Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
IV Educação Especial A Construção de Um Paradigma Contemporâneo
IV Educação Especial A Construção de Um Paradigma Contemporâneo
Identidades e Culturas
Material Teórico
Educação Especial: A Construção
de um Paradigma Contemporâneo
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Educação Especial: A Construção
de um Paradigma Contemporâneo
• Introdução;
• O Mundo Contemporâneo e a Deficiência;
• Educação Especial na Realidade Brasileira;
• Educação Especial e Propostas de Ensino;
• Reflexões Sobre a Educação Especial
no Século XXI: Mudanças nas Concepções.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Compreender a Educação Especial na realidade brasileira após o conhecimento e a refle-
xão sobre as influências culturais a que foi submetida;
• Analisar a medida das mudanças de mentalidade, valores e atitudes no ambiente escolar
por influência das mudanças na Legislação e nas propostas de Ensino.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Educação Especial: A Construção
de um Paradigma Contemporâneo
Contextualização
Observe o quadro a seguir:
Figura 1 – Guernica
Fonte: Wikimedia Commons
Guernica é uma obra do pintor espanhol e cubista Pablo Picasso. Ela retrata a
cidade de Guernica durante a Guerra Civil espanhola (1936-1939).
Trata-se de uma das obras mais emblemáticas do artista e que foi produzida em
1937 (DIANA, on-line).
Por que as situações de guerra foram tão importantes para a construção do pa-
radigma contemporâneo de Educação Especial?
8
Introdução
Enfim, chegamos à nossa última Unidade, chamada de Educação Especial: a
construção de um paradigma contemporâneo.
Mas o que é paradigma?
O dicionário (FERREIRA, 2013, p. 562) nos informa que é um modelo ou padrão.
Nas Ciências Sociais, entre elas a Antropologia, que se dedica ao estudo das
questões culturais, o termo é usado para descrever o conjunto de experiências,
crenças e valores que incidem sobre a forma segundo a qual um indivíduo compre-
ende a realidade e na sua forma de resposta.
Será que houve mudança de paradigma em relação à deficiência e à Educação
Especial? Ou a Sociedade continua querendo eliminá-las e segregá-las?
9
9
UNIDADE Educação Especial: A Construção
de um Paradigma Contemporâneo
Todavia, o século XX traz dois eventos que são fundamentais para acelerar esse
processo: as duas Grandes Guerras Mundiais (1914-1918 e 1939-1945).
Elas trouxeram uma carga de destruição tão grande e intensa que a Humanidade
necessitou tomar medidas expressas de acolhimento e reabilitação de pessoas que
se tornaram deficientes, como afirma Tahan (2012, p. 21):
Foi a partir da Segunda Guerra Mundial que o direito necessita se pre-
ocupar com grupos sociais específicos, nesse caso surgem os mutilados
da guerra, pessoas que foram para a guerra sem nenhuma deficiência e
voltam às suas casas com algum tipo de mutilação que impedem a fruição
normal de suas atividades de vida diária.
http://bit.ly/2Q8V3Zc
Guerra Mundial e que vitimou aproximadamente seis milhões de pessoas entre judeus, ci-
ganos, homossexuais, testemunhas de Jeová, deficientes físicos e mentais, opositores
políticos etc. De toda forma, o grupo mais foi vitimado no Holocausto foi o dos judeus que,
por sua vez, preferem referir-se a esse genocídio como Shoah, que em hebraico significa
“catástrofe” (SILVA, on-line).
Por causa desse estado de calamidade instaurado em nível mundial, foram cria-
dos órgãos como a Organização das Nações Unidas (ONU-1945) e documentos
como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), visando à reorganiza-
ção social, política e econômica, pois os países estavam empobrecidos, assim como
10
muitos jovens que teriam a função de ajudar a prover suas famílias estavam mortos
ou mutilados.
A esse respeito, Januzzi (2004, p. 34) nos mostra que a década de 1930 foi um
momento de grande importância porque a Sociedade Civil começou a se organizar
em Associações de pessoas preocupadas com a questão da deficiência na Socie-
dade, ainda que a esfera governamental desencadeasse algumas ações no sentido
de criar Escolas junto a Hospitais e ao Ensino Regular, há fundação de Entidades
Filantrópicas especializadas e outras formas de atendimento em Clínicas e Institutos
Psicopedagógicos, sendo que o atendimento ao deficiente era compreendido como
algo mais vinculado à saúde do que à educação.
Não era um serviço compreendido como direito e, dessa forma, poderia ser so-
licitado, mas não exigido.
11
11
UNIDADE Educação Especial: A Construção
de um Paradigma Contemporâneo
Tabela 2
Legislação Avanços
A EDUCAÇÃO dos excepcionais é incluída no título X, sendo enquadrada no Sistema Geral de
Educação como forma de integração à Sociedade (Artigo 88). No artigo 89, o Poder Público tem
Lei 4024/1961
a responsabilidade de incentivar a iniciativa privada a promover a Educação para essa parcela da
população por meio de Bolsas de Estudo, empréstimos e subvenções.
No Artigo 9º, garante tratamento especial aos alunos que apresentem deficiências físicas ou
mentais. Por conta dessa orientação, houve a estruturação da Secretaria de Estado de Educação e
Lei 5692/1971
do Serviço de Educação dos Excepcionais. Foram organizadas Classes Especiais e criados programas
de Mestrado em Universidades Públicas sobre o assunto.
Em seu Artigo 58, inclui o termo Educação Especial na Legislação brasileira, tornando-a mais
abrangente ao incluir também as pessoas com transtornos globais do desenvolvimento e altas
Lei 9394/1996 habilidades. A grande diferença em relação às Legislações anteriores é atender às pessoas com
deficiência preferencialmente na Rede Regular de Ensino e oferecer, com recursos públicos o
atendimento educacional especializado.
Fonte: Elaborado pela autora a partir da leitura de BRASIL (1961, 1971 e 1996) e ROGALSKI (2004)
Essa Legislação trouxe a convivência efetiva das pessoas com deficiência para a
Escola Regular.
O processo de inclusão não foi e nem está sendo simples, pois vai de encontro
a questões culturais, como a visão de deficiência de professores e alunos e também
de questões estruturais, como a infraestrutura e a formação dos profissionais, como
no depoimento a seguir, expostos na monografia de Lima (2011, p.29):
O primeiro ano com um aluno incluído foi um tanto traumático, pois
assim como a maioria dos professores, não recebi orientação de como
trabalhar com esse aluno e muito menos fui informada, a priori, que teria
um aluno com Deficiência Intelectual, D.I., em minha classe de 6ª série.
12
Os depoimentos selecionados se referem a professores que enxergam as difi-
culdades, mas aceitam o processo, procurando ajuda e qualificação. A visão dos
pais a respeito da Educação Especial também reflete a cultura contemporânea,
como nos exemplos catalogados por Garcia (2018, on-line): “A escola não deveria
achar que faz um favor para a criança especial ao incluí-la (pai de um menino
autista, de 12 anos)”.
Meu foco não é no que ele ainda não faz, mas, sim nas suas grandes
conquistas! É uma batalha diária. Mas eu faço questão de tomar as rédeas
e transformar o cenário em algo positivo, animador. Isso foi um grande
aprendizado e foi essencial para lidar com todos os momentos de tensão
e dor, pelos quais passei desde a gestação. (Mãe de um menino de 10
anos, com dificuldades motoras causadas por uma hemorragia cerebral)
Os depoimentos acima foram dados por pessoas esclarecidas sobre seus direi-
tos e possibilidades. Passaram por todas as dificuldades de aceitação pelas quais
passam os pais de crianças com deficiências, mas após vencido o período de luto,
procuraram recursos para estimular os seus filhos e oferecer boas condições de
aprendizagem. Entretanto, não é a realidade da maioria das pessoas no Brasil.
O estranhamento, as concepções negativas de deficiência que coexistem em nossa
cultura e a falta de conhecimentos formais, fazem com que pouco se possa oferecer
para auxiliar a Educação de seus filhos.
Ainda assim, a legislação que inclui as pessoas com deficiência na Rede Re-
gular de Ensino se constitui como avanço, vez que, com todas as dificuldades de
formação e infraestrutura, os deficientes saem do anonimato para conviver com as
pessoas ditas normais.
13
13
UNIDADE Educação Especial: A Construção
de um Paradigma Contemporâneo
O texto do Plano Nacional de Educação foi elaborado a partir das propostas de vários segmen-
tos da Sociedade, que participaram nos anos de 2009-2010 da Conferência Nacional de Educa-
ção (CONAE), que teve etapas distritais, municipais, regionais, estaduais e nacionais. Conforme
Brasil (2010, on-line), a Conae constituiu-se, assim, num espaço democrático de construção de
Acordos entre atores sociais que, expressando valores e posições diferenciadas sobre os aspec-
tos culturais, políticos, econômicos, apontam renovadas perspectivas para a organização da
educação nacional e para a formulação do Plano Nacional de Educação 2011-2020, embora a
Lei tenha sido promulgada em 2014 e a validade seja deste ano a 2024 (MEC, 2010).
O PNE – Lei 13.005/2014 (BRASIL, 2014, on-line) – não é uma proposta cur-
ricular, mas uma Legislação construída com a participação de educadores e comu-
nidade, que oferece os direcionamentos da Educação.
14
Esse trabalho deverá ser feito em articulação com Instituições Acadêmicas e
integrados por profissionais das áreas de saúde, Assistência Social, Pedagogia e
Psicologia, para apoiar o trabalho dos(as) professores(as) da Educação Básica com
os(as) alunos(as) com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação (BRASIL, 2014, on-line).
Figura 4
15
15
UNIDADE Educação Especial: A Construção
de um Paradigma Contemporâneo
Pode-se dizer que a palavra-chave para Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
é referência.
Para a Educação Básica, ela foi feita como um documento de caráter normativo
que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos
os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades (MEC, 2019, on-line).
Esse ideário que nos leva a entender que haverá o favorecimento de uma cultura
inclusiva que promova a Educação Especial, ao longo do documento, verifica-se um
olhar mais técnico para essa modalidade de ensino, com foco no Atendimento Edu-
cacional Especializado (AEE) e nos recursos pedagógicos e tecnológicos que dele
fazem parte, como a Tecnologia Assistiva e as estratégias especializadas de ensino.
16
Reflexões Sobre a Educação Especial no
Século XXI: Mudanças nas Concepções
“O homem, em suma, não tem natureza, o que tem é história.” (Ortega y Gasset).
Tabela 3
Modelo Ideias-Chave
Antiguidade Clássica
Ocultação e eliminação.
(Grécia e Roma)
Antiguidade Oriental
Convivência integrada na Sociedade.
(Egito)
• Acolhimento por religiosos;
Roma Cristã
• Sem participação social.
Idade Medieval Acolhimento por religiosos e marginalização.
Desenvolvimento da Ciência em busca de melhorias na qualidade
Idade Moderna
de vida.
• Rejeição;
África
• Explicações sobrenaturais.
• Deficiência física causada por maus tratos em senzalas;
Afro-brasileiros • Participação nas comunidades remanescentes de quilombos;
• Acolhimento pelas religiões de matriz africana.
Indígenas • Impossibilidade de sobrevivência de deficientes na floresta.
• Duas grandes guerras causando deficiência física em larga escala;
• Esforço mundial para reabilitação dos deficientes;
Século XX
• Década de 1930 com movimentação da Sociedade para o
atendimento à pessoa com deficiência.
Século XXI Construção de paradigma de inclusão.
17
17
UNIDADE Educação Especial: A Construção
de um Paradigma Contemporâneo
No Brasil, Sassaki (apud SANTOS et al., 2017, p. 315) dividiu os períodos his-
tóricos em quatro paradigmas:
• Exclusão (rejeição social);
• Institucionalização (segregação;
• Integração (modelo médico da deficiência);
• Inclusão.
18
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
A Educação do Deficiente no Brasil: dos Primórdios ao Início do Século XXI
JANUZZI, G. A educação do deficiente no Brasil: dos primórdios ao início do século
XXI. Campinas. Autores Associados, 2004. Coleção Educação Contemporânea.
Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos
SASSAKI, R. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. São Paulo: WVA
Editora, 2017.
Filmes
Meu Nome é Rádio
Direção: Michael Tolin. Estados Unidos, 2003, 109 minutos.
Meu Pé Esquerdo
Direção: Jim Sheridan, Reino Unido, 1989, 100 minutos.
19
19
UNIDADE Educação Especial: A Construção
de um Paradigma Contemporâneo
Referências
ATANE, S. A história do método Braile. Revista SuperInteressante. São Paulo:
31 out. 2016. Disponível em: <https://super.abril.com.br/historia/a-historia-do-
-metodo-braile/>. Acesso em: 18 jul. 2019.
20
MARTINS, R. Legislação Educacional. Ituverava: Fundação Educacional de Itu-
verava, 2012.
TAHAN, Adalgisa Pires Falcão. A universalidade dos direitos humanos. In: SILVEIRA,
Vladimir Oliveira da; CAMPELO (coord.,); BÓSIO, Livia Gaigher (org.). Estudos e
debates em Direitos Humanos. São Paulo: Letras Jurídicas, 2012. v. 2
21
21