"Indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas"
Dialética do Esclarecimento (Theodor Adorno e Max Horkheimer)
No capítulo “A Indústria Cultural: O Esclarecimento como Mistificação das Massas”, da obra
“Dialética do Esclarecimento”, de Horkheimer e Adorno, os autores contradizem sociólogos que defendem a opinião do caos cultural. Segundo os sociólogos, a perda da importância da religião objetiva, o excesso de especializações e também a diferença entre técnica e social, levaram o caos à cultura. Essa afirmação, no entanto, é considerada falsa pelos filósofos, já que, no pensamento deles, a cultura contemporânea se mostra muito similar em suas diferentes vertentes. Exemplo: O cinema, as revistas e os rádios, por mais que sejam mídias distintas, estão unidos em um único sistema, o da comunicação. Logo, apresentam coerência tanto de maneira separada, quanto de forma conjunta entre elas. Essas semelhanças não são colocadas pelos autores como obra do acaso, o que fica evidente no decorrer do capítulo. Dessa forma, do meu ponto de vista, Horkheimer e Adorno tratam essas similaridades do trabalho, e da cultura em si, como coesas e organizadas, diferentemente do que os filósofos classificam como caótico. Da mesma forma que o capitalismo teve sua fase liberal, passando para a fase do monopólio, os mercados da cultura não são diferentes. Ainda mais as culturas de massa, que se tornam idênticas umas às outras ao mundo do trabalho. O ponto, porém, que mais me chamou a atenção no texto foi a passagem em que os filósofos o quanto a “cultura” foi transformada em mera mercadoria ao passo que começou a ser melhor difundida entre os povos, virando uma engrenagem do capitalismo. Cinema e rádio, por exemplo, sempre vistos como forma de arte, tornaram-se, na verdade, um negócio. Como amante do cinema e dos filmes clássicos, esse trecho foi o que mais me gerou identificação. Tendo definido a si mesmo como indústria, o cinema moderno passou a visar muito mais às cifras, acima da qualidade das obras e das mentes brilhantes dos grandes diretores por trás das produções. Virou uma espécie de produção de “enlatados”, com obras vazias e sem muito conteúdo, produzidas com o intuito de gerar o engajamento das massas e “viralizarem” nas redes sociais com cenas de impacto visual. Com isso em mente como foco principal, há pouco esforço para apresentar um tipo de arte legítima que seja, de fato, reflexiva. Tornou-se apenas uma mercadoria, e com compromisso não mais com a arte ou com o intelectual, mas sim com a monetização. A dúvida que ficou para mim ao terminar de ler o texto recai sobre a ideologia da classe dominante que é trazida pelos autores da obra nesse capítulo. Para mim, não fica tão claro se Horkheimer e Adorno tratam essa indústria cultural da alienação fornecida pelos meios de comunicação de massa como uma racionalidade meramente técnica, ou como sendo a racionalidade dessa própria dominação. Esse caráter obsessivo da sociedade que se deixa alienar provém, entre outras coisas, dela mesma? O que me gerou esse questionamento foi o trecho em que é mencionado sobre a padronização e produções em série de automóveis e aparelhos tecnológicos, levantando a dúvida se o que faz diferença, nesse caso, seria a lógica da obra ou o sistema social. Em geral, é um texto de fácil leitura, extremamente reflexivo e que abre possibilidades para vários tipos de discussões acerca do mundo em que vivemos hoje.
MEDEIROS, Jonas. O conceito de indústria da consciência na obra de Oskar Negt e Alexander Kluge - a teoria crítica da esfera pública para além da indústria cultural