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Grandezas Físicas, Sistemas de Unidades e Representação Vetorial

Prof. Carlos Roberto Grandini, FBSE

Resolver problemas de Física faz uso extensivo da lógica dedutiva. Começa-se com um conjunto
de fatos conhecidos (dado no problema) e um conjunto de equações e definições relevantes (que são
selecionados, com base no problema). Usando lógica e matemática, então se deduz a conclusão (a solução
para o problema). A resolução de problemas é uma das habilidades que se desenvolverá neste curso.
Físicos profissionais resolvem tipos semelhantes de problemas, muitas vezes problemas mais complexos.
Eles também fazem experimentos para tentar deduzir as leis corretas da Natureza. Neste curso, vamos
apresentar algumas das leis da Natureza que foram deduzidas até agora, juntamente com alguns dos
resultados importantes e consequências dessas leis.

Grandezas Físicas

A explicação dos fenômenos da Natureza sugere que eles obedecem a certas leis físicas e um dos
principais objetivos da Física é descobrir essas leis. É conhecido por vários séculos que as leis da Física
são apropriadamente expressas em linguagem matemática, de modo que a Física e a Matemática
desfrutaram de uma conexão muito próxima por um bom tempo. Para conectar o mundo físico ao mundo
matemático, precisamos fazer medidas (ou medições) no mundo real.
Ao fazer uma medida, comparamos uma
grandeza física com algum padrão previamente
estabelecido, e determinamos quantas unidades
padrão estão presentes na medida. Por exemplo,
temos uma definição precisa de uma unidade de
comprimento chamada de metro, e foi
determinado que há cerca de 384.400.000 metros
como estes entre a Terra e a Lua.
A Física começa com observações de fenômenos. Através de experimentação rigorosa e
controlada e processo de pensamento lógico, os fenômenos físicos são descritos quantitativamente
usando ferramentas matemáticas. Qualquer descrição quantitativa de uma propriedade requer
comparação com uma referência.
Pode-se medir a mesma grandeza física e expressar seu valor de diferentes maneiras (unidades).
Uma grandeza física pode ter muitas unidades diferentes dependendo da localização e cultura. Os
cientistas descobriram que isso era muito ineficiente e confuso e decidiu criar um sistema universal de
unidades, o Sistema Internacional de Unidade, que veremos em detalhe mais adiante.
Os cientistas podem até mesmo compor uma grandeza física completamente nova que não foi
descoberta. No entanto, há um número limitado de grandezas físicas de fundamental importância, da
qual todas as outras grandezas possíveis podem ser derivadas. Essas grandezas fundamentais são
chamadas grandezas físicas básicas, e obviamente as outras derivadas são denominadas grandezas físicas
derivadas.

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Sistemas de Unidades

Mas, quantas unidades básicas precisamos definir? Não há número mágico; na verdade, é possível
definir um sistema de unidades utilizando apenas uma unidade básica (e isso é de fato feito para as
chamadas unidades naturais). Para a maioria dos sistemas de unidades, é conveniente definir unidades
básicas para comprimento, massa e tempo. Uma unidade de medida elétrica básica pode também ser
definida, juntamente com algumas unidades básicas menos utilizadas.
Vários sistemas diferentes de unidades estão em uso atualmente. Para o uso cotidiano, a maior
parte do mundo usa sistemas métricos de unidades. Na verdade, existem vários sistemas "métricos" em
uso. Eles podem ser agrupados em duas categorias: aqueles que usam o metro, quilograma e segundo
como unidades básicas (sistema MKS), e aqueles que usam o centímetro, grama e segundo como unidades
básicas (sistemas CGS). Atualmente, há apenas um sistema MKS, chamado de Sistema Internacional (SI)
de unidades, adotado pela ampla maioria de países do mundo. Três países no mundo não fazem uso do
SI, Estados Unidos, Libéria e Mianmar (Brumei), que utilizam o sistema FPS (pés, libra, segundo).
Muitas vezes é conveniente definir unidades grandes e pequenas que medem a mesma coisa.
Unidades maiores e menores são definidas de forma sistemática pelo uso de prefixos. Por exemplo, nos
sistemas métricos, a unidade básica de comprimento é o metro (m), mas pequenos comprimentos
também podem ser medidos em centímetros (cm, 0,01 m), e grandes comprimentos podem ser medidos
em quilômetros (km, 1.000 m). Geralmente, os prefixos são representados por potências de 10. Para usar
os prefixos, basta adicionar o prefixo à frente do nome da unidade básica ou derivada. O símbolo para a
unidade prefixada é o símbolo do prefixo escrito em frente ao símbolo para a unidade.
As unidades do SI (que vem do francês Systéme International d'unités) são baseadas no m como
metro como unidade básica de comprimento, o quilograma como a unidade básica de massa, e o segundo
como a unidade básica do tempo. As unidades do SI também definem outras quatro unidades básicas
(ampère, kelvin, candela e mol, que serão descritas posteriormente). Qualquer grandeza física que possa
ser medida será expressa em termos dessas sete unidades básicas ou alguma combinação delas.
As unidades do SI foram originalmente baseadas principalmente nas propriedades da Terra e da
água. Suas definições originais foram:

• O metro foi definido como sendo um décimo de milionésimo da distância do Equador


para o Polo Norte, ao longo de uma linha de longitude passando por Paris;
• O quilograma foi definido como a massa de 0,001 m3 de água;
• O segundo foi definido como 1/86.400 do período de um dia (uma rotação da Terra).

Muitas dessas definições originais foram substituídas ao longo do tempo por definições mais
precisas, conforme a necessidade de aumento da precisão foi surgindo. Novas unidades básicas de
temperatura (kelvin), corrente elétrica (ampère), luminosidade (candela) e quantidade de matéria (mol)
foram incluídas. Mais recentemente, em 20 de maio de 2019, houve uma grande redefinição das unidades
de SI, em que as definições do quilograma, ampere, kelvin e mol foram todas alteradas. As unidades do
SI têm apenas uma unidade básica que é determinada experimentalmente, a unidade do tempo, que é o
segundo. As outras unidades básicas são agora definidas por valores exatos, não alterando os valores de
várias das constantes físicas.

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Neste curso, nós vamos usar principalmente unidades do SI, porém, vamos usar outros sistemas
de tempos em tempos para que tenhamos alguma experiência com o uso deles.

Representação Vetorial

Algumas grandezas que medimos na Física têm apenas um valor numérico (módulo ou
intensidade) e a unidade. Tais grandezas são chamadas escalares. Exemplos de grandezas escalares são
massa e temperatura. Outras grandezas têm intensidade e direção, além da unidade. Tais grandezas são
chamadas vetores. Exemplos de grandezas vetoriais são velocidade, aceleração e campo elétrico.
Um vetor pode ser representado graficamente desenhando uma seta. A direção da seta indica a
direção do vetor, enquanto o comprimento da seta representa o módulo (intensidade) do vetor. Por
convenção, escrevemos nomes vetoriais em negrito e em letra maiúscula (por exemplo, A). Ao escrever
vetores manualmente, é costume desenhar uma pequena seta sobre o nome (por exemplo, 𝐴⃗).
É possível fazer operações aritméticas em com vetores. Por exemplo, é possível adicionar ou
subtrair dois vetores ou multiplicar um vetor por um escalar. Essas operações podem ser feitas
graficamente ou algebricamente.
A aritmética vetorial pode ser feita graficamente, desenhando os vetores como setas em papel
gráfico e medindo os resultados com uma régua e um transferidor. A vantagem dos métodos gráficos é
que eles dão uma boa imagem intuitiva do que está acontecendo, ajudando a visualizar o que se está
tentando fazer. As desvantagens são que os métodos gráficos podem ser demorados e não muito precisos.
Na prática, os métodos gráficos geralmente são usados para fazer um esboço rápido, para ajudar a
organizar e esclarecer o pensamento, para que se possa ter clareza de que se está fazendo as coisas
corretamente. Os métodos algébricos são então usados para os cálculos reais. Ao desenhar vetores, é
possível ter a liberdade para mover o vetor ao redor da página como se desejar, desde que não se mude
a direção ou a intensidade.
Vamos começar com a adição. Existem
dois métodos disponíveis para se adicionar dois
vetores. O primeiro é chamado de método do
paralelogramo, onde são desenhados os dois
vetores a serem adicionados com seus pontos
finais no mesmo ponto. Esta figura forma meio
paralelogramo. Para obter o vetor soma, basta
desenhar duas linhas adicionais para completar o
paralelogramo. Agora, se desenha um vetor do
ponto final da cauda através da diagonal do Método do Paralelogramo
paralelogramo. Este vetor diagonal é a soma dos dois vetores originais.
O segundo método gráfico de adição de
vetores é chamado de método do triângulo.
Neste método, primeiro desenhamos um vetor e
em seguida, desenhamos o segundo, de tal forma
que o final do segundo coincida com o início do
primeiro vetor. Para encontrar a soma dos dois
vetores, desenhamos um vetor do final do
primeiro vetor até o início do segundo vetor. Método do Triângulo

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O método do triângulo pode ser estendido para adicionar qualquer número de vetores juntos.
Basta desenhar os vetores um por um, com a extremidade de cada vetor no início do anterior.
A soma de todos os vetores é então encontrada
pelo desenho de um vetor do final do primeiro
vetor da cadeia até o início do último vetor. Este
método é chamado método do polígono.
Para subtrair dois vetores graficamente,
desenhamos os dois vetores para que suas
extremidades estejam no mesmo ponto. Para
desenhar o vetor de diferença, desenhamos um
vetor do início do vetor subtraendo para a início
do vetor do minuendo.
Multiplicar um vetor por um escalar Subtração de vetores
mudará o comprimento do vetor. Multiplicando
por um escalar maior que 1 (em valor absoluto), alongará o vetor. Multiplicando por um escalar menor
do que 1 (em valor absoluto), irá encolher o vetor. Se o escalar for positivo, o vetor do produto terá a
mesma direção do original. Se o escalar for negativo, o vetor do produto terá direção oposta à original.

Multiplicação de vetor por escalar

Embora os métodos gráficos deem uma boa imagem intuitiva das operações matemáticas,
eles podem ser um pouco cansativos para desenhar. Uma alternativa muito mais conveniente e precisa é
o conjunto de métodos algébricos, que envolvem trabalhar com números em vez de gráficos. Antes que
possamos fazer isso, no entanto, precisamos encontrar uma maneira de quantificar um vetor, para alterá-
lo de um gráfico de uma seta para um conjunto de números com os quais podemos trabalhar.
Uma ideia seria obter as coordenadas do início e do final do vetor. Mas devemos lembrar que
estamos livres para mover um vetor em torno de onde quisermos, enquanto a direção e intensidade
permanecerem inalteradas. Então vamos escolher sempre colocar o final do vetor na origem. Assim, só
temos que obter as coordenadas do início do vetor, e cortamos nosso trabalho ao meio. Um vetor pode
então ser completamente especificado obtendo apenas as coordenadas de seu início. Mas há uma maneira

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diferente de escrever isso. Começamos definindo dois vetores unitários (vetores com módulo 1), 𝑖̂ é um
vetor unitário (versor) na direção x e 𝑗̂ é um vetor unitário na direção y. Em três dimensões, adicionamos
um terceiro vetor unitário 𝑘̂ na direção z.
Consideremos um vetor 𝐴⃗, onde Ax é a
projeção do vetor A sobre o eixo x e Ay sua
projeção sobre o eixo y. Então, lembrando as
regras para a multiplicação de um vetor por um
escalar, Ax𝑖̂ é um vetor apontando na direção x e
cujo comprimento é igual à projeção Ax. Da
mesma forma, Ay𝑗̂ é um vetor apontando na
direção y e cujo comprimento é igual à projeção
Ay. Em seguida, pela regra do paralelogramo para
adicionar dois vetores, o vetor 𝐴⃗ é a soma dos Componentes cartesianas de um vetor
vetores Ax𝑖̂ e Ay𝑗̂.
Isso significa que podemos escrever um vetor 𝐴⃗ como:

𝐴⃗ = Ax𝑖̂ + 𝐴𝑦 𝑖̂

A equação acima é chamada de representação cartesiana ou retangular de um vetor.

O módulo (intensidade) de um vetor é uma medida de seu "comprimento" total. É indicado com
sinais de valor absoluto em torno de o vetor (|𝐀| ou |𝐴⃗|), ou mais simplesmente apenas escrevendo o
nome do vetor, A (sem negrito ou seta). Em termos de componentes retangulares, a módulo de um vetor
é simplesmente dado pelo teorema de Pitágoras:

|𝐴⃗| = 𝐴 = √𝐴𝑥 2 + 𝐴𝑦 2

Agora estamos prontos para descrever o método algébrico para a adição de dois vetores.
Consideremos então, dois vetores 𝐴⃗ e 𝐵
⃗⃗ , cujas coordenadas cartesianas são:

𝐴⃗ = 𝐴𝑥 𝑖̂ + 𝐴𝑦 𝑗̂
𝐵⃗⃗ = 𝐵𝑥 𝑖̂ + 𝐵𝑦 𝑗̂

Uma vez que os vetores estejam em forma retangular, basta adicionar os dois vetores
componentes por componente, a componente x da soma é a soma dos componentes x e a componente
y da soma é a soma dos componentes y:

𝐴⃗ + 𝐵⃗⃗ = (𝐴𝑥 𝑖̂ + 𝐴𝑦 𝑗̂) + (𝐵𝑥 𝑖̂ + 𝐵𝑦 𝑗̂)


𝐴⃗ + 𝐵⃗⃗ = (𝐴𝑥 + 𝐵𝑥 )𝑖̂ + (𝐴𝑦 + 𝐵𝑦 )𝑗

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Assim como com a adição, os vetores devem estar na forma retangular (cartesiana) antes de serem
subtraídos. O vetor subtração é semelhante à adição de vetores, basta subtrair os dois vetores
componentes por componente:

𝐴⃗ − 𝐵⃗⃗ = (𝐴𝑥 𝑖̂ + 𝐴𝑦 𝑗̂) − (𝐵𝑥 𝑖̂ + 𝐵𝑦 𝑗̂)


𝐴⃗ − 𝐵⃗⃗ = (𝐴𝑥 − 𝐵𝑥 )𝑖̂ + (𝐴𝑦 − 𝐵𝑦 )𝑗

Em forma retangular, para a multiplicação de um vetor por um escalar basta multiplicar cada
componente do vetor pelo escalar. Por exemplo, dado o vetor A e o escalar c:

𝑐𝐴⃗ = 𝑐(𝐴𝑥 𝑖̂ + 𝐴𝑦 𝑗̂)


𝑐𝐴⃗ = 𝑐𝐴𝑥 𝑖̂ + 𝑐𝐴𝑦 𝑗̂

As operações de multiplicação, produto escalar e vetorial, além de derivadas e integrais, serão


apresentadas conforme a necessidade do curso.

Referências:

HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de Física - Mecânica. Rio de Janeiro:
Livros Técnicos e Científicos, 2016.

JEWETT JR, J. W.; SERWAY, R. A. Física Para Cientistas e Engenheiros – Mecânica. 6. ed. São
Paulo: Cengage, 2011.

NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física Básica: Mecânica. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Edgar
Blücher, 2013.

YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física I - Mecânica. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2012.

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