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Universidade de Lisboa

Faculdade de Arquitetura

Arte e Arquitetura
1º Ano da Turma C, do Mestrado Integrado de Arquitetura em Interiores e
Reabilitação do Edificado

Disciplina: História da Arte Contemporânea


Docente: Raffaella Maddaluno

Maria Ferreira Possidónio, nº20211359


Dezembro de 2021

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Contextualização
Entre os temas abordados, na elaboração do enunciado, o que sobressaiu entre os
demais, foi o da Arquitetura Efêmera tema que irei desenvolver ao longo deste
exercício individual.
1.1 Introdução
Data desde a época barroca, e os seus primeiros indícios podem recuar até ao século
XVI, onde pretendia exibir o luxo e a opulência das classes mais abastadas. C-
Contrastando com a sua atual utilização, podemos concluir, que na sociedade
contemporânea o seu uso é precisamente o contrário.
Dentro da temática das instalações, e cumprindo o seu único dever, o de trabalhar
com o instantâneo, a arquitetura efêmera segue para diversas vertentes,
experimental, reutilizável, transformável e sobretudo adaptável.
1.2 A relação do artista com a efemeridade
Observamos que na maioria destas obras, o artista, apesar de na grande maioria das
vezes estar “condicionado”, parece, porém, que o seu rendimento é maior quanto,
maior for o seu sacrifício no projeto. É lhe reduzido o tempo, a verba, o espaço dentro
de certos limites, e é evidente: a sua imaginação trabalhará mais acesa. Estas obras
podem ser o desabafo dos arquitetos pela vida profissional fora, quando, não tem
ocasiões frequentes de sonhar, como sonharam na escola.
A arquitetura efémera é uma espécie de aventura dentro da arquitetura. Muitas
vezes estas obras contêm mais rasgo e liberdade de expressão que aquelas destinadas
a ficar, e que foram «castigada», «massacradas» pela obsessão de responsabilidade
que cria, no arquiteto a ideia de serem para sempre.
Porque o artista nunca deixará de pensar no futuro das suas obras, e nas efémeras o
futuro confunde-se com o presente

1.3 A cidade como o palco da nova Arquitetura


É curioso, como podemos observar, as profundas mudanças que ocorreram na cidade
nas últimas décadas, e nas suas novas formas de exposição e atividades culturais que
estão a decorrer.
O sociólogo, Zygmunt Bauman, afirma que já passamos para uma fase de
modernidade “líquida” - uma fase que, como um líquido, “não pode manter sua forma
por muito tempo”.
Todas as estruturas expositivas, retém um caracter de exclusividade, ou seja, tudo o
que está compreendido entre um espaço limitado de tempo, desperta uma conexão
profunda com o público, e especialmente a ideia de que o espectador visiona a
montagem, interage com ela muitas das vezes, (na maioria estes projetos oferecem
uma maior interação e participação), e no fim visiona de novo a desmontagem,
concluímos que este espectador já pertente à obra, ele está eternamente liga a todo o
seu processo e por isso ela lhe pertence.
Segundo o arquiteto Giovanni La Varra, que batizou a esta nova era “The Post it City”,
estas dinâmicas reescrevem temporariamente os espaços que preenchem, e são uma
“forma de resistência” à normalização do “comportamento público” à paisagem
quotidiana.
A utilização do espaço público é fundamental, sem ele as cidades não podiam
funcionar, ele fornece o local para trocas e transações informais, e é onde os cidadãos
se encontram, conversam, desfilam e se prevalecem. É a essência onde floresce a vida
cívica. A forma como “o espaço público é visto, também muda o foco tradicional em
praças formais, parques e calçadas para uma conceção mais ampla que reconhece o
valor de espaços de “sobra” formais menos, e os usos cotidianos que aí ocorrem.

2. Exemplos de Arquitetura Efémera


2.1 Bar da Associação de Estudantes da FAUP

Temporary Bar, Queima das Fitas Porto, é o nome da obra acima, criada pelos
arquitetos Diogo Aguiar e Teresa Otto. A implantação pré-definida, a rápida construção

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e o orçamento reduzido são premissas que têm de ser consideradas tendo em conta
que este projeto está inserido dentro de um concurso anual de criação de um bar.
Neste projeto foram utilizadas 420 caixas de plástico do Ikea, organizadas, em oficina,
em 4 tipos de módulos – caixas fixas a estruturas secundárias em madeira, num total
de 46 módulos, posteriormente montados sobre a estrutura principal em metal, já no
local. Construído somente numa semana. Sendo temporário, o bar é uma estrutura
leve pensada num sistema de pré-fabricação. O fácil transporte dos elementos que o
constituem assim como a sua eficaz montagem foram considerados desde a fase
inicial, reduzindo logo à partida o custo final. Por outro lado, as caixas, em plástico
polipropileno, são altamente recicláveis e reutilizáveis, e a utilização de iluminação por
LED, multi-cromática, tem um baixo consumo de energia.
Para mim este projeto abrange perfeitamente, os ideias da arquitetura efémera,de
poder “brincar” com as estruturas , neste caso utilizar as caixas de plástico dando-lhes
uma diferente forma e plasticidade e iluminando-as com as luzes led, durante a noite,
cria algo que tem uma presença diferente no espaço em que se encontra, algo que
anualmente vai mudando, cria uma diferente presença nos seus espectadores, neste
caso estudante.
2.2 Pavilhão “Bookworm”, India

O estúdio de arquitetura indiano Nudes projetou o sinuoso pavilhão BookWorm para


incentivar a leitura entre crianças e adultos.
Está localizado nos jardins do Museu Chhatrapati Shivaji Maharaj Vastu Sangrahalaya
(CSMVS) em Mumbai. O propósito da construção deste pavilhão como proposta à
Meta de Meta de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas de que todos os
jovens e uma proporção substancial de adultos alcancem a alfabetização até 2030.
O pavilhão tem 35 metros serpenteia pelos jardins do museu. A obra é realizada com
duas estruturas modulares simples baseadas em escadas de madeira que se estendem
para fora, utilizando cerca de 3600 modulares pré-fabricados para abrigar os livros e os
espaços de leitura, criando formas ondulares em ambos os lados formando um
caminho central.
O pavilhão tem uma pegada de carbono baixa e promove tecnologias de construção
sustentáveis para abrigar atividades de leitura e leitura de histórias em voz alta para
todos os membros da sociedade.
À medida que a cidade se torna cada vez mais complexa (étnica, cultural, econômica e
socialmente) e se torna cada vez mais densamente desenvolvida e lotada, a gama de
usos do espaço urbano está se ampliando, e este projeto abriga justamente isso,
empenhando se a resolver o facto de aproximadamente 750 milhões de pessoas na
India com mais de 15 anos ainda não possuem habilidades básicas de leitura e escrita.
Provando que esta atividade dentro dos campos do museu apesar de efêmera, altera a
vida das pessoas que passam por e ela e especialmente que interagem também.
2.3 Pavilhão” Echo” Itália

O Echo Pavilion, realizado pelo atelier de arquitetura chileno Pezo Von Ellrichshausen
e construído dentro do palazzo litta barroco de Milão (1761) para a edição de 2019 da
semana do Design de Milão.
Os dois arquitetos defendem que esta instalação se assemelha vagamente com a
história de uma ninfa solitária que só podia repetir as últimas palavras ditas por outra
pessoa. Este pavilhão proposto é um eco direto da arquitetura histórica à sua volta.

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A parte superior, é uma pirâmide invertida que se estende simetricamente em todas as
direções obscurecendo as vistas do pallazo litta.
Esta é uma instalação “enganadora”, e é caracterizada, por recuar e expandir, ser
visível e invisível, sólido e etéreo.
Este pavilhão é extremamente interessante, por não ignorar a história que tem ao seu
redor e sim envolvê-la, refletindo não só as fachadas, como o pavimento de pedra, as
colunatas e o corredor além. O espectador tem outro sentimento ao visitar esta
instalação, um sentimento completamente diferente, se a estrutura não se
encontrasse ali, quando o espectador vagueia aproximadamente dos painéis de aço
inoxidável, olhando para cima observara-se refletido em um teto impressionante
inclinado. Para além de tudo, este panorama carregar uma força enorme, possuindo
um aspeto cenográfico e uma relação curiosa com a ideia de instalação e arte.
“Em sua simplicidade radical, o pavilhão se tornará uma presença imaterial que,
quase como em uma miragem fugaz, irá capturar a beleza discreta do palácio de
trezentos e setenta anos em suas superfícies planas" Pezo Von Ellrichshausen
2.4 The End of Sitting, Holanda

“O fim da cadeira” é uma instalação realizada pelo atelier de arquitetura RAAAF e a


artista visual Barbara Visser desenvolveram um conceito em que a cadeira e a mesa
não são mais pontos de partida inquestionáveis.
O projeto engloba as artes visuais, arquitetura, filosofia e ciência empírica.
Na sociedade ocidental em que nos enquadramos, o tempo que passamos, foi
concessionado quase todo à volta de estarmos sentados, o que medicamente está
provado que demasiado tempo sentados irá prejudica a nossa saúde.
Toda esta instalação traz a possibilidade aos seus visitantes de experimentarem uma
nova forma de trabalharem, experimentando diversas posições confortáveis em pé, e
o facto de estar inserida num escritório desafia a necessidade e a comodidade,”
obrigatória” de se estar sentado numa secretária.
The End of Sitting abre toda uma nova porta de mudanças para alterar o ambiente de
trabalho. Utilizando também uma superfície com planos geométricos em vários
ângulos construída com molduras de madeira compensada e uma variante de cimento
que enche a sala em que se encontra, algo que ao início parece estranho, mas que
depois se entranha. Para os visitantes é quase uma volta à infância, pois raramente
vemos crianças sentadas a trabalhar.

2.5 Contentor, Sevilha

No seu primeiro projeto, o arquiteto Santiago Cirugeda, converteu um contentor de


obras, em um autogerido e autoconstruído playground itinerante, que se pode
transformar em um baloiço, em um balançé, em um palco de flamengo que poderia
ser colocada em qualquer lugar, com o intuito de devolver o espaço público de volta à
população para se usufruir dele.
No The Guardian, o arquiteto defendeu “Gosto dos confrontos com tecnocratas e
políticos, mas acima de tudo gosto de construir os meus próprios projetos em Sevilha, a
crise afeta a todos, estamos dentro uma situação desesperadora e com muita injustiça
na forma como as coisas estão a ser feitas. E quanto todas estas casas vazias e
terrenos não utilizadas? Existem muitas situações que me interessam - como arquiteto
e como cidadão. “

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2.5.1 Aranã

Esta instalação é um protótipo, que funciona como uma prótese e ocupa os edifícios e
o espaço público.
É uma instalação é capaz de hospedar diferentes programas e atividades, e pode ser
movido facilmente, permitindo exibir outros sistemas sob eles. Ao mesmo tempo,
podendo conectar os diferentes edifícios à sua volta.
As suas intervenções tendem a utilizar a arquitetura e arte em função da causa social,
mas é impossível distinguir na sua obra a política da arte. A forma com trabalha na
conceção em “Arãna” e no “Contentor”, ao criar estruturas artisticamente relevantes,
e curiosas que nos levam a pensar e a questionar os nossos dogmas acerca da
arquitetura, da arte e da efemeridade.
Ambas as suas duas obras, transcendem a questão estética focando-se na questão
social e preenchendo a necessidade das pessoas.
As artes não têm disciplina, é impossível esgotarmo-la e aparecem nos locais mais
inesperados. Nem sempre engloba uma vertente estética, apesar de ser muito
relevante nem sempre é necessário. A arquitetura terá sempre a capacidade da artes.
Algumas vezes conscientemente e outras vezes não, como observamos em Arãna.
Existe arte relacional e existe arte política. Especialmente quando adicionamos as
camadas de todo o processo. Múltiplas vezes a arte ultrapassa a arquitetura, pois, não
deve estar regulada nem condicionada por qualquer tipo de leis. Ambas as instalações
estão inscritas em diferentes contextos, mas ambas carregam um grande significado,
carregam uma mudança no panorama da cidade, da arquitetura e no verdadeiro
propósito e ao seu nível artístico.
O atelier Recetas Urbanas empenha-se a devolver a cidade aos seus cidadãos, e utiliza
material disponível, doado e muito reciclado.
Une também a disponibilidade com a habilidade da mão de obra, e encurta a ligação
entre arquiteto/artista a cidadão construído ele próprio e em conjunto com os
habitantes.

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