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e Sociedade
Material Teórico
Mudanças Recentes na Sociedade e no Trabalho
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Natalia Conti
Mudanças Recentes na Sociedade
e no Trabalho
• Introdução;
• As Transformações Societárias Contemporâneas;
• As Mudanças no Mundo do Trabalho;
• O Impacto das Transformações Sobre o Tempo Livre.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Identificar as principais mudanças na sociedade contemporânea;
· Conhecer as principais características do processo de reestru–
turação produtiva;
· Compreender como as transformações sociais determinam modifica-
ções no tempo livre e no lazer.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Mudanças Recentes na Sociedade e no Trabalho
Introdução
Após a compreensão dos movimentos e das lutas operárias para a redução
da jornada de trabalho e da conquista do chamado “tempo livre”, abordamos as
preocupações de controle e direcionamento desse tempo para atividades orientadas
à manutenção do status quo. Em outras palavras, que as pessoas no seu momento
de ócio se mantivessem reproduzindo sua vida social, sem questionar as condições
em que vivem e, tampouco, pensar em transformá-las.
No entanto, um fenômeno tão dinâmico e plural como o lazer não pode ser
compreendido apenas pela sua origem, sobretudo quando o relacionamos ao tra-
balho e à sociedade. Certamente, em seu desenvolvimento e nas relações estabe-
lecidas com outros complexos o lazer vai se modificando, desempenhando novos
papéis e ressignificando antigas funções.
William Shakespeare
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As Transformações
Societárias Contemporâneas
Falar em transformações societárias não é algo simples, especialmente porque
elas se referem a um conjunto muito amplo de fenômenos nos planos cultural,
social, político e econômico. Além disso, a história é muito dinâmica e está sempre
em um processo de constantes alterações.
Importante! Importante!
Algumas das transformações pelas quais a sociedade passa são tão significa-
tivas que podem representar a ruptura com uma formação social e a mudança/
transição para um novo modelo social. Essa afirmação é clara para você? Você
compreende o que seria uma formação ou modelo social? Vejamos isso com
um pouco mais de calma e profundidade!
Resumidamente, modelo ou formação social é a forma como a sociedade se or-
ganiza, se relaciona e produz. Na história da humanidade tivemos, sinteticamente,
a seguinte sucessão de formas de organização social:
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4. Capitalismo – a organização nos
burgos (cidades) já estava bem mais
desenvolvida do que nos campos, o
que propiciou um protagonismo da
burguesia (comerciantes das cidades)
na elaboração de estratégias para
alteração do feudalismo. Alguns ou-
tros aspectos contribuíram, como:
a crise no campo, as revoltas cam-
ponesas, a Peste Negra, a ascensão
Figura 4 da razão (pensamento racional, não
Fonte: iStock/Getty Images
mais religioso) e o desenvolvimen-
to da ciência, dentre outros. O ca-
pitalismo surgiu, então, como uma
alteração progressista em relação
ao feudalismo, o que não significa
dizer que este é bom por si mesmo.
É importante destacar que todas essas transições dos modos de produção e suas
respectivas formações sociais não ocorreram de maneira etapista e nem no mesmo
momento histórico em todas as regiões do planeta. Em alguns casos tivemos,
durante certo período, a convivência de modelos mais antigos com formações mais
atuais. Numa combinação entre arcaico e moderno. Essa é, por exemplo, uma das
características da formação social brasileira.
Além disso, é bom acentuar que transformações dessa magnitude não pode-
riam acontecer de forma consensual e tranquila. Portanto, foram necessários vários
processos conflituosos e ações revolucionárias, que culminariam em guerras e revo-
luções, sendo um dos principais exemplos a Revolução Francesa de 1789.
Importante! Importante!
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A partir de meados dos anos 1970, as alterações da sociedade tomaram uma pro-
porção e uma velocidade jamais vistas. Essas reviravoltas representaram o desdobra-
mento de uma profunda crise mundial, que afetou o padrão de acumulação e, conse-
quentemente, as relações sociais estabelecidas. Buscaremos agora uma síntese a partir
de alguns aspectos mais gerais que nos auxiliará a entender e refletir a respeito dessas
alterações recentes de maneira a tentar compreendê-las em sua totalidade.
1. Aspecto Social
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• O crescimento da atividade de serviços:
Segundo a Pesquisa Anual de Serviços – PAS de 2014, realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o setor de servi-
ços é o que mais emprega no país, sendo responsável por 40,5% das
pessoas ocupadas (5.279.378).
Fonte: https://goo.gl/eK27cA
• A individualização do lazer:
Para essa última mudança social, reservamos uma exposição um pouco
mais aprofundada em função de sua vinculação direta com a temática
da disciplina. A sociedade atual caracteriza-se por uma exacerbação do
individualismo hedonista e personalizado. Como consequência disso, não há
mais uma consciência de classe, a significação das coisas e fenômenos não
se constrói a partir da noção de coletivo e sim pelos sentimentos individuais
e observa-se a formação de identidades fragmentadas e contraditórias. Ao
mesmo tempo, observa-se uma descrença ou rejeição pela tradição e a
experiência que não são mais vistas como fontes de saber e de explicação
para as questões e problemas atuais.
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Formiga et al. (2013) concordam que os hábitos de lazer podem expressar esse
individualismo e busca de prazer, destinado unicamente ao próprio sujeito no momento
da diversão. No entanto, os autores também concebem a possibilidade de que o lazer
que incentive a formação cultural, intelectual e de informação, além de ser um tempo
e espaço para o desenvolvimento da criatividade, dos conhecimentos e interação com
os demais de forma que a diversão assuma uma característica de brincar.
Figura 5
Fonte: iStock/Getty Images
2. Aspecto Cultural
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De forma bastante resumida, trata-se de um termo desenvolvido pelos autores
Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973) para demonstrar
e criticar que a cultura também foi convertida em mercadoria.
O entretenimento e os elementos da indústria cultural já existem muito
tempo antes dela. (...) A indústria cultural pode se ufanar de ter (...) despido
a diversão de suas ingenuidades inoportunas e de ter aperfeiçoado o feitio
das mercadorias (ADORNO & HORKHEIMER, 1985, p. 126).
O professor José Paulo Netto afirma que a cultura de nossa época está fundada
em dois vetores:
[...] a translação da lógica do capital para todos os processos do espaço
cultural (produção, divulgação e consumo) e desenvolvimento de formas
culturais socializáveis pelos meios eletrônicos (a televisão, o vídeo, a cha-
mada multimídia). (NETTO, 1996, p. 97).
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Figura 6
Fonte: iStock/Getty Images
4. Aspecto Político
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• Enfraquecimento do movimento operário, tanto em função do desemprego
crescente em função da automação da indústria, quanto em função do
crescimento do setor de serviços, da terceirização e flexibilização das leis
trabalhistas; e
• Fortalecimento dos tradicionais e “novos” movimentos sociais (movimento dos
sem-terra, movimento dos sem-teto, movimento dos aposentados, movimento
negro, movimento LGBT, entre outros).
Até aqui abordamos algumas das mais importantes transformações sociais con-
temporâneas. Ainda que de forma apenas introdutória, já foi possível perceber
o impacto delas sobre o tempo livre e, mais especificamente, sobre o lazer. No
entanto, essas mudanças também causam impacto sobre o contraponto do tempo
de não trabalho. Nesse sentido, vejamos agora como todas essas transformações
impactaram o mundo do trabalho.
Hobsbawn (1995) afirma que a crise estrutural do sistema capitalista teve como
uma de suas consequências a reconfiguração do padrão de acumulação. Antes o
modelo adotado era o taylorista/keynesiano, baseado no aumento da produção,
na racionalização do tempo e no Estado interventor na economia e garantidor do
pleno emprego. Com o esgotamento desse modelo, surge, então, um novo padrão
fundado na chamada flexibilização, reestruturação produtiva ou acumulação flexível.
O que seria essa acumulação flexível? É uma nova forma de organização da produção
Explor
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Figura 7
Fonte: iStock/Getty Images
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1. Qualidade Total
Antunes (1999) nos ajuda a pensar sobre essas questões ao demonstrar que há,
na verdade, um antagonismo entre qualidade total e qualidade do produto:
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Figura 8
Fonte: iStock/Getty Images
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Netto (1996) e outro autor que, ao analisar essa reestruturação produtiva, faz
uma síntese muito interessante sobre suas consequências:
Não é preciso muito fôlego analítico(...) para concluir que a revolução
tecnológica tem implicado uma extraordinária economia de trabalho vivo,
elevando brutalmente a composição orgânica do capital. Resultado direto
(exatamente conforme a projeção de Marx): cresce exponencialmente a
força de trabalho excedentária em face dos interesses do capital. O capi-
talismo tardio, transitando para um regime de acumulação ‘flexível’, rees-
trutura radicalmente o mercado de trabalho, seja alterando a relação entre
excluídos/incluídos, seja introduzindo novas modalidades de contratação
(mais “flexíveis”, do tipo ‘emprego precário”), seja criando novas estratifi-
cações e novas discriminações entre os que trabalham (cortes de sexo, ida-
de, cor, etnia). A exigência crescente, em amplos níveis, de trabalho vivo
superqualificado e/ou polivalente (coexistindo com a desqualificação ana-
lisada por BRAVERMAN, 1987), bem como as capacidades de decisão
requeridas pelas tecnologias emergentes (que colidem com o privilégio do
comando do capital), coroa aquela radical reestruturação – reestruturação
que, das “três décadas gloriosas” do capitalismo monopolista, conserva os
padrões de exploração, mas que agora se revelam ainda mais acentuados,
incidindo muito fortemente seja sobre o elemento feminino que se tornou
um componente essencial da força de trabalho, seja sobre os estratos mais
jovens que a constituem, sem esquecer os emigrantes que, nos países
desenvolvidos, fazem o “trabalho sujo”. (p. 92-93).
Importante! Importante!
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Polato (2003) afirma que por essa instabilidade econômica, devido à grande
taxa de desemprego e à precariedade das relações de trabalho para a classe
trabalhadora, seu tempo fora do trabalho também passa a ser afetado. Percebe-se
que o trabalhador acaba destinando esse tempo disponível fora do trabalho para
buscar qualificação profissional (lembram quando falamos da necessidade de um
trabalhador polivalente?) – essa qualificação lhe daria maiores possibilidades de ter
seu emprego garantido – e também para procurar outras atividades remuneradas
que o ajudem a aumentar a renda familiar.
Essas perguntas são chave para compreendermos como o lazer vem sendo en-
carado nessa sociedade de consumo e como ele tem sido transformado em merca-
doria. Entretanto, esses são assuntos para nossa próxima unidade.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Do escravismo ao feudalismo
https://goo.gl/ZWD3aA
Livros
O novo (e precário) mundo do trabalho
ALVES, G. O novo (e precário) mundo do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2000.
Adeus ao trabalho?
ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? São Paulo: Cortez, 2000.
Vídeos
A História das Coisas
A História das Coisas. (versão brasileira do documentário “The Story of Stuff”, de
Annie Leonard).
https://youtu.be/7qFiGMSnNjw
Filmes
O Corte
O Corte. (Le Couperet). Bélgica/França/Espanha. 2005. Direção: Costa-Gravas.
Duração: 122 min.
Ou Tudo ou Nada
Ou Tudo ou Nada. Reino Unido. 1997. Direção: Peter Cattaneo. Duração: 1h 35m.
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Referências
ADORNO, T. W. Tempo Livre. In: Palavras e Sinais, modelos críticos 2.
Petrópolis: Vozes, 1995, pp. 70-82.
________. Tempo de trabalho e tempo livre: algumas teses para discussão. In: BRUHNS,
H. e GUTIERREZ, G. L. Representações do lúdico: II Ciclo de Debates Lazer e
Motricidade. Campinas: Autores Associados/FEF UNICAMP, 2001 pp. 21-25.
HOBSBAWN, E. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
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