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GRUPO I:

CESÁRIO VERDE

Ave-Marias – Parte I

1. Localiza, no período do dia, os acontecimentos narrados, estabelecendo conexões com o título.

Resposta: Os acontecimentos situam-se no final da tarde, quando os sinos tocam as ave-marias,


isto é, por volta das 18h, correspondendo ao período do dia apresentado no título.

2. Explica a dimensão épica presente no poema.

Resposta: A dimensão épica é activada pelo recurso à memória, tal como comprovam os versos
que integram a sexta estrofe, onde claramente se vê a referência às descobertas marítimas; à luta
contra os mouros, à acção de Camões, um passado grandioso que o “eu” não verá jamais, como o
próprio afirma.

3. Clarifica a associação que se pode estabelecer entre a referência às varinas e o naufrágio de
Camões.

Resposta: Tal como Camões passou por várias tormentas, entre as quais o naufrágio, também os
filhos das varinas terão como destino a pesca, actividade onde muitos pescadores, ainda hoje,
perdem a vida.

4. Identifica duas características temáticas da poesia de Cesário Verde, fundamentando a tua


resposta.

Resposta: As características temáticas da poesia de Cesário Verde presentes nesta composição


poética são:
- a atenção aos trabalhadores, reveladora de uma consciência social, quando se refere aos
operários (carpinteiros e calafates);
- a observação impressionista de aspectos do real quotidiano;
- a transfiguração do real, presente na comparação das edificações em madeira com gaiolas e dos
carpinteiros com morcegos;.

Noite fechada – Parte II

5. As afirmações que se seguem sistematizam, por estrofe, o seu assunto.

1.1 Identifica o número da estrofe correspondente a cada alínea.

a) A visão de uma realidade luminosa conduz à imaginação de espectáculos. 3

b) O estado doentio do eu lírico agudiza-se: suspeita de um quadro clínico grave. 2

c) A clausura na cidade que afeta, sobretudo, os mais frágeis. 1

d) A observação negativa do clero lembra um passado de repressão inquisitorial. 4

e) Surge, contrastante, um símbolo épico e glorioso da nação. 6


f) O eu sente-se muralhado pelas construções citadinas e pelos seus sons. 5

g) Sentimentos mórbido do sujeito lírico, em oposição às “elegantes” alegres. 9

h) Toada a realidade serve de matéria poética. 11

i) A doença e a morte surgem imediatamente após o fôlego épico. 7

j) Diversos tipos de mulheres cruzam-se nas lojas. 10

k) Nova evasão, desta feita para a Idade Média. 8

6. Atenta na estrofe seis e explicita o contraste aí presente.

Resposta: “Num recinto público e vulgar”, com “exíguas pimenteiras”, actual, ergue-se a estátua (de
Camões), épica e gloriosa que evoca uma época áurea da nação. Há assim uma discrepância ao nível
do tempo – um passado ilustre e um presente trivial. Por outro lado, o monumento contrasta com o
espaço físico e humano de degradação que vem sendo descrito (prisões, doenças...).

7. Explicita o sentido dos versos “E eu sonho a Cólera, imagino a Febre. / Nesta acumulação de
corpos enfezados” (vv.69-70).

Resposta: A partir da observação do real, “corpos enfezados”, ativa-se a imaginação hiperbólica do eu


lírico, evocando epidemias como a “Cólera” e a “Febre”.

Ao gás – Parte III

8. Na primeira estrofe desta secção, recupera-se o tema da doença para mostrar que a sociedade está
enferma.

8.1. Indica o motivo por que podemos afirmar que, nas estrofes 1 a 3, a doença é fisiológica,
moral e psicológica.

Resposta: Para mostrar a doença da cidade, alude-se aos hospitais (doença fisiológica), às prostitutas
(“impuras”; enfermidade moral) e ao histerismo das freiras (doença psicológica).

9. Explicita de que forma a vitalidade e a condição saudável da cena da estrofe 4 contrasta com as
situações das estrofes anteriores.

Resposta: Contrastando a doença e a frouxidão, enaltece-se o que existe de saudável, de enérgico, na


cidade: o trabalho do forjador e do padeiro. Faz-se o elogio do trabalho.

9.1. Identifica as sensações sugeridas na representação desta cena e comenta a pertinência


desta utilização.

Resposta: Através das sensações visuais (“rubramente”, auditivas (“maneja o malho”) e olfactivas
(“cheiro”), representa-se expressivamente a vitalidade, a energia que ainda existe na cidade entre os
que trabalham e são genuínos.
GRUPO II:

MAIAS

- Vamos terraço! Dá-se um olhar ao jardim, e abalamos!

Mas deviam atravessar ainda a memória mais triste, o escritório de Afonso da Maia. A fechadura estava
perra. No esforço de abrir, a mão de Carlos tremia. E Ega, comovido também, revia toda a sala tal como
outrora, com os seus candeeiros Carcel dando um tom cor-de-rosa, o lume crepitando, o reverendo
Bonifácio sobre a pele de urso, e Afonso na sua velha poltrona, de casaco de veludo, sacudindo a cinza
do cachimbo contra a palma da mão. A porta cedeu: e toda a emoção de repente findou, na grotesca,
absurda surpresa de romperem ambos a espirrar, desesperadamente, sufocados pelo cheiro acre dum
pó vago que lhes picava os olhos, os estonteava. Fora o Vilaça, que, seghuindo, uma receita de
almanaque, fizera espalhar, às maõs cheias sobre os móveis, sobre os lençóis que os resguardavam,
camadas espessas de pi- menta branca! E estrangulados, sem ver, sob uma névoa de lágrimas, os dois
conti- nuavam, um defronte do outro, em espirros aflitivos que os desengonçavam.
Carlos, por fim, conseguiu abrir largamente as duas portadas de uma janela. No terraço morria um resto
de sol. E, revivendo um pouco ao ar puro, ali ficaram de pé, calados, limpando os olhos, sacudidos ainda
por um ou outro espirro retardado.

– Que infernal invenção! – Exclamou Carlos, indignado.

Ega, ao fugir com o lenço na face, tropeçara, batera contra um sofá, coçava a canela:

– Estúpida coisa! E que bordoada que eu dei!...

Voltou a olhar para a sala, onde todos os móveis desapareciam sob os largos su- dários brancos. E
reconheceu que tropeçara na antiga almofada de veludo do velho Bonifácio, Pobre Bonifácio! Que fora
feito dele?

1) Explicite os sentimentos evocados pelos dois amigos ao revisitarem este espaço do passado.

Resposta: Ao revisitarem o Ramalhete, aquando do regresso de Carlos, dez anos após a sua partida, os dois
amigos recu- peram da memória os tempos em que Carlos aí vivia com o seu avô, Afonso da Maia. O local que
mais recordações lhes traz é o escritório de Afonso que é caracterizado como “a memória mais triste”.
Enquanto tentam abrir a porta, são destacadas, através da focalização de Ega, a felicidade e a harmonia dos
tempos em que Afonso era vivo quer através da descrição do espaço quer pela des- crição do avô de Carlos.

2) Demonstre que as características físicas deste espaço assumem, no contexto da obra, um caráter
simbólico, fundamentando a sua resposta com citações textuais pertinentes.

Resposta: Da descrição física deste espaço destacam-se os lençóis brancos que cobrem os móveis que,
assemelhados a “sudários”, remetem para a ideia de fim, de morte; este parece ser o destino final (e fatal) da
família Maia – o seu desaparecimento. Esta ideia é complementada pela utilização do verbo desaparecer (“os
móveis desapareciam”). Além destes aspetos, pode referir-se também o momento do dia em que decorre a ação
e que remete também para a ideia de fim (“No terraço morria um resto de sol”).
GRUPO III

ROMANCE SOBRE A CULPA

Afonso Cruz acaba de publicar do2is livros, um novo volume da Enciclopédia da estória universal, mil
anos de esquecimento, que, devido à sua complexidade, recen- searemos mais tarde, e o romance Nem
todas as baleias voam. Não se pode dizer que haja novidade no conteúdo dos dois livros. Pelo contrário,
ambos prolongam tanto os habituais temas que envolvem a sua escrita como o estilo do autor desde o
seu segundo romance. No entanto, entre todos, Nem todas as baleias voam é por- ventura o seu melhor
romance: um estilo já totalmente depurado de retórica, de floreados empolados ou de um número
excessivo de preciosismos eruditos, eviden- ciando o autor como um dos mais cultos escritores
portugueses atuais, em conjunto com Patrícia Portela e Gonçalo M. Tavares; uma coesão muito, muito
sólida entre o universo das personagens e a história que as vincula à mesma ação e ao mesmo enredo;
jogos paralógicos (paradoxos, contradições, situações absurdas, habituais nos seus livros) descritos com
evidente clareza, espantando o leitor; caracterização assombrosa das personagens através de uma
fortíssima simbiose entre imaginação e realismo. Mais do que os restantes, talvez este seja o romance
de Afonso Cruz no qual as personagens assumem o lugar principal. O seu tema explícito consiste na ten-
tativa feita pela CIA, na década de 1960, de “converter” ao liberalismo as massas russas através da
música americana não erudita, jazz, blues, folk, sobretudo através de concertos de músicos negros
(desconhecemos se este tema corresponde a uma realidade efetiva ou se se trata de uma efabulação do
autor). Porém, o tema “oculto” ou latente, que atravessa e caracteriza todas as personagens, consiste
na explora- ção do sentimento de culpa existente camufladamente na nossa sociedade após a II Grande
Guerra: como foi possível a morte de 60 milhões de homens às mãos de outros tantos em pleno século
da Ciência, da Razão, do Progresso? Como foi possível o Holocausto?
Porém, tanto como o tema, são as personagens que atraem o leitor, tão fabuloso é o seu desenho, com
características além ou aquém das propriamente humanas, um desenho racional e voluntariamente
desequilibrado. [...] Como se constata, tanto como o tema da culpa, são as personagens, de recorte
maravilhoso e extraordinário, benigno ou maligno, que estruturam a arquitetura de Nem todas as
baleias voam. Este título exprime um grito de revolta humanista con- tra a estratificação rígida da
sociedade, no sentido de ser possível a uma instituição dominante e ditatorial (a CIA) manipular de tal
modo a sociedade que até pode con- vencer as multidões que as baleias voam. Não, haverá sempre
alguém que resiste e afirme que “nem todas as baleias voam”.

1. O texto apresenta uma reflexão sobre uma obra do escritor Afonso Cruz

(A) que não acrescenta nada à sua vida literária, dada a repetição dos temas.

(B) cujo tema é recuperado de outros livros, embora o estilo apresente inovações.

(C) que, para o crítico, projeta o seu autor como um dos melhores em Portugal.

(D) escrita em conjunto com Patrícia Portela e Gonçalo M. Tavares.

2. Do universo de componentes da obra literária, no romance em apreço é destacado

(A) o conjunto de personagens pelos laços que estabelecem entre si, mas que não se adequa ao enredo.

(B) o enredo, embora se considere que as personagens não são suficientemente fortes.

(C) o desenho das personagens, que se consideram assombrosas e em contraste com a realidade.
(D) o realismo com que foram desenhadas as diversas personagens e a sua per- feita adequação à
história.

3. Na opinião do crítico, subjacente ao tema explícito

(A) esconde-se a culpabilização da sociedade pelo genocídio durante a II Guerra Mundial.

(B) oculta-se o medo de situações de guerra idênticas às da II Grande Guerra, por parte das
personagens.

(C) está o conjunto de personagens, que apresenta características desumanas e irracionais.

(D) está a ideia de que a sociedade é estratificada, o que facilita a vida das dita- duras.

4. No primeiro período do texto apresenta-se uma situação com valor aspetual

(A) imperfetivo.

(B) habitual.

(C) perfetivo.

(D) genérico.

5. A oração “que atravessa e caracteriza todas as personagens” (l. 22) classifica-se como subordinada

(A) adverbial consecutiva.

(B) adjetiva relativa explicativa.

(C) adjetiva relativa restritiva.

(D) adverbial causal.

6. O segmento “na exploração do sentimento de culpa existente camufladamente na nossa sociedade


após a II Grande Guerra” (ll. 22-24) desempenha a função sintática de:

(A)sujeito.
(B) complemento direto.

(C) complemento indireto.

(D) complemento oblíquo.

7. Refira a modalidade configurada no segmento “Nem todas as baleias voam é porventura o seu
melhor romance” (ll. 6-7).

Resposta: Epistémica com valor de probabilidade.

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