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EPISÓDIO INÊS de CASTRO

(Canto III, estâncias 118 – 135)

Considerações Gerais:

- Narrador – Vasco da Gama / Poeta Narratário - Rei de


Melinde

- Plano Narrativo da História de Portugal - Batalha do Salado, travada em Espanha, entre


Cristãos e Mouros, em 1340, reinado de D. Afonso IV , “O Bravo” (pai de D.Pedro) ; Morte de D.Inês em
1355; D.Pedro é proclamado rei em 1357 e morre em 1367 – D.Pedro I, “O Justiceiro.

- Classificação do Episódio – Lírico (história de amor, o Amor é acusado de ser responsável pela
morte de Inês e sofrimento de Pedro), com características de Tragédia (o amor entre Inês e Pedro é um
desafio ao poder real; a sua morte é vista como um castigo, mesmo sendo inocente; o discurso de Inês
perante o rei causa sentimentos de piedade, assim como a forma como é morta; referência ao poder dos
Fados).

Divisão do episódio em partes

- localização temporal deste caso triste e dino de memória;


Introdução ao Episódio - apresentação da história;
(est. 118 e 119) - responsabilização do Amor como causa da morte de Inês.
- felicidade e despreocupação de Inês em Coimbra, com saudades do seu
Príncipe, quando este se encontra ausente, mas vivendo em função do seu
amor; o Destino não permite que a felicidade dure (est. 120 e 121);
- exposição das razões que levam a que D. Afonso IV determine a morte
de D. Inês (est. 122 e 123);
Episódio - o sacrifício de Inês é apresentado de forma repentina, sendo trazida pelos
de Inês de Castro algozes à presença do rei (est. 124 e 125);
- discurso de Inês para demover o avô cruel – súplicas e defesa (est 126 a
(est. 120 a 132) 129):
- hesitação do rei e confirmação da sentença da morte de Inês (est.130);
- condenação da morte de Inês (ó peitos carniceiros), comparando esta
cruel ação com a morte de Policena (est.131);
- referência a D. Pedro, que vingará a morte da sua amada (est.132).
- Intervenção do poeta numa reprovação emocional da morte de Inês:
Considerações Finais * referência a outras terríveis mortes de personagens da Antiguidade
do Poeta Clássica (est.133);
(est.133 a 135) * comparação entre a morte prematura de Inês e uma flor, cortada antes do
tempo (est.134);
* destaca o expressivo desgosto e revolta por parte da Natureza, que
eterniza a morte de Inês (est.135).
Introdução

1ª Parte - Apresentação da narrativa:

A) - Introdução ao episódio, referindo-se já a morte de Inês de Castro como um caso triste, e dino
da memória (est. 118), uso de adjetivos que provocam sentimentos de injustiça, piedade e compaixão;

B) - Apresentação de Inês como mísera e mesquinha (est. 118), isto é, como infeliz e inocente,
descrita como aquela que despois de ser morta foi Rainha, dando uma nota de tragédia ao episódio;

C) - Invocação do Amor como uma força superior aos homens, que os conduz à fatalidade e que
se alimenta do sofrimento humano; acusação do Amor como responsável poético pela morte de
Inês de Castro (est. 119).

O Amor é apresentado como:

 cruel – com força crua


 feroz – fero Amor
 implacável/insensível – áspero e tirano
 injusto – deste causa à molesta morte sua / como se fora pérfida inimiga
 insaciável/sedento – a sede tua / nem com lágrimas tristes se mitiga
 opressivo – que os corações humanos tanto obriga
 fonte de sacrifícios – Tuas aras banhar em sangue humano

Desenvolvimento

2ª Parte - Vida de Inês de Castro (est. 120 e 121)

- Descrição da felicidade vivida por Inês, em Coimbra, apenas manchada pelas saudades de
Pedro, que, durante o dia, lhe ocupava o pensamento e, durante a noite, a fazia sonhar. Esta descrição
introduz já uma nota trágica, pois o narrador afirma Que a Fortuna não deixa durar muito, o que
significa que o Destino/os Fados não os deixará ser felizes por muito tempo.

- Fisicamente, Inês é caracterizada como linda Inês, jovem e portadora de olhos bonitos –
fermosos olhos. Ela é apresentada como apaixonada, embora se apresentem indícios de que algo
terrível vai acontecer - engano de alma, vivendo um amor ledo e cego, totalmente alheada da realidade,
pensando somente em Pedro. Por outro lado, é apresentado o seu lado despreocupado, já que está posta
em sossego e vivendo um momento de felicidade, de amor, o doce fruito.

3ª Parte - Razões que justificam a morte de Inês de Castro (est. 122 e 123)

- O narrador afirma que, para além de D. Pedro não desejar casar-se com outras mulheres (De
outras belas senhoras e Princesas / os desejados tálamos enjeita), também o povo condena esta atitude
do príncipe. Assim, o Rei D. Afonso IV decide matar Inês, porque julga que, apenas com a sua morte,
acabaria a paixão do filho. Esta justificação leva a que se questione o Rei – como foi capaz de permitir
que uma espada fosse levantada contra uma dama delicada e indefesa?
4º Parte - Os algozes trazem Inês junto do Rei (est. 124 e 125)

- D.Afonso IV sente piedade de Inês, quando esta surge à sua presença com as mãos atadas,
como se fosse uma criminosa, mas o povo não o deixa mudar a decisão de mandar matá-la – com
falsas e ferozes / Razões, à morte crua o persuade. Assim, a sua posição pessoal e afetiva é vencida pela
razão de ser rei, tem de ouvir o povo e, desse modo, deixa-se convencer no sentido da morte de Inês.

- Inês é descrita num quadro de tristeza, banhada em lágrimas e atormentada. O que lhe dói
mais não é a própria morte, mas o facto de, morrendo, deixar os filhos órfãos e Pedro só; ela está já
cheia de mágoa e saudade perante essas possibilidades.

- Simbolicamente, Inês olha o céu (Pera o céu cristalino alevantando), como se chamasse Deus
para testemunhar a sua inocência. De seguida, olha os filhos, para mostrar o amor de mãe que teme
a sua orfandade (E despois, nos mininos atentando…Cuja orfindade como mãe temia).

5ª Parte - Discurso Suplicativo de Inês (est. 126 a 129)

- Inês toma a palavra com o objetivo de tentar convencer o avô cruel a não a matar. O seu
discurso pode dividir-se em quatro momentos:

A) primeiro argumento - Inês mostra ao rei que a decisão de a mandar matar é desumana - Inês
pede ao rei, que é um ser humano com sentimentos, que tenha piedade dos seus filhos, salvando-a, pois é
inocente, referindo que até os animais selvagens, incapazes de sentimentos humanos, foram capazes de
mostrar piedade com crianças: a loba salvou Rómulo e Remo, fundadores de Roma, e as aves
alimentaram Semíramis (est.126);

B) segundo argumento - Inês apela ao espírito de justiça do rei - pedindo clemência, piedade ao
rei, refere que este soube dar a morte aos Mouros, porque a mereceram, pelo que deveria também saber
dar a vida a quem não cometeu erros, apenas foi vencida pelo coração (est.127 e 128);

C) terceiro argumento - Inês apresenta alternativas à sua morte - sugere ao rei que a envie para
um perpétuo e mísero desterro - exílio na Cítia fria (corresponde atualmente à Rússia); ou exílio na Líbia
ardente (em África); ou exílio entre animais selvagens, onde poderá encontrar a piedade que não
encontrou nos homens, onde possa viver eternamente em lágrimas (est.128 e 129);

D) quarto argumento - Inês invoca o amor maternal e a orfandade dos filhos - temendo a
orfandade dos filhos caso seja morta, Inês pede ao rei que a permita criar os seus filhos no exílio, que
serão o seu único consolo, já que não pode viver junto de Pedro (est.129)

6ª Parte - Reação do Rei ao discurso de Inês (estância 130)

- As palavras de Inês afetam o Rei, que queria perdoar-lhe, mas os algozes (peitos carniceiros), o
pertinaz povo e seu destino não permitem ao monarca que recue na decisão tomada.
7ª Parte - Morte de Inês (estâncias 131 e 132)

- Comparação entre duas lindas mulheres que sofreram uma morte injusta, morte esta que é vista
como sacrifício exigido pelo Amor: Policena, que foi morta por Pirro, e Inês, que é assassinada pelos
brutos matadores, férvidos e irosos.

- Referência a D.Pedro, que vingará a morte da sua amada, matando os algozes e a fez Rainha.

Conclusão

8ª Parte - Considerações finais do poeta (Plano do Poeta est. 133 a 135)

Nesta parte, o poeta mostra-se revoltado com a morte de Inês:

- invoca o Sol que, segundo ele, não deveria ter brilhado naquele dia trágico, comparando a
execução de Inês à trágica história de Tiestes, que comeu os próprios filhos sem o saber (est.133);

- invoca os côncavos vales, que prolongaram o eco das últimas palavras de Inês - o nome de Pedro
(est.133);

- compara a morte injusta e prematura de Inês à de uma flor cortada / Antes do tempo (est. 134);

- destaca o desgosto e revolta da Natureza, que chora a morte da sua confidente, o choro das
filhas do Mondego que eternizaram a morte de Inês e o seu amor a Pedro através da Fonte dos Amores
(est. 135).

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