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MudancasClimaticas X Efeitos na saude
MudancasClimaticas X Efeitos na saude
ISBN 978-85-87943-91-0
ISBN 978-85-87943-91-0 A Organização Mundial da Saúde não garante que as informações contidas nesta pub-
licação são completas e corretas e não se responsabilizará por quaisquer danos sofridos
1. Mudanças climáticas - Brasil. 2. Efeitos do clima - Brasil. I. Bié Tradução de como resultado de seu uso.
Língua Ltda. II. Organização Pan-Americana da Saúde. III. Título.
Esta publicação contém as opiniões coletivas de um grupo internacional de especialistas
NLM: QT 230 e não representa necessariamente as decisões ou a política declarada da Organização
Mundial da Saúde, da Organização Meteorológica Mundial ou do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente.
O sistema climático mundial é parte integrante dos complexos processos de sustentação da vida. Clima
e tempo sempre causaram um grande impacto na saúde e no bem-estar da humanidade. Mas como
outros grandes sistemas naturais, o sistema climático mundial está sofrendo a pressão das atividades
humanas. A mudança global do clima é, portanto, um desafio mais novo nos esforços contínuos para
proteger a saúde humana.
Esta publicação é um sumário revisto do livro Climate Change and Human Health – Risks and Responses
(Mudança Climática e Saúde Humana, Riscos e Respostas), publicado pela OMS em colaboração com
o PNUMA e a OMM. O volume completo busca descrever o contexto e o processo das mudanças
climáticas, seus impactos reais ou prováveis na saúde, e a forma como as sociedades humanas e seus
governos deveriam responder, com enfoque particular no setor de saúde.
SUMÁRIO 05
1
Em 1969, as fotos produzidas óxido nitroso e vários halocarbonetos aliado a mudanças em precipitação e
pela Apollo em sua missão à lua produzidos pelo homem. Em seu variabilidade climática durante e após
propiciaram cenas extraordinárias Quarto Relatório de Avaliação o próximo século. Suas projeções
deste planeta, suspenso no espaço, (2007), o Painel Intergovernamental baseiam-se em modelos climáticos
climática global
limites. Nosso entendimento cada das influências antropogênicas do de emissões de gases de efeito estufa,
vez maior da mudança climática aquecimento e do resfriamento que levam em conta vias alternativas
está transformando nossa visão no clima aumentou desde o TAR de mudanças demográficas,
e saúde: uma das fronteiras e os determinantes
da saúde humana. Embora nossa
(Terceiro Relatório de Avaliação),
resultando em um alto grau de
econômicas e tecnológicas e a
evolução de modelos de governança.
velha história saúde pessoal possa parecer estar
relacionada primordialmente a
confiança de que o efeito líquido
médio global das atividades humanas A escala global das mudanças
2 Florescimento da
energia, amplificando, assim, o Mesopotamia
Seguimento
“efeito estufa” natural que torna 1 da Agricultura Vikings na
Groenlândia
a Terra habitável. Esses gases de 0
efeito estufa (GEE) compreendem Ótimo
Aquecimento
Holocene 1940 Século XXI:
principalmente, dióxido de carbono -1 Medieval Peuqena era aumento
glacial na Europa
(em sua maioria proveniente da -2 (séculos XV - XVIII)
muito
rápido
combustão de combustível fóssil Fim da
-3
e de incêndios florestais), além de eera glacial
agricultura irrigada, acasalamento 20.000 10.000 2000 1000 300 100 Agora +100
de animais e extração de petróleo), Número de anos antes do presente (escala quasi-log)
A2
B1
B2
07
Fonte: referência 1
SUMÁRIO
2
Tempo é a condição em permanente
atmosfera como nos oceanos, sendo, à metade a quantidade de radiação
mutação da atmosfera, geralmente
portanto, uma causa importante de solar que chega à superfície da Terra.
considerada em uma escala de
tempo que se estende de minutos a correntes eólicas e oceânicas. Em particular, determinados gases
de “efeito estufa” apresentam um
Tempo e clima: semanas. Clima é o estado médio da
baixa atmosfera e as características Cinco camadas concêntricas de rastro de concentrações na troposfera
atmosfera circundam este planeta. (inclusive vapor d’água, dióxido de
mudança nas
associadas ao solo ou água
subjacentes, em uma região específica, A camada mais baixa (troposfera) se carbono, óxido nitroso, halocarbonetos
que geralmente abrange vários anos, estende da superfície da terra até uma e ozônio), absorvendo cerca de 17%
exposições pelo menos. Variabilidade climática
é a variação em torno do clima
altitude de cerca de 10-12 km em
média. O estado atmosférico que afeta
da energia solar que a atravessa. Da
energia solar que chega à superfície
humanas médio, inclusive variações sazonais
e ciclos regionais de larga escala em
a superfície da Terra se desenvolve
na troposfera. A segunda grande
da Terra, grande parte é absorvida
e novamente irradiada na forma de
circulações atmosféricas e oceânicas, camada (estratosfera) se estende até radiação de onda longa (infravermelha).
Ao discutir “mudança climática tais como a Oscilação Sul / El Nino cerca de 50 km acima da superfície. Parte dessa radiação infravermelha
e saúde”, devemos estabelecer (ENSO) ou a Oscilação Atlântico O ozônio na estratosfera absorve a emitida é absorvida por gases de efeito
a distinção entre os impactos Norte (NAO). maior parte dos raios ultravioleta - de estufa na baixa atmosfera, aquecendo
na saúde de várias exposições maior energia - do Sol. Acima da ainda mais a superfície da Terra e
As mudanças climáticas ocorrem
meteorológicas: tempo (estado estratosfera há mais três camadas: a aumentando sua temperatura em
durante décadas ou em escalas de
mesosfera, a termosfera e a exosfera. 33ºC, até a média atual da superfície,
atmosférico), variabilidades tempo mais longas. Até agora, as
de 15ºC. Esse processo suplementar
climáticas e mudanças mudanças no clima global vêm
Em geral, essas cinco camadas da de aquecimento é chamado de “efeito
ocorrendo naturalmente, no curso
climáticas. atmosfera reduzem aproximadamente estufa” (Figura 2.1).2
de séculos ou milênios, devido à
deriva continental, diferentes ciclos
astronômicos, variações na produção
Figura 2.1. O efeito estufa
de energia solar e atividade vulcânica.
Nas últimas décadas, tem ficado cada
vez mais claro que ações humanas Alguma radiação Parte da radiação
infravermelha atravessa a
estão modificando a composição solar é refletida
atmosfera e parte é
pela Terra e pela
atmosférica, contribuindo assim, atmosfera. absorvida e re-emitida em
todas as direções pelas
significativamente, para a mudança SOL moléculas do gás de efeito
estufa. O efeito desse
global do clima. 1 fenômeno é o aquecimento
da superfície da Terra e da
baixa atmosfera.
O Sistema Climático
O clima da Terra é determinado por
interações complexas entre o Sol, A radiação
solar ATMOSFERA
os oceanos, a atmosfera, a criosfera, atravessa a
a superfície terrestre e a biosfera. atmosfera
TERRA
clara.
O Sol é a principal força motriz do
tempo e do clima. O aquecimento A maior parte da
radiação é A radiação infravermelha
desigual da superfície da Terra (que absorvida pela é emitida a partir da
é maior próximo ao equador) causa superfície da Terra, superfície da Terra.
aquecendo-a.
grandes fluxos de convecção tanto na
a. A taxa flutuou entre 0,9 ppm/ano e 2,8 ppm/ano no caso do CO2 e entre 0 e 13 ppb/ano no caso do
CH4 no período de 1990 a 1999.
250 b. A taxa é calculada sobre o período de 1990 a 1999.
c. Não é possível definir um ciclo de vida único para o CO2 devido às diferentes taxas de assimilação por
1000 5000 0 parte de diferentes processos.
d. Esse ciclo de vida foi definido como um “tempo de ajuste”, que leva em conta o efeito indireto do
Época (antes de 2005) gás em seu próprio tempo de residência.
ppm: partes por milhão; PPB: partes por bilhão; ppt: partes por trilhão.
Fonte: Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) 2007: Quarto Relatório de Avalia-
ção (Volume I). Cambridge: Editora da Universidade de Cambridge, 2007.
Gases de Efeito Estufa e 1998, sua taxa de mudança no Estado atmosférico e clima relevantes (ex.: mudança no uso
Os aumentos de gases de período de 1990 a 1999 e seu ciclo podem ser resumidos em várias da terra), não foram coletados
efeito estufa (GEE) induzidos de vida atmosférico. O ciclo de vida escalas espaciais e temporais. A nos mesmos locais e nas mesmas
pelo homem na concentração atmosférico é altamente relevante escala apropriada de análise e a escalas.
atmosférica de GEE estão para os formuladores de políticas, escolha de qualquer período de
amplificando o efeito estufa. uma vez que a emissão de gases defasagem entre exposição e efeito Em toda pesquisa dessa natureza
Recentemente, o grande aumento com longos ciclos de vida implica dependerão da natureza prevista da é preciso acomodar os vários
da queima de combustível fóssil, um compromisso praticamente relação. Muitas pesquisas requerem tipos de incerteza inerentes a esses
da atividade agrícola e de várias irreversível com as mudanças conjuntos de dados de longo estudos. Projeções sobre como
outras atividades econômicas climáticas sustentadas no transcorrer prazo, com informações sobre sistemas complexos tais como
tem aumentado sensivelmente as de décadas ou séculos.3, 4 tempo/clima e efeito na saúde, sistemas climáticos regionais e
emissões de gases de efeito estufa. nas mesmas escalas espaciais e ecossistemas dependentes do clima
A concentração de dióxido de Estudo dos Impactos do Clima temporais. Por exemplo, tem sido responderão quando empurrados
carbono na atmosfera aumentou na Saúde comprovadamente difícil avaliar para além de limites críticos,
em mais de 35% desde o início da O estudo do impacto de eventos a influência da variabilidade e são necessariamente incertas.
revolução industrial (Figura 2.2). relacionados ao estado atmosférico da mudança climática na recente Da mesma forma, há incertezas
e à variabilidade climática na saúde disseminação da malária nas terras em relação às características, aos
A Tabela 2.1 apresenta exemplos humana requer uma especificação altas africanas, porque dados comportamentos e à capacidade
de vários gases de efeito estufa e apropriada da “exposição” apropriados sobre saúde e estado de enfrentamento das populações
resume suas concentrações em 1790 meteorológica. atmosférico, dentre outros dados humanas no futuro.
SUMÁRIO 09
3
No início da década de 1990 havia na baixa atmosfera, por meio da doenças e mortes prematuras… Nesse
pouca conscientização dos riscos emissão de gases de efeito estufa, estágio inicial, os efeitos são pequenos,
da mudança climática global para têm influenciado e provavelmente mas estima-se que aumentarão
a saúde. Essa situação refletia uma influenciarão os padrões climáticos progressivamente em todos os países
internacional
e ecológico podem afetar o bem- e processos importantes para as climática deverão afetar o estado
estar e a saúde das populações num sociedades humanas; e (iii) a faixa de saúde de milhões de pessoas,
prazo mais longo. Havia pouca de opções de resposta econômica e particularmente aquelas com baixa
sobre a ciência conscientização entre especialistas em
ciências naturais de que as mudanças
social disponível aos formuladores
de políticas para prevenir mudanças
capacidade de adaptação, por meio: de
aumentos da desnutrição e distúrbios
do clima e da em seus objetos de estudo específicos
– condições climáticas, estoques
climáticas e reduzir seus impactos. conseqüentes, com implicações para
o crescimento e o desenvolvimento
Avaliação do
isso ficou bem refletido na escassa propõem os nomes de cientistas com carga maior de doenças diarréicas;
referência aos riscos para a saúde no experiência nas muitas áreas temáticas os efeitos mistos na faixa (aumento e
primeiro grande relatório do Painel incluídas nessa abrangente tarefa de redução) e transmissão potencial da
IPCC Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC), da ONU,
revisão. Equipes de revisão temática
são então selecionadas para garantir
malária na África; da maior freqüência
de doenças cardiorrespiratórias,
publicado em 1991. uma representação geográfica e devido a concentrações mais
Por meio de pesquisas disciplinar apropriada. Excetuando-se elevadas de ozônio na superfície da
recentes, nosso entendimento Posteriormente, a situação mudou. o pequeno número de cientistas que terra relacionadas com mudanças
das relações clima-saúde O Segundo Relatório de Avaliação trabalham no nível do secretariado do climáticas; e da distribuição espacial
aumentou rapidamente, do IPCC (1996) dedicou um IPCC, todo esse trabalho de revisão, alterada de alguns vetores de doenças
capítulo inteiro aos riscos potenciais discussão e redação é realizado por infecciosas”.1 A Figura 3.1 [TS.9]
em grande parte devido ao para a saúde. Os Terceiro e Quarto meio de contribuição voluntária. resume a direção e magnitude da
estímulo do IPCC e outros Relatórios de Avaliação (2001 e mudança de determinados impactos
exames relacionados com 2007) fizeram o mesmo, incluindo As minutas de avaliações do das mudanças climáticas na saúde.2
políticas ocorridos no nível discussões de evidências precoces IPCC estão sujeitas a uma série de
de impactos reais na saúde, além de processos internos e externos de Em sentido amplo, uma mudança nas
regional e nacional.
avaliar os efeitos potenciais futuros revisão por pares. A redação final condições climáticas pode produzir
na saúde. As avaliações também dos resumos dos relatórios do IPCC três tipos de impacto na saúde:
destacaram impactos previstos na está sujeita, por meio de conferências • Aqueles que são relativamente
saúde por principais áreas geográficas internacionais formais, ao escrutínio diretos, causados por Eventos
e para populações particularmente detalhado e sistemático dos governos. climáticos extremos.
vulneráveis. • As conseqüências para a saúde
O IPCC e a avaliação dos de vários processos de mudança
O IPCC foi instituído pela OMM e impactos na saúde ambiental e do distúrbio ecológico
pelo PNUMA em 1988. O papel do Em seu Quarto Relatório de que ocorrem em resposta a
IPCC é avaliar a literatura científica Avaliação, o IPCC concluiu que: mudanças climáticas.
mundial publicada sobre: (i) como “a mudança climática atualmente • As diversas conseqüências para a
as mudanças induzidas pelo homem contribui para a carga global de saúde - traumáticas, infecciosas,
Figura 3.1. Direção e magnitude da mudança de determinados impactos da Figura 3.2. Vias pelas quais a mudança climática afeta a saúde humana (modificado
mudança climática na saúde a partir da referência 3)
SUMÁRIO 11
4
Figura 4.1 Tarefas para a ciência da saúde pública
Um desafio final é a necessidade
de estimar os riscos para a saúde
Pesquisas em saúde pública em relação a cenários climático-
ambientais futuros. Diferentemente
futuro: desafios
previstos como resultados de
Evidências de mudanças climáticas globais estão
efeitos precoces, Comunicação a em um futuro que somente se
pra os cientistas inclusive
monitoramento
Avaliações de
• vulnerabilidade
• adaptação
• Formuladores de políticas
• Partes interessadas
• Outros pesquisadores
materializará em anos ou décadas.
que estudam
Questões a serem abordadas?
Modelagem de cenários Informações suficientes? Estratégias e tarefas de pesquisa
Embora boa parte da pesquisa
saúde
Métodos epidemiológicos padrões
Os desafios de identificar, quantificar mesma localização geográfica, a de observação podem esclarecer
e projetar os impactos de mudanças comparação entre conjuntos de pessoas as conseqüências de tendências
climáticas na saúde acarretam e diferentes “exposições” geralmente é climáticas locais em décadas passadas
As investigações sobre a
questões de escala, a especificação da impossível. Ao contrário, comunidades – se o conjunto relevante de dados
mudança climática e saúde “exposição” e a elaboração de vias ou populações inteiras devem ser existir. Essas informações aumentam
englobam estudos básicos causais freqüentemente complexas comparadas – e, quando isso é feito, nossa capacidade posterior de estimar
e relações causais, análise e indiretas.1 Em primeiro lugar, a deve-se atentar para as diferenças de futuros impactos. Nesse meio tempo,
de riscos, avaliação da escala geográfica dos impactos na vulnerabilidades intracomunitárias. deveríamos também buscar evidências
saúde relacionados com o clima, bem Por exemplo, a taxa excessiva de dos efeitos precoces das mudanças
vulnerabilidade e capacidade como os amplos períodos de tempo mortes durante a severa onda de calor climáticas na saúde, uma vez que essas
de adaptação das populações típicos à mudança , são desconhecidos em Chicago, em 1995, e na Europa mudanças vêm ocorrendo há várias
e avaliação e políticas de para muitos pesquisadores. Os Ocidental, em 2003, variou muito entre décadas.
intervenção. epidemiologistas geralmente estudam bairros, devido às diferenças em fatores
problemas que são geograficamente como qualidade da moradia e coesão da Os impactos na saúde de mudanças
localizados, instalam-se com relativa comunidade. climáticas futuras, inclusive
rapidez e afetam diretamente a saúde. mudanças na variabilidade
O indivíduo geralmente é a unidade Terceiro, alguns impactos na saúde climática, podem ser estimados de
natural de observação. ocorrem por meio de caminhos duas formas principais. Primeiro,
indiretos e complexos. Por exemplo, podemos extrapolar a partir de
Segundo, a variável “exposição” – que os efeitos de temperaturas extremas estudos análogos que tratam as
compreende tempo, variabilidade na saúde são diretos. Contrariamente, variabilidades climáticas recentes
climática e tendências climáticas – mudanças complexas na composição como uma antecipação da mudança
impõe dificuldades. Não há um grupo e no funcionamento de ecossistemas climática. Segundo, podemos usar
“não exposto” óbvio para servir de linha ajudam a mediar o impacto da modelos de computador baseados
de base para comparações. De fato, mudança climática na transmissão de em conhecimentos existentes sobre
como há pouca diferença em exposições doenças infecciosas por vetores e na relações entre condições climáticas e
a tempo/clima entre indivíduos na produtividade agrícola. efeitos na saúde.
SUMÁRIO 13
5
Eventos climáticos extremos deverão A malária está essencialmente restrita Muitas doenças diarréicas variam
se tornar mais freqüentes e intensos às regiões tropicais e subtropicais. A sazonalmente, sugerindo sensibilidade
com a mudança climática. Esses sensibilidade da doença ao clima se ao clima. Nos trópicos, as doenças
eventos perturbadores produzem reflete nas áreas próximas aos desertos diarréicas geralmente atingem seu
variabilidade
climáticos são: Niño podem aumentar a transmissão2. aumentam o risco de doenças
Em áreas de malária instável em países diarréicas. As principais causas de
• Extremos simples de faixas em desenvolvimento, as populações diarréia relacionadas com as chuvas
climática na estatísticas climáticas, tais como
temperaturas muito baixas ou
carecem de imunidade protetora e
estão sujeitas a epidemias, quando as
fortes e água contaminada são a
cólera, criptosporídiase, infecção
saúde muito elevadas;
• Eventos complexos tais como:
condições meteorológicas facilitam a
transmissão.
por E. coli, giárdiase, infecção por
shigella, febre tifóide e as víroses
secas, inundações ou furacões. como a hepatite A.
Fatores climáticos são um A dengue é a doença arboviral mais
determinante importante de A Oscilação Sul-El Niño (ENSO) importante dos humanos, ocorrendo Temperaturas extremas: ondas
várias doenças transmitidas baseada no Pacífico, que ocorre a em regiões tropicais e subtropicais, de calor e períodos de frio
cada 2–7 anos aproximadamente, particularmente em assentamentos Temperaturas extremas podem matar.
por vetores, muitas doenças
influencia muito os padrões regionais urbanos. A ENSO afeta a ocorrência Em muitos países temperados, a
entéricas e certas doenças mundiais de tempo, ilustrando, assim, da dengue parcialmente, por taxa de mortes durante o inverno é
relacionadas à água. As como a variabilidade climática pode meio de mudanças nas práticas de 10% a 25% mais altas do que no
relações entre variações ano afetar a saúde humana. de armazenamento de água nos verão. Em agosto de 2003, uma onda
domicílios e na formação de poças de calor na França causou 14.802
a ano no clima e em doenças
Clima, tempo, El Niño e doenças da água na superfície. Entre 1970 e mortes em 20 dias.4
infecciosas são mais evidentes infecciosas 1995, o número anual de epidemias
onde as variações climáticas Tanto a temperatura como a água de dengue no Pacífico Sul foi Grande parte do excesso de mortes
são marcadas, bem como de superfície exercem influências correlacionado de forma positiva com registradas durante períodos
em populações vulneráveis. importantes nos insetos vetores de as condições do La Niña (i.e., mais de extremos térmicos ocorrem
doenças infecciosas. Particularmente quentes e mais úmidas).3 em pessoas com doenças pré-
O fenômeno El Niño nos relevantes são as espécies de existentes, especialmente doenças
fornece uma analogia para mosquito que disseminam a malária Roedores, que proliferam em regiões cardiovasculares e respiratórias. Os
entendermos os impactos e doenças virais como a dengue, temperadas após invernos úmidos muito idosos, os muito novos e os
futuros da mudança global do a chikungunya e a febre amarela. amenos, atuam como reservatórios fracos são mais suscetíveis. É difícil
Os mosquitos precisam de acesso à para várias doenças. Algumas doenças estimar o número de mortes durante
clima nas doenças infecciosas.
água estagnada para se reproduzir transmitidas por roedores estão uma onda de calor, uma vez que
e a viabilidade dos adultos associadas a inundações, inclusive a algumas mortes ocorrem em pessoas
depende de condições úmidas. leptospirose, a tularemia e doenças suscetíveis, que teriam morrido no
Temperaturas mais altas aumentam hemorrágicas virais. Outras doenças futuro muito próximo.
a reprodução do vetor e reduzem associadas a roedores e carrapatos,
o período de amadurecimento do e que mostram associações com A mudança climática global será
patógeno no organismo vetor. No variabilidade climática, incluem a acompanhada de maior freqüência,
entanto, condições muito quentes borreliose de Lyme, a encefalite intensidade e duração de ondas de
e secas podem reduzir o tempo de transmitida por carrapatos e a calor, bem como de verões mais
sobrevivência do mosquito. síndrome pulmonar do hantavírus. quentes e invernos mais amenos.
Em termos globais, os impactos dos Pacífico Ocidental 375 36 273,1 381 48 1.199.8
desastres naturais vêm aumentando. Desenvolvidos 563 10 2,8 577 6 40.8
Uma análise realizada pela Total 1.848 692 1.336 2.078 601 1.851
SUMÁRIO 15
6
Figura 6.1: Quatro principais tipos de ciclo de transmissão para doenças infecciosas
Os humanos sabem, desde antes (referência 5)
da descoberta do papel dos agentes
infecciosos, no final do século XIX, Antroponose
que as condições climáticas afetam as Transmissão direta Transmissão indireta
clima e doenças
VETOR/VEÍCULO
todos os verões, para evitar a malária.
HUMANOS HUMANOS
Os asiáticos do sul aprenderam cedo
que, no alto verão, alimentos com
infecciosas
Zoonose
grande quantidade de curry tinham
ANIMAIS ANIMAIS
menos probabilidade de causar VETOR/VEÍCULO
diarréia. VETOR/VEÍCULO
Hoje, em todo o mundo, há ANIMAIS ANIMAIS
um aumento aparente de Os agentes infecciosos variam HUMANOS HUMANOS
muitas doenças infecciosas, muito em tamanho, tipo e
inclusive algumas de circulação modo de transmissão. Há vírus,
bactérias, protozoários e parasitas ideais: temperatura e precipitação variabilidade climática e ocorrência de
recente (HIV/AIDS, hantavirose,
multicelulares. Os micróbios que são as mais importantes, embora doenças infecciosas. A segunda analisa
hepatite C, SARS, etc.). Essa causam “antroponose” adaptaram- umidade, elevação do nível do mar e os indicadores precoces dos impactos
situação reflete os impactos se, por meio da evolução, à duração da luz do dia também sejam já emergentes de doenças infecciosas
combinados de mudanças espécie humana como seus importantes. associadas a mudanças climáticas
anfitriões principais, exclusivos. de longo prazo. A terceira usa as
demográficas, ambientais,
Contrariamente, espécies não A exposição humana a infecções evidências acima para criar modelos
sociais e tecnológicas, bem humanas são reservatórios naturais transmitidas pela água ocorre por que permitam estimar a carga futura
como de outras mudanças para aqueles agentes infecciosos que meio do contato com água potável de doenças infecciosas em cenários
em nossos modos de vida. A causam “zoonoses” (Fig. 6.1). Há contaminada, com água de recreação projetados de mudanças climáticas.
mudança do clima também antroponoses (tais como TB, HIV/ ou por meio de alimentos, podendo
AIDS e sarampo) e zoonoses (ex.: resultar de atividades humanas tais Evidências Históricas
afetará a ocorrência de raiva) transmitidas diretamente. como disposição inadequada dos Há muitas evidências de associações
doenças infecciosas.1 Também há antroponoses (ex.: dejetos, ou por meio de eventos entre condições climáticas e
malária, dengue, febre amarela) climáticos. A chuva pode influenciar doenças infecciosas. A malária é
e zoonoses (ex.: peste bubônica o transporte e a disseminação de alvo de grande preocupação com a
e doença de Lyme) transmitidas agentes infecciosos, enquanto a saúde pública, e pode ser a doença
indiretamente, por vetores. temperatura afeta seu crescimento e transmitida por vetor mais sensível às
sua sobrevivência. mudanças climáticas de longo prazo.
Doenças transmitidas por vetores e pela A malária varia sazonalmente em
água. Determinantes importantes Relações observadas e áreas altamente endêmicas. A ligação
de doenças transmitidas por projetadas entre clima/doenças entre a malária e eventos climáticos
vetores incluem: (i) sobrevivência infecciosas extremos há muito vem sendo
e reprodução do vetor; (ii) taxa de Há três categorias de pesquisas estudada na Índia, por exemplo. No
picada/mordida do vetor; e (iii) no que se refere às ligações entre início do século passado, a região
taxa de incubação do patógeno no condições climáticas e transmissão de Punjab, irrigada pelo rio, sofreu
organismo vetor. Vetores, patógenos de doenças infecciosas. A primeira epidemias periódicas de malária.
e anfitriões sobrevivem e reproduzem examina evidências do passado Chuvas de monção excessivas e alta
numa faixa de condições climáticas recente de associações entre umidade haviam sido identificadas
17
pAumento q Redução
SUMÁRIO
7
A carga global de doenças atribuíveis ausente; (ii) o aumento estimado Os cenários futuros de exposição
à mudança do clima foi estimada do risco de doença/morte por presumem os seguintes níveis
como parte de um projeto abrangente aumento de unidade na exposição projetados de emissão de GEE:
da Organização Mundial da Saúde.1 ao fator de risco (o ”risco relativo”);
doenças a
a 26 fatores de risco ambientais, futuro. A carga evitável é estimado cenário “IS92a” do IPCC).
ocupacionais, comportamentais e comparando-se as cargas projetadas 2. Redução de emissões, alcançando a
de estilo de vida no ano 2000 e em em cenários alternativos de exposição. estabilização em 750 ppm de CO2
mudança do ocasiões futuras específicas, até 2030.
Cargas de doenças foram estimadas
equivalentes em 2210 (s750).
3. Redução mais rápida de emissões,
clima causaria? Carga de doenças e indicadores
de resumo de saúde da
para cinco regiões geográficas
(Figura 7.1). A carga de doenças
estabilizando em 550 ppm de CO2
equivalentes em 2170 (s550).
população atribuíveis foi estimada para o ano
Para subsidiar políticas, é A carga das doenças compreende o 2000. Para os anos 2010, 2020 e Avaliação de efeitos na saúde
necessária uma estimativa volume total de doenças ou mortes 2030, foram estimados os riscos Apenas alguns dos efeitos na saúde
da magnitude aproximada prematuras na população. Comparar relativos associados ao clima de cada associados a mudança do clima são
frações da carga atribuíveis a vários resultado de saúde em cada cenário abordados aqui (Tabela.1). Esses
dos impactos da mudança do
diferentes fatores de risco requer, de mudança climática relativo à efeitos foram selecionados com
clima na saúde. Essa estimativa em primeiro lugar, conhecimento da situação caso a mudança climática base: (a) na sensibilidade a variações
indicará que impactos em gravidade/deficiência e duração do não ocorresse.3 O cenário de linha de climáticas; (b) na importância futura
particular têm probabilidade déficit de saúde e, em segundo lugar, base é 1990 (o último ano do período projetada; e (c) na disponibilidade/
o uso de unidades padrões de déficit de 1961 a 1990 – o período de viabilidade de modelos quantitativos
de ser maiores e em que
de saúde. O indicador “Anos de Vida referência adotado pela Organização globais.
regiões e quanto da carga de Perdidos Ajustados por Incapacidade” Meteorológica Mundial e pelo IPCC).
doenças atribuíveis ao clima (AVAI), amplamente empregado, é a
pode ser evitada por meio da soma de: Figura 7.1 Impactos estimados da mudança do clima em 2000, por região
redução de emissões, além
• anos de vida perdidos devido à
de orientar estratégias de morte prematura (YLL - Years of
proteção da saúde. Life Lost)
• anos de vida vividos com
incapacidade (YLD - Years Lived
with Disability).
SUMÁRIO 19
8
Há cem anos, os cientistas teriam Em meados da década de 1980, os mudanças comportamentais baseadas
ficado incrédulos diante da idéia governos reconheceram o perigo na cultura levaram a uma exposição
de que, no final do século XX, emergente representado pela maior aos UVR, por meio de banhos
a humanidade estaria afetando destruição do ozônio. O Protocolo de sol e bronzeamento de pele. O
do ozônio
ozônio estratosférico pelo homem a eliminação gradual dos principais décadas reflete, predominantemente,
começou recentemente – após oito gases responsáveis pela destruição a combinação da procedência,
mil gerações de Homo sapiens. do ozônio. O protocolo se tornou das migrações posteriores, de
estratosférico, O ozônio estratosférico absorve
mais rígido na década de 1990. Os
cientistas prevêem uma recuperação
vulnerabilidade geográfica e
comportamentos modernos.
radiação muito da radiação solar ultravioleta
(UVR), especialmente os UVR
lenta, mas quase completa, do ozônio
estratosférico em meados do século Tabela 8.1 Resumo dos possíveis efeitos
Os cientistas esperam que o efeito Estudos de laboratório demonstram Finalmente, há uma dimensão
combinado da destruição recente que a exposição aos UVR, em ecológica, mais ampla, a ser
do ozônio estratosférico e sua particular os UVB, causa a considerada. A radiação ultravioleta
continuidade nas próximas 1–2 opacificação das lentes em várias prejudica a química molecular
décadas (por meio do acúmulo de espécies de mamíferos. As evidências da fotossíntese tanto na terra
exposição adicional aos UVB), resulte epidemiológicas do papel dos UVR (plantas terrestres) como no mar
em um aumento da incidência de na opacidade das lentes humanas (fitoplâncton), o que poderia afetar
câncer de pele em populações de são controversas. A catarata é mais a produção mundial de alimentos,
pele clara que vivem em latitudes comum em alguns (mas nem todos pelo menos marginalmente e,
médias a altas.3 A modelagem do os) países com altos níveis de UVR. assim, contribuir para problemas
estudo de níveis futuros de ozônio nutricionais e de saúde em populações
e exposições a UVR estimou que, Em humanos e animais de que sofrem de insegurança alimentar.
como conseqüência, uma população laboratório, a exposição aos No entanto, até agora há pouca
“européia” que vive cerca de 45 UVR, inclusive na faixa ambiental informação sobre essa via de impacto
graus ao norte sofrerá, até 2050, um do meio em que se vive, causa menos direta.
aumento de cerca de 5% na incidência imunossupressão tanto localizada
total de câncer de pele (presumindo- como do corpo todo.4 A Conclusão
se, conservadoramente, que não imunossupressão induzida pelos Incentivar que se evite totalmente o
haverá mudanças na distribuição UVR poderia influenciar não apenas sol (com base no conceito de radiação
etária). A estimativa equivalente padrões de doenças infecciosas, solar como exposição “tóxica”) é uma
para a população dos EUA é de um como também a ocorrência de várias resposta simplista para os perigos
aumento de 10% na incidência de doenças auto-imunes e, menos da exposição crescente aos UVR no
câncer de pele até por volta de 2050. certamente, a eficácia das vacinas.5 nível do solo, devido à destruição
SUMÁRIO 21
9
A avaliação de impacto na saúde (AIS) Vários tipos de avaliações nacionais de subnacionais ou locais de potenciais
foi definida como “uma combinação de impacto na saúde já foram realizados. impactos na saúde podem ter sido
procedimentos, métodos e ferramentas Uma avaliação básica identifica os realizadas em relação à mudança
através dos quais se possibilita julgar tipos, mas não muito a magnitude, climática, mas, caso haja, tais estudos
nacionais
saúde da população, e a distribuição fundamentadas e bem apoiadas, são Os resultados listados referem-se
desses efeitos na população”.1 Apesar também realizadas. Por exemplo, aos prováveis impactos na saúde
dos recentes avanços nos métodos na avaliação dos Estados Unidos, reportados para aquele país específico.
dos impactos de avaliação de impacto na saúde,
falta ainda integrá-la de maneira mais
publicada em 2000, a saúde da
população foi um dos cinco setores-
O nível de incerteza que acompanha
essas estimativas em geral não é
da mudança satisfatória na corrente de formulação
de políticas. Além disso, as avaliações
alvo incluídos nas 16 avaliações
regionais detalhadas e na avaliação
descrito. Doenças transmitidas por
vetores, em particular a malária,
de obesidade, ou envelhecimento da comparativos de duas avaliações Várias conclusões podem ser tiradas
Estimativas, ainda que população), e não o período de 50 nacionais são mostradas no quadro. dessas experiências:
a 100 anos, que é mais adequado
aproximadas, dos impactos
para projeções de mudança climática. Vários países, incluindo os Estados • As avaliações devem ser conduzidas
potenciais da mudança Assim, é preciso realizar avaliações Unidos, o Canadá, o Reino Unido em conformidade com as
climática na saúde são de impacto baseadas em cenários que e Portugal, realizaram abrangentes prioridades da região ou do país
um insumo essencial para incorporem, e comuniquem um nível impactos multi-setoriais. Avaliações para determinar quais impactos
mais alto de incerteza. Os passos da em países em desenvolvimento foram na saúde devam ser considerados.
as discussões de políticas
avaliação de impacto e adaptação da realizadas apenas sob os auspícios de Nenhum conjunto único de
sobre a redução de gases de mudança climática estão demonstrados iniciativas de capacitação financiadas diretrizes cobre todas as situações
efeito estufa e a adaptação na figura 9.1.2 por doadores. (Outras avaliações de saúde e institucionais.
social à mudança climática. • O HIA é uma ferramenta de
As sociedades precisam Figura 9.1 Passos na avaliação do impacto da mudança climática e adaptação políticas, portanto o próprio
processo de realizar avaliações, e em
agir apesar das inevitáveis Cenários Impactos particular a participação das partes
incertezas. De fato, os interessadas, é muito importante
Cenário Agricultura
governos nacionais têm a de Clima • As avaliações devem definir uma
responsabilidade, conforme Áreas pesqueiras agenda para pesquisas futuras.
Cenário Quase todas as avaliações realizadas
a Convenção Quadro das sócio-econômico Silvicultura até hoje identificaram lacunas
Nações Unidas sobre a Avaliações
nas pesquisas, e frequentemente
Zonas costeiras regionais
Mudança do Clima (1992), de especificam perguntas detalhadas
realizar avaliações formais do Indústria para pesquisas.
risco causado pela mudança
• energia • As avaliações devem estar vinculadas
• turismo
• seguro a atividades de acompanhamento,
climática global à saúde de sua como monitoramento e relatórios
população. Saúde humana atualizados.
SUMÁRIO 23
10
É preciso ter bons dados para verões quentes, indica o potencial de Princípios Gerais
produzir uma boa base. O clima aumento de mortalidade relacionado Os critérios principais para
varia naturalmente, e também em à mudança climática, mas não selecionar doenças e contextos para
resposta às influências humanas. Por prova que a mortalidade tenha de o monitoramento devem incluir os
os efeitos
da população. Portanto, existem seria necessário obter evidências da – a ser demonstrado pelos efeitos
desafios na avaliação dos impactos mudança nas condições climáticas de na saúde observados a partir da
da mudança climática na saúde. ‘linha base’ – i.e. que a seqüência de variação climática temporal ou
da mudança Além disso, o processo de mudança
climática só é detectável ao longo
verões quentes foi excepcional e em
decorrência da mudança climática, e
geográfica, ou pela evidência de
efeitos climáticos nos componentes
climática na de décadas e, da mesma forma, os
impactos resultantes na saúde surgem
não por uma variação aleatória. do processo de transmissão da
doença em campo ou laboratório.
SUMÁRIO 25
11
O IPCC definiu os seguintes dois e suas conseqüências ambientais, em saúde pública, sistemas de
termos intimamente relacionados:1 (ii) a sensibilidade da população à vigilância e resposta a emergências
exposição e (iii) a capacidade dos mais efetivos, e programas
Adaptação: Ajuste nos sistemas sistemas e populações afetados de sustentáveis de prevenção e controle.
capacidade
esperados, ou seus efeitos, que tomadas as decisões sobre adaptação, razão de diferenças na capacidade
restringe os danos ou explora as incluindo os papeis de indivíduos, da população alvo de lidar com a
oportunidades benéficas. comunidades, nações, instituições e situação. Por exemplo, estima-se
de adaptação, Capacidade de adaptação: A
do setor privado. que os ciclones em Bangladesh em
1970 e 1991 causaram 300.000 e
para diminuir capacidade de um sistema de adaptar-
se à mudança climática (incluindo
Adaptação e prevenção. Muitas
medidas de adaptação têm benefícios
139.000 mortes, respectivamente.2
Em contraste, o Furacão Katrina
SUMÁRIO 27
12
Para tomar decisões informadas sobre concorrentes das partes interessadas O princípio da precaução permite
mudanças climáticas, os formuladores impactam a alocação de recursos que alguns riscos sejam considerados
de políticas precisarão de informações escassos. A mudança climática deve, inaceitáveis pois embora não tenham
oportunas e úteis sobre as possíveis portanto, ser vista como parte de um uma alta probabilidade de ocorrer,
à política:
a essas conseqüências, opções irreversíveis. Esse princípio foi
disponíveis de adaptação, e os Usando as informações fornecidas destacado na Declaração do Rio sobre
benefícios resultantes da diminuição pela comunidade de pesquisa, os o Meio Ambiente e Desenvolvimento
desenvolvendo da taxa da mudança climática.1 O
desafio para os pesquisadores é
gestores de risco devem tomar
decisões apesar da existência de
de 1992 como o Princípio 15,
determinando: “Quando houver
respostas para fornecer essas informações. incertezas científicas. Avaliações
focadas em políticas analisam as
ameaça de danos graves ou
irreversíveis, a ausência de certeza
SUMÁRIO 29
13
A mudança climática, como todas com mudanças na precipitação a contribuição da variabilidade
as mudanças ambientais de grande e outras variáveis climáticas. As climática no curto prazo para a
escala induzidas pelo homem, gera necessidades de pesquisa incluem incidência de doenças; sobre o
riscos para os ecossistemas, suas o desenvolvimento de abordagens desenvolvimento de sistemas de
Recomendações
3
. A OMS, a OMM e a UNEP a determinação de conjuntos extremos; e sobre a compreensão
colaboram em questões relacionadas à de dados de longo prazo para de como os eventos extremos
mudança climática e saúde, incluindo responder a questões-chave; e recorrentes podem enfraquecer a
para ação capacitação, troca de informações e
promoção de pesquisas.
uma melhor compreensão de
como incorporar os resultados de
capacidade de adaptação.
• Desafios para os cientistas. A
modelos gerais de circulação de mudança climática traz alguns
A sustentabilidade é, em Recomendações mudança climática nos estudos de desafios especiais, incluindo
essência, a manutenção dos • O Quarto Relatório de Avaliação saúde humana. a complexidade do processo
sistemas ecológicos e de do IPCC projetou que, se • Alcançar um consenso na ciência. causal, as incertezas inevitáveis,
outros sistemas biofísicos que continuarmos a mudar a Há cada vez mais evidências e o deslocamento temporal de
composição atmosférica, a de que a saúde humana é e impactos antecipados no futuro.
sustentam a vida na Terra. Se
temperatura média da superfície da será crescentemente afetada de Alguns tópicos-chave de pesquisa
esses sistemas se deterioram, terra subirá de 1,8 a 4,0ºC (melhor muitas e diversas formas. Ainda é a serem contemplados incluem
o bem-estar e a saúde da estimativa) neste século, em limitado o conhecimento em várias a identificação dos efeitos atuais
população humana serão relação a 1980-1999, juntamente áreas, como por exemplo sobre da mudança climática na saúde
humana; a obtenção de melhores
prejudicados. A tecnologia Figura 13.1. Mudança climática e saúde: o percurso, a partir das forças motrizes, estimativas dos impactos futuros;
pode ajudar a ganhar passando pela exposição aos potenciais impactos na saúde. As setas abaixo do item
e uma melhor expressão das
‘necessidades de pesquisa’ representam os dados necessários para o setor de saúde.
tempo, mas a contabilidade (Modificado da referência 4) incertezas associadas aos estudos de
final da natureza não pode mudança climática e saúde.
ser evadida. Precisamos Capacidade Modulando Efeitos na saúde • Eventos climáticos extremos. O
de adaptação as influências
Doenças e mortes
Quarto Relatório de Avaliação
viver dentro dos limites da relacionadas à
temperatura
do IPCC projetou mudanças nos
Terra. O estado da saúde Capacidade
de mitigação
Efeitos na saúde
relacionados eventos eventos climáticos extremos que
climáticos extremos
da população humana é, Mudanças Caminhos de incluem mais dias quentes e ondas
climáticas contaminação Efeitos na saúde
portanto, uma consideração regionais por micróbios relacionados com a de calor, com maior intensidade;
poluição do ar
Medidas eventos de precipitação mais
essencial na transição para a Forças de mitigação
• ondas de Dinâmica de Doenças transmitidas
motrizes
calor transmissão por alimentos e pela intensos; maior risco de seca;
sustentabilidade.1 Dinâmica
• clima
água
aumento nos ventos e ciclones
Emissão de MUDANÇA extremo Agrosistemas, Doenças transmitidas
populacional gases de CLIMÁTICA hidrologia por vetores e tropicais (em algumas áreas);
efeito estufa • temperatura roedores
Desenvolvimento
econômico Sócio-economia, Efeitos da escassez
intensificação das secas e enchentes
insustentável demografia de alimentos e água com eventos do El Niño; e maior
Efeitos mentais,
nutricionais,
variabilidade nas monções do verão
infecciosos e outros
na saúde asiático. As lacunas na pesquisa
Medidas de
Causas adaptação a serem contempladas incluem a
Naturais específicas à saúde
realização de mais modelagens das
Necessidades relações entre eventos extremos e
de pesquisa Avaliação
da adaptação
impactos na saúde; uma melhor
compreensão dos fatos que afetam
SUMÁRIO 31
adaptação: ajuste no sistema natural ou em refrigeradores, ar condicionados, todas as escalas temporais e espaciais.
humano a um ambiente novo ou em empacotamento, isolamento, solventes além daquelas de eventos climáticos
processo de mudança. A adaptação à ou propulsores aerossóis. Todos estão individuais. A variabilidade pode ser
mudança climática refere-se ao ajuste cobertos pelo Protocolo de Montreal resultado de processos internos dentro
na resposta a estímulos climáticos de 1987. Por não serem destruídos do sistema climático ou de variações
Glossário
reais ou esperados ou a seus efeitos, na camada inferior da atmosfera, os nas forças naturais ou antropogências
o que modera danos ou explora as CFCs sobem para a camada superior externas.
oportunidades benéficas. Podem-se da atmosfera onde, dadas as condições Anos de Vida Perdidos Ajustados
distinguir vários tipos de adaptação, adequadas, destroem o ozônio. Esses pela Incapacidade (DALY): um
incluindo a adaptação preventiva e a gases estão sendo substituídos por indicador da expectativa de vida, que
adaptação reativa, a adaptação pública outros componentes, incluindo os reune mortalidade e morbidade em
e privada, e a adaptação autônoma e hidroclorofluorcarbonos, cobertos uma medida resumida da saúde da
planejada. pelo Protocolo de Kyoto. população, para refletir o número de
emissões antropogênicas: emissão clima: geralmente definido como anos de vida perdidos em condição de
de gases de efeito estufa e aerossóis a média da temperatura ou mais saúde inferior à ótima. É uma medida
associados com atividades humanas. estritamente como a descrição de saúde desenvolvida para calcular a
Esses incluem a queima de estatística em termos da média e carga global de doença, que também é
combustível fóssil para obtenção de variabilidade de quantidades relevantes usada pela OMS, pelo Banco Mundial
energia, o desmatamento e mudanças ao longo de um período de tempo, e por outras organizações para
no uso da terra que resultam no que varia de meses a milhares ou comparar os resultados de diferentes
aumento líquido das emissões. milhões de anos. O período clássico intervenções.
atmosfera: a camada gasosa que rodeia é de 30 anos, conforme definido pela Oscilação Sul-El Niño: O El Niño, em
a Terra. A atmosfera seca consiste OMM. Essas quantidades relevantes seu sentido original, é uma corrente
quase inteiramente de nitrogênio são mais freqüentemente variáveis de água quente que periodicamente
e oxigênio, junto com vários gases de superfície, como temperatura, corre ao longo da costa do Equador
traço, como argônio, hélio e os gases precipitação e vento. e do Peru. Esse evento é associado
de efeito estufa radiativamente ativos, mudança climática: refere-se a uma com uma flutuação dos padrões na
como dióxido de carbono e ozônio. variação estatisticamente significante, pressão de superfície intertrópica e
A atmosfera contém, ainda, vapor da ou no estado médio do clima ou em na circulação dos Oceanos Índico
água, nuvens, e aerossóis. sua variabilidade, que persiste por um e Pacífico, chamada Oscilação Sul.
biosfera: a parte do sistema terrestre período longo (em geral por décadas Esse fenômeno atmosférico-oceânico
que engloba todos os ecossistemas e ou mais). A mudança climática conjunto é conhecido coletivamente
organismos vivos na atmosfera, sobre pode ser resultado de processos como Oscilação Sul-El Niño ou
a terra (biosfera terrestre) ou nos internos naturais ou forças externas, ENSO. Durante o evento El Niño,
oceanos (biosfera marinha), incluindo ou de mudanças antropogências os ventos alísios perdem força e a
a matéria orgânica morta derivada, persistentes na composição da corrente equatorial contrária ganha
como restos, matéria orgânica do solo atmosfera. A CQNUMC define força, causando, portanto que as
e detritos oceânicos. a mudança climática como ‘uma águas quentes da superfície na área
dióxido de carbono (CO2): um gás mudança no clima que seja atribuída da Indonésia corram para o leste
de ocorrência natural bem como direta ou indiretamente à atividade e se encontrem com as águas frias
um produto derivado da queimada humana que altera a composição da da corrente peruana. Esse evento
de combustíveis fósseis e mudanças atmosfera global e que existe além tem grande impacto no vento, na
no uso da terra e outros processos da variabilidade natural do clima, temperatura de superfície do mar,
industriais. É o principal gás de efeito observada ao longo de períodos de e nos padrões de precipitação no
estufa que afeta o equilíbrio radiativo tempo comparáveis. Ver também Pacífico tropical, e gera efeitos
da Terra e o gás de referência contra variabilidade climática. climáticos em toda a região do
o qual os outros gases de efeito estufa variabilidade climática: variações no Pacífico e em muitas outras partes do
são medidos. estado médio e em outras estatísticas mundo. O oposto do evento El Niño
clorofluorcarbonos (CFCs): gases (e.g. desvios-padrão, a ocorrência de chama-se La Niña.
de efeito estufa que são utilizados eventos extremos etc) do clima em efeito estufa: os gases de efeito estufa
SUMÁRIO 33
4
Watson, R.T. et al. (eds.) The Regional
Capítulo 1 Impacts of Climate Change. An assessment Capítulo 6
1
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Environmental Health Perspectives,108(4):
367–76 (2000). 2
IARC. Solar and Ultraviolet Radiation. IARC
Monographs on the Evaluation of Carcinogenic
SUMÁRIO 35
Versão revisada: Kristie Ebi
OMM
OMM - Organização Metereológica Mundial
7 bis Abenue de la Paix
CH–1211 Geneva 2, Switzerland
Tel: (+41) 22 730 81 11
Fax: (+41) 22 730 81 81
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PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio
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37
Fax: (+254–2) 623861 Para mais informações, favor visitar http://www.who.int/peh
SUMÁRIO
Mudança Climática e Saúde Humana – Riscos e Respostas
Mudança Climática e Saúde Humana – Riscos e Respostas
SUMÁRIO REVISADO 2008
S U M Á R I O REVISADO 2008
ISBN 978-85-87943-91-0