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Vasco Da Gama / Poeta: Rei de Melinde
Vasco Da Gama / Poeta: Rei de Melinde
Considerações Gerais:
- Classificação do Episódio – Lírico (história de amor, o Amor é acusado de ser responsável pela
morte de Inês e sofrimento de Pedro), com características de Tragédia (o amor entre Inês e Pedro é um
desafio ao poder real; a sua morte é vista como um castigo, mesmo sendo inocente; o discurso de Inês
perante o rei causa sentimentos de piedade, assim como a forma como é morta; referência ao poder dos
Fados).
A) - Introdução ao episódio, referindo-se já a morte de Inês de Castro como um caso triste, e dino
da memória (est. 118), uso de adjetivos que provocam sentimentos de injustiça, piedade e compaixão;
B) - Apresentação de Inês como mísera e mesquinha (est. 118), isto é, como infeliz e inocente,
descrita como aquela que despois de ser morta foi Rainha, dando uma nota de tragédia ao episódio;
C) - Invocação do Amor como uma força superior aos homens, que os conduz à fatalidade e que
se alimenta do sofrimento humano; acusação do Amor como responsável poético pela morte de
Inês de Castro (est. 119).
Desenvolvimento
- Descrição da felicidade vivida por Inês, em Coimbra, apenas manchada pelas saudades de
Pedro, que, durante o dia, lhe ocupava o pensamento e, durante a noite, a fazia sonhar. Esta descrição
introduz já uma nota trágica, pois o narrador afirma Que a Fortuna não deixa durar muito, o que
significa que o Destino/os Fados não os deixará ser felizes por muito tempo.
- Fisicamente, Inês é caracterizada como linda Inês, jovem e portadora de olhos bonitos –
fermosos olhos. Ela é apresentada como apaixonada, embora se apresentem indícios de que algo
terrível vai acontecer - engano de alma, vivendo um amor ledo e cego, totalmente alheada da realidade,
pensando somente em Pedro. Por outro lado, é apresentado o seu lado despreocupado, já que está posta
em sossego e vivendo um momento de felicidade, de amor, o doce fruito.
3ª Parte - Razões que justificam a morte de Inês de Castro (est. 122 e 123)
- O narrador afirma que, para além de D. Pedro não desejar casar-se com outras mulheres (De
outras belas senhoras e Princesas / os desejados tálamos enjeita), também o povo condena esta atitude
do príncipe. Assim, o Rei D. Afonso IV decide matar Inês, porque julga que, apenas com a sua morte,
acabaria a paixão do filho. Esta justificação leva a que se questione o Rei – como foi capaz de permitir
que uma espada fosse levantada contra uma dama delicada e indefesa?
4º Parte - Os algozes trazem Inês junto do Rei (est. 124 e 125)
- D.Afonso IV sente piedade de Inês, quando esta surge à sua presença com as mãos atadas,
como se fosse uma criminosa, mas o povo não o deixa mudar a decisão de mandar matá-la – com
falsas e ferozes / Razões, à morte crua o persuade. Assim, a sua posição pessoal e afetiva é vencida pela
razão de ser rei, tem de ouvir o povo e, desse modo, deixa-se convencer no sentido da morte de Inês.
- Inês é descrita num quadro de tristeza, banhada em lágrimas e atormentada. O que lhe dói
mais não é a própria morte, mas o facto de, morrendo, deixar os filhos órfãos e Pedro só; ela está já
cheia de mágoa e saudade perante essas possibilidades.
- Simbolicamente, Inês olha o céu (Pera o céu cristalino alevantando), como se chamasse Deus
para testemunhar a sua inocência. De seguida, olha os filhos, para mostrar o amor de mãe que teme
a sua orfandade (E despois, nos mininos atentando…Cuja orfindade como mãe temia).
- Inês toma a palavra com o objetivo de tentar convencer o avô cruel a não a matar. O seu
discurso pode dividir-se em quatro momentos:
A) primeiro argumento - Inês mostra ao rei que a decisão de a mandar matar é desumana - Inês
pede ao rei, que é um ser humano com sentimentos, que tenha piedade dos seus filhos, salvando-a, pois é
inocente, referindo que até os animais selvagens, incapazes de sentimentos humanos, foram capazes de
mostrar piedade com crianças: a loba salvou Rómulo e Remo, fundadores de Roma, e as aves
alimentaram Semíramis (est.126);
B) segundo argumento - Inês apela ao espírito de justiça do rei - pedindo clemência, piedade ao
rei, refere que este soube dar a morte aos Mouros, porque a mereceram, pelo que deveria também saber
dar a vida a quem não cometeu erros, apenas foi vencida pelo coração (est.127 e 128);
C) terceiro argumento - Inês apresenta alternativas à sua morte - sugere ao rei que a envie para
um perpétuo e mísero desterro - exílio na Cítia fria (corresponde atualmente à Rússia); ou exílio na Líbia
ardente (em África); ou exílio entre animais selvagens, onde poderá encontrar a piedade que não
encontrou nos homens, onde possa viver eternamente em lágrimas (est.128 e 129);
D) quarto argumento - Inês invoca o amor maternal e a orfandade dos filhos - temendo a
orfandade dos filhos caso seja morta, Inês pede ao rei que a permita criar os seus filhos no exílio, que
serão o seu único consolo, já que não pode viver junto de Pedro (est.129)
- As palavras de Inês afetam o Rei, que queria perdoar-lhe, mas os algozes (peitos carniceiros), o
pertinaz povo e seu destino não permitem ao monarca que recue na decisão tomada.
7ª Parte - Morte de Inês (estâncias 131 e 132)
- Comparação entre duas lindas mulheres que sofreram uma morte injusta, morte esta que é vista
como sacrifício exigido pelo Amor: Policena, que foi morta por Pirro, e Inês, que é assassinada pelos
brutos matadores, férvidos e irosos.
- Referência a D.Pedro, que vingará a morte da sua amada, matando os algozes e a fez Rainha.
Conclusão
- invoca o Sol que, segundo ele, não deveria ter brilhado naquele dia trágico, comparando a
execução de Inês à trágica história de Tiestes, que comeu os próprios filhos sem o saber (est.133);
- invoca os côncavos vales, que prolongaram o eco das últimas palavras de Inês - o nome de Pedro
(est.133);
- compara a morte injusta e prematura de Inês à de uma flor cortada / Antes do tempo (est. 134);
- destaca o desgosto e revolta da Natureza, que chora a morte da sua confidente, o choro das
filhas do Mondego que eternizaram a morte de Inês e o seu amor a Pedro através da Fonte dos Amores
(est. 135).