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IESUS

Mudanças Globais e Desenvolvimento: Importância


para a Saúde
Global Changes and Development: Health Importance
Ulisses E. C. Confalonieri
Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ
Márcia Chame
Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ
Alberto Najar
Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ
Sérgio A. de Miranda Chaves
Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ

Thelma Krug
Instituto de Pesquisas Espaciais
Carlos Nobre
Instituto de Pesquisas Espaciais
José D. G. Miguez
Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ

Judith Cortesão
Fundação Universidade Federal do Rio Grande
Sandra Hacon
Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ
Resumo
Neste artigo busca-se inventariar o estado atual das inter-relações entre mudanças ambientais globais e
saúde, incluindo uma revisão do estado atual das ameaças de origem antrópica sobre a biodiversidade,
trazendo o enfoque ecossistêmico como linha de pesquisa para a melhoria da qualidade de vida. Os
processos de mudanças ambientais globais afetam a saúde humana, direta ou indiretamente, pontual ou
regionalmente. Alterações na química da atmosfera, mudanças climáticas, degradação do solo, perda da
biodiversidade, urbanização e grandes empreendimentos, escassez de água e poluições químicas de
âmbito global podem ter conseqüências severas para o bem-estar humano, saúde e sobrevivência. A
importância dessas mudanças para a saúde humana dependerá de quanto as populações são ou podem
ser afetadas no futuro, do grau e amplitude dos impactos e das possibilidades de adaptações biológicas
e das formas de mitigação e controle disponíveis. Vários programas têm sido desenvolvidos em todo o
mundo, mas é preciso avançar em modelos conceituais, incluir as questões das mudanças ambientais
globais na agenda científica e institucional brasileira, buscar modelos de desenvolvimento sustentável,
criar mecanismos que interrompam a perda da biodiversidade, minimizar o uso de poluentes e sensibilizar
as pessoas para o possível esgotamento dos recursos naturais renováveis.
Palavras-Chave
Ecossistema de Saúde; Riscos Ambientais; Saúde Humana; Brasil.
Summary
In this article we intended to survey the current state of relationships between global environmental
changes and health. It includes a revision of the current state of threats of anthropic origin on biodiversity,
bringing an ecosystem approach as a field of research for the improvement of quality of life. Global
environmental changes affect human health directly or indirectly, locally or regionally. Alterations in the
chemistry of the atmosphere, climate changes, soil degradation, loss of biodiversity, urbanization and
major development sites, shortage of water and chemical pollutants constitute driving forces that can
have severe consequences for human well-being and health as well as, its survival. The importance of
these changes for human health will depend on how populations may be affected in the future, the severity
and magnitude of the impact, the possibility of biological adaptations, and the availability of strategies to
mitigate and control. Several programs have been developed around the world. However, the Brazilian
scientific and institutional agenda needs to move forward in conceptual models that include aspects
related to global environmental changes, searching for models of sustainable development, and creating
mechanisms that interrupt the loss of biodiversity, minimize the use of pollutants, establish awareness
programs concerning the exhaustion of renewable natural resources.
Key Words
Global Changes; Ecosystem Health; Environmental Health Risks; Human Health; Brazil.

Endereço para correspondência: Av. Brasil, 4.036/sala 703 - Manguinhos - Rio de Janeiro/RJ. CEP:
21.040-361.
E-mail: pmags@ensp.fiocruz.br
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Informe Epidemiológico do SUS 2002; 11(3) : 139 - 154.
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Introdução por valores culturais dominantes, de


As mudanças ambientais globais, caráter antropocêntrico; b) inovações
constituem importante questão socioam- tecnológicas que têm ensejado maior
biental graças à complexidade dos eficácia na extração e processamento de
processos nelas envolvidos, bem como à recursos do meio e distribuição de bens;
magnitude dos impactos delas decor- c) crescimento econômico que enseja a
rentes. Têm sido definidas como aquelas disponibilidade de renda para aquisição de
que: “(...) alteram os envoltórios do bens; d) crescimento populacional
Sistema Terrestre e, dessa forma, são contínuo, aumentando as demandas de
experimentadas globalmente (...) e consumo; e e) empobrecimento, resultan-
aquelas que ocorrem em áreas mais res- do em ações predatórias sobre o meio
tritas mas, por serem muito difundidas, ambiente, na busca pela sobrevivência.
adquirem caráter global”. 1 Outros Atuando isolada ou conjuntamente,
conceitos importantes são: “(...) aquelas esses elementos têm contribuído, por
que ocorrem a nível global e afetam o meio das atividades econômicas da
sistema global como um todo e as que sociedade, para a depressão de recursos
ocorrem a nível local ou regional, mas naturais, destruição de habitats, eco-
têm conseqüências para o sistema simplificação e despejo de resíduos em
global”. 2 Ou ainda “(...) aquelas que escala sem precedentes.
podem alterar a capacidade da Terra de Um modelo conceitual importante
sustentar a vida”.3 para o entendimento da ação das forças
Como os demais processos de propulsoras das mudanças ambientais e
mudanças ambientais, as mudanças globais e suas implicações para a saúde
ambientais globais têm como forças pode ser obtido de um fluxograma
propulsoras subjacentes (driving forces), determinante (Figura 1). As “pressões”,
processos socioeconômicos e culturais no modelo, também denominadas de
que, conjuntamente, têm imposto pesadas “fontes imediatas” (proximate sources) ou
demandas sobre os recursos naturais, “fontes materiais”, são as atividades
sobre os ciclos da biosfera e o meio físico humanas que afetam diretamente o meio
em geral. Esses processos envolvem os ambiente, tais como o desmatamento, a
seguintes fatores principais: a) demanda queima de combustíveis fósseis e as
de consumo de bens materiais, motivada práticas agropecuárias. Por “estado

Forças propulsoras das mudanças ambientais

Pressão antrópica

Estado (situação) ambiental

Geração de fatores de perigo

Exposição a fatores de perigo

Agravos à saúde

Figura 1 - Forças propulsoras das Mudanças Ambientais Globais e suas implicações para saúde

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ambiental”, designam-se as situações elas são influenciadas pelas ações hu-


concretas de degradação ambiental, tais manas”; o Programa Internacional de
como a perda de biodiversidade, as Dimensões Humanas, voltado para os
diversas formas de poluição, a perda de aspectos sociopolíticos, econômicos e
solos cultiváveis, o esgotamento dos culturais das mudanças globais, sediado
estoques de água. As etapas subseqüentes na Alemanha; e o plano de trabalho deste
representadas do modelo dizem respeito Programa Internacional, que sugeriu seis
à abordagem tradicional da epidemiologia temas amplos de pesquisa a serem adotados
ambiental no estudo das influências dos pela comunidade internacional: a) mudan-
fatores do meio sobre a saúde humana. ças no uso e cobertura da Terra, b) trans-
Neste artigo, busca-se inventariar o formação industrial e uso da energia, c)
estado atual das inter-relações entre dimensões sociais e demográficas do uso
mudanças ambientais globais e saúde, de recursos, d) atitudes públicas, conhe-
incluindo uma revisão do estado atual das cimentos, comportamentos e percepções,
ameaças de origem antrópica sobre a e) instituições, e f) segurança ambiental e
biodiversidade e trazendo o enfoque desenvolvimento sustentável, incluindo as
ecosistêmico como linha de pesquisa para relações entre as mudanças globais e a Saúde
a melhoria da qualidade de vida. Pública.
Outros programas internacionais
Aspectos institucionais específicos são o The Global Change
Vários países estabeleceram, no System for Analysis, Research and
início dos anos 90, programas nacionais Training, voltado para o desenvolvimento
de mudanças globais. Esse foi o caso dos de redes regionais de cooperação entre
Estados Unidos da América, Inglaterra, cientistas e instituições para pesquisas em
Canadá, Holanda e Alemanha. O Brasil mudanças globais; o Painel Intergover-
possui um programa de mudanças globais namental de Mudanças Climáticas; e o
coordenado pela Academia Brasileira de Consortium for Earth Science Informa-
Ciências. O Ministério da Ciência e da tion Network, que constitui uma base de
Tecnologia possui uma Coordenação de dados mundial sobre as interações
Pesquisas em Mudanças Globais. humanas com o meio ambiente.
A importância de investimentos em O International Geosphere-Bios-
pesquisas na área de Mudanças Am- phere Program agrega vários projetos que
bientais Globais pode ser aquilatada com visam ao entendimento das mudanças
o exemplo norte-americano. Em 1996, a globais e suas conseqüências; os seus
dotação orçamentária governamental, projetos principais (ou core projects) são
para esse fim, chegou a 1,2 bilhão de o Global Change and Terrestrial Eco-
dólares, superior mesmo à do Instituto systems e o Land Use and Land Cover
Nacional do Câncer dos Estados Unidos Changes.
da América. 4 Para o ano fiscal de 2000, Como um esforço conjunto de
essa dotação chegou a 1.779 bilhões.5 coordenação de pesquisa, associam-se o
Existem vários programas ou International Geosphere-Biosphere
agências internacionais envolvidas com as Program, o International Human
mudanças ambientais globais, tais como: Dimensions Program e o World Climate
o International Geosphere-Biosphere Research Programme. Essa combinação
Program, criado em 1986, com o objetivo visa atender aos três grandes aspectos
de “descrever e compreender a interação temáticos das mudanças ambientais
dos processos físicos, químicos e bioló- globais: os “sistemas biogeoquímicos”, o
gicos que regulam o sistema terrestre “sistema climático físico” e as “atividades
como um todo, o ambiente único que este humanas”.
proporciona para o sustento da vida, as Como instituição dedicada ao fo-
mudanças que estão ocorrendo neste mento de pesquisas nos diversos aspectos
sistema, e as formas por meio das quais das mudanças globais, está o Inter-

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american Institute for Global Change Mais recentemente, estabelece-


Research, com sede em São José dos ram- se negociações supranacionais,
Campos, São Paulo, com financiamento visando ao controle da produção e uso
oriundo, principalmente, da National dos poluentes orgânicos persistentes. Um
Science Foundation, dos Estados Unidos acordo preliminar foi realizado (setembro
da América. O International Institute for de 1999) entre negociadores de 115
Applied System Analysis, com base em países que concordaram em eliminar 8
Viena, também tem-se destacado como das 12 substâncias identificadas como
instituição voltada para pesquisas em problemas pela Organização das Nações
mudanças ambientais globais. Unidas.
Há grandes projetos com focos
regionais que buscam compreender os A situação brasileira
processos das mudanças globais em Nos complexos processos das
regiões específicas. Esse é o caso do mudanças globais, o Brasil tem um papel
projeto internacional Experimento de relevante no contexto internacional. Para
Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na isso, contribuem vários aspectos: a) a
Amazônia, em execução no Brasil, sob a grande extensão territorial, a pluralidade
coordenação do Centro de Previsão de de ecossistemas naturais e as formas
Tempo e Estudos Climáticos do Instituto predominantes de uso da terra; b) a
Nacional de Pesquisas Espaciais. economia e as políticas setoriais baseadas
Outro projeto é o que visa ao levan- em estratégias específicas de uso da
tamento da interferência humana sobre energia; c) a dimensão dos parques
a floresta amazônica, que realiza ava- industrial e agroindustrial e os grandes
liações anuais das alterações da cobertura projetos de desenvolvimento; e d) a si-
vegetal da Amazônia Brasileira, também tuação demográfica e econômica que
coordenado pelo Instituto Nacional de implica pesadas demandas sobre os
Pesquisas Espaciais (Coordenação de recursos do meio ambiente.
Observação da Terra). Dada a predominância da hidreletri-
No que tange aos esforços inter- cidade, o país apresenta uma matriz
nacionais para monitoramento e efetivo energética limpa. No entanto, devido à
controle dos impactos gerados pelas eliminação e à degradação da vegetação
atividades humanas no meio ambiente natural, o país situa-se na condição de
global, embora existissem alguns esfor- um dos maiores emissores de gases do
ços anteriores a 1992 (como foi o caso efeito estufa (principalmente o gás
do Protocolo de Montreal, de 1987, para carbônico) do planeta, bem como de
a proteção da camada de ozônio estra- poluentes persistentes. Por outro lado,
tosférico), foi a partir da Conferência da possui uma enorme reserva estratégica
Organização das Nações Unidas para o de biodiversidade, albergando cerca de
Meio Ambiente e o Desenvolvimento, em 41% das florestas tropicais remanes-
1992, que passos importantes foram centes no mundo e 28% das espécies do
dados nesse sentido. A partir deste planeta.6
evento, realizado no Rio de Janeiro,
elaboraram-se e colocaram-se em vigor Muito embora os fatores determi-
a Convenção-Quadro sobre Mudanças nantes, bem como as conseqüências das
Climáticas e a Convenção sobre a mudanças globais no Brasil venham a ser
Diversidade Biológica, visando-se aos eventualmente sentidas em todo o
compromissos, entre os países signa- território, é na região amazônica que se
tários de reorientações de suas políticas podem discernir, de forma mais clara,
nacionais para atender às metas de esses processos. É nessa região que se
redução das emissões de gases do efeito concentra a maior parte da biodiversidade
estufa, no primeiro caso, e da perda da e também onde ocorrem anualmente as
biodiversidade (variedades genéticas, maiores alterações da cobertura vegetal,
espécies e ecossistemas), no segundo. com os desmatamentos e queimadas,

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responsáveis por boa parte das emissões à variabilidade intra-sazonal e interanual


antrópicas de dióxido de carbono, a nível do clima comumente são causados pela
nacional. instabilidade da interação bidirecional dos
Tem também grande impacto, nessa oceanos tropicais com a atmosfera global.
região, os megaprojetos de desenvol- Nesse caso, encontram-se as interações
vimento, quer sejam eles industriais, do Oceano Pacífico Tropical com a
agroindustriais, de geração de infra-es- atmosfera, conhecidas como fenômeno
trutura ou geopolíticos. Os exemplos El Niño-Oscilação Sul que, na fase de
mais críticos são: o Projeto Ferro Carajás, águas mais quentes, El Niño (mais frias,
a abertura de estradas tais como a La Niña), provoca secas (chuvas abun-
Transamazônica, a Cuiabá-Porto Velho, dantes) na Amazônia e no norte da Região
a Belém-Brasília e a Perimetral Norte; o Nordeste e excesso de chuvas (seca) no
Pólo de Urucum, de gás natural, no extremo Sul. O forte acoplamento
Amazonas; o projeto Jari, celulose; as também do Oceano Atlântico, Tropical e
barragens hidroelétricas de Tucuruí, a atmosfera causam variações climáticas
Balbina e Samuel; a mineração de Serra extremas no norte e leste do Nordeste,
Pelada, entre outros. Amazônia e possivelmente em outras
partes do país. Discutem-se as possíveis
Fora da Amazônia devemos citar a
relações entre as alterações observadas
combinação de fatores - com ênfase nas
recentemente na periodicidade e inten-
práticas agrícolas - causadoras de perda
sidade de episódios El Niño e La Niña
do solo e desertificação, no extremo Sul
no Oceano Pacífico - predominância de
e em partes da Região Nordeste. São
episódios quentes - com o aquecimento
importantes também os projetos de larga
global. Há evidências preliminares8 de que
escala de manejo de recursos hídricos,
tal como a hidroelétrica de Itaipu e a mudanças climáticas aumentam a
planejada hidrovia Paraná-Paraguai, na intensidade da transmissão da malária, o
Região Centro-Oeste. Na Região Nor- que foi observado em algumas áreas do
deste, segundo o Primeiro Relatório continente africano. Por outro lado, na
Nacional para a Convenção sobre Diver- América do Sul, durante o fenômeno El
sidade Biológica, 7 os atuais estudos Niño, de 1997 a 1998, a seca reduziu os
disponíveis indicam que o processo de casos de malária na Amazônia.
desertificação na região semi-árida Na questão da mudança climática
brasileira vem comprometendo seriamente global, dois aspectos devem ser consi-
uma área de 118 mil km2, ou seja, 12% da derados: possíveis impactos do aqueci-
região, com a geração de impactos difusos mento global nos ecossistemas e,
e concentrados sobre o território. Ainda inversamente, os efeitos climáticos do
segundo o relatório, nas áreas de impactos desmatamento, especialmente da floresta
difusos, os danos ambientais resultam em amazônica, no sistema climático global.
erosão dos solos, empobrecimento da Alguns cenários desenvolvidos pelo
caatinga e degradação dos recursos Centro Hadley de Previsão Climática, na
hídricos. Nas áreas de efeitos concen- Inglaterra, referidos a uma taxa de
trados, em pequena porção do território, concentração de gás carbônico duas
configuram-se núcleos desertificados. vezes maior que os níveis pré-industriais,
Mudanças climáticas mostram projeções de aumentos de
Em relação às questões climáticas temperatura na região amazônica entre
no Brasil, é importante primeiro dife- dois e até sete graus centígrados, na
renciar a variabilidade natural do clima das segunda metade do século XXI. 9 Há
mudanças climáticas e, em seguida, muito maior incerteza quanto ao impacto
distinguir que mudanças climáticas podem do aquecimento global na precipitação,
resultar tanto do aquecimento global como mas, se o aumento da temperatura for
também de alterações da cobertura acompanhado de redução acentuada na
vegetal. Eventos extremos relacionados precipitação pluviométrica, com sérios

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impactos no ciclo hidrológico, poderia Um outro aspecto associado com


provocar a substituição da floresta pelo as mudanças climáticas diz respeito às
ecossistema de savana (“savanização”) alterações nos eventos extremos, tais
em partes da Amazônia. Os possíveis como as tempestades, furacões, ondas
impactos desses processos na dinâmica de calor e inundações. Projeta-se que as
das doenças endêmicas focais dos mudanças climáticas globais modificarão
ecossistemas regionais ainda não foram a distribuição dos padrões locais de
avaliados. tempo, principalmente a prevista inten-
Por outro lado, o desmatamento sificação do ciclo hidrológico. Isso pode
tropical afeta, em caráter imediato, os ter conseqüências com relação a fatali-
vários microclimas existentes. Isso dades associadas com acidentes e com
significaria modificações importantes em epidemias de doenças transmissíveis
parâmetros críticos para o ciclo vital de conseqüentes aos desastres climáticos.
vetores e reservatórios de doenças infec- Biodiversidade
ciosas. As evidências das conseqüências
Biodiversidade é a variação das
da substituição da floresta no mesoclima
formas de vida que se manifesta na
e, principalmente, no clima global são
diversidade genética, nas populações,
menos consistentes e ocorreriam em
espécies, comunidades, ecossistemas e
prazo mais longo, porém há evidência de
paisagens que se constituíram ao longo
que a substituição em grande parte da
dos 3,5 bilhões de anos de vida na terra,
floresta por pastagens iriam provocar um
por meio dos processos evolutivos dinâ-
aumento da temperatura do ar à super-
micos, pressionados pelas mudanças
fície entre dois e três graus centígrados,
físicas do ambiente.
redução na evapotranspiração regional e,
possivelmente, diminuição das chuvas, Nessa intrínseca rede co-evolutiva
em especial durante a estação seca. Essa de formas biológicas amarra-se a sobre-
combinação de fatores também contri- vivência do Homo sapiens à biodi-
versidade. Dela se obtêm serviços
buiria para uma tendência de “sava-
ambientais de usos múltiplos: alimentação,
nização” de partes da região.
combustíveis fósseis, fibras naturais (o
Adicionalmente, os desmatamentos valor dos serviços ecológicos no mundo
(queimadas e decomposição da vegetação estão calculados entre 16 e 54 trilhões
derrubada) respondem pela maior de dólares). A água, o ar e a capacidade
contribuição do país à emissão de gases produtiva dos solos estão ligados aos
responsáveis pelo efeito estufa, com ciclos naturais dependentes da bio-
cerca de 200 milhões de toneladas de diversidade. No plano econômico, sua
carbono por ano em comparação com importância é decisiva: 40% do Produto
uma emissão total de pouco menos de Interno Bruto do Brasil advém do setor
300 milhões. da agroindústria beneficiada diretamente
As mudanças climáticas globais pela biodiversidade, o setor florestal
afetarão a saúde humana principalmente contribui com 4% do Produto Interno
por meio de alterações nos padrões das Bruto e o setor pesqueiro com 1%. Basi-
doenças infecciosas endêmicas transmi- camente, três plantações (café, laranja e
tidas pela água (exemplo: cólera, leptos- soja) respondem por 31% das exporta-
pirose) ou por vetores animais (malária, ções brasileiras e a biomassa vegetal
dengue, leishmanioses, arboviroses). Ao (cana-de-açúcar, lenha e carvão obtidos
serem criadas condições ambientais mais de florestas nativas e plantadas) é
favoráveis à reprodução e à sobrevivência responsável por 26% da matriz energé-
de patógenos e vetores, as mudanças tica do país, ultrapassando os 50% no
climáticas poderão acelerar os ciclos de Nordeste do Brasil.
transmissão bem como estender as suas Em última instância, a diversida-
áreas de distribuição geográfica, tanto para de biológica, em todos os seus níveis,
latitudes quanto para altitudes maiores. mantém seu papel estratégico - permite

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a possibilidade de adaptação das popu- biológica; e d) contemplar os principais


lações humanas e de outras espécies às instrumentos para subsidiar o plane-
pressões ambientais externas - cada vez jamento do uso e gerenciamento da
mais importante nos cenários futuros. 10 diversidade biológica.
Esses cenários, principalmente os Atualmente, estima-se que apenas
relacionados às mudanças climáticas 10% das espécies existentes no planeta
globais, sinalizam um rearranjo importante estejam descritas e conhecidas pela
na distribuição geográfica e abundância ciência. 11 Nos levantamentos da distri-
das espécies. O aumento de apenas alguns buição geográfica da diversidade bioló-
graus na temperatura poderá deslocar o gica, o Brasil surge como o país que detém
habitat de muitas espécies para latitudes em seu território a maior biodiversidade,
e altitudes mais altas, alterando, assim, a com a maior riqueza de plantas vasculares,
incidência de doenças antes restritas a mamíferos, anfíbios, peixes de água doce;
determinadas regiões. Esse parece ser o seguido da Colômbia, Indonésia, Peru e
caso da malária, cujas espécies de México.6 Quando se avalia biodiversidade
Plasmodium necessitam de temperaturas e endemismo, o Brasil mantém-se também
altas (entre 20 e 35°C dependendo da na liderança, seguido da Indonésia,
espécie) para completar a fase de espo- Colômbia, Austrália e México.
rogenia nos mosquitos (vetores) que, por Há, entretanto, responsabilidades e
sua vez, também poderão ampliar suas interesses distintos no cenário mundial
distribuições geográficas em conse- quando se trata de biodiversidade. As
qüência dos mesmos fatores abióticos. nações consumidoras de biodiversidade
Se a expansão poderá ocorrer, a (países industrializados) preocupam-se
Brasil surge como o
extinção também é factível e já é fato. com a erosão-extinção das espécies,
país que detém em
Anfíbios, por exemplo, desaparecem em propondo medidas determinadas por seus seu território a
todo o mundo num episódio de alteração interesses próprios. Por outro lado, as maior
climática nunca detectado, e até o nações provedoras da diversidade bio- biodiversidade;
momento identificado como global. O lógica, na sua maioria subdesenvolvidas seguido da Colômbia,
aumento de temperatura tornou, então, ou em desenvolvimento, preocupam-se Indonésia, Peru e
essas espécies suscetíveis a infecções em obter retorno econômico da utilização México.6
diversas, causadas principalmente por de seu patrimônio biológico que possa
fungos e bactérias. garantir e financiar a conservação da
O entendimento da importância da biodiversidade e a melhoria da qualidade
conservação da biodiversidade nos últimos de vida de sua população.
anos, consolidada na Conferência das A Convenção sobre a Diversidade
Nações Unidas para o Meio Ambiente e Biológica estabeleceu, assim, a repartição
Desenvolvimento (UNCED, 1992), justa e eqüitativa dos benéficos comer-
mobilizou os países signatários da ciais e científicos derivados do desen-
Convenção sobre a Diversidade Biológica volvimento de insumos biotecnológicos
a inventariar seus estoques de bio- entre o país de origem dos recursos
diversidade e definir estratégias nacionais genéticos e a nação que desenvolva cada
para sua conservação. 6 Questões com- produto, o rateio dos custos de con-
plexas estão previstas na Convenção servação e a utilização sustentável da
sobre a Diversidade Biológica: a) tratar biodiversidade, in situ e ex situ. Os países
a diversidade biológica em toda a sua ricos signatários comprometem-se a
amplitude; b) tratar da conservação da custear significativamente as ações de
diversidade biológica, da utilização conservação e uso sustentável.
sustentável de seus componentes, e da Com o desenvolvimento da biotec-
repartição justa e eqüitativa dos benefícios nologia e outras técnicas e tecnologias, a
derivados da utilização dos recursos biodiversidade é um recurso econômico
genéticos; c) incluir todas as diferentes para o futuro: novos princípios ativos e
formas de manejo da diversidade medicamentos derivados de plantas,

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fungos, peçonhas; novos alimentos, A perda não representa integral-


fibras, decompositores de resíduos in- mente o problema. Se, por um lado,
dustriais e muitas outras potencialidades. aumentamos a taxa de desaparecimento
Nos Estados Unidos, 25% dos fármacos das espécies silvestres – extinção, por
contêm substâncias ativas derivadas de outro também impedimos o processo
plantas e microorganismos. Estima-se em natural de surgimento de novas espécies
200 bilhões de dólares por ano o valor da – especiação. Esse bloqueio no processo
comercialização dos produtos químico- evolutivo deve-se, principalmente, ao
farmacêuticos derivados de seres vivos. isolamento e fragmentação das áreas
O decréscimo rápido dos recursos naturais originais que hoje comprometem
biológicos em função da expansão a saúde evolutiva das espécies, mesmo
geográfica da espécie humana e de suas aquelas protegidas pelas unidades de
atividades e dos impactos por elas conservação. Os corredores ecológicos
gerados (Tabela 1), elimina possibilidades que interligam ecossistemas associados
de acesso aos novos insumos e produtos e zonas de transição e que permitem o
e reduz a plasticidade genética, única fluxo genético entre as populações estão
possibilidade de adaptação das espécies sendo interrompidos, o que gera o pro-
às mudanças. Vale ressaltar que mais da cesso moderno de extinções causadas
metade das variedades dos 20 alimentos pelo homem, de intensidade ímpar sobre
mais importantes, com seus genes a biosfera.
únicos, específicos e adaptados a outros Este padrão não se reproduz quando
tipos de clima, solo, doenças e pragas, se trata de pragas, microorganismos
que existiam no início deste século foi patogênicos ou vetores que agem sobre
perdida. Incluem-se nessa lista arroz, a saúde humana e animal e a agricultura.
aveia, cevada, feijão, milho e ervilha. O uso em larga escala de medicamentos

Tabela 1 - Principais causas da perda da biodiversidade

Diretas Indiretas

Transformação de habitats e ecossistemas naturais Desconhecimento do potencial estratégico da


biodiversidade
Deflorestamentos Ocupação, uso e posse da terra desordenados

Grandes obras de infra-estrutura Desconhecimento científico e aplicado da biodiversidade


Introdução de espécies exóticas Deficiência no desenvolvimento tecnológico
Sobrexploração de espécies silvestres Carência de tecnologias de produção ambientalmente
adequadas com a conservação dos recursos naturais

Uso intensivo de praguicidas e fertilizantes Capacidade institucional incipiente de reduzir o impacto


das atividades que levam à perda
Modelos de desenvolvimento de uso de recursos Falta de sistema de valorização econômica da
predatórios biodiversidade

Contaminações Distribuição inadequada dos benefícios derivados do uso


da biodiversidade

Mudanças climáticas globais Falta da socialização dos custos associados à perda da


biodiversidade

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e biocidas modifica o ambiente e, por volver condições e planos, entre os múl-


conseguinte, pressiona a modificação tiplos setores da sociedade, para conter
genética e fenotípica desses organis- as perdas da biodiversidade. Devem, no
mos, tornando-os espécies multirresis- entanto, observar os princípios gerais das
tentes aos produtos químicos responsá- Políticas Nacionais da Biodiversidade
veis por controlar seu crescimento (Figura 2) e algumas ações de reversi-
populacional. bilidade do cenário atual (Figura 3).
Dessa forma, exterminamos espé- Detentor da maior biodiversidade
cies potencialmente benéficas e tornamos do planeta, o Brasil tem enorme respon-
abundantes e resistentes as causadoras sabilidade perante as novas gerações da
de doenças e as pragas. terra. A megadiversidade gera dificul-
Mitigar a perda da biodiversidade é, dades e complexidades de monito-
assim, fundamental para manutenção do ramento, manejo e conservação. A partir
homem não somente do ponto de vista dos últimos cinco anos, vários avanços
da manutenção biológica, mas como a vêm sendo consolidados de modo a
garantia das bases de recursos neces- implementar a Convenção sobre a
Diversidade Biológica no Brasil. O
sários à manutenção das sociedades
Ministério do Meio Ambiente é o
modernas.
responsável por essa implementação por
Há que se revisar conceitos e meio da Coordenação Geral de Diver-
modelos que possibilitem o uso dos sidade Biológica e vem desenvolvendo
recursos e que garantam a manutenção várias ações em conjunto com o
evolutiva biológica nos seus vários níveis Programa Nacional da Biodiversidade,
de organização. As Estratégias Nacionais programa que estabelece a parceria
de Biodiversidade que estão sendo entre o governo e a sociedade na
elaboradas por vários países, inclusive o conservação, uso sustentável e partilha
Brasil, deverão se incumbir de desen- de benefícios obtidos da biodiversidade.

Princípios
a) A biodiversidade é patrimônio da nação;
b) A biodiversidade tem valor estratégico para o desenvolvimento presente e futuro;
c) A biodiversidade tem componentes tangíveis em nível de moléculas, genes e populações, espécies,
comunidades, ecossistemas e paisagens e intangíveis em inovações e práticas culturais associadas;

d) A biodiversidade tem caráter dinâmico no tempo e no espaço e seus componentes e processos evolutivos
devem ser preservados;

e) Os benefícios derivados do uso dos componentes da biodiversidade devem ser distribuídos de maneira
justa e eqüitativa;

f) Deve-se reconhecer a importância dos direitos à propriedade intelectual individual e coletiva;


g) A conservação e uso sustentável da biodiversidade deve ter abordagem do ponto de vista global. É
indispensável o compromisso entre as nações;

h) A biodiversidade requer um tratamento intersetorial, devendo ser abordada de forma descentralizada,


incluindo o Estado em todos os níveis e a sociedade civil; e

i) Deve-se usar de precaução, principalmente na adoção de medidas relacionadas à contenção da erosão


genética e à biossegurança.

Figura 2 - Princípios gerais das políticas nacionais de biodiversidade

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Ações de reversibilidade do cenário atual


a) Reduzir processos e atividades que ocasionam e deterioram a biodiversidade;
b) Consolidar o Sistema Nacional de Áreas de Conservação e Corredores Ecológicos;
c) Promover a restauração de ecossistemas degradados e de espécies ameaçadas;
d) Conhecer e caracterizar os componentes da biodiversidade;
e) Recuperar e divulgar o conhecimento e as práticas tradicionais;
f) Promover sistemas de manejo sustentável de recursos naturais renováveis;
g) Fortalecer e promover o estabelecimento de bancos genéticos e programas de biotecnologia;
h) Desenhar e implementar sistemas de valorização multicritério dos componentes da biodiversidade e
distribuição eqüitativa dos benefícios;
i) Capacitação, educação e divulgação;
j) Participação de todos os níveis da sociedade;
l) Desenvolvimento da legislação;
m) Desenvolvimento e fortalecimento institucional;
n) Incentivos à manutenção das áreas naturais e suas espécies;
o) Desenvolvimento e transferência de tecnologia;
p) Estabelecimento de Sistemas de Informações; e
q) Busca de financiamentos.

Figura 3 - Perda da biodiversidade: o que fazer?

Nesse caminho, tem-se trabalhado: ção e Utilização Sustentável da Diver-


a) no avanço da legislação (biosse- sidade Biológica Brasileira, e Fundo
gurança, acesso e repartição dos Brasileiro para o Uso Sustentável da
benefícios da biodiversidade, pro- Biodiversidade da Amazônia).7
priedade industrial, proteção de No que concerne às questões de
cultivares, leis de crimes ambientais, saúde, a perda da biodiversidade resulta
e sistema nacional de unidades de na redução de recursos genéticos que
conservação); poderiam vir a ser utilizados, por exemplo,
b) nas políticas setoriais (florestal, para o tratamento de doenças como o
pesqueira, agrícola, recursos hídri- câncer. Também significa a modificação
cos, controle de desertificação, mi- de ecossistemas naturais e a redução na
neral, educação ambiental e cons- oferta de seus “serviços”, tais como a
cientização pública, turismo, integra- preservação do solo, a estabilidade do
ção da Amazônia Legal, e agenda clima local, a disponibilidade de ar e água
amazônica); e limpas, que são todos fatores essenciais
para o bem-estar, a saúde e a sobrevi-
c) nos programas integrados para a
vência humana. O desaparecimento de
biodiversidade (Programa Nacional de
paisagens naturais tem também impacto
Meio Ambiente, programa piloto para
pelo seu valor estético e para o lazer.
a proteção das florestas tropicais,
corredores ecológicos da Amazônia Poluentes orgânicos persistentes
e Mata Atlântica, programa de Levan- Nas últimas décadas, tem sido dra-
tamento do Potencial Sustentável dos mático o crescimento dos químicos
Recursos Vivos da Zona Econômica manufaturados e outras atividades hu-
Exclusiva, Programa Nacional da manas que resultam na liberação de
Biodiversidade, Projeto de Conserva- poluentes tóxicos. Muitas dessas ativi-

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Ulisses E. C. Confalonieri e colaboradores IESUS

dades são essenciais para a sociedade Antártica e o Ártico. Alguns dos efeitos
moderna, mas, também, representam uma desses produtos para o ambiente são a
ameaça para a saúde humana e para os redução da vida selvagem, a redução dos
ecossistemas terrestres e aquáticos. organismos predadores, o extermínio dos
Os poluentes orgânicos persistentes, competidores naturais e a redução da
chamados POPs, configuram-se num biodiversidade, com efeitos na repro-
grupo de substâncias químicas de particu- dução com alterações do sistema imuno-
lar interesse para a agricultura, a indústria, lógico nos animais.
a saúde pública e o meio ambiente. Numa Os alimentos representam a prin-
ação conjunta, no âmbito das Nações cipal via de exposição ambiental para
Unidas, realizaram-se estudos12-15 a respeito estes produtos.
dos poluentes orgânicos persistentes, com Em nível mundial, cerca de três
uma lista inicial de 12 substâncias a saber: milhões de envenenamentos com 220 mil
Diclorodifenil-tricloroetano, Aldrin, mortes devido a exposição aguda a
Dieldrin, Endrin, Clordane, Hexacloro- pesticidas são relatadas anualmente, de
benzeno, Mirex, Toxafeno, Heptaclor, forma oficial. 16,17 Esse quadro evidencia
Policlorinatobifenil, dioxinas e furanos. A a riscos da exposição a esses produtos
partir daí, foi proposta a criação de um para a saúde humana.
Comitê Intergovernamental Negociador
Estudos13-16 têm mostrado que restri-
com a finalidade de elaborar um instru-
ções locais ao uso de organoclorados,
mento legal vinculante para reduzir e
evidenciam efeitos positivos ao nível de
eliminar emissões de substâncias orgânicas
ambientes aquáticos, com a redução do
persistentes.
níveis de organoclorados nos animais e
Os poluentes orgânicos persis- vegetais.
tentes são compostos orgânicos repre-
Nos países em desenvolvimento,
sentados pelos hidrocarbonetos aromá-
principalmente no Hemisfério Sul, muitas
ticos policíclicos e pelos hidrocarbonetos
são as dificuldades no controle dos
halogenados. No conjunto dessas subs-
poluentes orgânicos persistentes. Isso se
tâncias, estão inseridos os pesticidas,
deve à capacitação, ainda restrita para
produtos industriais e produtos de origem
manejo de produtos tóxicos, à falta de
secundária, também chamados de
pesquisas e informações para subsidiar
produtos não intencionais, como o caso
ações técnicas e legais, e à falta de
das dioxinas e os furanos.
recursos financeiros.
Os pesticidas do grupo organo-
clorados iniciaram a era dos pesticidas Com relação à produção, uso e fontes
modernos. Foram largamente usados no de poluentes orgânicos persistentes o
aumento da produção agrícola e em quadro oficial internacional, de acordo
campanhas de saúde pública, princi- com informações prestadas pelos países
palmente nos países em desenvolvimento durante as negociações da “Convenção
no controle da malária. Os compostos poluentes orgânicos persistentes”, é o
organoclorados são os produtos sinte- seguinte: a) Aldrin, Dieldrin, Endrin e
tizados pelo homem que maior impacto Toxafeno - estão com a produção sus-
causam ao meio ambiente. Isso se deve pensa; b) Mirex e Hexaclorobenzeno não
basicamente à alta persistência no am- são produzidos; c) Diclorodifeniltri-
biente, resistência à degradação, capaci- cloroetano ainda é produzido para controle
dade de transporte a longas distâncias via de vetores; d) Clordane e Heptaclor são
atmosfera e via correntes marinhas, e ao produzidos para controle de formigas e
potencial de bioacumulação e biomagni- preservação de madeiras; e) Policlo-
ficação. rinatobifenil e Hexaclorobenzeno não são
Resíduos de produtos organo- mais produzidos. A maior fonte de Poli-
clorados são encontrados praticamente clorinatobifenil são os fluidos dielétricos
em todos os ecossistemas, incluindo a de equipamentos eletrônicos e, em menor

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escala, fluidos hidráulicos e selantes. Em relação ao banimento ou eliminação


relação ao Hexaclorobenzeno, suas fontes gradativa de alguns poluentes orgânicos
de exposição aparecem como produtos persistentes, com especial enfoque em
não intencionais oriundos de processos relação aos impactos na produção de
industriais; e f) Dioxinas e furanos, cujas alimentos e aos impactos na saúde
fontes são oriundas de subprodutos de pública; e e) a necessidade de financia-
processos industriais, processos de mento e capacitação técnica na imple-
combustão, disposição e incineração de mentação das ações globais.
resíduos sólidos urbanos e industriais, Desde 1998, o Ministério do Meio
entre outros. Ambiente vem discutindo com a comu-
O Ministério do Meio Ambiente é o nidade técnica e científica nacional a
representante institucional - Ponto Focal proposição e implementando ações. Essas
- brasileiro junto ao Comitê Intergo- ações, que ainda não foram concluídas,
vernamental Negociador. Durante as seriam: a) o inventário da produção, do
negociações, no âmbito do Comitê comércio de importação e exportação, dos
Intergovernamental Negociador, o Brasil usos e dos estoques existentes; b) o
tem adotado posições que atendam aos conhecimento da capacidade de destrui-
interesses dos países em desenvol- ção e incineração dos produtos armaze-
vimento, principalmente no que se refere nados no país; c) a capacitação dos
aos mecanismos financeiros para órgãos responsáveis pelo monitoramento
viabilizar o cumprimento das obrigações dos poluentes orgânicos persistentes; d)
legais e de pesquisa.15,16 a implementação de campanhas de escla-
No aspecto técnico, o Brasil tem recimento, visando encorajar o desuso
consciência das dificuldades práticas dos poluentes orgânicos persistentes; e)
para a eliminação total dos poluentes a remediação de sítios contaminados; f)
orgânicos persistentes. Consideramos a elaboração de diagnósticos para
que os 12 poluentes orgânicos per- subsidiar a participação brasileira no
sistentes, em negociação, devem ser Comitê Intergovernamental Negociador;
tratados de forma diferenciada. Os e g) a implementação de medidas que
pesticidas são os que, provavelmente, visem à redução dos riscos relacionados
serão de mais fácil manejo. Por outro aos poluentes orgânicos persistentes,
lado, os produtos industriais, princi- tendo por base a legislação existente para
palmente o Policlorinatobifenil, exigirão os 12 produtos.
do país atividades mais específicas, tais O Brasil assinou, em 23 de maio de
como elaboração de inventários. As 2001, em Estocolmo, a Convenção sobre
dioxinas e os furanos, tratados como Poluentes Orgânicos Persistentes. A
produtos não intencionais, são problemas Convenção de Estocolmo constitui im-
comuns tanto aos países desenvolvidos portante instrumento do ponto de vista
como aos em desenvolvimento, e ainda do reforço da segurança química inter-
necessitam de muita discussão até que nacional, em consonância com as metas
se chegue a um consenso. preconizadas na Agenda 21, adotada pela
Pontos considerados de relevância Conferência do Rio sobre Meio Ambiente
para o Brasil: a) as prioridades nacionais e Desenvolvimento, em 1992. Sua adoção
no uso de alguns poluentes orgânicos representa uma medida de precaução para
persistentes, como a utilização do hepta- evitar que o uso indiscriminado desses
cloro para a preservação de madeira; b) produtos possa causar danos irrever-
as especificidades dos nossos ecossis- síveis à saúde humana e ao meio ambiente.
temas em relação à avaliação do potencial O acordo sobre poluentes orgâ-
de perigo; c) a harmonização e a divul- nicos persistentes exige o estabelecimento
gação das iniciativas regionais com de planos de ação nacionais para lidar
relação as ações internacionais; d) a com as substâncias identificadas. O
realidade socioeconômica do país em acordo prevê, ainda, níveis diferenciados

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Ulisses E. C. Confalonieri e colaboradores IESUS

de responsabilidades e capacidades entre interferência no ambiente quer pelos


os países e vincula o cumprimento do aspectos sociodemográficos associados,
acordo, por parte dos países em desen- têm mostrado importantes modificações
volvimento, ao acesso à assistência epidemiológicas como conseqüência. É
financeira e técnica que se fizer neces- conhecida a alteração no perfil epidemio-
sária. Dessa forma, assegura que o lógico da hanseníase na região dos
esforço de proteção considere as condi- chamados “rios borracheiros” no
ções socioeconômicas de cada país e que Amazonas, devido à migração de
os planos de ação se reportem a priori- nordestinos no final dos anos 70 do
dades nacionalmente definidas. O acordo século XIX. Esses migrantes fugiam da
consagra, dessa forma, o princípio das grande seca ocorrida e foram utilizados
responsabilidades comuns, mas diferen- como mão-de-obra para os empreen-
ciadas, na proteção do meio ambiente, dimentos seringalistas.
consagrado na Declaração do Rio sobre Da mesma forma, no início do
Meio Ambiente e Desenvolvimento de século XX, no atual Estado de Rondônia,
1992. a construção da ferrovia Madeira-
Recursos marinhos Mamoré atraiu grandes contingentes de
mão-de-obra estrangeira, resultando no
O Programa Nacional de Geren-
aumento da malária, inclusive com a
ciamento Costeiro vem avaliando os
introdução de cepas importadas.
diversos problemas que comprometem a
qualidade dos recursos marinhos, bus- Também a abertura da ferrovia
A biodiversidade nos
cando ações mitigadoras e reguladoras. Sorocabana, no início do século XX, no ecosistemas
Assim, completou-se a avaliação das interior de São Paulo, foi acompanhada marinhos é
políticas federais nos setores de turismo, de epidemias de leishmaniose tegu- importante para o
transporte, indústria e desenvolvimento mentar. No início dos anos 60, com a controle de doenças
que geram impacto sobre as zonas abertura da rodovia Belém-Brasília, na flora e fauna
costeiras. Encontra-se em andamento o foram observados, pela primeira vez, marinha e para as
macrodiagnóstico da zona costeira do casos importados de calazar, esquis- espécies que delas
tossomose e doença de Chagas em Belém. dependem (aves e
Brasil, com as tendências de ocupação,
homens).
caracterização física natural, potencial de Nos anos 70, o governo militar, em
risco e vulnerabilidade e áreas de sua geopolítica amazônica, iniciou
conservação. ambicioso programa de abertura de
Há, no entanto, que se articular rodovias, como a Transamazônica, a
ações entre os múltiplos setores que Perimetral Norte e a BR-174 (Manaus-
utilizam o mar, para que sejam con- Caracaraí). Nesses casos particulares
servativos em suas ações e não ultra- surgiram importantes surtos epidêmicos
passem a capacidade suporte desse como resultado quer da introdução de
imenso ecossistema de promover a vida agentes infecciosos desconhecidos das
e regular o clima terrestre. populações indígenas, com efeitos devas-
tadores sobre elas (exemplo: dizimação
O tempo é crítico. A biodiversidade
de comunidades ianomâmi na Perimetral
nos ecossistemas marinhos é importante
Norte) ou em função da vulnerabilidade
para o controle de doenças na flora e fauna
de migrantes do sul do país (febre
marinha e para as espécies que delas
hemorrágica de Altamira, na Transa-
dependem (aves e homens). A temperatura
mazônica).
das águas marinhas afeta a saúde da vida
marinha, dos recifes de corais, habitats Outros exemplos de grandes em-
importantes para a nutrição do homem. preendimentos, resultando em modi-
ficações importantes dos quadros
Grandes empreendimentos sanitários, estão as hidroelétricas e, mais
Historicamente, no Brasil, os pro- recentemente, os pólos de exploração
jetos de desenvolvimento que envolvem petrolífera. Os casos das barragens de
grandes empreendimentos, quer por sua Itaipu (Paraná) e Tucuruí (Pará) são

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IESUS Mudanças Globais e Saúde

ilustrativos. Em ambos, foram observa- Discussão


das epidemias de malária em função do Praticamente todos os processos das
aumento dos criadouros de vetores mudanças globais afetam a saúde humana,
proporcionado pelo espelho d’água. Em seja de forma direta ou indireta. A
Tucuruí, foi observada também uma importância do impacto dessas mudanças
explosão da população dos mosquitos dependerá, em grande medida, da fração
hematófagos do gênero Mansonia, que da população humana atingida, da seve-
atacaram a população do entorno. ridade e reversibilidade do dano e também
O processo de incremento acelerado das opções de adaptação e mitigação
da população urbana de Manaus, migrada disponíveis.
do interior do Amazonas, atraída pelo Algumas mudanças globais afetam
Distrito Industrial, resultou em grandes a saúde humana de forma cumulativa. É
epidemias de malária e leishmaniose o caso dos despejos de poluentes quí-
tegumentar na periferia da cidade.18 micos na água, solo e na biota, em
Também o extrativismo intensificado incontável número de localidades, em
e em larga escala tem resultado em surtos todo o mundo, e que, de modo geral,
epidêmicos, principalmente nos garimpos afetam a maior parte da população, no
e extração madeireira. No primeiro caso, nível local, regional ou global.
temos como exemplo a introdução de Um outro exemplo de processo
calazar em Santarém, Pará, nos anos 60 e cumulativo diz respeito aos múltiplos
no final da década de 80, no Estado de processos loco-regionais de destruição de
Roraima. habitats naturais e de extinção de espécies
Graças à alta mobilidade da população biológicas em áreas freqüentemente não
garimpeira, têm sido observados impor- conectadas e mesmo muito distantes entre
tantes aumentos de malária nas áreas de si. Entretanto, ao nível global, a soma
mineração informal, com redistribuição desses processos resultará na perda de
espacial de cepas de Plasmodium recursos genéticos e do legado relativo
resistentes. O incremento da malária em às paisagens naturais.
Roraima é um bom exemplo, com o IPA Outros processos são importantes
de 63, em 1987, passando para 94, em por seu caráter sistêmico, como nos
1991, devido ao rápido afluxo de cerca de casos do sistema climático e da camada
40 mil garimpeiros para áreas indígenas de ozônio estratosférico, um dos grandes
do Estado. ciclos da biosfera que estão sendo
No caso da exploração madeireira, afetados como um todo. Distúrbios nesses
registraram-se epidemias de malária na compartimentos poderão afetar a saúde
região do Vale do Javari, Estado do humana enquanto fatores globais de
Amazonas, associado à invasão de perigo (hazards) e, portanto, em uma
madeireiras em áreas indígenas semi- escala espacial maior do que o caso das
isoladas. fontes locais de poluição. Por outro lado,
No caso de projetos industriais e processos de degradação ambiental que
agrosilvicultores considerados como anteriormente se acreditava afetar a
exemplares, sob o ponto de vista sanitário, população apenas localmente, tal como o
como fora a Icomi Mineração, no Amapá, uso de pesticidas agrícolas, têm, nos dias
nos anos 60 e, recentemente, o Pólo de de hoje, efeitos a longa distâncias. Esse é
Urucum da Petrobrás, verificou-se que a o caso dos poluentes orgânicos persis-
população autóctone do entorno, ao tentes que, às vezes, são liberados no
contrário dos empregados das empre-sas ambiente tropical (baixas latitudes), mas,
envolvidas, verdadeiras “bolhas sani- devido à ação de correntes oceânicas e
tárias”, não se beneficiaram do controle atmosféricas, são depositados na região
epidemiológico. ártica, a milhares de quilômetros de
distância. Os danos documentados são

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Ulisses E. C. Confalonieri e colaboradores IESUS

especialmente significativos nas espécies transposição de limites disciplinares


de predadores superiores (topo da cadeia tradicionais deverá acontecer. A Saúde
alimentar), incluindo-se: Pública, embora se utilize com freqüência
a) danos à reprodução e redução da das ciências sociais como marco de
população da espécie; referência, precisa fazer o mesmo com as
ciências da terra, tais como a climatologia,
b) alteração do sistema imunológico; hidrologia, meteorologia, ecologia,
c) anomalias de comportamento; sensoriamento remoto e disciplinas
d) funcionamento anormal da tireóide e correlatas.
outras alterações do sistema hor- Dessa forma, é necessário avançar
monal; em pesquisas e consolidação de
e) tumores e cânceres; resultados que permitam: a) construir
f) feminização dos machos e mascu- modelos conceituais adequados para se
linização das fêmeas; e abordar cientificamente os processos das
mudanças ambientais globais, incluindo-
g) malformações congênitas. se os impactos na saúde das coleti-
Esses são alguns exemplos dos vidades; b) incluir a questão das mudan-
efeitos mais diretos das mudanças globais ças ambientais globais na agenda
na saúde. Há muitos outros efeitos científica e institucional brasileira, nota-
indiretos, algumas vezes difíceis de serem damente no campo das ciências da Saúde
quantificados devido aos complexos Pública; c) buscar modelo de desenvol-
mecanismos ecológicos e processos vimento compatível com a sustenta-
sociais que interagem em sua produção. bilidade econômica e ambiental, a longo
Devemos ter ainda em mente que os
prazo; d) criar mecanismos que inter-
diferentes processos de mudanças
rompam ou minimizem a perda expo-
ambientais globais interagem entre si o
nencial da biodiversidade, garantia dos
que podem potencializar os seus efeitos
“serviços prestados” pelos ecossistemas
sobre a saúde humana. Para abordar
cientificamente essas questões, novos íntegros no Brasil; e) minimizar global-
arcabouços conceituais e métodos de mente a crescente diminuição dos esto-
análise se fazem necessários, tais como ques de água doce causada pelos
a aplicação dos Modelos de Avaliação processos de desertificação e contami-
Integrada (Integrated Assessments), cuja nações múltiplas; e f) sensibilizar as
utilização pelo setor saúde ainda não foi pessoas para a constatação de que todos
efetivamente incorporada. os recursos naturais renováveis não são
infinitos.
Os problemas de saúde pública
constituem um componente crítico das Referências bibliográficas
dimensões humanas das mudanças
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ambientais globais. O estabelecimento de
change: an introduction. Annalls
critérios de qualidade ambiental depende,
Review Ecology Systems 1992;23:1-
em grande parte, da mensuração dos seus
14.
efeitos sobre os sistemas biológicos, em
especial sobre a saúde e a sobrevivência 2. UK Global Environmental Research
humana. Entretanto, não se conhece o Office. Global environmental change:
suficiente sobre a ampla gama de the UK research framework 1993.
possíveis conseqüências para a saúde dos Swindon: UK Global Environmental
complexos processos que fazem parte das Research Office; 1993.
mudanças globais. Mais pesquisas se 3. International Endocrine Disruptors
fazem necessárias, tanto em nível Workshop Report. Smithsonian Insti-
conceitual quanto empírico. Isso traz um tution; 1997 Jan 23-24; Washington,
importante desafio para os pesquisadores D.C.: Estados Unidos. [Mimeo].
em saúde pública uma vez que, para que 4. Singer SF. Global climate contro-
esses conhecimentos sejam obtidos, a versy. The Journal of the American

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