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ARMADA Revista da

ABRIL 2024 • MENSAL •


N.º 594 • ANO LIV

19 7 4
2024 25 DE ABRIL DE 1974
O DIA INICIAL, INTEIRO
E LIMPO
PROTEÇÃO DAS LINHAS
DE COMUNICAÇÃO
MARÍTIMAS
25 DE ABRIL
50 ANOS

UNIDADES DE SISTEMAS
NÃO TRIPULADOS DA
MARINHA
Livros de Honra
Reprodução de desenhos do “Livro de Honra” do NRP Hermenegildo Capelo, referente a outros eventos, exercícios e viagens
de instrução de cadetes, realizados a bordo, até agosto de 1990.

Autor dos desenhos – o então 1TEN EMQ Garcia Belo


Todas as imagens desta rúbrica, dedicada ao Livro de Honra do NRP Comandante Hermenegildo Capelo, foram cedidas pelo Arquivo Histórico da Biblioteca Central de Marinha
NotíciasFlix

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SUMÁRIO

02 Quarto de Vigia
25 DE ABRIL DE 1974
O DIA INICIAL, INTEIRO E LIMPO 4
16 O 25 de abril na primeira pessoa

18 Memória de um dia

23 Entregas de Comando / Tomadas de Posse

28 Crime, disseram elas… / Agenda Cultural

31 Vigia da História (135)

32
24
Saúde para Todos (111) PROTEÇÃO DAS LINHAS DE
COMUNICAÇÃO MARÍTIMAS
33 Quarto de Folga

34 Notícias Pessoais / Convívios

“Um olhar sobre a Saúde Naval”


35 Desafio Artístico

CC Naus de Pedra em Lisboa

Capa
25 de Abril. 50 Anos
Composição gráfica ASPOF TSN-DSG Mariana Lage
UNIDADE DE SISTEMAS NÃO
TRIPULADOS DA MARINHA (X31) 30
Fotos:
Mário Varela Gomes (Fundação Mário Soares e Maria Barroso
– Arquivo Mário Varela Gomes) Pasta: 06897.039.032
Alfredo Cunha (Fundação Mário Soares e Maria Barroso
– Arquivo Alfredo Cunha) Pasta: 10079.001.021
Mário Varela Gomes (Fundação Mário Soares e Maria Barroso
– Arquivo Mário Varela Gomes) Pasta: 06897.043.029

ARMADA Revista da

Publicação Oficial da Marinha Diretor Administração, Redação e Edição E-mail da Revista da Armada
Periodicidade mensal CALM AN António Carlos Dias Gonçalves Revista da Armada - Edífico das Instalações revista.armada@marinha.pt
Nº 594 / Ano LIV
Centrais de Marinha - Rua do Arsenal ra.sec@marinha.pt
Abril 2024
Coordenadora da Redação 1149-001 Lisboa - Portugal Paginação eletrónica e produção
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25 DE ABRIL DE 1974
O DIA INICIAL, INTEIRO E LIMPO
Comemora-se este ano o cinquentenário do movimento do 25 de Abril de 1974, que depôs o regime do Estado Novo e iniciou
um processo de democratização da sociedade portuguesa, de descolonização dos territórios ultramarinos e de desenvolvimento
económico e social do país. De acordo com o historiador José Medeiros Ferreira, “de um ponto de vista histórico, o trânsito
efectuado pelas forças armadas portuguesas entre o regime de ditadura derrubado a 25 de Abril de 1974 e a promulgação da
Constituição a 25 de Abril de 1976 é, sem dúvida, notável e sem exemplo na história das passagens de regimes ditatoriais a
regimes de democracia politica”.1
O texto seguinte pretende evocar para os leitores da Revista da Armada, de uma forma sintética e tão factual quanto possível,
alguns dos passos que marcaram esse acontecimento histórico.
Adelino Rodrigues da Costa
CTEN M REF

os recursos necessários ao desenvolvimento económico e


obrigavam à mobilização de muitos milhares de jovens para
combater nos territórios africanos de além-mar.
No dia 25 de Abril de 1974 – o dia a que a poetisa Sofia de Melo
Breyner chamou “o dia inicial, inteiro e limpo” – foi deposto o
regime político que nascera do movimento de 28 de Maio de
1926 e que começara por impor uma ditadura militar para com-
bater os excessos da 1ª República, mas que depois evoluiu para
um regime de partido único semelhante aos que governavam
a Itália e a Alemanha, de cariz antidemocrático, autoritário e
repressivo, mas também “orgulhosamente só” no plano inter-
nacional e absolutamente indiferente aos “ventos da História”.
O movimento do 25 de Abril de 1974, que se afirmou ao país
sob a designação de Movimento das Forças Armadas (MFA),
foi encabeçado por jovens oficiais das Forças Armadas e, logo
que assumiu o poder político, apresentou um programa deno-
minado Programa do MFA, que enunciava os seus propósitos
e algumas linhas programáticas, entre as quais se destacava a
democratização do país e uma solução para o problema colonial
que, desde 1961, afectava seriamente a sociedade portuguesa.
O MFA teve internamente um enorme apoio popular, mas
também granjeou uma grande repercussão e aplauso inter-
nacionais, pois significava a reabertura de Portugal ao mundo
depois de um longo isolamento internacional e a possibilidade
de iniciar a descolonização dos seus territórios coloniais nos
termos preconizados pelas Nações Unidas.
Nas palavras do poeta José Carlos Ary dos Santos “as portas
que Abril abriu” proporcionaram a criação de partidos políticos,
O 25 de abril de 1974 deu origem a uma verdadeira explosão a realização de eleições livres, as negociações que conduziram
de criatividade nas Artes e nas Letras. ao fim da guerra colonial nas suas três frentes, a redacção e
A pintura de Maria Helena Vieira da Silva intitulada aprovação de uma nova Constituição da República e a criação
A Poesia Está na Rua, foi uma das mais apreciadas criações das condições políticas que permitiram a integração portuguesa
artísticas inspiradas pelo 25 de Abril de 1974.
na Comunidade Económica Europeia.
A análise da evolução do movimento de 25 de Abril de 1974, bem

A sociedade portuguesa vivia espartilhada por um regime


autoritário que não respeitava os mais elementares
direitos dos cidadãos e sob a vigilância tenebrosa da polícia
como os seus sucessos e insucessos, as suas contradições e os seus
excessos, vem sendo feita por muitos historiadores e sociólogos,
pelo que aqui nos limitaremos a uma breve referência introdutó-
política, com um elevadíssimo grau de analfabetismo, com a ria ao país que éramos até 1974, às origens dos acontecimentos
ausência de electrificação e de rede de esgotos em extensas ocorridos no dia 25 de Abril de 1974 e aos tempos que se seguiram
áreas territoriais, uma forte emigração clandestina com até à promulgação da Constituição da República de 1976, para nos
destino à Europa, mas também vivia envolvida desde 1961 ajudarem a reflectir sobre os principais impactos deste aconteci-
numa guerra em três frentes muito distantes, que consumiam mento histórico na sociedade portuguesa.

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emprego, preparando planos de desenvolvimento económico a


PORTUGAL ANTES DE 1974
que chamou “Planos de Fomento”, que se tornaram os motores
do crescimento económico do país. O seu sucesso foi inequí-
O retrato de Portugal antes de 1974 revela-nos um país som- voco e ao longo da década de 1950 a taxa anual de crescimento
brio e de cidadãos dominados pelo medo, isolado da comu- do produto nacional foi de 4,4%, com a indústria a ter uma taxa
nidade internacional, em que muitos milhares de cidadãos de crescimento anual de 7,0%, que foi bastante superior à que
abandonavam o país “a salto” para procurar uma vida melhor se verificou na agricultura.
na Europa e em que mais de cem mil jovens combatiam nas A política económica do Estado Novo registara uma grande
guerras africanas. vitória em 1959 com a entrada na Europa democrática por via
O ambiente político nacional era fortemente condicionado da integração na Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA)
pela acção de um só partido – a Acção Nacional Popular (ANP), e com o sucesso da industrialização. A população industrial
que sucedera à União Nacional (UN) – que era o suporte político tinha crescido como resultado desse processo, mas daí também
do regime do Estado Novo, sendo dominado por uma facção resultaram alguns problemas económicos e sociais, sobretudo
ultra-conservadora que controlava toda a vida nacional, através a concentração demográfica no litoral e nas grandes cidades,
de instrumentos como a Direcção Geral de Segurança (DGS), a o que agravou as assimetrias regionais e veio dar origem ao
polícia política que nunca se libertou do seu antigo acrónimo de êxodo rural e ao aumento maciço da emigração. Porém, a taxa
PIDE e ficou conhecida como a PIDE/DGS. A liberdade política, de analfabetismo era da ordem dos 30% e os vários indicadores
mas também as outras liberdades públicas, eram severamente mostravam como a situação social era muito precária em rela-
reprimidas e os cidadãos desconfiavam uns dos outros, temiam ção ao número de estudantes no ensino superior, ao número de
a vigilância dos informadores que “um pouco por toda a parte” casas electrificadas, à pobreza, à mortalidade infantil e a outros
serviam a polícia política, enquanto as detenções sem culpa for- indicadores económicos e sociais.
mada eram frequentes, nomeadamente nos meios operários, Todavia, o problema português nos anos anteriores a 1974 não
intelectuais e estudantis. era essencialmente económico, pois era sobretudo de natureza
A PIDE/DGS era, verdadeiramente, um Estado dentro do política, devido à teimosa resistência que o regime oferecia
Estado e a sua actividade repressiva assentava na chamada aos universais “ventos da mudança” que então sopravam no
“vigilância da segurança do Estado“ e na neutralização dos sentido da democratização e da descolonização, em absoluto
movimentos oposicionistas. desfazamento com os seus aliados da NATO e com a maioria da
O chamado “terramoto delgadista” de 1958, as crises aca- comunidade internacional.
démicas, a recusa da descolonização, o isolamento e a hos- O terceiro vector, porventura o mais determinante para a
tilidade internacionais, bem como o agravamento da situa- sociedade portuguesa, era a guerra colonial, que desde 1961
ção militar nos teatros operacionais africanos, mostraram a começara em Angola, em 1963 na Guiné Portuguesa e em 1964
“lenta agonia do salazarismo”, que reforçou o seu aparelho em Moçambique, para a qual já tinham sido mobilizados cerca
repressivo. Perante as suas dificuldades crescentes, o regime de um milhão de portugueses e em que já haviam sido contabi-
ensaiou um novo ciclo com a liberalização marcelista iniciada lizados cerca de dez mil militares mortos e algumas dezenas de
em 1968 e com uma política dita de “evolução na continui- milhar de feridos.
dade”, tendo conseguido atrair uma nova geração de políticos O problema colonial português não era recente. Em 1951,
que em 1969 integraram as suas listas de deputados à Assem- quando estava em marcha o processo de descolonização à
bleia Nacional como independentes e constituíram a “ala libe- escala mundial, a Constituição da República Portuguesa ainda
ral”, que pretendia uma liberalização profunda do regime em anexava o Acto Colonial, que afirmava que “os domínios ultra-
termos europeus e ocidentais. Porém, essas medidas foram marinos de Portugal denominam-se colónias e constituem o
tardias, hesitantes e erráticas, tendo sido combatidas pelos Império Colonial Português”, embora nesse ano tivesse havido
estratos mais retrógrados do regime, enquanto o problema uma revisão constitucional que alterou as designações de impé‑
colonial se ia agravando e o cansaço estava a tomar conta de rio e de colónia, que passaram a ser designadas por ultramar e
toda a sociedade portuguesa. por província. A cosmética não resultou e a Assembeia Geral
No que respeita ao ambiente económico e social o estado das Nações Unidas veio a aprovar no dia 15 de Dezembro de
do país em 1974 era caracterizado por uma enorme dualidade, 1960 a Resolução 1542 (XV), que assinalou que “o desejo de
pois coexistiam um sector agrícola antiquado, com uma estru- independência constitui a justa aspiração dos povos sob domí-
tura desadequada e com baixíssimos índices de produtividade, nio colonial” e que a negação desse direito representa “uma
em paralelo com alguns grupos económicos nacionais monopo- ameaça ao bem-estar da humanidade e à paz internacional”.
listas e com um sector industrial e de serviços moderno e com Entre os territórios não-autónomos, ou sob domínio colonial,
uma acentuada participação de investimento estrangeiro, tanto aquela resolução indicava todos os territórios administrados
em capital como em tecnologia. por Portugal fora da Europa.
Depois da 2ª Guerra Mundial o governo tinha adoptado as Com forte apoio internacional tinham surgido os movimentos
teorias keynesianas de incentivo ao investimento e à criação de de libertação nas colónias portuguesas que, perante a intransi-

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gência salazarista, optaram pela via da luta armada de liberta- trauma da queda de Índia Portuguesa em 1961, que “o exemplo
ção nacional, primeiro em Angola, depois na Guiné e a seguir da Índia é um precedente bem vivo do porvir que receamos”,
em Moçambique. O governo português depressa ficou isolado acusando o governo por não ter tido outra “visão dos factos” e
internacionalmente e, em 1965, o seu chefe António Salazar de ter desviado “a atenção da Nação para o campo circunstan-
declarou que “combatemos sem espectáculo e sem alianças, cial da conduta militar, acusando-se as Forças Armadas de não
orgulhosamente sós”. se terem batido heroicamente”.4
A guerra evoluiu de maneira assimétrica, embora com bas- Naturalmente, neste complexo quadro e perante a intransi-
tante violência nos três teatros de operações, em alguns dos gência política de Marcelo Caetano e daqueles que mais cega-
quais combatiam militares cubanos, mas era evidente o can- mente o apoiavam, terão nascido na Guiné os mais significati-
saço dos militares portugueses, sobretudo os oficiais do Exér- vos entusiasmos para que o protesto e a reivindicação corpora-
cito, muitos deles sobrecarregados com sucessivas comissões tiva dos oficiais das Forças Armadas fossem mais além.
de dois anos, vividas em condições extremas de actividade ope-
racional, de clima e de desconforto. 25 DE ABRIL DE 1974: O DIA INICIAL, INTEIRO E LIMPO
Em Agosto de 1968 o chefe do governo António Salazar ficou
impossibilitado de exercer as suas funções, provavelmente por
ter caído de uma cadeira, vindo a ser substituído por Marcelo No texto antecedente procurou-se apresentar de uma forma
Caetano, um reputado professor de Direito. Pensou-se numa necessariamente breve o ambiente político e o ambiente eco-
abertura do regime e imaginou-se a “primavera marcelista”, nómico e social do país, bem como algumas notas relativas à
mas essa ilusão foi breve. guerra colonial, à sua evolução e ao cansaço que vinha provo-
Há quem defenda que em Angola se estaria à beira de uma cando na oficialidade das Forças Armadas. Cada vez mais, mui-
vitória militar, enquanto na Guiné se estava na eminência de tos oficiais – sobretudo do Exército – compreendiam a justeza
um colapso, sobretudo depois de Março de 1973, quando o das lutas de cada um dos movimentos de libertação das coló-
PAIGC conseguiu neutralizar a supremacia aérea portuguesa, nias portuguesas, a impossibilidade de vencer uma guerra de
através da utilização dos mísseis Strella, de fabrico soviético. guerrilha e a encruzilhada a que a intransigência do governo os
Depois de ter limitado a vantagem aérea portuguesa e de ter estava a conduzir.
cercado três aquartelamentos, no dia 24 de Setembro de 1973 A percepção desta realidade não era generalizada, até porque
o PAIGC reuniu a sua assembleia nacional popular em Madina era escassa a circulação de informação, pois a “gente de con-
do Boé, no interior do território guineense, proclamando a fiança” estava muito dispersa por Mafra ou por Lamego, por
independência nacional que, em pouco tempo, foi reconhecida Cacine ou por Guidage, pelo saliente do Cazombo ou pelo rio
por oito dezenas de países. No dia 2 de Novembro, o plenário Zaire, no Lago Niassa, no planalto de Mueda, ou na área de Tete.
da Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a Resolução Havia as limitações à liberdade de expressão inerentes a toda a
3061 (XXVIII) que saudava o novo estado soberano e condenava sociedade portuguesa porque a PIDE/DGS “tinha olhos e ouvidos
o governo português “pela ilegal ocupação de alguns sectores em todo o lado” e havia as razões de segurança militar.
do país e os repetidos actos de agressão das suas Forças Arma- Perante a crescente carência de capitães e subalternos, o
das contra o povo da Guiné-Bissau e Cabo Verde”. governo decidiu publicar os decretos-lei nº 353/73, de 13 de
O general António de Spínola, governador e comandante- Julho, e 409/73, de 20 de Agosto, pelos quais os oficiais do Qua-
-chefe das Forças Armadas da Guiné, tinha procurado uma dro Especial de Oficiais [vulgarmente designados por oficiais
saída política para o conflito em 1972, através da mediação do milicianos] podiam transitar para os quadros permanentes das
presidente senegalês Léopold Senghor, mas foi contrariado por armas de Infantaria, Artilharia e Cavalaria, mediante a frequên-
Marcelo Caetano, que nessa altura disse que “para a defesa cia de um curso intensivo na Academia Militar, constituído por
global do Ultramar é preferível sair da Guiné por uma derrota dois semestres lectivos. Estes oficiais ingressavam depois no
militar com honra, do que por um acordo negociado com os Quadro Permanente da respectiva arma, podendo ultrapassar
terroristas, abrindo o caminho a outras negociações”.2 em antiguidade os oficiais que haviam frequentado a Academia
Esta decisão foi “um murro no estômago” para os combaten- Militar durante quatro anos.
tes na Guiné, que não compreenderam as razões pelas quais foi Estes decretos, que permitiam criar oficiais em dois semestres,
rejeitada uma saída honrosa para aquele conflito e temeram violavam seriamente os direitos dos oficiais formados durante
que o governo se preparasse para transformar os militares em quatro anos na Academia Militar e constituíam um sinal de des-
“bodes expiatórios” do seu insucesso, como fizera com os mili- prestígio para o Exército e para as próprias Forças Armadas. Daí
tares da Índia Portuguesa em 1961. nasceu uma reacção corporativa, pois muitos oficiais do Quadro
No dia 22 de Fevereiro de 1974 foi publicado o livro Portu‑ Permanente viam-se prejudicados nas suas carreiras.
gal e o Futuro, da autoria do general Spínola, que teve grande A contestação a estes diplomas mobilizou cerca de 136 ofi-
sucesso e no qual expunha aquilo que os militares já tinham ciais do Exército, que no dia 9 de Setembro de 1973, se reuni-
percebido há muito tempo, ao dizer que “podemos assim che- ram quase clandestinamente no Monte Sobral, em Alcáçovas,
gar à conclusão que, em qualquer guerra deste tipo, a vitória num tempo em que não eram autorizadas quaisquer tipos de
exclusivamente militar é inviável. Às Forças Armadas apenas reuniões. Houve reencontros pessoais e houve reencontros de
compete, pois, criar e conservar pelo período necessário – ideais. Estava criado o Movimento dos Capitães na base de uma
naturalmente não muito longo – as condições de segurança questão corporativa, mas as questões profissionais e o prestígio
que permitirão soluções político-sociais, únicas susceptíveis de da instituição militar serviram de aglutinador para os oficiais
pôr termo ao conflito”.3 E acrescentava ainda, referindo-se ao que, como se escreveu depois, eram pouco politizados e pouco

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dados a actos de insubordinação. Naturalmente, as questões e António de Spínola para encabeçarem o movimento que,
da guerra e o problema colonial passaram a ser apreciadas. No a partir de então, tomou o nome de Movimento das Forças
mês de Outubro realizaram-se outras reuniões e foi criada uma Armadas (MFA).
comissão coordenadora. No dia 24 de Novembro, na reunião de Muitos oficiais democratas lamentavam, mais tarde, não
S. Pedro do Estoril, foi abertamente colocada a hipótese de uma terem sabido destas decisões, mas era necessário prevenir a
solução de força em alternativa às vias legalistas, para ultrapas- fuga de informações, por razões elementares de segurança.
sar os problemas em discussão. O regime parecia acompanhar a evolução do movimento e
No dia 1 de Dezembro reuniram-se na Casa do Povo de Óbidos sabia-se que a polícia política estava atenta, mas foi possível
cerca de 170 oficiais representando a generalidade das unida- desviar atenções e progredir na definição de metas e na pre-
des militares, mas também alguns observadores da Marinha paração de acções, discutidas democraticamente em reuniões
e das tropas paraquedistas. Nessa reunião foi decidido que o sigilosas realizadas alternadamente nas residências de vários
movimento fosse alargado aos outros ramos das Forças Arma- oficiais, o que naquelas circunstâncias significava coragem,
das e fosse rebaptizado como Movimento dos Oficiais das For- confiança e determinação.
ças Armadas (MOFA), tendo sido debatidas várias propostas, Em Fevereiro de 1974 tinha sido divulgado o livro Portugal
designadamente: e o Futuro, do general António de Spínola, que teve grande
impacto público e que, naturalmente, interessou o meio mili-
1) A conquista do poder político e a sua entrega a uma tar, porque pela primeira vez um dignitário do regime, que
Junta Militar com a missão de democratizar o país; até há pouco tempo tinha sido o comandante-chefe das For-
2) A pressão sobre o governo para realizar eleições livres e ças Armadas da Guiné, assumia a discussão da guerra e o
legitimar-me perante o povo, designadamente quanto à problema colonial. A sua tese defendia que a questão colo-
política ultramarina; nial não tinha solução militar e veio a acelerar a decisão da
3) A utilização de reivindicações exclusivamente de natureza tomada do poder. A questão africana estava, realmente, no
militar para recuperar o abalado prestígio do Exército. centro dos problemas nacionais e, mais tarde, o general Costa
Gomes veio confirmar essa realidade.
A primeira hipótese recolheu numerosos apoios, mas foi a
via legalista que ainda vingou. A partir de então sucederam- O que tornou inevitável a revolta do 25 de Abril foi a neces‑
-se sucessivas reuniões e vários episódios, destacando-se a sidade de resolver o problema da guerra em África. As
reunião do dia 5 de Março em Cascais, na qual participaram reivindicações dos oficiais do quadro permanente foram
cerca de duas centenas de oficiais, incluindo alguns oficiais quase na totalidade satisfeitas. […] O problema colonial
da Marinha e da Força Aérea. Nessa reunião ficou decidida a era não só o mais importante, como aquele que os oficiais
tomada do poder pela via militar, foi mandatada uma comis- conheciam melhor, tendo certamente chegado à conclusão
são para redigir um programa político e foi decidido estabele- de que só poderia ser solucionado depois de derrubar o
cer contacto e convidar os generais Francisco da Costa Gomes regime então existente.5

Edifício da Praça Marquês de Pombal, nº 2, em Lisboa, onde funcionou a sede do Clube Militar Naval entre
1935 e 1988. Este espaço, que já não existe, foi sempre um local de convívio e de debate dos oficiais da
Armada sobre as questões da res publica, independentemente das suas orientações políticas.

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o, domínio público
Foto: Wikipédia, autor desconhecid
A Junta de Salvação Nacional que assumiu o poder no dia 25 de Abril de 1974, em nome do MFA, constituída pelo
CFR Rosa Coutinho, CMG Pinheiro de Azevedo, general Costa Gomes, general António de Spínola, brigadeiro Jaime
Silvério Marques e coronel Galvão de Melo. O general Manuel Diogo Neto encontrava-se então em Moçambique.

Como reacção a este livro, no dia 14 de Março os oficiais- Lisboa e os primeiros embates aconteceram na Ribeira das Naus
-generais dos três ramos das Forças Armadas tomaram parte e na Rua do Arsenal, bem próximo da “nau de pedra” e sob o
numa cerimónia de homenagem a Marcelo Caetano, o chefe solidário apoio da fragata Almirante Gago Coutinho.
do governo, expressando-lhe o seu apoio às posições governa- Quase ninguém acorreu em defesa do regime e, aconselhado
mentais, vindo esse grupo a ficar conhecido como a “Brigada pela PIDE/DGS, Marcelo Caetano refugiou-se no quartel da GNR
do Reumático”. Esta cerimónia foi considerada uma farsa e uma no Largo do Carmo, onde veio a ser cercado pelas tropas do capi-
submissão ao governo e à sua intransigência, tendo mostrado a tão Salgueiro Maia e por uma enorme multidão. Pelas 16 horas
justeza da decisão e apressado a preparação do levantamento
militar. A partir do quartel das Caldas da Rainha, uma coluna
militar com cerca de duzentos homens, incluindo três dezenas
de oficiais, marchou sobre Lisboa no dia 16 de Março, mas a
iniciativa tinha sido mal preparada e a coluna veio a render-
-se antes de entrar na capital, ficando onze dos oficiais detidos
na prisão militar da Trafaria. Esta iniciativa acabou por ser uma
experiência positiva para o MFA e para aqueles que vinham pre-
parando a intervenção militar.
De facto, quarenta dias depois do fracassado levantamento das
Caldas da Rainha, iniciava-se a Operação “Fim-Regime”, a partir
do Posto de Comando do MFA instalado no Regimento de Enge-
nharia da Pontinha. Como previsto, foram difundidas as senhas
do movimento, quando pelas 22 horas e 55 minutos do dia 24
de Abril, os Emissores Associados de Lisboa transmitiram a can-
ção “E depois do adeus”, de Paulo de Carvalho, como sinal para
os militares de Lisboa se prepararem. Depois, pelas 00 horas
e 20 minutos do dia 25 de Abril, o locutor de serviço na Radio
Renascença recitou os quatro primeiros versos de “Grândola, Vila
Morena”, de José Afonso, a que se seguiu a transmissão dessa
mesma canção, que era o sinal acordado para o início das ope-
rações. Alguns pontos estratégicos foram ocupados na cidade de

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e 30 minutos e depois de expirar o prazo dado inicialmente para todas as origens sociais e de todas as patentes, experimenta-
a rendição, que o capitão Maia impusera por megafone e na das no seu convívio a bordo dos navios, sobretudo nas longas
sequência de algumas negociações, Marcelo Caetano anunciou comissões de serviço ultramarinas.
a rendição e pediu para que um oficial do MFA de patente não No que respeita à oficialidade, o Clube Militar Naval (CMN)
inferior a coronel se apresentasse no quartel, para o poder “não que foi criado em 1866 pelos oficiais da Marinha, alguns dos
cair na rua”. Às 17 horas e 45 minutos, mandatado pelo MFA, o quais ainda tinham participado na guerra civil de 1832-1834 e
general Spínola chegou ao quartel do Carmo e, pelas 18 horas e que inscrevera entre os seus fins estatutários “fazer convergir
30 minutos, a viatura-chaimite “Bula” entrou no quartel e retirou os esforços colectivos dos associados para que a corporação da
Marcelo Caetano e dois dos seus ministros, que foram conduzidos Armada sirva com abnegação, zelo e denodo o seu país”, tor-
ao Posto de Comando do MFA, instalado no quartel da Pontinha. nou-se um elemento dinamizador das actividades cívicas, pro-
Assim terminava “o dia inicial, inteiro e limpo” a que Sofia fissionais e culturais dos oficiais da Armada.
de Melo Breyner se referira no seu poema “25 de Abril”. Tudo Mesmo no tempo da Monarquia, os oficiais da Marinha
parecia estar resolvido sem combates ou perda de vidas. O eram muito considerados. O rei D. Luís serviu na Marinha e
povo festejava nas ruas com grande alegria. A multidão diri- o rei D. Carlos escreveu que “o oficial da Armada é um tipo
giu-se então para a sede da PIDE/DGS, situada na rua António sui­‑ generis na família militar”, acrescentando que “não são
Maria Cardoso, tendo sido das janelas desse edifício que, cerca monárquicos mas cumprem melhor no serviço do que mui-
das 20 horas, foram disparados tiros que provocaram quatro tos que afirmam sê-lo”.
mortos e 45 feridos. Foram as únicas vítimas da acção militar Esta visão do rei D. Carlos é bem curiosa porque, com os devi-
de 25 de Abril. dos ajustamentos, parece ser uma característica permanente
Finalmente, pela uma hora e trinta minutos do dia 26 de Abril da oficialidade da Marinha. Assim se compreende o seu forte
foi apresentada na televisão, directamente ao país, uma Junta empenhamento na implantação da República, bem como a sua
de Salvação Nacional de sete membros, que incluía o general intensa actividade política durante a 1ª República.
António de Spínola, que assumiu as funções de Presidente da Depois, durante a vigência do regime do Estado Novo, o
República, o general Costa Gomes e o brigadeiro Jaime Silvério ambiente político alterou-se substancialmente, tendo havido
Marques (Exército), o capitão-de-mar-e-guerra Pinheiro de Aze- oficiais que se comprometeram activamente com o regime,
vedo e o capitão-de-fragata Rosa Coutinho (Marinha) e o general embora também tivesse havido outros que o combateram e
Manuel Diogo Neto e o coronel Galvão de Melo (Força Aérea). que, por isso, vieram a ser demitidos.
Durante a manhã do dia 26 de Abril aconteceu a rendição A 2ª Guerra Mundial foi um marco na história da Europa e do
da PIDE/DGS e começou a libertação dos presos políticos das mundo. Apesar de Portugal se ter mantido neutral, a sociedade
cadeias de Caxias e de Peniche. portuguesa esteve dividida na sua simpatia por cada um das
partes em confronto. A vitória dos Aliados deu um forte ânimo
A MARINHA E OS IDEAIS DEMOCRÁTICOS às forças políticas democráticas portuguesas, ao mesmo tempo
que Portugal se tornava membro-fundador da NATO, enquanto
a Marinha passava a incorporar novos navios, novas tecnolo-
As características culturais da corporação da Armada, ou da gias e novos procedimentos operacionais. Enquanto parte inte-
Marinha, como costuma ser referenciada, consolidaram-se atra- grante da sociedade portuguesa, a oficialidade da Marinha não
vés dos tempos pela sintonia existente entre os seus homens de só acompanhava a dinâmica interna dos movimentos oposicio-
nistas que reclamavam a democracia, como passou a conviver
com algumas Marinhas de países democráticos.
O Clube Militar Naval, que desde sempre acolheu todos os
seus sócios sem cuidar de saber se eram “monárquicos ou
republicanos”, mais tarde e noutro contexto, também acolheu
os seus sócios sem cuidar de saber se eram “situacionistas ou
democratas”, isto é, o CMN foi sempre um espaço de conví-
vio para os oficiais da Marinha, independentemente das suas
orientações políticas, havendo muitos que ainda se recordarão
de ver nas suas salas em amena cavaqueira, antes de 1974,
alguns oficiais cujo “perfil político” era bem diverso. No conví-
vio desse espaço associativo, esqueciam-se os postos militares
e todos se tratavam por “consócios”, mas este ambiente cívico e
cultural também existia nas unidades navais, em cujas câmaras
se conversava abertamente sobre as questões da res publica,
o que não acontecia na generalidade dos espaços públicos ou
privados, pois era sabido como a PIDE actuava contra os oposi-
cionistas, os descontentes e os que falavam de mais.
Numa entrevista concedida à Revista da Armada em Dezem-
A imprensa vespertina lisboeta do dia 25 de abril de 1974, cujas primeiras bro de 1993, o capelão António Ferreira de Melo descreveu o
edições vieram para a rua quando ainda não estava consumada a seu ingresso na Marinha em 1961, quando tinha 36 anos de
rendição do governo de Marcelo Caetano. idade e foi colocado na Escola Naval.

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Antes de chegar à Escola Naval, alguém me disse que eu ia NATO, sendo sabido que, na guerra de guerrilhas com que nos
cair num “vespeiro” e que tivesse cautela. Quando lá cheguei, defrontávamos era improvável que as nossas tropas viessem a
ia, de facto, com muito medo… A mesa que me destinaram à triunfar. Ninguém ignorava esta realidade e aumentava o desa-
hora das refeições era de respeito: os comandantes Pinheiro grado pela teimosia com que o regime recusava quaisquer saí-
de Azevedo, Eugénio Gameiro, Serra Brandão, Teixeira da das políticas para os conflitos.
Mota e o engenheiro Vila Real… Nesse contexto, o CMN, que sempre cultivara os princípios
Logo no meu primeiro almoço, o comandante Pinheiro de democráticos e a liberdade de expressão entre os seus sócios,
Azevedo começou por abordar um tema político, quente para tornou-se um dinâmico pólo de discussão da actualidade.
a época, no qual foi contestado pelos outros oficiais presen‑ Na Assembleia Geral realizada no dia 22 de Fevereiro de 1968,
tes. Eu pensei que me estavam a lançar uma casca de banana! aconteceu que foram apresentadas duas listas concorrentes,
A conversa foi muito calorosa, zangando-se por vezes, mas uma encabeçada pelo contra-almirante Henrique Tenreiro, um
depois do almoço sairam de braço dado, combinando uma oficial intimamente ligado ao regime, sendo a outra lista enca-
nova tertúlia para depois da hora de serviço. beçada pelo contra-almirante Mexia Salema. Desse confronto
Isto era completamente novo para mim! E, a pouco e pouco, eleitoral, que teve algumas peripécias, resultou a vitória da lista
fui aprendendo o sentido da verdadeira democracia, pois presidida pelo sócio Mexia Salema, que tinha como presidente
aqueles e outros oficiais tinham ideais diferentes, o que não da direcção o comandante Manuel Lopes de Mendonça.
obstava a uma verdadeira amizade entre todos.6 A lista vencedora tinha o apoio dos sócios mais jovens e da sua
acção resultou uma actividade associativa muito dinâmica diri-
Este episódio relatado pelo capelão Ferreira de Melo era rela- gida por diversos grupos de trabalho, designadamente sobre
tivamente comum na Marinha, mas tinha particular incidência questões técnico-profissionais e assuntos culturais, bem como
nas instalações do CMN, então localizadas na Praça Marquês a realização de colóquios para os quais foram convidadas per-
de Pombal. sonalidades relevantes da cultura portuguesa.
A partir de 1968, quando muitos dos seus sócios já tinham Durante vários anos e com o apoio das suas sucessivas direcções,
efectuado comissões nos mares, nos rios e nas matas africanas, o CMN manteve as suas actividades com a crescente participa-
era crescente a sensibilização para os problemas coloniais e da ção dos seus sócios. A partir de Outubro de 1973 as instalações
guerra, mas também para a crítica aos abusos e à arrogância do do CMN tornaram-se um local de encontros diversos que, entre
poder político, bem como à intransigência de Salazar e à condi- outros objectivos, preparavam a ligação ao Movimento dos Capi-
ção de “orgulhosamente sós” a que conduzira o país. A dureza tães. Intensificaram-se, então, os contactos com os grupos organi-
da guerra agravara-se em virtude dos apoios que os movimen- zados de oficiais do Exército e alguns oficiais superiores da Marinha
tos de libertação recebiam, inclusive de países membros da passaram a integrar alguns dos grupos de trabalho em actividade.

e Maria Barroso – Arquivo Mário Varela Gomes)


Pasta: 06897.043.029
Foto Mário Varela Gomes (Fundação Mário Soares

Lisboa, Largo de Camões e Largo do Chiado:


os lisboetas acompanhando e saudando a rendição da PIDE/DGS.

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Pasta: 06897.039.032
s)
so – Arquivo Mário Varela Gome
ação Mário Soares e Maria Barro
Foto Mário Varela Gomes (Fund
Lisboa, Largo do Carmo: Os populares em apoio ao MFA
ocupam uma viatura blindada durante o cerco ao quartel do Carmo.

Mais tarde, no dia 13 de Março de 1974 e como reacção à a corajosa responsabilidade de os representar no Posto de
repressão dirigida a alguns oficiais do Exército que tinham sido Comando do MFA na Pontinha.
presos na prisão militar da Trafaria, um grupo de 130 oficiais da Nessa madrugada começou a concretizar-se a premonição expre­
Marinha reunido no CMN aprovou uma moção de solidariedade ssa em 1967 pelo poeta Manuel Alegre n’O Canto e as Armas:
e declarou a sua determinação de não colaborar com quaisquer
medidas a tomar contra os seus camaradas dos outros ramos Que o poema seja microfone e fale
das Forças Armadas. uma noite destas de repente às três e tal
No dia 24 de Abril de 1974, enquanto representante dos ofi- para que a lua estoire e o sono estale
ciais da Marinha envolvidos no movimento que visava o der- e a gente acorde finalmente em Portugal.7
rube do governo, o comandante Victor Crespo, que na Escola
Naval fora professor de muitos desses jovens oficiais, assumiu Tudo se passou em poucas horas e como depois se disse, “o regime
caiu de podre”.
Embora este texto tenha um carácter evocativo e não pro-
cure evidenciar quaisquer protagonistas em termos individuais,
até para evitar injustas omissões, mas também porque muitos
fizeram o que a sua consciência determinou sem esperar qual-
quer reconhecimento, é da mais elementar justiça aqui refe-
rir o último Ministro da Marinha do regime, que foi o contra­
‑almirante Manuel Pereira Crespo.
Tinha sido empossado no dia 19 de Agosto de 1968 e, através
de diferentes vias, conhecia a insatisfação dos oficiais da Mari-
nha, as suas reivindicações, os seus anseios e as suas propostas,
até porque algumas vezes recebeu os seus porta-vozes e as suas
petições. A sua inteligência e o seu espírito democrático defen-
deram sempre aqueles que vinham lutando pelo prestígio da
Marinha, quando poderia simplesmente usar dos seus poderes
e afastá-los da corporação.
Os dias que se seguiram aos acontecimentos de 25 de Abril de 1974 foram Alguns meses depois, no seu exílio no Rio de Janeiro, Marcelo
de enorme euforia para os portugueses e as principais revistas da época
– O Século Ilustrado e a Flama – destacaram as grandes manifestações
Caetano escreveu um livro a que deu o título Depoimento, no
populares de regozijo pela reconquista da liberdade, que encheram as qual analisou a Marinha com mágoa, mas com muita lucidez e
praças e as ruas das cidades e vilas portuguesas. muita informação.

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A Marinha era, até 1961, uma pequena corporação com um Nessa altura, a Marinha tinha uma intensa actividade opera-
corpo de oficiais que se distinguia pela cultura, pelo aprumo cional, não só na afirmação da soberania nacional nas águas
e pela disciplina e onde todos se conheciam, de todos se continentais e insulares, mas também com a sua participação
sabiam as qualidades, as virtudes, os defeitos e as fraque‑ nos compromissos NATO, designadamente na Força Naval Per-
zas… A partir de 1961 couberam-lhe também numerosas e manente da NATO (STANAVFORLANT), que tinha sido criada em
importantes missões no mar e em terra. Além dos navios 1968 e que em 1969 passou a ter a participação de uma fragata
modernos, fragatas e corvetas destinados a escolta oceânica portuguesa da classe Almirante Pereira da Silva, uma classe
ou a missões de soberania, foram construídos numerosos de três navios que tinham sido adquiridos com a participação
navios mais pequenos para serviço no Ultramar, que pudes‑ financeira americana e que não podiam ser utilizados nas águas
sem penetrar e navegar nos rios da Guiné, de Angola e de ultramarinas.
Moçambique. E criou-se o Corpo de Fuzileiros, a infantaria de Porém, os meios humanos e materiais da Marinha, que eram
Marinha a que couberam tantas e tão delicadas missões. De substanciais, encontravam-se dispersos pelas áreas dos Coman-
tudo isso resultou o alargamento de efectivos e de quadros, dos Navais (Cabo Verde, Angola e Moçambique) e de alguns
embora sem perda do carácter primitivo da corporação. Comandos da Defesa Marítima (Guiné, Macau e Timor).
Em contacto frequente com o estrangeiro, os oficiais da Havia diversos meios navais oceânicos, alguns ainda do tempo
Armada começaram a ser sensíveis à argumentação com que da 2ª Guerra Mundial, a que se juntaram as fragatas da classe
por lá Portugal era atacado em razão da defesa do Ultramar. Comandante João Belo, a partir de 1967, e as corvetas das
A literatura e os livros que liam corriam no pendor socialista, classes João Coutinho e Baptista de Andrade, a partir de 1970,
fazendo reviver uma velha tendência esquerdista que datava bem como alguns navios integrados nas missões hidrográficas.
dos últimos tempos da monarquia e fizera com que a Marinha Porém, houve a necessidade de ajustar os meios navais às con-
tivesse tido papel preponderante na proclamação da Repú‑ dições hidrográficas e operacionais dos territórios africanos,
blica e na política dos primeiros tempos do novo regime. As tendo sido desenvolvido um vasto programa de construção
camadas novas recebiam a influência da onda geracional. naval em vários estaleiros portugueses.
[…]
A democracia e o socialismo ganhavam terreno. E a aver‑ Em cerca de 15 anos, a Marinha de Guerra Portuguesa
são à guerra do Ultramar também: aqui não tanto por mandou construir 56 lanchas de fiscalização, 36 pequenas
cansaço, mas por repugnância pela própria natureza da [classe Bellatrix, classe Júpiter, classe Alvor, classe Albatroz
guerra. Começaram a surgir os pedidos de saída da Mari‑ e outras] e 20 grandes [classe Argos e classe Cacine], na
nha, alguns formulados por jovens oficiais que exemplar‑ sua esmagadora maioria destinadas a ser utilizadas nas
mente se tinham comportado e às vezes haviam ganho colónias, embora algumas delas já não tenham chegado a
altas condecorações […].8 prestar serviço durante a guerra colonial. […]
Foram construídos três subtipos de lanchas: as pequenas
A apreciação de Marcelo Caetano em relação à Marinha e aos (LDP), as médias (LDM) e as grandes (LDG). […]. No total,
seus oficiais revela bem como era um homem inteligente, mas foram construídas entre 1961 e 1976, as últimas das quais
incapaz de resistir às forças mais retrógradas do regime e que só ficaram prontas após a descolonização, 97 lanchas, das
a “primavera marcelista”, que inicialmente animara os sectores quais 26 LDP, 65 LDM e 6 LDG.9
democráticos da sociedade, não resistira aos chamados “ultras”
do regime. A Marinha possuía ainda as forças de Fuzileiros, encontran-
do-se nos territórios africanos, de forma continuada, cerca de
uma dúzia de Destacamentos de Fuzileiros Especias (DFE) e um
A MARINHA EM ABRIL DE 1974
número semelhante de Companhias de Fuzileiros (CF), o que
significava a presença permanente de cerca de 2.500 fuzileiros
A participação da Marinha no movimento que se apresentou nos teatros de operações.
aos portugueses no dia 25 de Abril de 1974 iniciou-se formal- No período que se seguiu ao 25 de Abril, com o processo de
mente em Outubro de 1973, quando foi constituído um grupo descolonização e a gradual redução do seu dispositivo nas áreas
de ligação ao Movimento dos Capitães. A partir de então, suce- ultramarinas, a Marinha foi chamada a um esforço adicional e,
deram-se encontros e trocas de informações entre oficiais do uma vez mais, cumpriu as suas missões.
Exército e da Marinha que, por razões de segurança, tinham
uma divulgação muito restrita. DO 25 DE ABRIL DE 1974 AO 25 DE ABRIL DE 1976:
Tem-se dito e escrito que “a Marinha chegou tarde ao 25 de AS PROMESSAS CUMPRIDAS
Abril”, mas também se pode afirmar que muito antes da questão
corporativa que mobilizou os capitães do Exército em 1973, já mui- A data de 25 de Abril de 1974, a festa popular vivida nesse dia
tos oficiais da Marinha, mas também alguns do Exército, tinham e as mudanças políticas e sociais então iniciadas em Portugal,
uma atitude crítica perante o autoritarismo e o obscurantismo do são alguns dos mais importantes acontecimentos a que os por-
regime, sonhando com uma sociedade democrática. Assim, foi sem tugueses assistiram no século XX.
surpresa que a Marinha marcou presença no Posto de Comando Por isso, quando se comemoram 50 anos sobre essa data,
do MFA, instalado no quartel da Pontinha, onde o comandante todas as análises são oportunas desde que se fundamentem na
Victor Crespo, antigo e prestigiado professor da Escola Naval, mar- verdade histórica e nos depoimentos de quem viveu os aconte-
cou presença na primeira linha da intervenção operacional. cimentos, embora seja necessário distinguir a verdade histórica

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no terreno e, por várias vezes, houve tentativas de desvio dos


objectivos anunciados no Programa do MFA.
A primeira tentativa de alterar esse programa aconteceu em
Julho de 1974 e foi da iniciativa do general Spínola e do I Governo
Provisório, chefiado por Adelino da Palma Carlos, de que veio a
resultar a sua demissão e a formação do II Governo Provisório,
dirigido pelo coronel Vasco Gonçalves, o que representava a von-
tade do MFA de não abdicar do processo de democratização e,
sobretudo, de assegurar a descolonização.
A segunda tentativa de alteração do rumo escolhido verificou-
-se no dia 28 de Setembro, quando o general Spínola procurou
mobilizar a “maioria silenciosa” da população, para reforçar o
seu poder pessoal.
Dessa crise de percurso resultou que o general Spínola decidiu
demitir-se, vindo a ser substituído pelo general Costa Gomes na
O Programa do MFA que foi anunciado no dia 25 de Abril de 1974 e
presidência da República. Entretanto, foram assinados os acor-
a Lei nº 1/74 de 25 de abril, que destituiu o Presidente da República, dos de Argel (26 de Agosto), de Lusaka (7 de Setembro) e, mais
exonerou o Governo, dissolveu a Assembleia Nacional e atribuiu tarde, do Alvor (15 de Janeiro de 1975), relativos ao cessar-fogo
todos os seus poderes à Junta de Salvação Nacional. e à transferência da soberania na Guiné-Bissau, em Moçambi-
que e em Angola. No campo económico foi aprovado um Pro-
de outras apreciações menos fundamentadas ou menos sérias grama de Política Económica e Social, mas em Janeiro de 1975
ou, ainda, ditadas por interesses ideológicos ou político-parti- surgiram os primeiros sinais de confrontação quando as forças
dários distorcidos. políticas e sindicais se envolveram numa polémica discussão
Embora haja um enorme volume de informação publicada e o em torno da unidade ou da unicidade sindical.
tema ainda seja algo polémico por ainda estar na memória de Porém, no dia 11 de Março de 1975, surgiu mais uma tenta-
muita gente, neste texto não se pretendem apresentar quais- tiva de desvio do Programa do MFA, centrada no ataque de for-
quer factos ou análises ainda não conhecidas, mas apresentar ças paraquedistas a um quartel de Lisboa. Uma vez mais, eram
apenas uma breve síntese dos acontecimentos ocorridos depois criticadas as negociações visando o fim da guerra colonial, a
do dia 25 de Abril de 1974, que repartimos por duas fases: evolução dos programas de democratização e as rápidas altera-
ções que se estavam a verificar nas relações capital-trabalho, na
1ª Fase – Desde a tomada do poder no dia 25 de Abril de gestão empresarial participada e na reforma agrária. Como con-
1974 até à realização das eleições para a Assembleia Cons- sequência desta tentativa, a Assembleia do MFA reunida no dia
tituinte no dia 25 de Abril de 1975. 14 de Março instituiu o Conselho da Revolução para substituir
a Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado, de forma
2ª Fase – Desde as eleições para a Assembleia Cons- a atingir mais rapidamente os objectivos do Programa do MFA.
tituinte até à entrada em vigor da nova Constituição da O Conselho da Revolução decidiu então controlar a economia
República no dia 25 de Abril de 1976. nacional e procedeu à nacionalização dos seus sectores estra-
tégicos, como a banca e os seguros, os transportes, a energia e
1ª Fase a refinação do petróleo, isto é, cerca de um terço da economia.
O Programa do MFA apresentado ao país na madrugada do dia Muitos empresários e quadros das empresas decidiram então
26 de Abril de 1974 foi a magna carta que balizou a interven- abandonar o país, instalando-se sobretudo no Brasil, o que
ção militar e que foi sufragado nas ruas e, de forma especial, nas levou a grandes dificuldades em muitas empresas.
grandes manifestações unitárias realizadas em todas as cidades No plano político destaca-se o dia 11 de Abril, quando foi assi-
portuguesas. Depois de uma ditadura que durou 48 anos, a con- nado um documento chamado Plataforma de Acordo Consti-
quista da liberdade teve o efeito de uma panela de pressão a que tucional, também conhecido como Pacto MFA-Partidos I, que
se tirou a tampa, de que saíu uma alegria popular incontida, bem foi subscrito pelos seis maiores partidos portugueses e que se
como uma renovada energia que levou à formação de partidos destinava a garantir a continuação da “revolução política, eco-
políticos, sindicatos, associações cívicas, comissões de morado- nómica e social”, dentro do “pluralismo político e da via socia-
res e outras formas de organização social. O povo uniu-se para lizante que permita levar a cabo, em liberdade, mas sem lutas
exigir a liberdade e outros direitos sociais que tinham sido repri- partidárias estéreis e desagregadoras, um projecto comum de
midos durante muitos anos, mas também para exigir o fim da reconstrução nacional”.
guerra colonial e o regresso dos soldados, a par de outras justas A promessa da realização de eleições livres, que constava do
reivindicações a que o regime deposto nunca dera resposta. Programa do MFA, tinha chegado a estar ameaçada, mas o espí-
O povo apreciou a coragem daqueles que derrubaram o rito do MFA venceu todas as dificuldades de percurso e no dia
regime, louvou os “capitães de Abril” e gritou nas ruas que “o 25 de Abril de 1975 foram realizadas as prometidas eleições
povo está com o MFA”. Os tempos corriam com entusiasmo e livres, que escolheram uma Assembleia Constituinte e consti-
com determinação, mas a unidade que caracterizara a forma- tuíram um acto cívico extraordinário, pois votaram 6.231.372
ção do MFA e que permitira o sucesso do movimento começou eleitores (91,66%), um nível de participação que não mais se
a ser influenciada pelas forças políticas e sociais que actuavam repetiria em Portugal.

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2ª Fase aparelho económico e das estruturas do Estado e terminava


Como consequência dos resultados eleitorais e do normal com uma declaração.
aparecimento de visões e de estratégias diferentes para o
país, começaram a surgir tensões entre os principais partidos É necessário reconquistar a confiança dos portugueses,
e o MFA, com acesa discussão quanto à legitimidade para o acabando com os apelos ao ódio e as incitações à violên‑
exercício do poder, isto é, discutia-se se havia uma legitimi- cia e ao ressentimento. Trata-se de construir uma socie‑
dade eleitoral assente nos partidos políticos, ou se havia uma dade de tolerância e de paz e não uma sociedade sujeita
legitimidade revolucionária assente no MFA e no Conselho da a novos mecanismos de opressão e exploração, o que não
Revolução. poderá ser realizado com a actual equipa dirigente, ainda
Enquanto isto, acenturam-se os movimentos populares, por que parcialmente renovada, dada a sua falta de credibi‑
vezes com as características dos movimentos de massas, que lidade e manifesta incapacidade governativa. É preciso,
se estendiam pelas ruas, pelas empresas e pelos campos. finalmente, conduzir o país, com justiça e equidade, e
Em Maio de 1975, o “caso República” tornou-se um para- segundo regras firmes e estáveis, em direcção ao socia‑
digma da tentativa de controlo da comunicação social por lismo, à democracia e à paz.
forças políticas, quando a respectiva comissão de trabalha-
dores invadiu e ocupou as instalações do jornal em protesto O efeito deste documento agravou o conflito que já se dese-
contra a sua linha editorial. A partir de então acentuaram-se nhava no seio do MFA, entre aqueles que se afirmavam mode-
as tensões entre as forças políticas e sociais, com manifesta- rados e os que eram considerados radicais.
ções frequentes e reivindicações desproporcionadas, tendo a No dia 12 de Novembro de 1975 aconteceu mais um episó-
“revolução portuguesa” passado a interessar a comunidade dio do confronto entre os partidários da legitimidade revo-
internacional, sobretudo os países mais interessados na des- lucionária e os seguidores da legitimidade eleitoral, quando
colonização portuguesa. uma multidão, que viria a ser estimada em cem mil pessoas,
Foi naquele contexto de agitação popular que, no dia 19 ocupou as escadarias do Palácio de São Bento e a Assembleia
de Julho se realizou um importante comício na Alameda D. Constituinte, “sequestrando” os deputados que se encontra-
Afonso Henriques que ficou conhecido como o Comício da vam no interior. No dia 20 de Novembro, o almirante Pinheiro
Fonte Luminosa, no qual o Partido Socialista, através de Mário de Azevedo, que chefiava o VI Governo Provisório, suspendeu
Soares, exigiu a demissão do primeiro-ministro Vasco Gonçal- a actividade do governo, afirmando então que “já fui seques-
ves. Se já havia demasiada agitação no país, a partir de então trado duas vezes, não gosto de ser sequestrado”. O ambiente
ela acentuou-se e, muitas vezes, alguns militares alinharam-se era cada vez mais tenso e como depois se escreveu, naquela
com os partidos e movimentos existentes, pondo em causa o semana “a guerra civil esteve por um fio”.
espírito do MFA e o seu programa. O Processo Revolucionário Na madrugada de 25 de Novembro, durante uma reunião do
em Curso (PREC) e o Verão Quente de 1975, foram as designa- Conselho de Revolução descrita como “longa e acalorada”, foi
ções com que ficariam conhecidos aqueles meses de confron- nomeado o capitão Vasco Lourenço para comandar a Região
tações políticas, de assaltos a sedes dos partidos, de ameaças Militar de Lisboa, o que significava a retirada do poder ao
de acções armadas, das chamadas “ocupações selvagens”, da major Otelo Saraiva de Carvalho ou, dito de outra maneira,
indisciplina pública e de um sem-número de excessos cometi- era a retoma da iniciativa política dos militares mais mode-
dos um pouco por toda a gente, incluindo alguns militares que rados, fiéis aos ideais expressos no dia 25 de Abril de 1974.
se deixaram instrumentalizar. Foi o tempo do ELP, do MDLP, Como reacção às posições do Conselho da Revolução, as
dos SUV e de outros grupos clandestinos, mas também das tropas paraquedistas ocuparam as bases aéreas de Tancos,
ocupações de terras e dos desvios de armas. Foi um período Monte Real e Montijo. Estas movimentações tiveram alguns
muito difícil para todos os portugueses, tanto militares como apoios, mas foi o general Costa Gomes que, com o apoio do
civis, mas não cabe no âmbito deste texto qualquer análise ou chamado Grupo dos Nove e de algumas forças militares, con-
julgamento de um tempo em que se falava muitas vezes na seguiu superar a situação.
iminência de uma guerra civil. Tal como acontecera com outros episódios que procuraram
No dia 7 de Agosto um grupo de nove oficiais do MFA que alterar o curso dos propósitos do MFA, o 25 de Novembro de
integravam o Conselho da Revolução, que passou a ser desig- 1975 foi mais uma tentativa frustrada de instrumentalizar mili-
nado como o Grupo dos Nove, publicou um documento crítico tares e de desviar o rumo traçado no dia 25 de Abril de 1974.
num jornal diário, no qual se afirmava que “o país encontra-se A aprovação da Constituição aconteceu no plenário da Assem-
profundamente abalado, defraudado relativamente às gran- bleia da República reunido no dia 2 de Abril de 1976 e teve a
des esperanças que viu nascer com o MFA” e se considerava aprovação de 93,6% dos representantes do povo português, isto
indispensável para a resolução da “crise gravíssima que o país é, de 234 dos 250 deputados constituintes, do Partido Socialista
atravessa, que o MFA não só se afirme suprapartidário como (PS), do Partido Popular Democrático (PPD), do Partido Comu-
desenvolva uma prática política realmente isenta de toda e nista Português (PCP), do Movimento Democrático Português
qualquer influência dos partidos”, pois “só assim reunirá con- (MDP/CDE), da União Democrática Popular (UDP) e da Associa-
dições para recuperar a sua credibilidade e cumprir a sua ção para a Defesa dos Interesses de Macau (ADIM), tendo os
vocação histórica de árbitro respeitado e motor do processo votos contrários do Centro Democrático e Social (CDS).
revolucionário”. A Assembleia Constituinte teve um papel fundamental no
Esse documento, que ficou conhecido como Documento dos estabelecimento de um regime político de democracia plu-
Nove, “contestava a anarquia reinante, a desagregação do ralista e a nova Constituição da República Portuguesa entrou

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em vigor no dia 25 de Abril de 1976, afirmando no seu texto Cinquenta anos depois, tanto os historiadores como os cida-
preambular o seguinte: dãos que se interessam pelos assuntos da sociedade portu-
guesa podem facilmente concluir que o 25 de Abril valeu a pena
A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, e que os militares da Marinha souberam ultrapassar as dificul-
coroando a longa resistência do povo português e interpretando dades circunstanciais e contribuíram para que a corporação da
os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista. Armada servisse “com abnegação, zelo e denodo o seu país”.
Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo
representou uma transformação revolucionária e o início de Adelino Rodrigues da Costa
uma viragem histórica da sociedade portuguesa. CTEN M REF
A Revolução restituiu aos Portugueses os direitos e liberda‑ N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico
des fundamentais. No exercício destes direitos e liberdades,
os legítimos representantes do povo reúnem-se para elaborar
uma Constituição que corresponde às aspirações do País.
Notas
A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português
de defender a independência nacional, de garantir os direitos
1
José Medeiros Ferreira, “Portugal em transe (1974-1985)”, Lisboa, 1993, p. 224.

fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basila‑ 2


Marcelo Caetano, Depoimento, Rio de Janeiro, 1974, p. 191.
res da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito 3
António de Spínola, Portugal e o Futuro, Lisboa, 1974, p. 45.
democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, 4
Ibidem, p. 235.
no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a
5
Francisco Costa Gomes, apud José Medeiros Ferreira, op. cit., p. 55.
construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.
6
Revista da Armada, edição nº 260, Dezembro, 1993, pp. 23-25.
Nesse dia realizaram-se as primeiras eleições para a Assembleia 7
Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1970, p. 138.
da República e, menos de dois meses depois, era eleito como 8
Marcelo Caetano, op.cit., pp. 177-178.
presidente da República o general António Ramalho Eanes. 9
João Falcão de Campos, “Armada Portuguesa – Lanchas e navios”. in Aniceto
Apesar de muitas contrariedades e de alguns excessos, dos Afonso e Carlos Matos Gomes, Guerra Colonial, Lisboa, pp. 378-389.
golpes e dos contra-golpes de 9 de Julho e 28 de Setembro de 10
José Medeiros Ferreira, op. cit., p. 224.
1974 e de 11 de Março e 25 de Novembro de 1975, os propósi-
tos anunciados na madrugada de 25 de Abril de 1974 através do 11
Ibidem, p. 225.
Programa do MFA estavam cumpridos.
O historiador José Medeiros Ferreira, que por acaso foi o
ministro que, juntamente com Mário Soares, formalizou o Referências Bibliográficas
pedido de adesão de Portugal à CEE no dia 28 de Março de AA. VV., Eleições Presidenciais – Subsídios para a história das candidaturas de
1977, escreveu: Norton de Matos (1949), Quintão Meireles (1952) e Humberto Delgado (1958),
Colecção Compasso do Tempo, nº 8, Lisboa, Edições Delfos, S/D [1971].

De um ponto de vista histórico o trânsito efectuado pelas AFONSO, Aniceto e GOMES, Carlos de Matos, Guerra Colonial, Lisboa, Editorial
Notícias, 2000 (ISBN: 972-46-1192-2).
forças armadas portuguesas entre o regime de ditadura
derrubado a 25 de Abril de 1974 e a promulgação da Cons‑ CAETANO, Marcelo, Depoimento, Rio de Janeiro, Distribuidora Record, 1974.
tituição a 25 de Abril de 1976 é sem dúvida notável e sem CONTREIRAS, Carlos de Almada, Operação Viragem Histórica – 25 de Abril de
exemplo na história das passagens de regimes ditatoriais a 1974, 2ª edição, Lisboa, Edições Colibri, 2018 (ISBN: 978-989-689-659-1).
regimes de democracia politica.10 COSTA, Adelino Rodrigues da, “As guerras do fim do Império (1961-1974)”.
[…] In António Costa Canas (coord.), História da Marinha Portuguesa – Viagens e
Há, obviamente uma distinção a fazer entre o Movimento Operações Navais (1824-1974), Lisboa, Academia de Marinha, 2020 (ISBN: 978-
dos Capitães e o MFA. […] 972-781-157-1).

Ou seja, o Movimento dos Capitães é responsável pela fase FERREIRA, José Medeiros, “Portugal em transe (1974-1985)”. In José Mattoso
de conspiração e pelo derrube da ditadura, o MFA é-o pelo (dir.), História de Portugal, Oitavo Volume, Lisboa, Círculo de Leitores, 1993
(ISBN: 972-42-0972 -5).
período de transição posterior e sempre se quis institucio‑
nal, legal e constitucional.11 LAURET, Pedro, “O Clube Militar Naval – 1968 a 1974. A assembleia geral de 22 de
Fevereiro de 1968”. In Anais do Clube Militar Naval, Lisboa, Ano 152, Tomos 7 a
12, Jul-Dez, 2022, pp. 387-400.
Alguns militares da Marinha tiveram um papel activo na pre-
paração do movimento que no dia 25 de Abril de 1974 devolveu LOURENÇO, Vasco, do Interior da Revolução, entrevista de Maria Manuela
Cruzeiro, Lisboa, Âncora Editora e Centro de Documentação 25 Abril, 2009 (ISBN:
a democracia aos portugueses e no processo que se seguiu, o 978-972-780-234-0).
que constituiu um importante contributo para a modernização
PIMENTEL, Irene Flunser, A história da PIDE, Lisboa, Círculo de Leitores, 2011
e progresso de Portugal.
(ISBN: 978-972-759-956-1).
Todos eles são merecedores da nossa gratidão. É certo que no
seio da corporação da Marinha, tal como nos outros ramos das ROSAS, Fernando, “O Estado Novo (1926-1974)”. In José Mattoso (dir.), História de
Portugal, Sétimo Volume, Lisboa, Círculo de Leitores, 1994 (ISBN: 972-42-0916-4).
Forças Armadas e na sociedade em geral, houve algumas difi-
culdades de adaptação aos novos tempos e até alguns excessos, SOARES, Mário, Le Portugal Baillonné. Un témoignage, Paris, Calmann-Lévy, 1972.
embora sempre tivessem sido cumpridas todas as missões con- SPÍNOLA, António de, Portugal e o Futuro, Lisboa, Arcádia, 1974.
fiadas à Marinha, tanto no mar como em terra.

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O 25 DE ABRIL NA PRIMEIRA PESSOA

O PLANO PARA A OCUPAÇÃO DA DIRECÇÃO-GERAL DE SEGURANÇA


Pelo VALM M REF Fernando Vargas de Matos

Pasta: 10079.001.021
Arquivo Alfredo Cunha)
Mário Soares e Maria Barroso –
Foto Alfredo Cunha (Fundação
Lisboa, Rua António Maria Cardoso: uma força de fuzileiros aguarda
que sejam ultimados os pormenores da rendição da PIDE/DGS.

E m Abril de 1974 o Destacamento de Fuzileiros Especiais 10


(DFE 10) era na Marinha a única unidade combatente de fu-
zileiros, estruturada e com efectivos completos, estacionada
Sobre informações mínimas do planeamento de operações, for-
ças envolvidas, comunicações e plano de contingência, fui infor-
mado que sendo tudo confidencial nada me seria disponibilizado.
em Portugal Continental. Com o posto de 1º Tenente eu era seu Sem quaisquer informações, disse-lhes, não estava disponível para
Coman­dante desde 14 de Março. empenhar e arrastar o Destacamento para uma aventura.
Em 19 de Abril fui abordado em minha casa, por dois oficiais da Tive razão, a operação militar do Movimento apenas se realizou
Marinha que mais tarde integraram o Conselho da Revolução, e um dia depois do planeado.
que me expuseram a seguinte situação. A acção proposta poderia ter comprometido toda a grande ope-
Estava planeada para 24 de Abril uma sublevação militar, ração planeada.
envolvendo vários militares e unidades do Exército, com o Os dias passaram e nada aconteceu, até que no dia 25 de Abril,
objectivo de derrubar o então vigente regime político. Apesar bem cedo, tive conhecimento do início da sublevação militar. De
do envolvimento de vários oficiais da Marinha no existente imediato dirigi-me às instalações do DFE 10, na Força de Fuzilei-
movimento conspirativo nenhuma acção militar previa partici- ros do Continente (FFC). Ao falar com os oficiais e sargentos tive
pação da Marinha. a percepção de que na generalidade podia contar com o Desta-
O DFE 10 era, caso eu aceitasse, a única força disponível, capaz camento caso fosse solicitada alguma acção.
de assegurar a participação efectiva de uma força da Marinha. Cerca das 09:00 horas fui chamado ao gabinete do Comandante
O plano apresentado foi o seguinte. Durante o treino opera- da FFC. Após uma troca de impressões sobre o que se estava a
cional na Arrábida, o DFE “desaparecia”, sem comunicações ou passar e termos identificado sintonia na avaliação da situação
contacto exterior, e no dia 23 de Abril e ao anoitecer assaltaria o o Comandante deu-me a missão de ocupar e segurar a sede da
Forte da Trafaria libertando os oficiais aí detidos na sequência do Direcção-Geral de Segurança (DGS). Aceitei.
Movimento Militar das Caldas da Rainha de 16 de Março. Seria a Deu-me as seguintes informações e instruções que recebera
primeira acção militar a ser executada. do Posto de Comando das Forças Armadas. A ocupação da sede

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da DGS não fora considerada como objectivo por não haver dis- chamada, fiz-lhe um relato sucinto de tudo o que sucedera, sobre-
ponibilidade de forças e tudo indiciava que estava praticamente tudo a incorreção das informações relativas à zona do objectivo.
sem pessoal. O Destacamento seria acompanhado por um Ofi- Concordou e disse-me que não queria o Destacamento nas ins-
cial Superior, mais sabedor das circunstâncias do Movimento. talações da FFC. A situação ainda não estava política e militar-
Era o coordenador político-militar. Levaria também um oficial mente bem definida. Aconselhou-me levar o DFE para o Cristo­
que faria a ligação à patrulha de Polícia Militar que cortava o ‑Rei onde estava a força do Exército envolvida na sublevação
acesso à Rua António Maria Cardoso. Finalmente deu-me ins- militar, estaria junto de forças amigas. Depois de um ligeiro rea-
truções para o pessoal do Destacamento usar o uniforme azul bastecimento, embarcámos e saímos pelos portões secundários,
de saída. traseiros, da FFC rumo ao Cristo-Rei.
O salvo-conduto para a o Destacamento atravessar a Ponte O Governo, o regime, rendeu-se ao Movimento da Forças
sobre o Tejo em segurança seria acenar com as bóinas de fuzi- Armadas cerca das 17:00 horas desse dia.
leiro a partir das janelas dos autocarros, porque uma Bataria de Por volta das 18:00 horas recebi instruções do Posto de
Artilharia controlava no Cristo-Rei o acesso a Lisboa e as movi- Comando das Forças Armadas para me dirigir ao Ministério da
mentações de navios no Rio Tejo. Marinha e aguardar reforços e nova missão.
Ao Destacamento, perante formatura geral, expliquei tudo o Entretanto Meio Grupo de Combate do Destacamento com
que sabia e da importância da participação da Marinha. Frisei a militares da Bataria de Artilharia tinha ido ao Forte da Trafaria e
sensibilidade da situação e a importância da contenção na atua- libertara os Oficiais do Movimento das Caldas, ali detidos.
ção e comportamento individual. Já no Ministério cerca das 19:00 horas fui informado da pre-
Finalmente informei que se houvesse alguém com reservas para sença de um Oficial Superior da Marinha para coordenar a atua-
participar na missão, desse um passo em frente. Ninguém o fez. ção das forças em presença e a sua colaboração conjunta com
Cerca das 10:30 horas já no Largo de Camões/Chiado mandei o exército. A força de reforço era meia Companhia de fuzileiros,
estabelecer um perímetro de segurança em volta da sede do formada Ad hoc.
edifício e instalações da DGS (ruas António Maria Cardoso, Vítor Cerca das 20:30 horas foi estabelecido pela Força Conjunta
Cordon e Duques de Bragança). Para minha surpresa constatei um Perímetro de Segurança alargado que se estendia da Praça
que a grande porta principal do edifício estava bem fechada e na Duque da Terceira, Rua do Alecrim, Largo do Chiado, Rua António
varanda havia um grupo de Inspetores e um Oficial da Marinha. Maria Cardoso, Rua Vítor Cordon e Rua D. de Bragança. Dois Ofi-
Pelas janelas dava-se conta de muito outro pessoal no interior ciais Superiores, Marinha e Exército, assumiram a coordenação
do edifício. do emprego das Força Conjunta.
Decidi inspecionar o dispositivo do DFE e quando entrei na A sede da DGS estava segura e cercada mas continuava fechada
rua Vítor Cordon deparei com uma força de Blindados da GNR e inacessível e assim continuou até cerca das 08:00 horas da
cujo Comandante, oficial superior, me interpelou afirmando que manhã seguinte, dia 26.
entre a Marinha e a GNR sempre tinha existido um bom relacio- Esta situação/solução que terá sido acordada entre a Direcção
namento. Estava satisfeito, disse-me, “por ter o apoio dos Fuzos da DGS e o Movimento Militar permitiu a entrada pacífica nas
para proteger aquela rapaziada da DGS”. Percebi que não está- instalações da DGS, mas também a destruição de alguma docu-
vamos do mesmo lado da situação. Cumprimentei-o e sem mais mentação e o auto desarmamento de agentes e inspectores.
continuei. Cerca das 09:00 horas os Oficiais presentes e com funções no
Voltei à frente do edifício onde os dois Comandantes da Mari- Comando/Coordenação da Força Conjunta entraram nas insta-
nha argumentavam com opiniões diferentes, dizendo um que lações da Sede da DGS e no gabinete do Director assumiram em
estava ali em nome do Povo para tomar conta da situação e o nome do Movimento das Forças Armadas o controlo do Pessoal
outro do alto da varanda respondia que houvesse juízo pois esta- e das Instalações daquela polícia. Terminara de forma racional e
vam no edifício cerca de 250 homens bem armados. Quando me pacífica, o processo para ocupação da sede da DGS.
viu, conhecia-me, chamou-me pelo nome e disse-me que guar- O DFE10 recebeu, a meio da manhã, instruções para regressar
dasse os tiros para o mato, pois um confronto armado acabaria à FFC onde nos foi atribuída a missão de efectuar a segurança
num banho de sangue. da messe de oficiais daquela Força, transformada em centro de
O Destacamento estava num beco sem saída. Completamente detenção para Oficiais Generais.
exposto e em inferioridade de efectivos e armamento. A situa- Asseguramos esta missão durante três dias e em meados de
ção era tacticamente insustentável. O pessoal não tinha qualquer Maio o DFE embarcou para África.
hipótese de obter abrigo ou resguardo. Escrevi estas linhas para repor a minha verdade, a que vivi com
Ao Oficial Superior da Marinha que me acompanhara, dei conta o pessoal do Destacamento de Fuzileiros Especiais 10. Sem eles
da situação e dispositivo do DFE e da presença da força da GNR nada do que foi dito teria acontecido.
estacionada na parte Leste da rua Vítor Cordon. Tive a oportunidade de integrar a sublevação militar de 25 de
Aconselhei que tomássemos a única decisão acertada, voltar à Abril de 1974, porque tinha a MOTIVAÇÃO, a OPORTUNIDADE e
FFC. Concordou de imediato reagindo em voz alta. Pedi-lhe con- sobretudo os MEIOS, os Fuzileiros do DFE 10 (1974-1975).
tenção e calmamente embarcámos de volta à FFC. Sinto honra no que ajudámos a fazer pelo nosso País. Estou em
Seria cerca do meio-dia quando me apresentei no gabinete paz com a minha consciência.
do Comandante da FFC que nesse momento recebia um telefo-
nema do Vice-CEMA a dar-lhe ordem para me deter. Terminada a N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico

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ORDEM DA LIBERDADE
A Ordem da Liberdade é uma ordem honorífica portuguesa, foi
criada pelo Decreto-Lei nº 709-A/76, de 4 de Outubro, destinan-
do-se a “distinguir serviços relevantes prestados em defesa dos
valores da Civilização, em prol da dignificação da Pessoa Humana
e à causa da Liberdade”.
A Ordem da Liberdade foi atribuída aos seguintes militares da
Marinha, “com participação directa no 25 de Abril de 1974”.

GRÃ-CRUZ DA ORDEM DA LIBERDADE

CARLOS DE ALMADA CONTREIRAS CMG 4-02-1986

FERNANDO LUÍS CALDEIRA FERREIRA DOS SANTOS CFR 4-02-1986

JOSÉ BAPTISTA PINHEIRO DE AZEVEDO ALM 24-09-1983

01-10-1985

MANUEL BEIRÃO MARTINS GUERREIRO CALM 4-02-1986

VASCO FERNANDO LEOTE DE ALMEIDA E COSTA CALM 1-10-1985

VÍTOR MANUEL TRIGUEIROS CRESPO CALM 24-09-1983

GRANDE-OFICIAL DA ORDEM DA LIBERDADE


AGOSTINHO VIDAL DE PINHO CMG 26-02-2021

ALCINDO MANUEL PACHECO FERREIRA DA SILVA CMG 23-03-2022

ANTÓNIO ALVA ROSA COUTINHO ALM 5-07-2023

ANTÓNIO MARTINS LOBO VARELA CFR 8-03-2023

FERNANDO DAVID E SILVA CALM 23-12-2022

FERNANDO MANUEL DE OLIVEIRA VARGAS DE MATOS VALM 23-12-2022

JAIME PEDRO GAGO LOPES CMG 23-12-2022

JOÃO LOBO DE OLIVEIRA CMG 23-12-2022

JORGE MANUEL BARRETO DE ALBUQUERQUE CMG 19-08-2021

JORGE MANUEL DE SOUSA LOURENÇO GONÇALVES CMG 5-07-2023

JOSÉ FERREIRA BRITO CMG 26-01-2023

JOSÉ JÚLIO NETO ABRANTES SERRA CMG 23-03-2022

JOSÉ MANUEL BARROSO MENDES MORAIS CMG 8-03-2023

JOSÉ MANUEL BOTELHO LEAL VALM 23-12-2022

LUÍS ANTÓNIO NEVES PAIVA DE ANDRADE CMG 8-03-2023

LUÍS ANTÓNIO PESSOA BRANDÃO CMG 16-05-2023

LUÍS MANUEL BERNARDES PEDREIRA CARNEIRO CMG 8-03-2023

MÁRIO CERÍACO DORES DE SOUSA CMG 8-03-2023

MÁRIO JÚLIO BAPTISTA SIMÕES TELES CMG 19-08-2021

PEDRO MANUEL CUNHA LAURET CMG 3-03-2006

RAMIRO ANTÓNIO SOARES RODRIGUES CMG 19-08-2021

JOAQUIM AUGUSTO DOS SANTOS CMG 5-07-2023

COMENDADOR DA ORDEM DA LIBERDADE


MANUEL CARLOS QUINTÃO MEIRELES CALM 14-04-1982

JORGE MAIA RAMOS PEREIRA CALM 25-11-1982

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Foto Alfredo Cunha (Fundação Mário Soares e Maria Barroso – Arquivo Alfredo Cunha) Pasta: 10079.001.050

MEMÓRIA
DE UM DIA
Lisboa, Praça do Comércio: um blindado da
Escola Prática de Cavalaria toma posição,
com a fragata Almirante Gago Coutinho
em fundo.

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PREPARAÇÃO PARA A MUDANÇA


Pelo CALM ECN REF Manuel Martins Guerreiro

Foto cedida pelo autor


...

Tomada da sede da PIDE/DGS, na rua António Maria Cardoso, após


esta polícia se ter rendido às forças do MFA, já no dia 26 de abril.

A minha experiência de guerra na Guiné, a bordo da FF Nuno


Tristão, com passagem pelo Zaire e por Cabinda, convenceu-
-me de que a natureza da guerra que combatíamos em África era
A partir de 1970 decidimos articular de forma permanente estas
duas formas e sensibilidades e estudar as nossas tradições e cul-
tura a fim de prepararmos a mudança, com dois objectivos claros:
de tipo colonial e que a solução teria de ser política.
A vivência de quatro anos em Itália (Génova) permitiu-me aqui- – Profissional: bem servir o País e dignificar a Marinha;
latar das vantagens e benefícios de uma sociedade democrática. – Cívico, cultural e político: contribuir para a queda do regime
Quando regressei, no final de 1969, tinha ideias claras quanto ditatorial e para a resolução do problema da guerra colonial.
a formas de governo dos países. Verificava-se à data no Clube
Militar Naval (CMN) uma forte dinamização associativa e debate, A partir de valores e princípios intemporais que integram a cul-
sendo evidentes a insatisfação e a frustração profissional; simul- tura naval, criámos uma estrutura, com diferentes graus de com-
taneamente tinham ocorrido na Escola Naval processos asso- promisso; foi essa a bússola orientadora em todo o período até
ciativos e culturais que incluíram a participação de cadetes na 1974 e na sequência do 25 de Abril.
campanha eleitoral de 1969. Existia um grupo de jovens oficiais Foi o estudo e a articulação da cultura da Marinha com prá-
de Marinha muito sensibilizados pelos novos tempos, inspirados ticas democráticas, aliados à nossa juventude e generosidade,
em parte pelo Maio de 68 e motivados pelas dinâmicas da luta que nos permitiram concretizar o sonho de liberdade e demo-
popular e estudantil. cracia política.

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A herança cultural e histórica, a realidade de então, caracte- decisões tomadas foram sempre tomadas democraticamente.
rizada pelo isolamento internacional do País, a guerra, a forte Neste processo mantínhamos contacto regular com oficiais
emigração, aliadas às nossas vivências resultantes da estadia ou superiores, que informávamos das nossas ideias, formas de
viagens ao estrangeiro, fizeram-nos tomar consciência do grande actuação e propósitos, e cuja grande maioria percebeu e nos
atraso e bloqueio de Portugal e da nossa sociedade. Foi isso que deu uma valiosa colaboração. Como sempre sucede em tudo,
nos levou a organizarmo-nos e a desenvolvermos um processo há excepções: no próprio dia 25 de Abril o que se passou na
interno de consciencialização cívica, social e política, com uma fragata Gago Coutinho difere bem dos casos do petroleiro São
forte dimensão cultural, no sentido da mudança. Gabriel, da Esquadrilha de Submarinos, da fragata Sacadura
Sempre que, em nosso entender, valores essenciais da cultura Cabral, da Base Naval, da Direcção de Armas Navais, da Escola
da Marinha ou princípios de dignidade humana eram postos em de Fuzileiros e da Força de Fuzileiros; em todas estas unidades
causa, encontrávamos formas de os defender e de nos manifes- actuámos no respeito do compromisso que havíamos firmado
tarmos, reforçando a dinâmica do processo e a coesão do grupo. com os camaradas do Exército: neutralizar quaisquer acções,
As nossas actuações tiveram muitas vezes como motivação movimentações ou tentativas que a hierarquia da Marinha
imediata questões de dignidade e prestígio da Marinha e a tomasse contra o MFA.
solidariedade para com camaradas. Tiveram esses fundamen- A nossa estratégia não passava pelo envolvimento directo de
tos várias exposições colectivas que endereçámos ao ministro unidades navais ou dos seus comandantes; procurámos sempre
da Marinha e intervenções que fizemos no Clube. Cabe dizer evitar que oficiais mais antigos corressem riscos dispensáveis.
que o ministro Pereira Crespo compreendeu as nossas razões e Para além da presença de um elemento da Marinha no posto
motivações, e consequentemente mantivemos sempre com ele de comando na Pontinha e da acção militar de ocupação da
uma mútua relação de lealdade. A grande divergência residia sede da PIDE /DGS e do Forte de Caxias, demos um contributo
na guerra colonial. muito significativo para a elaboração do Programa Político do
O ministro percebeu naturalmente que o caminho que seguía- MFA, que constituiu um elemento essencial para a adesão
mos teria consequências políticas negativas para o regime e, popular e para a dinâmica do processo subsequente ao 25 de
assim, procurou travar o processo que se desenrolava no Clube; Abril, visando uma democracia participativa aberta a todos.
iam nesse sentido os despachos nº 18, de 5 de Fevereiro de 1971, Celebramos agora no CMN o 50º aniversário dos aconteci-
e nº 115, de 30 de Setembro de 1972, cujo efeito acabou por ser mentos mais significativos deste processo.
contraproducente, dado que nos levou a criar formas de organi-
zação mais seguras e coesas.
Em cada nova fase aprofundávamos o debate quanto à
maneira de atingirmos os nossos objectivos, sendo que as N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico

A MARINHA NA OCUPAÇÃO DA SEDE DA DGS/PIDE


ACASOS E COINCIDÊNCIAS EM 25 DE ABRIL, 1974
Pelo CMG M REF Luís Costa Correira

Ah! Mas ele… está… aqui! Decidi assim, por mera curiosidade, saír do meu gabinete na
Foi com estas palavras que o então Comandante (Cte) Pinheiro Base do Alfeite e ir à Força de Fuzileiros do Continente tentar
de Azevedo reagiu ao telefonema em que o Cte Almada Contrei- conhecer o que porventura lá estivesse a ocorrer, tendo sido
ras (o principal – e muito esquecido – responsável pelas Ope- bem acolhido pelo Cte Pinheiro de Azevedo, que na Sala de Ofi-
rações de Fuzileiros no quadro da sublevação) indigitava o meu ciais desenvolvia intensos contactos telefónicos.
nome para acompanhar e coordenar as Forças de Fuzileiros que Soube então que uma primeira tentativa de ocupação da
se deslocariam à Sede da polícia política (DGS/PIDE) visando a Sede não tinha sido coroada de êxito devido à inesperada des-
sua neutralização. proporção das Forças em confronto (além de 300 agentes, e
Para a razão da surpresa contida na frase pronunciada con- de uma coluna da GNR mecanizada e artilhada) com que se
corre a circunstância de eu ter deixado de participar, em 6 de deparou o Destacamento de Fuzileiros comandado pelo então
Março, no movimento conspirativo (em que estava envolvido 1º Tenente Vargas de Matos* (o único Comandante de Unidade
desde 16 de Outubro) devido a discordâncias com os jovens militar de Marinha que se tinha prontificado a participar na
oficiais que nele participavam, pelo que era desconhecedor do sublevação), tendo então retirado para o Cristo Rei para espe-
que se passava na manhã do dia 25 de Abril. rar por reforços.

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Face ao sucedido, o Cte Contreiras solicitou ao Cte Pinheiro de


Azevedo que enviasse uma nova Força de Fuzileiros para que,
conjuntamente com o citado Destacamento, se procedesse à
desejada Operação, ao que o Cte Pinheiro de Azevedo acedeu,
solicitando porém ao Cte Contreiras que lhe indicasse um Ofi-
cial Superior para coordenar as acções das duas Unidades.
E, sem saber que eu estava junto do Cte Pinheiro de Azevedo,
lembrou-se de indicar o meu nome...
De pronto o Cte Pinheiro de Azevedo perguntou-me se eu
aceitava o Cargo, ao que de imediato acedi, tendo porém que
esperar pela formação de uma improvisada Força de Fuzileiros,
que seria comandada pelo 2º Tenente Lobo Varela.
O Cte Pinheiro de Azevedo atribuiu-me ainda o encargo de
obter a adesão do Chefe do Estado-Maior da Armada, Almi-
rante Ferreira de Almeida.
Logo que a Companhia ficou pronta a seguir, apresentei-me à
formatura, tendo explicado as razões da missão – centradas na
obtenção de um regime democrático, com eleições das quais
decorreriam as decisões que se impunham face aos graves
problemas do país e que até àquele momento eram tomadas irmos ao encontro do então Capitão Alberto Ferreira (Cavalaria 3 –
apenas por um pequeno grupo de pessoas designadas por um Estremoz) que já tinha entrado no edifício.
sistema eleitoral totalmente deformado e sem liberdade de Dirigimo-nos ao gabinete do Director, que de imediato nos
informação, acentuando que caso alguém não desejasse parti- disse que a DGS estava ao lado das Forças Armadas, tendo eu
cipar na missão não seria objecto de qualquer ação disciplinar. perguntado logo se, dado o afirmado, porque é que os retratos
Embarcados em três viaturas, dirigimo-nos ao portão Sul do do Almirante Tomás, Prof. Caetano e Dr. Salazar ainda estavam
então Ministério da Marinha, onde se juntou o citado Destaca- na parede do gabinete, ao que o próprio Major Silva Pais reagiu
mento de Fuzileiros Especiais comandado pelo então 1º Tenente logo, tentando ser ele mesmo a proceder à sua retirada, ao que
Vargas de Matos. eu lhe referi que certamente três dos seus Inspectores teriam o
Fomos de imediato recebidos por dois Oficiais Superiores que maior gosto em proceder a tal histórico acto...
nos vinham transmitir que o Almirante Chefe do Estado-Maior E assim ocorreu.
da Armada me informava que já tinha enviado uma mensagem
à Marinha declarando a adesão ao Movimento Militar. Notas finais:
Eram 20:30 horas, hora em que por coincidência o Cte Con- No dia 28, soltos os presos em Caxias, entrei em contacto
treiras tinha sabido que a DGS/PIDE tinha disparado sobre com o Gabinete do Governador de Cabo Verde sugerindo que
manifestantes, matando quatro pessoas, pelo que nos solicitou propusessem a Lisboa a libertação dos presos no Tarrafal e o
que fôssemos de imediato para o Chiado, onde estabelecemos transporte a suas residências.
– em cooperação com as Forças de Cavalaria 3 (Estremoz) que Tal foi concretizado 2 dias depois: em 1 de Maio (apesar de ser
tinham de pronto acorrido ao local – um cerco à Sede daquela feriado...).
polícia política, tendo eu (enquanto Oficial mais graduado) deci- (Em 1962 tinha eu assistido à reabertura da Prisão do Tarrafal,
dido não proceder a um assalto e aguardar a manhã seguinte, a no Patrulha Fogo, que transportou para lá 16 presos políticos
não ser que houvesse ordens imperiosas noutro sentido. angolanos...)
(Como nota de curiosidade, dada a improvisação que carac-
terizava a operação, que as minhas comunicações com o Cte Mais coincidências...
Contreiras era feitas através de cabine telefónica, com moedas O acaso foi uma constante na minha vida: no início da
emprestadas pela Pastelaria “Brasileira do Chiado”...) conspiração, na DGS/PIDE, no “11 de Março”, na nomeação para
Entretanto, cerca das 09:00 horas do dia 26, apresentou-se a organização das primeiras 5 eleições constitucionais (e há mais
uma Companhia de Fuzileiros, vinda da Escola de Fuzileiros – episódios...).
Comandante Abrantes Serra, e Oficial Imediato o 1º Tenente
Pedreira Carneiro* – com a missão de reforçar o cerco (até
trazia uma “bazuca”...) mas reorientei-a de pronto – uma vez
que já não era necessário qualquer reforço – para a ocupação N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico
da Prisão política de Caxias.
(Uma curiosidade: a reacção de Abrantes Serra às minhas
instruções – “mas eu não sei onde fica Caxias...” – pelo que
designei um jornalista que estava nas imediações para servir de
Batedor de Fuzileiros!)
Nota
E lá foram, enquanto o 1º Tenente Vargas de Matos e o 2º Tenente
Lobo Varela se juntavam a mim para, acompanhados por uma dúzia * Os últimos Oficiais a serem condecorados com a Ordem da Liberdade...
de ansiosos Jornalistas, e a que se juntou o Major Campos Andrada,

22 ABRIL 2024
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ENTREGAS DE COMANDO/TOMADAS DE POSSE


DIRETOR-GERAL DA AUTORIDADE MARÍTIMA
E COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MARÍTIMA
Tomou posse, no dia 29 de dezembro, o “com um sentimento de confiança. Por-
novo Diretor-geral da Autoridade Marítima que conheço bem as suas capacidades,
e Comandante-geral da Polícia Marítima, bem como, a qualidade e a motivação que
VALM Carlos Ventura Soares, rendendo no anima todos os que prestam serviço na
cargo o VALM João Dores Aresta. Direção-Geral da Autoridade Marítima e

Foto 2SAR TA Ricardo Pinho


A cerimónia decorreu na Casa da Balança na Polícia Marítima.”
e foi presidida pelo Secretário de Estado No discurso de tomada de posse, o
da Defesa Nacional, Dr. Carlos Lopes Pires, VALM Carlos Ventura Soares garantiu que
tendo contado com a presença do Chefe da sua parte se pode esperar “lealdade,
do Estado-Maior da Armada e Autoridade dedicação, atenção e empenho na exe-
Marítima Nacional (CEMA e AMN), ALM cução das orientações estratégicas que
Henrique Gouveia e Melo. forem estabelecidas, sempre numa perspetiva de legalidade, eficiên-
Na sua intervenção, o CEMA e AMN dirigiu-se ao novo Diretor­‑geral cia e de prossecução do interesse público, procurando, assim, bem
da Autoridade Marítima e Comandante-geral da Polícia Marítima servir o país e os portugueses.”

SÍNTESE CURRICULAR
O VALM Carlos Ventura Soares nasceu em Moçambique em 1963, tendo-se alistado De julho de 2018 a janeiro de 2022 foi Diretor-Geral do IH. De janeiro de 2022
na EN em 1981. a dezembro de 2023 foi Superintendente do Material. É, desde 29 de dezembro de
Foi oficial imediato dos NRP Bacamarte e Limpopo e oficial de guarnição do NRP 2023, Diretor-Geral da Autoridade Marítima e Comandante-Geral da Polícia Marítima.
Almeida Carvalho. Exerceu ainda o Comando do Agrupamento dos Navios Hidrográficos. O VALM Ventura Soares é autor de várias comunicações e publicações nas áreas
No Instituto Hidrográfico (IH) prestou serviço na Brigada Hidrográfica N.º 2, na Divi- das ciências do mar e das políticas e estratégias marítimas. Tem representado
são de Oceanografia e na Escola de Hidrografia e Oceanografia, como Diretor. Foi Diretor Portugal, a Autoridade Marítima Nacional, a Marinha e o IH em vários fóruns
Técnico de 2006 a 2012 e Diretor de Documentação, cumulativamente com as funções internacionais no âmbito militar e científico, dos quais se destaca a representação
de adjunto do Diretor-geral, de 2013 a 2014. nacional no Comité Científico do NATO Undersea Research Centre (2001-2006),
Acumulou as funções de Diretor de Faróis com as de Diretor do Instituto de Socorros a co-chairman da Presidência Portuguesa do European Coast Guard Functions
Náufragos em 2014/2015, tendo permanecido como Diretor de Faróis até 2016, quando Forum (2016-2017), chairman do Steering Committee do NATO Maritime GEOME‑
foi promovido a oficial general e assumiu os cargos de subdiretor-geral da Autoridade TOC Centre of Excellence (2020-2022) e chairman da Comissão Hidrográfica do
Marítima e 2.º Comandante da Polícia Marítima. Atlântico Oriental (CHAtO) (2020-2022).

SUPERINTENDENTE DA INFORMAÇÃO
No passado dia 10 de janeiro tomou uma nova matriz organizacional cen-
posse, como Superintendente da Infor- trada no digital; assegurar a liberdade
mação, o COM Armando José Dias Cor- de ação no ciberespaço, para potenciar
reia. A cerimónia teve lugar na Casa da o funcionamento e as operações.
Balança e foi presidida pelo Chefe do Seguiu-se a intervenção do ALM CEMA
Foto 2SAR TA Ricardo Pinho

Estado-Maior da Armada e Autoridade e AMN que mencionou que “uma Mari-


Marítima Nacional (CEMA e AMN), ALM nha desprovida dos recursos adequados
Henrique Gouveia e Melo. e desvinculada da evolução das tecno-
A cerimónia iniciou-se com a impo­ logias da informação, encontrará difi-
sição de condecoração ao Superinten- culdades em desempenhar com eficácia
dente cessante, COM Santos Coelho. a sua missão, num mundo dependente
De seguida, após a leitura da Ordem, o empossado fez uma alo- do progresso tecnológico”. Salientou ainda que à “informação
cação na qual salientou os desafios estratégicos do setor da infor- não basta estar disponível, em tempo, é preciso estar segura. É,
mação e apresentou as suas orientações estratégicas: preparar por isso, que o Setor da Informação deve estar, à semelhança
os recursos humanos para o digital; criar condições tecnológicas do Setor das Operações, em permanente patrulha, vigiando as
para que as decisões sejam informadas por dados, o que requer nossas autoestradas da informação”.

SÍNTESE CURRICULAR
O COM Armando José Dias Correia nasceu na Figueira da Foz em 1966. Entrou os primeiros serviços de Intranet e Internet, bem como a criação da moderna Rede
para a EN em 1985 tendo concluído o Curso de Formação de Oficiais de Marinha e de Comunicação da Marinha.
sido promovido a Guarda-Marinha a 01OUT90. No estrangeiro, foi o representante nacional na célula permanente da Força Marí-
Especializou-se em Informática e possui, entre outros, o Mestrado em Informá- tima Europeia (EUROMARFOR) entre SET2013 e SET2016, tendo passado dois anos no
tica, o Mestrado em Estratégia, o Curso Geral Naval de Guerra, o Curso Complemen- Comando Naval Espanhol (ALFLOT) e um ano no Comando Naval Italiano (CINCNAV).
tar Naval de Guerra e o Curso de Promoção a Oficial General. Durante a Presidência Portuguesa do Conselho da EU (PPUE 2021) foi, no Reino da
Foi comandante do NRP Bérrio (2010-2013), Oficial Imediato do NRP D. Carlos I (1999- Bélgica, Assessor do General MILREP.
2002) e Chefe de Serviço de Navegação do NRP Comandante João Belo (1990-1993). Escreveu mais de quatro dezenas de artigos em revistas nacionais e estrangeiras
Em terra, desempenhou vários cargos no âmbito das Tecnologias de Informação e participou em oito livros, sendo o seu livro de eleição «O Mar no Século XXI».
e Comunicação. Idealizou, planeou e liderou os projetos que marcaram a evolução Recebeu vários prémios, destacando-se, em 2011, em ex-áqueo, o prémio “Almi-
da Marinha na área das Tecnologias de Informação e Comunicação, nomeadamente rante Teixeira da Mota”, da Academia de Marinha.

ABRIL 2024 23
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PROTEÇÃO DAS LINHAS


DE COMUNICAÇÃO MARÍTIMAS
“Em 2021, um navio chamado Ever Given encalhou no Canal do Suez, bloqueando a artéria comercial vital durante quase uma
semana – impedindo o transporte de 10 mil milhões de dólares de carga por dia – e causando perturbações nas cadeias de abaste‑
cimento mundiais que duraram muito mais tempo.
Receia-se que os ataques dos drones e mísseis Houthi contra navios comerciais, que têm ocorrido quase diariamente desde 9 de
dezembro, possam causar um choque ainda maior na economia mundial.”

Fonte: https://cnnportugal.iol.pt/houthis/iemen/quem-sao-os-houthis-e-porque-estao-a-atacar-navios-no-mar-vermelho/20240112/65a0fea1d34e371fc0bbdd89

ENQUADRAMENTO cadeia global de abastecimento e produção é, consequente-


mente, de importância vital para a economia mundial. Para o

N o oceano Índico, depois dos êxitos alcançados no início do


século no combate à pirataria ao largo da costa da Somá-
lia, militantes hutis1 percecionaram, e tomaram como premissa
espaço económico da União Europeia, onde estamos inseridos,
que continua a ser o mais importante exportador a nível mun-
dial e o segundo maior importador, o transporte marítimo e os
das suas ações criminosas, que, ao perpetrarem ataques contra serviços de navegação conexos bem como a respetiva estabi-
navios mercantes no Mar Vermelho, com a utilização de mísseis lidade e segurança, são essenciais para manter a competitivi-
e drones, poderiam infligir prejuízos determinantes na fluidez dade europeia a nível global, uma vez que o transporte marí-
das vias de abastecimento mercantil, não apenas da região, timo continua a ser o método mais barato e mais eficiente de
mas também nos circuitos comerciais de e para o mundo oci- movimentar grandes volumes de carga a longas distâncias.
dental, em especial a Europa2,3. Os pontos de estrangulamento (choke points) destas rotas,
Em resposta, os Estados Unidos da América (EUA) e a Grã­ estrategicamente localizados, são extremamente vulneráveis
‑Bretanha atacam4 alvos hutis, no Iémen, com o objetivo de dimi- a ataques, tanto de agentes estatais como não estatais, nor-
nuir a sua capacidade para lançar ataques e, desta forma, tentar malmente corporizados em atos de pirataria, terrorismo e
criar as condições para a negociação de um acordo político. assaltos à mão armada. Estas ações têm não só o potencial de
Representando o transporte marítimo cerca de 90% do comércio afetar os preços, já voláteis, do petróleo, mas também podem
mundial, em volume, ações que perturbem a sua atividade normal ter efeitos dramáticos no contexto das redes globais de pro-
influenciam, direta ou indiretamente, o funcionamento de muitos dução, nas empresas que dependem, por princípio, da produ-
centros de produção e a distribuição dos respetivos bens manufa- ção e entrega just in time. As tensões e os conflitos regionais,
turados. Por outro lado, o transporte marítimo, por implicar uma assim como atos terroristas ou de criminalidade organizada,
vasta gama de atividades portuárias e logísticas, tem um grande colocam em perigo estes itinerários vitais, ameaçando a livre
impacto no desenvolvimento de diversos sectores, o que, por sua passagem da navegação por diversos pontos de estrangula-
vez, promove o crescimento económico e a criação de emprego. mento, dos quais os principais são o Canal de Suez, o estreito
As rotas comerciais que cruzam o oceano Índico ligam 23 dos de Bab el Mandeb (entrada do Mar Vermelho), o estreito de
maiores portos mundiais da Ásia à Europa e aos EUA e trans- Ormuz e o estreito de Malaca, podendo sumariamente carac-
portam cerca de um terço do comércio global e mais de 80% de terizar-se da seguinte forma:
todo o comércio marítimo de petróleo (equivalente a cerca de
um quinto do aprovisionamento energético mundial), a esma- a) Canal do Suez e estreito de Bab el Mandeb - O canal do
gadora maioria do qual é transportado ao longo de um número Suez, a via navegável mais importante que liga a Europa à
limitado de linhas de comunicação marítimas, altamente con- Ásia e à África Oriental, situa-se na entrada norte do Mar
gestionadas e fáceis de perturbar, as Sea Lines of Comunication. Vermelho, uma das áreas com maior densidade de navega-
Considerando o peso económico e estratégico deste oceano ção do mundo. Na sua extremidade sul, entre o Djibuti e o
no sistema económico global e constituindo os ataques dos Iémen, situa-se o estreito de Bab el-Mandeb, com uma lar-
hutis uma ameaça direta à liberdade de navegação, importa gura mínima de cerca de 17 milhas náuticas, a área que os
caracterizar de forma sumária as suas principais linhas de hutis têm visado. As águas do Mar Vermelho são cruciais
comunicação marítimas e analisar sucintamente a contribuição para o comércio entre o Oriente e o Ocidente e são espe-
das forças navais para garantir o seu regular funcionamento. cialmente importantes para o transporte de petróleo e de
gás natural, ao permitir que os navios evitem viajar à volta
ANÁLISE de África (rota do Cabo), com o consequente acréscimo, sig-
nificativo, em termos de custos de operação. Devido à sua
A segurança destas linhas de comunicação, as quais permitem eficiência em termos de combustível e de tempo, a rota do
o acesso regular aos diversos bens que alimentam a complexa Mar Vermelho/Suez é um corredor comercial vital entre a

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DR
Linhas de comunicação marítimas no oceano índico e
respetivos pontos de estrangulamento

Ásia e a Europa, por onde transita cerca de 15% do comércio consistentemente à medida que a China e outras potências
mundial, 12% do petróleo mundial, cerca de 8% do gás natu- regionais crescem em população e riqueza. Em 2017, os
ral liquefeito, e 30% do transporte marítimo de contentores. trânsitos através do Estreito de Malaca atingiram mais de
16 milhões de barris/dia, uma grande parte dos quais eram
b) Estreito de Ormuz – Situado entre Omã e o Irão, ligando carregamentos de petróleo destinados à China, ao Japão e
a passagem marítima dos países do Golfo (Iraque, Kuwait, à Coreia do Sul. Os estreitos de Lombok e de Sunda alimen-
Arábia Saudita, Barém, Qatar e Emirados Árabes Unidos) tam o Mar da China Meridional e são igualmente críticos do
ao Mar Arábico, no seu ponto mais estreito tem apenas ponto de vista do comércio marítimo mundial.
21 milhas náuticas de largura. Possibilita o transporte de
cerca de um quinto do petróleo bruto e de um terço do A eventual impossibilidade de utilização destas vias marítimas
gás natural liquefeito produzido a nível mundial, fornecido aumenta, por vezes de forma determinante, o risco, o tempo e
pelos países localizados no Golfo Pérsico, assegurando um o custo do transporte marítimo mundial, suscitando a possibili-
fluxo médio diário de crude de cerca de 21 milhões de bar- dade de uma subida dos preços dos combustíveis, criando uma
ris por dia. pressão inflacionária e aumentando a possibilidade de haver
escassez de bens e produtos. Além disso, com o aumento da
c) Estreito de Malaca – Esta passagem, que liga o Oceano distância e da duração dos trajetos marítimos, aumenta a emis-
Índico ao Pacífico (Mar da China Meridional), assume uma são de gases poluentes, originando também impactos ambien-
importância económica e estratégica especial para o Indo­ tais negativos.
‑Pacífico, uma vez que nesta área coexistem nove dos dez É neste contexto que forças navais de diversos países, coliga-
portos marítimos mais movimentados do mundo, sendo que das ou em atuação autónoma, garantem a dissuasão de poten-
cerca de 60% do comércio marítimo mundial passa por esta ciais agressores, apoiam operações de estabilização em zonas
região. As economias da região representam, no seu conjunto, de crise, e asseguram a liberdade de navegação e a proteção das
60% do PIB mundial. Com apenas cerca de 1,7 milhas de lar- linhas de comunicação marítimas, ao longo das quais é trans-
gura no seu ponto mais estreito, pelas suas águas transita portada a maioria dos hidrocarbonetos e dos bens que circulam
mais de 25% do petróleo transportado entre a Ásia Ociden- na complexa cadeia global de abastecimento. A sua presença
tal e o resto do continente um número que tem aumentado em espaços marítimos específicos cria efeitos dissuasores e

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transmite relevantes mensagens estratégicas, demonstrando a primento (autossuficiência tática); A presença, que também se
capacidade e a determinação para operar sem constrangimen- pode exprimir pela aptidão das forças navais para pairar na vizi-
tos: as forças navais são, por natureza e propósito, forças pre- nhança de uma região, com empenhamento, sem real ocupa-
paradas para as operações mais complexas e exigentes e têm ção de território e sem comprometimento, é um valor decisivo
características muito próprias – prontidão, mobilidade, flexibili- para a gestão de crises internacionais, nomeadamente consi-
dade, versatilidade, presença e autonomia. derando a não dependência quanto ao apoio por parte de uma
A prontidão é uma característica inata das forças navais, cor- nação hospedeira; Por fim, a autonomia, proporcionada por
respondendo à capacidade de responder, operacionalmente, uma capacidade de reabastecimento orgânico, traduz a capa-
de forma quase imediata, sendo assegurada, entre outros cidade das forças navais permanecerem longos períodos numa
aspetos, pela logística integrada, no sentido orgânico; A mobi- área de operações sem necessidade de demandar pontos de
lidade é garantida pela liberdade de circulação e de utilização apoio logístico em terra.
que o mar confere, bem como pela possibilidade de percorrer
largas distâncias por dia, traduzindo-se na capacidade de inter- CONCLUSÃO
venção sustentada a longa distância; A flexibilidade traduz-se
na aptidão para, adaptando-se à mudança de circunstâncias A mobilidade e uma presença discreta, atuando livremente
em que decorre a execução da missão atribuída, assegurar, em águas internacionais, conferem às forças navais a capaci-
simultaneamente, uma resposta escalonada; A versatilidade dade de estarem simultaneamente presentes num determi-
permite desempenhar uma vasta gama de missões e passar nado local e serem minimamente intrusivas, algo que só as
rapidamente de ações de baixa intensidade, como a monitori- Marinhas podem alcançar.
zação dos espaços marítimos, para tarefas de alta intensidade, Tendo o mar como área de operações, as forças navais são um
envolvendo o potencial uso da força, correspondendo à capaci- instrumento essencial para os Estados, constituindo um elemento
dade que cada elemento da força naval tem de executar vários fulcral para garantir a liberdade de navegação e assegurar os neces-
tipos de tarefas com um nível de eficácia estável no seu cum- sários índices de segurança marítima, bem como de proteção do

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meio marinho, o que, em conjunto, confere uma base sustentada


Notas
para que exista estabilidade e desenvolvimento económico.
A permanência de forças navais em áreas oceânicas/litorais 1
O grupo controla grande parte do Iémen desde que tomou o poder em 2014.
singulares cria efeitos dissuasores, transmitindo mensagens 2
Os gigantes da navegação, incluindo a A.P. Moller-Maersk, a Hapag-Lloyd e a
estratégicas e demonstrando a capacidade e a determinação MSC, começaram a evitar a zona do Mar Vermelho e a redirecionar os seus navios
para sul, em torno do Cabo da Boa Esperança, aumentando a distância em (ver
de determinado país ou aliança para operar sem constrangi-
nota de rodapé 3) até cerca de 70% (cerca de mais 4700 milhas, considerando
mentos. A flexibilidade inerente aos grupos navais proporciona, um trânsito de Ras Tanura (Arábia Saudita) para Rotterdam (Países Baixos) e os
ainda, a disponibilidade quase imediata de forças intrinseca- tempos de trânsito (cerca de mais 13 dias, considerando uma velocidade média
mente adaptáveis, oferecendo aos decisores de topo uma gama de 15 nós), no que poderá ser uma perturbação do sistema comercial global
muito mais profunda do que quando o cargueiro Ever Given ficou encalhado no
variada de opções políticas e militares.
canal do Suez, em 2021.
Assim, o interesse soberano dos Estados oceânicos, enquanto
beneficiários da economia global, deve constituir a base para
3
Ler 5 colunas: /Trânsito nº/ Porto de largada/ Porto de destino (via)/ distância
estimada em milhas náuticas/ tempo de viagem estimado, a 15 nós, em dias de
que sejam criadas condições para a existência de forças navais viagem//
credíveis, uma vez que estas, de forma autónoma ou em coliga- /1 Golfo Pérsico, Europa/ Ras Tanura/ Rotterdam (Suez)/ 6436/ 18//
ção com outros estados aliados ou amigos, contribuem de forma /2 Golfo Pérsico, Europa/ Ras Tanura/ Rotterdam (Cabo)/ 11169/ 31//
decisiva para a segurança mundial e, consequentemente, para
/3 Golfo Pérsico, USA/ Ras Tanura/New York (Suez)/ 8281/ 23//
a prosperidade económica e para o bem-estar das populações,
/4 Golfo Pérsico, USA/ Ras Tanura/New York (Cabo)/ 11794/ 33//
promovendo a utilização livre e sustentável do mar, a estabili-
Fonte: http://www.sea-distances.org/
dade do transporte marítimo global, a boa governança dos ocea- 4
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou, entretanto, uma resolução
nos e a dissuasão de potenciais adversários e agressores. que apela ao grupo rebelde houti do Iémen para que cesse os ataques no Mar
Vermelho sendo que a votação foi de 11 votos a favor, 0 contra e 4 abstenções,
Vizinha Mirones incluindo da Rússia e da China.
CALM M

Photographer's Mate Airman Rob Gaston

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REVISTA DA ARMADA | 594

CRIME, DISSERAM ELAS…


Estas são as quatro alunas da Licenciatura em “Ciências Forenses e Criminais” do Instituto Universitário Egas Moniz, entidade parceira
da Marinha, que estagiaram no Comado Geral da Polícia Marítima (CGPM), de 5 de junho a 14 de julho.
Estivemos à conversa com a Josandra, a Verónica, a Ema e a Sabrina para averiguar, entre outros motivos, o que as motivou não só a
seguir esta área, mas principalmente a escolher a CGPM para fazer o seu estágio.

JOSANDRA ALEXANDRE este tema no seu relatório final de estágio “Megaoperação con-
tra o tráfico de amêijoa-japonesa, de pessoas e contra o traba-

U ma das coisas que sobressai no seu CV são as atividades


extracurriculares: o desporto, tricampeã europeia e campeã
nacional do estilo Wado-Kai (karaté), e a função de delegada da
lho escravo”.

VERÓNICA ALMEIDA
Licenciatura em “Ciências Forenses e Criminais”. O Karaté deu‑
-me disciplina, a função de delegada deu-me paciência. Quer ser inspetora da PJ e trabalhar na parte de investigação
O seu objetivo com o curso? Ajudar na investigação para com‑ criminal, isto é, recolher provas para análise da cena do crime.
bater crimes de violência doméstica, abuso sexual e tráfico de A minha entrada na Unidade Central de Investigação Criminal
armas. O porquê destas áreas? Aos 15 anos, no secundário, (UCIC) da PM veio desmistificar a ideia que tinha desta organi‑
numa sessão de esclarecimento sobre violência no namoro, aper‑ zação. Encontrei um ambiente muito bom, com grande espírito
cebi-me de que este tipo de violência existia, embora, a sexual de equipa. Nunca pensei que as pessoas estivessem tão abertas
seja a que mais me incomoda. à nossa entrada, pensei que podíamos atrapalhar os trabalhos.
Apesar de a primeira escolha de local de estágio ter sido a Polí- Mas não, estivemos sempre acompanhadas pelos vários agentes
cia Judiciária (PJ), talvez porque é o mais conhecido, seguiu a envolvidos nas operações.
recomendação da orientadora para vir para o CGPM, não tinha Acompanhou a visita ao posto de Sesimbra, onde falou com os
ideia do que fazia a Polícia Maritíma (PM). mergulhadores forenses, tendo-lhe sido apresentados os crimes
Em boa hora o fez, segundo disse, pois tiveram connosco uma que investigavam, o equipamento que utilizavam e o modo como
paciência dos deuses. tentam resolver os vários processos.
O trabalho de campo esteve ligado ao tráfego ilegal da apanha Fiquei de tal modo fascinada que se um dia concorresse à PM,
da amêijoa-japonesa, tendo participado nas buscas e na eva- seria para ingressar no Grupo dos Mergulhadores Forenses. Não
cuação dos armazéns, mas O que mais me marcou foi o pânico é de admirar que o seu trabalho de estágio seja “Constituição da
dos suspeitos, principalmente dos migrantes! Vai desenvolver Prova em Ambientes Subaquáticos”.

28 ABRIL 2024
REVISTA DA ARMADA | 594

EMA FERREIRA informações criminais. O que me interessa é a descoberta da


verdade, leia-se a verdade que se adquire através das técnicas
Findo o 12º ano, ou ia para Medicina ou para Ciências Foren- laboratoriais, para ajudar a justiça. Um perito forense tem de
ses, esta última pela muita influência da série CSI. Optou pela estar em permanente atualização, as técnicas estão em cons‑
Licenciatura em “Ciências Forenses e Criminais”, mas pelo cami- tante evolução.
nho veio a COVID, e as aulas, ora remotas ora presenciais, fize- À semelhança da Josandra, também ela esteve envolvida na
ram-na andar um pouco perdida. megaoperação da Polícia Marítima, que desmantelou a rede cri-
Prestes a finalizar a licenciatura, o seu objetivo é seguir a área minosa transfronteiriça que se dedica à captura ilícita e ao trá-
da análise da cena do crime ou outra área ligada à parte labo- fico de amêijoa-japonesa, com origem no rio Tejo, recorrendo à
ratorial Cheguei à conclusão de que a prática laboratorial nada exploração de imigrantes asiáticos, razão pela qual o seu relató-
tem a ver com a série CSI. É um processo moroso, complicado e rio de estágio incidiu sobre “Análise de Informações Criminais”.
muito exigente! Não se consegue fazer em 50 minutos, o tempo
de um episódio. Destes quatro depoimentos, destacamos a surpresa que
Faltava apenas o estágio. Mais uma vez o passa-palavra fun- estas estagiárias manifestaram sobre o trabalho que é reali-
cionou, uma amiga já tinha estagiado no CGPM e recomendou. zado pela PM, tanto a nível da investigação criminal como da
Tutor sempre presente, ambiente acolhedor e, sobretudo, o tra‑ diversidade de crimes que combatem. Neste caso, é de realçar
balho de campo, num caso tão mediático como o do Meixão. igualmente o mérito de todos os investigadores e peritos da
O termo “Meixão” designa o estado final da fase de larva da UCIC envolvidos e, naturalmente, do tutor e do coorientador,
enguia europeia (espécie anguilla anguilla), que consta como respetivamente, Chefe da PM Capitão Talhadas e o Agente de
espécie protegida na Convenção sobre o Comércio Internacio- 1ª Classe Ricardo Almeida.
nal de Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extin- O desconhecimento sobre o trabalho que a PM desenvolve
ção (CITES), podendo a sua captura ser considerada crime de fez com que não tivessem ponderado a possibilidade de aqui
danos contra a natureza. De tal modo foi o envolvimento neste ingressarem, situação que neste momento já se encontra em
caso que foi o tema escolhido para o seu relatório de estágio cima da mesa.
“Tráfico de Meixão: um processo em recurso”.
Como afirma a Sabrina, Viemos aqui parar e ainda bem!
SABRINA BERNARDO
O seu objetivo é seguir a área da investigação criminal/área Ana Paula Silva
da análise da cena de crime/peritagens técnicas ou análise de Professora

agenda
Cultural
ABRIL
AQUÁRIO VASCO BANDA BIBLIOTECA CENTRAL FRAGATA MUSEU PLANETÁRIO
DA GAMA ARMADA DE MARINHA D. FERNANDO II DE MARINHA DE MARINHA
E GLÓRIA

21h30 SEX
Concerto no Auditório 01
Municipal de Albufeira
11h45 DOM
Ensemble BA no Palácio 03
da Cidadela (Cascais)
21h30 SEX
Concerto no Cineteatro Curvo 08
Semedo (Montemor-O-Novo)
21h30 SAB
Concerto no Cineteatro 16
da Estarreja
11h45 DOM
Ensemble BA no Palácio 17
da Cidadela (Cascais)
11H45 DOM
Ensemble BA no Palácio 24
da Cidadela (Cascais)

BANDA
ARMADA

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UNIDADE DE SISTEMAS NÃO TRIPULADOS


DA MARINHA (X31)
TOMADA DE POSSE DO PRIMEIRO COMANDANTE

D ecorreu, no dia 9 de fevereiro, a cerimónia de tomada


de posse, do primeiro comandante da Unidade de
Sistemas não Tripulados (X31) da Marinha, o CFR Ricardo
Faias Martins.
A cerimónia realizou-se nas instalações da Esquadrilha de
Subsuperficie e foi presidida pelo Chefe do Estado-Maior da
Armada e Autoridade Marítima Nacional (CEMA e AMN),
Almirante Henrique Gouveia e Melo, tendo contado com
a presença do Comandante Naval, VALM Nuno Chaves
Ferreira, entre outras entidades.
Após a leitura da Ordem da Armada, o empossado fez
uma alocação realçando que, “ao reunir as capacidades
dos sistemas não tripulados na Marinha, o papel da X31
será assegurar que tais sistemas funcionam corretamente
e estão disponíveis e operacionais, a fim de gerar uma
utilização eficiente dos mesmos e um recurso para a
nossa componente operacional, assim como garantir
que os operadores tenham a formação e as qualificações
necessárias para utilizar os mesmos.”.
O CEMA e AMN nas suas palavras enalteceu o marco que
assinala esta nova unidade e a importância de uma Marinha
útil, focada para, no futuro, possuir este tipo de sistemas na
sua esquadra.

SÍNTESE CURRICULAR
O CFR Ricardo Faias Martins ingressou na EN em 2000, tendo con-
cluído a licenciatura em Ciências Militares Navais, classe de Marinha,
em 2005.
Ao longo da sua carreira militar desempenhou diversas funções,
nomeadamente como Gunnery Officer (GUNO) a bordo da fragata
D. Francisco de Almeida entre 2012 e 2016, Chefe de Departamento
de Operações da Escola de Tecnologias Navais (ETNA) entre 2018 e
2019, e em 2019 destacou para a fragata Vasco da Gama como Chefe

Fotos SAJ A Ferreira Dias


do Departamento de Operações.
Desde junho de 2020 até fevereiro de 2024 desempenhou fun-
ções no EMA, nomeadamente na Divisão de Operações na área da
Expe­rimentação, Conceitos e Requisitos e pela Divisão de Inovação
e Transformação.

A Unidade X31 foi criada através que se encontra na dependência


do Despacho do Almirante Chefe do direta do Diretor do CEOM, para efeitos
Estado­‑Maior da Armada nº22/23, de administrativos, e do VALM Comandante
27 de março, com a objetivo de consti- Naval, para efeitos operacionais. Esta
tuir a primeira unidade da Marinha exclu- nova unidade tem por missão assegurar a
sivamente dedicada à operação de sistemas gestão administrativa e logística dos SNT que
não tripulados (SNT) nos diversos domínios: lhe estiverem atribuídos, garantir o apron-
Aéreo, Superfície, Submarino e Terrestre. tamento dos destacamentos de SNT sob a
Sediada no Centro de Experimentação sua alçada e ainda coordenar o desenvol-
Operacional da Marinha (CEOM), em vimento de doutrina e padrões de pron-
Troia, a X31 é uma unidade de caracte- tidão e treino dos SNT da Marinha para
rísticas semelhantes a uma esquadrilha, emprego operacional.

30 ABRIL 2024
REVISTA DA ARMADA | 588

VIGIA DA HISTÓRIA 135

UMA TENÇA
BEM MERECIDA
O que hoje aqui trago é um episódio que, contrariamente ao
que tem sucedido até hoje, não está directamente relacio-
nado com a Marinha ou com as coisas do mar. A curiosidade
do documento e o seu interesse histórico justificam, a meu ver,
a quebra do procedimento seguido até hoje; o eventual leitor
ajuizará quanto à justeza da opção tomada.
O episódio em apreço encontra-se descrito num contrato
efectuado, nos cartórios notariais com data de 20 de Novembro
de 1584.
Nesse dia, João Fernandes, homem preto, a quem o padre
João Nunes, vigário da igreja de Eiras (Coimbra) concedera
carta de alforria, compareceu, no paço dos tabeliães em Lis-
boa, juntamente com a mulher, Antónia Duarte, referida como
sendo branca, ao tempo moradores na rua Direita de Santa
Justa, com o intuito de celebrar um contrato de renúncia de
uma tença, que lhe fora concedida por D. Filipe I e que igual-
mente o autorizava à sua renúncia, no valor de 10000 reis
anuais, em D. Francisco da Silva, freire professor no mosteiro
de Odivelas da ordem de S. Bernardo, pelo preço e quantia
de 70000 reis, sem quaisquer encargos, que este se obrigava
a pagar.
Perguntar-se-á o eventual leitor, que até aqui pacientemente
seguiu este relato, qual a excepcionalidade do sucedido que,
em boa verdade, não seria nenhum acaso no contrato estabe-
lecido não se encontrasse indicada a razão para a atribuição
de tal tença, a qual fora concedida a João Fernandes por este
ter descoberto, enterrado no areal de Darque, (frente a Viana
do Castelo) o jaez do cavalo do rei D. Sebastião que D. António
Prior do Crato ali mandara enterrar, na sequência da fuga às
tropas invasoras que o perseguiram até quase a Viana do Cas-
telo, segundo a tradição D. António ter-se-á então escondido
no paço de Anha, local este bem próximo de Darque.
Tal achado, tivesse ele ocorrido na realidade ou tivesse sido
“fabricado” ao servir, na perfeição, qualquer que fosse o caso,
os interesses de D. Filipe constituiu, a meu ver, justificação mais
que suficiente para a atribuição de uma tal recompensa.

Cmdt. E. Gomes

Fonte: Cartórios Notariais Lisboa nº 7 Livro 66 fol. 10 v.

N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico


Foto: www.freepik.com

SETEMBRO / OUTUBRO 2023 31


DR
REVISTA DA ARMADA | 594

SAÚDE PARA TODOS 111

CIATALGIA
O nervo ciático é o maior nervo do corpo humano. Tem origem na junção das raízes nervosas que nascem entre a 4ª vértebra lombar
e a 3ª vértebra do osso sagrado, e dirige-se para baixo, passando pelos glúteos, coxas, pernas e pés, sendo responsável pela função
sensitiva e motora dessas áreas. Existe um de cada lado do corpo. Ao ser afetado, desencadeia dor que é conhecida como ciatalgia.

DEFINIÇÃO vertebral. Na consulta, além da história clínica é realizado um exame


A ciatalgia, ou dor ciática, é um sintoma que se carateriza por objetivo em que se observa a marcha do doente, se localiza a zona
dor na área inervada pelo nervo ciático (desde a região lombar da dor, é pesquisada a sensibilidade e força muscular, bem como
até ao pé). Normalmente esta dor é unilateral e é descrita como os reflexos osteotendinosos. Existem também alguns testes clínicos
um choque elétrico ou sensação de queimadura, podendo ser dirigidos para confirmar a compressão do nervo ciático.
intermitente ou persistente. É sinal de maior gravidade clínica O médico pode necessitar de solicitar exames complementares de
quando a dor é acompanhada por alterações da sensibilidade diagnóstico, tais como análises sanguíneas, radiografias, tomogra-
ou perda da força muscular. A dor ciática é geralmente agravada fias computorizadas, ressonâncias magnéticas e eletroneuromiogra-
com a inclinação ou rotação do tronco, ao carregar pesos e, por fias, para confirmar a origem da dor ciática, e para excluir outras
vezes, ao tossir ou espirrar. Melhora com a marcha. doenças que produzem sintomas semelhantes (ex: inflamações arti-
culares, artroses, diabetes mellitus).
ETIOLOGIA
A ciatalgia resulta da compressão ou irritação TRATAMENTO
do nervo ciático numa parte do seu trajeto. A ciatalgia, mesmo a incapacitante, tem bom
O mais habitual é existir compressão de uma prognóstico e normalmente é autolimitada:
das suas raízes logo à saída da coluna lom- resolve-se espontaneamente em dias ou
bar ou sagrada (as raízes nervosas afeta- semanas. Os tratamentos conservadores
das com mais frequência são as L5-S1, normalmente aconselhados são o repouso
L4-L5 e L3-L4). Essa compressão deve-se (mas por curto período de tempo pois existe
na maioria das vezes a uma hérnia discal evidência científica que manter atividades
(entre cada vértebra existe um disco para quotidianas habituais melhora a dor), res-
permitir a mobilidade e para amortecer os DR
trição de atividade desportiva (em particular
impactos; quando a parte central gelatinosa quando existe impacto sobre a coluna vertebral,
do disco prolapsa para dentro do canal vertebral movimentos de flexão e transporte de pesos), evi-
provoca compressão sobre as estruturas nervosas). tar longos períodos em pé ou sentado (e deve ser usada
Outras causas de compressão são os osteófitos (“bicos de papa- uma cadeira com bom suporte lombar e altura apropriada; evi-
gaio”), espondilolistese (deslizamento de uma vértebra sobre a tar sofás!), melhoria postural em casa e no trabalho, dormir pelo
outra), estenose lombar, tumores/quistos/infeções da coluna, menos 8h diárias (para descansar a coluna e rehidratar os discos
traumas ou a síndrome do músculo piriforme (quando o nervo intervertebrais), medicação analgésica, medicação anti-inflamató-
ciático é comprimido pelo músculo piriforme). Na gravidez pode ria e medicação relaxante muscular. Pode haver necessidade de
haver compressão do nervo diretamente ou de forma indireta infiltrações de corticoide na coluna, procedimento este que se rea-
pelo aumento da retenção de líquidos, com edema associado. liza em ambulatório.
Após a fase aguda é aconselhado exercício físico regular para for-
FATORES DE RISCO talecimento dos músculos das costas e abdominais (para manter
São fatores de risco para o desenvolvimento de uma ciatalgia uma postura adequada, sem esforço), alongamentos, caminhadas,
idade superior a 30 anos, obesidade, gravidez, sedentarismo, natação, técnicas de relaxamento, pilates clínico e ioga, perda de
transporte repetido de pesos e sobrecarga de exercícios físicos. peso, juntamente com a fisioterapia, de forma a aliviar ainda mais
os sintomas e prevenir novos episódios. O tabaco deve ser evitado
SINTOMAS já que acelera a degeneração dos discos intervertebrais.
A dor ciática pode ser leve, moderada ou insuportável para Caso a dor tenha difícil controlo, persista por mais de 12 semanas
quem a sente. Pode localizar-se na região lombar, na região glú- apesar da medicação, exista perda significativa da força muscular
tea, na coxa ou mesmo ao longo das pernas e pés. Pode ser inter- ou o doente apresente perda do controlo da bexiga e esfíncter
mitente ou constante. Raramente afeta os dois lados ao mesmo anal, deve ser ponderada cirurgia para descomprimir o nervo ciá-
tempo. Frequentemente são referidos formigueiros, queima- tico. Quando bem indicada, a cirurgia é eficaz e tem uma baixa
dura, choque, sensação de diminuição da força ou “perna presa”. taxa de complicações, podendo atualmente, em alguns casos, ser
A dor pode ser incapacitante e não permitir a pessoa colocar-se realizada por métodos minimamente invasivos.
na posição de pé ou de sentada. Raramente, e são casos graves Embora os sintomas da dor ciática possam ser muito incapaci-
que precisam intervenção cirúrgica urgente, existe perda do con- tantes, é raro ocorrer lesão permanente e irreversível do nervo.
trolo da bexiga e esfíncter anal.
Ana Cristina Pratas
DIAGNÓSTICO CTEN MN
O diagnóstico deve ser feito por um médico especialista em coluna www.facebook.com/participanosaudeparatodos

32 ABRIL 2024
33 ABRIL 2024
7 9 4 5 6 3 1 2 8 6 2 1 9 3 8 5 4 7 1 2 9 7
3 5 8 2 1 7 9 4 6 5 8 4 1 2 7 3 6 9
2 1 6 9 4 8 7 3 5 9 7 3 4 6 5 2 8 1
2 5 8 8 6 7 4
6 8 1 4 3 2 5 7 9 8 4 7 3 5 9 1 2 6
5 2 7 1 9 6 3 8 4 2 5 9 6 7 1 8 3 4
7 4 5 3 2 8 9
9 4 3 7 8 5 2 6 1 3 1 6 2 8 4 7 9 5
8 6 2 3 5 9 4 1 7 1 9 8 5 4 2 6 7 3
5 7 3 9 5 7 8 6 3
4 3 9 8 7 1 6 5 2 4 3 2 7 1 6 9 5 8 1 4 2
1 7 5 6 2 4 8 9 3 7 6 5 8 9 3 4 1 2
DIFÍCIL FÁCIL 3 8 9 5
3 4 1 5 6
7 1 2 3 3 4
SOLUÇÃO: PROBLEMA Nº 104 8 9 7 8 3 2
DIFÍCIL FÁCIL
Problema nº 104 SUDOKU
SCH CM
Dias Matias
CAIS  CALAS  T A A I C E D I R É M E F E
DEFENSA  DECAPAR  S D E C A P A R A C I B M E
EMENDA  EMBICAR  E S U R J A E E A A U L A F
FALUA  FALCAS  T O S E U D V T P S A S M P
FAIM  FACEIRA  A T A P T N A N A S S U I U
ELEFANTE  EFEMÉRIDE  F R C S N E F A C E I R A S
CORVINEIRA  CALE  A E L E A M A F I T A T F A
CAJU  CALAFATE  L P A S N E F E D U C S I L
A S F S N A H L U R T A S A
SOLUÇÃO: PROBLEMA Nº 11 C A L E A R I E N I V R O C
Problema nº 11 SOPA DE LETRAS
CALM AN
Nunes Marques
Não cai naturalmente na asneira de meter o R, e W joga trunfo mostrando que saiu a carta seca. Havendo todo o interesse em 2
abrir o corte a ♣ para ter entradas na mão, deve começar por jogar para o R que W não arrisca e faz de A, atacando novamente 7 5
com outro trunfo como melhor defesa. Mas mesmo com esta boa colocação do A♣ e distribuição 2-2 dos trunfos, só consegui- V 3 7
mos contar 9 vazas (5♥+A♠+2 cortes a ♠+R♣).Vejamos então como encontrar a vaza que falta; fica no morto e joga R♣ baldando D 8 D
um ♦ e outro para cortar; A♠ e outra que corta;segue com V♣ coberto pela D no que balda o último ♦ da mão, eliminando ao A 9 4 A 2
mesmo tempo o naipe de ♣ e reduzindo a mão de E a ♦. Este será, assim, obrigado a jogar o A que S corta, e as 2 ♠ que ainda tem 5 ♠♥♦♣ 4
na mão serão eliminadas, cortando 1 no morto e baldando a outra no R♦. 7 3 SUL (S) 6 6
10 9 9 7
SOLUÇÃO: PROBLEMA Nº 273 8 5 V 10 V 3 8
10 8 A D R 4 D A
♠ ♥ ♦♣ ♠ ♥ ♦♣
ESTE (E) 2 2 6 OESTE (W)
a D♦. 5 4 9
E-W vuln. Analise as 4 mãos e encontre a linha de jogo que S deve seguir para cumprir 4♥, recebendo a saída V 6 10
R R 3 R
GRAU DE DIFICULDADE – FÁCIL, CARECENDO DE ATENÇÃO
♠ ♥ ♦♣
NORTE (N)
Problema nº 273 JOGUEMOS O BRIDGE
QUARTO DE FOLGA
REVISTA DA ARMADA | 594
REVISTA DA ARMADA | 594

NOTÍCIAS PESSOAIS
NOMEAÇÕES FALECIDOS

• CTEN M David Fernando Castelo Cardoso Pereira, Comandante • 82054 CMG AN REF João de Deus Carocho • 107151 CFR SG REF
do NRP Setúbal • 1TEN M António Luís Marques de Jesus, Coman- Natalino Duarte Ventura • 159146 CFR SG REF Manuel Ferreira •
dante do NRP Zaire • 1TEN M Diogo Miguel Simões Monteiro, 40064 CTEN OT REF José Augusto Matos • 101845 1TEN SG REF
Comandante do NRP Tejo. José António Teodoro Ferreira • 361954 SMOR L REF Hermes
Augusto Teixeira • 549859 SMOR FZ REF Manuel Gomes Fonseca
RESERVA • 764861 SMOR SE REF José dos Santos Duarte • 192771 SMOR
CM REF José António Caleja • 600581 SMOR B REF António Fran-
• CFR AN Francisco José Lavaredas Serrano • SMOR ETC Rui cisco Rei Menino • 183246 SAJ E REF Armando Pereira dos Santos •
Manuel Paiva Santos • SCH MQ Luís Miguel de Matos Monteiro • 8473 SAJ H REF Francisco Simões Miguel • 1088663 SAJ TF REF Dia-
CMOR TFH Carlos Alberto dos Santos Gomes • CMOR FZ António mantino Pereira Ferreira • 243350 SAJ M REF José Luís Gemelgo
Manuel Martins Rodrigues • CMOR TFH Paulo Jorge Lopes Moreno • 127264 SAJ FZ REF Rogério Joaquim do Carmo • 333053 1SAR
• CMOR V José Alberto da Silva Ferreira • CMOR FZ Rui Manuel CE REF Evaristo Luz Vicente • 395355 1SAR TR REF José Joaquim
Novais José • CMOR C Vítor José Balbino • CMOR FZ António de Unguento • 138172 CAB A REF Norberto Arsénio Marques •
Almeida Rodrigues. 301093 CAB CM ACT Sérgio Duarte da Costa Felicidade.

CONVÍVIOS
“FILHOS DA ESCOLA” DE 1985 CLASSE JOÃO BELO
39 o ANIVERSÁRIO EX-GUARNIÇÕES 1967 A 2008
Vai realizar-se no próximo dia 25 de maio na cidade de Realiza-se no dia 1 de junho, em Fernão Ferro, o 8º almoço/
Évora, um almoço/convívio dos “Filhos da Escola” de 1985. convívio das ex-guarnições de 1967 a 2008 das F481, F482 e
Para mais informações os interessados deverão contactar os F483. O evento é alargado a familiares e amigos.
camaradas João Carlos Cruz, TM 967878870 e De Sousa Eurico Os interessados deverão contactar: António Chaveiro SMOR T
para o mail: armadafilhosdaescolade1985@gmail.com. TM 912181547, João Códices SAJ A TM 937494548 ou e-mail
joaobeloguarnicoes1967.2008@gmail.com.
AF_PUB_LISSA_210x297mm.pdf 1 15/02/25 16:40
AF_PUB_LISSA_210x297mm.pdf 1 15/02/25 16:40 AF_PUB_LISSA_210x297mm.pdf 1 15/02/25 16:40

M C
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CM Y
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CY
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CMY
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K
CMY
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K
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34 ABRIL 2024
“UM
OLHAR
SOBRE
A SAÚDE
NAVAL”

DESAFIO ARTÍSTICO:
FOTOGRAFIA

| 1º classificado

Treino da equipa de saúde a bordo


do NRP Sines, em 2018.
Pode ver-se a enfermeira e a socor-
rista de bordo, a socorrer uma vítima
‘simulada’, sob o olhar atento dos ele-
mentos da EACITAN. Esta imagem
relembra-nos a importância do trei-
no para manter a proficiências das
equipas de saúde de bordo.
A foto a preto e branco evidencia o
contraste das figuras em ação com
a luz irradiada pela vigia da enfer­
maria, e inspira-nos esperança,
humil­dade e pureza.

Autor:
1TEN TS-ENF Jorge Lourenço
Situada na:
Rua Jardim do Tabaco n. 18,
Lisboa
Mapa Google

Fotos SMOR L Almeida de Carvalho

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