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Mudança Climática e Saúde Humana – Riscos e Respostas

Mudança Climática e Saúde Humana – Riscos e Respostas


SUMÁRIO REVISADO 2008
S U M Á R I O REVISADO 2008

ISBN 978-85-87943-91-0

OMS OPAS OMM PNUMA


9 788587 943910
Mudança Climática e Saúde Humana – Riscos e Respostas
SUMÁR I O R E V I SA D O 2 0 0 8

OMS OPAS OMM PNUMA


(c) 2003. World Health Organization - WHO Catalogação na Fonte - Biblioteca da OMS
Edição em português: abril de 2009.
Mudança climática e saúde humana: riscos e respostas: Sumário revisado 2008.
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.
1. Clima 2. Efeito estufa 3. Desastres naturais 4.Transmissão de doenças
Organização Pan-Americana da Saúde – Opas / OMS 5. Raios ultravioleta – efeitos adversos 6. Avaliação de riscos I.Organização Mundial da
Setor de Embaixadas Norte, Lote 19 Saúde.
Cep: 70800-400, Brasília/DF – Brasil
www.opas.org.br ISBN 978 85 87943 81 0 (classificação NLM: WA 30)

Tiragem: 2.000 exemplares © Organização Mundial da Saúde 2003


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Mudança climática e saúde humana – riscos e respostas: resumo atualizado plica que os mesmos sejam endossados ou recomendados pela Organização Mundial da
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Mundial da Saúde, da Organização Meteorológica Mundial ou do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente.

04 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


Prefácio
Durante séculos, as sociedades humanas alteraram os ecossistemas locais e modificaram os climas
regionais. Hoje, a influência humana atinge uma escala global, reflexo do rápido e recente aumento
demográfico, do consumo de energia, da intensidade do uso da terra, do comércio e das viagens
internacionais, bem como de outras atividades humanas. Essas mudanças globais têm acentuado
a conscientização de que a boa saúde de longo prazo das populações depende da estabilidade e do
funcionamento contínuos dos sistemas ecológico, físico e socioeconômico da biosfera.

O sistema climático mundial é parte integrante dos complexos processos de sustentação da vida. Clima
e tempo sempre causaram um grande impacto na saúde e no bem-estar da humanidade. Mas como
outros grandes sistemas naturais, o sistema climático mundial está sofrendo a pressão das atividades
humanas. A mudança global do clima é, portanto, um desafio mais novo nos esforços contínuos para
proteger a saúde humana.

Esta publicação é um sumário revisto do livro Climate Change and Human Health – Risks and Responses
(Mudança Climática e Saúde Humana, Riscos e Respostas), publicado pela OMS em colaboração com
o PNUMA e a OMM. O volume completo busca descrever o contexto e o processo das mudanças
climáticas, seus impactos reais ou prováveis na saúde, e a forma como as sociedades humanas e seus
governos deveriam responder, com enfoque particular no setor de saúde.

SUMÁRIO 05
1
Em 1969, as fotos produzidas óxido nitroso e vários halocarbonetos aliado a mudanças em precipitação e
pela Apollo em sua missão à lua produzidos pelo homem. Em seu variabilidade climática durante e após
propiciaram cenas extraordinárias Quarto Relatório de Avaliação o próximo século. Suas projeções
deste planeta, suspenso no espaço, (2007), o Painel Intergovernamental baseiam-se em modelos climáticos

Mudança transformando a forma como


pensamos sobre a biosfera e seus
sobre Mudanças Climáticas (IPCC),
da ONU, declarou: “o entendimento
globais cada vez mais sofisticados,
aplicados a cenários futuros plausíveis

climática global
limites. Nosso entendimento cada das influências antropogênicas do de emissões de gases de efeito estufa,
vez maior da mudança climática aquecimento e do resfriamento que levam em conta vias alternativas
está transformando nossa visão no clima aumentou desde o TAR de mudanças demográficas,
e saúde: uma das fronteiras e os determinantes
da saúde humana. Embora nossa
(Terceiro Relatório de Avaliação),
resultando em um alto grau de
econômicas e tecnológicas e a
evolução de modelos de governança.
velha história saúde pessoal possa parecer estar
relacionada primordialmente a
confiança de que o efeito líquido
médio global das atividades humanas A escala global das mudanças

em destaque um comportamento prudente,


hereditariedade, ocupação,
desde 1750 tem sido no sentido do
aquecimento”. E “o aquecimento do
climáticas difere fundamentalmente
das muitas outras preocupações
exposições ao meio ambiente local e sistema climático é indiscutível 1, 2. ambientais familiares com riscos
A mudança climática acesso a assistência médica, a saúde toxicológicos ou microbiológicos
representa um importante sustentada da população requer os Durante o século XX, a temperatura localizados. De fato, mudanças
“serviços” vitais’ da biosfera. As média da superfície da terra climáticas significam que, hoje,
desafio, pouquíssimo
populações de todas as espécies aumentou em aproximadamente estamos alterando os sistemas
conhecido. Esta publicação animais dependem de suprimentos 0,74ºC. A tendência linear de biofísico e ecológico da Terra na
descreve o processo das de alimentos e água, de estar livres aquecimento durante os últimos 50 escala planetária – o que também
mudanças climáticas globais, de excessos de doenças infecciosas anos (0,13°C por década) foi quase é evidenciado pela destruição do
e da segurança e do conforto o dobro daquela dos últimos 100 ozônio estratosférico, que acelera
seus impactos atuais e futuros
físico propiciados pela estabilidade anos. Os climatologistas prevêem perdas de biodiversidade, pela
na saúde humana, como as climática. O sistema climático um aquecimento ainda maior, pressão nos sistemas de produção de
sociedades podem reduzir mundial é fundamental para essa
sustentação da vida. Figura 1.1 Variações na temperatura média da superfície da Terra durante os
esses impactos adversos
últimos 20 mil anos
por meio de estratégias de
Hoje, as atividades humanas estão 5
adaptação e da redução de
alterando o clima no mundo. 4
Temperatura média nos últimos 10 mil anos=15ºC
gases de efeito estufa. Estamos aumentando a concentração 3
Previsão do IPCC (2007)
1.8 até 4.0o C
atmosférica de gases que retêm
Mudança de temperatura (ºC)

2 Florescimento da
energia, amplificando, assim, o Mesopotamia
Seguimento
“efeito estufa” natural que torna 1 da Agricultura Vikings na
Groenlândia
a Terra habitável. Esses gases de 0
efeito estufa (GEE) compreendem Ótimo
Aquecimento
Holocene 1940 Século XXI:
principalmente, dióxido de carbono -1 Medieval Peuqena era aumento
glacial na Europa
(em sua maioria proveniente da -2 (séculos XV - XVIII)
muito
rápido
combustão de combustível fóssil Fim da
-3
e de incêndios florestais), além de eera glacial

outros gases que retêm calor, como, -4 Dríades


mais Jovens
por exemplo, metano (resultante de -5

agricultura irrigada, acasalamento 20.000 10.000 2000 1000 300 100 Agora +100
de animais e extração de petróleo), Número de anos antes do presente (escala quasi-log)

06 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


alimentos terrestres e marinhos, pela século, em relação ao período de impactos na saúde humana. Alguns seu pico nos meses mais quentes.
exaustão de fontes de água potável 1980–1999. Para as próximas duas desses impactos na saúde seriam Temperaturas médias mais quentes
e pela disseminação global de décadas, o aquecimento projetado benéficos. Por exemplo, invernos combinadas a maior variabilidade
poluentes orgânicos persistentes. é de cerca de 0,2°C por década. mais amenos reduziriam o pique climática, alterariam o padrão de
Mesmo que as concentrações de sazonal de mortes ocorridas no exposição a extremos térmicos
Há muito as sociedades humanas todos os gases de efeito estufa e inverno em países temperados, e impactos resultantes na saúde,
vêm acumulando experiências com aerossóis se mantivessem constantes enquanto em regiões atualmente tanto no verão como no inverno.
vicissitudes climáticas naturais. às concentrações do ano 2000, quentes um maior aumento de Em contraste, as conseqüências,
(Figura1.1). Os antigos egípcios, um aquecimento de 0,1°C por temperaturas poderia reduzir para a saúde pública, do distúrbio
mesopotâmios, maias e as populações década seria esperado. Como a viabilidade de populações de dos ecossistemas de produção
européias (durante os quatro séculos mostra a Figura 1.2, há uma mosquitos transmissores de doenças. de alimentos, quer naturais ou
da Pequena Era Glacial) foram incerteza inevitável nessa estimativa, Entretanto, no cômputo geral os manipulados, o aumento do nível do
todos afetados pelos grandes ciclos uma vez que as complexidades cientistas consideram que a maioria mar, o deslocamento de populações
climáticos da natureza. De forma do sistema climático não são dos impactos da mudança climática devido a riscos físicos, a perda
mais intensa, desastres e surtos de totalmente entendidas e o futuro na saúde seria adversa. de terra, a ruptura econômica e a
doenças freqüentemente ocorrem da humanidade no que se refere disputa civil poderão não se tornar
em resposta aos extremos de ciclos ao desenvolvimento não pode ser Nas últimas décadas, a mudança evidentes até daqui a muitas décadas.
climáticos regionais, como, por previsto com certeza. climática provavelmente já
exemplo, o ciclo de Oscilação Sul / El provocou alguns efeitos na saúde. Conclusão
Niño (ENSO).3 Impactos potenciais da De fato, conforme estimativas da De forma sem precedentes, a
mudança climática na saúde Organização Mundial da Saúde em população mundial hoje enfrenta
Segundo cálculos do IPCC (2007), A mudança no clima mundial seu “Relatório Mundial da Saúde mudanças desconhecidas induzidas
a temperatura média global influenciaria o funcionamento 2002”, a mudança do clima teria pelo homem na baixa e média
aumentará, na melhor das hipóteses, de muitos ecossistemas e suas sido responsável, em 2000, por atmosfera, e uma exaustão mundial
entre 1,8 e 4,0°C durante este espécies. Da mesma forma, haveria aproximadamente 2,4% dos casos de vários outros sistemas naturais
de diarréia no mundo e 6% dos (e.g. fertilidade do solo, aqüíferos,
casos de malária em países de renda pesca marinha e biodiversidade em
Figura 1.2 Registro da temperatura global, desde o início do registro instrumental, média.4 No entanto, pequenas geral). Além do reconhecimento
em 1860, e projeção para 2100, segundo o IPCC
mudanças em um turbilhão de precoce de que essas mudanças
A2
©IPCC 2007: WG1-AR4 mudanças contínuas são difíceis afetariam atividades econômicas,
6.0 A1B
B1 de identificar. Uma vez localizada, infra-estrutura e ecossistemas
5.0
Concentrações Constantes
no Ano 2000 a atribuição causal é fortalecida modificados hoje se reconhece que a
Aquecimento da Superfície Global (Cº)

Século XX quando há observações semelhantes mudanças climática global representa


4.0 em diferentes cenários demográficos. riscos para a saúde da população
humana.
3.0
As primeiras mudanças detectáveis
2.0 na saúde humana podem muito Este tópico surge como um
bem constituir alterações na faixa importante tema na pesquisa
1.0 geográfica (latitude e altitude) e da saúde da população, no
na sazonalidade de determinadas desenvolvimento de políticas sociais
0.0
doenças infecciosas – inclusive e na defesa. De fato, a consideração
-1.0 infecções transmitidas por vetores, dos riscos climático- ambientais para
A1FI
A1B
A1T

A2
B1

B2

como a malária e a dengue, e a saúde humana desempenhará um


1900 2000 2100 doenças transmitidas por alimentos papel central no debate da transição
Ano (e.g. salmonelose), que atingem para a sustentabilidade.

07
Fonte: referência 1

SUMÁRIO
2
Tempo é a condição em permanente
atmosfera como nos oceanos, sendo, à metade a quantidade de radiação
mutação da atmosfera, geralmente
portanto, uma causa importante de solar que chega à superfície da Terra.
considerada em uma escala de
tempo que se estende de minutos a correntes eólicas e oceânicas. Em particular, determinados gases
de “efeito estufa” apresentam um
Tempo e clima: semanas. Clima é o estado médio da
baixa atmosfera e as características Cinco camadas concêntricas de rastro de concentrações na troposfera
atmosfera circundam este planeta. (inclusive vapor d’água, dióxido de
mudança nas
associadas ao solo ou água
subjacentes, em uma região específica, A camada mais baixa (troposfera) se carbono, óxido nitroso, halocarbonetos
que geralmente abrange vários anos, estende da superfície da terra até uma e ozônio), absorvendo cerca de 17%
exposições pelo menos. Variabilidade climática
é a variação em torno do clima
altitude de cerca de 10-12 km em
média. O estado atmosférico que afeta
da energia solar que a atravessa. Da
energia solar que chega à superfície
humanas médio, inclusive variações sazonais
e ciclos regionais de larga escala em
a superfície da Terra se desenvolve
na troposfera. A segunda grande
da Terra, grande parte é absorvida
e novamente irradiada na forma de
circulações atmosféricas e oceânicas, camada (estratosfera) se estende até radiação de onda longa (infravermelha).
Ao discutir “mudança climática tais como a Oscilação Sul / El Nino cerca de 50 km acima da superfície. Parte dessa radiação infravermelha
e saúde”, devemos estabelecer (ENSO) ou a Oscilação Atlântico O ozônio na estratosfera absorve a emitida é absorvida por gases de efeito
a distinção entre os impactos Norte (NAO). maior parte dos raios ultravioleta - de estufa na baixa atmosfera, aquecendo
na saúde de várias exposições maior energia - do Sol. Acima da ainda mais a superfície da Terra e
As mudanças climáticas ocorrem
meteorológicas: tempo (estado estratosfera há mais três camadas: a aumentando sua temperatura em
durante décadas ou em escalas de
mesosfera, a termosfera e a exosfera. 33ºC, até a média atual da superfície,
atmosférico), variabilidades tempo mais longas. Até agora, as
de 15ºC. Esse processo suplementar
climáticas e mudanças mudanças no clima global vêm
Em geral, essas cinco camadas da de aquecimento é chamado de “efeito
ocorrendo naturalmente, no curso
climáticas. atmosfera reduzem aproximadamente estufa” (Figura 2.1).2
de séculos ou milênios, devido à
deriva continental, diferentes ciclos
astronômicos, variações na produção
Figura 2.1. O efeito estufa
de energia solar e atividade vulcânica.
Nas últimas décadas, tem ficado cada
vez mais claro que ações humanas Alguma radiação Parte da radiação
infravermelha atravessa a
estão modificando a composição solar é refletida
atmosfera e parte é
pela Terra e pela
atmosférica, contribuindo assim, atmosfera. absorvida e re-emitida em
todas as direções pelas
significativamente, para a mudança SOL moléculas do gás de efeito
estufa. O efeito desse
global do clima. 1 fenômeno é o aquecimento
da superfície da Terra e da
baixa atmosfera.
O Sistema Climático
O clima da Terra é determinado por
interações complexas entre o Sol, A radiação
solar ATMOSFERA
os oceanos, a atmosfera, a criosfera, atravessa a
a superfície terrestre e a biosfera. atmosfera
TERRA
clara.
O Sol é a principal força motriz do
tempo e do clima. O aquecimento A maior parte da
radiação é A radiação infravermelha
desigual da superfície da Terra (que absorvida pela é emitida a partir da
é maior próximo ao equador) causa superfície da Terra, superfície da Terra.
aquecendo-a.
grandes fluxos de convecção tanto na

08 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


Figura 2.2. Concentração atmosférica de CO2 do ano 1000 até o ano 2000 Tabela 2.1: Exemplos de gases de efeito estufa afetados por atividades humanas

CO2 CH4 N2O CFC–11 HFC–23 CF4


(Dióxido de (Metano) (Óxido (clorofluor- (Hidrofluor- (Perfluoro-
Carbono Nitroso) carboneto carboneto metano)
-11) – 23)
Dióxido de Carbono (ppm)

Concentração ~280 ~700 ~270 Zero Zero 40


350

Força radiativa (Wm)


pré–industrial ppm ppb ppb ppt
1 Concentração 365 1745 314 268 ppt 14 ppt 80 ppt
em 1998 ppm ppb ppb
Ano Taxa de 1,5 7,0 0,8 –1,4 0,55 1
mudança de ppm/anoa ppb/ano ppb/ano ppt/ano ppt/ano ppt/ano
300 Concentraçãob
Ciclo de vida 5–200 12 114 45 260 >50.000
0 atmosférico anoc anoc anoc ano ano ano

a. A taxa flutuou entre 0,9 ppm/ano e 2,8 ppm/ano no caso do CO2 e entre 0 e 13 ppb/ano no caso do
CH4 no período de 1990 a 1999.
250 b. A taxa é calculada sobre o período de 1990 a 1999.
c. Não é possível definir um ciclo de vida único para o CO2 devido às diferentes taxas de assimilação por
1000 5000 0 parte de diferentes processos.
d. Esse ciclo de vida foi definido como um “tempo de ajuste”, que leva em conta o efeito indireto do
Época (antes de 2005) gás em seu próprio tempo de residência.
ppm: partes por milhão; PPB: partes por bilhão; ppt: partes por trilhão.
Fonte: Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) 2007: Quarto Relatório de Avalia-
ção (Volume I). Cambridge: Editora da Universidade de Cambridge, 2007.

Gases de Efeito Estufa e 1998, sua taxa de mudança no Estado atmosférico e clima relevantes (ex.: mudança no uso
Os aumentos de gases de período de 1990 a 1999 e seu ciclo podem ser resumidos em várias da terra), não foram coletados
efeito estufa (GEE) induzidos de vida atmosférico. O ciclo de vida escalas espaciais e temporais. A nos mesmos locais e nas mesmas
pelo homem na concentração atmosférico é altamente relevante escala apropriada de análise e a escalas.
atmosférica de GEE estão para os formuladores de políticas, escolha de qualquer período de
amplificando o efeito estufa. uma vez que a emissão de gases defasagem entre exposição e efeito Em toda pesquisa dessa natureza
Recentemente, o grande aumento com longos ciclos de vida implica dependerão da natureza prevista da é preciso acomodar os vários
da queima de combustível fóssil, um compromisso praticamente relação. Muitas pesquisas requerem tipos de incerteza inerentes a esses
da atividade agrícola e de várias irreversível com as mudanças conjuntos de dados de longo estudos. Projeções sobre como
outras atividades econômicas climáticas sustentadas no transcorrer prazo, com informações sobre sistemas complexos tais como
tem aumentado sensivelmente as de décadas ou séculos.3, 4 tempo/clima e efeito na saúde, sistemas climáticos regionais e
emissões de gases de efeito estufa. nas mesmas escalas espaciais e ecossistemas dependentes do clima
A concentração de dióxido de Estudo dos Impactos do Clima temporais. Por exemplo, tem sido responderão quando empurrados
carbono na atmosfera aumentou na Saúde comprovadamente difícil avaliar para além de limites críticos,
em mais de 35% desde o início da O estudo do impacto de eventos a influência da variabilidade e são necessariamente incertas.
revolução industrial (Figura 2.2). relacionados ao estado atmosférico da mudança climática na recente Da mesma forma, há incertezas
e à variabilidade climática na saúde disseminação da malária nas terras em relação às características, aos
A Tabela 2.1 apresenta exemplos humana requer uma especificação altas africanas, porque dados comportamentos e à capacidade
de vários gases de efeito estufa e apropriada da “exposição” apropriados sobre saúde e estado de enfrentamento das populações
resume suas concentrações em 1790 meteorológica. atmosférico, dentre outros dados humanas no futuro.

SUMÁRIO 09
3
No início da década de 1990 havia na baixa atmosfera, por meio da doenças e mortes prematuras… Nesse
pouca conscientização dos riscos emissão de gases de efeito estufa, estágio inicial, os efeitos são pequenos,
da mudança climática global para têm influenciado e provavelmente mas estima-se que aumentarão
a saúde. Essa situação refletia uma influenciarão os padrões climáticos progressivamente em todos os países

Consenso falta geral de entendimento de como


a ruptura dos sistemas biofísico
mundiais; (ii) como isso afeta e,
no futuro, afetaria, vários sistemas
e regiões”. E continua: “As exposições
previstas relacionadas com a mudança

internacional
e ecológico podem afetar o bem- e processos importantes para as climática deverão afetar o estado
estar e a saúde das populações num sociedades humanas; e (iii) a faixa de saúde de milhões de pessoas,
prazo mais longo. Havia pouca de opções de resposta econômica e particularmente aquelas com baixa
sobre a ciência conscientização entre especialistas em
ciências naturais de que as mudanças
social disponível aos formuladores
de políticas para prevenir mudanças
capacidade de adaptação, por meio: de
aumentos da desnutrição e distúrbios
do clima e da em seus objetos de estudo específicos
– condições climáticas, estoques
climáticas e reduzir seus impactos. conseqüentes, com implicações para
o crescimento e o desenvolvimento

saúde: Quarto de biodiversidade, produtividade


do ecossistema, dentre outros -
O trabalho do IPCC tem sido
realizado por várias centenas de
infantil; do aumento no número de
mortes, doenças ou danos devidos

Relatório de eram potencialmente importantes


para a saúde humana. De fato,
cientistas em todo o mundo. A cada
cinco anos, os governos nacionais
a ondas de calor, inundações,
tempestades, incêndios e secas; da

Avaliação do
isso ficou bem refletido na escassa propõem os nomes de cientistas com carga maior de doenças diarréicas;
referência aos riscos para a saúde no experiência nas muitas áreas temáticas os efeitos mistos na faixa (aumento e
primeiro grande relatório do Painel incluídas nessa abrangente tarefa de redução) e transmissão potencial da
IPCC Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC), da ONU,
revisão. Equipes de revisão temática
são então selecionadas para garantir
malária na África; da maior freqüência
de doenças cardiorrespiratórias,
publicado em 1991. uma representação geográfica e devido a concentrações mais
Por meio de pesquisas disciplinar apropriada. Excetuando-se elevadas de ozônio na superfície da
recentes, nosso entendimento Posteriormente, a situação mudou. o pequeno número de cientistas que terra relacionadas com mudanças
das relações clima-saúde O Segundo Relatório de Avaliação trabalham no nível do secretariado do climáticas; e da distribuição espacial
aumentou rapidamente, do IPCC (1996) dedicou um IPCC, todo esse trabalho de revisão, alterada de alguns vetores de doenças
capítulo inteiro aos riscos potenciais discussão e redação é realizado por infecciosas”.1 A Figura 3.1 [TS.9]
em grande parte devido ao para a saúde. Os Terceiro e Quarto meio de contribuição voluntária. resume a direção e magnitude da
estímulo do IPCC e outros Relatórios de Avaliação (2001 e mudança de determinados impactos
exames relacionados com 2007) fizeram o mesmo, incluindo As minutas de avaliações do das mudanças climáticas na saúde.2
políticas ocorridos no nível discussões de evidências precoces IPCC estão sujeitas a uma série de
de impactos reais na saúde, além de processos internos e externos de Em sentido amplo, uma mudança nas
regional e nacional.
avaliar os efeitos potenciais futuros revisão por pares. A redação final condições climáticas pode produzir
na saúde. As avaliações também dos resumos dos relatórios do IPCC três tipos de impacto na saúde:
destacaram impactos previstos na está sujeita, por meio de conferências • Aqueles que são relativamente
saúde por principais áreas geográficas internacionais formais, ao escrutínio diretos, causados por Eventos
e para populações particularmente detalhado e sistemático dos governos. climáticos extremos.
vulneráveis. • As conseqüências para a saúde
O IPCC e a avaliação dos de vários processos de mudança
O IPCC foi instituído pela OMM e impactos na saúde ambiental e do distúrbio ecológico
pelo PNUMA em 1988. O papel do Em seu Quarto Relatório de que ocorrem em resposta a
IPCC é avaliar a literatura científica Avaliação, o IPCC concluiu que: mudanças climáticas.
mundial publicada sobre: (i) como “a mudança climática atualmente • As diversas conseqüências para a
as mudanças induzidas pelo homem contribui para a carga global de saúde - traumáticas, infecciosas,

10 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


nutricionais e psicológicas, ecológicos, condições sociais e demográficos, desmatamentos e serem prejudicados por extremos
dentre outras – que ocorrem políticas de adaptação. A busca por padrões de uso da terra, perdas de térmicos incluem moradores
em populações pervertidas explicações deve basear-se em um biodiversidade (ex.: predadores urbanos isolados, idosos e pobres.
e deslocadas, na esteira de equilíbrio entre complexidade e naturais de mosquitos), configurações As populações que vivem nas atuais
deslocamento econômico, declínio simplicidade. de superfícies de água doce e faixas da malária e da dengue, sem
ambiental e situações de conflito • Há muitas fontes de incerteza densidade populacional humana.5 atenção primária efetiva à saúde serão
induzidas pelo clima. científica e contextual. O IPCC, as mais suscetíveis caso essas doenças
portanto, buscou formalizar a Para cada impacto potencial da ampliem sua faixa geográfica em um
Esses muitos caminhos são ilustrados avaliação de nível de confiança mudança do clima, determinados mundo mais aquecido.
na Figura 3.2.3. pertinente a cada declaração de grupos estarão particularmente
impacto na saúde. vulneráveis a doenças e danos. O relatório do IPCC também destaca
Nosso entendimento dos impactos • A mudança do clima é uma das A vulnerabilidade de uma que nosso entendimento da ligação
das mudanças e variabilidades muitas mudanças ambientais população depende de fatores entre clima, mudança climática e saúde
climáticas na saúde humana globais concomitantes, que como densidade demográfica, nível humana aumentou consideravelmente.
aumentou consideravelmente nos afetam simultaneamente a saúde de desenvolvimento econômico, No entanto, ainda persistem muitas
últimos anos. No entanto, várias humana – freqüentemente de forma disponibilidade de alimentos e água lacunas nos conhecimentos sobre
questões básicas complicam essa interativa.4 potável segura, nível e distribuição padrões futuros de exposição a
tarefa: de renda, condições ambientais mudanças climático-ambientais e sobre
Um bom exemplo é a transmissão locais, estados de saúde pré-existentes a vulnerabilidade e adaptabilidade de
• As influências climáticas na saúde de doenças infecciosas transmitidas e qualidade e disponibilidade de sistemas físicos, ecológicos e sociais a
freqüentemente são moduladas por por vetores, também afetada por assistência médica pública.6 Por essas mudanças climáticas.
interações com outros processos condições climáticas, movimentos exemplo, aqueles em maior risco de

Figura 3.1. Direção e magnitude da mudança de determinados impactos da Figura 3.2. Vias pelas quais a mudança climática afeta a saúde humana (modificado
mudança climática na saúde a partir da referência 3)

Impacto negativo Impacto positivo


Influências Efeitos na saúde
moduladoras
Doenças e mortes
Grau de confiança muito alto associadas a
temperaturas
Malária: contração e expansão, mudança da estação de
transmissão Efeitos na saúde
Exposições associados eventos
Grau de confiança alto humanas climáticos extremos
Aumento da desnutrição Mudanças Vias de Efeitos na saúde
MUDANÇA climáticas regionais contaminação associados à poluição
Aumento do número de pessoas que morrem ou são CLIMÁTICA do ar
acometidas por doenças e ferimentos como resultado de •Ondas de calor Dinâmica da
transmissão Doenças transmitidas
eventos climáticos extremos •Temperaturas por água e alimentos
extremas
Aumento da freqüência de doenças cardiorrespiratórias •Precipitação Doenças transmitidas
resultantes de alterações na qualidade do ar Mudanças em por vetores e roedores
ecossistemas
Mudança na faixa de vetores de doenças infecciosas agrícolas, hidrologia Efeitos da escassez de
alimentos e água
Redução de mortes relacionadas com o frio Efeitos mentais,
Ruptura socioeconô- nutricionais e
Grau de confiança médio mica e demográfica infecciosos na saúde,
Aumento da carga de doenças diarréicas dentre outros.

SUMÁRIO 11
4
Figura 4.1 Tarefas para a ciência da saúde pública
Um desafio final é a necessidade
de estimar os riscos para a saúde
Pesquisas em saúde pública em relação a cenários climático-
ambientais futuros. Diferentemente

De olho no Relações básicas


• Dose-resposta
Outras disciplinas da maioria dos riscos ambientais
reconhecidos, muitos dos riscos

futuro: desafios
previstos como resultados de
Evidências de mudanças climáticas globais estão
efeitos precoces, Comunicação a em um futuro que somente se
pra os cientistas inclusive
monitoramento
Avaliações de
• vulnerabilidade
• adaptação
• Formuladores de políticas
• Partes interessadas
• Outros pesquisadores
materializará em anos ou décadas.

que estudam
Questões a serem abordadas?
Modelagem de cenários Informações suficientes? Estratégias e tarefas de pesquisa
Embora boa parte da pesquisa

mudança Opções de adaptação


sobre impactos na saúde esteja
focalizado em riscos futuros, estudos

climática e Benefícios colaterais


da mitigação
Processo de formulação de políticas empíricos sobre o passado recente
e o presente são importantes.

saúde
Métodos epidemiológicos padrões
Os desafios de identificar, quantificar mesma localização geográfica, a de observação podem esclarecer
e projetar os impactos de mudanças comparação entre conjuntos de pessoas as conseqüências de tendências
climáticas na saúde acarretam e diferentes “exposições” geralmente é climáticas locais em décadas passadas
As investigações sobre a
questões de escala, a especificação da impossível. Ao contrário, comunidades – se o conjunto relevante de dados
mudança climática e saúde “exposição” e a elaboração de vias ou populações inteiras devem ser existir. Essas informações aumentam
englobam estudos básicos causais freqüentemente complexas comparadas – e, quando isso é feito, nossa capacidade posterior de estimar
e relações causais, análise e indiretas.1 Em primeiro lugar, a deve-se atentar para as diferenças de futuros impactos. Nesse meio tempo,
de riscos, avaliação da escala geográfica dos impactos na vulnerabilidades intracomunitárias. deveríamos também buscar evidências
saúde relacionados com o clima, bem Por exemplo, a taxa excessiva de dos efeitos precoces das mudanças
vulnerabilidade e capacidade como os amplos períodos de tempo mortes durante a severa onda de calor climáticas na saúde, uma vez que essas
de adaptação das populações típicos à mudança , são desconhecidos em Chicago, em 1995, e na Europa mudanças vêm ocorrendo há várias
e avaliação e políticas de para muitos pesquisadores. Os Ocidental, em 2003, variou muito entre décadas.
intervenção. epidemiologistas geralmente estudam bairros, devido às diferenças em fatores
problemas que são geograficamente como qualidade da moradia e coesão da Os impactos na saúde de mudanças
localizados, instalam-se com relativa comunidade. climáticas futuras, inclusive
rapidez e afetam diretamente a saúde. mudanças na variabilidade
O indivíduo geralmente é a unidade Terceiro, alguns impactos na saúde climática, podem ser estimados de
natural de observação. ocorrem por meio de caminhos duas formas principais. Primeiro,
indiretos e complexos. Por exemplo, podemos extrapolar a partir de
Segundo, a variável “exposição” – que os efeitos de temperaturas extremas estudos análogos que tratam as
compreende tempo, variabilidade na saúde são diretos. Contrariamente, variabilidades climáticas recentes
climática e tendências climáticas – mudanças complexas na composição como uma antecipação da mudança
impõe dificuldades. Não há um grupo e no funcionamento de ecossistemas climática. Segundo, podemos usar
“não exposto” óbvio para servir de linha ajudam a mediar o impacto da modelos de computador baseados
de base para comparações. De fato, mudança climática na transmissão de em conhecimentos existentes sobre
como há pouca diferença em exposições doenças infecciosas por vetores e na relações entre condições climáticas e
a tempo/clima entre indivíduos na produtividade agrícola. efeitos na saúde.

12 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


Figura 4.2 Relação entre temperatura média e relatórios mensais de casos de
Esses modelos não podem projetar Salmonela na Nova Zelândia 1965 – 2000
4. Avaliação das opções de
exatamente o que acontecerá, mas adaptação
400
indicam o que poderia ocorrer se Adaptação significa adotar medidas
determinadas condições climáticas 350 para reduzir o impacto adverso
futuras (e outras especificadas) se potencial da mudança ambiental (ver

Número de casos de Salmonela/mês


300
concretizassem. capítulo 11).
250
As cinco principais tarefas para os 5. Estimativa dos benefícios e
pesquisadores incluem: 200 custos coincidentes da mitigação
150
e adaptação
1. Estabelecer relações As medidas para reduzir as emissões
comparativas (baseline) entre 100 de GEE (mitigação) ou diminuir os
clima e saúde 50
impactos na saúde (adaptação) podem
Há muitas questões não resolvidas produzir outros efeitos coincidentes
sobre a sensibilidade de efeitos 0 na saúde. Por exemplo, a promoção
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
específicos na saúde ao tempo, à de um sistema de transporte público
variabilidade climática e às mudanças Temperatura média mensal (Centígrados) em relação a veículos particulares
ambientais induzidas pelo clima. Por poderá não apenas reduzir as emissões
exemplo, os principais patógenos de enfrentamento, que variam da satisfatoriamente as conseqüências de CO2, mas também melhorar
causadores de gastrenterite aguda plantação de árvores para sombra a climáticas de cenários futuros de a saúde pública no curto prazo,
se multiplicam mais rapidamente mudanças no horário de trabalho e emissões de gases do efeito estufa. ao reduzir a poluição do ar e os
em climas mais quentes. Será que instalação de ar-condicionado. Ligando esses cenários climáticos ferimentos resultantes de acidentes
temperaturas ambientes mais elevadas aos modelos de impactos na saúde, de trânsito e aumentar a atividade
são mais propícias a doenças? O desafio é escolher os cenários, podemos estimar os impactos física. Informações sobre esses custos e
Aparentemente sim – como fica as populações e os efeitos na saúde prováveis na saúde. benefícios “auxiliares” são importantes
evidente na contagem mensal de com as melhores chances de: (i) para os formuladores de políticas.
infecção por salmonela na Nova detectar mudanças; e (ii) atribuir Alguns impactos na saúde são Observem, no entanto, que no caso de
Zelândia em relação à temperatura alguma parcela destas à mudança prontamente quantificados (mortes impactos protelados no tempo ou que
média mensal (Figura 4.2). climática. Os impactos provavelmente devido a tempestades e inundações, se estendem num futuro distante, o
serão mais claros onde o gradiente por exemplo); outros são mais cálculo dos custos não é direto.
2. Em busca de evidências dos exposição-efeito for mais acentuado, a difíceis de ser quantificados (ex.:
efeitos da mudança do clima capacidade de adaptação da população as conseqüências da insegurança Questões gerais sobre incerteza
Tem havido muitas observações for mais fraca e onde houver poucas alimentar na saúde). Precisamos Os pesquisadores deveriam descrever,
coerentes sobre as mudanças explicações concorrentes para as de modelos com representação comunicar e explicar todas as
físicas e ecológicas atribuíveis relações observadas. suficiente do mundo futuro incertezas relevantes. Isso daria ao
ao recente aquecimento global multifacetado para nos fornecer gestor uma percepção importante
– mas indicações limitadas 3. Modelos baseados em estimativas úteis e críveis, de riscos das condições necessárias para que
de efeitos na saúde humana. cenários para a projeção de futuros para a saúde. Quando um determinado efeito ocorresse.
Dentre essas indicações estão os prováveis impactos possível, devemos adotar um alto Como a percepção do risco ambiental
padrões mutantes de doenças Diferentemente do que ocorre com nível de “integração” para obter varia com a cultura, os valores e
infecciosas (como a encefalite a maioria das demais exposições previsões de impacto que sejam o status social, os “stakeholders”
transmitida por carrapatos2 e a ambientais, sabemos que o clima realisticamente modeladas, em um (partes interessadas) deveriam auxiliar
cólera3). Pesquisadores da saúde do mundo continuará a mudar mundo que terá passado por várias tanto na definição das perguntas da
devem admitir o fato de que os por pelo menos várias décadas. Os outras mudanças demográficas, avaliação como na interpretação do
humanos têm muitas estratégias climatologistas hoje podem modelar econômicas, tecnológicas e sociais. risco.

SUMÁRIO 13
5
Eventos climáticos extremos deverão A malária está essencialmente restrita Muitas doenças diarréicas variam
se tornar mais freqüentes e intensos às regiões tropicais e subtropicais. A sazonalmente, sugerindo sensibilidade
com a mudança climática. Esses sensibilidade da doença ao clima se ao clima. Nos trópicos, as doenças
eventos perturbadores produzem reflete nas áreas próximas aos desertos diarréicas geralmente atingem seu

Impactos da seu maior impacto em países pobres.


As duas categorias de extremos
e montanhas, onde temperaturas mais
altas e/ou chuvas associadas ao El
ápice durante a estação de chuva.
Tanto inundações como secas

variabilidade
climáticos são: Niño podem aumentar a transmissão2. aumentam o risco de doenças
Em áreas de malária instável em países diarréicas. As principais causas de
• Extremos simples de faixas em desenvolvimento, as populações diarréia relacionadas com as chuvas
climática na estatísticas climáticas, tais como
temperaturas muito baixas ou
carecem de imunidade protetora e
estão sujeitas a epidemias, quando as
fortes e água contaminada são a
cólera, criptosporídiase, infecção
saúde muito elevadas;
• Eventos complexos tais como:
condições meteorológicas facilitam a
transmissão.
por E. coli, giárdiase, infecção por
shigella, febre tifóide e as víroses
secas, inundações ou furacões. como a hepatite A.
Fatores climáticos são um A dengue é a doença arboviral mais
determinante importante de A Oscilação Sul-El Niño (ENSO) importante dos humanos, ocorrendo Temperaturas extremas: ondas
várias doenças transmitidas baseada no Pacífico, que ocorre a em regiões tropicais e subtropicais, de calor e períodos de frio
cada 2–7 anos aproximadamente, particularmente em assentamentos Temperaturas extremas podem matar.
por vetores, muitas doenças
influencia muito os padrões regionais urbanos. A ENSO afeta a ocorrência Em muitos países temperados, a
entéricas e certas doenças mundiais de tempo, ilustrando, assim, da dengue parcialmente, por taxa de mortes durante o inverno é
relacionadas à água. As como a variabilidade climática pode meio de mudanças nas práticas de 10% a 25% mais altas do que no
relações entre variações ano afetar a saúde humana. de armazenamento de água nos verão. Em agosto de 2003, uma onda
domicílios e na formação de poças de calor na França causou 14.802
a ano no clima e em doenças
Clima, tempo, El Niño e doenças da água na superfície. Entre 1970 e mortes em 20 dias.4
infecciosas são mais evidentes infecciosas 1995, o número anual de epidemias
onde as variações climáticas Tanto a temperatura como a água de dengue no Pacífico Sul foi Grande parte do excesso de mortes
são marcadas, bem como de superfície exercem influências correlacionado de forma positiva com registradas durante períodos
em populações vulneráveis. importantes nos insetos vetores de as condições do La Niña (i.e., mais de extremos térmicos ocorrem
doenças infecciosas. Particularmente quentes e mais úmidas).3 em pessoas com doenças pré-
O fenômeno El Niño nos relevantes são as espécies de existentes, especialmente doenças
fornece uma analogia para mosquito que disseminam a malária Roedores, que proliferam em regiões cardiovasculares e respiratórias. Os
entendermos os impactos e doenças virais como a dengue, temperadas após invernos úmidos muito idosos, os muito novos e os
futuros da mudança global do a chikungunya e a febre amarela. amenos, atuam como reservatórios fracos são mais suscetíveis. É difícil
Os mosquitos precisam de acesso à para várias doenças. Algumas doenças estimar o número de mortes durante
clima nas doenças infecciosas.
água estagnada para se reproduzir transmitidas por roedores estão uma onda de calor, uma vez que
e a viabilidade dos adultos associadas a inundações, inclusive a algumas mortes ocorrem em pessoas
depende de condições úmidas. leptospirose, a tularemia e doenças suscetíveis, que teriam morrido no
Temperaturas mais altas aumentam hemorrágicas virais. Outras doenças futuro muito próximo.
a reprodução do vetor e reduzem associadas a roedores e carrapatos,
o período de amadurecimento do e que mostram associações com A mudança climática global será
patógeno no organismo vetor. No variabilidade climática, incluem a acompanhada de maior freqüência,
entanto, condições muito quentes borreliose de Lyme, a encefalite intensidade e duração de ondas de
e secas podem reduzir o tempo de transmitida por carrapatos e a calor, bem como de verões mais
sobrevivência do mosquito. síndrome pulmonar do hantavírus. quentes e invernos mais amenos.

14 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


Em estudos de modelagem baseados companhia de resseguros Munich Re parcialmente, à má informação e exemplo, o aumento na importação
em cenários climáticos, a projeção constatou que triplicou o número de ao aumento da vulnerabilidade das de alimentos pode evitar a fome e
da mortalidade futura está associada catástrofes naturais nos últimos anos, populações, podendo incluir uma doenças durante secas ocasionais,
à temperatura. Por exemplo, o em relação à década de 1960. Isso contribuição da mudança climática mas países pobres, que sofrem de
excesso de mortes ocorridas no verão reflete mais as tendências globais global contínua. Especialmente insegurança alimentar, poderão ser
atribuível à mudança climática, até na vulnerabilidade da população em países pobres, os impactos das incapazes de arcar com os custos
2050, deverá aumentar várias vezes, do que um aumento na freqüência principais doenças transmitidas por dessas medidas indefinidamente, em
chegando a 500–1000 em Nova York de eventos climáticos extremos. Os vetores e de desastres podem limitar resposta à seca gradual ano após ano.
e 100–250 em Detroit, presumindo- países em desenvolvimento estão mal ou até mesmo reverter melhorias no
se a aclimatação da população equipados para enfrentar extremos desenvolvimento social. Mesmo em
(fisiológica, infra-estrutural e climáticos, mesmo na medida em condições favoráveis, a recuperação
comportamental)5. Sem aclimatação, que a concentração demográfica de grandes desastres pode consumir
os impactos seriam maiores. aumenta em áreas de alto risco, como décadas.
zonas e cidades costeiras. Assim, o
É difícil determinar o impacto de número de pessoas mortas, feridas Previsões climáticas de curto alcance
um clima estressante no excesso ou sem-teto em conseqüência de podem ajudar a reduzir os impactos
de mortes associadas ao inverno. desastres naturais vem aumentando na saúde. Mas sistemas de alerta
Em países temperados, a redução rapidamente. precoces também devem incluir
no número de mortes ocorridas no monitoramento e vigilância, ligados
inverno pode superar o aumento A Tabela 5.1. mostra os números de a capacidades de resposta adequadas.
no número de mortes ocorridas no eventos, mortes e pessoas afetadas por Focalizar a atenção em eventos
verão. No entanto, sem melhores eventos climáticos e de temperatura extremos atuais pode ajudar os
dados, é difícil estimar-se o impacto extremos nas duas últimas décadas, países a desenvolver melhores meios
líquido na mortalidade anual. Além por região geográfica. para lidar com os impactos de mais
disso, esse impacto irá variar entre longo prazo da mudança climática
populações. Conclusão global, embora essa capacidade
A tendência crescente na ocorrência possa por si só declinar, em razão de
Desastres naturais de desastres naturais se deve, mudanças climáticas cumulativas. Por
É difícil quantificar o impacto total de
desastres naturais (secas, inundações,
tempestades e incêndios florestais) na Tabela 5.1. Números de eventos climáticos/de temperatura extremos, pessoas mortas e afetadas, por região do mundo, nas
saúde, uma vez que as conseqüências décadas de 1980 e 1990
secundárias e retardadas são mal Década de 1980 Década de 1990
informadas. Eventos do El Niño
Eventos Mortos (milhares) Afetados (milhões) Eventos Mortos (milhares) Afetados (milhões)
influenciam as taxas anuais de pessoa
afetadas por desastres naturais.6 África 243 417 137,8 247 10 104,3

Globalmente, os desastres provocados Leste Europeu 66 2 0,1 150 5 12,4


por secas ocorrem especialmente Leste do Mediterrâneo 94 162 17,8 139 14 36,1
durante o ano posterior à ocorrência
América Latina e Caribe 265 12 54,1 298 59 30,7
do El Niño.
Sudeste da Ásia 242 54 850,5 286 458 427,4

Em termos globais, os impactos dos Pacífico Ocidental 375 36 273,1 381 48 1.199.8
desastres naturais vêm aumentando. Desenvolvidos 563 10 2,8 577 6 40.8
Uma análise realizada pela Total 1.848 692 1.336 2.078 601 1.851

SUMÁRIO 15
6
Figura 6.1: Quatro principais tipos de ciclo de transmissão para doenças infecciosas
Os humanos sabem, desde antes (referência 5)
da descoberta do papel dos agentes
infecciosos, no final do século XIX, Antroponose
que as condições climáticas afetam as Transmissão direta Transmissão indireta

Mudança do doenças epidêmicas. Os aristocratas


romanos se recolhiam nas montanhas,
HUMANOS
VETOR/VEÍCULO
HUMANOS

clima e doenças
VETOR/VEÍCULO
todos os verões, para evitar a malária.
HUMANOS HUMANOS
Os asiáticos do sul aprenderam cedo
que, no alto verão, alimentos com
infecciosas
Zoonose
grande quantidade de curry tinham
ANIMAIS ANIMAIS
menos probabilidade de causar VETOR/VEÍCULO
diarréia. VETOR/VEÍCULO
Hoje, em todo o mundo, há ANIMAIS ANIMAIS
um aumento aparente de Os agentes infecciosos variam HUMANOS HUMANOS
muitas doenças infecciosas, muito em tamanho, tipo e
inclusive algumas de circulação modo de transmissão. Há vírus,
bactérias, protozoários e parasitas ideais: temperatura e precipitação variabilidade climática e ocorrência de
recente (HIV/AIDS, hantavirose,
multicelulares. Os micróbios que são as mais importantes, embora doenças infecciosas. A segunda analisa
hepatite C, SARS, etc.). Essa causam “antroponose” adaptaram- umidade, elevação do nível do mar e os indicadores precoces dos impactos
situação reflete os impactos se, por meio da evolução, à duração da luz do dia também sejam já emergentes de doenças infecciosas
combinados de mudanças espécie humana como seus importantes. associadas a mudanças climáticas
anfitriões principais, exclusivos. de longo prazo. A terceira usa as
demográficas, ambientais,
Contrariamente, espécies não A exposição humana a infecções evidências acima para criar modelos
sociais e tecnológicas, bem humanas são reservatórios naturais transmitidas pela água ocorre por que permitam estimar a carga futura
como de outras mudanças para aqueles agentes infecciosos que meio do contato com água potável de doenças infecciosas em cenários
em nossos modos de vida. A causam “zoonoses” (Fig. 6.1). Há contaminada, com água de recreação projetados de mudanças climáticas.
mudança do clima também antroponoses (tais como TB, HIV/ ou por meio de alimentos, podendo
AIDS e sarampo) e zoonoses (ex.: resultar de atividades humanas tais Evidências Históricas
afetará a ocorrência de raiva) transmitidas diretamente. como disposição inadequada dos Há muitas evidências de associações
doenças infecciosas.1 Também há antroponoses (ex.: dejetos, ou por meio de eventos entre condições climáticas e
malária, dengue, febre amarela) climáticos. A chuva pode influenciar doenças infecciosas. A malária é
e zoonoses (ex.: peste bubônica o transporte e a disseminação de alvo de grande preocupação com a
e doença de Lyme) transmitidas agentes infecciosos, enquanto a saúde pública, e pode ser a doença
indiretamente, por vetores. temperatura afeta seu crescimento e transmitida por vetor mais sensível às
sua sobrevivência. mudanças climáticas de longo prazo.
Doenças transmitidas por vetores e pela A malária varia sazonalmente em
água. Determinantes importantes Relações observadas e áreas altamente endêmicas. A ligação
de doenças transmitidas por projetadas entre clima/doenças entre a malária e eventos climáticos
vetores incluem: (i) sobrevivência infecciosas extremos há muito vem sendo
e reprodução do vetor; (ii) taxa de Há três categorias de pesquisas estudada na Índia, por exemplo. No
picada/mordida do vetor; e (iii) no que se refere às ligações entre início do século passado, a região
taxa de incubação do patógeno no condições climáticas e transmissão de Punjab, irrigada pelo rio, sofreu
organismo vetor. Vetores, patógenos de doenças infecciosas. A primeira epidemias periódicas de malária.
e anfitriões sobrevivem e reproduzem examina evidências do passado Chuvas de monção excessivas e alta
numa faixa de condições climáticas recente de associações entre umidade haviam sido identificadas

16 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


anteriormente como grandes empregados para projetar influências no futuro é projetada, presumindo-se da malária mostra que pequenos
influências, aumentando a reprodução climáticas futuras em doenças que os níveis de intervenção humana aumentos de temperatura poderiam
e sobrevivência do mosquito. Análises infecciosas incluem modelos em qualquer zona climática em afetar muito o potencial de
recentes mostram que o risco de estatísticos, modelos baseados em particular permanecerão inalterados. transmissão. Globalmente, elevações
epidemias de malária aumenta cerca processos e modelos baseados em Esses modelos foram aplicados aos de temperatura de 2–3ºC poderiam
de cinco vezes no ano posterior a um cenários.3 Esses três tipos de modelo impactos de mudanças climáticas, a aumentar o número de pessoas que,
evento de El Niño.2 abordam questões diferentes. Os partir de várias doenças transmitidas em termos climáticos, correm o risco
modelos estatísticos requerem, por vetores, inclusive malária e de contrair malária, em cerca de 3–
Impactos antecipados da primeiramente, a derivação de uma dengue. Alguns modelos projetaram 5%, i.e., várias centenas de milhões.
mudança do clima relação estatística (empírica) entre aumentos na faixa geográfica da Ademais, a duração sazonal da
Esses impactos incluem evidências de a distribuição geográfica atual da malária, particularmente ao longo malária poderia aumentar em muitas
que vários vetores estão modificando doença e as condições climáticas da margem da distribuição atual; aéreas atualmente endêmicas. Como
sua faixa geográfica, em resposta à atuais, específicas da localidade. outros modelos sugerem que a faixa o clima também age influenciando
mudança climática, além de impactos Isso descreve a influência climática geográfica poderia ser reduzida habitats, a modelagem baseada
na saúde de extremos de temperatura na distribuição real da doença, em algumas áreas, porque as em cenários é útil. Isso implica
e impactos de eventos climáticos e de em vista dos níveis prevalentes de temperaturas estarão muito altas ou a combinar os modelos baseados no
temperatura extremos (descritos no intervenção humana (controle da precipitação estará muito baixa. clima acima descritos, com o uso em
capítulo 5). doença, manejo ambiental, etc.). rápido desenvolvimento de métodos
Aplicando-se, então, essa equação Modelos baseados em processos analíticos espaciais, para estudar
Modelagem estatística a cenários climáticos (matemáticos) usam equações que os efeitos de fatores climáticos e
Os principais tipos de modelos futuros, a distribuição real da doença expressam a relação cientificamente de outros fatores ambientais (ex.:
documentada entre variáveis diferentes tipos de vegetação –
Tabela 6.1: 5 Exemplos de como diferentes mudanças ambientais afetam a climáticas e parâmetros biológicos, freqüentemente medidos, na etapa
ocorrência de várias doenças infecciosas em humanos ex.: reprodução, sobrevivência e de desenvolvimento do modelo,
Mudanças ambientais Exemplos de doença Mecanismo do efeito taxa de picadas/mordidas de vetores, por sensores terrestres ou remotos).
Represas, canais, irrigação Esquistossomose pHabitat do caramujo anfitrião, contato humano e taxas de incubação de parasitas. Esse tipo de modelagem tem sido
Malária pLocais de reprodução de mosquitos Em sua forma mais simples, esses aplicado para estimar como mudanças
Helmintíase pContato com larvas devido a solo úmido modelos expressam, por meio de climáticas futuras induzidas na
Oncocercose qReprodução da mosca preta q doença um conjunto de equações, como cobertura terrestre e na água de
Intensificação da agricultura Malária Inseticidas agrícolas e resistência p resistência uma determinada configuração de superfície na África poderiam afetar
do vetor
variáveis climáticas afetaria a biologia determinados mosquitos e moscas
Febre hemorrágica pAbundância de roedores, contato
venezuelana
do vetor e do parasita e, portanto, a tsé-tsé e, assim, a malária e a doença
Urbanização, assentamentos Cólera qsaneamento, higiene; p contaminação da água
transmissão da doença. Esses modelos do sono africana.
urbanos Dengue Latas de coleta de água, p locais de reprodução
abordam a pergunta: “Se somente as
do mosquito Aedes aegypti condições climáticas mudarem, como Conclusão
Leishmaniose cutânea pproximidade, vetores do mosquito pólvora isso mudaria a transmissão potencial As mudanças nos padrões de
Desmatamento e nova Malária pLocais de reprodução e vetores, imigração de da doença?”. Usando uma “integração transmissão de doenças infecciosas
habitação pessoas suscetíveis horizontal” mais complexa, os efeitos podem ser uma conseqüência
Febre Oropouche pcontato, reprodução de vetores condicionantes das intervenções importante da mudança do clima.
Leishmaniose visceral pContato com vetores do mosquito pólvora humanas e dos contextos sociais Precisamos aprender mais sobre as
Reflorestamento Doença de Lyme pAnfitriões de carrapatos, exposição externa também podem ser incorporados. relações causais subjacentes e aplicar
Aquecimento dos oceanos Maré vermelha pAlgas tóxicas essas informações à projeção de
Precipitação elevada Febre do Vale de Rift pPoças para reprodução de mosquitos
Esse método de modelagem tem impactos futuros, usando modelos
Síndrome pulmonar por pAlimento, habitat, abundância de roedores
Hantavírus
sido usado particularmente para a mais completos, melhor validados e
malária e a dengue.4 A modelagem integrados.

17
pAumento q Redução

SUMÁRIO
7
A carga global de doenças atribuíveis ausente; (ii) o aumento estimado Os cenários futuros de exposição
à mudança do clima foi estimada do risco de doença/morte por presumem os seguintes níveis
como parte de um projeto abrangente aumento de unidade na exposição projetados de emissão de GEE:
da Organização Mundial da Saúde.1 ao fator de risco (o ”risco relativo”);

Quantas Esse projeto buscou quantificar


as cargas de doenças atribuíveis
e (iii) a distribuição demográfica da
exposição atual ou estimada para o
1. Tendências de emissões não
mitigadas (aproximando-se do

doenças a
a 26 fatores de risco ambientais, futuro. A carga evitável é estimado cenário “IS92a” do IPCC).
ocupacionais, comportamentais e comparando-se as cargas projetadas 2. Redução de emissões, alcançando a
de estilo de vida no ano 2000 e em em cenários alternativos de exposição. estabilização em 750 ppm de CO2
mudança do ocasiões futuras específicas, até 2030.
Cargas de doenças foram estimadas
equivalentes em 2210 (s750).
3. Redução mais rápida de emissões,
clima causaria? Carga de doenças e indicadores
de resumo de saúde da
para cinco regiões geográficas
(Figura 7.1). A carga de doenças
estabilizando em 550 ppm de CO2
equivalentes em 2170 (s550).
população atribuíveis foi estimada para o ano
Para subsidiar políticas, é A carga das doenças compreende o 2000. Para os anos 2010, 2020 e Avaliação de efeitos na saúde
necessária uma estimativa volume total de doenças ou mortes 2030, foram estimados os riscos Apenas alguns dos efeitos na saúde
da magnitude aproximada prematuras na população. Comparar relativos associados ao clima de cada associados a mudança do clima são
frações da carga atribuíveis a vários resultado de saúde em cada cenário abordados aqui (Tabela.1). Esses
dos impactos da mudança do
diferentes fatores de risco requer, de mudança climática relativo à efeitos foram selecionados com
clima na saúde. Essa estimativa em primeiro lugar, conhecimento da situação caso a mudança climática base: (a) na sensibilidade a variações
indicará que impactos em gravidade/deficiência e duração do não ocorresse.3 O cenário de linha de climáticas; (b) na importância futura
particular têm probabilidade déficit de saúde e, em segundo lugar, base é 1990 (o último ano do período projetada; e (c) na disponibilidade/
o uso de unidades padrões de déficit de 1961 a 1990 – o período de viabilidade de modelos quantitativos
de ser maiores e em que
de saúde. O indicador “Anos de Vida referência adotado pela Organização globais.
regiões e quanto da carga de Perdidos Ajustados por Incapacidade” Meteorológica Mundial e pelo IPCC).
doenças atribuíveis ao clima (AVAI), amplamente empregado, é a
pode ser evitada por meio da soma de: Figura 7.1 Impactos estimados da mudança do clima em 2000, por região
redução de emissões, além
• anos de vida perdidos devido à
de orientar estratégias de morte prematura (YLL - Years of
proteção da saúde. Life Lost)
• anos de vida vividos com
incapacidade (YLD - Years Lived
with Disability).

Os YLL levam em conta a idade na


morte. Os YDL levam em conta a
duração da doença, a idade quando
de seu início e uma ponderação para DALYs

a incapacidade que reflete a gravidade Região Total DALYs


/ milhão de
(1000s)
habitantes

da doença. Para comparar as cargas Região africana


Região do Leste do Mediterrâneo
1894
768
3071,5
1586,5
atribuíveis em razão de fatores Região da América Latina e do Caribe
Região do Sudeste da Ásia
92
2572
188,5
1703,5
de risco discrepantes, precisamos Região do Pacífico Ocidental *
Países desenvolvidos**
169
8
111,4
8,9
conhecer (i) a carga básica da doença, MUNDO
* sem países desenvolvidos; ** e Cuba
estando o fator de risco particular

18 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


Tabela 7.1.Efeitos na saúde considerados nesta análise
total, embora as estimativas de A aplicação desses modelos a
Tipo de efeito Efeito Incidência/ Prevalência
mudanças no risco sejam um tanto cargas atuais sugere que, se nosso
Doença transmitidas por alimentos e água Episódios de diarréia Incidência
instáveis devido à variação regional entendimento das relações amplas
Doença transmitida por vetores Casos de malária Incidência
nas chuvas, elas se referem à carga de entre clima e doenças for realista,
Desastres naturais* Ferimentos fatais não Incidência
intencionais uma importante doença existente, que então a mudança do clima já poderá
Risco de desnutrição Indisponibilidade da Prevalência envolve grandes números de pessoas. estar afetando a saúde humana e as
ingestão diária de calorias cargas da saúde aumentarão com a
recomendada As mudanças proporcionais acentuação das mudanças climáticas.
*Todos os impactos de desastres naturais são atribuídos separadamente a inundações costeiras e inun- estimadas nos números de pessoas
dações/deslizamentos de terra no continente. mortas ou feridas em inundações A carga total atual estimada é
costeiras são grandes, embora se pequena em relação a outros
Prováveis impactos adicionais que sua validade estimada. Interpolação refiram a cargas absolutas baixas. Os importantes fatores de risco medidos
atualmente não são quantificáveis linear foi usada para estimar riscos impactos das inundações continentais no mesmo marco. No entanto,
incluem aqueles devidos a: relativos para anos entre cenários. deverão aumentar numa proporção contrariamente a muitos outros
semelhante, e geralmente causariam fatores de risco, a mudança climática
• mudanças na poluição do ar e nos Resumo de resultados um aumento acentuado maior na e seus riscos associados estão
níveis de aeroalérgenos; A mudança do clima afetará o carga das doenças. Embora esses aumentando - em vez de diminuir -
• transmissão alterada de outras padrão das mortes por exposição aumentos proporcionais sejam no transcorrer do tempo.
doenças infecciosas; a temperaturas altas ou baixas. No semelhantes em regiões desenvolvidas
• efeitos na produção de alimentos entanto, o efeito na carga real das e em desenvolvimento, as taxas
por meio de influências climáticas doenças não pode ser quantificado, básicas são muito mais altas em países
em pestes e doenças vegetais; uma vez que não sabemos até que em desenvolvimento.
• seca e fome; ponto as mortes ocorridas durante
• deslocamento da população devido extremos térmicos envolvem pessoas Projetam-se mudanças em várias
a desastres naturais, perdas na doentes/fragilizadas que, de qualquer doenças infecciosas transmitidas por
colheita, escassez de água; maneira, teriam morrido logo. vetores. Isso se aplica particularmente
• destruição de infra-estruturas de à malária, em regiões que fazem
saúde em decorrência de desastres Em 2030, o risco estimado de diarréia fronteira com regiões atualmente
naturais; será até 10% mais alto em algumas endêmicas. Mudanças menores
• conflitos envolvendo recursos regiões do que seria caso a mudança ocorreriam em áreas atualmente
naturais; climática não ocorresse. Como endêmicas. A maioria das regiões
• impactos diretos de calor e frio poucos estudos caracterizaram essa temperadas permaneceria inadequada
(morbidade). relação específica exposição-resposta, para a transmissão, porque continuam
essas estimativas são incertas. climaticamente impróprias (ex.:
Todos os modelos publicados a maior parte da Europa), ou
independentemente, que associam Os efeitos estimados na desnutrição porque é provável que as condições
a mudança climática a estimativas variam acentuadamente entre regiões. socioeconômicas permaneçam
quantitativas, globais, de impactos Para 2030, os riscos relativos em inadequadas para uma nova invasão
na saúde (ou impactos que afetam a caso de emissões não mitigadas, (ex.: sul dos Estados Unidos). As
saúde – ex.: produção de alimentos) comparados com um cenário sem incertezas estão relacionadas ao grau
foram revistos. Na ausência de mudança climática, variam de um de confiabilidade da extrapolação
modelos globais, as projeções locais aumento significativo na região do entre regiões e ao fato de a
ou regionais foram extrapoladas. Os Sudeste da Ásia a uma pequena transmissão potencial se tornar ou
modelos foram selecionados segundo redução no Pacífico Ocidental. No não uma transmissão real.

SUMÁRIO 19
8
Há cem anos, os cientistas teriam Em meados da década de 1980, os mudanças comportamentais baseadas
ficado incrédulos diante da idéia governos reconheceram o perigo na cultura levaram a uma exposição
de que, no final do século XX, emergente representado pela maior aos UVR, por meio de banhos
a humanidade estaria afetando destruição do ozônio. O Protocolo de sol e bronzeamento de pele. O

Redução a estratosfera. Ainda assim,


surpreendentemente, a redução do
de Montreal de 1987 foi adotado,
amplamente ratificado, iniciando-se
aumento acentuado da incidência
de câncer de pele no transcorrer das

do ozônio
ozônio estratosférico pelo homem a eliminação gradual dos principais décadas reflete, predominantemente,
começou recentemente – após oito gases responsáveis pela destruição a combinação da procedência,
mil gerações de Homo sapiens. do ozônio. O protocolo se tornou das migrações posteriores, de
estratosférico, O ozônio estratosférico absorve
mais rígido na década de 1990. Os
cientistas prevêem uma recuperação
vulnerabilidade geográfica e
comportamentos modernos.
radiação muito da radiação solar ultravioleta
(UVR), especialmente os UVR
lenta, mas quase completa, do ozônio
estratosférico em meados do século Tabela 8.1 Resumo dos possíveis efeitos

ultravioleta e biologicamente mais prejudiciais, XXI. da radiação solar ultravioleta na saúde


humana
com cumprimentos de onda mais

saúde curtos. Sabemos que vários produtos


químicos halogenados industriais, tais
Principais tipos de impactos na
saúde
Efeitos na pele
• Melanoma maligno
como os clorofluorcarbonetos (CFCs, A faixa de impactos certos ou
• Câncer de pele não melanocítico –
Em termos estritos, a redução usados em refrigeração, isolamento possíveis na saúde resultantes da carcinoma basocelular, carcinoma
e aerossóis) e metilbrometo, embora destruição do ozônio estratosférico é escamocelular
do ozônio estratosférico
inertes em temperaturas ambientes apresentada na Tabela 8.1, com uma • Queimadura de sol
não faz parte da “mudança na superfície da terra, reagem com avaliação resumida das evidências que
• Danos crônicos do sol
climática global”, que ocorre o ozônio na estratosfera polar implicam o UVR em sua causa.
• Fotodermatose
na troposfera. No entanto, há extremamente gelada. Essa destruição
do ozônio ocorre especialmente no Muitos estudos epidemiológicos
várias interações recentemente
final do inverno e início da primavera. implicaram a radiação solar como Efeitos nos olhos
descritas entre destruição uma das causas do câncer de pele • Fotoceratite e fotoconjuntivite agudas
do ozônio e aquecimento Durante as décadas de 1980 e 1990, (melanoma e outros tipos) em • Ceratopatia climática em gota
induzido pelos gases de efeito nas latitudes médias do norte (como a humanos de pele clara.2 Avaliações • Pterígio
estufa. Europa, por exemplo), a concentração recentes do programa das Nações
• Câncer da córnea e da conjuntiva
média de ozônio durante o ano Unidas para o Meio Ambiente
diminuiu cerca de 4% a cada década: projetam aumentos na incidência • Opacidade das lentes (catarata) – cortical,
subcapsular posterior
sobre as regiões sul da Austrália, Nova de câncer de pele e na gravidade
Zelândia, Argentina e África do Sul, de queimaduras de sol, devido à • Melanoma uveal
o número chegou próximo a 6–7%. destruição do ozônio estratosférico3 • Retinopatia solar aguda
Estimar as mudanças resultantes na durante pelo menos a primeira • Degeneração macular
radiação ultravioleta real no nível metade do século XXI (e sujeita
do solo continua a ser uma tarefa a mudanças em comportamentos
Efeitos na imunidade e infecções
tecnicamente complexa. No entanto, individuais).
• Supressão da imunidade mediada pela
as exposições em latitudes médias célula
do norte, por exemplo, poderão Os grupos mais vulneráveis ao
• Maior suscetibilidade a infecções
chegar ao ápice por volta de 2030, câncer de pele são os caucasianos
com um aumento estimado de 10% brancos, especialmente aqueles de • Prejuízo da imunização profilática
na radiação ultravioleta efetiva em origem celta, que vivem em áreas • Ativação de infecção por vírus latente
relação aos níveis da década de 1980.1 de altos UVR ambiente. Ademais,

20 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


Figura 8.1. Estimativas da destruição do ozônio e da incidência de câncer de pele
para avaliação das realizações do Protocolo de Montreal. (Fonte: Adaptado da
do ozônio estratosférico, e deve ser
Outros efeitos referência 6) evitada. Quaisquer mensagens de
• Produção cutânea de vitamina D: saúde pública preocupada com a
– prevenção de raquitismo, osteomalácia 1500 exposição pessoal aos UVR devem
e osteoporose
considerar não somente benefícios,

Excesso de casos de câncer de pele por emissão, por ano


Taxa básica dos EUA = 110 casos/milhão/ano
– possível benefício para hipertensão,
doenças coronarianas isquêmicas e
1250
mas também efeitos adversos. No
tuberculose entanto, devemos estar alertas para
– possível redução do risco de
Sem restrições a CFC
esquizofrenia, câncer de mama e câncer o aumento potencial de alguns
de próstata 1000 riscos específicos para a saúde,
– possível prevenção da diabetes Tipo 1
representados pela redução do ozônio
• Bem-estar geral alterado
750 Protocolo de estratosférico.
– ciclos de sono/vigília Montreal
– distúrbios afetivos sazonais (original)
– humor Excesso no pico =
500
10% in 2050
Hoje
Efeitos indiretos 250 Alterações
• Efeitos no clima, na oferta de alimentos, de Copenhague
100
nos vetores de doenças infecciosas, na
poluição do ar, etc.
Ano

Os cientistas esperam que o efeito Estudos de laboratório demonstram Finalmente, há uma dimensão
combinado da destruição recente que a exposição aos UVR, em ecológica, mais ampla, a ser
do ozônio estratosférico e sua particular os UVB, causa a considerada. A radiação ultravioleta
continuidade nas próximas 1–2 opacificação das lentes em várias prejudica a química molecular
décadas (por meio do acúmulo de espécies de mamíferos. As evidências da fotossíntese tanto na terra
exposição adicional aos UVB), resulte epidemiológicas do papel dos UVR (plantas terrestres) como no mar
em um aumento da incidência de na opacidade das lentes humanas (fitoplâncton), o que poderia afetar
câncer de pele em populações de são controversas. A catarata é mais a produção mundial de alimentos,
pele clara que vivem em latitudes comum em alguns (mas nem todos pelo menos marginalmente e,
médias a altas.3 A modelagem do os) países com altos níveis de UVR. assim, contribuir para problemas
estudo de níveis futuros de ozônio nutricionais e de saúde em populações
e exposições a UVR estimou que, Em humanos e animais de que sofrem de insegurança alimentar.
como conseqüência, uma população laboratório, a exposição aos No entanto, até agora há pouca
“européia” que vive cerca de 45 UVR, inclusive na faixa ambiental informação sobre essa via de impacto
graus ao norte sofrerá, até 2050, um do meio em que se vive, causa menos direta.
aumento de cerca de 5% na incidência imunossupressão tanto localizada
total de câncer de pele (presumindo- como do corpo todo.4 A Conclusão
se, conservadoramente, que não imunossupressão induzida pelos Incentivar que se evite totalmente o
haverá mudanças na distribuição UVR poderia influenciar não apenas sol (com base no conceito de radiação
etária). A estimativa equivalente padrões de doenças infecciosas, solar como exposição “tóxica”) é uma
para a população dos EUA é de um como também a ocorrência de várias resposta simplista para os perigos
aumento de 10% na incidência de doenças auto-imunes e, menos da exposição crescente aos UVR no
câncer de pele até por volta de 2050. certamente, a eficácia das vacinas.5 nível do solo, devido à destruição

SUMÁRIO 21
9
A avaliação de impacto na saúde (AIS) Vários tipos de avaliações nacionais de subnacionais ou locais de potenciais
foi definida como “uma combinação de impacto na saúde já foram realizados. impactos na saúde podem ter sido
procedimentos, métodos e ferramentas Uma avaliação básica identifica os realizadas em relação à mudança
através dos quais se possibilita julgar tipos, mas não muito a magnitude, climática, mas, caso haja, tais estudos

Avaliações os efeitos potenciais que uma política,


projeto ou programa poderiam ter na
dos potenciais impactos. Em contraste,
algumas avaliações abrangentes, bem
estão na “literatura cinza”, e não
estão disponíveis em grande escala.)

nacionais
saúde da população, e a distribuição fundamentadas e bem apoiadas, são Os resultados listados referem-se
desses efeitos na população”.1 Apesar também realizadas. Por exemplo, aos prováveis impactos na saúde
dos recentes avanços nos métodos na avaliação dos Estados Unidos, reportados para aquele país específico.
dos impactos de avaliação de impacto na saúde,
falta ainda integrá-la de maneira mais
publicada em 2000, a saúde da
população foi um dos cinco setores-
O nível de incerteza que acompanha
essas estimativas em geral não é
da mudança satisfatória na corrente de formulação
de políticas. Além disso, as avaliações
alvo incluídos nas 16 avaliações
regionais detalhadas e na avaliação
descrito. Doenças transmitidas por
vetores, em particular a malária,

climática na de impacto geralmente abrangem os


efeitos na saúde ao longo dos próximos
geral. A avaliação realizada nos Estados
Unidos envolveu a participação das
foram amplamente estudadas. Outros
impactos, como desastres climáticos,

saúde 10 a 20 anos (por exemplo, devido


às atuais taxas de fumantes, níveis
partes interessadas e amplas consultas
e revisão por pares.3 Outros detalhes
foram menos contemplados.

de obesidade, ou envelhecimento da comparativos de duas avaliações Várias conclusões podem ser tiradas
Estimativas, ainda que população), e não o período de 50 nacionais são mostradas no quadro. dessas experiências:
a 100 anos, que é mais adequado
aproximadas, dos impactos
para projeções de mudança climática. Vários países, incluindo os Estados • As avaliações devem ser conduzidas
potenciais da mudança Assim, é preciso realizar avaliações Unidos, o Canadá, o Reino Unido em conformidade com as
climática na saúde são de impacto baseadas em cenários que e Portugal, realizaram abrangentes prioridades da região ou do país
um insumo essencial para incorporem, e comuniquem um nível impactos multi-setoriais. Avaliações para determinar quais impactos
mais alto de incerteza. Os passos da em países em desenvolvimento foram na saúde devam ser considerados.
as discussões de políticas
avaliação de impacto e adaptação da realizadas apenas sob os auspícios de Nenhum conjunto único de
sobre a redução de gases de mudança climática estão demonstrados iniciativas de capacitação financiadas diretrizes cobre todas as situações
efeito estufa e a adaptação na figura 9.1.2 por doadores. (Outras avaliações de saúde e institucionais.
social à mudança climática. • O HIA é uma ferramenta de
As sociedades precisam Figura 9.1 Passos na avaliação do impacto da mudança climática e adaptação políticas, portanto o próprio
processo de realizar avaliações, e em
agir apesar das inevitáveis Cenários Impactos particular a participação das partes
incertezas. De fato, os interessadas, é muito importante
Cenário Agricultura
governos nacionais têm a de Clima • As avaliações devem definir uma
responsabilidade, conforme Áreas pesqueiras agenda para pesquisas futuras.
Cenário Quase todas as avaliações realizadas
a Convenção Quadro das sócio-econômico Silvicultura até hoje identificaram lacunas
Nações Unidas sobre a Avaliações
nas pesquisas, e frequentemente
Zonas costeiras regionais
Mudança do Clima (1992), de especificam perguntas detalhadas
realizar avaliações formais do Indústria para pesquisas.
risco causado pela mudança
• energia • As avaliações devem estar vinculadas
• turismo
• seguro a atividades de acompanhamento,
climática global à saúde de sua como monitoramento e relatórios
população. Saúde humana atualizados.

22 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


Quadro: Comparação das Avaliações: A avaliação de Fiji aborda os impactos O desenvolvimento de diretrizes Atualmente, na maioria dos países,
Reino Unido e Fiji na saúde no contexto dos atuais formais para a avaliação nacional a diferenciação de setores e o
serviços de saúde. Os principais dos impactos na saúde poderá contexto de políticas associado
A avaliação do Reino Unido enfoques de Fiji foram a dengue aperfeiçoar os métodos utilizados, nem facilita nem promove a
concentrou-se em produzir (epidemia recente em 1998), a doença promover uma padronização e colaboração intersetorial. Dentro
levantamentos quantitativos para diarréica e as doenças relacionadas à facilitar o desenvolvimento de do setor de saúde, os recursos são
os seguintes resultados de saúde4, nutrição. Fiji está livre da malária e não indicadores relevantes. A Health alocados principalmente em relação
referente a três períodos de tempo e há registro de nenhuma população do a como lidar com problemas
Canadá preparou um marco inicial6
quatro cenários climáticos: mosquito vetor anofelino apesar do
propondo a definição de três existentes, levando em conta em
• Óbitos relacionados ao calor e ao clima propício. Assim, o risco de que a
fases distintas para a atividade de certa medida o impacto relativo
frio e internações hospitalares malária e outras doenças transmitidas
avaliação: da doença. Um grande problema
• Casos de intoxicação alimentar por mosquitos sejam introduzidas
de muitas avaliações de impacto
• Mudanças na distribuição de malária e se instalem em razão da mudança
Plasmodium falciparum (global) e climática foi considerado muito baixo. 1. Definição do escopo: identificar da mudança climática na saúde
encefalite transmitida por carrapatos A Filariose, uma doença importante o problema da mudança tem sido o tratamento superficial
(Europa) e na transmissão sazonal transmitida por vetor nas ilhas Fiji, climática (preocupações de da capacidade de adaptação da
de malária P. vivax (Reino Unido) deve aumentar com o aumento da grupos vulneráveis) e seu população e as opções de políticas.
• Casos de câncer de pele causados temperatura. A distribuição do vetor contexto, descrever a situação Estratégias para melhorar a
pela destruição do ozônio (Aedes polynesiensis) também pode ser atual (impactos na saúde e adaptação da população devem
estratosférico. afetada pelo aumento do nível do mar, riscos) e identificar parceiros- promover medidas que sejam
pois se reproduz em água salobra. O chave e questões para avaliação. não apenas apropriadas para as
Reconheceu-se o alto grau de modelo de transmissão da dengue foi 2. Avaliação: estimativas dos atuais condições, mas que também
incerteza envolvido nessas estimativas. incorporado no modelo de impactos impactos futuros e capacidade possam melhorar a identificação e
As principais conclusões do relatório climáticos desenvolvido para as Ilhas de adaptação, e avaliação de a capacidade de responder a futuras
foram os impactos na saúde devido Pacíficas (PACCLIM). O modelo planos de adaptação, políticas e tensões e perigos inesperados. A
aos aumentos de enchentes fluviais e indica que a mudança climática pode programas. restauração e a melhoria da infra-
costeiras e fortes vendavais de inverno. ampliar a temporada de transmissão 3. Gerenciamento de riscos: ações estrutura geral da saúde pública
Esse relatório também claramente e sua distribuição geográfica nas para minimizar os impactos na irão reduzir a vulnerabilidade
contemplou o equilíbrio entre os Ilhas Fiji. A doença diarréica também
saúde, incluindo avaliações de da população aos impactos da
potenciais benefícios e impactos pode aumentar em Fiji em razão do
acompanhamento. mudança climática. No longo
adversos da mudança climática: a aumento da temperatura e da alteração
prazo, e mais importante, são
queda potencial no número de óbitos nos padrões pluviométricos. Não
Esse tipo de avaliação de impacto necessárias mudanças nas condições
no inverno em razão de invernos foram apresentadas evidências de
mais amenos é muito maior do que associação entre enchentes ou forte na saúde, em relação às mudanças de vida sociais e materiais e a
o potencial aumento nos óbitos precipitação e casos de diarréia. A seca climático-ambientais de grande redução de desigualdades dentro
relacionados ao calor. Prevê-se de 1997/1998 (associada com o El escala, requer diretrizes que e entre populações para se
também que a mudança climática Niño) teve impactos generalizados na estejam de acordo com o marco conseguir uma redução sustentada
venha a reduzir doenças e mortes saúde, inclusive na doença diarréica, principal de HIA da OMS e da vulnerabilidade à mudança
relacionadas à poluição do ar, exceto conforme mostram os dados constantes outras agências internacionais. ambiental global.
aquelas associadas com o ozônio do monitoramento e de relatórios Isso ajudaria a levar a discussão de
troposférico, que se formará mais atualizados, como também subnutrição políticas sobre mudança climática
rapidamente em temperaturas mais e deficiência de micro-nutrientes em para além do domínio do impacto
elevadas. crianças e bebês.5 ambiental, para incluir áreas de
impactos sociais e de saúde pública.

SUMÁRIO 23
10
É preciso ter bons dados para verões quentes, indica o potencial de Princípios Gerais
produzir uma boa base. O clima aumento de mortalidade relacionado Os critérios principais para
varia naturalmente, e também em à mudança climática, mas não selecionar doenças e contextos para
resposta às influências humanas. Por prova que a mortalidade tenha de o monitoramento devem incluir os

Monitorando sua vez, o clima é apenas um dos


elementos determinantes da saúde
fato aumentado como resultado
da mudança climática. Para isso,
seguintes:
• Evidência de sensibilidade climática

os efeitos
da população. Portanto, existem seria necessário obter evidências da – a ser demonstrado pelos efeitos
desafios na avaliação dos impactos mudança nas condições climáticas de na saúde observados a partir da
da mudança climática na saúde. ‘linha base’ – i.e. que a seqüência de variação climática temporal ou
da mudança Além disso, o processo de mudança
climática só é detectável ao longo
verões quentes foi excepcional e em
decorrência da mudança climática, e
geográfica, ou pela evidência de
efeitos climáticos nos componentes
climática na de décadas e, da mesma forma, os
impactos resultantes na saúde surgem
não por uma variação aleatória. do processo de transmissão da
doença em campo ou laboratório.

saúde lentamente. Monitoramento é a


“realização e análise de mensurações
(ii) Atribuição
Visto que o clima é uma de muitas
• Carga significante para a saúde
pública – o monitoramento deve
rotineiras com o objetivo de detectar influências na saúde, não se pode ser direcionado preferencialmente
Tanto a detecção quanto mudanças no ambiente ou saúde das diretamente atribuir uma mudança para ameaças significantes à saúde
a mensuração dos efeitos populações.”1 Em muitas pesquisas observada na saúde da população a pública. Essas podem ser doenças
de saúde pública, é possível medir uma mudança associada ao clima. com alta prevalência e/ou gravidade
da mudança climática na
mudanças relativas a um impacto Primeiramente, deve ser considerada corrente, ou consideradas prováveis
saúde são necessárias como específico na saúde e atribuir essa a influência de mudanças coincidentes de se tornar prevalentes em
base para apoiar as políticas tendência a mudanças em um fator nos fatores ambientais, sociais ou condições de mudança climática.
internacionais para proteger de risco com atuação direta sobre ele. comportamentais. • Praticalidade – considerações
Entretanto, o monitoramento dos logísticas são importantes, dado
a saúde pública, incluindo a
impactos da mudança climática na (iii) Modificação no efeito que o monitoramento requer
redução de gases de efeito saúde é mais complexo. Existem três Ao longo do tempo, com a mudança um registro de longo prazo de
estufa. questões-chave: no clima, outras mudanças podem índices relacionados à saúde e
também ocorrer que alteram a outros parâmetros ambientais que
(i) Distinguir a “mudança climática” vulnerabilidade da população às seja confiável e consistente. Os
aparente da real. influências meteorológicas. Por locais de monitoramento devem
O clima está sempre oscilando exemplo, a vulnerabilidade a eventos ser escolhidos onde há mais
naturalmente, e muitos índices de climáticos extremos, incluindo probabilidade de haver mudança e
saúde mostram flutuações sazonais enchentes e temporais, irá depender onde houver capacidade adequada
e interanuais. A demonstração de de onde e como as moradias para obter mensurações confiáveis.
tal relação não fornece nenhuma residenciais estão construídas, de
evidência direta da ocorrência de uma quais medidas de proteção contra Requisitos de Dados e Fontes
mudança climática per se – e, de fato, enchentes são introduzidas, e da Os dados necessários para monitorar
apenas confirma que essas doenças mudança no uso da terra. Um os efeitos climáticos na saúde
têm uma dependência sazonal ou monitoramento efetivo deve incluir incluem:
climática. Um grande número de medidas paralelas, relativas a dados • Variáveis climáticas;
óbitos relacionados ao calor extremo populacionais e ambientais, para • Marcadores da saúde populacional; e
em um verão particularmente quente, permitir o estudo de potenciais • Outros fatores explicativos não
ou mesmo em uma sucessão de influências das modificações. climáticos (Tabela 10.1)

24 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


A escolha de variáveis não climáticas Categorias Específicas de abarcando uma ampla área geográfica, de vetores (incluindo altitude). As
irá depender da doença específica, Impactos na Saúde: Necessidade juntamente com a definição comparações geográficas baseadas
mas as principais categorias de fatores de Dados, Oportunidades padronizada de eventos e métodos em dados de sensoreamento remoto
de modificação que geram confusão Para monitorar os efeitos na saúde de atribuição. Os dados atuais de podem oferecer percepções adicionais
são os seguintes: das temperaturas extremas, muitos monitoramento só conseguem dessas tendências de doenças.
• Estrutura etária da população países têm disponíveis os dados de oferecer uma quantificação ampla da
• Taxas subjacentes de doença, séries de longa duração confiáveis em relação entre o clima e a maioria das Conclusão
especialmente doenças relação à temperatura e mortalidade/ doenças transmitidas por vetores. A Com todas as formas de
cardiovasculares e respiratórias e morbidade. Um importante enforque avaliação da contribuição do clima monitoramento, a interpretação
doença diarréica de dados de pesquisa seria a avaliação para tendências de longo prazo requer das evidências será fortalecida por
• Nível de desenvolvimento sócio- de como a relação entre temperatura dados vinculados a fatores como uso procedimentos de padronização,
econômico e mortalidade/morbidez é modificada da terra, abundância de hospedeiros treinamento, e garantia e controle
• Condições ambientais, por por fatores individuais, sociais e e medidas de intervenção. Uma de qualidade. Series de longa
exemplo, uso da terra, qualidade do ambientais. Os bancos de dados compreensão mais clara das relações duração das mudanças na saúde das
ar, condições de moradia existentes (por exemplo, Emergency deve resultar de dados seriais de populações em relação a relações
• Qualidade do atendimento de Events database- EM - DAT) para alta qualidade sobre vetores em um extremas (i.e. sensíveis) entre clima
saúde eventos climáticos extremos também número limitado de locais dentro e doença serão as mais informativas.
• Medidas específicas de controle, por pode ser um recurso-chave. Para ou nas margens de áreas endêmicas. Esse monitoramento se torna mais
exemplo, programas de controle de maximizar sua utilidade, é preciso Dados de locais ao longo de cortes eficaz por meio da colaboração
vetores ter registros completos e consistentes transversais especificados poderiam internacional e a integração com as
de eventos climáticos extremos, indicar mudanças na distribuição redes de vigilância existentes.

Tabela 10.1 Dados necessários para monitorar os impactos do clima na saúde


Principais resultados de saúde Quais populações/ locais a Fontes e métodos para Dados metereológicos Outras variáveis
serem monitorados aquisição de dados de saúde
Temperaturas Mortalidade diária; internações Populações urbanas, Registros de óbito nacional Temperaturas diárias (min/max ou Fatores de confusão: influenza e outras
Extremas hospitalares; atendimento em clínicas/ especialmente em países em e locais (por exemplo, dados médias) e umidade infecções respiratórias; poluição do ar
salas de emergência desenvolvimento. específicos por cidade) Fatores de modificação: condições de moradia,
(por exemplo, ar condicionado em casa ou
no local de trabalho), disponibilidade de
fornecimento de água.
Eventos climáticos Mortes atribuídas; internações em Todas as regiões Uso de registros de óbito Dados de evento Interrupção/
extremos hospitais; dados de vigilância de regionais; registros locais de meteorológico: extensão, momento de contaminação de fornecimento de alimentos e
(enchentes, ventos doenças infecciosas; (saúde mental); saúde pública ocorrência, gravidade água; interrupção de transporte.
fortes, secas) situação nutricional Deslocamento da população.
Os parâmetros acima terão um impacto
indireto na saúde.
Doenças Óbito e morbidade relevantes de Todas as regiões Registros de óbitos; notificações Temperatura semanal/diária; Tendências de longo prazo dominadas por
transmitidas por doenças infecciosas nacionais e regionais Precipitação para doenças transmitidas interações hospedeiro-agente (por exemplo, S
alimentos e água pela água. enteritidis no frango) cujos efeitos são difíceis
de quantificar. Os indicadores podem ser
baseados na avaliação de padrões sazonais.
Doenças População de vetores; notificações Margens de distribuição Pesquisas de campo locais; dados Temperatura semanal/diária, umidade Uso da terra; configurações de superfície de
transmitidas por de doenças; distribuições temporais e geográfica (por exemplo, de monitoramento de rotina e precipitação água doce.
vetores geográficas mudanças com latitude, altitude) (disponibilidade variável)
e temporalidade em áreas
endêmicas

SUMÁRIO 25
11
O IPCC definiu os seguintes dois e suas conseqüências ambientais, em saúde pública, sistemas de
termos intimamente relacionados:1 (ii) a sensibilidade da população à vigilância e resposta a emergências
exposição e (iii) a capacidade dos mais efetivos, e programas
Adaptação: Ajuste nos sistemas sistemas e populações afetados de sustentáveis de prevenção e controle.

Adaptação e naturais ou humanos em resposta


a estímulos climáticos reais ou
se adaptar (Figura 11.1). Portanto,
precisamos entender como são
Eventos climáticos extremos podem
ter impactos muito diferentes em

capacidade
esperados, ou seus efeitos, que tomadas as decisões sobre adaptação, razão de diferenças na capacidade
restringe os danos ou explora as incluindo os papeis de indivíduos, da população alvo de lidar com a
oportunidades benéficas. comunidades, nações, instituições e situação. Por exemplo, estima-se
de adaptação, Capacidade de adaptação: A
do setor privado. que os ciclones em Bangladesh em
1970 e 1991 causaram 300.000 e
para diminuir capacidade de um sistema de adaptar-
se à mudança climática (incluindo
Adaptação e prevenção. Muitas
medidas de adaptação têm benefícios
139.000 mortes, respectivamente.2
Em contraste, o Furacão Katrina

os impactos na variabilidade climática e extremos) de


forma a restringir potenciais danos,
além daqueles associados à mudança
climática. A reconstrução e a
atingiu os Estados Unidos em 2005,
causando mais de 1.450 mortes em

saúde aproveitar as oportunidades ou lidar


com as conseqüências.
manutenção da infra-estrutura de
saúde pública são freqüentemente
Louisiana.3 Estratégias de adaptação
relacionadas ao clima devem,
vistas como a estratégia de adaptação portanto ser consideradas em relação
Ainda que haja uma redução A medida em que a saúde humana é “mais importante, melhor em termos a características mais amplas – tais
afetada depende de: (i) a exposição de custo-benefício e urgentemente como crescimento populacional,
de gases de efeito estufa no
da população à mudança climática necessária”.1 Isso inclui treinamento pobreza, saneamento, assistência
futuro próximo, o clima da de saúde, nutrição e degradação
Terra continuará a mudar. Figura 11.1 Relação entre a vulnerabilidade e impactos (incluindo tanto riscos e ambiental – que influenciam a
oportunidades) e as principais opções de resposta da sociedade – i.e., redução de vulnerabilidade da população e sua
Portanto, é preciso ter gases de efeito estufa e adaptação (Fonte: referência 1).
capacidade de adaptação.
estratégias de adaptação para
Interferência
diminuir a carga das doenças, MUDANÇA CLIMÁTICA
As adaptações que aumentam a
humana
os danos, as incapacidades, e capacidade da população de lidar
os óbitos. com a situação podem proteger
contra a variabilidade climática
Exposição atual bem como contra futuras
mudanças climáticas. Tais adaptações
VULNERABILIDADES

Mitigação Impactos iniciais “sem arrependimentos” podem ser


da mudança dos efeitos especialmente importantes para países
IMPACTOS

climática menos desenvolvidos com pouca


via fontes e Adaptação
capacidade de lidar com a situação.
bacias de GEE autônoma

Impactos ADAPTAÇÃO Capacidade de adaptação


residuais Planejada para os A capacidade de adaptação refere-
ou líquidos impactos e as se tanto a características reais como
vulnerabilidades potenciais. Assim, engloba tanto
a capacidade atual de lidar com a
Respostas situação e as estratégias que aumentam
de políticas essa capacidade de no futuro. Por

26 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


exemplo, o acesso à água limpa faz Tecnologia Infra-estrutura a saúde pública, muitas populações
parte da atual capacidade dos países Acesso à tecnologia em setores e A infra-estrutura especificamente ainda carecem de acesso à assistência
em desenvolvimento – mas representa ambientes-chave (e.g., agricultura, desenhada para reduzir a de saúde. No geral, o mundo em
uma potencial capacidade de adaptação recursos hídricos, atendimento à vulnerabilidade em relação à desenvolvimento, com 10 por cento
em muitas áreas de países menos saúde, projeto urbanístico) é um variabilidade climática (por exemplo, dos recursos de saúde do mundo,
desenvolvidos. Sistemas altamente elemento determinante importante estruturas de controle de enchentes, recebe 90 por cento da carga de
gerenciados, como recursos agrícolas da capacidade de adaptação. ar condicionado, e isolamento em doenças.5
e hídricos em países desenvolvidos Muitas estratégias de adaptação prédios) aumenta a capacidade de
são considerados mais adaptáveis do para proteção da saúde envolvem adaptação. Mas a infra-estrutura Estado de Saúde e Carga de
que ecossistemas naturais ou menos tecnologia – e uma parte está bem (especialmente a imóvel) pode ser Doenças Pré-existentes
gerenciados. Infelizmente, alguns estabelecida, outra parte é nova adversamente afetada pelo clima, O bem-estar da população é
componentes dos sistemas de saúde e está ainda sendo disseminada, especialmente em eventos extremos um importante ingrediente e
pública freqüentemente relaxam e outra parte ainda está sendo como enchentes e furacões. determinante da capacidade de
quando uma determinada ameaça à desenvolvida para melhorar a adaptação. Já se obteve grande
saúde diminui. Por exemplo, o risco capacidade de lidar com a mudança Instituições progresso na saúde pública, mas
de doenças infecciosas parecia estar climática. Os riscos para a saúde de Países com estruturas institucionais 170 milhões de crianças em países
retrocedendo a 30 anos por causa adaptações tecnológicas propostas fracas têm menos capacidade de pobres estão abaixo do peso, das
dos avanços de antibióticos, vacinas devem ser avaliados previamente. adaptação do que países com quais mais de três milhões morrem a
e pesticidas. Hoje, porém, há um Por exemplo, o aumento do uso do instituições bem estabelecidas.1 Por cada ano. Muitos países enfrentam a
ressurgimento generalizado de doenças ar condicionado seria uma proteção exemplo, as deficiências institucionais dupla carga do aumento de doenças
infecciosas – e é preciso reforçar contra o stress resultante do calor, e gerenciais contribuem para a não-comunicáveis, e a contínua
medidas de saúde pública importantes. mas poderia aumentar as emissões vulnerabilidade de Bangladesh à prevalência de doenças infecciosas.
Os principais determinantes da dos gases de efeito estufa e outros mudança climática. A colaboração
capacidade de adaptação de uma poluentes do ar. “Defesas” costeiras entre os setores público e privado Conclusões
comunidade são: riqueza econômica, mal desenhadas podem aumentar pode aumentar a capacidade Será necessário implementar
informação e habilidades, infra- a vulnerabilidade a maremotos, de adaptação. Por exemplo, a estratégias de adaptação direcionadas
estrutura, instituições, e patrimônio. pois oferecem falsa segurança e Medicines for Malaria Venture – uma para proteger a saúde pública quer ou
A capacidade de adaptação também é promovem assentamentos costeiros iniciativa conjunta público-privado não sejam adotadas ações para mitigar
uma função do estado atual de saúde em baixa elevação. para desenvolver novas drogas a mudança climática. A capacitação
da população e da carga de doenças já para combater a malária – está é um passo preparatório essencial.
existentes. Informação e habilidades desenvolvendo novos produtos para A adaptação à mudança climática
Em geral, países com mais “capital uso em países em desenvolvimento. irá exigir mais do que recursos
Recursos econômicos humano” ou conhecimento têm financeiros, tecnologia e infra-
Nações ricas têm melhores maior capacidade de adaptação.1 Equidade estrutura em saúde pública. Educação,
condições de adaptação pois têm O analfabetismo aumenta a A capacidade de adaptação deve conscientização e a criação de marcos
recursos econômicos para investir vulnerabilidade de uma população a aumentar quando o acesso a recursos legais, instituições e um ambiente
e contrabalançar os custos da muitos problemas.4 Os sistemas de dentro de uma comunidade, nação que possibilite que as pessoas tomem
adaptação. Em geral, a pobreza saúde utilizam muita mão de obra ou no mundo esteja distribuído de decisões bem informadas sustentáveis
aumenta a vulnerabilidade – e nós e requerem equipes qualificadas e forma eqüitativa.6 As populações de longo prazo são todos elementos
vivemos em um mundo em que com experiência, incluindo com com poucos recursos marginais necessários.
aproximadamente um quinto da treinamento na operação, controle de carecem de recursos de adaptação.
população mundial vive com menos qualidade e manutenção da infra- Embora o acesso universal a serviços
de US$1 por dia. estrutura de saúde pública.5 de qualidade seja fundamental para

SUMÁRIO 27
12
Para tomar decisões informadas sobre concorrentes das partes interessadas O princípio da precaução permite
mudanças climáticas, os formuladores impactam a alocação de recursos que alguns riscos sejam considerados
de políticas precisarão de informações escassos. A mudança climática deve, inaceitáveis pois embora não tenham
oportunas e úteis sobre as possíveis portanto, ser vista como parte de um uma alta probabilidade de ocorrer,

Da ciência conseqüências da mudança climática,


as percepções das pessoas em relação
desafio maior de desenvolvimento
sustentável.
em razão das conseqüências, caso
ocorram, podem ser graves ou

à política:
a essas conseqüências, opções irreversíveis. Esse princípio foi
disponíveis de adaptação, e os Usando as informações fornecidas destacado na Declaração do Rio sobre
benefícios resultantes da diminuição pela comunidade de pesquisa, os o Meio Ambiente e Desenvolvimento
desenvolvendo da taxa da mudança climática.1 O
desafio para os pesquisadores é
gestores de risco devem tomar
decisões apesar da existência de
de 1992 como o Princípio 15,
determinando: “Quando houver
respostas para fornecer essas informações. incertezas científicas. Avaliações
focadas em políticas analisam as
ameaça de danos graves ou
irreversíveis, a ausência de certeza

as mudanças Após receber os dados da


comunidade de avaliação de impacto,
melhores informações científicas e
sócio-econômicas para responder a
científica absoluta não será utilizada
como razão para o adiamento de

climáticas os formuladores de políticas devem


integrar essas informações em um
questões levantadas pelos gestores de
risco. Eles caracterizam e, se possível,
medidas economicamente viáveis para
prevenir a degradação ambiental”.
portfólio mais amplo de políticas. quantificam as incertezas científicas
As escolhas políticas são Opções de resposta incluem ações na medida do possível, e explicam as Outra abordagem amplamente
para reduzir os gases de efeito estufa implicações potenciais das incertezas utilizada é o critério de “custo-
orientadas por diversos
para diminuir a taxa de mudança nos resultados de interesse para os benefício”, que pesa os benefícios
princípios, que incluem climática; medidas para promover tomadores de decisões. Em última esperados e custos de uma ação
considerações de equidade, adaptação à mudança climática para instância, cabe à sociedade decidir se proposta. Surgem questões sobre
eficiência e viabilidade aumentar a resistência da sociedade um risco percebido justifica uma ação. como devem ser medidos os benefícios
às mudanças já ocorridas e às que Mas a incerteza científica, por si só, e custos, e como estes devem
política. As considerações
virão; atividades para conscientizar o não é escusa para o adiamento ou a ser comparados entre diferentes
éticas comuns na saúde pública público sobre a questão da mudança inércia. sociedades. O critério de custo-
podem também se aplicar: o climática; investimentos em sistemas benefício enfatiza o uso eficiente de
respeito pela autonomia, a de monitoramento e vigilância; e Critérios para a tomada de recursos escassos – mas não lida com a
não-maleficência (não fazer investimentos em pesquisa para decisão questão da equidade. Também não lida
reduzir incertezas relevantes para Existem muitos critérios diferentes bem com as conseqüências que são
mal) e justiça e beneficência
políticas-chave. para a tomada de decisões sobre deslocadas para o futuro, e, portanto,
(fazer o bem). políticas de mudança climática. Duas por convenção acadêmica, geralmente
A mudança climática, porém, não abordagens à tomada de decisões são descontadas. A mudança climática
deve ser considerada isoladamente de que geralmente são discutidas são o tem o potencial de gerar resultados
outros problemas ambientais globais. “princípio da precaução” e a análise catastróficos no futuro distante, mas
Adicionalmente, os formuladores de “custo-benefício”. seu “valor presente” seria pequeno se
de políticas geralmente lidam com descontado. Apesar dessas incertezas,
múltiplos objetivos sociais (por O princípio da precaução é um a análise de custo-benefício não deve
exemplo, eliminação da pobreza, princípio de gestão de risco aplicado ser descartada. Isso apenas privaria
promoção de crescimento econômico, quando há um risco potencialmente os tomadores de decisão de um
proteção de recursos culturais), ao grave, mas também há um grau conjunto de informações para seu
mesmo tempo em que as vontades significativo de incerteza científica.2 discernimento.

28 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


Opções de resposta de políticas. É um processo pelo qual ainda mais o processo de avaliação usar a informação. A comunicação
A redução de gases de efeito estufa as melhores informações científicas está o fato de que existem incertezas de risco é um processo complexo,
é um mecanismo para desacelerar, disponíveis podem ser traduzidas em científicas e sócio-econômicas multidisciplinar e em evolução. Muitas
ou talvez até interromper, o termos que fazem sentido para os significativas relacionadas com a vezes a informação tem que ser
acúmulo de gases de efeito estufa na formuladores de políticas. A avaliação mudança climática e suas potenciais adequada às necessidades específicas
atmosfera. A diminuição da taxa de focada em políticas é mais do que conseqüências para a saúde humana. dos gestores de risco em áreas
aquecimento pode gerar benefícios apenas uma síntese de informações Existem incertezas sobre a potencial geográficas e grupos demográficos
importantes na forma de redução dos científicas ou uma avaliação do magnitude, momento e efeitos da específicos. Isso requer uma forte
impactos na saúde humana e outros estado da ciência. Mais propriamente, mudança climática; a sensibilidade interação entre os provedores da
sistemas; mas a inércia do sistema envolve uma análise das informações de determinados resultados na saúde informação e aqueles que precisam da
climático significa que haverá um de diferentes disciplinas – incluindo de atuais condições climáticas (i.e., informação para tomar decisões.
atraso temporal significativo entre as ciências sociais e econômicas – para de temperatura, clima e mudanças
a redução da emissão de gases e a responder a questões específicas que induzidas pelo clima em ecossistemas); Conclusão
desaceleração da taxa de aquecimento. são levantadas pelas partes interessadas. o futuro estado de saúde de Alguns argumentaram que a
A adaptação (discutida no capítulo Inclui também uma análise de populações potencialmente afetadas existência de incertezas científicas
11) é outra opção importante de opções de adaptação para melhorar a (na ausência de mudança climática); impede que os formuladores de
resposta. Essas ações aumentam a capacidade da sociedade de responder a eficácia de diferentes cursos de ação políticas ajam hoje para prevenir
resistência de sistemas vulneráveis, efetivamente a riscos e oportunidades para contemplar adequadamente os a mudança climática. Isso não é
assim reduzindo potenciais danos à medida que estes surjam. A impactos potenciais; e o formato verdade. De fato, os formuladores
causados pela mudança climática e formulação de boas políticas requer da futura sociedade (e.g., mudanças de políticas, gestores de recursos e
variabilidade climática. A comunicação uma compreensão da variabilidade nos fatores sócio-econômicos e outras partes interessadas, apesar
de informações sobre mudança que existe na vulnerabilidade entre tecnológicos). Um desafio para os da existência de incertezas, tomam
climática, seus potenciais impactos subgrupos populacionais, e das avaliadores é caracterizar as incertezas decisões a cada dia. Os resultados
na saúde, e estratégias de resposta, é, razões para essa variabilidade. Na e explicar suas implicações no que se dessas decisões podem ser afetados
por si só, uma resposta de políticas avaliação das opções de adaptação, refere às questões de interesse para pela mudança climática. Ou as
públicas à mudança climática. é preciso levar em consideração os tomadores de decisão e as partes decisões podem excluir futuras
Igualmente o são o desenvolvimento diferentes fatores relacionados com interessadas. Se a incerteza não é oportunidades de adaptação à
e a implementação de sistemas de o desenho e a implementação de contemplada diretamente como parte mudança climática. Portanto, seria
monitoramento e vigilância, bem estratégias. Isso inclui o fato de que da análise, as avaliações de impactos vantajoso que os tomadores de
como investimentos em pesquisa. (1) a adequação e eficácia das opções na saúde podem produzir resultados decisões tivessem informações sobre
Os sistemas de monitoramento e de adaptação variam por região e que induzem ao erro e possivelmente os prováveis impactos da mudança
vigilância são parte integral e essencial entre grupos demográficos; (2) a contribuir para decisões mal- climática. Uma decisão informada é
para o fornecimento das informações adaptação tem um custo, (3) existem informadas. sempre melhor do que uma decisão
necessárias para apoiar as decisões por algumas estratégias que reduziriam não informada. É preciso ter cuidado
parte das autoridades de saúde pública. os riscos causados pela mudança Conscientização pública: em relação à linha divisória entre
climática, independentemente da comunicando os resultados da avaliação e formação de políticas. O
Construindo a ponte entra a percepção dos efeitos da mudança avaliação objetivo de avaliações focadas em
ciência e a política: avaliações climática; (4) a natureza sistêmica As partes interessadas devem estar políticas é informar os tomadores de
focadas em políticas dos impactos climáticos complica engajadas em todo o processo decisão, e não fazer recomendações de
Avaliações focadas em políticas são o desenvolvimento de políticas de de avaliação. Uma estratégia de políticas específicas.
um processo que pode ajudar os adaptação; e (5) a mal-adaptação comunicação deve garantir acesso
administradores de recursos e outros pode resultar em efeitos negativos à informação, apresentação da
tomadores de decisões a enfrentar o tão sérios quanto os efeitos climáticos informação de maneira que possa ser
desafio de montar um portfólio efetivo que se buscou evitar. Para complicar utilizada, e orientação sobre como

SUMÁRIO 29
13
A mudança climática, como todas com mudanças na precipitação a contribuição da variabilidade
as mudanças ambientais de grande e outras variáveis climáticas. As climática no curto prazo para a
escala induzidas pelo homem, gera necessidades de pesquisa incluem incidência de doenças; sobre o
riscos para os ecossistemas, suas o desenvolvimento de abordagens desenvolvimento de sistemas de

Conclusões e funções de suporte à vida e, portanto,


para a saúde humana (Figura 13.1)2,
para analisar temperatura e clima
em relação à saúde humana;
aviso precoce para prever surtos
de doenças e eventos climáticos

Recomendações
3
. A OMS, a OMM e a UNEP a determinação de conjuntos extremos; e sobre a compreensão
colaboram em questões relacionadas à de dados de longo prazo para de como os eventos extremos
mudança climática e saúde, incluindo responder a questões-chave; e recorrentes podem enfraquecer a
para ação capacitação, troca de informações e
promoção de pesquisas.
uma melhor compreensão de
como incorporar os resultados de
capacidade de adaptação.
• Desafios para os cientistas. A
modelos gerais de circulação de mudança climática traz alguns
A sustentabilidade é, em Recomendações mudança climática nos estudos de desafios especiais, incluindo
essência, a manutenção dos • O Quarto Relatório de Avaliação saúde humana. a complexidade do processo
sistemas ecológicos e de do IPCC projetou que, se • Alcançar um consenso na ciência. causal, as incertezas inevitáveis,
outros sistemas biofísicos que continuarmos a mudar a Há cada vez mais evidências e o deslocamento temporal de
composição atmosférica, a de que a saúde humana é e impactos antecipados no futuro.
sustentam a vida na Terra. Se
temperatura média da superfície da será crescentemente afetada de Alguns tópicos-chave de pesquisa
esses sistemas se deterioram, terra subirá de 1,8 a 4,0ºC (melhor muitas e diversas formas. Ainda é a serem contemplados incluem
o bem-estar e a saúde da estimativa) neste século, em limitado o conhecimento em várias a identificação dos efeitos atuais
população humana serão relação a 1980-1999, juntamente áreas, como por exemplo sobre da mudança climática na saúde
humana; a obtenção de melhores
prejudicados. A tecnologia Figura 13.1. Mudança climática e saúde: o percurso, a partir das forças motrizes, estimativas dos impactos futuros;
pode ajudar a ganhar passando pela exposição aos potenciais impactos na saúde. As setas abaixo do item
e uma melhor expressão das
‘necessidades de pesquisa’ representam os dados necessários para o setor de saúde.
tempo, mas a contabilidade (Modificado da referência 4) incertezas associadas aos estudos de
final da natureza não pode mudança climática e saúde.
ser evadida. Precisamos Capacidade Modulando Efeitos na saúde • Eventos climáticos extremos. O
de adaptação as influências
Doenças e mortes
Quarto Relatório de Avaliação
viver dentro dos limites da relacionadas à
temperatura
do IPCC projetou mudanças nos
Terra. O estado da saúde Capacidade
de mitigação
Efeitos na saúde
relacionados eventos eventos climáticos extremos que
climáticos extremos
da população humana é, Mudanças Caminhos de incluem mais dias quentes e ondas
climáticas contaminação Efeitos na saúde
portanto, uma consideração regionais por micróbios relacionados com a de calor, com maior intensidade;
poluição do ar
Medidas eventos de precipitação mais
essencial na transição para a Forças de mitigação
• ondas de Dinâmica de Doenças transmitidas
motrizes
calor transmissão por alimentos e pela intensos; maior risco de seca;
sustentabilidade.1 Dinâmica
• clima
água
aumento nos ventos e ciclones
Emissão de MUDANÇA extremo Agrosistemas, Doenças transmitidas
populacional gases de CLIMÁTICA hidrologia por vetores e tropicais (em algumas áreas);
efeito estufa • temperatura roedores
Desenvolvimento
econômico Sócio-economia, Efeitos da escassez
intensificação das secas e enchentes
insustentável demografia de alimentos e água com eventos do El Niño; e maior
Efeitos mentais,
nutricionais,
variabilidade nas monções do verão
infecciosos e outros
na saúde asiático. As lacunas na pesquisa
Medidas de
Causas adaptação a serem contempladas incluem a
Naturais específicas à saúde
realização de mais modelagens das
Necessidades relações entre eventos extremos e
de pesquisa Avaliação
da adaptação
impactos na saúde; uma melhor
compreensão dos fatos que afetam

30 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


a vulnerabilidade a extremos • Redução do ozônio estratosférico, de monitoramento e vigilância i) uma equipe de avaliação
climáticos; e uma avaliação da mudança climática e saúde. A em muitos países, atualmente, multidisciplinar; ii) respostas a
eficácia da adaptação em diferentes destruição do ozônio estratosférico é não são capazes de fornecer dados questões levantadas por todas as
contextos. essencialmente um processo diferente úteis sobre doenças sensíveis ao partes interessadas; iii) avaliação de
• Doenças infecciosas. As doenças da mudança climática. Entretanto, o clima. Países menos desenvolvidos opções de adaptação de gestão de
infecciosas, especialmente as aquecimento-efeito estufa é afetado precisam aprimorar seus sistemas risco; iv) identificação e priorização
transmitidas por insetos vetores por muitos dos processos químicos existentes de forma a satisfazer as de lacunas-chave de pesquisa; v)
ou pela água são sensíveis às e físicos envolvidos na destruição necessidades atuais. caracterização de incertezas e suas
condições climáticas. É necessário do ozônio estratosférico.6 Também, • Adaptação à mudança climática. implicações na tomada de decisões;
ter dados de incidência de doenças em razão de mudanças no clima Visto que a mudança climática e vi) ferramentas que apóiem os
para fornecer uma linha de base (além de campanhas de informação já está ocorrendo, precisamos processos de tomada de decisões.
para estudos epidemiológicos. e educação pública), os padrões de políticas de adaptação para
A falta de conhecimento preciso de comportamento, individual e complementar as políticas de Conclusão
sobre as atuais taxas de incidência da comunidade, no que se refere à mitigação. A implementação Os acordos internacionais sobre
de doenças dificulta saber se a exposição ao sol, irão mudar – o que eficiente de estratégias de questões ambientais globais, como a
incidência está mudando como irá devidamente afetar as doses de adaptação pode reduzir, de maneira mudança climática, devem considerar
resultado das condições climáticas. radiação ultravioleta. significativa, os impactos adversos os princípios de desenvolvimento
As equipes de pesquisa devem ser • Avaliações nacionais. Vários da mudança climática na saúde. sustentável que foram propostos
internacionais e interdisciplinares, países desenvolvidos e em As populações humanas variam na Agenda 21 e na Convenção
incluindo epidemiologistas, desenvolvimento realizaram em termos de suscetibilidade, Quadro das Nações Unidas sobre a
climatologistas e ecologistas, avaliações nacionais dos impactos dependendo de fatores como Mudança do Clima (CQNUMC).
para assimilar a diversidade potenciais da mudança climática densidade populacional, Estes incluem o “princípio da
de informações desses campos na saúde, incluindo referência a desenvolvimento econômico, precaução”, o princípio de “custos
respectivos. áreas e populações vulneráveis. É condições ambientais locais, o e responsabilidade” (o custo da
• A carga da doença. O conjunto de preciso padronizar os procedimentos estado pré-existente de saúde e a poluição ou dano ambiental deve
evidências empíricas relacionando de avaliação do impacto na saúde disponibilidade de assistência à ser arcado pelos responsáveis), e
as tendências climáticas com e estão sendo desenvolvidos saúde. As medidas de adaptação, “equidade” – tanto dentro e entre
alterações nos resultados de saúde ferramentas e métodos. É preciso ter em geral, produzirem benefícios de países como ao longo do tempo
ainda é pequeno. Isso impede a informações mais precisas sobre o curto prazo e futuros, pela redução (entre gerações).
realização de uma estimativa da clima na esfera local, particularmente dos impactos da variabilidade
amplitude, período de tempo e sobre a variabilidade e os extremos climática atual. As medidas de A adesão a esses princípios ajudaria a
magnitude dos prováveis futuros climáticos. adaptação podem ser integradas a prevenir futuras ameaças ambientais
impactos das mudanças ambientais • Monitoramento dos impactos da outras estratégias de saúde. globais e reduzir as existentes. Com a
globais na saúde. Ainda assim, mudança climática na saúde • Respostas: Da ciência à política. mudança climática já em andamento,
fez-se uma tentativa inicial, dentro humana. A mudança climática deve A magnitude e a natureza da é preciso avaliar as vulnerabilidades e
do marco do projeto Carga Global afetar doenças que também são mudança climática global exigem identificar as opções de intervenção
de Doença da OMS (2000). influenciadas por outros fatores. uma compreensão e resposta e adaptação.7 O planejamento prévio
Analisando apenas os resultados na O monitoramento para avaliar os abrangentes a toda a comunidade, das ações de saúde pode reduzir
saúde que foram bem estudados, impactos da mudança climática orientadas por políticas informadas futuros impactos adversos na saúde.
estima-se que a mudança climática na saúde, portanto, exige a coleta por bom aconselhamento científico. A solução ótima, porém, envolve
ocorrida desde o período da linha de dados combinada com outros Uma avaliação bem sucedida governos, sociedade e indivíduos, e
de base climática de 1961-1990 métodos analíticos capazes de focada em políticas em relação aos requer mudanças de comportamento,
causou 150.000 mortes e 5.5 quantificar a porção atribuível ao potenciais impactos da mudança tecnologias e práticas para possibilitar
milhões de DALYs no ano 2000.5 clima de tais doenças. Os sistemas climática na saúde deve incluir:: a transição para a sustentabilidade.

SUMÁRIO 31
adaptação: ajuste no sistema natural ou em refrigeradores, ar condicionados, todas as escalas temporais e espaciais.
humano a um ambiente novo ou em empacotamento, isolamento, solventes além daquelas de eventos climáticos
processo de mudança. A adaptação à ou propulsores aerossóis. Todos estão individuais. A variabilidade pode ser
mudança climática refere-se ao ajuste cobertos pelo Protocolo de Montreal resultado de processos internos dentro
na resposta a estímulos climáticos de 1987. Por não serem destruídos do sistema climático ou de variações

Glossário
reais ou esperados ou a seus efeitos, na camada inferior da atmosfera, os nas forças naturais ou antropogências
o que modera danos ou explora as CFCs sobem para a camada superior externas.
oportunidades benéficas. Podem-se da atmosfera onde, dadas as condições Anos de Vida Perdidos Ajustados
distinguir vários tipos de adaptação, adequadas, destroem o ozônio. Esses pela Incapacidade (DALY): um
incluindo a adaptação preventiva e a gases estão sendo substituídos por indicador da expectativa de vida, que
adaptação reativa, a adaptação pública outros componentes, incluindo os reune mortalidade e morbidade em
e privada, e a adaptação autônoma e hidroclorofluorcarbonos, cobertos uma medida resumida da saúde da
planejada. pelo Protocolo de Kyoto. população, para refletir o número de
emissões antropogênicas: emissão clima: geralmente definido como anos de vida perdidos em condição de
de gases de efeito estufa e aerossóis a média da temperatura ou mais saúde inferior à ótima. É uma medida
associados com atividades humanas. estritamente como a descrição de saúde desenvolvida para calcular a
Esses incluem a queima de estatística em termos da média e carga global de doença, que também é
combustível fóssil para obtenção de variabilidade de quantidades relevantes usada pela OMS, pelo Banco Mundial
energia, o desmatamento e mudanças ao longo de um período de tempo, e por outras organizações para
no uso da terra que resultam no que varia de meses a milhares ou comparar os resultados de diferentes
aumento líquido das emissões. milhões de anos. O período clássico intervenções.
atmosfera: a camada gasosa que rodeia é de 30 anos, conforme definido pela Oscilação Sul-El Niño: O El Niño, em
a Terra. A atmosfera seca consiste OMM. Essas quantidades relevantes seu sentido original, é uma corrente
quase inteiramente de nitrogênio são mais freqüentemente variáveis de água quente que periodicamente
e oxigênio, junto com vários gases de superfície, como temperatura, corre ao longo da costa do Equador
traço, como argônio, hélio e os gases precipitação e vento. e do Peru. Esse evento é associado
de efeito estufa radiativamente ativos, mudança climática: refere-se a uma com uma flutuação dos padrões na
como dióxido de carbono e ozônio. variação estatisticamente significante, pressão de superfície intertrópica e
A atmosfera contém, ainda, vapor da ou no estado médio do clima ou em na circulação dos Oceanos Índico
água, nuvens, e aerossóis. sua variabilidade, que persiste por um e Pacífico, chamada Oscilação Sul.
biosfera: a parte do sistema terrestre período longo (em geral por décadas Esse fenômeno atmosférico-oceânico
que engloba todos os ecossistemas e ou mais). A mudança climática conjunto é conhecido coletivamente
organismos vivos na atmosfera, sobre pode ser resultado de processos como Oscilação Sul-El Niño ou
a terra (biosfera terrestre) ou nos internos naturais ou forças externas, ENSO. Durante o evento El Niño,
oceanos (biosfera marinha), incluindo ou de mudanças antropogências os ventos alísios perdem força e a
a matéria orgânica morta derivada, persistentes na composição da corrente equatorial contrária ganha
como restos, matéria orgânica do solo atmosfera. A CQNUMC define força, causando, portanto que as
e detritos oceânicos. a mudança climática como ‘uma águas quentes da superfície na área
dióxido de carbono (CO2): um gás mudança no clima que seja atribuída da Indonésia corram para o leste
de ocorrência natural bem como direta ou indiretamente à atividade e se encontrem com as águas frias
um produto derivado da queimada humana que altera a composição da da corrente peruana. Esse evento
de combustíveis fósseis e mudanças atmosfera global e que existe além tem grande impacto no vento, na
no uso da terra e outros processos da variabilidade natural do clima, temperatura de superfície do mar,
industriais. É o principal gás de efeito observada ao longo de períodos de e nos padrões de precipitação no
estufa que afeta o equilíbrio radiativo tempo comparáveis. Ver também Pacífico tropical, e gera efeitos
da Terra e o gás de referência contra variabilidade climática. climáticos em toda a região do
o qual os outros gases de efeito estufa variabilidade climática: variações no Pacífico e em muitas outras partes do
são medidos. estado médio e em outras estatísticas mundo. O oposto do evento El Niño
clorofluorcarbonos (CFCs): gases (e.g. desvios-padrão, a ocorrência de chama-se La Niña.
de efeito estufa que são utilizados eventos extremos etc) do clima em efeito estufa: os gases de efeito estufa

32 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


absorvem a radiação infravermelho sem consideração de qualquer absorve a radiação ultravioleta nociva. vigilância: análise, interpretação
emitida pela superfície da Terra, e adaptação. Em altas concentrações, o ozônio e feedback contínuos de dados
pela própria atmosfera devido aos - impactos residuais são os impactos pode ser danoso a uma ampla gama sistematicamente coletados para a
mesmos gases e pelas nuvens. A de mudanças climáticas que podem de organismos vivos. A destruição do detecção de tendências na ocorrência
radiação atmosférica é emitida para ocorrer após a adaptação. ozônio estratosférico, devido a reações ou transmissão de uma doença,
todos os lados, inclusive para baixo na Painel Intergovernamental sobre químicas que podem ser aumentadas baseados em métodos práticos e
superfície da Terra. Assim, os gases de Mudanças Climáticas (IPCC): um pela mudança climática, resulta em padronizados de notificação ou
efeito estufa prendem calor dentro do grupo de especialistas criado em 1988 um aumento do fluxo de radiação registro. As fontes de dados podem ser
sistema superfície-troposfera. Isso é pela Organização Meteorológica ultravioleta-B ao nível do solo. relacionadas diretamente às doenças ou
chamado de ‘efeito estufa natural’. A Mundial (OMM) e o Programa cenários:uma descrição plausível e a fatores que influenciam as doenças.
radiação atmosférica é intensamente das Nações Unidas para o Meio geralmente simplificada de como o radiação ultravioleta (UVR): radiação
acoplada à temperatura no nível Ambiente (PNUMA). Tem o papel futuro pode evoluir com base em solar dentro de um determinado
em que é emitida. Um aumento na de avaliar as informações científicas, um conjunto de premissas coerentes comprimento de onda, dependendo
concentração de gases de efeito estufa técnicas e sócio-econômicas relevantes e internamente consistentes sobre as do tipo de radiação (A, B ou C). O
gera uma opacidade de infravermelho para a compreensão do risco de principais forças motrizes e relações. ozônio tem forte absorção na UV-C
aumentada da atmosfera, gerando mudanças climáticas induzidas pelo Os cenários não são nem previsões (< 280nm) e a radiação solar nesses
portanto uma radiação efetiva no homem, baseado principalmente em nem projeções e podem às vezes estar comprimentos de onda não alcança
espaço de uma altitude mais alta a literatura técnico-científica publicada baseados em uma trama narrativa. a superfície terrestre. À medida que
uma temperatura mais baixa. Isso e revisada por pares. O IPCC tem sensibilidade: grau em que um sistema aumenta o comprimento da onda
causa um forçamento radiativo, três Grupos de Trabalho e uma Força é afetado por mudanças relacionadas na faixa UV-B (280nm a 315nm)
um desequilíbrio que só pode ser Tarefa. ao clima, seja de maneira adversa ou a absorção de ozônio fica mais
compensado por um aumento na monitoramento: desempenho e análise benéfica. O efeito pode ser direto fraca, até que não seja detectável
temperatura do sistema superfície- de medições rotineiras com o objetivo (e.g. uma mudança na produção em aproximadamente 340nm. As
troposfera. Esse é um ‘efeito estufa de detectar mudanças no meio agrícola em resposta à mudança na frações de energia solar acima da
aumentado’. ambiente ou estado de saúde das temperatura) ou indireto (e.g. danos atmosfera nas faixas de UV-B e UV-A
gases de efeito estufa (GEEs): Os populações. Não deve ser confundido causados por aumentos na freqüência são de aproximadamente 1.5% e 7%
gases na atmosfera que absorvem e com vigilância, embora algumas de enchentes costeiras). respectivamente.
emitem radiação em determinados técnicas de vigilância possam ser destruição do ozônio estratosférico: Convenção Quadro das Nações
comprimentos de onda dentro do usadas no monitoramento. a redução na quantidade de ozônio Unidas sobre Mudança do Clima
espectro da radiação infravermelha morbidade: taxa de ocorrência de contida na estratosfera devido à (CQNUMC): convenção assinada na
emitida pela superfície da Terra, doenças ou outra disfunção de liberação de gases de efeito estufa Conferência das Nações Unidas sobre
atmosfera e nuvens. saúde em uma população, levando como resultado de atividade humana. Meio Ambiente e Desenvolvimento
vapor de água: dióxido de carbono, em conta as taxas de morbidade camada de ozônio estratosférico: a em 1992. Os governos que se
óxido nítrico, metano e ozônio específicas à idade. Os resultados estratosfera contém uma camada tornaram Partes à Convenção
são os principais gases de efeito de saúde incluem: incidência e onde a concentração de ozônio é a concordaram em estabilizar as
estufa na atmosfera. Além desses, prevalência de doenças crônicas, taxas maior, a chamada camada de ozônio. concentrações de gases de efeito
existem diversos gases produzidos de internação hospitalar, consultas de Essa camada se estende por cerca de estufa na atmosfera em um nível que
inteiramente por humanos na atendimento primário à saúde e Anos 12 a 40 km. Essa camada está sendo pudesse prevenir uma interferência
atmosfera, tais como os halocarbonos de Vida Ajustados pela Incapacidade destruída pelas emissões humanas antropogênica perigosa com o sistema
e outros contemplados nos Protocolos (DALYs). de compostos clorados e bromados. climático.
de Montreal e de Kyoto. mortalidade: taxa de ocorrência de A cada ano, durante a primavera do vulnerabilidade: o grau de
impactos: conseqüências da mudança morte em uma população dentro de hemisfério sul, ocorre uma destruição suscetibilidade ou incapacidade de
climática nos sistemas naturais e um período de tempo especificado. muito forte da camada de ozônio um sistema de lidar com os efeitos
na saúde humana. Dependendo da ozônio: forma do elemento oxigênio em toda a região da Antártica, adversos da mudança climática,
consideração de adaptação, podemos com três átomos em lugar dos dois causada pelos compostos clorados e incluindo a variabilidade climática e
distinguir entre os potenciais que caracterizam as moléculas de bromados fabricados pelo homem extremos. A vulnerabilidade é uma
impactos e impactos residuais: oxigênio normais. O ozônio é um em combinação com as condições função do caráter, da magnitude e da
- potenciais impactos são todos os importante gás de efeito estufa. A metereológicas dessa região. Esse taxa de variação climática a que um
impactos que podem ocorrer, dada estratosfera contém 90% de todo o fenômeno é chamado de buraco na sistema está exposto, sua sensibilidade
uma mudança climática projetada, ozônio presente na atmosfera que camada de ozônio. e sua capacidade de adaptação.

SUMÁRIO 33
4
Watson, R.T. et al. (eds.) The Regional
Capítulo 1 Impacts of Climate Change. An assessment Capítulo 6
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34 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


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SUMÁRIO 35
Versão revisada: Kristie Ebi

Agradecimentos Coordenador do Projeto: Carlos F. Corvalán. Editor: Anthony J. McMichael.


Baseado no livro “Climate Change and Human Health – Risks and Responses” (A.J. McMichael, et al, Eds. OMS,
Genebra 2003). Com contribuições de: M. Ahern, London School of Hygiene and Tropical Medicine, Londres,
Reino Unido; C. L. Bartlett, Centro para Epidemiologia de Doenças Infecciosas, University College London,
Reino Unido; D. H. Campbell–Lendrum, London School of Hygiene and Tropical Medicine, Londres, Reino
Unido; U. Confalonieri, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brazil; C. F. Corvalán, Organização Mundial
de Saúde, Genebra, Suíça; K. L. Ebi, Organização Mundial de Saúde, Escritório Regional para a Europa, Centro
Europeu para Meio Ambiente e Saúde, Roma, Itália; S. J. Edwards, London School of Hygiene and Tropical
Medicine, Londres, Reino Unido; J. Furlow, US Environmental Protection Agency, Washington DC, EUA; A.
Githeko, Kenya Medical Research Institute, Kisumu, Kenya; H. N.B. Gopalan, Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente, Nairobi, Kenya; A. Grambsch, US Environmental Protection Agency, Washington DC, EUA;
S. Hales, Wellington School of Medicine, University of Otago, Wellington, Nova Zelândia; S. Hussein, Johns
Hopkins University, Baltimore, Maryland, EUA; R. S. Kovats, London School of Hygiene and Tropical Medicine,
Londres, Reino Unido; K Kuhn, London School of Hygiene and Tropical Medicine, Londres, Reino Unido;
P. Llansó, Organização Metereológica Mundial, Genebra, Suíça; R. Lucas, National Centre for Epidemiology
and Population Health, The Australian National University, Canberra, Austrália; J. P. McCarty, University of
Nebraska em Omaha, Nebraska, EUA; A. J. McMichael, National Centre for Epidemiology and Population
Health, The Australian National University, Canberra, Austrália; L. O. Mearns, National Center for Atmospheric
Research, Boulder, Colorado, EUA; B. Menne, Organização Mundial de Saúde, Escritório Regional para a
Europa, European Centre for Environment and Health, Roma, Itália; A. R. Moreno, The United States–Mexico
Foundation for Science, Col. Del Valle, México; B.S. Nyenzi, Organização Metereológica Mundial, Genebra,
Suíça; J. A. Patz, Johns Hopkins University, Baltimore, Maryland, EUA; A–L Ponsonby, National Centre for
Epidemiology and Population Health, The Australian National University, Canberra, Austrália; A. Prüss –
Ustün, Organização Mundial de Saúde, Genebra, Suíça; J. D. Scheraga, US Environmental Protection Agency,
Washington DC, EUA; N. de Wet, The International Global Change Institute, University of Waikato, Nova
Zelândia; P. Wilkinson, London School of Hygiene and Tropical Medicine, Londres, Reino Unido; A. Woodward,
University of Otago, Wellington, Nova Zelândia.
Tradução da versão em portugues : Bié Tradução de Línguas Ltda
Revisão: Caroline Yuka Habe e Mara Lúcia Oliveira.
Design e layout: James Elrington. Gráficos: Sue Hobbs.
Editoração eletrônica: All Type Assessoria Editorial Ltda / Marcus Vinícus Mota de Araújo.
Ilustração da capa: Identidade visual do Dia Mundial da Saúde 2008 “ Protegendo a saúde frente ás mudanças
climáticas” de PAHO/KMC (concepção e criação de arte de Gilles Collette, PAHO/KMC.

36 MUDANÇA CLIMÁTICA E SAÚDE HUMANA – RISCOS E RESPOSTAS


Para obter mais informações, favor contatar: Endereços dos Escritórios Regionais da OMS Eastern Mediterranean
WHO Post Office (Escritório Postal da OMS)
África Abdul Razzak Al Sanhouri Street
WHO (OMS) Naser City
B.P. 6 Cairo 11371
Brazzaville Egypt
Congo Tel: +202 6702535
OPAS Tel: +47 241 38244 Fax: +202 6702492
OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde Fax: +47 241 39501
525 23rd Street NW, South–East Asia
Washington, D.C. 20037 Américas WHO (OMS)
Tel: (202) 974-3000 WHO (OMS) World Health House
Fax: (202)974-3663 Pan American Sanitary Bureau Indraprastha Estate
525, 23rd Street, N.W. Mahatma Gandhi Road
Washington DC 20037 New Delhi 110002
USA India
Tel: +1–202 9743000 Tel: +91 112 3370804
Fax: +1–202 9743663 Fax: +91 112 3370197
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20 avenue Appia, WHO (OMS) WHO (OMS)
CH–1211 Geneva 27, Switzerland 8, Scherfigsvej P.O. Box 2932
Tel: (+41) 22 791 21 11 DK–2100 Copenhagen 0 1099 Manila
Fax: (+41) 22 791 31 11 Denmark Philippines
Tel: +45–39 171717 Tel: +632 5288001
Fax: +45–39 171818 Fax: +632 5211036

OMM
OMM - Organização Metereológica Mundial
7 bis Abenue de la Paix
CH–1211 Geneva 2, Switzerland
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37
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Mudança Climática e Saúde Humana – Riscos e Respostas
Mudança Climática e Saúde Humana – Riscos e Respostas
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S U M Á R I O REVISADO 2008

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