039G Ergonomia Tema 1

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Lição 1 - Ergonomia como Ciência

A ergonomia surgiu junto com o homem primitivo, ou seja, com a necessi-


dade de se proteger e sobreviver, ao fazer seus utensílios de barro para tirar
água de cisternas e cozinhar alimentos, e fazer o tacape1 para se defender ou
abater animais.

No entanto, somente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), houve


uma conjugação sistemática de esforços entre a tecnologia e as ciências hu-
manas. Quando especialistas de diversas áreas, como fisiologistas, psicólo-
gos, antropólogos, médicos e engenheiros trabalharam juntos para resolver
os problemas causados pela operação de equipamentos militares comple-
xos, como por exemplo no desenvolvimento de armas, equipamentos béli-
cos e aviões. O objetivo era adaptar melhor o homem à máquina e diminuir
o percentual de erros acionais gerados pela situação de extrema tensão que
a guerra proporcionava.

Enquanto o taylorismo2 buscava o aumento da produtividade através da re-


dução dos movimentos e da limitação dos espaços, a ergonomia preserva a
saúde e a segurança do trabalhador, visando ao aumento da produção, ser-
vindo como ferramenta para empresas e trabalhadores.

Hoje, grandes transformações técnicas ocorreram devido à automatização,


à informatização, ao progresso das comunicações, à produção de energia
barata – em particular a de origem nuclear – e até mesmo à mecanização
na agricultura.

Transformações estas que levaram às exigências de confiabilidade, qualida-


de, segurança e conforto nos processos de trabalho, ou seja, o trabalho mu-
dou e a Ergonomia se tornou um elemento importante para o êxito técnico,
para o crescimento rápido da produção em novas instalações, contribuindo
para o sucesso técnico, econômico e financeiro das novas tecnologias.

1. Tacape
Arma indígena de ataque; borduna, clava.
2. Taylorismo
Sistema de organização do trabalho concebido pelo engenheiro norte-americano Frederick
Winslow Taylor 1856-1915, com o qual se pretende alcançar o máximo de produção e
rendimento com o mínimo de tempo e de esforço.

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Ao término desta lição, você deverá ser capaz de:
• Definir ergonomia;
• Apresentar as diferenças entre as ergonomias de concepção, correção de
arranjo físico e de conscientização;
• Relacionar as ergonomias física, cognitiva e organizacional com o bem-
estar do trabalhador;
• Descrever o que o termo conforto significa para a ergonomia.
1. Ergonomia – Definição
O termo ergonomia vem do grego ergon, que significa trabalho, e nomos, que
significa leis ou normas. Ergonomia é a ciência que estuda a organização do
trabalho em que existem interações entre seres humanos e máquinas. O prin-
cipal objetivo da ergonomia é desenvolver e aplicar técnicas de adaptação,
com formas eficientes e seguras de realizar o trabalho. Assim, a ergonomia
busca melhorar o bem-estar e promove o aumento da produtividade.

Durante o XIV Congresso da Associação Internacional de Ergonomia, ocorri-


do em agosto de 2000, em São Diego (EUA), o Conselho da Associação Inter-
nacional de Ergonomia adotou uma definição oficial:

“A Ergonomia (ou fatores humanos) é a disciplina científica relacionada ao enten-


dimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas. É
a aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos, a fim de otimizar o
bem-estar humano e o desempenho global do sistema”.

A Associação Internacional de Ergonomia (IEA) também adotou o termo sis-


tema para representar todas as atividades humanas desenvolvidas no meio
ambiente do trabalho e/ou doméstico e lazer.

Os gestores e o grupo operacional são indispensáveis ao processo de pro-


dução, não importa o ramo econômico da empresa. Assim, é inteligente
que quem administre o negócio conheça seu produto e busque sempre
melhorá-lo. Além disso, também devem garantir a utilização adequada dos
recursos materiais e a manutenção da saúde e da segurança dos trabalha-
dores.

Os integrantes do SESMT3 têm competência para levantamento dos riscos


ambientais e ergonômicos. Ao detectar ruído, calor, radiações, poeiras, gases,
vapores etc., eles têm a capacidade de observar os espaços físicos dos postos
de trabalho, as condições de máquinas e equipamentos quanto às condições
de operação. Eles avaliam, por exemplo, se a altura dos controles de aciona-

3. SESMT
Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho.

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mento, de desligamento e de emergência das máquinas está acessível ao bra-
ço do trabalhador, para preservar a estrutura musculoesquelética4 e prevenir
acidentes de trabalho.

Cabe também verificar mobiliários, como mesas e armários, quanto à dis-


posição na área física e suas condições para o trabalho. Analisar, também, o
percurso feito por empilhadeiras, seu carregamento e a sinalização sonora e
do piso também são ações ergonômicas para evitar acidentes. Esses e outros
fatores da organização do trabalho devem ser identificados pelos membros
do SESMT.

P. P. R. A. Ergonomia P. C. M. SO

Antecipação e Reconhecimento
dos Riscos Planejamento de Ações

Avaliações Riscos no posto de trabalho e Exames médios


ambientais organizacionais

Medidas de controle da Diagnóstico e Medida


exposição ao rsico de Proteção

Ambientes Controlados Trabalhador protegido

Prevenção das doenças profissionais

Figura1 – Prevenção da Doença Ocupacional e Acidente no Trabalho

Acompanhe abaixo um exemplo dessa inter-relação:

Figura 2 – Operação com Laminados de Aço

4. Sistema Musculoesquelético
Compreende o grupo de músculos que aderidos ao esqueleto permite a movimentação,
locomoção e proteção do organismo.

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No setor de desenrolamento de tiras de aço em uma metalúrgica (Figura 2), o
técnico de segurança identifica:
• Ruído de 90 decibéis (aceitável até 85 decibéis);
• Baixa luminosidade;
• Pouca ventilação;
• Risco de acidente de trabalho: exposição das mãos em áreas de prensa;
• Exigência de condicionamento físico: força, apreensão de objetos e
permanência em pé por longo período.

Itens acrescidos no PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais:

Ações:
• Corrigir a luminosidade conforme a atividade realizada;
• Instalar ventiladores;
• Instalar equipamento protetor que impeça o acesso da mão do
trabalhador em área próxima ao rolete;
• Uso de protetor auricular;
O médico do trabalho estabelece para o PCMSO – Programa de Controle Mé-
dico de Saúde Ocupacional:
• Exame audiométrico5 semestral
• Testes com o dinamômetro6
• Doppler7 venoso dos membros inferiores
O médico e enfermeiro do trabalho ou técnico de segurança estabelecem,
seguindo a NR 17:
• Pausas de 15 minutos a cada 1h30 de trabalho;
• Uso de banquetas com encosto para evitar permanência em pé por longo
período;
• Reduzir ao máximo painéis de controle com vários botões.
Observação: o PCMSO deverá ser planejado e implementado com base nos ris-
cos à saúde dos trabalhadores, tanto os identificados nas avaliações realizadas no
PPRA como também os riscos ergonômicos do posto de trabalho levantados pela
equipe do SESMT.

5. Exame Audiométrico
Realizado para avaliar o nível auditivo do trabalhador, feito por fonoaudiólogo através de aparelho
específico e uso de cabine acústica.
6. Dinamômetro
Equipamentos que permitem verificar as condições das musculaturas peitorais, braços e MMII.
7. Doppler
Permite avaliar o retorno do sangue para o coração vindo das pernas.

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Para pesquisar
A Fundacentro é uma instituição governamental e o maior centro de pesquisa na área
de Segurança e Saúde do Trabalhador. Dedica-se também à e a produção e difusão de
conhecimentos sobre as mesmasneste seguimento.
Acesse o site: http://www.fundacentro.gov.br/.

2. Objetivos
O objetivo da ergonomia é desenvolver condições de trabalho saudáveis e
seguras, garantindo conforto e produtividade.

A Norma Regulamentadora 17 também descreve o objetivo da ergonomia.


Esta norma visa estabelecer parâmetros que permitam adaptação das condi-
ções trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, propor-
cionando o máximo de conforto, segurança e desempenho.

Veja um exemplo:

Em uma metalúrgica, o setor de flanges8 recebe peças em caixas metálicas. O tra-


balhador retira cada peça e a encaixa na chanfradeira9. As caixas metálicas com
peças são empilhadas uma em cima das outras e ficam próximas da máquina.
Conforme ocorre o desenvolvimento do serviço, as caixas metálicas vazias são
retiradas da pilha, dificultando o acesso, pois o trabalhador precisa curvar-se
para pegar as próximas peças a serem chanfradas na caixa metálica mais baixa.

Figura 3 – Caixas Metálicas e Equipamento que Chanfra as Peças

Nas figuras anteriores, pode-se ver as caixas metálicas e o equipamento que


chanfra as peças. As condições de trabalho ficam inadequadas quando as pe-
ças dentro das caixas não estão na altura dos braços do operador, compro-
metendo os componentes da coluna vertebral no momento de se abaixar e se
levantar para realizar o trabalho.

8. Flange
É um elemento que une dois componentes de um sistema de tubulações, permitindo ser
desmontado sem operações destrutivas.
9. Chanfradeira
Equipamento utilizado para realizar ajustes projetados na peça metálica.

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No caso do exemplo, uma solução ergonômica seria a instalação de elevado-
res pneumáticos de pequeno porte, embutidos no piso. Assim, a pilha de cai-
xas metálicas ficaria sobre a plataforma do elevador e, a cada retirada de uma
caixa de peças, o operador acionaria a elevação da plataforma com um pedal.
Com essa medida, diminui-se o desgaste do trabalhador e ganha-se tempo
com o uso de elevadores, motivando o trabalhador.

Figura 4 – Empilhadeira

O conforto no ambiente de trabalho não significa manter um ambiente de


entretenimento durante a jornada. O termo conforto, empregado na NR 17,
dá ideia de realizar as tarefas respeitando a anatomia dos trabalhadores, in-
tervindo de forma positiva no meio ambiente e minimizando os problemas
da organização do trabalho, incluindo layout, mobiliário, equipamento e ma-
quinários.

O conforto é um elemento da organização do trabalho, importante e cobrada


em várias outras normas regulamentadoras, entre elas a da construção civil
e a dos serviços de saúde.

A ergonomia também promove as interações entre os seres humanos e os


elementos do sistema, garantindo o bem-estar e o alcance dos resultados pla-
nejados (eficácia) na atividade humana, dispondo de menor recurso material,
humano, tempo e dinheiro, gerando produtividade na área econômica (efi-
ciência). A ergonomia é uma ciência que proporciona ganhos para o empre-
gador e o empregado. Pode parecer pouco, mas estatisticamente faz toda a
diferença.

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A ergonomia sempre remeterá à relação entre conforto e produtividade, pois
o alcance da produtividade decorre de se considerar o limite do corpo huma-
no e as condições favoráveis à realização do trabalho.

3. Exigências Legais
No Brasil, a ergonomia vem ganhando notoriedade com as exigências da
Norma Regulamentadora 17.

A aplicação da NR 17 é obrigatória em todos os ramos da economia, sendo es-


sencial sua presença nas indústrias, devido aos riscos causados pelos agentes
físicos e químicos e pelas condições ambientais.

Atualmente, percebe-se a preocupação em aumentar a aplicabilidade da er-


gonomia também no setor de serviços, transporte, saúde, educação, bens de
consumo, financeiro etc. A leitura dos anexos da NR 17 e da própria NR 32 é
um exemplo da ampliação dos campos de ação do Ministério do Trabalho na
área de ergonomia.

Imagine um setor de galvanoplastia, que tem a finalidade de banhar peças em


soluções químicas. O trabalhador do setor precisa usar máscara facial, devido
à emissão de vapores dos produtos químicos que compõem os banhos, pre-
cisa usar óculos de segurança para evitar respingos, usar aventais para não
umedecer as roupas com os produtos, usar luvas que protegem os braços até
os ombros, perneiras para não umedecer as pernas e calçar bota impermeá-
vel. Todos esses EPIs10 são necessários e obrigatórios nesse setor, mas trazem
um peso a mais, um incômodo.

Tudo isso deve ser realizado seis dias por semana, oito horas por dia, e causa
um desgaste físico. Esse conjunto de agentes químicos muitas vezes se soma
a uma organização do trabalho que não estabeleça pausas a cada 50 minutos,
não libera a saída para as necessidades fisiológicas e não tem uma chefia con-
ciliadora. Isso acarreta a procura de atendimento médico devido ao apareci-
mento de alguns sintomas físicos, como dores de cabeça, conjuntivite, dores
musculares na região dos ombros, braços e pernas, entre outras patologias
como desânimo, irritabilidade, depressão e estresse.

Essas situações acarretarão a emissão de atestados médicos, afastando os tra-


balhadores e comprometendo a produção da empresa, que não manterá sua
condição inicial de entrega do produto.

A ergonomia ajuda a melhorar as condições para o trabalhador e possibilita


que ele trabalhe com maior disposição e motivação, produzindo mais e com
qualidade.

10. EPI
Equipamento de Proteção Individual

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Melhorias ergonômicas propostas para o setor de galvanoplastia, como co-
locação de talhas para evitar levantamento e sustentação das peças a serem
mergulhadas nos banhos, a instalação de exaustores para diminuição dos va-
pores químicos no ambiente de trabalho, a automação de parte do processo,
que causa maior desgaste no trabalhador, são atitudes trazem benefícios para
empregados e empregadores.

4. Áreas de Abrangência
A ergonomia está ligada às questões de segurança, saúde e conforto do tra-
balhador. Para cumprir esse compromisso, ela se atenta às áreas de projeto e
design de sistemas produtivos, postos de trabalho e produtos.

Embora as pessoas sejam flexíveis e estejam aptas a enfrentar condições de


trabalho adversas, existem limitações. Caso essas limitações humanas não se-
jam consideradas, ocorrerão agravos à saúde do trabalhador.

A ergonomia apresenta-se como ferramenta de gestão de riscos e pode ser


classificada de três formas: quanto à sua abrangência (ergonomia de posto
de trabalho – abordagem microergonômica ou ergonomia de sistemas de
produção – abordagem macroergonômica); quanto a interdisciplinaridade
(engenharia, design, psicologia, medicina e administração) e quanto à contri-
buição na concepção, correção, rearranjo físico e conscientização.

Ergonomia de concepção: é a aplicação de normas e especificações ergonô-


micas em projeto de ferramentas e posto de trabalho antes de sua implanta-
ção. Esta ergonomia foca sua atenção nos projetos de máquinas, nas opera-
ções de equipamentos e nas várias interações com o ambiente de trabalho,
tornando-os compatíveis com as capacidades e limitações humanas, como
meio de reduzir erros e de prevenir acidentes.

Figura 5 – Ergonomia de Concepção

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Veja a seguir um exemplo de como manusear uma ferramenta na visão da
ergonomia.

Dependendo da tarefa a ser realizada e do sentido da força a ser aplicada,


projeta-se uma ferramenta que favoreça a pegada e a força. Nas figuras abai-
xo, são ilustrados os movimentos e a ferramenta que foi planejada, facilitando
o trabalho do operador e não trazendo prejuízo às articulações, considerando
que essa tarefa seja repetitiva. O uso da ferramenta inadequada favorece o
acidente de trabalho como torções, contusões e cortes.

Figura 6 – Posições das Mãos

A ergonomia de concepção é essencial, pois seu uso favorece layout, equipa-


mentos e mobiliários, conforme a ocupação do espaço físico e a descrição da
atividade a ser executada.

Ergonomia de correção: modificações de situações de trabalhos já existentes.

No Brasil, compra-se maquinários das sedes de empresas que estão locali-


zadas em outros países. Esses equipamentos foram projetados para serem
utilizados por trabalhadores com valores antropométricos diferentes do bra-
sileiro.

Essa importação de equipamentos traz condições desfavoráveis em relação à


operação, pois o trabalhador assume posturas inadequadas como torção do
tronco, ficar nas pontas dos pés para alcançar comandos e esticar os braços.

Como esses equipamentos são necessários, a ergonomia da correção age, re-


instalando o painel com os controles de liga/desliga e botão de emergência
para permitir o alcance do operador, além de nomeá-los, pois estão escritos
em outra língua.

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Figura 7 – Painel de controle

Ergonomia de arranjo físico: é a melhoria de sequências e fluxos de produ-


ção, através da mudança de layout das plantas industriais, por exemplo: mu-
dança de um layout por processo para outro voltado ao produto.

Figura 8 – Meio ambiente do trabalho em desarranjo

A empresa precisa estabelecer um fluxo para produção do produto. A meta-


lúrgica de autopeças produz peças automotivas com características específi-
cas. Assim, setores são planejados e serão dispostos em determinada sequên-
cia, dependendo da característica da peça.

A ergonomia de arranjo físico dedica-se a colocar em sequência os setores,


preocupando-se com a criação de espaços entre os maquinários para trânsito
seguro dos trabalhadores, presença de corredores de acesso entre máquinas
e setores vizinhos.

Arranjos físicos de processos caracterizam-se por uma sequência linear de


setores, dispondo seus maquinários para que cada trabalhador permaneça
operando sua máquina. No arranjo físico do produto também existe a se-
quência de setores, em que o layout valoriza o trabalho em células. Ou seja,
a partir da determinação da supervisão, o trabalhador vai ter condições de
fazer rodízio nas tarefas, pois existe uma similaridade nelas, impedindo a mo-
notonia e a repetição do movimento por tempo prolongado.

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Ergonomia de conscientização: é a capacitação das pessoas para o entendi-
mento de métodos e técnicas de análise ergonômica do trabalho.

Figura 9 – Ergonomia de Conscientização

Embora exista um procedimento para a realização de uma tarefa, nem sem-


pre quem descreve o procedimento a realiza com determinado número de
vezes para perceber os pontos favoráveis e desfavoráveis. O operador conhe-
ce o procedimento descrito, mas, por necessidade de diminuir incômodos de
troca de posições ou sequências de tarefas equivocadas, ele faz da forma que
se adapta melhor.

A análise ergonômica do trabalho analisa cada passo da tarefa e verifica incô-


modos de troca de posições ou sequências de tarefas equivocadas. A análise
busca entender a maneira como o operador desenvolve seu trabalho, diag-
nostica situações de risco de acidentes, posturas inadequadas e ações repeti-
tivas. A análise também verifica se o procedimento descrito corresponde ou
não à necessidade da produção e respeita os tempos do operador.

A partir do momento que foi feita a análise ergonômica por meio da coleta de
dados realizada pela observação do trabalho, pela entrevista com o operador,
pela análise da finalidade a ser atingida, cabe à ergonomia estabelecer o que
deve ser acrescido ao procedimento, a melhor forma de fazê-lo e o que pre-
cisa ser modificado.

A participação dos trabalhadores na análise ergonômica é decisiva na futu-


ra prática da ergonomia, pois podem entender porque determinada ação no
procedimento não permaneceu – riscos de torções, quedas, braços e mãos
prensados, queimaduras, ferimentos, doenças ocupacionais etc.

Análises ergonômicas realizadas com os operadores trazem ganhos para o


empresário e empregados, pois a participação e compreensão do processo
são fundamentais.

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5. Especializações da Ergonomia
Devido a seus objetivos, a ergonomia apresenta três domínios de especiali-
zação:

Ergonomia Física

Está relacionada à anatomia humana, à antropometria11 e às características fi-


siológicas e biomecânicas12 na sua relação com a atividade humana. Os pontos
relevantes incluem posturas de trabalho, manuseio de materiais, movimen-
tos repetitivos, projetos de postos de trabalho, arranjo físico do local de traba-
lho, segurança e saúde.

Cada trabalhador apresenta altura, peso e circunferência abdominal especí-


fica (valores antropométricos), mas é possível estabelecer uma média para
que a ergonomia física seja contemplada pela ergonomia de concepção, para
planejamento de layout e de equipamentos, maquinários e mobiliários.

A ergonomia física compreende também a análise de características fisioló-


gicas de trabalhadores que apresentam limitações para a execução de algum
trabalho. Por exemplo, o trabalhador com deficiência visual severa que rea-
liza trabalhos no computador tem um programa que faz a leitura de tela e
a escuta das letras digitadas. São criados recursos técnicos para permitir o
acesso desses trabalhadores ao mercado de trabalho.

A ergonomia também tem responsabilidade com trabalhadores cardíacos


ou epiléticos. Mesmo que estejam em tratamento contínuo e controlado, não
devem ser designados para determinadas tarefas. O trabalhador cardiopata
não pode conduzir veículos, deve evitar esforços físicos, trabalho em altura,
trabalhos que demandem caminhadas apressadas ou descida e subida de
escadas constantemente, por exigir demasiadamente do coração. O epiléti-
co deve evitar trabalho em alturas, operar máquinas de prensa, direção de
veículos etc. Essas condições fisiológicas devem ser identificadas na admis-
são, nos exames médicos periódicos e na análise dos atestados emitidos para
justificar as ausências do funcionário.

Outra consideração em relação à ergonomia física são as características bio-


mecânicas relacionadas à mecânica do movimento que ocorre entre as es-
truturas ósseas, musculares e articulares. O trabalhador na faixa etária de 18 a
35 anos apresenta, na maioria das vezes, boa flexibilidade, abaixando e levan-
tando-se com facilidade, fazendo movimentos de lateralização de partes do
corpo e movimentação dos braços e pernas sem dificuldades ou presença de

11. Antropometria
É o estudo das medidas do corpo humano e das diversas proporções de suas partes.
12. Biomecânica
Ramo da biologia que se ocupa da aplicação das leis da mecânica às estruturas orgânicas
vivas, especialmente ao sistema locomotor do corpo humano.

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dores. Considera-se uma biomecânica favorável ao desempenho da maioria
dos trabalhos.

Essa biomecânica favorável é condição natural que passa a ser comprometi-


da pela repetitividade, pelos ritmos e pela forma de realizar o trabalho, soma-
do ao envelhecimento do trabalhador e possível sedentarismo.

Ergonomia Cognitiva

Representa os processos mentais, como percepção, memória, raciocínio a


respostas motoras, interações humanas e demais elementos do sistema. Os
tópicos relevantes incluem o estudo da carga mental de trabalho, tomada de
decisão, desempenho especializado, estresse etc.

Ergonomia Organizacional

Define como o trabalho é programado e controlado para produzir os resulta-


dos desejados. Estabelece padrão dos procedimentos na execução de tarefas,
trabalho em grupo, gestão de qualidade, processo de produção – especifica-
mente, ritmos, horas extras e muitos outros fatores.

Figura 10 – Ergonomia Organizacional

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