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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESUCA

ODONTOLOGIA / Semiologia e Estomatologia

Lesão ulcerativa
crônica do lábio

EMILSON QUARTIERI, NIKOLI HOFSETZ, THALLES TANCREDI,


CAROLINE KUPSTAITIS E NATASHA BORBA
Caso
do estudo
Homem, 23 anos, foi encaminhado à Faculdade de
Odontologia da UFRGS, com principal sintoma, uma úlcera
indolor em vermelhidão de lábio, com surgimento há 6 semanas
e estável.
Paciente não fumante, negava trauma na região. Relatou
uso de corticosteroides tópicos, sem melhora. Histórico de
colonoscopia recente para descartar a doença de Crohn devido
sangramento retal e dor abdominal. Foi examinado por cirurgião-
dentista, 4 meses após aparecimento da lesão. Foi recomendado
realização de exames de sangue (não contributivos) e biópsia,
teste de VDRL negativo.
Entretanto, o histopatológico revelou processo inflamatório
crônico inespecífico. No exame extraoral, à palpação linfonodos
móveis, macios e indolores. A lesão, uma ulceração arredondada
de aproximadamente 1 cm de diâmetro, recoberta por
membrana fibrinopurulenta amarelo-esbranquiçada, levemente
endurecida e com bordas arredondadas.
Diagnóstico
do estudo
Você consegue fazer o diagnóstico?

A) Sífilis primária
B) Úlcera eosinofílica
C) Queilite Actínica
D) Paracoccidioidomicose
E) Carcinoma de células escamosas
Diagnóstico
do estudo

A) Sífilis primária
Diagnóstico
do estudo
Sífilis, doença infecciosa causada pela espiroqueta T. pallidum,
adquirida principalmente através do contato sexual, mas
também por transfusão sanguínea, via transplacentária (Sífilis
congênita), ou durante o parto se o recém-nascido entrar em
contato com uma lesão contagiosa.
A Sífilis é um problema de saúde pública, em 2012 a OMS
estimou uma taxa de incidência global:

1)1,5 casos por 1.000 mulheres ;


2)1,5 casos por 1.000 homens;
3)Taxa de prevalência: São 18 milhões de novos casos.
Diagnóstico
do estudo
Primeiramente, foram solicitadas as lâminas histológicas da
biópsia anterior para reavaliação (hematoxilina e eosina), notou-
se inflamação perivascular com plasmócitos predominantes.
Tais achados com sugestão de sífilis primária. Sendo assim, o
resultado do teste anterior pode ter sido um falso negativo,
realizado 30 dias após aparecimento da lesão, já que durante a
incubação de Treponema pallidium, os níveis de anticorpos
podem ser baixos. Os exames foram repetidos após os 60 dias
de aparecimento da lesão, confirmando as suspeitas, através
dos resultados positivos para VDRL e teste de absorção de
anticorpos treponêmicos fluorescentes (FTA-ABS).
Os achados histopatológicos mostraram infiltrados
inflamatórios crônicos compostos principalmente por
plasmócitos com distribuição perivascular (hematoxilina e
eosina, aumento original -400).
Diagnóstico
do estudo
O paciente foi encaminhado à UBS para
tratamento (2,4 milhões de unidades de
penicilina G benzatina, intramuscular 1x por
semana durante 2 semanas). Lesão
parcialmente resolvida aos 7 dias de
tratamento e remissão total após 2 meses da
conclusão do tratamento.

As tetraciclinas são recomendadas para


pacientes alérgicos à penicilina
A doença
do estudo
A doença sífilis diminuí nas últimas décadas devido ao uso
de antibióticos e programas, ressurgiu devido falta de
conscientização sobre o controle de doenças sexualmente
transmissíveis.
Existindo quatro estágios: primário é a primeira manifestação
da infecção, se não tratada pode avançar para os estágios
secundário após 8 semanas, latente e posterior o terciário que
representam a disseminação sistêmica da doença. A lesão
aparece no local de contato primário após um período de
incubação de 3 a 90 dias. As espiroquetas proliferam e se
multiplicam no local da inoculação, espalhando-se para os
linfonodos e para a corrente sanguínea.
A doença
do estudo
As lesões orais têm predileção por lábios, língua
e palato. As lesões são úlceras únicas e indolores
(cancros) com bordas endurecidas. A
linfadenopatia, observada em nosso caso, também
é relatada em 80% dos casos de sífilis.

No entanto, se forem realizados nos estágios


iniciais da sífilis, podem apresentar resultados
falso-negativos, atribuídos a baixos níveis de
anticorpos (que não atingem títulos suficientes no
soro). Freqüentemente, o teste FTA-ABS é utilizado
devido à sua especificidade.
A doença
do estudo
Nosso paciente foi submetido a exame de sangue quando a
lesão persistiu por 4 semanas e apresentou resultado negativo
para o teste de VDRL. Após 8 semanas, foi solicitado reexame de
sangue (VDRL e FTA-ABS), que confirmou o diagnóstico.

Essa situação incomum pode ter ocorrido devido ao período de


incubação, que pode durar de 4 a 6 semanas no estagio
primário.
Sete dias após a primeira dose de penicilina, observou-se
resolução parcial da lesão.
Dois meses após a primeira dose de penicilina, observou-se
resolução total da lesão. Uma cicatriz permanece como
resultado da biópsia.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

As ulcerações orais do lábio deve incluir entidades


patológicas de diferentes origens, incluindo lesões reativas e
desordens potencialmente malignas ou malignas e doenças
infecciosas.
Carcinoma de células escamosas

O carcinoma espinocelular (CEC) é a neoplasia maligna mais


comum da região de cabeça e pescoço, sendo os região oral
mais acometidos a borda da língua, lábio inferior e o assoalho
da boca. 90% dos casos – em homens de 50 a 60 anos
Fatores de risco: Tabagismo, consumo de álcool e exposição
à luz solar.
Apresentação clínica típica inclui uma úlcera, bordas
enroladas e endurecidas por mais de 14 dias.
O paciente negava tabagismo e exposição crônica ao sol. Os
gânglios linfáticos eram palpáveis, mas não estavam aderidos
aos tecidos circundantes. Consideramos o CEC um diagnóstico
menos provável, mas só o descartamos após avaliação
microscópica.
Úlcera eosinofílica

São lesões incomuns, benignas e autolimitadas da mucosa


oral. Se manifestam ao longo de uma superfície ventral ou na
borda da língua, mas podem ser observadas na mucosa labial
e bucal.
Microscopicamente – são infiltrados inflamatórios nodulares
compostos por eosinófilos, principalmente na porção
submucosa.
Remissão dentro de 4 semanas. Embora o paciente negasse
história de trauma, não descartamos essa hipótese antes de
avaliar os resultados dos exames laboratoriais.
Queilite Actínica

É uma doença maligna que envolve o lábio inferior com após


a exposição prolongada q luz solar, tens como característica a
perda da demarcação entre o vermelhão do lábio e a pele. São
encontradas placas esbranquiçadas, áreas avermelhadas e
erosivas. O tratamento é de forma não invasiva, com cremes e
balsamos.
Paracoccidioidomicose

É uma doença fúngica endêmica que é localizada em países


da América Latina. Ocorre principalmente em homens
desnutridos com idade entre 30 a 50 anos, residentes em
zona rural. A doença é atraída através da inalação e o seu lugar
primária para infecção são os pulmões. Os pacientes possuem
sintomas como linfadenite cervical, tosse, disfagia, febre, dor
torácica e tendência afetar a gengiva, o palato e os lábios.
Conclusão
do estudo
Caso a úlcera persistir por mais de 14 dias, pode ser
sugestiva de malignidade em pacientes que não são fumantes,
mas geralmente esses diagnósticos são incomuns. Nessas
determinadas situações, após descartar fatores irritativos,
devem incluir manifestações orais da doença infecciosa para
diagnósticos diferenciais.
Referência
do estudo

KIPPER, Jean F.; KLEIN, Isadora P.; HILDEBRAND, Laura de


Campos; CARRARD, Vinicius C. Diagnostic Challenge. Chronic
ulcerative lesion of the lip, [s. l.], 2018.

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