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Análise Ergonómica na área da

Saúde Aula 2

FORMADORA: Eng.ª Sónia Isabel Caldeira Romero


2 - A Análise Ergonómica

A adequação do trabalhador ao seu ambiente de trabalho constitui pois um fator chave cada vez
mais importante num contexto mutável e competitivo. Os empregadores “perseguem” hoje o
aumento da produtividade, a diminuição dos acidentes de trabalho e a redução do absentismo e
doenças profissionais como forma de se destacarem no mercado e fazer face à concorrência.

A elaboração de uma análise ergonómica que tem como objetivo referir a problemática da carga
física, da movimentação de cargas e das consequentes lesões músculo-esqueléticas, que são
associadas mais frequentemente às funções dos assistentes operacionais e dos enfermeiros.
2 - A Análise Ergonómica
O termo ergonomia teve origem no grego em que ergon (eρᵧov) diz respeito a “trabalho” e
nomos (nòµoσ) respeita a “leis e regras; saber”, pretende desta forma significar “os costumes,
hábitos e leis do trabalho”. A sua invenção foi explicada pela necessidade da existência de uma
palavra que fizesse referência ao estudo científico do Homem e do seu trabalho. O termo em
causa foi criado e utilizado pela primeira vez por K. Hureru e adotado na década de 40, mais
concretamente em 1949, quando foi criada a primeira sociedade de ergonomia, a Ergonomics
Research Society.
2 - A Análise Ergonómica
O referido conceito aparece também associado à II Grande Guerra devido a problemas como,
por exemplo, a dificuldade dos pilotos voarem a grandes altitudes, os efeitos dos trópicos e das
águas geladas bem como ao manobrar de armas. Estes problemas viriam a ser resolvidos por
vários cientistas tendo os mesmos constituído exemplos que foram aplicados às indústrias.
A ergonomia consiste pois numa ciência que se dedica ao estudo das condições psicofísicas e
socioeconómicas do trabalho e também das relações entre o homem e a máquina.
2 - A Análise Ergonómica
O conceito em apreço inclui também uma abordagem técnica em que, segundo Freitas (2008):
- A ergonomia consiste na conceção de produtos, ferramentas, ambiente de trabalho e métodos
de trabalho que permitem alcançar um nível ótimo de rentabilidade, de segurança e de conforto
na utilização e manutenção do sistema homem-máquina;
- Tomando por referência o conhecimento de aspetos anatómicos, psicológicos e fisiológicos do
homem, a ergonomia tende a adaptar ao homem os equipamentos de trabalho, as tarefas, as
funções e o ambiente. O objetivo essencial é o de favorecer o bem-estar físico e mental, com a
inerente influência favorável sobre o trabalho.
2 - A Análise Ergonómica
De acordo com Gaspar (2002) ao longo do tempo o conceito e a prática ergonómica têm
evoluído de acordo com as situações de trabalho e a tecnologia sendo que, podemos identificar
quatro fases sucessivas da ergonomia:
- Ergonomia antropométrica ou gestual que se ocupa do estudo, dos gestos e posturas do
trabalhador durante o trabalho, procurando adaptar os postos de trabalho, as condições
ambientais e ritmos de produção aos próprios;
2 - A Análise Ergonómica
- Ergonomia informacional, que estuda o arranjo dos dispositivos de sinalização, informação e de
comando, por forma a melhorar as condições de perceção da informação por parte do trabalhador;
- Ergonomia de sistemas, que trata da interação do trabalhador com os materiais em qualquer
sistema produtivo, procurando definir as tarefas entre os operadores, as condições de
funcionamento e cargas de trabalho de cada um;
- Ergonomia de previsão que, como a designação sugere, procura prevenir e estudar as regras e as
tarefas como cada trabalhador realizará o seu trabalho efetivo tendo em vista atingir zero
incidentes e/ou acidentes.
2 - A Análise Ergonómica
A ergonomia engloba portanto todas as características e condições dos elementos que dele
fazem parte: o mobiliário, o nível de ruído, a temperatura, a higiene atmosférica e a iluminação.
Consiste pois numa ciência multidisciplinar que se serve do conhecimento científico de outras
disciplinas para, em cada situação de trabalho, encontrar a melhor integração entre o
trabalhador e a sua tarefa, do ponto de vista do conforto e segurança contribuindo, assim, para
o aumento da produtividade.
2 - A Análise Ergonómica
Em síntese é possível afirmar que a ergonomia consiste em adaptar o trabalho ao homem sendo
o seu objetivo principal a componente humana. A ação da ergonomia tem efeitos
eminentemente teóricos uma vez que propicia o aumento da produção, do rendimento e, como
já foi referido, da produtividade.
2 - A Análise Ergonómica
É possível distinguir (Otero, 2001):
- A ergonomia do produto;
- A ergonomia da produção;
- A ergonomia de conceção;
- A ergonomia da correção.
2 - A Análise Ergonómica
A primeira - ergonomia do produto - engloba os estudos e pesquisas. Assim, no setor comercial
diz respeito aos estudos de mercado e no setor da produção refere-se à avaliação dos custos da
produção e no seu objetivo. Por sua vez os setores da conceção do produto incluem o design e a
qualidade.
A ergonomia da produção engloba a pesquisa pelas condições de trabalho mais adequadas não
só na organização mas também no posto e no ambiente de trabalho tendo em consideração as
características e capacidades do trabalhador.
2 - A Análise Ergonómica
A ergonomia de conceção implica a atuação, desde o início, no produto ou posto de trabalho
contribuindo para a implementação de condições de trabalho adequadas que permitam eficácia,
eficiência e controlo. São introduzidas, na fase de projeto, as questões relacionadas com as
capacidades do homem que contribuem para solucionar questões como:
- Criar postos de trabalho adequados ao trabalhador;
- Conceber objetos adaptados ao trabalhador;
- Considerar a produtividade e rentabilidade;
- Trabalhar com prazer.
2 - A Análise Ergonómica
A ergonomia de correção visa responder a questões relacionadas com a segurança e conforto
dos trabalhadores e a qualidade em termos produtivos. Quando não é possível conciliar
medidas como:
- Garantir as condições de segurança;
- Evitar efeitos nocivos;
- Permitir a satisfação a nível psicológico;
- Aumentar a capacidade dos equipamentos.
2 - A Análise Ergonómica
E sobretudo quando é necessário adaptar sistemas já montados em que os custos são elevados
e a satisfação psicológica é excluída estamos na presença da ergonomia de correção.
É pois essencial:
- Entender o trabalho como algo que engloba as características físicas, psicológicas, as
competências, a experiência, etc.
- Transformar o trabalho adotando medidas de conforto, segurança e bem-estar que contribuam
para alcançar a eficácia, a eficiência e a produtividade.
2 - A Análise Ergonómica
Também Correia (2010) se refere à ergonomia como sendo a ciência que adapta os
equipamentos/máquinas às características físicas e psicológicas dos trabalhadores. A
implementação de medidas ergonómicas no posto de trabalho contribui para:
- Aumentar a eficácia do trabalho;
- Prevenir a fadiga;
- Diminuir o número de acidentes de trabalho;
- Diminuir a incidência de doenças profissionais.
2 - A Análise Ergonómica
A ergonomia pode ser aplicada em várias áreas (ergonomia industrial, hospitalar, escolar, de sistemas
informatizados, ...). As intervenções ergonómicas melhoram a eficiência, produtividade, segurança e
saúde nos postos de trabalho.
 

O objeto da ergonomia pode ser integrado em 3 grupos:


- Ergonomia de organização,
- Ergonomia do ambiente,
- Ergonomia do produto.
O quadro 2.1 pretende fazer referência a esses grupos.
2 - A Análise Ergonómica
Ergonomia
Organização Ambiente Produto
     
- conteúdo da tarefa - iluminação - desenho
- rotação de tarefas - ventilação - aceitação
- duração do trabalho - ambiente térmico - medida
- comunicação - ruído - segurança
- humidade do ar - validade
  - normas
- função

Quadro 2.1 - Objeto da ergonomia.


2 - A Análise Ergonómica
 Segundo Freitas (2008) os domínios nos quais a ergonomia intervirá são os seguintes:
- Os limites físicos do homem: posturas, raio de ação, esforços musculares;
- Exigências quanto aos dispositivos de comando;
- Exigências quanto às informações a prestar ao operador;
- Influência do ambiente físico (ruído, iluminação);
- Aspetos psicossociais (conteúdo da tarefa, organização do trabalho).
2 - A Análise Ergonómica
Segundo Freitas (2008), através da ergonomia é possível contribuir para a conceção e avaliação
de postos de trabalho, de tarefas, produtos, de ambientes e de sistemas, tornando-os
compatíveis com as necessidades, as competências e as limitações dos trabalhadores.
Uma análise ergonómica permite perceber a articulação entre as condições da organização, as
condições de âmbito técnico, social e humano do trabalho bem como as consequências desta
atividade sobre o operador.
2 - A Análise Ergonómica
A análise ergonómica debruçar-se-á, principalmente, sobre as formas mais adequadas de mover
e transportar os doentes, questões como por exemplo: a disposição do mobiliário e condições
elétricas não serão aqui abordados. Serão sim descritas alterações que podem ser efetuadas nos
postos de trabalho dos trabalhadores dos serviços de medicina considerados descritas as
técnicas de movimentação e transferência ergonómicas executadas pelos enfermeiros, com o
auxílio dos assistentes operacionais.
2 - A Análise Ergonómica
Constata-se atualmente que a grande maioria dos problemas na coluna vertebral nos profissionais de saúdes estão

correlacionados com uma ergonomia desadequada, no que se refere aos equipamentos utilizados diariamente, ao

mobiliário e mesmo ao posto de trabalho em si. Existe, entre outros, o problema das lesões músculo-esqueléticas

e da carga física que se impõe aos trabalhadores da área da saúde aquando da prestação de cuidados aos doentes.

Na área da saúde, os enfermeiros e assistentes operacionais são os profissionais mais referidos, por Alexandre e

Rogante (2000) como sendo os que estão sujeitos a uma maior exposição a fatores de risco (ex.: posturas difíceis,

movimentação de cargas e pressões temporais). Estes fatores conduzem geralmente a lesões músculo-

esqueléticas, sobretudo as lombalgias, sendo pois as dores na zona lombar uma das queixas mais frequentes

nestes profissionais.
2 - A Análise Ergonómica
De acordo com Alexandre e Rogante (2000), as dores nas costas são causadas por traumas
crónicos repetitivos e pela manipulação de doentes. As movimentações podem provocar lesões
dorso-lombares se se verificarem as seguintes situações:
- O ato de movimentar uma carga que seja muito pesada, muito grande, de difícil
manuseamento ou que esteja distante do corpo ou mesmo que seja agarrada através de uma
flexão ou torção do tronco;
- O esforço necessário for muito grande, exija uma posição pouco estável ou mesmo torção do
corpo ou ocorra o desequilíbrio da carga;
2 - A Análise Ergonómica
- O ambiente de trabalho não é adequado devido à existência de um pavimento escorregadio, de
superfície irregular, ou se o espaço livre não é suficiente ou mesmo se as condições climáticas não
forem favoráveis;
- A operação implica outras questões como é o caso de esforços de longa duração e pouco repouso e
as distâncias de transporte são longas.
A melhor forma de combater este tipo de problemas passa pois por preveni-los, sendo que a
informação e formação dos trabalhadores sobre a forma mais correta de movimentar e transportar os
pacientes, constituem medidas a ter em conta. A utilização de equipamentos especiais e auxílios
mecânicos também tem sido indicada para prevenir as dores nas costas (Alexandre e Rogante, 2000).
2 - A Análise Ergonómica
Neste sentido, as análises ergonómicas podem assumir um papel central na prevenção das
lesões músculo-esqueléticas em contexto hospitalar, pressupondo a conceção dos sistemas de
trabalho adaptados às características dos profissionais, através da compreensão dos limites e
capacidades do homem na definição das suas tarefas e das condições de realização das mesmas
(Cotrim, s/ano).
2 - A Análise Ergonómica
Segundo a mesma fonte, nos EUA, as organizações de saúde que desenvolveram e implementaram
programas de prevenção das lesões músculo-esqueléticas nas tarefas de manuseamento de doentes,
baseados em análises e intervenções ergonómicas, foram bem sucedidas na redução do número de lesões
e seus custos. Diversos estudos permitiram concluir que a adoção de intervenções ergonómicas causaram a
redução em mais de 20% (e até cerca de 80%) o número de lesões dos profissionais em causa, reduzir
também os custos associados à reparação e também reduzir o tempo perdido com as lesões. É possível
afirmar também que estes trabalhadores conseguem uma melhor qualidade, ao prestarem os cuidados aos
pacientes, quando ocorre a redução do risco de lesões músculo-esqueléticas resultantes do seu trabalho.
2 - A Análise Ergonómica
Exercício 1
Responda à seguinte questão:
 
Quais serão as razões que justificam a introdução da ergonomia no trabalho?
Explore esta temática com exemplos.
Referências Bibliográficas
Alexandre e Rogante (2000). Movimentação e transferência de pacientes: aspetos posturais e ergonómicos. Rev.
Esc. Enf. USP, v. 34, n.º 2.

Correia, G. (2010). Higiene, saúde e segurança no trabalho. CEF Cursos de Educação e Formação. Porto Editora.

Cotrim (s/ano). A ergonomia em contexto hospitalar. Departamento de Ergonomia, Faculdade de Motricidade


Humana; Cruz Quebrada.

Freitas, L. C. (2008). Segurança e saúde do trabalho. Edições Sílabo. (1ª edição). Lisboa.
Referências Bibliográficas
Gaspar, C. (2002). Ergonomia dos locais e postos de trabalho. Instituto de Emprego e formação
Profissional (1.ª edição).
 
Otero, C., Matos, C., Costa, J. (2001). Segurança, higiene e saúde no trabalho - guia do
formando. Instituto de Emprego e Formação Profissional.

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