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CONCEITOS DA ATUALIDADE

DOENÇAS RELACIONADAS A EDIFICAÇÕES

Nos últimos 30 anos, desenvolveu-se um novo ecossistema criado pelo homem — o ambiente interno
controlado, revestido da carcaça externa vedada dos modernos edifícios comerciais. Este novo
ambiente tem um potencial considerável de afetar a saúde pública, devido ao fato de mais da metade
da força de trabalho adulta da América do Norte e da Europa Ocidental trabalharem em escritórios ou
ambientes não industriais "semelhantes a escritórios".1

O ambiente interno dos modernos edifícios comerciais pode ser afetado por seus ocupantes, suas
atividades de trabalho, equipamentos, plantas, mobiliário, materiais de construção, sistemas de
ventilação e pela poluição do ar exterior. Na grande maioria dos edifícios, este ambiente complexo é
controlado por um ou dois técnicos que monitoram os sistemas altamente automatizados de
aquecimento, ventilação e ar condicionado. Estes técnicos não têm nenhum modo de medir os níveis
internos de poluição do ar, e têm pouquíssimo contato direto com os ocupantes do edifício.

Nas duas últimas décadas, surgiu um grupo de problemas de saúde relacionados a este ecossistema
— denominados doenças relacionadas a edificações. Neste artigo, tentamos fornecer informações a
profissionais de saúde que estejam avaliando trabalhadores com problemas de saúdes que possam
estar relacionados a este ambiente de trabalho. As evidências citadas foram restringidas a descrições
de surtos nos quais um agente causador pôde ser identificado; estudos baseados em populações de
trabalhadores em edifícios, e manipulações experimentais de exposição a substâncias presentes no
ambiente de escritórios.

DEFINIÇÕES

Neste artigo, o termo "doenças relacionadas a edificações" será usado para definir doenças surgidas
em edificações não industriais ou residenciais, das quais a maioria são os edifícios comerciais.

Dos Departamentos de Medicina e Epidemiologia e Bioestatística, Montreal Chest Institute, e Unidade


de Epidemiologia Respiratória, McGill University — ambos em Montreal. Enviar solicitações de
reimpressão ao Dr. Menzies na Respiratory Epidemiology Unit, McGill University, 1110 Pine Ave. W.,
Montreal, QC H3A 1A3, Canada.

O termo "doenças específicas relacionadas a edificações" refere-se a um grupo de doenças com um


quadro clínico razoavelmente homogêneo, anormalidades objetivas em avaliação clínica ou
laboratorial, e uma ou mais fontes ou agentes identificáveis, reconhecidamente causadores de
doenças infecciosas, imunológicas ou alérgicas. O termo "doenças não específicas relacionadas a
edificações" será usado para referir-se a um grupo heterogêneo de sintomas relacionados ao trabalho
— incluindo irritações da pele e das mucosas dos olhos, nariz e garganta, dores de cabeça, fadiga e
dificuldade de concentração. Estas são doenças consideradas com base na ocorrência de sintomas,
mesmo quando os trabalhadores afetados não possuam anormalidades clínicas ou laboratoriais
objetivas e os agentes causadores não possam ser encontrados. Os sintomas podem ser
considerados relacionados a edificações, mesmo que a única evidência sejam os relatórios dos
trabalhadores. Evitamos o termo "síndrome do edifício doente"2, porque ele sugere que os edifícios
requerem uma investigação e tratamento, enquanto os médicos são confrontados com trabalhadores

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individuais com problemas de saúde potencialmente relacionados ao trabalho. O termo também não é
exato em sugerir que há duas populações de edifícios — doente e saudável; esta conclusão não está
embasada em pesquisas epidemiológicas de trabalhadores em diversos edifícios.3-12 Além disso, a
designação de "edifícios saudáveis" pode ser prejudicial, pois sugere que em tais edifícios, pode-se
presumir que os sintomas dos trabalhadores afetados não estejam relacionados ao ambiente de
trabalho.

DOENÇAS ESPECÍFICAS RELACIONADAS A EDIFICAÇÕES

A Tabela 1 resume as principais doenças específicas relacionadas a edificações. A transmissão de


certos agentes patogênicos pode ser aumentada em um ambiente restrito amontoado de pessoas, ou
por uma taxa de circulação reduzida do ar. Um único agente causador pode resultar em surtos
relacionados a edificações com manifestações bem diferentes. Por exemplo, a presença de Legionella
pneumophila pode resultar na doença dos legionários, uma pneumonia com taxa de fatalidade de 10 a
15 porcento13,15, ou em febre de Pontiac, uma doença mais suave, semelhante a gripe.14,15 De modo
semelhante, a pneumonite por hipersensibilidade e a febre do umidificador foram originalmente
descritas como doenças distintas, mas podem coexistir e resultar de respostas imunológicas
semelhantes a fungos, bactérias ou protozoários que estejam contaminando sistemas de umidificação
ou de ventilação. As manifestações de ambas as doenças incluem febre, calafrios, mal-estar e a
presença de

TABELA 1. DOENÇAS ESPECÍFICAS RECONHECIDAMENTE OU SOB SUSPEITA DE ESTAREM


RELACIONADAS A EDIFICAÇÕES*

DOENÇA TIPO DE TIPO DE FONTE EM AGENTE OU


ESTUDO EDIFICAÇÃO AMBIENTE EXPOSIÇÃO
INTERNO

Infecciosas

Doença dos Relatórios de Grandes Torre de Legionella


legionários e caso edifícios refrigeração, ar pneumophila
febre de Pontiac (esporádicos ou (escritórios, condicionado ou
epidêmicos) hospitais, hotéis) umidificador,
água potável

Doença Estudo em Edifícios Fonte humana Vírus


semelhante a seção comerciais respiratório
gripe ou transversal
resfriado comum Quartéis
Estudo militares
longitudinal

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Tuberculose Casos Edifícios Fonte humana Mycobacterium


indexados comerciais tuberculosis
seguidos de
estudos em
seção
transversal

Imunológicas

Pneumonite Relatórios de Edifícios Umidificador Diversas


hipersensível e caso comerciais bactérias,
febre do fungos,
umidificador actinomicetes
Ar condicionado,
Casos Edifícios umidificador, Aspergillus,
indexados comerciais, unidade de penicillium,
seguidos de fábricas ventilação diversos
estudos em organismos
seção
transversal

Alérgicas

Dermatite, rinite Relatórios de Edifícios Poeira Ácaros,


e asma caso comerciais superficial, produtos para
carpetes, roupas plantas, agentes
alergênicos
animais, fungos

Umidificador Desconhecido
Casos Edifícios
indexados comerciais e
seguidos de fábricas
estudos em
seção
transversal

Rinite

Urticária de Relatórios de Edifícios Papéis de cópia Resina


contato, edema caso comerciais sem carbono alquilfenol
da laringe novolac

Irritação

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Dermatite, Relatórios de Edifícios Placas do teto Fibras de vidro


irritação do trato caso comerciais
respiratório Fumaça de Produtos da
superior e Relatórios de Edifícios tabaco, combustão (por
inferior caso comerciais descarga de ex., monóxido
veículos, de carbono,
qualquer dióxido de
processo de nitrogênio)
combustão

*Os dados foram retirados de relatórios de caso, estudos de casos indexados seguidos de avaliações
epidemiológicas ou de estudos de campo (quando disponíveis).

anticorpos específicos ao agente microbiano. A pneumonite por hipersensibilidade tem como sintomas
adicionais a tosse, compressão do tórax, dispnéia, anormalidades das funções pulmonares e,
ocasionalmente, anormalidades radiográficas. Quando todos os trabalhadores expostos foram
cuidadosamente examinados, houve um amplo espectro de manifestações.20-22 Por exemplo, em um
grupo de 14 trabalhadores expostos a níveis de penicillium de 5.000 a 10.000 unidades formadoras de
colônias por metro cúbico, a pneumonite por hipersensibilidade se desenvolveu em 1 trabalhador não
fumante, houve um desenvolvimento de asma em outro trabalhador, com histórico de atopia e
tabagismo, e 6 outros tiveram sintomas respiratórios não específicos.21

Os relatos de surtos de asma relacionados à exposição em edifícios comerciais são raros, embora o
agente causador em tais surtos não tenha sido identificado.23,24 A exposição a agentes alergênicos
comuns a ambientes fechados, como ácaros, produtos para plantas e agentes alergênicos
transportados passivamente, pode ocorrer em qualquer edifício ocupado. Testes de exposição
(challenge tests) com fumaça de fotocopiadoras produziram angiite25 por hipersensibilidade, e testes
com papéis de cópia sem carbono produziram urticária e edema da laringe26,27 ou faringite.28

A dermatite, conjuntivite e sintomas do trato respiratório superior e inferior também representam


respostas de irritação devido a exposição a agentes não alergênicos. A exposição a fibras de vidro
sintéticas produziu coceiras na pele, ardência nos olhos, irritação na garganta e tosse.29,30 As fibras
de vidro podem se desprender das chapas do teto através de danos físicos diretos, ou indiretamente
através do movimento das placas pelas vibrações do edifício ou pelas alterações de pressão do
ambiente, quando as portas são abertas ou fechadas. 29,30

Foram medidos níveis de carboxiemoglobina de 2,0 a 3,5 porcento em não fumantes expostos a
concentrações de 4 a 10 ppm de monóxido de carbono em ambiente fechado. Assim, a exposição a
níveis de 20 a 50 ppm, provenientes do tabagismo intenso33 ou da inspiração de fumaça de
descarga32 poderiam resultar em concentrações de carboxiemoglobina de 5 a 10 porcento, o que
pode diminuir a função cognitiva e o estado de alerta34, e produzir sintomas de dores de cabeça e
tonteiras —

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TABELA 2. RELACIONAMENTO DE CARACTERÍSTICAS PESSOAIS, DE TRABALHO, DO


AMBIENTE DE TRABALHO E DE VENTILAÇÃO DA EDIFICAÇÃO, A DOENÇAS NÃO
ESPECÍFICAS RELACIONADAS A EDIFICAÇÕES ENTRE TRABALHADORES EM ESCRITÓRIOS.

CARACTERÍSTICA ESTUDOS QUE ESTUDOS QUE NÃO ENCONTRARAM


ENCONTRARAM UMA ASSOCIAÇÃO
UMA
ASSOCIAÇÃO

NO. DE NO. DE NO. DE NO. DE


ESTUDOS PESSOAS ESTUDOS PESSOAS
TESTADAS TESTADAS

Pessoal

Sexo feminino 7 23.764 1 3.948

Faixa etária mais jovem 4 17.166 2 8.450

Atopia. alergia, asma 9 23,662 0 —

Fumantes 2 8.433 4 13.944

Ativos 3 15.017 2 5.338

Passivos

Fatores psicossociais 7 21.762 0 —

Trabalho

Trabalho burocrático 3 9.301 2 6.489

Trabalho com terminais de 6 22.277 1 880


vídeo

Trabalho com papel sem 4 16.323 0 —


carbono

Trabalho com ou próximo a 4 10.720 1 3.948


fotocopiadoras

Ambiente de trabalho

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Escritórios de conceito 2 6.489 1 3.948


aberto

Muitas pessoas em 3 11.430 0 —


ambiente restrito

Presença de carpetes 3 8.335 1 4.943

Poeira superficial 2 7.455 2 11.986

Ruído 2 5.338 0 —

Edifício

Ventilação 3 8.168 2 12.977

Mecânica simples 5 26.838 0 —

Ar condicionado

Umidificação 2 9.721 1 11.627

Taxa de ventilação < 10 3 4.959 0 —


l/s/pessoa

o tão chamado envenenamento oculto por monóxido de carbono.35 A exposição, em ambientes


fechados, ao dióxido de nitrogênio pode ocorrer como resultado da inspiração de fumaça de descarga
ou de altos níveis externos do mesmo36,37, podendo causar irritação das mucosas com sintomas
respiratórios e um aumento das infecções do trato respiratório. O formaldeído é reconhecido como um
irritante de mucosas, mas não há surtos bem documentados de doenças relacionadas à exposição a
este agente em edifícios comerciais.38

DOENÇAS NÃO ESPECÍFICAS RELACIONADAS A EDIFICAÇÕES

Nas pesquisas de seção transversal em edifícios selecionadas sem considerar o estado de saúde dos
ocupantes, até 60 porcento dos trabalhadores relataram pelo menos um sintoma relacionado ao
trabalho, e 10 a 25 porcento relataram que tais sintomas ocorriam duas vezes por semana, ou com
mais freqüência.6,7,9,11,12,39 As associações de tais sintomas a uma faixa etária mais jovem, sexo
feminino e um histórico de atopia (Tabela 2) pode refletir respostas fisiológicas elevadas em limites
mais baixos, ou uma maior exposição ocupacional.46-49 A associação dos sintomas a fatores
psicossociais não significa que "o problema está na mente dos trabalhadores". Os resultados de
testes psicológicos de trabalhadores sintomáticos e assintomáticos dos escritórios é semelhante51; os
fatores psicossociais estão associados a doenças cardiovasculares52, e tais fatores podem ser
resultantes, em vez de causarem, problemas de saúde.53

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Como já analisado intensamente em outros artigos54, a exposição à fumaça de tabaco ambiental em


ambientes fora do ambiente de trabalho (principalmente no lar) tem sido consistentemente associada
a diversos efeitos adversos de saúde, incluindo câncer dos pulmões. Já foi sugerido55 que esta
evidência deveria ser extrapolada para o ambiente de trabalho em apoio a uma proibição do fumo em
tais edifícios, apesar das poucas evidências, como pode ser visto na Tabela 2.

A poeira superficial e os carpetes são reservatórios de fungos56, compostos orgânicos voláteis e


ácaros57,58, que podem ser liberados quando agitados, resultando em efeitos adversos à saúde.
Nenhum estudo demonstrou uma redução nos sintomas após a remoção de carpetes, embora foi
demonstrado que houveram melhoras associadas a uma melhor limpeza.60,61 Os fungos e as
bactérias foram implicados nas doenças relacionadas a edificações devido à associação de sintomas
não específicos a indicadores de uma potencial contaminação microbiana, como muita
umidade4,57,62, poeira superficial3,10, carpetes3,10,43 e ar condicionado8,9,11,44. Microorganismos,
suas toxinas ou ambos foram detectados em altas concentrações em locais com danos por infiltração
de água63, além dos sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado — ou em serpentinas de
refrigeração64, filtros65, dutos66,67, umidificadores,24 aparadores de óleo64 e unidades de refrigeração
do ar.19,21,64 No entanto, os níveis de micróbios no ar têm sido

TABELA 3. ASSOCIAÇÃO DE DOENÇAS RELACIONADAS A EDIFICAÇÕES A FATORES


AMBIENTAIS MEDIDOS

VARIÁVEL TIPO DE NÍVEL NO NÍVEL NO QUAL HÁ SINTOMAS


(UNIDADE) ESTUDO QUAL NÃO HÁ ASSOCIADOS
SINTOMAS
ASSOCIADOS

NÍVEL FAIXA NÍVEL FAIXA SINTOMA


MÉDIO MÉDIO

Temperatura Observação 23,0 22,0- 23,0 21-26 Dores de cabeça,


(°C) em campo 24,4 fadiga

23,3 21-26 No. Total de


sintomas
relatados

Umidade Câmara 50 50-80 18 Olhos, nariz


relativa (%)

10 10-70

9 9-50

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Observação de >40 10-20 Mucosa


campo (longo
prazo) sistêmico

Fungos Observação de 32 0-111 97 2-978 Nariz, garganta,


(unidades de campo pele
formação de
colônias/m³)

27 2-200

45 28-75

14 8-17

10 1-100

Bactérias Observação de 574 120- 22* 10- Nº total de


(unidades de campo 2100 33* sintomas
formação de relatados
colônias/m³)

342 80-
961

42 25-
240

Compostos Câmara 5.000 Mucosas


orgânicos
voláteis (µg/m³)

25.000 Mucosas, dores


de cabeça, fadiga

Observação de 220 30- 1247 Mucosas,


campo 3930 sistêmico

70 3-740 941 160- Mucosas


2353

834 100- 380 50- Mucosas,


2630 1380 sistêmico

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Poeira (µg/m³) Observação de 30 6-110 16 8-24 Olhos


campo

22 13-29 Sistêmico

133 10- Olhos


962

Formaldeído Observação de 36 12-60 1.044 140- Olhos, dores de


(µg/m³) campo 1920 cabeça, mucosas,
fadiga

11 0-30 31 11-59

40 0-80 Dores de cabeça,


mucosas, fadiga,
pele

Monóxido de Observação de 4,5


carbono (ppm) campo

3,9 2-5,5

* O valor refere-se apenas a bactérias gram-negativas, uma vez que somente bactérias gram-
negativas foram associadas aos sintomas.

baixos, e associados somente de forma inconsistente a sintomas em estudos de campo, como


mostrado na Tabela 3.44,57,72,75

Os compostos orgânicos voláteis são produzidos por uma ampla variedade de fontes, incluindo
materiais de construção ou mobiliário novos (são responsáveis pelo "odor de carro novo"), agentes de
limpeza, tintas, solventes e equipamentos como fotocopiadoras.58 Em três estudos cegos de câmara
simples (single-blind chamber), a exposição controlada a uma mistura de compostos orgânicos
voláteis, encontrados normalmente em ambientes de escritórios, resultou em irritação de mucosas
(Tabela 4).49,77,78 Entretanto, as concentrações de compostos orgânicos voláteis usados (5000 e
25.000 µg/m³) eram muito mais altas que os níveis detectados na maioria dos estudos de campo
(Tabela 3)50,57,74,76,79, e não há estudos de exposição controlada a compostos orgânicos voláteis nas
concentrações encontradas normalmente no ambiente de escritório.

A controvérsia relacionada a taxa de ventilação (definida como a quantidade de ar externo fornecido


ao ambiente interno) foi em grande parte resolvida por uma síntese recente.78 Descobriu-se que
prevalência de sintomas tem sido mais alta em edifícios com um fornecimento de ar externo menor
que 10 l/s/pessoa6,7,39,41, e aumentos experimentais em ventilação reduziram os sintomas (com uma
exceção84), caso as taxas de ventilação mínima fossem abaixo de 10 l/s/pessoa, mas não tiveram

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efeito algum com taxas de ventilação mais alta.42,82,89 Conseqüentemente, as alterações de


ventilação influenciam fortemente os níveis de poluentes em ambientes fechados quando a ventilação
está em níveis baixos, mas têm muito menos efeito com taxas de ventilação em níveis mais altos.

Em resumo, diversos fatores pessoais parecem estar associados a doenças não específicas
relacionadas a edificações, possivelmente por indicarem uma maior susceptibilidade. Os sintomas
também estão associados a marcadores de exposição individual, como o uso de papel sem carbono,
fotocopiadoras e terminais de vídeo ou à presença de carpetes e poeira; no entanto, os agentes
específicos responsáveis pelos efeitos associados não foram identificados. A importância de fatores
em todo o edifício, como o tipo ou a presença de ventilação mecânica6,8,,9,11 ou umidificação,
permanece obscura. Os estudos visando examinar estes fatores foram confundidos pelas diferenças
entre os edifícios nas características dos ocupantes ou de seu trabalho, e os

TABELA 4. EFEITOS DAS INTERVENÇÕES EXPERIMENTAIS DE DOENÇAS NÃO ESPECÍFICAS


RELACIONADAS A EDIFICAÇÕES

VARIÁVEIS QUE REDUÇÃO EM SINTOMAS NENHUMA ALTERAÇÃO NOS


PODEM SER SINTOMAS
MEDIDAS

Nº DE NÍVEL NÍVEL PÓS- Nº DE NÍVEL NÍVEL PÓS-


CASOS MÍNIMO INTERVENÇÃO CASOS MÍNIMO INTERVENÇÃO

Temperatura (°C) 339 1,5°C a menos

Umidade relativa 339 25 40 8 9 50


(%)

12 18 50

211 24 33

Ventilação do ar 940 <7,5 25 339 12 24


exterior
(l/s/pessoa)

1546 14 30

75 6 20

Ionização (íons 339 60 26.000 77 9500 6500


negativos/cm³)

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CONCEITOS DA ATUALIDADE

INTERVENÇÕES INTERVENÇÃO EFICAZ INTERVENÇÃO INEFICAZ


QUE NÃO
PUDERAM SER
MEDIDAS

RESULTADO RESULTADO

Limpeza da Redução dos sintomas —


estação de
trabalho

Limpeza do — Sintomas inalterados


sistema de
aquecimento-
ventilação-ar
condicionado

Controle pessoal Redução dos sintomas —


sobre a
ventilação Aumento de produtividade

Filtros de ar — Sintomas inalterados


portáteis

resultados podem ser parciais devido à consciência dos ocupantes e sua atitude quanto ao estudo.
Embora a prevalência de sintomas tenha sido consistentemente associada à temperatura e
umidade42,68,82, este não foi o caso para os níveis medidos de concentrações químicas e
microbianas, apesar das evidências indiretas implicando estes fatores. Esta falta de associação pode
refletir os agentes múltiplos

presentes, sua variabilidade espacial e temporal e o fato de que os métodos atuais de medição são
dispendiosos e insuficientemente precisos para os baixos níveis normalmente presentes em
ambientes de escritório.

SÍNTESE DAS EVIDÊNCIAS QUE DIZEM RESPEITO A DOENÇAS RELACIONADAS A


EDIFICAÇÕES COMERCIAIS

As doenças não específicas relacionadas a edificações podem ser explicadas por três fenômenos:
Um amplo espectro dos limites de resposta em qualquer população (suscetibilidade), um espectro de
resposta a qualquer agente dado e a variabilidade de exposição dentro de grandes edifícios
comerciais.

Os sintomas podem se desenvolver em pessoas expostas a agentes em concentrações acima de seu


limite de resposta. Como mostra a Figura 1, entre adultos saudáveis existe uma faixa ampla no limite

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CONCEITOS DA ATUALIDADE

para a detecção e efeitos irritantes do formaldeído90,91; o mesmo foi demonstrado para os compostos
orgânicos92 voláteis e a fumaça de tabaco80 no ambiente. Uma variabilidade semelhante do limite foi
demonstrada para as respostas fisiológicas à temperatura47,48, ao ozônio, sulfatos e particulados93, e
à endotoxina94. Embora estes limites variem visivelmente entre questões específicas, há muito menos
variação nos valores para a mesma questão. Os limites de resposta são mais baixos entre
trabalhadores com asma93, entre aqueles com sintomas anteriores relacionados com edificações49, e
entre os do sexo feminino46,48 ou relativamente jovens46,48. Adicionalmente, os limites de resposta
fisiológica a agentes alergênicos, compostos orgânicos voláteis e fumaça de tabaco no ambiente são
reduzidos pela exposição concomitante ao ozônio95, temperatura mais alta96 e umidade mais baixa69,
respectivamente.

Embora as doenças especificas relacionadas a edificações sejam inicialmente identificadas quando


diversos trabalhadores apresentam manifestações clínicas e anormalidades objetivas semelhantes,
uma descoberta importante porém deixada de lado nos surtos tem sido o amplo espectro de resposta
clínica aos mesmos agentes.20-22 Normalmente, tem havido uns poucos trabalhadores afetados
seriamente por anormalidades clínicas específicas. Entre outros trabalhadores expostos, alguns
(freqüentemente mais que o número de casos iniciais sentinelas) têm tido leves anormalidades
objetivas, como leucocitose ou alterações nas funções pulmonares, enquanto outros têm tido
sintomas não específicos, e alguns são assintomáticos, apresentando entretanto anticorpos
específicos.20-22 Sem os casos sentinelas, a causa dos sintomas nos outros trabalhadores afetados
poderia ser ignorada, ou o surto poderia ser atribuído a uma síndrome de edifício doente.

Os modernos arranha-céus comerciais são projetados para oferecer um ambiente interior estável e
uniforme, mas há uma considerável variação espacial e temporal no ambiente real. A variação
temporal resulta das alterações no fornecimento de ar exterior e dos níveis de poluição do ar exterior,
bem como das mudanças de ocupantes e suas atividades.36,37 A variação espacial é resultante das

Figura1. Limite para a Resposta à Exposição Controlada ao Formaldeído.

A figura mostra o limite absoluto para a detecção do odor de formaldeído, da concentração na qual o
odor de formaldeído foi detectado em 100 porcento das exposições (challenges) e da concentração
de formaldeído causadora de irritação nasal.

diferenças de fontes locais de poluentes — os ocupantes, suas atividades de trabalho, equipamento e


mobiliário, e materiais que absorvem e posteriormente reemitem contaminantes58 — e da variação da
eficácia local da ventilação, devido a reformas e ao desgaste normal do sistema de ventilação. Esta
variabilidade pode criar microambientes bem diferentes, por toda parte, um grande edifício.75,98

Caso haja uma variação independente na concentração de diferentes agentes dentro de um grande
edifício comercial, e na suscetibilidade dos trabalhadores a estes agentes, os trabalhadores podem
ser individualmente sintomáticos devido a exposição localizada a um ou mais agentes a níveis que
excedam seu limite de resposta. Esta hipótese é difícil de ser testada, devido ao grande número de
agentes e sintomas, e à dificuldade de caracterizar a exposição precisamente. Entretanto, ela poderia
explicar por que as pesquisas epidemiológicas falharam em identificar as relações entre os fatores
ambientais medidos em um número limitado de locais de trabalho, e os sintomas de todos os

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CONCEITOS DA ATUALIDADE

trabalhadores dentro desses edifícios.12,57,99,100 Este conceito também fornece um motivo lógico para
mover os trabalhadores afetados para outro local de trabalho — uma solução simples que nunca foi
formalmente avaliada. O controle pessoal da ventilação iria capacitar os trabalhadores a atenuar as
condições adversas locais, mesmo que eles não soubessem o que os estivesse afetando. Esta
abordagem tem sido associada a redução de sintomas12,86 e aumento de produtividade.87

UMA ABORDAGEM AO PACIENTE

Dada a complexidade do ambiente fechado de edifícios comerciais e dos numerosos fatores


contributivos, é difícil especificar uma abordagem padronizada simples a um trabalhador de escritório
com um problema de saúde potencialmente relacionado ao trabalho. Entretanto, certos princípios
podem ser enunciados.

Um cuidadoso registro de histórico é um primeiro passo essencial. Os trabalhadores podem não


reconhecer o ambiente de trabalho como a fonte de seus sintomas; senso assim, é importante obter
uma descrição completa do início e do curso dos sintomas, e sua relação temporal ao ambiente de
trabalho. Por outro lado, caso os trabalhadores atribuam seus sintomas ao ambiente de trabalho,
também é importante excluir outras causas não ocupacionais.

O exame físico costuma ser normal em doenças não específicas relacionadas a edificações, mas as
conclusões podem ser anormais em doenças específicas. Pode ser apropriado realizar investigações
adicionais, para identificar entidades específicas; são exemplos disso os exames de radiografia do
tórax e de função dos pulmões, em busca da pneumonite por hipersensibilidade ou asma, e os
exames da pele e análises de serum IgE, em busca de manifestações alérgicas.

Caso se suspeite de uma doença relacionada a edificações, uma visita ao local de trabalho é um
valioso ponto de partida na avaliação do ambiente de escritórios. Uma equipe incluindo o médico, um
higienista industrial e engenheiros estará melhor capacitada a identificar e resolver os problemas
neste complexo ambiente interno. Os clínicos devem estar familiarizados com oficiais de saúde
pública ou ocupacional ao nível municipal, estadual ou federal, que possuam experiência na avaliação
de problemas semelhantes. Uma vantagem importante de se entrar em contato com essas
autoridades é a de que elas recebem relatórios de outros trabalhadores afetados no mesmo edifício.
Tais relatórios devem precipitar uma avaliação ambiental mais completa, e podem capacitar os
trabalhadores a receberem compensações ou benefícios semelhantes. Pode ser indicado realizar
testes de amostras do ar ambiental caso se suspeite de contaminantes específicos de ambientes
fechados, mas isto é dispendioso e requer considerável experiência em medição e interpretação.

As intervenções que se demonstraram atenuantes de doenças não específicas relacionadas a


edificações (Tabela 4) devem ser consideradas, embora possam não ser aplicáveis a todas as
situações. Outra solução possível (embora não testada) para o trabalhador com sintomas não
específicos e inexplicados seria alterar seu microambiente de trabalho mudando-o de local de
trabalho, mesmo dentro do mesmo edifício.

CONCLUSÕES

http://traducao.cenpes.petrobras.com.br/docs/Doenças%20relacionadas%20a%20edificações.html (13 de 14) [25/11/2003 11:18:43]


CONCEITOS DA ATUALIDADE

Os sintomas de doenças não específicas relacionadas a edificações são comuns; sua


heterogeneidade sugere que eles não representam uma única desordem. Embora haja poucas
evidências diretas convincentes que impliquem agentes causadores específicos, há evidências
indiretas suficientes para apoiarem diversas recomendações. Por exemplo, parece prudente manter
um fornecimento de ar externo superior a 10 l/s/pessoa; selecionar os materiais de construção,
mobiliário e equipamentos que possuam menos probabilidades de liberarem poluentes como
formaldeído ou compostos orgânicos voláteis; assegurar a manutenção e limpeza adequadas, e evitar
materiais que possam agir como substratos para a proliferação de micróbios ou ácaros.

Os trabalhadores no ambiente interno dos edifícios comerciais compreendem mais da metade de toda
a força de trabalho dos países industrializados. Uma parcela substancial tem sintomas no trabalho.
Dada a enorme população aparentemente afetada e nossa compreensão atualmente limitada dos
efeitos desse ambiente sobre a saúde, necessitamos com urgência de maiores pesquisas. A
suscetibilidade deveria ser avaliada em estudos experimentais de exposição a poluentes individuais e
múltiplos, a concentrações encontradas comumente no ambiente dos escritórios. As intervenções
propostas devem ser avaliadas em testes apropriados, que incorporem definições de caso,
questionários e métodos de medição ambiental normalizados. Tais estudos poderiam auxiliar a
assegurar que o ecossistema criado pelo homem dentro dos modernos edifícios comerciais sejam um
ambiente de trabalho saudável.

Com o apoio das bolsas Chercheur-Boursier Clinicien do Fonds de la Recherche en Santé du Quebec
(ao Dr. Menzies) e do Montreal Chest Institute Research Centre (ao Dr. Bourbeau).

http://traducao.cenpes.petrobras.com.br/docs/Doenças%20relacionadas%20a%20edificações.html (14 de 14) [25/11/2003 11:18:43]

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