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Nordestes Musicados

“Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve! Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos. Não sou da nação dos
condenados. Não sou do sertão dos ofendidos. Você sabe bem: conheço o meu lugar”

Forró, Baião, Xaxado e Xote

geografianordeste / 8 de junho de 20179 de junho de 2017 / Sem categoria

O Forró é um ritmo resultado de uma mescla de diversos ritmos tradicionais nordestinos, tais como
baião, xaxado, xote, dentre outros. A origem do termo é incerta: uma das versões remete ao termo de
origem africana “forrobodó”, que significa “desordem, troça, farra, confusão”. O uso desse termo, de
acordo com a Enciclopédia de Música Brasileira, se deu na segunda metade do século XIX. Outra
versão seria a expressão do inglês “For All”, (em tradução literal, “para todos”) escrita nas placas que
indicavam os bailes dos ingleses em Pernambuco. Esse forró foi o precursor do atual.

Junto ao forró, este estudo também lista o baião, o xaxado e o xote, tendo dois grandes músicos
transitaram por esses ritmos, sendo seus grandes estudiosos: Luiz Gonzaga, pernambucano, e Jackson
do Pandeiro, paraibano. Ambos foram os principais responsáveis pela divulgação do forró e de seus
variantes.

A institucionalização do Nordeste enquanto região tem muito a oferecer para a compreensão da


importância do forró, como parte da identidade e da cultura nordestinas. O discurso cultural, aliás,
foi bastante utilizado pelas classes dominantes, o que fez com que houvesse essa busca por raízes
culturais que unissem o povo do Nordeste. O próprio sucesso do forró não só no Nordeste, quanto
nas outras regiões do país, o modo como se alastrou e se inseriu na própria indústria cultura, se
deveu à situação econômica e social do Nordeste em si, com as épocas de seca e o deslocamento da
importância econômica para o Sudeste e o Sul, tendo como consequência grandes migrações para
essas regiões.

Deve-se observar que o forró serve então como elo entre a tradição e o moderno, respectivamente, o
rural e o urbano. Entre as décadas de 1940 e 50, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro ajudam na
construção das tradições nordestinas e da imagem do sertão nordestino, com temáticas rurais,
nostálgicas, como um modo de confortar a saudade do migrante. O sucesso do forró, que aos poucos
passa a ser disseminado pelas rádios, faz a ligação entre o Nordeste e o Centro-Sul, e o país passa a
conhecer mais da realidade nordestina.

A partir da década de 1960, o forró perde espaço para a Bossa Nova, retornado em 1970 com novos
recursos sonoros e novas temáticas, menos rurais e sertanejas, indicando a transição para o meio
urbano, tendo como principal representante Dominguinhos. Há também o início da 1ª fase do
chamado forró universitário, com Alceu Valença, Gonzaguinha, Elba Ramalho, Fágner, Geraldo
Azevedo, Zé Ramalho, dentre outros que possuíam uma matriz tradicional do forró.

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O forró eletrônico, também denominado “oxente music”, como autoexplica o nome, tem
características eletrônicas, um ritmo mais acelerado e coreografias mais sensuais, isso já na década de
1990, quando ocorrem mudanças estruturais, aumento de integrantes nas bandas, substituição do
tradicional trio “sanfona, zabumba e triângulo” por teclados, guitarras, saxofones, bateria. A banda
Mastruz com Leite ainda conseguiu realizar a transição do forró de Luiz Gonzaga e o forró eletrônico,
de acordo com as exigências do mercado fonográfico, porém ainda ligado ao estilo tradicional; outros
expoentes foram Rita de Cássia e Luís Fidélis. Já a 2ª fase do forró universitário se dá ao final da
década de 1990, com influências de outros ritmos, como o reggae, rock, jazz, salsa, dentre outros,
tendo sido muito criticado pelos seguidores da tradição gonzaguiana, assim como o forró eletrônico,
por esse afastamento das temáticas tradicionais. O surgimento do Falamansa, do Trio Virgulino, do
Bicho de Pé, fizeram ressurgir o forró tradicional.

BAIÃO

O baião nordestino é originado de um tipo de batida à viola denominado de baião, que,


provavelmente, era uma forma dos violeiros tocarem os lundus na zona rural nordestina, onde estes
eram conhecidos como “baiano”. A paternidade do ritmo é requerida por dois nomes: Luiz Gonzaga
e Humberto Teixeira. O primeiro, aliás, admite a pré-existência do baião, porém como uma forma de
introdução da “cantoria”, algo de origem mais próxima do rural, presente no folclore baiano. Ainda
há a influência do “balanceiro”, que tinha o maestro Lauro Maia como expoente.
De qualquer forma, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira são quem, de fato, estilizam o baião, que
passa a ser consumido e difundido pelas rádios, com destaque para a música “Baião”, de 1946. O
ritmo em si ganhava espaço nas décadas de 1940 e 50, num momento em que o samba já incorporava
elementos estrangeiros em sua estrutura, o que o distanciava das camadas populares migrantes do
Nordeste. O sentimento nacionalista da época, incentivado pelo governo Vargas, exaltava os
elementos do nacionalismo brasileiro (e, por conseguinte, da cultura brasileira), o que impulsionou
muito a aceitação dentre os migrantes.

Isso fez com que o baião não alcançasse horizontes muito distantes fora do país, com exceção à
música “Delicado”, de Waldir Azevedo, que chegou a quebrar recordes de vendas e sucesso no
exterior. O surgimento contemporâneo do rock de Elvis Presley e a força da indústria estadunidense
de disco foram também motivos disso.

Com o passar do tempo, os esforços de Humberto Teixeira e do próprio Luiz Gonzaga em manter o
baião não evitaram sua queda ao ostracismo, até os rumores de uma possível releitura de “Asa
Branca” pelos Beatles alavancarem novamente o “rei do Baião” ao sucesso.

XAXADO E XOTE

O xaxado e o xote, dois estilos de dança e de música bastante tradicionais no Nordeste, se confundem
muito com a história do baião e do forró, tendo presentes elementos semelhantes entre si, além de um
significado folclórico e cultural marcante, e de um grande expoente em comum: Luiz Gonzaga, que
foi não só músico como também assíduo pesquisador de tais estilos.

XAXADO

O Xaxado é um ritmo e, ao mesmo tempo, uma dança, cuja origem se dá no interior do Estado de
Pernambuco, com referências à cidade de Serra Talhada, no início do Século XX, a qual teve o xaxado
reconhecido patrimônio cultural e imaterial no ano de 2014.

Sua “paternalidade” é controversa dentre autores sobre o assunto, podendo ser uma adaptação de
danças portuguesas, danças indígenas, ou até criação dos cangaceiros, especialmente o grupo de
Lampião. De qualquer modo, estes últimos foram os maiores responsáveis pela divulgação do
xaxado, servindo-se dele como um grito de guerra, com muitos insultos a inimigos de luta, ou como
um rito de celebração de suas vitórias. Muito em virtude de ser uma dança cangaceira, o xaxado era
inicialmente voltado apenas para os homens, que faziam de seus rifles as “damas” do par (isso
mudaria tempos depois, com a inserção das mulheres no cangaço, tendo Maria Bonita como
exemplo), portanto não sendo considerada por muito tempo uma dança de salão.

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A etimologia do nome “xaxado” também possui versões alternativas: a primeira seria devido ao som
onomatopeico das alpercatas dos dançarinos, quando arrastas no chão durante a dança, enquanto que
a segunda seria pela movimentação dos pés dos agricultores, que munidos de enxadas, sacham os
grãos de feijão juntando a terra.

Os instrumentos mais comumente utilizados na execução das músicas de xaxado são o pífano, o
triângulo, a zabumba e a sanfona.

Atualmente destacam-se grupos de dança que divulgam o xaxado, como o grupo Xaxado Novo, que
faz uma releitura do estilo com elementos da cultura árabe.

XOTE

O Xote é um estilo de dança cadenciado, cujo ritmo nasce na Alemanha, com o nome “Schottisch”,
traduzido como “escocesa”. Embora não haja nenhuma relação com a Escócia, o nome vem da
impressão dos alemães acerca da polca escocesa.

A dança chegou no Brasil na metade do século XIX, sendo difundida pela aristocracia, e logo caiu no
gosto dos escravos, que foram modificando aos poucos a dança original, acrescentando novos
gingados, novas flexibilidades nos passos e movimentos, tendo se associado ainda ao baião, já no
começo do século XX, no Nordeste brasileiro, priorizado nesta pesquisa, uma vez que há também o
xote gaúcho. Percebem-se também influências do mambo, da salsa e da rumba no ritmo do xote.

Na instrumentalização é forte a presença de rabecas, violas, pandeiro e triângulo, além do vocal e da


sanfona.

Há algumas variações do xote, como o xote bragantino (que surgiu pela Irmandade de São Benedito,
na cidade de Bragança, Pará), o xote de duas damas, no qual o homem dança com duas mulheres (se
aproximando das características alemãs do estilo), e o xote carreirinha, no qual os casais correm no
mesmo rumo (sendo este xote mais comum na região Sul do Brasil). Por ser um estilo mais lento, o
xote é descrito como uma dança mais romântica, onde prevalece o chamego, uma paquera; é uma
dança mais calma.

Alguns de seus principais expoentes são as bandas Rastapé e Falamansa; a Rastapé tem origem no
chamado forró universitário, de origem do ano de 1999, tendo como referências Luiz Gonzaga,
Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, dentre outros; a Falamansa, de 1998, contemporânea da
Rastapé, também é contemplada no estilo forró universitário, cantando músicas nordestinas de raiz. É
interessante observar o surgimento dessas bandas em São Paulo, notando a presença da cultura
nordestina fora do próprio Nordeste, além da inserção na indústria cultural com o forró em alta na
metrópole na década de 1990. Outro grande expoente foi Dominguinhos, natural de Garanhuns, que
além de Luiz Gonzaga, também tinha influência de Orlando Silveira, além de uma vasta formação
musical em estilos brasileiros como choro, bossa nova, além do jazz.

Nota-se então como se dá a intersecção tanto do xaxado quanto do xote, como ritmos que fazem parte
do forró, tal qual o baião.

REFERÊNCIAS:

FORRÓ:

REBELO, S.C. III ENECULT – Terceiro Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. As


conexões do Forró com diferentes realidades na sua trajetória.;
http://www.gonzagao.com (http://www.gonzagao.com) ;
http://www.enciclopediaitaucultural.org.br (http://www.enciclopediaitaucultural.org.br) ;
http://www.onordeste.com/portal (http://www.onordeste.com/portal) ;

BAIÃO:

PAES, Jurema Mascarenhas. São Paulo em Noite de Festa: experiências culturais dos migrantes
nordestinos (1940-1990). 305f. Tese (Doutorado em História) – Pontifícia Universidade Católica,
São Paulo. 2009;
TINHORÃO, José Ramos. Baião. In: ______. Pequena História da Música Popular: segundo seus
gêneros. São Paulo: Editora 34, 2013. p. 251-262;

XAXADO:

http://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/TRABALHO_EV056_MD1_SA20_ID9
615_10082016105724.pdf
(http://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/TRABALHO_EV056_MD1_SA20_ID
9615_10082016105724.pdf) ;
http://anovademocracia.com.br/no-65/2792-teatro-e-danca-no-sertao-do-brasil
(http://anovademocracia.com.br/no-65/2792-teatro-e-danca-no-sertao-do-brasil) ;
http://www.terrabrasileira.com.br/folclore2/e38xaxado.html
(http://www.terrabrasileira.com.br/folclore2/e38xaxado.html) ;
http://faroldenoticias.com.br/xaxado-danca-e-reconhecida- como-patrimonio-cultural-e-imaterial-
de-serra-talhada/ (http://faroldenoticias.com.br/xaxado-danca-e-reconhecida-%20como-
patrimonio-cultural-e-imaterial-de-serra-talhada/) ;
https://uolmusica.blogosfera.uol.com.br/2016/08/29/xaxado-novo-mistura-cultura- arabe-e-
nordestina-em- album-de- estreia-ouca/
(https://uolmusica.blogosfera.uol.com.br/2016/08/29/xaxado-novo-mistura-cultura-%20arabe-e-
%20nordestina-em-%20album-de-%20estreia-ouca/) ;
http://www.luizberto.com/enxugandogelo-jose-de-oliveira-ramos/a-nordestinidade-do-coco-e-do-
xaxado (http://www.luizberto.com/enxugandogelo-jose-de-oliveira-ramos/a-nordestinidade-do-
coco-e-do-xaxado) ;

XOTE:

http://www.cnfcp.gov.br/tesauro/00001667.htm (http://www.cnfcp.gov.br/tesauro/00001667.htm) ;
http://www.seer.ufrgs.br/index.php/Movimento/article/view/2347/5837
(http://www.seer.ufrgs.br/index.php/Movimento/article/view/2347/5837) ;
http://www.infoescola.com/danca/xote/ (http://www.infoescola.com/danca/xote/) .

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