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BIOMEDICINA Dissertação A3

Saúde Única Fabiana Koller Braga


Dezembro/2023 Matrícula: 2023306808

Correlação entre o processo saúde-doença com a inter-relação entre o ser humano,


animal e ambiente, explicitando a influência das mudanças climáticas nos
determinantes sociais de saúde.

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A conexão saúde x doença, com certeza está intrinsecamente ligada à inter-


relação entre o ser humano-animal e ambiente. Esse vínculo é resolutivo na
compreensão dos determinantes sociais de saúde1.

Os seres humanos são um componente fundamental do ambiente e estão


constantemente expostos aos seus elementos, assim como os animais. Qualquer
mudança em uma das “peças” que o compõem é capaz de provocar uma reação em
cadeia, afetando todo ecossistema. Levando em consideração que já no século 19, o
médico patologista alemão Rudolf Virchow afirmava que entre os animais e a
medicina humana não havia divisórias, é fundamental compreender como essa
relação complexa e interdependente se retroalimenta, no sentido da amplitude do
papel de cada um, principalmente quando relacionados às alterações climáticas.

Ademais o homem depende desse ambiente – que ele interfere com


urbanização desenfreada, poluição atmosférica, hídrica, sonora e do solo - para
obter recursos naturais essenciais à sua sobrevivência, como água, alimentos e
abrigo. Além disso, a relação com os animais também é inerente à vida humana,
seja como fonte de alimento, companhia ou para trabalho.

“A Organização Meteorológica Mundial (WMO) definiu o conceito de clima, em 1959,


da seguinte forma: “conjunto flutuante das condições atmosféricas, caracterizado
pelos estados e evolução do tempo durante um período suficientemente longo para um
domínio espacial determinado” (WMO, 1959), ou seja, o clima é uma descrição média
das condições de tempo e suas variações. ” (CORTESE & NATALINI, 2014)

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“Os DSS são determinantes estruturais e condições da vida cotidianas responsáveis pela maior parte
das iniquidades em saúde entre os países e internamente. Eles incluem distribuição de poder, renda,
bens e serviços e as condições de vida das pessoas, e o seu acesso ao cuidado à saúde, escolas e
educação; suas condições de trabalho e lazer; e o estado de sua moradia e ambiente” (OMS, 2009).

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Esta interposição negativa do homem vem aumentando os riscos à saúde,
como, por exemplo, a transmissão de doenças zoonóticas.2 A crescente da
temperatura global pode levar ao aparecimento de doenças novas transmitidas por
vetores3, como carrapatos, moscas, mosquitos, ou pulgas, que se proliferam em
climas mais quentes. Igualmente, morcegos, pombos, escorpiões, baratas (...)
encontram o meio em que vivem modificado, o que os coloca em situações de
possível maior contato com os seres humanos elevando os índices de doenças
infecciosas. Eventos climáticos extremos, como enchentes e secas, elevação do
nível do mar, entre outros, afetam a disponibilidade de recursos naturais, levando
à escassez de alimentos e água. O aumento das temperaturas e a poluição do ar
estão levando à acentuada incidência de doenças respiratórias, como asma,
bronquite e pneumonia; doenças neurológicas, como demência, Alzheimer;
doenças reprodutivas - aborto espontâneo, baixo peso ao nascer. Também refletem
na elevação dos casos de doenças cardiovasculares, como hipertensão e infarto,
pois a alteração do padrão de precipitação afeta a disponibilidade de água potável
e a qualidade dos alimentos.

As alterações climáticas surgem principalmente da relação causa-efeito dos


processos de assolamento com a mecânica dos sistemas sociais. Sabendo disso, em
2008, unidas em consenso OIE, OMS e FAO, desenvolvem o conceito de “saúde
única” - one wealth, com o objetivo de reduzir riscos e disseminação de doenças
infecciosas que a interface humanos-animais-meio ambiente pode provocar.

“Segundo Siqueira et al. (2001), os cenários futuros causarão redução média de 31% na
produção nacional de trigo, 16% para 0 milho e acréscimos médios de 27% para a soja,
como resultado do aumento da concentração de CO2.” (Ghini)

Sendo o processo saúde-doença um fenômeno complexo que resulta da


interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais e ambientais, de forma isolada
ou combinada, a probabilidade da parte da população com menos acesso à
alimentação nutritiva, que vive em condições precárias de moradia, sem

2
Zoonose: doenças que são transmitidas de animais para humanos, ou de humanos para os animais.
3
Vetor é todo ser vivo invertebrado capaz de transmitir um agente infectante (vírus, bactéria,
protozoário ou parasita) de forma ativa (o vetor é infectado) ou passiva (o vetor não se infecta).

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saneamento básico, com educação de baixa qualidade, acesso restrito à prevenção
e tratamento de doenças e vive em vulnerabilidade está ampla e imensamente
mais suscetível ao desenvolvimento, agravo ou morte por doenças, ou seja,
afetando os DSS’s corremos o risco de ampliar a desigualdade social. As mudanças
climáticas afetam diretamente os determinantes sociais de saúde ampliando a
abrangência da pobreza e desigualdade social.

“Os fatores socioeconômicos (...); os grupos sociais economicamente privilegiados


estão menos sujeitos à ação dos fatores ambientais que levam à ocorrência de doenças
cuja incidência é elevada nos grupos economicamente desprivilegiados. Quanto aos
fatores sociopolíticos (...) elencam-se os seguintes: instrumentação jurídica legal,
decisão politica, higidez politica, participação consentida e valorização da cidadania,
participação comunitária efetivamente exercida e transparência das ações e acesso à
informação. Os fatores socioculturais (...) preconceitos e hábitos culturais, as crendices,
os comportamentos e valores contribuem para a difusão e manutenção das doenças.
(...) os fatores psicossociais estão relacionados à marginalidade, ausência de relações
parentais estáveis, desconexão em relação à̀ cultura de origem, falta de apoio no
contexto social em que se vivem condições de trabalho extenuantes ou estressantes,
promiscuidade, transtornos ecoô- micos, sociais ou pessoais, falta de cuidados
maternos na infância, carência afetiva, desemprego.” (Galleguillos, 2014)

O mundo encontra-se com a irrefutável missão de parar de destruir o planeta.


É preciso urgentemente adotar práticas que mitiguem as mudanças climáticas.

As emissões de gases de efeito estufa são a principal causa das mudanças


climáticas. Reduzir essas emissões alterando nossos padrões de consumo e
produção, investindo em energias renováveis e criando políticas públicas que
incentivam a sustentabilidade seria o primeiro passo.

A começar por cada um de nós: no descarte de resíduos, com a coleta


seletiva; com hábitos de consumo consciente, sem esbanjar; deixando de descartar
lixo e entulhos em córregos; freando o desperdício de água e ampliando a
reutilização hídrica; consumindo a energia elétrica de forma racional ou até
aderindo às fontes de energia renováveis; preferindo outros meios de locomoção,
que não através de veículos poluentes – essas e muitas outras atitudes simples que
às vezes não adotamos, mas que contribuem consideravelmente na retomada da

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saúde do planeta. Reutilizar, reaproveitar e reciclar devem ser nossas palavras de
ordem. Tornar o mundo mais sustentável é um passo prioritário.

Mas, mesmo que as emissões de gases de efeito estufa sejam reduzidas,


precisamos entender que já estamos sofrendo mudanças climáticas e, mesmo
parando ou diminuindo, ainda causarão impactos por muitos anos. Ou seja, a
sociedade precisa se adaptar, na medida do possível, às mudanças climáticas,
investindo em na construção de infraestruturas resistentes e ajustadas à nova
realidade, assim como desenvolver sistemas de saúde que possam estar
preparados para atender às “novas” necessidades da população, promovendo
também a equidade social e o fortalecimento dos sistemas de proteção social.

Sendo “saúde” definido não apenas como a ausência de doença, mas como a
“situação de perfeito bem-estar físico, mental e social” (OMS), além de um direito
humano fundamental, seu alcance é essencial para um desenvolvimento
sustentável. As mudanças climáticas representam uma ameaça crescente não só à
saúde humana, mas como a toda vida terrestre. Cabe a cada um de nós, se não
“consertar” nossos erros do passado, construir um mundo mais igualitário e com
consciência e atitudes ecológicas.

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Bibliografia

 Constituição da República Federativa do Brasil. (1988). Brasilia, DF: Presidência da


República.

 CORTESE, T. T., & NATALINI, G. (2014). Mudanças climáticas: do global ao local.


Barueri: Manole.

 Galleguillos, T. B. (2014). Epidemiologia - Indicadores de Saúde e Análise de Dados. São


Paulo: Saraiva.

 Ghini, R. (s.d.). Embrapa. Fonte:


https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/130998/1/2006AA-034.pdf

 Portal ENESP Fiocruz. (s.d.). Acesso em 05 de 12 de 2023, disponível em FIOCRUZ:


https://dssbr.ensp.fiocruz.br/dss-o-que-e/

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