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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL


ESPECIAL DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE
SALVADOR.

Proc. nº140.96.xxxxx-0
Acusado: JJ

JJ, já qualificado nos autos do processo supra, por seu advogado


que subscreve a presente, constituído através de procuração, com endereço
a Rua ______________, nesta capital, vem a presença de V. Exa. apresentar
a defesa final, da forma a seguir:

DA PRELIMINAR DA PERDA DO PRAZO DA


REPRESENTAÇÃO E DA NÃO REALIZAÇÃO DE EXAME
COMPLEMENTAR PELAS VÍTIMAS.

A representação, às fls.107, formulada em 04/12/98 contra o


denunciado é intempestiva, estando precluso a manifestação da vontade do
ofendido perante os delitos amparados por essa imposição legal.

Observe-se, nos autos, que não existe qualquer exame


complementar, exigido por lei, que qualifique a lesão acometida as duas
vítimas.
DA LAMENTÁVEL CULPA DA VÍTIMA PELO
SINISTRO.

Atribui-se equivocadamente ao acusado na presente ação penal, a


CULPA a título de homicídio culposo e lesão corporal, apenas com
respaldo na conclusão inconsistente de uma precipitada visualização das
peças dos autos, quando em verdade, o evento decorreu apenas por
CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA, como demonstraremos com
riqueza de detalhes:

O Relatório do Inquérito Policial que foi atribuída ao caso, por sua


relatora, Bela. MC (fls. 61), disse:

"... que o acidente teve como causa direta


ou imediata a velocidade incompatível para com
a distância de segurança pelo Escort, pp. UR-
2222, que, por não haver estabelecido espaço
físico suficiente para o caminhão... "
Ainda, neste relatório extrai-se que:

"... desenvolvendo velocidade de 60 a 70 Km quando o caminhão


compactador trancou as rodas momento em que o Escort colidiu no fundo
no fundo do veículo... que JJ evadiu-se do local medo de represálias...”.

Não é demais ressaltar que o acusado, somente evadiu-se do local


do sinistro face ao iminente linchamento por populares, como efetivamente
se observa nos depoimentos já declinados.

DA IMPREVISIBILIDADE DO EVENTO E DA NÃO


CONSEGUÊNCIA LÓGICA DA CONDUTA DO RÉU COM O
SINISTRO.

A peça acusatória incide sobre o aumento da pena por inobservância


de regra técnica, onde na verdade faltam elementos para caracterizar a
conduta proposta pelo parquet, já que o acusado não ocasinou o acidente,
e o seu resultado não foi uma conseqüência lógica de sua conduta,
mesmo porque, como se vê nos autos, os dois veículos desviaram do
caminhão e o Escort sinistrado infelizmente não conseguiu, chocando com a
traseira do caminhão, certamente em função de sua velocidade incompatível
e o desobedecimento da distância regular exigida, como descreve o Laudo
pericial.

A conduta do réu não ocasionou o sinistro, repito, pois o caminhão


permanecia parado por um defeito imperceptível, como se vê na foto “R”
(fls. 38) que comprova que a mangueira do caminhão partiu repentinamente
elucidando qualquer dúvida, por efeito, não se pode atribuir culpabilidade
ao seu condutor, fato que foge de sua esfera, já que a responsabilidade pela
manutenção mecânica é o setor de transporte da Limpurb, empresa
proprietária do caminhão compactador.

Isso nos leva afirmar que houve um evento imprevisível, pois


apesar da parada repentina por defeito mecânico, este evento não
necessariamente geraria o citado sinistro, onde dois caminhões
desviaram e o Escort poderia tê-lo feito também.

Outrossim, a atual lei de trânsito não proíbe o acesso a esquerda e


da posição final dos veículos tiramos como prova clara que o caminhão
parou a esquerda por falha mecânica, e que não havia acostamento, como
podemos observar nas demais fotos no laudo nº 07154/93, as fls. 32 a 40, e
que autoriza o Código Trânsito Brasileiro, podia ser mantido naquela
situação, vejamos o direito pátrio:

Art. 90. Quando, por motivo de força


maior, um veículo não puder ser
removido da pista de rolamento ou deva
permanecer no respectivo
acostamento, o condutor deverá
colocar sinalização de forma a prevenir
aos demais motoristas.
DA FARTA PROVA MATERIAL E TESTEMUNHAL –
INOCÊNCIA DO ACUSADO.

O Boletim de Ocorrência e o croqui da Policial Rodoviária


Federal (fls. 15), demonstra que houve CHOQUE e que o veículo da vítima
atingiu o FUNDO do caminhão compactador da Limpurb.

O Laudo de exame Pericial (fls. 26 a 30), relata claramente:


“...houve colisão, leve aclive, traçado retilíneo,
iluminação dia claro e límpido, boa visibilidade,
condições de pista boas, condições atmosféricas
normais...”

“... o caminhão BC-


As fls. 28, II, a perícia relata que:
4230, indicava as duas rodas traseiras travadas
em conseqüência da mengüeira do freio Ter
partido antes do acidente...”.
Na etiologia do acidente, o mencionado laudo explica:
“...observando a marca de frenagem, impressa na pavimentação, deixada
pelo pneu dianteiro esquerdo do escort, que tomada da posição inicial do
freio até onde o veículo parou, mediu 15 mts, era o início me que o
condutor no momento em que percebeu a iminência da colisão
e acionou os freios, contudo não conseguiu evitar a colisão,
devido o veículo haver atingido a área de não escape...”.

A perícia perfaz sua conclusão: “...o


acidente teve como
causa direta ou imediata a velocidade
incompatível, para com a distância de segurança,
desenvolvida pelo escort, pp. UR-4699, que por
não haver estabelecido espaço fisico suficiente
para o caminhão colidiu coma traseira direita do
mesmo...”
DO EXCESSO DE VELOCIDADE E
DESOBEDECIMENTO DA DISTÂNCIA DE SEGURANÇA
PELA VÍTIMA, EXIGIDA PELA LEGISLAÇÃO VIGENTE.

Urge que se demonstre, pelo depoimento das vítimas e testemunhas


que o acidente, lamentavelmente, só ocorreu por excesso de velocidade e
desobedecimento da distância regular exigida, decorrendo, por efeito,
no falecimento do condutor do veículo infrator e sua irmã, como relatam
as próprias testemunhas de acusação. Vejamos.

Nas declarações da vítima, MV (fls. 09), diz:

"... no mesmo sentido vinha dois ônibus na frente, os mesmo


conseguiram desviar do caminhão da Limpurb, tal qual não foi a sorte do
seu marido que não conseguiu desviar do caminhão, vindo a bater no
fundo...”.

Ratificando em juízo, as fls. 84, que: “... o esposo da declarante


sequer conseguiu realizar uma ultrapassagem pois havia um caminhão da
Limpurb parado na pista de velocidade, pelo que o esposo da declarante
tentou desviar-se do caminhão, livrando a declarante e sua filha, ... pelo
que veio chocar-se como caminhão , morrendo e causando a quebra do
braço direito da declarante...”.

A declaração da outra vítima, VS (fls.20), simplesmente aduz:

"...repentinamente sentiu o impacto, perdendo o imediato o


sentido...”.

Ratificando as fls. 84, que: “... que ouviu falar que o caminhão
estava parado na pista de velocidade e quando o ônibus foi para a direita,
saindo da pista de velocidade, o veículo do genitor da declarante deu de
frente como caminhão, chocando-se...”.

Nesta linha a testemunha DS, irmã da vítima VS, as fls. 14, afirma:

“...que o veículo conduzido por Reginardo chocou-se na parte


traseira do caminhão...”
Nas declarações de AS, testemunha de acusação, fls. 46, disse:
“... o caminhão travou as rodas fazendo com que o motorista
parasse o veículo, quando ao terminar de estacionar veio o Escort que
bateu no fundo...”.

Nas declarações da testemunha de acusação RV (fls.83 e 94) afirma:

"...que o caminhão parou na pista e os ajudantes do caminhão


acenaram com mato..."

Nas declarações de AS (fls.120) afirma:

"... que o caminhão vinha me velocidade compatível para o local,


que dois ônibus desviaram do caminhão da Limpurb e o carro que vinha a
atrás, não esperando a parada brusca, colidiu com o caminhão... o escort
vinha com velocidade acima de 80 Kms..."

Nas declarações do Policial Rodoviário PB (fls. 122), afirma:

"...que o Escort havia encaixado no fundo do caminhão, que não


ouviu que o caminhão estava em excesso de velocidade, que oubiu falar que
o Escort ia ultrapassar outro veículo encontrou o caminhão parado...”.

De mais a mais e como se verifica das lições doutrinárias e


jurisprudências, e como forma de ilustração do caso subjudice, trazemos a
colocação para esclarecer qualquer dúvida sobre a culpabilidade pelo
sinistro.

A jurisprudência pátria é farta em assinalar que se trata de CULPA


EXCLUSIVA DA VÍTIMA, portanto não havendo sustentáculo para
prosseguimento desta ação, existindo, POR FORÇA DE LEI, a necessária
absolvição do acusado. Vejamos:

Tribunal de Alçada do Rio Janeiro


R. C. ACIDENTE DE TRANSITO
APELACAO CIVEL 7611/92 - Reg. 3820
Cod. 92.001.07611 SETIMA CAMARA - Unanime
Juiz: GUALBERTO GONCALVES DE MIRANDA - Julg: 12/08/92
E M E N T A: VEICULO ESTACIONADO IRREGULARMENTE - CULPA
EXCLUSIVA DO MOTORISTA. Colisao de veiculos. O simples fato de provocar um
choque com um objeto fixo (veiculo estacionado) e' prova suficiente de culpa.
Ementario : 05/93
Num. ementa : 35251
Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul
RECURSO : APC - NUMERO : 25891
DATA : 01/10/1981
ORGÃO : QUARTA CAMARA CIVEL
RELATOR : ALFREDO GUILHERME ENGLERT - ORIGEM : BAGE
ACIDENTE DE TRANSITO. PROVA RECOLHIDA NO SENTIDO DE QUE O
VEICULO DO REU TRAFEGAVA EM VELOCIDADE INADEQUADA, EIS QUE OS
DANOS FORAM DA MONTA, DESTACANDO-SE QUE O CARRO DO AUTOR, UM
CORCEL, QUE ESTAVA ESTACIONADO, RODOPIOU INTEGRALMENTE, EM VISTA
DO CHOQUE COM O PEQUENO VOLKSWAGEN DO REU. NAO CONFIGURADA A
CULPA DO DENUNCIADO. APELACAO DENEGADA.

Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul


RECURSO : APC - NUMERO : 187045430
DATA : 16/09/1987
ORGÃO : TERCEIRA CAMARA CIVEL
RELATOR : CELESTE VICENTE ROVANI - ORIGEM : CARAZINHO
ACAO DE INDENIZACAO. ACIDENTE DE TRANSITO. ATROPELAMENTO
COM MORTE. CULPA EXCLUSIVA. DEMONSTRAM O EXCESSO DE VELOCIDADE
OS LONGOS SINAIS DE FRENAGEM, O ARREMESSO DA VITIMA A LONGA
DISTANCIA E A PARADA DO VEICULO OCASIONADOR DO ATROPELAMENTO A
MAIS DE SESSENTA METROS DO LOCAL DO CHOQUE. TODO O MOTORISTA
CAUTELOSO A SE DEPARAR COM COLETIVO PARADO REDUZ A MARCHA,
PORQUE E COMUM PASSAGEIRO MENOS AVISADO ATRAVESSAR A RUA OU
ESTRADA SEM OLHAR PARA OS LADOS. A EVITABILIDADE DEFLUI DA
PREVISIBILIDADE, E ESTA ENGENDRA A CULPABILIDADE.
BIBLIOG.: DIAS, JOSE DE AGUIAR. RESPONSABILIDADE CIVIL. 4. ED., 1960,
T-II, P-837. RF. LG. : CNT-83 INC-I, INC-XXIII, LET-A

De tudo demonstrado fica por demais evidente que ação penal


impetrada pelo Ministério Público contra o acusado não deve persistir, haja
visto, pela inexistência do delito de culposo.

Desta forma, espera que inexistindo elementos que autorizem uma


sentença condenatória, a absolvição do acusado, como conseqüência natural
e lógica de provas apresentadas para sustentar a improcedência da denúncia,
pois, assim, V. Exa., estará fazendo por certo valer a mais verdadeira e
imperiosa JUSTIÇA.

Nestes termos
Pede e espera deferimento.
Salvador, 22 de abril de 1998.

Advogado
OAB _____

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