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Universidade Estadual do Ceará – UECE

Mestrado Acadêmico em Sociologia - PPGS


PROGRAMA 2023.1
DISCIPLINA: Sociologia Brasileira
PROFESSORA: Dra. Lia Pinheiro Barbosa

“O Campesinato Brasileiro” de Maria Isaura Queiroz

GUILHERME XIMENES CASTELO BRANCO

FORTALEZA – CE
2023
Maria Isaura Pereira de Queiroz se debruçaram sobre a temática das pessoas
residentes nos campos do Brasil. A autora problematiza da sociologia clássica a ausência
dos camponeses/campesinato da história do Brasil colonial até a década que se dispõe a
escrever.
Maria Isaura inicia refletindo sobre alguns jargões que a sociologia produziu
acerca dos moradores das zonas rurais. O porquê aquelas comunidades eram lidas como
conservadoras de um estilo de vida desperecido das grandes cidades. Várias hipóteses
foram sustentadas, como o isolamento, mestiçagem (que gerava uma sociedade atrasada).
Entretanto os sociólogos cometeram o erro de não desnaturalizar aquelas proposições
mais evidentes. O que Maria Isaura constata de suas pesquisas é justamente o contrário:
que as comunidades rurais não estão isoladas, mas a economia levava a um constante
vínculo com a cidade, como também as práticas religiosas e os mutirões geravam uma
solidariedade e identidade de bairro. Aquelas zonas mais isoladas, foram as que menos
mantiveram suas tradições.
A Maria Isaura ainda vai no decorrer de sua obra traçar críticas a sociólogos, e de
modo especial a Casa Grande e Senzala (dualidade levada pra Mucambos e Sobrados),
na perspectiva que o autor estratifica a sociedade brasileira nesses dois grupos (ideia
retomada com profundidade no capítulo II), ignorando a existência dos sitiantes que
existiram paralelamente em todo período colonial, como também nos posteriores
momentos históricos brasileiros. Os sitiantes cumprem, na interpretação de Queiroz como
uma camada intermediária entre as populações mais abastadas e as mais empobrecidas.
A análise da autora perpassa a comparação com as questões rurais da França, que em
grande medida se assemelhou ao Brasil.
Independente de a qual grupo ligado a terra, ou o termo utilizado – latifundiário,
sitiantes, posseiros, arrendeiros, moradores/agregados, locatários, inquilinos da terra, ou
mais recentemente agricultores – todos sempre estão em alguma medida integrados na
sociedade global.
Entretanto, o sistema operante cria novas necessidades, e “surge a demanda” do
intermediário, gerando e aprofundando o isolamento das famílias sitiantes, o que como já
dito, quanto mais se isola, mais se perde, do ponto de vista cultura e econômico.
Os bairros rurais estão geograficamente muito distantes uns dos outros, porém
esse distanciamento tem sua importância tanto na delimitação, mas também para manter
as tradições, sobretudo as religiosas. As relações familiares não são afetadas por esse a
afastamento. E quando novos moradores entram nessas localidades, aos poucos são
integrados (inicialmente visto com um pouco de desconfiança). O compadrio, afiliação,
casamentos, compadres de fogueira, batizado, garantem o vínculo entre os moradores.
Maria Isaura diz ainda que tais festas são momento em que atraem pessoas de fora.
O sagrado, a experiencia do mundo sobrenatural, coexiste no cotidiano dos moradores. A
construção das casas de forma coletiva, as celebrações religiosas, são temas contemplados
na obra.
A autora aponta algumas lacunas que podem ser aprofundadas em futuros estudos,
pois como ela mesma afirmou, os estudos sobre essa temática são escassos no Brasil. A
realidade das zonas ruais brasileiras sofreram muitas alterações, desde a publicação dessa
obra. Outros pontos que eu levantaria são as migrações das novas gerações para as cidades
maiores com a intenção de estudar, mas que raramente retornam para residir no campo.
O envelhecimento da população dessas regiões. O que fica? Quem fica? Por que fica? Ou
ainda o avanço do agronegócio/latifúndio.

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