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Teoria Crítica e

Indústria Cultural

Prof. Friedrich Maier - 2º EM - Colégio Interação


O Instituto Para Pesquisa Social de Frankfurt
● Convencionou-se chamar de “Escola de Frankfurt” o conjunto de
pensadores que desempenharam importantes contribuições no campo da
Filosofia e das Ciências Sociais desde as primeiras décadas do século XX.
● Esses pensadores tinham uma matriz de pensamento marxista, contudo,
estavam insatisfeitos com a “ortodoxia marxista”, acusando muitos de
seus disseminadores de meros reprodutores de pensamentos e ideias
“doutrinárias”.
● De modo diverso, procuraram inspiração na crítica social proposta por
Marx para avançar uma Teoria Crítica, capaz de se adequar à nova
conjuntura histórica e social do capitalismo.
O Instituto Para Pesquisa Social de Frankfurt
● O nome “Escola de Frankfurt" advém do fato de que muitos desses autores
desenvolveram suas pesquisas no Instituto para Pesquisa Social da
Universidade de Frankfurt, na Alemanha.
● À inspiração marxista e sua proposta de mudança social, esses autores
procuraram contribuições de outras tradições de pensamento, como a
filosofia existencialista, a psicologia e a psicanálise, a sociologia
weberiana, a filosofia idealista alemã (Kant e Hegel) etc.
● Diante da diversidade e pluralidade de pensamento, esses autores tinham
em comum a pretensão da crítica, isto é, a consciência da necessidade de
superação dos raciocínios positivistas, deterministas, materialista
ortodoxo e da própria racionalidade capitalista.
Max Horkheimer (1895-1973)
Theodor W. Adorno (1903-1969)
Herbert Marcuse (1898-1979)
Erich Fromm (1900-1980)
Walter Benjamin (1892-1940)
Jürgen Habermas (1929-presente) 2ª Geração da Escola de Frankfurt
Axel Honneth (1949-presente) 2ª Geração da Escola de Frankfurt
A crítica à Razão Instrumental
● Um dos elementos que unifica o pensamento dos autores da Escola de
Frankfurt é a crítica à racionalidade capitalista.
● Utilizando o conceito de razão instrumental, os autores procuram se
referir à forma de pensamento oriunda de movimentos como a Revolução
Científica e o Iluminismo e intensificada com o advento da sociedade
capitalista.
● A razão instrumental é uma forma de pensar, agir e organizar a realidade
a partir de princípios como a efetividade, o determinismo, o empirismo, a
lucratividade e a eficiência, desconsiderando parcial ou completamente
os impactos éticos e sociais.
A crítica à Razão Instrumental
● Para compreender melhor o que os autores da Teoria Crítica apresentam, basta
pensar um pouco no contexto histórico do século XX.
○ Após a efervescência científica e industrial do século XIX, o que a
humanidade conseguiu com toda essa razão instrumental?
■ guerras com proporções nunca antes vistas, destruição, miséria social,
miséria intelectual, destruição, mortes em escala industrial…
○ A metralhadora, o gás mostarda e o agente laranja, os aviões
bombardeiros, os campos de concentração, as bombas atômicas, as
migrações forçadas, os campos de trabalho forçados, a segregação racial,
os alimentos ultraprocessados, a destruição ambiental são todos frutos
dessa razão instrumental…
A Teoria Crítica
● A razão instrumental está relacionada ainda aos aspectos da alienação,
uma vez as pessoas podem se tornar cegas aos aspectos mais amplos e às
consequências não intencionais de suas ações quando estão focadas
apenas na eficiência e no sucesso imediato.
● Além disso, essa forma de racionalidade serve para perpetuar as
estruturas de dominação, pois regimes autoritários usam a razão
instrumental para justificar a repressão de dissidentes como um meio de
manter o poder.
A Teoria Crítica
● Em oposição às formas de racionalidade instrumentais, os teóricos de
Frankfurt apontavam a necessidade de uma razão crítica, capaz de
(re)pensar as questões da humanidade para além dos princípios da
efetividade, eficiência e lucratividade, refletindo sobre o futuro da
humanidade a partir de princípios éticos, de emancipação social,
econômica, política e intelectual.
Max Horkheimer (1895-1973)
Theodor W. Adorno (1903-1969)
Indústria Cultural
● Conceito criado por Max Horkheimer e Theodor Adorno em 1947 para dar
conta do processo de mercantilização da arte e da cultura, promovido
pelas sociedades capitalistas no século XX.
● A lógica capitalista implica na submissão de toda a realidade às leis do
mercado e, com isso, a transformação de tudo em… mercadoria.
● São mercadorias no capitalismo: as pessoas, a terra, o dinheiro, os objetos,
os afetos, a história e até mesmo a Cultura e a Arte.
● É um conceito poderoso para criticar a formação das sociedades de massa
e a introdução da lógica capitalista no campo artístico e cultural.
Indústria Cultural: modo de fazer
● A partir do advento dos meios de comunicação em massa (primeiro o
rádio, depois o cinema e a TV) cria-se um contexto de fácil difusão da
informação e dos produtos artísticos.
● Com isso a expressão artística passa a seguir uma lógica de mercado: ao
invés de expressão de genialidade, singularidade e talento de artistas,
passa a ser um produto que deve vender mais, gerar mais lucro.
● Assim, a arte passa a produzir padrões baseados num “gosto médio” que
tem a capacidade de vender mais. A complexidade, a possibilidade de
reflexão crítica e de questionamento cedem lugar à diversão e ao
entretenimento, o novo espaço ocupado pela arte.
Indústria Cultural e Cultura de Massas
● O bom produto cultural é aquele que “vende bem”, que “atinge o maior
público” e que, portanto, passa a ser produzido justamente com essa
finalidade.
● A arte passa a ser padronizada, repetindo clichês e formas de
apresentação baseados na expectativa de um “consumidor médio”. Com
isso, empobrece-se.
● Cria-se a cultura de massas, padronizada, pasteurizada e largamente
disseminada pelos novos meios de comunicação.
● Nesse processo, a própria indústria cultural passa a “produzir” a
subjetividade do seu público: acostuma-o a produtos prontos, fáceis de
consumir.
Indústria Cultural e suas influências
● Assim, essa indústria se torna capaz de influenciar a sociedade, criando
novos hábitos, ditando modas, disseminando estereótipos e valores sociais
que, ao fim e ao cabo, estão determinados pela lógica capitalista (e pela sua
racionalidade instrumental).
● Nas palavras de Adorno e Horkheimer:
"A indústria cultural está corrompida, mas não como uma Babilônia do
pecado, e sim como catedral do divertimento de alto nível. O divertimento -
protocolarmente - da indústria cultural, em si, não possibilita capacidade de
resistência. Tem grande probabilidade de ser mera diversão, distração. Não
oferece, em si, possibilidade de emancipação, nem de crítica ao status quo. [...]
É na verdade uma fuga [...] da última ideia de resistência que essa realidade
ainda deixa subsistir”
Indústria Cultural e técnica
● A crítica dos autores é ainda mais profunda e mira também os elementos
técnicos da indústria cultural.
● Os produtos culturais passam a se aproveitar da técnica, cada vez mais
desenvolvida, para garantir a lucratividade e a aceitação dos produtos
culturais, sendo assim, centram os esforços na reprodução do cotidiano, da
própria realidade.
● Principalmente no campo do audiovisual (TV, cinema, streaming e jogos
eletrônicos) a técnica se aperfeiçoa para mostrar a tela como um
prolongamento da realidade.
● A precisão da imagem e do som são centrais para essa técnica
reprodutivista.
Indústria Cultural e técnica
● Ao espectador cabe um único papel: o passivo.
● Recebe extasiado a explosão de cores e sons hiper realistas, a
narrativa rápida e cheia de clichês, a velocidade com que as cenas se
alteram, a passagem dos quadros cada vez mais intensa…
● Ao fim do momento da fruição, não precisa pensar, não precisa
refletir, tamanho é o impacto ao qual foi submetido.
● Mais uma vez, Adorno e Horkheimer:
“Não somente os tipos das canções de sucesso, os astros, as novelas ressurgem
ciclicamente como invariantes fixos, mas o conteúdo específico do espetáculo
só varia na aparência. O fracasso temporário do herói, que ele sabe suportar
como bom esportista que é; a boa palmada que a namorada recebe da mão
forte do astro, são, como todos os detalhes, clichês prontos para serem
empregados arbitrariamente aqui e ali e completamente definidos pela
finalidade que lhes cabe no esquema. Desde o começo do filme já se sabe como
ele termina, quem é recompensado, e, ao escutar a música ligeira, o ouvido
treinado é perfeitamente capaz, desde os primeiros compassos, de adivinhar
o desenvolvimento do tema e sente-se feliz quando ele tem lugar como
previsto. O número médio de palavras é algo em que não se pode mexer. Sua
produção é administrada por especialistas, e sua pequena diversidade permite
reparti-las facilmente no escritório.”
Walter Benjamin (1892-1940)
A contribuição de Walter Benjamin: a arte engajada
● Por mais que não diretamente relacionado com a crítica da indústria
cultural, encontramos uma reflexão importante do autor sobre o tema,
● Ao criticar a reprodutibilidade técnica da arte, isto é, a capacidade - cada
vez maior - de reproduzir os elementos artísticos, Benjamin observa como
o fazer artístico passa a reproduzir a ideologia burguesa.
● Numa contraposição, o autor advoga a arte engajada, isto é, a arte deveria
se tornar um meio de oportunizar aos sujeitos uma compreensão crítica do
mundo e das relações à sua volta, despertando a reflexão e a crítica na
audiência.

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