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PEQUENA HISTÓRIA DE SÃO JOSÉ DO RIO PARDO (159 anos)

Prof. Marcos De Martini

O INÍCIO
A história de nossa cidade tem início com a construção de uma capela onde hoje se encontra a Igreja Matriz de São José.
Por volta de 1865, muitos fazendeiros que moravam nessa região decidiram construir uma capela que serviria como centro das
celebrações religiosas da região.
As primeiras medidas tomadas por essas pessoas foram decididas em uma reunião realizada na fazenda do Coronel Marçal ,
em 4 de abril de 1865. Esta reunião foi registrada em um livro de ata que, por
sua importância, é considerada a certidão de nascimento de São José – 4 de
abril de 1865. Este documento foi encontrado na Fazenda Tubaca, da família
Roxo Nobre e está preservado na Hemeroteca, no prédio da Biblioteca
Municipal.
Também ficaram definidas as contribuições que cada um daria para a
construção da capela. Foram feitas festas e quermesses à sombra de uma
grande árvore. Essa figueira, ainda viva, está na praça central de São José, em
frente ao banco Santander. Por seu valor histórico foi homenageada com uma
placa: “Árvore monumento: acompanhou toda a história da cidade”.
Dentre esses fazendeiros, destaque maior para o coronel Antônio Marçal
Nogueira de Barros, considerado o fundador de São José, aquele que mais trabalhou para o início do povoado (foto com o
coronel Marçal ao centro e seus familiares).

Com a capela pronta, foi autorizada a celebração da primeira missa em


19 de março de 1874. Agora, a próxima conquista para o povoado seria a
elevação à categoria de Vila, que ocorreu em 20 de março de 1885. Mas
seria necessário a construção de um prédio que servisse de Câmara e
Cadeia, às custas do povo da cidade. A inauguração aconteceu em 8 de
maio de 1886. Era a autonomia de São José, agora com vida política
própria. O prédio inaugurado em 1886, hoje um dos mais antigos da cidade,
abriga o Museu Rio-pardense Arsênio Frigo, atrás da Igreja Matriz.

OS IMIGRANTES ESTÃO CHEGANDO


Ao mesmo tempo em que tudo isso acontecia, a vila de São José recebia novos moradores, pessoas que para cá vinham em
busca de trabalho e de novas terras para a agricultura. A lavoura de café, principal atividade econômica do país, atraía imigrantes
recém chegados da Europa. Muitas famílias de imigrantes estabeleceram-se nessas terras, muitas das quais com descendentes até
os dias atuais – Bortot, Garçon, Caruso, Breda, Mantovani, De Martini, Bianchini e tantas outras.

LÁ VEM O TREM
Com o crescimento da Vila de São José e o aumento da agricultura, houve a necessidade de um meio de transporte mais
eficiente que levasse o café até Casa Branca, onde era embarcado no trem
que o transportava para o porto de Santos, e daí para o exterior.
Até então, o café era transportado em carroças, que demoravam
muito, dificultando a venda. Por esse motivo, os fazendeiros da região de
São José decidiram construir uma linha férrea ligando São José à Casa
Branca. Além do transporte do café a ferrovia facilitaria a chegada de
novos moradores e o crescimento de São José.
Tendo à frente o Dr. José da Costa Machado, proprietário da
Fazenda Vila Costina, em 1887 foi inaugurado o Ramal Férreo do Rio
Pardo trazendo ares de modernidade para a pequena vila de São José.
Desde então a ferrovia prestou grandes serviços para São José, até
que o transporte rodoviário ganhasse a preferência diante do abandono das
ferrovias. Em 1977, depois de uma grande enchente do Rio Pardo e da
queda de muitas pontes, a estrada de ferro foi paralisada. Em 1982 foi reinaugurada, numa tentativa de retomar seu uso normal.
Infelizmente o movimento pelos trilhos não era o mesmo, o que levou a desativação total da linha férrea.
Hoje, no local da antiga estrada de ferro passa a avenida perimetral, que ajuda no fluxo de automóveis pela cidade. Da antiga
linha restam alguns pontilhões de ferro e as estações, por onde embarcavam pessoas e mercadorias. A estação central, no centro da
cidade já abrigou vários serviços municipais, mas está necessitando de uma grande reforma para um uso cultural mais acentuado,
garantindo sua preservação.

VIVA A REPÚBLICA
Nessa época do final do século XIX, outro fato marcou a história de São José – o Episódio Republicano de 11 de agosto de
1889. O Brasil ainda era uma monarquia, governada pelo imperador D. Pedro II. Entretanto, os defensores da república já faziam
propaganda para a mudança do regime. Em 10 de agosto de 1889, o político campineiro Francisco Glicério chegou à Vila de São
José para fazer campanha pela república. Hospedou-se no Hotel Brasil, de propriedade de Ananias Barbosa.

Na noite de 10 de agosto houve grande confusão entre republicanos e


monarquistas. No dia 11 de agosto de 1889 os republicanos foram até o
prédio da Câmara e Cadeia, prenderam o sub-delegado, os soldados e
tiraram a bandeira do império, proclamando a república em São José.
No dia seguinte, com a ajuda de tropas de outras cidades, a situação
voltou à normalidade em São José. Anos depois, em decorrência desses
fatos, a cidade recebeu o título de Cidade Livre do Rio Pardo, em 1891.
Entretanto, os moradores preferiram o antigo nome e a cidade voltou a se
chamar São José do Rio Pardo.
Em todo dia 11 de agosto, durante as comemorações da Semana
Euclidiana, é feita uma cerimônia em frente ao Hotel Brasil, lembrando o
significado do acontecimento para a cidade. Outra lembrança desse
acontecimento está na bandeira e no brasão de São José, com os dizeres: “Cidade Livre do Rio Pardo”.

A PONTE CAIU
Talvez um dos fatos mais importantes de nossa história tenha sido a construção da ponte metálica sobre o rio Pardo e a
consequente vinda do engenheiro Euclides da Cunha para
São José, no final do século XIX.
O desejo de uma ponte sobre o rio Pardo era antigo entre
os moradores de São José, pois facilitaria a passagem do café
produzido na margem direita do rio (hoje o Santo Antônio)
para a margem onde ficava a estação ferroviária. Com a
autorização do governo, a construção teve início em 1896.
Toda a estrutura da ponte foi importada da Alemanha,
medindo no total 100,08 m, dividida em 3 lances de 33 metros
e 36 centímetros.
As obras ficaram prontas e a ponte foi inaugurada e
entregue ao povo rio-pardense em 3 de dezembro de 1897.
Mas a alegria durou pouco, pois 50 dias depois da inauguração, em 23 de janeiro de 1998, o pilar central não suportou a força das
águas e a ponte tombou dentro do rio. Foi um desastre para a época, como noticiaram os jornais que cobravam a apuração das
responsabilidades.

EUCLIDES E A ALDEIA SAGRADA


Em 1897, Euclides da Cunha era o responsável pela fiscalização das obras públicas do Estado de São Paulo, devendo
acompanhar a construção da ponte sobre o rio Pardo. Mas, nessa mesma época, Euclides pediu um afastamento do cargo indo
trabalhar para o jornal O Estado de São Paulo, na cobertura da Guerra
de Canudos, que acontecia no interior da Bahia.
Em Canudos, milhares de sertanejos, sob a liderança de Antônio
Conselheiro, organizaram uma grande comunidade rural vivendo fora
das ordens dos poderosos da região. Como isso incomodou muita gente,
as autoridades convenceram o governo a mandar tropas contra a
população de Canudos. Era uma população simples, pobre e faminta,
que tinha no Conselheiro a única esperança e uma voz de conforto
diante de tanto sofrimento.
Foram necessárias quatro expedições militares contra Canudos
para fazer o trabalho de destruição total do povoado. Euclides
acompanhou a parte final da guerra e pôde comprovar os verdadeiros
motivos da luta daquela população, que resistiu até o último
combatente. Canudos não se rendeu e foi massacrada até seus últimos moradores.

EUCLIDES E A PONTE
De volta à São Paulo e com as notícias sobre a queda da
ponte, Euclides decidiu vir para São José trabalhar na sua
reconstrução. Chega à São José no começo de 1898, com a
esposa Ana e os filhos Sólon e Euclides Filho. Aqui em São José
nasceu o terceiro filho Manuel Afonso.
Iniciando os trabalhos, a primeira medida de Euclides foi
encontrar um novo local para montar os pilares de sustentação. A
ponte foi desmontada, recuperada e colocada no novo local,
cerca de 60 metros acima da primeira, numa base de rocha no
fundo do rio.
Sua inauguração aconteceu em 18 de maio de 1901. Permanece nesse local até hoje, vencendo as enchentes do rio Pardo, as
ações do tempo e as necessárias reformas devido ao excesso de peso que já suportou.

EUCLIDES E O LIVRO
Enquanto trabalhava na reconstrução da ponte, Euclides da Cunha encontrou tempo e tranqüilidade para escrever o livro “Os
Sertões”, descrevendo os horrores da guerra de Canudos. O livro foi
dividido em 3 partes – A Terra, O Homem e A Luta, sendo lançado
em 1902. Hoje, ainda é considerado uma das principais obras da
literatura brasileira, com traduções em várias línguas e países.
No tempo que viveu aqui em São José, Euclides teve grandes
amigos e colaboradores. Um dos principais foi o prefeito da época,
Francisco de Escobar. Em uma carta ao amigo de São José, Euclides,
que vivia cheio de problemas familiares, assim escreveu: “Que
saudades de meu escritório de folhas de zinco e sarrafos, da
margem esquerda do rio Pardo...”
Depois de encerrada a construção da ponte, Euclides continua sua
vida de engenheiro e escritor, até sua morte no Rio de Janeiro, em 15 de
agosto de 1909.
Seus amigos e admiradores realizaram uma homenagem ao Amigo Ausente em 1912, o que dá início ao movimento
Euclidiano, manifestação cultural que todo ano recebe estudiosos, pesquisadores e admiradores da obra de Euclides da Cunha,
provenientes de todo país e até do exterior.
A ligação de Euclides e São José sempre foi intensa. Devido aos
laços de amizade com os descendentes da família de Euclides da
Cunha, a Prefeitura Municipal e a Casa de Cultura Euclides da Cunha
conseguiram, em 1982, trazer os restos mortais do escritor para o
Mausoléu construído às margens do rio Pardo, no local que ele tanto
gostava.
Esse espaço, que mantém a ponte metálica, a cabana histórica e o
mausoléu, é conhecido como Recanto Euclidiano, praça Francisco
de Escobar.

O CRISTO REDENTOR
Outro ponto de destaque de São José é o Cristo Redentor, colocado num dos pontos mais elevados de nossa cidade. A obra
foi resultado dos esforços de um devoto português, de nome Manoel de Sousa Rosa. Com a ajuda dos rio-pardenses o terreno no
alto do morro foi preparado para receber a escultura do Cristo, com seus 17 metros de altura. A inauguração aconteceu em 19 de
novembro de 1949, com as bênçãos do padre Adauto Vitalli.

LOCALIZAÇÃO
São José está localizada na região Nordeste do Estado de São Paulo, tendo como
vizinhas as cidades de Tapiratiba, Caconde, Divinolândia, São Sebastião da
Grama, Itobi, Casa Branca e Mococa.

PESQUISA

Muito do que conhecemos sobre a história de São José do Rio Pardo só foi possível
graças aos esforços de dois pesquisadores incansáveis em seus esforços de cuidar e
manter a história e a memória de nossa cidade. Os professores Rodolpho José Del
Guerra e Amélia Franzolin Trevisan têm seus nomes marcados para sempre na
história de nossa cidade.
Para encerrar, vale lembrar que o aniversário da cidade é comemorado no dia 19 de
Março, o dia do Padroeiro, mas a data correta é a de 4 de abril, referência à
reunião para a construção da Capela, em 1865. Esta data foi oficializada através de
um projeto do vereador professor Márcio José Lauria.

FONTE: Unindo meus dois livretes: São José do Rio Pardo. Rodolpho José Del Guerra.2010.

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