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Em emissão de dívida verde, Camil tenta


impor ‘greenium’ — mas não consegue
Parte da emissão de R$ 650 milhões, coordenada pelo BTG, teve selo verde e houve tentativa

de pagar taxa menor aos investidores nesta tranche


Por Vanessa Adachi


10 de novembro de 2021

(Atualizado às 10h para corrigir o valor total da emissão para R$ 650 milhões, e não R$ 800
milhões)

Não é de hoje que mercado e academia caçam evidências de que dívidas com características
ESG trazem um prêmio verde às empresas que estão captando recursos com este selo, o
chamado ‘greenium’. Ou seja, que as taxas de juros pagas aos investidores podem ser menores
do que em dívidas sem este componente.

Empresas como a brasileira Suzano, de papel e celulose, já conseguiram demonstrar a


existência do greenium, mas o assunto está longe de estar pacificado.

Numa emissão de dívida verde no mercado local, a Camil Alimentos tentou testar os limites
dessa tese.

Leia mais
O que são os green bonds? O ABC da dívida ESG

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Dívida ESG sai mais barato? O que as emissões recentes mostram sobre o ‘greenium’

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A produtora de arroz colocou na rua uma emissão de debêntures para captar R$ 650 milhões,
com duas séries, ambas com prazo de pagamento de sete anos.

A única diferença entre as duas séries é que uma, de R$ 150 milhões, era um ‘green bond’, e a
outra, de R$ 500 milhões, era uma debênture tradicional.

Num desenho inédito, a empresa e seu assessor financeiro, o BTG Pactual, tentaram impor um
greenium logo na largada da operação. Na série verde, a companhia se propunha a pagar taxa
máxima de CDI mais 1,70% ao ano, inferior ao juro de CDI mais 1,73% ao ano que estava
disposta a pagar na dívida sem o selo.

“Foi como se o acionista indicasse que só aceita gerar externalidade ambiental positiva se
fosse subsidiado pelo credor. Não faz sentido”, diz um gestor que analisou as condições da
oferta.

Na avaliação de um investidor e um analista, o mais lógico seria a companhia sair com taxas
idênticas e esperar a eventual definição do ‘greenium’ pelo mercado. Ou seja, se houvesse
maior demanda pelo título com selo verde, naturalmente a taxa cairia mais no processo de
coleta de propostas dos investidores (conhecido como bookbuilng).

Mas, ao fim e ao cabo, os investidores pagaram a mesma taxa nas duas séries: CDI mais 1,55%
ao ano. Ou seja, nada de ‘greenium’ forçado ou espontâneo. Na prática, a taxa da debênture
tradicional até caiu mais em relação à pretensão inicial, indicando demanda mais forte pelo
papel.

A operação foi fechada na segunda-feira e, segundo informações de mercado, a demanda total


foi de R$ 1,2 bi, sendo R$ 240 milhões na série verde (ou 1,6 vez) e R$ 960 milhões na segunda
(1,9 vez).

As debêntures foram vendidas em oferta pública com esforços restritos para investidores
profissionais (com ao menos R$ 10 milhões aplicados), com 21 compradores nas duas séries.

Em cima da hora
Enquanto os recursos da série tradicional irão todos para capital de giro, o dinheiro do green
bond será destinado a financiar a implantação de uma usina de geração de energia térmica
(vapor) e elétrica a partir da palha do arroz (biomassa), da fábrica da unidade de Cambaí da
Camil, no município de Itaqui (RS). A usina será construída pela Veolia.

Além de gerar energia limpa para a empresa, o aproveitamento da palha também reduzirá a
quantidade de resíduos que a empresa tem que destinar no pós-produção.

A emissão contou com selo verde dado pela consultoria Sitawi, que emitiu um parecer
independente, atestando que a dívida está de acordo com os Green Bond Principles, as
normas de autorregulação que balizam essas emissões.

Como tem se tornado uma prática no mercado, o parecer saiu praticamente no dia do
fechamento do livro de ofertas, mal dando tempo para que investidores interessados na série
verde pudessem avaliar o material.

Uma outra oferta ESG na praça, do frigorífico JBS, também ainda não conta com parecer
independente e a companhia indicou como prazo máximo para divulgação a véspera do
fechamento da operação. Essa demora tem gerado críticas de investidores.

À debênture da Camil, a Sitawi deu nota máxima no quesito ‘uso dos recursos’, avaliando
positivamente a adequação do projeto, mas fez uma ressalva de que 3% do volume captado
será destinado a reembolso de despesas já realizadas.

Embora avalie positivamente a política de sustentabilidade da empresa, a consultoria também


chamou a atenção para algumas controvérsias ambientais e sociais em que a Camil esteve
envolvida, como ocupação irregular de uma área de preservação ambiental permanente e
acidentes com colaboradores.
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