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Indústria cultural é um conceito de interpretação

sociológica desenvolvido por Theodor Adorno e Max


Horkheimer no livro “Dialética do Esclarecimento” de 1944.
Este conceito se refere a produção e utilização da cultura
como um bem de consumo industrial, destituindo a arte e a
cultura de suas principais características de interpretação e
crítica da realidade. Os dois autores e o próprio conceito
estão inseridos na Escola de Frankfurt, escola de inspiração
marxista que perdurou de 1922 a 1969. A escola tinha como
principal método de análise a Teoria Crítica.

Em seu sentido mais geral, a teoria crítica é uma teoria


sociológica que tem por objetivo explorar o que existe por
trás da vida social e descobrir os pressupostos e mascaras
que nos impedem de compreender plena e verdadeiramente
como o mundo funciona. [...] A dinâmica principal do trabalho
desse grupo consistia em criticar a vida sob o capitalismo e as
maneiras predominantes de explica-la. Embora o método se
fundamentasse no marxismo, eles modificaram alguns de
seus pressupostos básicos e combinaram-no com outros
métodos [...] Ao contrário das visões mais divulgadas
do marxismo, por exemplo, os membros da Escola da
Frankfurt argumentavam que a economia não determinava a
forma de vida social. Enfatizavam a importância da cultura e
elaboraram um enfoque crítico da arte, da estética e da
mídia. Combinaram o marxismo com a análise freudiana para
criar uma compreensão da personalidade e do indivíduo em
relação à sociedade capitalista. (JOHNSON, 1997, p. 232).

A indústria cultural é um termo interpretativo da realidade


que os autores percebiam na década de 1940 relacionada às
mídias e comunicações de massa. A sua crítica vai no sentido
de perceber que diferentes grupos sociais dominantes
começavam a utilizar a cultura e as artes a partir da lógica de
mercado capitalista. Para os autores, isso é extremamente
nocivo pois ao atender aos ideais de lucro, mercado,
aceitabilidade, esses produtos da cultura serão consumidos
como os demais e perdem seu potencial de crítica social e de
crítica ao próprio sistema, criando uma alienação cada vez
maior em seus consumidores.

Para os autores, a arte é um processo de reflexão sobre uma


situação e por isso mesmo demanda momento para a sua
produção, técnicas e estudos. A arte como produto
industrializado e produzido em massa, consequentemente,
carece de alguns elementos pela necessidade do mercado de
ser constantemente abastecido e renovado. Com isso, o
próprio processo criativo se torna mecanizado e sempre
orientado para agradar ao mercado, ao consumidor, as
classes que dominam o mercado e ao lucro, dessa forma seu
potencial crítico é minimizado.

Do mesmo modo que em outros ramos industriais, a indústria


cultural transforma matéria-prima em mercadorias, criando
novos padrões de consumo, voltados para atender às
demandas de um determinado público-alvo. (TERRA, ARAUJO,
GUIMARÃES, 2009, p.134).

Os autores diferenciam a cultura erudita da cultura popular e


ambas da indústria cultural ou cultura de massas. A cultura
erudita é produzida e consumida por classes intelectualizadas
e demanda estudo e técnicas muito refinadas tanto para ser
gerada como para ser compreendida. A cultura popular é
produzida pelo povo de forma espontânea e reflete a sua
realidade circundante, não necessitando de estudos para
tanto. Já a cultura de massas é diferente, pois não refere às
massas populares, e sim, à indústria cultural. É uma produção
artística encomendada pelo mercado que tem a função de
atender e gerar gostos massificados, não tem apreço pelas
técnicas eruditas e não reflete sobre a realidade do povo. É
um produto de ampla e rápida reprodução que gera também
esquecimento rápido deste mesmo produto, precisando ser
substituído. Pode abranger as músicas, o cinema, a TV, o
rádio, a pintura, literatura etc.

Cultura popular é repertório acumulado de produtos culturais


como músicas, literatura, arte, moda, dança, cinema,
televisão e radio que são consumidos principalmente por
grupos não-elite, tais como a classe operária e baixa (bem
como por segmentos substanciais da classe média).
(JOHNSON, 1997, p.60).

Apesar das críticas direcionadas aos produtos da Indústria


Cultural, autores da Escola de Frankfurt como Walter
Benjamin não deixam de considerar que a mesma consegue,
de certa forma e até certo ponto, democratizar o acesso às
artes. Isso porque com o advento de mídias e comunicação
em massa não é mais necessário ir a um show fisicamente ou
à ópera para se conhecer estas obras. Mesmo que a qualidade
do produto seja inferior e a experiência não seja a mesma, a
indústria cultural pode ser utilizada para fins de
acessibilidade, como a reprodução fotográfica de obras,
pinturas, esculturas que estão presentes em museus e
espaços distantes das classes populares.

Assim, a indústria cultural é um conceito crítico de


interpretação da produção de bens culturais no mercado
capitalista. Tem por característica a alienação do povo e a
produção massificada e massificante da obra de arte. Pode,
porém, ser utilizada para promover o acesso e contato
facilitado e massificado de grandes obras de Arte, mesmo
com prejuízo da qualidade técnica. A função da indústria
cultural, porém, não é possibilitar o acesso, mas sim produzir
lucro com as obras de arte, com a exploração do artista
inclusive.

O modo de comportamento perceptivo, através do qual se


prepara o esquecer e o rápido recordar da música de massas,
é a desconcentração. Se os produtos normalizados e
irremediavelmente semelhantes entre si, exceto certas
particularidades surpreendentes, não permitem uma audição
concentrada, sem se tornarem insuportáveis para os
ouvintes, estes, por sua vez, já não são absolutamente
capazes de uma audição concentrada. Não conseguem
manter a tensão de uma concentração atenta, e por isso se
entregam resignadamente àquilo que acontece e flui acima
deles, e com o qual fazem amizade somente porque já o
ouvem sem atenção excessiva. (ADORNO, 1978, p.190).

Referências:

ADORNO, Theodor. W. O fetichismo na música e a regressão


da audição. In: Adorno et all. Textos escolhidos. São Paulo:
Abril Cultural, 1978. Coleção Os Pensadores.

BENJAMIN, Walter et al. A obra de arte na era de sua


reprodutibilidade técnica. 2013.
JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: guia prático da
linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.

TERRA, Lygia; ARAUJO, Regina; GUIMARÃES, Raul Borges.


Conexões: estudos de geografia do Brasil. São Paulo:
Moderna, 2009. p.134.

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