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Apostila Completa Fundamentos Etimológicos
Apostila Completa Fundamentos Etimológicos
Prezado aluno,
Bons estudos!
1. DA ROMANIZAÇÃO À RECONQUISTA CRISTÃ
1.1 Do galego-português
(DINIS, 2011).
[...] português teve contato, durante a sua fase clássica, com diversas línguas,
literalmente das mais diferentes partes do globo. Alguns exemplos dessas
incorporações lexicais são: zebra (do etíope), canja (do malabar, língua
falada no Sri-Lanka), chá (mandarim), condor e lhama (do quéchua),
chocolate (azteca), manga (indonésio), sagu (malaio), várias palavras de
origem tupi, como ananás, amendoim, mandioca etc. (GONÇALVES;
BASSO, 2010, p. 98).
2.2 Da relatinização
O Latim, e, sobretudo o Latim escolástico, foi como não podia deixar de ser,
a língua sobre a qual a prosa doutrinal portuguesa apoiou os primeiros
passos, que decalcando nele suas formas, quer aprovisionando-se do
vocabulário que lhe faltava. [...] D.Duarte socorre-se frequentemente a
latinismos, embora condene seu uso imoderado. Palavras como: abstinência,
infinito, fugitivo, evidente, sensível, intelectual, circunspecção e etccontam-se
entre os latinismos que nesta época são enxertados no tronco da língua.
(SARAIVA; LOPES, 2010, p. 115).
[...]
Não foge, mas espera confiado,
E o ginete belígero arremessa.
[...]
[...]
Num globo vão, diáfano, rotundo,
Que Júpiter em dom lho concedeu
[...]
[...]
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando
[...]
(CAMÕES)
Essa situação perdurou durante a maior parte do século XVIII, porém a coroa
portuguesa não imaginava que o Brasil se tornaria oficialmente sua nova morada no
século XIX. Em 1808, após a invasão francesa, enquanto a Inglaterra lutava contra os
franceses em Portugal, a corte portuguesa se estabeleceu no Brasil.
Foi partir desses acontecimentos, que a história da língua portuguesa entrou
em um novo período, na qual ocorreu a expansão oficial do português culto de
Portugal, mas também emergiu a identidade nacional da língua portuguesa falada no
Brasil, que se tornou uma variante distinta. É crucial compreender a história da língua
portuguesa europeia e a imposição linguística no Brasil para entender o português
brasileiro falado nos dias de hoje.
[...] as discrepâncias de língua padrão entre Brasil e Portugal não devem ser
explicadas por um suposto substrato tupi ou por uma suposta influência
africana, como se tem feito às vezes. Resultam essencialmente de se achar
a língua em dois territórios nacionais distintos e separados (CÂMARA JR.,
1976, p. 30–31).
As evidências linguísticas que estabelecem as diferenças entre o português
brasileiro e o português europeu refletem a identidade linguística de cada
comunidade. De acordo com Souza (2011), à medida que a linguística avança, surgem
novos delineamentos nas discussões sobre o português no Brasil. Busca-se
compreender como essas línguas, embora relacionadas, funcionam de maneira
diferente em sua estrutura, resultando em sistemas linguísticos ou até mesmo idiomas
distintos.
Segundo Perini (2011), atualmente no Brasil, a população urbana e
escolarizada utiliza uma variedade do português que pode ser considerada padrão,
pois é a língua falada pela elite culta do país. O autor ressalta que também existem
outras variedades não padrão (geralmente estigmatizadas) presentes nas áreas rurais
e entre pessoas com menor grau de escolaridade nos centros urbanos. Além disso,
existe uma língua padrão escrita que difere de todas as variedades faladas e ainda se
baseia no modelo do português escrito com base nas gramáticas da língua portuguesa
europeia.
Assim como há uma forma padrão de fala entre os brasileiros, também existe
uma forma padrão de fala entre os portugueses. No entanto, segundo Perini (2011, p.
140), "o padrão falado brasileiro difere em muitos aspectos importantes do padrão
falado europeu, de modo que não é ficção falar em um português americano como um
bloco, em contraste com o bloco do português europeu". A seguir, apresentamos
algumas diferenças sintáticas existentes entre o português lusitano e o brasileiro.
.
A morfologia verbal
Quadro 3 – Uso de formas pronominais plenas como objeto direto, em vez dos
pronomes clíticos.
Tempos verbais
De acordo com Coutinho (1976), as leis fonéticas são princípios que descrevem
os padrões e as regularidades das mudanças sonoras que ocorrem nas línguas ao
longo do tempo. Elas são formuladas com base nas observações sistemáticas das
transformações fonéticas que ocorrem em diferentes contextos linguísticos. Essas leis
buscam explicar as regras e os processos pelos quais os sons das palavras sofrem
alterações e se desenvolvem ao longo da história de uma língua.
As leis fonéticas são fundamentais para entender a evolução das línguas, pois
ajudam a explicar como os sons podem se modificar de uma geração para outra. Elas
são influenciadas por fatores como o ambiente fonético em que os sons estão
inseridos, a interação com outros sons na mesma palavra ou em palavras vizinhas, e
os processos de assimilação, dissimilação, elisão, entre outros.
Elas também, são estabelecidas a partir de padrões recorrentes de mudanças
sonoras, permitindo reconstruir o estado anterior de uma língua, comparar diferentes
línguas relacionadas e traçar relações históricas entre elas. As leis fonéticas
constituem uma importante ferramenta para os linguistas no estudo da fonética
histórica e na compreensão da diversidade linguística e da evolução das línguas ao
longo do tempo.
Coutinho (1976), acrescenta que as modificações nas palavras decorrem das
limitações que temos para compreender um idioma: a imperfeição das representações
sonoras e a incapacidade de reproduzir com precisão os sons que ouvimos. A
transmissão da linguagem não pode ser representada como uma entidade contínua,
como uma linha reta em que o falante e o ouvinte ocupam as extremidades. Pelo
contrário, observa-se uma completa descontinuidade nessa transmissão, o que faz
com que cada geração tenha que realizar as mesmas tentativas que as anteriores
para adquirir o domínio da linguagem.
Durante a fase de formação dos órgãos emissores e receptores, o sistema
fonético das crianças está em desenvolvimento e, portanto, é improvável que seja
idêntico ao de seus pais, mesmo após um longo e desafiador processo de
aprendizado, as crianças não recebem a língua pronta, pois só conseguem reproduzir
aquilo que ouvem, e é inevitável que nuances mais sutis escapem à sua atenção.
Devido à natureza descontínua da linguagem, sua transmissão dá lugar a diversas
modificações.
Conforme Elia (2003), as causas das mudanças fonéticas são semelhantes
para toda uma geração em um determinado local e época, levando em consideração
as mesmas condições sociais, biológicas, entre outras, que produzem efeitos
semelhantes em todos. Essas transformações apresentam três características
principais:
São inconscientes: As modificações observadas nas palavras de uma língua
são independentes da vontade do povo. Falamos de acordo com as tendências
próprias da época em que vivemos, e essas tendências podem variar, explicando a
diversidade de tratamento dado às palavras ao longo da história de uma língua.
São graduais: A evolução das palavras ocorre de acordo com a lei natural,
seguindo o princípio de que a natureza não dá saltos abruptos. Muitas vezes, há uma
compreensão equivocada da evolução das palavras ao comparar formas latinas com
as formas atuais em português. É necessário restabelecer todos os estágios
intermediários, citando as formas intermediárias, para entender como essa evolução
ocorreu gradualmente. As alterações manifestadas nas fases finais de uma língua já
estavam presentes nos estágios anteriores.
São constantes: Foi graças aos neogramáticos que foi atribuído esse caráter
de constância às leis fonéticas. A regularidade das transformações permitiu a
generalização das leis fonéticas. Sempre que um fonema ocorrer em uma
determinada circunstância, ele deve ser modificado da mesma maneira.
Existem três leis que governaram a evolução das palavras em português:
Lei do menor esforço (ou economia fisiológica): Essa lei é universal e se
aplica a todas as áreas da atividade humana. No contexto das leis fonéticas, a lei do
menor esforço busca simplificar os processos articulatórios envolvidos na produção
das palavras. As modificações e perdas de fonemas ocorreram em conformidade com
essa lei, que busca alcançar a eufonia e o ritmo. Um princípio fundamental baseado
nessa lei é a queda frequente das consoantes sonoras intervocálicas latinas em
português.
Lei da permanência da consoante inicial: A fonética histórica revela que a
evolução das consoantes depende da posição em que se encontram dentro da
palavra. As oclusivas surdas (p, t, c) se transformam em sonoras fracas (b, d, g),
enquanto as consoantes no meio e no final das palavras estão frequentemente
submetidas à sonorização ou quedas. No entanto, as consoantes iniciais são
preservadas integralmente em português, com poucas exceções.
Lei da persistência da sílaba tônica: As palavras em português mantêm a
mesma acentuação tônica do latim. Mesmo com as transformações e perdas de
fonemas, o acento tônico desempenhou um papel fundamental na preservação da
unidade da palavra, pois a pausa prolongada na sílaba acentuada torna evidente a
sua resistência. Os exemplos contrários a essa lei, alguns dos quais remontam ao
latim vulgar, são resultado de causas fonéticas, morfológicas e analógicas.
Causas fonéticas: Uma das causas fonéticas do deslocamento do acento
tônico no português está relacionada aos casos em que ocorre o hiato com as vogais
"i" ou "e" em palavras de origem latina, ou seja, quando essas vogais estão seguidas
de outra vogal. No latim vulgar, havia uma tendência de evitar o hiato, então o acento
tônico foi deslocado para a última vogal, frequentemente reduzindo-as a uma única
vogal que era a última. Alguns filólogos explicam esse deslocamento com base na
regra fisiológica segundo a qual, entre duas vogais contíguas, a vogal mais sonora
tende a predominar. O quadro 1– traz alguns exemplos:
Ainda conforme Elia (2003), outra causa fonética ocorre nos polissílabos, em
que no latim havia vogal em “posição débil” a qual era seguida de grupo consonantal
formado de muda (p, b, t, d, c, g) e líquidas (l, r). A sílaba em que figurava esta vogal
era considerada comum no latim clássico, ou seja, podia ou não receber o acento,
segundo as necessidades do verso. Na prosa, porém, era átona. O latim vulgar tornou-
a tônica, e o português conservou a acentuação do latim vulgar como podem ser
observadas no quadro 2.
Quadro 5 – Palavras do português que tem sílaba tônica grega em vez de latina.
Todas as modificações sofridas na língua podem ser motivadas pela troca, pelo
acréscimo, pela supressão de fonemas e ainda pela transposição de fonemas ou do
acento tônico. Os Metaplasmos dividem-se em quatro grupos:
As palavras eruditas:
São consideradas palavras eruditas aquelas criadas diretamente a partir de
formas latinas e/ou gregas que já haviam dado origem a outras palavras. O
conhecimento das línguas clássicas foi por muito tempo uma condição à qual todo
cientista teria de sujeitar-se para a criação de sua terminologia especializada e, ainda
hoje, este material serve de instrumento para enriquecer o léxico científico.
As palavras de formação vernacular:
Os recursos mais usados no processo de criação vernacular são os da
morfologia derivacional (sufixação, prefixação, e derivação parassintética) e; a
chamada derivação imprópria ou conversão em que uma palavra muda de classe e
passa a desempenhar outra função gramatical. Também se pode encontrar o
mecanismo de “composição” em que de várias palavras se forma uma só expressão.
Além da composição temos a formação de expressões complexas que geralmente
recebem a denominação de locuções.
[...] as línguas gerais eram línguas de base tupi, em uso por grande parte da
população. As mais importantes foram a Geral Paulista e a Geral Amazônica.
Constituíam a língua do contato entre os indígenas, entre os indígenas e
portugueses e todos que iam se agregando ao novo território. Em termos
gerais, era a língua da informalidade, comum a nativos e não nativos, sendo
instrumento básico no processo de catequização dos povos indígenas. Já o
português, era a língua oficial do Estado, empregada em atos e documentos
oficiais relacionados à administração colonial. (SANTANA; MÜLLER, 2015, p.
3).
Baixa da égua - Lugar onde ninguém quer ir, lugar muito longe
Balaio de gato - Desorganização, confusão
Bater a caçoleta – Morrer
Cambito - Perna fina
Cão chupando manga - Pessoa muito feia
Caxaprego - Lugar muito distante
Dar o prego - Enguiçar
Dar pitaco - Dar opinião
Encangado - Em cima, montado
Ensacar - Por a blusa dentro da calça
Fastiado - Sem fome
Fez mal - Engravidou alguém
Gaia - Chifre, traição
Invocado - Corajoso ou “muito bom”
Jerimum - Abóbora
Liso - Sem dinheiro
Mangar - Ridicularizar
Nome feio - Palavrão
Pastorar - Vigiar
Quenga - Prostituta
Racha - Pelada, jogo de futebol ou disputas em geral
Sustança - Energia dos alimentos
Triscar – Tocar
Varapau - Homem alto
Zambeta - De pernas tortas.
Fonte da imagem: Variação Linguística (2013).
Quadro 2 – Regionalismos – região sul
A diacronia diz respeito aos fatos da língua ao longo do tempo, ou seja, como
a língua evoluiu, o que foi modificado, quais termos deram origem a outros e assim
por diante. Os estudos diacrônicos consideram a história e a formação da língua no
tempo. Por exemplo, atualmente, falamos “você”, que veio de “vosmecê”, que por sua
vez já havia sofrido uma alteração, substituindo “vossa mercê”. Essa mudança já está
estabelecida entre os falantes, mas ainda é possível que, gradualmente, mais
alterações aconteçam, reduzindo ainda mais o pronome, como a substituição por “cê”.
Segundo Silva (2014, p. 34), “[…] quando o linguista se coloca na perspectiva
diacrônica, percebe uma série de acontecimentos que modificam a língua, mas não a
língua viva em uso”.
Já a sincronia tem relação com o momento atual da língua. Os estudos
sincrônicos se ocupam de uma época específica, observam o agora. Para o falante
comum, normalmente interessa o aspecto sincrônico da língua: os usos que esse
falante faz dos termos que estão em voga e do vocabulário do momento. Por isso,
Saussure defendia que a língua deveria ser estudada de maneira sincrônica, sem
levar em conta seus processos evolutivos.
Abaixo, estão relacionados alguns aspectos dos estudos sincrônicos e
diacrônicos apontados por e Neves (2019):
Sincronia
➢ É momentânea; estudada em um momento específico.
➢ Apresenta características estáticas e descritivas, referindo-se ao estado da
língua naquele momento específico.
➢ Estuda apenas as variações da língua que coexistem em uma determinada
época, como variações regionais, sociais e situacionais.
➢ Analisa a língua como um conjunto fechado que apresenta regularidade e
homogeneidade própria de uma determinada época.
Diacronia
➢ Apresenta a evolução que as palavras sofrem ao longo do tempo, analisando
as transformações ocorridas até à palavra atual.
➢ Apresenta caraterísticas dinâmicas e históricas, remontando à origem das
palavras.
➢ Ao incidir sobre o processo evolutivo da língua, caracteriza-se como o estudo
da sucessão de diversas diacronias, possibilitando comparações.
Mudanças consolidadas
Expressão a gente
Aceitam-se a expressão “a gente” e todas suas variantes — “da gente”, “para a
gente” — como possibilidade de pronome para a primeira pessoa do plural.
O sujeito das frases, na voz passiva e na voz ativa, é o mesmo: casas são
compradas; pães são vendidos. Desse modo, aceita-se a forma no plural em ambos
os casos.
Alguns gramáticos condenam o uso dessa expressão para evitar o uso de uma
locução quando uma preposição simples seria suficiente para suprir a necessidade.
Teorias semânticas
Análise do discurso
DINIS, D. Proençais soen mui ben trobar. In: LOPES et al. Cantigas Medievais
Galego Portuguesas. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011.
HALLIDAY, M.A.K. Sistemic Theory. In: KOERNER, E.F.K.; ASHER, R.E. (eds.).
Concise history of the language sciences: from sumerians to the cognitivists. Oxford:
Pergamon, p. 272-276, 1995.
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 34. ed. São Paulo: Cultrix, 2012.