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Conceitualização Cognitiva

Apresentação geral

Profa. Dra. Angela Donato Oliva


Aula 02
Conceitualização:
Apresentação Geral
TÓPICOS

01. Definições
02. Aspectos gerais da conceitualização
03. Dificuldades e questões
01. Algumas definições
Definições

Conceitualização de caso é um
processo em que terapeuta e cliente
trabalham em
colaboração para primeiro descrever e
depois explicar os problemas que o
cliente
apresenta na terapia. A sua função
primária é guiar a terapia de modo a
aliviar o sofrimento do cliente e a
desenvolver a sua resiliência.

(KUYKEN, PADESKY & DUDLEY, 2010, p. 3)


Definições

A formulação cognitiva de caso pode


ser definida como um conjunto
coerente de inferências explicativas
sobre os fatores que causam e
mantêm os problemas apresentados
por uma pessoa, inferências derivadas
da teoria cognitiva dos transtornos
emocionais.

(KUYKEN, PADESKY & DUDLEY, 2010, p. 3)


Definições

Quando fazemos
um bom trabalho, sentimos que a conceitualização
do caso norteia diretamente cada pergunta, cada
resposta não-verbal, cada intervenção
e o conjunto de ajustes que fazemos
no estilo terapêutico para aprimorar a comunicação
com o paciente. Em outras palavras,
temos uma estratégia cuidadosamente pensada
e não fazemos terapia pela nossa cabeça,
jogando com um conjunto de técnicas.

(WRIGHT, BASCO, & THASE, 2008, p. 28)


É um tipo de moldura/enquadramento que
permite desenhar, de maneira conjunta com
o cliente, o histórico dos problemas.

Com isso, busca oferecer chaves de


compreensão das cognições e dos
comportamentos e

Constrói ou desenvolve hipóteses sobre a


etiologia e a manutenção das queixas de
um cliente,

mirando em alvos terapêuticos.


Permite traçar um panorama/mapa
de como o cliente funciona e, a
partir disso, propor a forma mais
eficaz de intervenção.

O manejo adequado da
conceitualização pressupõe que o
terapeuta conheça bem a teoria,
seus pressupostos subjacentes e
as melhores técnicas para o caso
em questão. Fonte: Pixabay, 2021
A conceituação é uma ferramenta que
possivelmente melhora a atuação prática de
TCC.

Ajuda a descrever e a explicar (aquilo que os


clientes apresentam) em um formato teórico
conceitual que faça sentido e seja coerente,
de modo a levar a intervenções eficazes.

É o que leva da avaliação à intervenção


terapêutica.

É a construção de uma teoria idiográfica a Fonte: Pixabay, 2021


partir de uma teoria nomotética (geral).
A conceitualização não captura a vida inteira
de um cliente, mas busca identificar
dificuldades em meio às forças e fraquezas
dos clientes nas dimensões cognitivas,
emocionais, situacionais e comportamentais.

É um processo fluido; sofre modificações


constantemente.

Baseia-se nas informações do cliente


(variação do relato nas sucessivas sessões).

É uma hipótese em evolução que tanto Fonte: Pixabay, 2021


informa quanto é informada pela terapia.

Nunca estará tecnicamente “completa”.


A conceitualização ajuda o terapeuta a
distinguir entre déficits de habilidade e o
papel das crenças no relato do cliente. Fonte: Pixabay, 2021

Cliente pode ser assertivo em alguns


contextos (no trabalho) e não em outros (fica
inseguro nos relacionamentos pelas crenças
e não por deficiência de assertividade).

Fonte: Pixabay, 2021

(Easden & Kazantzis, 2017)


2. Aspectos gerais
Conceitualização Cognitiva

Traçar um panorama de como o Propor forma eficaz de


cliente funciona intervenção

Conceitualizar caso
(técnica de compreensão do caso)

Maior adesão ao tratamento por parte do cliente

Eficácia
No trabalho de conceitualização o
terapeuta busca identificar as crenças
centrais, as crenças intermediárias, as
suposições, as regras e estratégias
comportamentais de situações narradas
(Young & Beck, 1980). Fonte: Pixabay, 2021

Facilita distinguir entre situações que


demandam reestruturação ou aceitação.

Fonte: - iStock 2021


Considerações sobre modularidade mental:

Para fazer uma boa conceitualização é preciso ter em


mente o modelo cognitivo do funcionamento mental
Modelo cognitivo do funcionamento mental
Níveis de cognição

Palavras/ imagens / respostas


rápidas aos contextos com
avaliações sobre o significado
P. A. de episódios. Nível mais
superficial de cognição.

Regras, suposições,
pressupostos. Se apresentam
C. I. de modo inflexível e
imperativo: “se... então” ou
“deveria”.
Desenvolvidas na infância nas
C. C. interações com figuras
significativas. Se relacionam ao
indivíduo, às outras pessoas e
ao futuro.

Beck (2005) – Teoria dos modos – ativação se torna disfuncional quando não está
condizente com o contexto/evidências.
Conceitualização é uma forma de ajustar as técnicas de intervenção da TCC às
necessidades do cliente (A. T. Beck et al., 1979; J. Beck, 1995, 2007) .
Pode assumir diferentes formatos em função do foco:

a) Foco na situação problema. Essa forma de conceitualização é equivalente à


“análise funcional” e se assemelha à estrutura “ABC”* da terapia comportamental
emotiva racional de Ellis - Identificar os antecedentes da situação, as experiências
cognitivas, emocionais fisiológias e comportamentais e também as
consequências. *evento ativa (A) crenças individuais (B) que geram
consequências (C) emocionais, comportamentais e fisiológicas.

b) Foco no padrão de pensamentos, emoções e comportamentos que ocorrem em


diferentes situações. Nesse caso a tarefa da conceitualização busca mapear
experiências chave de desenvolvimento, crenças centrais, intermediárias, regras e
suposições, valores, déficts de habilidades. E assim...

(Easden & Kazantzis, 2017)


Foco na história

O formato de conceitualização que incorpora estilos de apego e de valores na história


de vida (e também identifica os principais pensamentos, emoções, comportamentos e
reações fisiológicas em diversas situações problemáticas) ,

oferece uma compreensão abrangente da etiologia e manutenção dos problemas


dentro de um contexto histórico.

(Easden & Kazantzis, 2017)


03. Dificuldades e questões
Algumas dificuldades:
Como o terapeuta começa?

Passo 1 Passo 3
R: Identifica as variáveis R: Traça um plano de tratamento, que possa ser
(independentes/situacionais e as abrangente e instrumentalize o cliente para que
intervenientes) que deflagram ou mantêm o ele possa fazer frente a situações semelhantes
problema (a queixa) – essa queixa pode ser ou diferentes
descrita como um transtorno ou não.

Passo 2
R: Avalia o quanto isso é funcional ou
disfuncional.
Questões para reflexão

A conceitualização pode ser É o princípio-chave que


submetida à pesquisa? sustenta a TCC.
Conceitualização precisa É a pedra angular.
estar baseada em
evidências?

Ela é o coração da prática “Impressão digital”


baseada em evidência.
É o elo que une teoria e “Íris psicológica”
prática.

(Beck, Freeman, Davis e cols., 2005)


Algumas considerações

Como o terapeuta escolhe o Qual a melhor


protocolo de tratamento? conceitualização?
R: Fazendo a conceitualização do caso R: A que utiliza as informações do cliente e as
melhores evidências técnicas e teóricas
disponíveis

Há uma única maneira de A conceitualização termina


conceitualizar? quando?
R: Não. R: Não termina, é um processo contínuo.

(Beck, Freeman, Davis e cols., 2005)


Respondendo questões
Da descrição para a explicação

Descreve problemas com Resultados de pesquisa


fidedignidade pífios
O mais das vezes sim. Quando se baseiam na conceitualização
unilateral do terapeuta, sem teste de hipóteses.

Explica com segurança o Como melhorar a confiança


funcionamento mental? do processo?
Dificuldade de certeza sobre os mecanismos Tornando o cliente parte do processo
subjacentes. psicoterápico.

(Beck, Freeman, Davis e cols., 2005)


Aplicação de um modelo conceitual

Foco no transtorno? Leito de Procusto


É necessário levar em conta as especificidades Não é o cliente que se ajusta ao modelo.
do cliente, presença de comorbidades.
Se a hipótese diagnóstica orienta o tratamento,
o foco é o sintoma.

Foco no modelo teórico? Cada indivíduo uma


conceitualização?
Ajuste do modelo teórico ao caso específico.
Sim. P.A.s, crenças intermediárias e centrais em
um caleidoscópio .
Anos 2000, Barlow, Protocolo Unificado
Transdiagnóstico (PUT). Comorbidades -
alguns diagnósticos podem compartilhar
determinados fatores comuns de regulação
emocional.
Em Síntese...
Conceitualização Cognitiva:

ü é um guia para as intervenções;

ü organiza os dados do cliente;

ü mantém o foco do atendimento;

ü prioriza estratégias para conduzir o tratamento da melhor forma.

(Easden & Kazantzis, 2017)


Referências bibliográficas

BECK, A. T. (2005). Além da crença: Uma teoria de modos, personalidade e psicopatologia. In P. M. Salkovskis
(Ed.), Fronteiras da terapia cognitiva (pp. 21-40). São Paulo: Casa do Psicólogo.

BIELING, P. J. & KUYKEN, W. (2003). Is Cognitive Case Formulation Science or Science Fiction?. Clinical
Psychology: Science and Practise, 10 (1), 53-69.

EASDEN, M. & KAZANTZIS, N. (2017). Case conceptualization research in cogntive behavior therapy: A state of the
science review. J. Clin. Psychol. (1-29) https://doi.org/10.1002/jclp.22516

KUYKEN, W., PADESKY, C. A., & DUDLEY, R. (2010). Conceitualização de Casos Colaborativa: o trabalho em equipe
com pacientes em terapia cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed.

WRIGHT, J. H., BASCO, M. R., & THASE, M. E. (2008). Aprendendo a Terapia Cognitivo-Comportamental: Um Guia
Ilustrado. Porto Alegre: Artmed.

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