Você está na página 1de 3

*LOJAS CAPITULARES*

Em 01.08.2014 o Respeitável Irmão Afonso Barros Machado, membro da Loja "União


Fraternal", nº 012, REAA, GLMMG (CSMB), Oriente de Belo Horizonte, Estado de
Minas Gerais, solicita esclarecimentos no que segue:

_*Recorro a sua sabedoria para esclarecer-me numa questão que pesquiso: Lojas
Capitulares. Qual a sua origem e quando surgiram principalmente no Brasil? Por
que surgiram? Qual, ou quais Potências Maçônicas as adotaram? Quais suas
características administrativa e ritualística? Ainda existem?*_

*Considerações:*

As Lojas Capitulares foram frutos de uma anomalia acontecida por ocasião da


fundação do Segundo Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito em 1.802 na
França (o primeiro seria em 1.801 nos Estados Unidos da América do Norte).

Naquela oportunidade após a fundação do Segundo Supremo Conselho e o


aparecimento em 1.804 do primeiro ritual para o simbolismo do Rito Escocês, não
tardaria para que o Grande Oriente da França encampasse para si além dos três
primeiros graus simbólicos, também os ditos superiores, até o Grau 18 (Sublime
Capítulo Rosa Cruz do REAA∴).

A título de ilustração não seria demais lembrar que o Rito Escocês Antigo e
Aceito não possuía no início os graus simbólicos, já que nos Estados Unidos da
América do Norte, onde surgiu o Primeiro Supremo Conselho em 1.801 - não o Rito
- dito “mãe do mundo”, o simbolismo era praticado apenas nas Lojas Azuis do
Craft norte-americano, por aqui chulamente conhecido como Rito de York (o
americano, não o inglês).

Devido o aparecimento em 1.802 do Segundo Supremo em solo francês, embora até já


tivessem existido Lojas Mães Escocesas a exemplo da de Marselha, o Rito Escocês
careceria na França de possuir os seus graus simbólicos exclusivos, o que
aconteceria já em 1.804 com o primeiro ritual privativo compilado e adaptado em
solo francês por maçons egressos da Maçonaria norte-americana.

A França assim ficaria também conhecendo o sistema “antigo”, comum ao Craft


norte-americano, já que até então o mesmo era desconhecido da Maçonaria francesa
que adotava à época apenas o sistema “moderno”, baseado nos apelidados Modernos
da Primeira Grande Loja em Londres de 1.717.

Devido a esses importantes acontecimentos é que o Rito Escocês, embora sendo


filho espiritual da França (raízes históricas principalmente no século XVIII em
França), também teria a sua vertente anglo-saxônica haurida do Craft
norte-americano oriundo dos “antigos” de Dermott em 1.751 (Grande Loja dos
Antigos inglesa – Athol Lodges).

Retomando a questão das Lojas Capitulares e o Grande Oriente da França, esse


último, mesmo sendo uma Potência Simbólica, por razões políticas e históricas
que não cabem aqui comentários, já aproximadamente no ano de 1.810 tomava sob
sua tutela além dos graus simbólicos do Rito Escocês, também os graus a partir
do 4º até o 18º.

Com isso surgiriam às denominadas Lojas Capitulares que trabalhavam no Templo


simbólico que seria então também adaptado para o Capítulo, cujas modificações
mais significativas seriam aquelas relacionadas à elevação e demarcação de
limite do Oriente da Loja, a da posição do Segundo Vigilante no extremo do
Ocidente (simétrico ao Primeiro) e da consolidação da cor encarnada (vermelha do
Capítulo) no simbolismo do Rito em questão.

Assim o presidente do Capítulo - o Athersata (governador) - era também o


Venerável Mestre nos três primeiros Graus. Esse feitio daria ao Grande Oriente
da França naquela oportunidade a característica de uma Obediência mista no que
concerne a mistura do simbolismo com os ditos altos graus.

Entretanto, já no segundo quartel do século XIX o Segundo Supremo Conselho


reivindicando o que lhe era de direito retomaria para si novamente a tutela dos
graus Inefáveis, de Perfeição e Capitulares (do 4º ao 18º), ficando o simbolismo
sob a égide do Grande Oriente da França.

Em resumo, as coisas voltariam aos seus devidos lugares. Assim, desde o


aparecimento das Lojas Capitulares, estas seriam amplamente difundidas no
escocesismo alcançando também a Maçonaria brasileira, fato que duraria até os
meados do século XIX época em que se extinguiria o sistema das Lojas
Capitulares.

No Brasil prevaleceu por um bom tempo, além das próprias Lojas Capitulares,
também com a particularidade pela qual o Soberano Grande Comendador do Rito
Escocês Antigo e Aceito era também o Grão-Mestre Geral da Maçonaria brasileira.

O resquício daquela época ainda prevalece no título de “Soberano” dado para o


atual Grão-Mestre Geral do GOB∴ (veja a obra A História do Grande Oriente do
Brasil – José Castellani).

No tocante ao título “capitular” relacionado às Lojas simbólicas brasileiras,


embora irremediavelmente extinto, infelizmente muitas Oficinas ainda insistem em
manter o termo inserido no seu título distintivo, fato que tem dado aos menos
atentos uma falsa interpretação e uso indevido, já que além desse formato de
Loja ter desaparecido ainda no século XIX, há também a questão de que o Grande
Oriente do Brasil é uma Obediência simbólica e corretamente não admite, até por
questão de reconhecimento, qualquer ingerência de nenhum corpo ou sistema de
graus acima do simbolismo.

De tudo o que realmente permaneceu consuetudinariamente relacionado às Lojas


Capitulares (Capítulo) no Simbolismo foi o Oriente dividido e elevado em relação
ao Ocidente, também permaneceu sacramentada da cor encarnada (vermelha) na
decoração e paredes do Templo, assim como o avental de Mestre MB debruado em
vermelho (Conselho de Lausanne na Suíça em 1.875).

É bem verdade que ainda existem Obediências no Brasil que, na contramão da


história, mantém equivocadamente para o Rito em questão aventais e templos
azulados herdado por influência do Craft americano (conhecido como Rito de
York).

Ainda em relação à extinção das Lojas Capitulares, é que após estas, o Rito
Escocês no seu simbolismo faria retornar originalmente o Segundo Vigilante ao
meridiano do Meio- Dia (centro da Coluna do Sul) como já preconizava o primeiro
ritual datado de 1.804 na França. Esse Ritual, como já mencionado, é a espinha
dorsal de alguns procedimentos ritualísticos com forte influência anglo-saxônica
no simbolismo do Rito que é de vertente francesa e que permanece até os dias
atuais. Exemplo: a dialética de abertura e encerramento e o Segundo Vigilante ao
Sul (Meio-Dia). Complementando o final da vossa questão, nenhuma Obediência
adota atualmente uma Loja Capitular no simbolismo porque elas legalmente não
existem mais.

Uma Loja Capitular é parte integrante do Capítulo de um Supremo Conselho do


REAA∴ que nada tem a ver com o simbolismo. Uma Obediência Simbólica e um Supremo
Conselho são corpos maçônicos distintos, não havendo entre eles qualquer
ingerência de um sobre o outro, salvo aquele que prevê a participação em um
corpo filosófico apenas daqueles que obrigatoriamente estejam regulares e ativos
no Terceiro Grau do simbolismo.

Assim o simbolismo (três graus universais) é dirigido apenas e tão somente pela
Obediência Simbólica, enquanto que graus acima do Francomaçônico básico
(Aprendiz, Companheiro e Mestre) são particularidades de alguns Ritos que
possuem seus próprios Corpos Filosóficos, ou Supremo Conselho como é o caso do
Rito Escocês Antigo e Aceito.

Elementos confiáveis para pesquisa autêntica sobre a origem das Lojas


Capitulares serão encontrados a partir do Grande Oriente da França desde na
fundação do Segundo Supremo Conselho em 1.802.

No Brasil observar a documentação primária mencionada e apresentada, bem como o


seu roteiro bibliográfico integrante da obra A História do Grande Oriente do
Brasil.
....
PEDRO JUK

Você também pode gostar