Você está na página 1de 7

Universidade Estadual de Goiás – UEG

Campus Norte
Unidade Universitária de Porangatu
Curso de Licenciatura em História
Disciplina História e Educação Patrimonial
Discente: Camylla Oliveira Maia

As relações entre educação e patrimônio

Resumo

O texto explora o conceito de educação patrimonial e seu processo de mediação entre


comunidade e patrimônio, que a partir da alfabetização cultural e instruída a
reconhecer e valorizar a diversidade cultural e a pluralidade identitária. Por meio de
pesquisa bibliografia, pretende-se sintetizar os processos e mudanças políticas na
prática de educação patrimonial no Brasil.

Palavras-chave: Educação Patrimonial; identidade cultural; patrimônio cultural

Introdução

Compreende-se por educação patrimonial a dinâmica educacional que tem


como base de orientação o patrimônio cultural, visando junto aos indivíduos dialogar
e provocar um sentimento de sensibilização e reconhecimento da herança cultural
coletiva parte da experinciencia e vivencias com as manifestações culturais. A
comunidade uma vez que se apropria e tem consciência de seu patrimônio, tem a
oportunidade de a partir de então, iniciar um processo de preservação que auxiliará
não só na manutenção do bem, mas em sua continuidade.
A troca de conhecimentos oriundos de métodos de educação patrimonial
possibilitam uma troca de valores entre a comunidade e os agentes responsáveis pela
preservação dos bem culturais, fortalecendo dinâmicas de valorização das referências
locais. A facilitação do conhecimento cultural por intermédio da educação patrimonial
possibilita o reconhecimento das expressões culturais que são dinâmicas e mutáveis,
diante do reconhecimento dos processos de transitoriedade que são manifestados ao
longo do tempo e possível perceber suas novas formas, e como são geradas e
repassas entre as gerações, que por sua vez, recriam e criam em seu tempo o que
constitui como identidade. Cada povo tem se seus próprios processos transitórios e
culturais, o entendimento da diversidade de culturas permite o entendimento e os
processos de preservação e valorização.

Comunidade e Educação Patrimonial

O conceito moderno de patrimônio surgiu na França no século XVIII, com a


intenção de preservar os bens históricos e evitar o seu apagamento de sua memória.
Na década de 20 no Brasil, a multiplicidade cultural já era reconhecida por Mário de
Andrade como elemento base definidor da identidade nacional, para ele era de suma
importância revelar e aceitar como referências as diversas culturas que aqui surgiram
ou foram reinventadas, a relação desenvolvida entre os indivíduos e o patrimônio
cultural nos últimos anos tornou-se mais íntimo, os sujeitos mudaram sua relação com
suas memórias individuais e coletivas. Em virtude dos processos sociais vinculados
a questões históricas, identitárias, políticas e de ações afirmativas processos relativos
à preservação e conservação passam a ganhar mais espaço entre os movimentos e
as lutas sociais promovidas por grupos antes marginalizados historicamente, que
passaram a perceber que a sua afirmação identitária por meio do resgate de sua
memória compõe uma ferramenta de resistência e reafirmação social.
Desde os anos 80 há uma crescente movimentação política por meio de
agentes culturais e instituições que desenvolvem ações voltadas ao reconhecimento
e valorização dos bens históricos, promovendo não apenas ações preservacionistas,
mas também educativas, permitindo uma orientação identitária e cidadã. Os bens
formadores de identidade presentes na dinâmica cultural que são transmitidos entre
gerações são caracterizados como patrimônio cultural, são essas referências que
unificam os indivíduos ao longo do tempo. Elementos e objetos que são considerados
de valor cultural para determinado grupo, que os usa e tem como símbolo de
identificação e reconhecimento, também são considerados um bem, patrimônio
cultural tem importância para muita gente, não só para um indivíduo ou uma família,
(...) é sempre algo coletivo. (FLORÊNCIO, 2016:08).

O protagonismo antes negado as várias expressões culturais presentes no


Brasil, ganham espaços no campo das políticas públicas e preservacionista, o que
antes era negado por não fazer parte de um determinado recorte cronológico e
histórico, passa a partir de então ser reconhecido como elemento de contribuição e
constituição da brasilidade. As mudanças nas políticas de seleção e formas de
preservação também sofreram alterações, antes delegava-se apenas o tombamento
como ferramenta preservacionista, com isso, desconsiderava aspectos intangíveis,
priorizando apenas um determinado segmento cultural e estético os bens que não
estivessem vinculados a um passado heroico ou algum estilo arquitetônico específico
sofreram ao longo dos anos com as ações do tempo e com ausência de proteção por
parte do estado e até mesmo da própria sociedade.

A ideia inicial vinculada ao conceito de patrimônio histórico estava atrelada a


construção da identidade nacional que por sua vez referenciava uma memória
centrada em fatos históricos específicos e quase sempre protagonizados por homens
brancos, os perigos desta memória totalmente moldada desprezavam lutas e conflitos
sociais por reconhecimento e direitos.
O reflexo de lutas e discussões que colocavam em pauta a
salvaguarda de bens culturais que representa um determinado grupo,
apontaram para mudanças significativas no campo do patrimônio e suas
definições, visando o diálogo entre recursos matérias e conhecimentos
tradicionais. As manifestações coletivas são intrínsecas a formação da
identidade. (MAIA, 2022:01).

As políticas preservacionistas agora, alcançam elementos que não faziam


parte do legado heroico antes estabelecido como prioridade ao acervo da memória.
De acordo com Oriá (2012:137), ao abranger o património ao aspecto além dos
históricos, há um processo de rompimento de uma visão elitista.

A reorientação da concepção de patrimônio repercute no processo educacional,


uma vez que uma nova visão da cultura é inserida no contexto escolar as múltiplas
possibilidades de referências culturais são admitidas, alargando as possibilidades de
referências identitárias, contemplando as práticas, saberes, celebrações entre outras
manifestações do patrimônio cultural. Nos processos que envolvem o patrimônio
imaterial surgem também orientações voltadas a compreensão cultural vinculada ao
tempo presente às expressões vivas e ao movimento permanente. (PEREIRA; ORIÁ,
2012:1680.

Durante muitos anos o patrimônio histórico era tema ausente na educação, é


praticamente algo recente no processo de ensino aprendizagem de história, ao unir
duas vertentes que promovem discussões acerca da memória, fortalece o sentido
identitário e a valorização da pluralidade cultural. Os elementos culturais que
caracterizam o patrimônio cultural brasileiro já eram considerados por alguns teoricos
como instrumento educativo que deveria estar presente nos currículos escolares, os
estudos culturais brasileiros para a educação popular era um elemento de transmissão
e preservação da verdadeira identidade nacional, algo fundamental para o processo
de reconhecimento e formação identitária.

. Educação patrimonial ganha forma a partir dos anos 80 através discussões


acerca da importância da alfabetização cultural, possibilitando o indivíduo ampliar sua
visão de mundo e perceber as nuances do espaço sociocultural no qual está inserido.
A educação patrimonial a princípio estava vinculada a um contexto de preservação de
bens de natureza material, assim sendo, nasce sobre a influência do conceito de
patrimônio vinculado aos de bens consagrados pela história oficial. Com a ampliação
do conceito de patrimônio, passa a considerar referências culturais antes não
reconhecidas e por muitas vezes marginalizadas. Esta alteração marcará
profundamente os processos educativos, convocam-
do as faces intangíveis do patrimônio e os fazeres e saberes cotidianos, tão caros
às práticas educativas dos docentes, (PEREIRA; ORIÁ, 2012:165).

Alfabetização por meio da pluralidade cultural promove o sentido de cidadania


é nutre o pertencimento identitário, o ensino de história local possibilita a formação
histórica dos alunos sobre sua comunidade, (...) por meio do estreitamento da relação
escola-comunidade, uma vez que os elementos formadores dessa identidade faziam
parte da cultura local de cada comunidade onde o projeto foi implementado.
(SANTOS, 2007:154). A educação patrimonial tem como papel principal fomentar o
diálogo entre a comunidade e o seu patrimônio, auxiliando no processo de
identificação e valorização dos bens culturais, assim sendo, torna a comunidade
geradora e protagonista na formação de conhecimento relacionado ao seu patrimônio
cultural. A escola deve assumir o compromisso de afirmação cultural e o
reconhecimento da memória dos indivíduos, deslocando-se dos processos
engendrados por uma história da qual nem todos se sentem identificados.

Se faz necessário que as escolas trabalhem com o contexto social do qual os


alunos participam e o suporte para que isso se efetive é sem dúvida é a história local,
o valor social e cultural dos bens precisam ser trabalhados em sala de aula, as práticas
pedagógicas desenvolvidas nas escolas necessitam se alinhar a comunidade para
desempenhar com maior eficácia seu papel social. É de suma importância o diálogo
entre escola e comunidade local para o desenvolvimento social e identitário da região.
Por não se tratar de uma disciplina, a temática de educação patrimonial pode ser
inserida como prática pedagógica transversal.
São seis os temas transversais aplicáveis a todas as disciplinas que estão
definidos nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN: ética, pluralidade
cultural, saúde, meio ambiente, orientação sexual e trabalho e consumo.
Esses temas tratam das problemáticas sociais enfrentadas pelos alunos que
podem e devem ser abordadas em sala de aula, sempre se levando em conta
a realidade de cada contexto social, político, econômico ou cultural.
(SANTOS, 2077: 156)

Quando a experiência social de cada região está presente na escola, estudar o


patrimônio cultural ganha relevância como tema multicultural ao incorporar ao
currículo patrimônio cultural, a escola goza da oportunidade de trabalhar o conceito
de cidadania tendo como suporte os conceitos como conservação nacional,
pluralidade cultural, cultura em seu caráter material e intangível. Perceber que a
herança cultural e o direito a memória constituem um exercício de cidadania, o
indivíduo passa a exercer o papel de agente de preservação, e manutenção de sua
história.

Considerações finais

As ações educativas e o estreitamento com patrimônio estabelecem um


desenvolvimento social e identitário, o alinhamento dos temas transversais ao
currículo escolar estabelece um elo entre comunidade local e sala de aula. Ao ter
consciência da importância da preservação da memória passa a exercer o exercício
de proteção, assim sendo, está praticando uma ação política, exercendo ele mesmo
o ato de ser e de ver garantidos seus direitos. (SANTOS, 2012: 158). Quando a
comunidade aprende a valorizar e a reconhecer os bens culturais de sua localidade
passa a estabelecer um vínculo de identificação com o bem preservado, o que não
ocorre quando apenas o estado propõe o que deve ser preservado ou não, a falta de
pertencimento e identificação com certos patrimônios podem gera conflitos,
ocasionando assim em muitos casos a falta de apoio da comunidade em gerir e
preservar sua memória local, uma sociedade atuante e consciente é passível de
realizar mudanças significativas em seu meio, assim sendo, a responsabilidade social
também passa pelos processos de preservação e valorização do patrimônio.
Referências bibliográficas
Educação Patrimonial: inventários participativos: manual de aplicação / Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; texto, Sônia Regina Rampim Florêncio et
al. – Brasília-DF, 2016. 134 p. : il. color. ; 21 cm.
ORIÁ, Circe (org). Memória e Ensino de História. São Paulo. Contexto, 2012.
SANTOS, Camila Henrique. Educação Patrimonial: Uma ação institucional e
educacional. (in) Patrimônio: práticas e reflexões – Rio de Janeiro:
IPHAN/COPEDOC, 2007. (Edições do Programa de Especialização em Patrimônio
do IPHAN;1).
PEREIRA, Júnia Sales; ORIÁ, Ricardo. Desafios teórico-metodológicos da relação
Educação Patrimonial. Resgate – vol. XX, N.23- jan/jun. 2012.
Maia, Camylla Oliveira . Percepções e definições de Patrimônio no Brasil.
Universidade Estadual de Goiás, 2022.

Você também pode gostar