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Princípios fundamentais

Continuando nosso módulo introdutório sobre a Terapia Cognitivo-Comportamental


(TCC), vamos estudar nessa aula os princípios fundamentais dessa terapia. Sendo
assim, um dos princípios básicos que a TCC defende é que a atividade cognitiva
pode ser alterada, modificada e monitorada. É através da monitoração que será
possível realizar a modificação dessa cognição. Além disso, uma outra premissa do
modelo cognitivo aponta que o comportamento desejado pode ser alcançado
através da mudança cognitiva (ALFORD; BECK, 1997).

Ao fazer uma analogia do modelo da TCC com a arquitetura de um prédio é


possível inferir que as crenças nucleares apareceriam como uma fundação - aquilo
que está na base, enraizado e que dá sustentação a todas as estruturas do prédio;
as crenças intermediárias seriam os pilares do prédio, que o mantém em pé; e o que
intermedia a fundação e o reboco, seriam os pensamentos automáticos, que
estariam mais visíveis, no âmbito externo.

Aaron Beck (1997) formulou o conceito de tríade cognitiva, que é composta pela
visão que cada um tem de si mesmo, a visão que tem do outro e, por fim, do
mundo. Quando essa tríade está comprometida, a vivência de um indivíduo no
mundo passa a ser diretamente afetada, podendo tornar-se disfuncional ​(BECK,
2021; WRIGHT et al., 2019). Por exemplo, a tríade de um paciente deprimido
consiste na visão deturpada que ele tem de si, ao se achar um fracassado e
incapaz; na visão que ele tem de terceiros, ao acreditar que as pessoas são
maldosas e, concomitante a isso, a visão de que o mundo é um lugar perigoso e
que não vai mudar.

A TCC, de acordo com Beck (2021) é uma psicoterapia voltada para o presente,
com ênfase para a resolução de problemas, direcionada para a ação. Além
disso, a TCC é um tipo de psicoterapia pedagógica, através do processo de
psicoeducação (a condução de uma explicação colaborativa), que a torna uma

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terapia pedagógica. Outro elemento importante é que a TCC possui sessões


estruturadas, subdivididas em sessões iniciais, sessões intermediárias e sessões
finais, sendo que cada um desses momentos possui estruturas específicas de
acordo com os seus objetivos (BECK, 2013).

A TCC, como bem explica Beck (2013), é uma abordagem que envolve a aplicação
de técnicas fundamentadas para auxiliar o paciente no desenvolvimento de
novas habilidades e comportamentos. Além disso, a TCC trabalha com a
prevenção de recaídas que possui o objetivo de preparar o paciente para identificar
possíveis fatores desencadeantes e possuir um plano para enfrentar a situação de
maneira adaptativa. Outra premissa da TCC é que ela possui um marcador
temporal. Essa limitação em relação ao tempo ocorre por se tratar de uma terapia
estruturada com início, meio e fim, ou seja, não dura para sempre.

Em relação aos pressupostos teóricos, Aaron Beck se inspirou nas teorias


humanistas, principalmente da Abordagem Centrada na Pessoa. A partir dessas
teorias, Beck fundamentou a sua prática valorizando a empatia, a cordialidade,
a escuta humanizada e o estabelecimento de vínculo com o paciente. Com
isso, a construção de uma aliança terapêutica consolidada é essencial para o
desenvolvimento da psicoterapia, uma vez que é necessário o engajamento do
paciente para a realização das atividades terapêuticas (BECK et al., 1997).

Outro conceito valioso a ser mencionado é o empirismo colaborativo, que é a


capacidade do terapeuta de envolver o cliente ao longo de todo o processo,
dividindo com esse a responsabilidade do sucesso ou fracasso da terapia. E isso
fica claro quando damos importância ao feedback e avaliação da sessão por parte
do cliente, quando esse coloca em prática, através dos planos de ação, os métodos
aprendidos da TCC e quando ele participa da construção da agenda colaborativa de
cada sessão. Ou seja, o trabalho na TCC é colaborativo do início ao fim. Até porque,
um dos objetivos finais da TCC é tornar cada cliente seu próprio terapeuta (BECK,
2021; WRIGHT et al., 2019).

A construção da psicoterapia, como já vimos anteriormente, é pautada no modelo


cognitivo e nos três pilares centrais, que são as crenças nucleares, as crenças

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intermediárias e os pensamentos automáticos. As crenças nucleares podem ser


compreendidas como ideias, conceitos enraizados e fundamentais acerca de
nós mesmos. Elas sempre se apresentam no formato de “sou….” e o indivíduo
tende a acreditar nessas crenças nucleares de maneira irrefutável, sem a
possibilidades de duvidar delas. Dessa forma, o objetivo principal de se trabalhar
as crenças nucleares dentro do modelo cognitivo não é zerar as crenças
negativas, mas sim alcançar o equilíbrio entre as crenças positivas e
negativas, avaliando-as a partir de dados da realidade, de evidências, a fim de
torná-las realistas (BECK, 2021).

Diante disso, Judith Beck (2021) classifica as crenças centrais em três categorias:
desamor, desamparo e desvalor. Sendo assim, as crenças de desamor estão
associadas às relações afetivas, voltadas ao relacionamento e demonstram uma
certeza irracional de não ser digno de amor, de ser sozinho, de não ser querido e
amado pelas pessoas. As crenças de desamparo, por sua vez, implicam na ideia
central de ser vulnerável, insuficiente, impotente, frágil. E a crença de desvalor,
refere-se à certeza de ser uma pessoa ruim, sem valor, entre outros.

As crenças nucleares influenciam o desenvolvimento de uma classe


intermediária de crenças, que são as atitudes, as regras e os pressupostos.
Elas se manifestam baseadas na relação de “se… então…” e, embora não tão
passíveis de modificação por serem rígidas, ainda são mais maleáveis do que as
crenças nucleares. Portanto, a psicoterapia em TCC irá atuar no processo de
exposição comportamental (fazer o paciente se submeter ao que ele mais teme)
com o intuito de auxiliar na flexibilização e reestruturação dessas crenças ​(BECK,
2021; WRIGHT et al., 2019).

As crenças intermediárias costumam estar acompanhadas de estratégias


compensatórias, que são comportamentos sistemáticos adotados com o objetivo
de tolerar algum desconforto e lidar com a crença nuclear do indivíduo, mas que
também geram grandes prejuízos. As estratégias compensatórias acabam por
fortalecer as crenças nucleares, já que perpetuam o que o paciente acredita
ser (BECK, 2021; WRIGHT et al., 2019).

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As estratégias compensatórias se dividem em manutenção, evitação e hiper


compensação (BECK, 2021; WRIGHT et al., 2019). A manutenção seria uma
forma de reforçar diretamente as crenças nucleares. Por exemplo: uma pessoa com
a crença de que não nunca vai ser amado, pode tender a terminar um
relacionamento sempre que este estiver caminhando para algo mais sério. A
estratégia de evitação diz respeito ao comportamento evitativo, de não enfrentar as
situações que causam desconforto. Exemplo: não se relacionar com ninguém pelo
medo de ser rejeitado. A estratégia de hipercompensação evidencia um
comportamento oposto ao medo ou receio do paciente. Exemplo: o paciente acha
que não vai dar certo com ninguém, mas acaba se relacionando demais e com
muitos parceiros ao mesmo tempo.

Os pensamentos automáticos parecem surgir espontaneamente, eles


geralmente são muito rápidos, breves e podem ser quase imperceptíveis
(KNAPP, 2004). Eles são os mais acessíveis na psicoterapia e, através do Registro
de Pensamentos Disfuncionais (RPD), é possível monitorá-los e modificá-los. Além
disso, é a partir de determinados pensamentos automáticos que é possível, por
meio da seta descendente, chegar às crenças nucleares do paciente.

E por fim, o diagrama de conceitualização1, espinha dorsal do tratamento através


da TCC, é composto por diversas informações sobre o indivíduo e é o principal
recurso para realizar uma avaliação histórica e prospectiva de padrões e
estilos de pensamentos, emoções e comportamentos do paciente (BECK,
2021). Por isso é tão importante aprender como construí-lo e como utilizá-lo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo das aulas desse módulo foi apresentar os conceitos fundamentais da


TCC, pois é muito importante que você os compreenda e domine. Entre eles estão:
pensamentos automáticos, crenças intermediárias e crenças nucleares. Além disso,
os pilares da TCC também precisam estar claros para você que são: psicoeducação
(visando tornar o paciente em seu próprio terapeuta); fortalecimento da autoeficácia

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O modelo desse diagrama se encontra anexo a aula sobre princípios fundamentais, dentro do
módulo 1 no Club.

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do paciente através dos planos de ação, por exemplo; e automonitoração, pois é


imprescindível que o paciente aprenda a se automonitorar a fim de identificar os
seus pensamentos automáticos. Chamamos esse processo de automonitoração de
metacognição que é a capacidade de pensar sobre os próprios pensamentos, pois é
a partir disso que a reestruturação cognitiva se torna possível.

REFERÊNCIAS

ALFORD, B. A.; BECK, A. T. The integrative power of cognitive therapy. New


York: Guilford Press, 1997.

BECK, A. T. et al. Terapia cognitiva da depressão. Porto Alegre: Artes Médicas,


1997.

BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 3 ed. Porto


Alegre: Artmed, 2021.

BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 2. ed. Porto


Alegre: Artmed, 2013.

KNAPP, P. Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática Psiquiátrica. Porto


Alegre: Artmed, 2004.

WRIGHT, J. H. Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: um guia


ilustrado. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.

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