa em estudar as características
da linguagem humana. O linguista é responsável por analisar e investigar toda a
evolução e desdobramentos dos diferentes idiomas, bem como a estrutura das
palavras, expressões idiomáticas e aspectos fonéticos de cada língua.
Neste caso, a resposta indicada pela Banca é a letra “A”, como a menos incorreta
eis que, se analisarmos todas as afirmativas, nenhuma delas responde
corretamente o enunciado.
Explica-se. A afirmativa “A” traz que “a pergunta feita no texto não é respondida”.
Pela natureza da indagação, ou seja, por ser ela uma indagação retórica,
naturalmente não há resposta. Porém no texto, inicia-se a resposta da indagação
quando assim o autor escreve: “É consenso que as dificuldades principais são
oferecidas pela gramática, cujo conceito dominante é o de que seja um rol de
regras...”. Veja-se que, apesar de se iniciar uma resposta, ela não é completa, já
que o texto está na prova somente em trecho.

|Ainda que consideremos a resposta como a “A”, a matéria susodita (linguística


e glotologia), faz parte da matriz curricular do ensino superior e não está
apresentada no edital como matéria a ser cobrada na prova desse certame, o
que viola o princípio da vinculação.

Portanto, não havendo compatibilidade com o edital, a questão demanda a


autotutela da Banca para que seja anulada.
Questão n. 07
07). A frase abaixo em que os dois adjetivos nela destacados representam
estados, é:

(A) Homem resfriado não deve ficar deitado;


(B) É um milagre divino que a curiosidade sobreviva à educação formal;
(C) O objetivo da educação é substituir uma mente vazia por uma mente aberta;
(D) Nossas necessidades são poucas, mas nossos desejos são incontáveis;
(E) Não se pode descobrir novas terras sem aceitar perder de vista a terra por
um longo tempo.

O candidato conseguiria alcançar a resposta dada como correta pela banca


realizando a troca de ser por estar, antes do adjetivo, v.g., “homem está
resfriado- estado- e homem está deitado – estado“. A assertiva “A” é a assertiva
correta indicada pela banca. Podemos realizar tal manobra, para exemplificar,
na alternativa “B”, o que resultaria em “milagre é divino e educação é formal”, o
verbo utilizado é o “ser” e, dessa feita, não haveria adjetivo de estado.
Porém, na alternativa “C”, teríamos incongruência, eis que, fazendo a
substituição, poderíamos obter, uma mente está vazia e uma mente é aberta ou
está aberta e, dessa forma, teríamos, também, os adjetivos de estado.
Apesar do explanado, não há, em gramática da língua portuguesa a classificação
de adjetivos como sendo de “estado”. Dessarte, inovou a banca, o que viola o
edital e as normas gramaticais, merecendo ser a questão acima anulada, em
sede de autotutela, pela banca.

A banca considerou a alternativa (A) como sendo a correta, contudo, a Palavra


resfriado, atende o quesito pois de fato é um adjetivo e pode ser entendido como
de estado – mesmo este conceito não sendo encontrado na nossa gramática de
língua portuguesa. Vejamos o que o gramático Evanildo Bechara diz em seu livro
Moderna Gramatica portuguesa 37. Edição.

Gradação do adjetivo – Há três tipos de gradação na qualidade expressa pelo


adjetivo: positivo, comparativo e superlativo, quando se procede a
estabelecer relações entre o que são ou se mostram duas ou mais pessoas.
Como já dissemos, a gradação em português se expressa por mecanismo
sintático ou derivacional:
O Positivo, que não se constitui a rigor numa gradação, enuncia simplesmente
a qualidade: O rapaz é cuidadoso.
O Comparativo compara qualidade entre dois ou mais seres, estabelecendo:
a) uma igualdade: O rapaz é tão cuidadoso quanto (ou como) os outros.
b) uma superioridade: O rapaz é mais cuidadoso que (ou do que) os outros.
c) uma inferioridade: O rapaz é menos cuidadoso que (ou do que) os outros.
O Superlativo pode:
a) ressaltar, com vantagem ou desvantagem, a qualidade do ser em re lação a
outros seres:
O rapaz é o mais cuidadoso dos (ou dentre os) pretendentes ao emprego.
O rapaz é o menos cuidadoso dos pretendentes.
b) indicar que a qualidade do ser ultrapassa a noção comum que temos dessa
mesma qualidade:
O rapaz é muito cuidadoso.
O rapaz é cuidadosíssimo
.
**grifo próprio, não consta no livro

Mesmo assim, podemos inferir de fato que resfriado é um adjetivo de estado pois
“resfriado” retrata o estado fisiológico do agente, - “ele está resfriado” – significa
o estado atual em que está, o adjetivo acompanha o substantivo “homem”
qualificando a palavra.
Já na segunda destacada - deitado – está junto com o verbo ficar remetendo o
substantivo inicial “Homem” – o Homem está deitado, ...Não deve ficar deitado.
Retrata a posição em que está ou modo em que ele se encontra no momento da
fala. Nada tem a ver com o primeiro inferido em estado físico ou fisiológico,
lembrando que o adjetivo deve qualificar o substantivo, por analogia
reescrevendo a frase: o homem é deitado? Deitado qualifica homem? E ainda
assim atribuindo sentido de estado? Outro exemplo: – O homem está alegre –
“alegre é adjetivo, qualificando o substantivo e atribuindo uma qualidade de
estado ou estado transitório (uma hora está alegre, outra triste...).
A alternativa em que mais se aproxima é a letra (C) O objetivo da educação é
substituir uma mente vazia por uma mente aberta. Vazia e aberta são dois
adjetivos que qualificam os dois substantivos “mente” e pode ser compreendido
como de estado: - a menta está vazia, a mente está aberta.

De acordo com os argumentos relatados, pede-se a troca de gabarito para a


alternativa (C).

Questão n. 09.
Como sabido e conceituado, o advérbio é a classe de palavras que acompanha
verbos, adjetivos ou outros advérbios, acrescentando-lhes características ou
intensificando o seu sentido1. Sendo, dessarte, o advérbio a palavra que
modifica o sentido do verbo, adjetivo ou outro advérbio, há diversas
classificações.
Na questão, as assertivas buscam que o candidato analise o advérbio de lugar
“lá” e o seu uso escorreito, nos termos da gramática da língua portuguesa. O
significado de “lá” é, segundo o dicionário “advérbio Ali, naquele lugar, naquela
situação; aponta um lugar relativamente afastado da pessoa que fala; ali: sente-
se lá. Em direção a um lugar; naquele lugar: sempre morei lá”.

Em análise detida das assertivas não há diversas corretas. Explica-se.


Usualmente, em frases, busca-se a utilização do advérbio “lá” para designar
lugar fora do alcance da vista2. Já para a banca, a alternativa indicada como
correta seria a letra “d”, eis que o referencial se encontra na frase. Importante
rememorar, porém, que não há tal imposição, o que faz com que todas as
alternativas sejam corretas.
Direito Administrativo.
Questão 31
A questão tem João como indivíduo particular e sem qualquer vínculo com o
poder público, mas que pratica um ato de necessidade pública iminente
(salvamento de Mévia), atuando em prol de interesse público. Nesse caso, João
é considerado agente público de fato necessário, encaixando-se, perfeitamente,
neste conceito.
A questão tem o seguinte gabarito oficial: agente público de fato necessário.
Contudo, analisando o conteúdo exigido pelo edital do concurso, é possível
verificar que o conteúdo exigido na questão está fora do exigido pelo edital, pois
este não prever cobrar do candidato cobrar do candidato o conhecimento de
agente público de fato necessário, mas tão somente de agente público quanto
aso requisitos de: competência, finalidade, forma, motivo e objeto.
Assim, esta questão merece ser anulada, pois possui conteúdo fora do previsto
no edital do concurso.
Noções de Direito Processo Penal.
Questão 46
A questão de número 45 traz duas situações afetas ao Direito Penal. No primeiro
cenário, temos Tício, que ingressou no jardim de uma residência, escalando o
muro almejando adentrar ao local e proceder à subtração de diversos bens.
Porém, ao avistar uma criança com o pai, mudou de ideia e deixou o local.
Temos, in casu, clara desistência voluntária, a qual se dá quando o agente
abandona a execução do crime quando ainda lhe sobra, do ponto de vista
objetivo, uma margem de ação.
No cenário descrito, observando-se o dolo (animus furandi) que seria a
consciência e vontade dirigida ao fim de furtar e o iter criminis – cogitação,
preparação, execução e consumação- temos que o autor do fato, Tício, apesar
do dolo explicitado e de iniciar a execução de seu intento, abandonou-o após
avistar pai e filha brincando. Há clara expressão da desistência voluntária.
A consumação não é alcançada por razões diversas: na tentativa, por
circunstâncias alheias à vontade do agente; na desistência voluntária e no
arrependimento eficaz, por manifestação de vontade do agente. Essencial, no
exemplo, a análise do dolo do agente e do iter criminis, para que se chegue a tal
conclusão.
Nesse sentido é a jurisprudência:

EMENTA
DIREITO PENAL. RECURSO ESPECIAL. TENTATIVA DE LATROCÍNIO.
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA. REVOLVIMENTO PROBATÓRIO.
DESCLASSIFICAÇÃO. POSSIBILIDADE. DÍVIDA DE CORRIDA DE TÁXI.
COISA ALHEIA MÓVEL. NÃO CONFIGURAÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE
CONHECIDO E PROVIDO.

1. Na linha da jurisprudência deste Tribunal, "para reconhecer a desistência


voluntária, exige-se examinar o iter criminis e o elemento subjetivo da
conduta, a fim de avaliar se os atos executórios foram iniciados e se a
consumação não ocorreu por circunstância inerente à vontade do agente,
tarefa indissociável do arcabouço probatório" (AgRg no AREsp n.
1.214.790/CE, relator Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
17/5/2018, DJe de 23/5/2018). Incidência da Súmula n. 7/STJ.2. A dívida de
serviço de transporte urbano por táxi não pode ser considerada "coisa alheia
móvel" para fins de configuração da tipicidade dos delitos patrimoniais, sob pena
de se fazer equiparação em prejuízo do acusado, violando o princípio da
legalidade estrita que rege o Direito Penal.
3. A dinâmica dos fatos narrada no acórdão descrevendo a conduta da ré, que
desferiu uma facada no pescoço do taxista, ao fim da corrida, por não possuir
dinheiro para o pagamento, não se amolda à figura do latrocínio.
4. Recurso especial parcialmente conhecido e provido. Ordem concedida, de
ofício, para que a recorrente seja posta em liberdade.

Dessarte, quanto ao cenário descrito no primeiro parágrafo, correta a aplicação


da desistência voluntária, eis que o crime não ocorreu por circunstância inerente
à vontade do agente.
O problema da questão, reside no cenário de número 2, o qual traz que Mévio
desferiu diversos socos em seu desafeto o qual pediu clemência e, em razão
disso, houve, por parte de Mévio, o cessar das agressões.

Em Análise detida do segundo cenário, não há menção acerca do dolo de Mévio,


se se tratava de dolo de lesionar (anius laedendi) ou de matar (animus necandi).
Nessa senda, resta impossibilitada a conclusão acerca de desistência voluntária
eis que, se inerente à vontade do agente, necessário saber qual o seu dolo e se,
realmente, desistiu no caminho da consecução do crime. Ademais, se o dolo for
de lesionar, não há desistência voluntária, mas crime consumado.

Pelo exposto, a análise do apresentado no cenário dois, é prejudicada e não


oferta ao concorrente dados necessários para concluir pela desistência
voluntária, como susodito. A questão, portanto, merece ser anulada, por falta de
pressupostos essenciais na análise do caso fático apresentado no cenário dois
e ausência de resposta.
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Questão 48
A resposta correta considerada pela banca é a apresentada na assertiva “E”.
Porém, na questão susodita, há claro ferir do edital, eis que o assunto agravantes
não está relacionado no instrumento convocatório:

NOÇÕES DE DIREITO PENAL


1. Parte Geral:
1.1 Da aplicação da Lei Penal;
1.2 Do Crime;
1.3 Da Imputabilidade Penal;
1.4 Das penas:
1.4.1 Penas privativas de Liberdade;
1.4.2 Penas Restritivas de Direitos;
1.4.3 Penas de multa;
1.4.4 Da Suspensão Condicional da Pena;
1.4.5 Do Livramento Condicional;
1.4.6 Da Ação Penal;
2. Parte Especial:
2.1 Dos Crimes Contra a Pessoa;
2.2 Crimes contra o Patrimônio;
2.3 Crimes contra a Dignidade Sexual;
2.4 Crimes contra a Paz Pública;
2.5 Crimes contra a Fé Pública;
2.6 Crimes contra a Administração Pública;
2.7 Noções Gerais das Legislações
3. Penais Especiais:
3.1 Lei n°13.869/19 “Abuso de Autoridade";
3.2 Lei n° 8.072/90 - “Lei dos Crimes Hediondos”;
3.3 Lei n° 9.455/97 – “Lei de Tortura”;
3.4 Lei nº 10.741/03 – “Estatuto do Idoso”
3.5 Lei n° 11.343/06 “Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas”;
3.6 Lei nº 11.340/06 – “Lei Maria da Penha”;
3.7 Lei n° 8.069/90 - “Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA”;
3.8 Lei n° 9.099/95; “Leis dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais”;
3.9 Lei n° 10.826/03- Estatuto do desarmamento;
3.10 Lei 8.078/90 - Crime contra consumidor;
3.11 Lei 13.146/15 – “Estatuto da Inclusão da Pessoa com Deficiência”.

Veja-se que, em nenhum dos itens de penal demandou-se dosimetria de pena


ou o tema atenuantes e agravantes.

Dessarte, em honra ao instrumento convocatório e ao Princípio da Vinculação, a


questão acima deve ser anulada pela Banca.

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