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Úlceras e

corrimentos
genitais
Discentes: Marcelo R do Nascimento
Maria Eduarda Melo A. Freitas

Disciplina: Internato em MFC - UFLA


I- Úlceras genitais
- São lesões que apresentam perda de continuidade da pele, quase sempre se
associando a processos inflamatórios
- São emergências uro/ginecológicas (causam dor, prejuízo na qualidade de
vida e facilitam transmissão de ISTs)
- Importante diferenciar UG associadas a ISTs e não associadas a ISTs
Principais causas

UG ASSOCIADAS A ISTs UG NÃO ASSOCIADAS A ISTs

Herpes simplex virus Vasculites autoimunes

Treponema pallidum Traumas

Haemophilus ducreyi Vasculopatias

Chlamydia trachomatis sorotipos L1-3 Neoplasias

Klebsiella granulomatis
Investigação
● Tempo e forma de evolução;
● Localização, tamanho, conteúdo (base limpa ou purulenta);
● Presença de linfadenomegalia associada
● Presença de fator desencadeante: trauma, uso de medicamentos, outras
pessoas com o mesmo quadro;
● Presença de sintomas ou doenças sistêmicos
● Práticas sexuais
Investigação
Coleta de material:
● raspagem superficial da úlcera
● coleta de sangue para pesquisa de HIV, sífilis e hepatites B e C
● biópsia de todas as úlceras com evolução maior que 30 dias

Dificuldade em se estabelecer diagnóstico etiológico (menos de 50% dos casos),


com tendência a se fazer diagnóstico sindrômico e tratamento imediato - reduz
complicações e transmissão
UG ASSOCIADAS
A ISTs
DOLOROSAS
Herpes genital
- Causada pelo Herpes simplex (50-80% dos casos)
- Múltiplas vesículas que se agrupam e se rompem, formando
ulceração dolorosa com fundo limpo
- São precedidas por hiperemia, ardor, prurido e
linfadenomegalia que não fistuliza e podem acompanhar
sinais sistêmicos como febre e mal estar
- Lesões podem regredir espontaneamente, permanecendo o
vírus latente em gânglio neural até a próxima recidiva
Herpes genital
- Recidivas e permanência prolongada das lesões associadas a traumas, uso de drogas,
estresse, má alimentação e coinfecção com HIV, QT e neoplasias
- Tratamento: diminui as manifestações da doença e aumenta o intervalo entre as crises
● Primoinfecção: aciclovir 200 mg, 2 cp 8/8h (7 a 14 dias); ou valaciclovir 1.000 mg,
12/12h (7 a 14 dias); prolongar tempo de tratamento até a resolução das lesões, se
necessário.
● Recorrência: aciclovir 200 mg, 2 cp 8/8h (5 dias); ou valaciclovir 500 mg, 12/12h (5
dias);
● Supressão): aciclovir 200 mg, 2 cp 12/12h (6 meses); ou valaciclovir 500/1.000 mg,
dose única diária (6 meses);
Cancro mole
- Causado pelo Haemophilus ducreyi
- Cursa com múltiplas úlceras dolorosas com bordas irregulares e
fundo sujo (purulento, necrótico)
- Há linfadenomegalia dolorosa que fistuliza por um único
orifício
- Tratamento:
● 1ª opção: azitromicina 500 mg, 2cp, em dose única, ou
ceftriaxona 500 mg, IM, em dose única
● 2ª opção: ciprofloxacino 500 mg, 1cp 12/12h por 3 dias
UG ASSOCIADAS
A ISTs
NÃO DOLOROSAS
Sífilis
- Causada pelo Treponema pallidum
- Aumento crescente da incidência no Brasil (em 2011 era 9 em
100.000 hab por ano; em 2021 foi 78 em 100.000)
- Primária: indica infecção recente, e se apresenta como cancro
duro - úlcera única indolor, com bordas endurecidas e de
resolução espontânea em até 6 semanas, sem deixar cicatriz. Há
linfadenomegalia satélite indolor, não inflamatória,
bilateralmente
- Secundária: comumente não apresenta ulceração, mas o
condiloma plano pode úlcerar
Sífilis
- Diagnóstico laboratorial: testes treponêmicos (TR, FTA Abs) e/ou não treponêmicos
(VDRL))
- Tratamento: sífilis primária, secundária e latente recente (até um ano de duração):
penicilina G benzatina, 2,4 milhões UI IM dose única (1,2 milhão UI em cada glúteo
- Acompanhamento com VDRL bi ou trimestral, com sucesso de tratamento se diminuição de
2 diluições em 3 meses e de 3 diluições em 6 meses.
Linfogranuloma venéreo
- Causado pela Chlamydia trachomatis sorotipos L1-3
- Cursa com úlcera única indolor que se resolve espontaneamente
em 1 semana
- Há linfadenomegalia com fistulização por múltiplos orifícios
- Tratamento:
● 1a opção: doxiciclina 100 mg, 1cp 12/12h, por 21 dias
● 2a opção: azitromicina 500 mg, 2cp, 1x/sem, por 21 dias
(preferir em gestantes)
- Prolongar tempo de tratamento até a resolução das lesões, se
necessário.
Donovanose
- Causada pela Klebsiella granulomatis
- Apresenta caráter crônico, com lesão nodular que
evolui para úlcera indolor; acometimento geralmente
de área de dobras, e em espelho
- Tratamento: doxiciclina 100 mg, 1 cp 12/12h, por pelo
menos 21 dias ou até o desaparecimento completo das
lesões.
UG ASSOCIADAS
A ISTs
PROFILAXIA DE
PARCEIROS SEXUAIS
- Cancro mole, LGV, sífilis*: tratar parceiros mesmo
assintomáticos

- Herpes e donovanose: não tratar ou rastrear


parceiros assintomáticos.
Fonte: Gusso, 2019
UG NÃO
ASSOCIADAS A ISTs
Doença de Behçet
- Vasculite autoimune
- Mais comum em crianças e mulheres jovens
- Úlcera genital recorrente associada a outros sintomas: mal
estar, lesões orais recorrentes, lesões de pele, lesões
oculares
- Tratamento: prednisona 20 mg VO, uma vez ao dia, até
remissão da úlcera; manter 5 mg uma vez ao dia por mais
três meses. Alguns casos se beneficiam de colchicina 0,5 mg,
de 8 em 8 horas, até remissão da úlcera.
II- Corrimentos vaginais
- Importante queixa ginecológica;
- Diversas ferramentas para diferenciá-las;
- Três patologias correspondem a 90% dos casos de corrimentos vaginais;
- OM/MS preconizam abordagem sindrômica.
II- Corrimentos vaginais
01 Mucorreia 03 Candidíase

02 Vaginose 04 Tricomoníase
bacteroama
01
Mucorreia
Corrimento do tipo clara
de ovo, sem odor fétido,
prurido ou dispareunia.
02
Vaginose Bacteriana
Polimicrobiana com
predomínio de anaeróbicos
Vaginose bacteriana
- Poucos sinais inflamatórios;
- Desordem mais comum do TGI, sendo comum em gestantes;
- Corrimento de odor fétido que piora com o coito e menstruação, fluido,
homogêneo, branco acinzentado ou amarelado. Não aderente, podendo
formar microbolhas ;
Critérios de Amsel - 3 de 4:
- Corrimento branco acinzentado, homogêneo e fino.
- pH vaginal >4,5;
- Teste de aminas positivo;
- Visualização de clue cells.
Tratamento
03
Candidíase vulvovaginal
Fúngica - Candida -
transmitido de forma
eventualmente sexual
Candidíase vulvovaginal
- FR: Gravidez, obesidade, dm descompensado,
uso de atb, corticoides;
- Clínica: Prurido vaginal, disúria, hiperemia e
edema vulvar. O corrimento é branco,
grumoso, inodoro e com aspecto caseoso;
- Diagnóstico: Anamnese + EF. pH < 4,5 ou
hifas na microscopia;
04
Tricomoníase
Protozoário- Trichomonas
vaginalis - IST
Tricomoníase

- Homens: assintomáticos/vetores;
- Mulheres: assintomáticas ou corrimento
abundante, amarelo ou amarelo-esverdeado (mais
comum), mal cheiroso e bolhoso. Prurido é
incomum, mas outros sinais inflamatórios estão
presentes.
Colo em framboesa e em aspecto de pele de onça
(teste de Schiller);
II- Cervicite/uretrites
- Caracterizados por inflamação e corrimento uretral, geralmente purulento;
- Corrimento mucoide a purulento, volume variável, podendo estar associado
a dor uretral, disúria, estrangúria, prurido e eritema ou colo hiperemiado,
friável, sinusorragia e dispareunia;
- Agentes etiológicos: Neisseria gonorrhoeae e a Chlamydia trachomatis;
- Diagnóstico: biologia molecular, bacterioscopia com gram, cultura…
II- Cervicite/uretrites
Referências bibliográficas

● Fernandes CE, Silva de Sá MF, eds. Tratado de Ginecologia Febrasgo. 1aed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2019.
● Cunha Ramos M, Nicola MRC, Bezerra NTC, Sardinha JCG, Morais JSS, Schettini AP. Genital
ulcers caused by sexually transmitted agents. An Bras Dermatol. 2022.
10.1016/j.abd.2022.01.004.
● Gusso G et al. Tratado de Medicina de Família e Comunidade. 2ed. 2019.

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