Trabalho - Estudo Do Caso Falencia Familiar

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

ESTUDO DO CASO "O LUGAR DOS CONFLITOS E OS


CONFLITOS DE LUGAR NA FALÊNCIA DE UMA EMPRESA
FAMILIAR"

São Paulo

2015
Daniel Ferreira dos Santos - 41528239

Jackson Bispo da Silva - 41582306

Leonardo Folieni Pereira - 41502574

William Hiroshi Asaji - TIA

ESTUDO DO CASO "O LUGAR DOS CONFLITOS E OS


CONFLITOS DE LUGAR NA FALÊNCIA DE UMA EMPRESA
FAMILIAR"

Trabalho da disciplina de Ética e


Cidadania I pertencente ao curso
de Administração da Universidade
Presbiteriana Mackenzie,
apresentado como avaliação
intermediária.

São Paulo

2015
RESUMO

O presente trabalho consistiu no estudo do caso fictício "O Lugar dos


Conflitos e os Conflitos de Lugar na Falência de uma Empresa Familiar", com o
objetivo geral de comparar o comportamento dos personagens com as teorias ético-
normativas estudas em sala de aula. Evidenciou-se que as teorias do utilitarismo
pluralista e da ética deontológica influenciaram o comportamento dos irmãos e
sócios da empresa fictícia, e os conflitos entre os dois levaram a organização à
falência.

Palavras-chave: Empresa Familiar; Falência; Ética; Conflitos


ABSTRACT

The present work consisted in the study of the fictitious case "The Place of
Conflict and Conflicts of Place in the bankruptcy of a Family Business", and had the
general objective of comparing the characters behaviors with the ethical normative
theories studied during the classes. It was noticed that the pluralist utilitarianism and
the deontological ethics influenced the behavior of the brothers and partners of the
fictitious enterprise, and the conflicts between them led the company to bankruptcy.

Keywords: Family Business; Bankruptcy; Ethics; Conflicts.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................5

2. APRESENTAÇÃO DO CASO E ANÁLISE...............................................................6

2.1. Introdução...................................................................................................... 6

2.2. Apresentação do Caso...................................................................................6

2.3. Análise do Caso........................................................................................... 11

3. COMPARAÇÃO DO CASO COM AS TEORIAS ÉTICO-NORMATIVAS...............13

3.1. Apresentação das teorias ético-normativas selecionadas............................13

3.1.1. Utilitarismo...........................................................................................13

3.1.2. Ética Deontológica..............................................................................13

3.2. Comparação entre o caso e as teorias ético-normativas selecionadas........14

3.2.1.Marina e o utilitarismo pluralista...........................................................14

3.2.2. Marcelo e a ética deontológica............................................................14

4. IMPLICAÇÕES.......................................................................................................16

4.1. Para os próprios personagens.....................................................................16

4.2. Para a empresa............................................................................................16

4.3. Para a sociedade..........................................................................................17

5. PERGUNTAS........................................................................................................ 18

Pergunta 1 ........................................................................................................ 18

Pergunta 2 ........................................................................................................ 18

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................19

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................20
1. INTRODUÇÃO

O estudo de um caso representa uma maneira de aplicar teorias e conceitos


aprendidos, além de proporcionar discussões, debates e troca de informações entre
os alunos, e por isso, mostra-se como uma abordagem prática no ensino de
algumas matérias.

Este trabalho tem como objetivo geral analisar um caso fictício e relacioná-lo
com as teorias ético-normativas aprendidas em sala de aula. Para isso, será
apresentado o caso fictício "O Lugar dos Conflitos e os Conflitos de Lugar na
Falência de uma Empresa Familiar", extraído do 4º Volume da Revista Brasileira de
Casos de Ensino em Administração.

Após a apresentação e análise do caso, será exposta uma breve explicação


sobre as duas teorias ético-normativas que foram identificadas no comportamento
dos personagens. Em seguida, é realizada uma comparação entre as teorias
selecionadas e as ações tomadas pelos personagens deste caso.

Na sequência, as implicações para os personagens, para a empresa e para a


sociedade são identificadas.

Por fim, são propostas duas perguntas para que o leitor reflita sobre o caso
apresentado, e encerra-se o trabalho com a conclusão.

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2. APRESENTAÇÃO DO CASO E ANÁLISE

2.1. Introdução

O caso "O Lugar dos Conflitos e os Conflitos de Lugar na Falência de uma


Empresa Familiar", que será apresentado a seguir, foi extraído da Revista Brasileira
de Casos de Ensino em Administração, volume 4, número 1 do ano de 2014. Seus
autores são Luiz Alex Silva Saraiva e Paula Fernandes Furbino Bretas.

Ele aborda conflitos profissionais e familiares que envolveram os irmãos, e


sócios, de uma pequena fábrica de doces, sendo que estes problemas prejudicaram
o andamento dos negócios e culminaram na falência da empresa.

Os personagens principiais do caso são:

 Pedro: Filho de uma família que possui tradição no ramo de produção e


comercialização de doces de frutas industrializadas em Minas Gerais. É casado com
Marina, pai de dois filhos, e decidiu criar a sua própria fábrica de doces.

 Marina: Esposa de Pedro e irmã mais nova de Marcelo, é mãe das duas
crianças. Trabalhou junto com o marido desde o início da fábrica de doces, e
desenvolveu uma identidade forte com a empresa, percebendo-a como a sua fonte
de renda.

 Marcelo: É um dos irmãos mais velhos de Marina. É graduado em


Engenharia Civil, porém não atua neste mercado. Propôs a ideia de apresentar um
projeto da fábrica de doces para o Sebrae, visando profissionalizar o
empreendimento e inserir-se no mercado de trabalho.

 Lídia: Esposa de Marcelo, atuava junto com o marido nas funções


administrativas e de marketing.

2.2. Apresentação do Caso "O Lugar dos Conflitos e os Conflitos de


Lugar na Falência de uma Empresa Familiar"

A família de Pedro desenvolveu, em Minas Gerais, uma tradição na produção


e comercialização de doces de frutas industrializados. Uma pequena fábrica de
doces foi construída no quintal da casa do pai de Pedro, que vendia seus produtos

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para supermercados, laticínios e outras fábricas de doces, que revendiam às
grandes redes de hipermercados em Belo Horizonte e região. Quando o pai de
Pedro deixou de administrar a empresa, passando-a aos seus filhos, Pedro e sua
irmã, alguns conflitos surgiram fazendo com que Pedro tomasse a decisão de seguir
os seus próprios passos. Mal sabia ele que os conflitos familiares se repetiriam na
sua vida profissional.

Pedro e Marina, sua esposa, no início da década de 1990, começaram a


trabalhar de modo rudimentar. Na lateral de sua casa, eles montaram a
infraestrutura básica para fazer os primeiros doces: compraram uma máquina
estragada de fechar latas e um tacho de cobre furado que eles consertaram, e
improvisaram uma porta como mesa para trabalhar a matéria-prima. A logística de
transporte (produtos/matérias-primas) foi possibilitada com a compra de um veículo
cujo pagamento seria feito em mercadoria. Os primeiros clientes foram conquistados
a partir dos contatos que Pedro já tinha na antiga fábrica de seu pai, e as vendas
foram aumentando no sistema de propaganda boca a boca. O fluxo de caixa da
empresa funcionava de acordo com o ditado “vender o almoço para comprar a
janta”. Eles adquiriam matéria-prima com cheques pré-datados, vendiam o produto
final e, assim, quitavam as dívidas. À medida que as vendas aumentavam, eles
melhoravam a estrutura da empresa: arrumaram um galpão no fundo da casa,
compraram mais maquinário, contrataram funcionários, e, assim, a empresa foi se
desenvolvendo.

Crescer, contudo, também traz ônus. Quando a empresa tinha por volta de 10
anos, muitas dívidas de impostos começaram a se acumular. Pedro e Marina já
tinham aumentado a família com dois filhos, e ficavam a cada dia mais incomodados
com a não existência de fronteiras entre lar e trabalho e a falta de privacidade
trazida como consequência. Atendiam clientes nos finais de semana, tanto por
telefone (que era o mesmo para a residência e para a empresa) quanto
pessoalmente. Para se chegar ao escritório da empresa, era necessário atravessar a
sala e a cozinha da casa. A todo momento, havia movimento de gente dentro de
casa, entre funcionários, clientes, filhos e vizinhos. Funcionários da empresa
confundiam-se com os da casa (no caso, a empregada doméstica).

Pedro e Marina, então, empolgaram-se com uma proposta de reestruturação


e profissionalização da empresa. Um dos irmãos mais velhos de Marina, Marcelo,

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graduado em Engenharia Civil, estava fazendo um curso no Serviço de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae) e teve a ideia de apresentar
o projeto da fábrica de doces como plano de negócios. Objetivavam, assim,
conseguir um financiamento que o Sebrae liberava para empreendedores,
fomentando o desenvolvimento da empresa planejada. Era a possibilidade de
crescimento e perspectiva de futuro vislumbrada por Pedro e Marina e a
oportunidade de Marcelo inserir-se no mercado de trabalho, já que não estava
atuando em sua área de formação acadêmica.

O projeto foi apresentado ao Sebrae e aprovado. Previa a abertura de uma


nova empresa, com novo nome, em outro endereço. Um lugar que significava uma
expectativa quanto ao progresso, aliado diretamente à profissionalização.
Informalmente, foi acordado pelos envolvidos que se fecharia a antiga fábrica e
seriam vendidos seus bens à nova organização. Pedro, dessa forma, quitaria as
suas dívidas anteriores, e os maquinários, a carteira de clientes e os funcionários
seriam repassados aos novos sócios, Marina e Marcelo. Apesar de a nova empresa
ter iniciado suas atividades formalmente nos anos 2000, ela já existia desde os anos
1990: suas práticas, seu relacionamento com clientes e funcionários, seu modus
operandi. Não se tratava, portanto, na prática, de abrir uma nova empresa, mas, sim,
de reestruturar a antiga. Esses aspectos simbólicos não foram, contudo, pensados
no ato de formalização da sociedade e “constituição da nova organização”.

O contrato social dividia a nova empresa em duas partes iguais, uma para
Marcelo e outra para Marina. A dinâmica de lugar e poder, entretanto, já existia e
não seria reconfigurada da noite para o dia, com a simples assinatura de um
contrato. Marina guardava uma identidade com a antiga empresa, percebendo-a
como sua fonte de renda, na qual ela era responsável pelos problemas quando não
conseguia vendas. Quando Marcelo assumiu seu posto de sócio, foi criado um
contrato psicológico que gerava uma expectativa em Marina de progresso e de que
ele traria consigo mais vendas e clientes. A proposta consistia em dividir as funções
da seguinte forma: Marina cuidaria da produção, Pedro, da logística de transporte e
aquisição de matéria-prima, e Marcelo e sua esposa, Lídia, seriam responsáveis
pela rotina administrativa e pelo marketing. Captação de novos clientes,
propaganda, vendas e distribuição eram os pontos-chave do projeto. Só assim

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conseguiriam mais receita e bancariam a profissionalização, ou seja, o pagamento
das novas despesas, como aluguel de espaço, mais funcionários e maquinários.

Nos dois primeiros anos da nova sociedade, o processo organizativo ocorreu


de maneira tranquila. Nesse momento, a proposta do projeto ainda não tinha sido
implantada, mas ainda não era necessário começar a pagar o financiamento feito
pelo Sebrae, que dá 24 meses de carência para que o empreendedor gire o capital
na empresa. Logo que venceram as primeiras prestações, entretanto, iniciaram-se
os conflitos na organização, que envolvem uma dinâmica simbólica de lugares e
poderes.

O contrato psicológico foi rompido. Já que Marcelo não trouxera mais vendas,
Marina teria que continuar a correr atrás de receitas e fazer um trabalho que não era
dela para garantir o funcionamento da empresa e o sustento de sua família. Para
ela, portanto, a empresa regredia. Em vez de conseguir mais clientes, ela obteve
mais despesas, com o aumento de infraestrutura e a retirada de mais um sócio, que,
para ela, agia como um funcionário administrativo, funcionário este que ela não tinha
planos de contratar. Os irmãos (e sócios) começaram uma disputa de poder e lugar,
imbricando conflitos profissionais, familiares e pessoais. Enquanto Marina e Pedro,
trabalhando na produção e operações, cobravam de Marcelo que ele exercesse o
marketing, abrindo novos mercados, Marcelo argumentava que estava trabalhando
em outras tarefas, administrativas e de produção, e que essa não deveria ser
responsabilidade dele. Ele alegava que “não tinha se formado para correr atrás de
cliente”. Essa divisão foi se tornando um conflito maior a cada dia.

Essa ressignificação do lugar de Marcelo, de sócio a mero funcionário, foi a


base da ação de Marina quando ela começou a fazer retiradas sem prestar contas.
Para ela, não fazia sentido ser obrigada a reduzir sua renda e ter que dividi-la com
Marcelo, já que ele não cumpria a função prevista. Se, antes da sociedade, Marcelo
e Marina tinham o mesmo padrão de vida, eles deveriam continuar assim após a
sociedade. Ela sempre retirou o sustento de sua família da antiga fábrica, não
precisando prestar contas para ninguém, afinal ela era a proprietária. Para ela, era
uma questão de lógica: se tinha dois filhos a mais que Marcelo, precisava de mais
dinheiro, pois não deixaria sua vida regredir enquanto Marcelo mantinha a dele. Se
Marcelo não estava cumprindo o seu papel como sócio, ela também não cumpriria o
dela de reconhecê-lo como sócio e prestar-lhe contas.

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Essa história, contudo, não tinha o mesmo sentido para Marcelo. Ele comprou
o que sobrou da antiga empresa e abriu uma nova, na qual tinha que assumir seu
papel de sócio, de proprietário, e faria isso profissionalizando alguns processos,
como a contabilidade. Não era porque não estava conseguindo clientes e mais
vendas que não estava trabalhando, portanto tinha o direito de fazer a mesma
retirada que sua sócia, afinal o contrato social previa a divisão igualitária da
sociedade. Ele julgou a atitude da sócia, e também irmã mais nova, irresponsável e
moralmente errada, pois ela estaria roubando. Dessa forma, enquanto um discutia
uma questão de lógica racional e emotiva, outro discutia uma questão de lógica legal
e ética.

Outros conflitos surgiram a partir do lugar como espaço de lutas, em busca de


afirmação individual de identidade e exercício de poder, ou seja, da territorialização
do espaço. Com a sociedade, a vida organizacional ganharia novos contornos para
os antigos sócios. Marina nunca precisou dividir decisões em relação à sua escala
de férias. Certa vez, Marina e Marcelo desejavam marcar suas férias para o mesmo
período, entretanto Marina justificava a sua preferência por questões de produção.
Além de seu funcionário especializado, ela era a única que sabia “dar o ponto final
no doce”. Assim, nas férias desse funcionário, ela precisava assumir esse processo
na produção. O desfecho do conflito foi o seguinte: Marcelo tirou férias no período
desejado por ele, exercendo poder como proprietário, mas, no intento de defender
seu território, Marina não lhe prestou contas de nada que aconteceu no período em
que ele estava fora, inclusive entradas e saídas contábeis. Percebe-se que ela
exercia um poder pelo saber, além do poder formal como proprietária, e buscava
garantir seu espaço conquistado desde a antiga empresa, enquanto Marcelo
representava uma ameaça a esse poder.

Outra ocorrência conflituosa foi quanto à definição de prioridades referente às


funções dos funcionários. Um dia, coincidiu de a fábrica ter uma grande encomenda
de produção de doces de coco e uma entrega programada em outra cidade
simultaneamente. Como havia poucos funcionários, eles desempenhavam diversos
tipos de ações, sendo delegadas pelos proprietários. Nesse dia, Marina solicitou a
determinado funcionário que ficasse na produção, por ter mais habilidade em
descascar cocos, assim tornaria o processo mais rápido. Marcelo, porém,
determinou ao mesmo funcionário que o acompanhasse em viagem a Ouro Preto,

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para realizar a entrega prevista. O desfecho deu-se com a ausência de Marina no
momento da saída de Marcelo e a ida do funcionário à entrega, em detrimento do
processo produtivo. Para demarcar seu lugar na organização, Marina tinha avisado
ao funcionário que ele sofreria sanções caso a desobedecesse, o que ocasionou a
sua demissão. É interessante notar que, em princípio, a demissão não ocorreu por
uma questão de incompatibilidade ou disfunção do funcionário, mas por uma
questão relacionada à dinâmica simbólica de poder e lugar.

Enquanto Marina e Pedro tentavam, assim, manter sua autoridade perante os


funcionários com base em sua posição desde a antiga fábrica, Marcelo também
tentava ganhar o seu espaço como patrão. Nesses conflitos, é impossível não
lembrar a posição autoritária de Marcelo perante sua irmã mais nova, como ocorria
na sua infância e adolescência. Os conflitos de gestão chegaram a minar a
autoridade na organização, polarizando o poder dos irmãos, e isso se refletiu na
relação com os funcionários. Além disso, é interessante notar que os irmãos eram
vizinhos e, muitas vezes, levavam seus problemas profissionais para casa, inclusive
envolvendo outros membros da família.

A cada conflito, de briga em briga, a administração da empresa foi ficando


cada vez mais insustentável. Os cônjuges, Pedro e Lídia, abandonaram o barco
primeiro. Como não conseguiram chegar a um consenso em como seguir com a
fábrica, os irmãos, que antes eram amigos e agora já nem conversavam mais, foram
prolongando a existência da empresa até sua falência definitiva.

2.3. Análise do Caso

O caso apresentado acima trata essencialmente de problemas envolvendo a


divisão de poderes e funções entre os irmãos e sócios. Pode ser entendido que a
falência da fábrica de doces foi consequência de conflitos internos, sendo que
fatores externos, tais como o contexto econômico, a atuação dos concorrentes ou
mesmo a dívida com o Sebrae, pouco influenciaram no resultado final.

Uma possível solução para o conflito entre Marina e Marcelo seria redistribuir
as funções e cargos, de maneira que ficasse bastante claro e objetivo o que cada
um deveria fazer pela empresa. Visto que Marina tinha um vínculo muito mais antigo
com a empresa, desde a sua criação, e a utilizava como fonte de renda para sua

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família, seria justo que ela possuísse uma participação maior na companhia,
respaldada pelo contrato social.

Vale lembrar que, enquanto Marina agiu de emotiva e racional, pois procurava
obter o sustento da família e o bom andamento do negócio, Marcelo agiu de forma
moral e legal, pois procurou seguir a sua regra moral de que roubar é errado, e agiu
baseado no que o contrato social da empresa dizia.

Entretanto, toda e qualquer tentativa de solucionar o conflito exigiria


flexibilidade e tolerância por parte dos dois irmãos, e este foi justamente um dos
aspectos em que ambos falharam.

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3. COMPARAÇÃO DO CASO COM AS TEORIAS ÉTICO-
NORMATIVAS

3.1. Apresentação das teorias ético-normativas selecionadas

3.1.1. Utilitarismo

O Utilitarismo é uma teoria ético-normativa teleológica, visto que está focada


nas consequências e não na motivação dos atos cometidos. De acordo com
Moreland e Craig (2005), o rótulo de "certo" ou "errado" atribuído a uma regra moral
é unicamente uma função do bem não moral produzido direta ou indiretamente pelas
consequências desse ato ou regra.

Em outras palavras, é dizer que uma ação só será "correta" se produzir uma
consequência positiva, e só será "incorreta" quando produzir uma consequência
negativa.

Entre as diversas teorias utilitaristas do valor, a que mais se enquadra no


caso apresentado é a do utilitarismo pluralista, a qual busca ir além do simples
conceito de conseguir prazer e evitar a dor, defendido pelas outras teorias
utilitaristas de valor, e atribuí valores únicos e intrínsecos a outras coisas, tais como
amor, saúde, amizade, etc.

3.1.2. Ética Deontológica

A teoria da ética deontológica, como o próprio nome sugere, é uma teoria


deontológica, e, portanto, tem como foco principal a motivação dos atos cometidos
em detrimento das consequências. Esta teoria defende que os atos e regras morais
são "corretos" e "incorretos" por si só, independente das consequências que irão
ocasionar, pois possuem valor intrínseco e não apenas instrumental (MORELAND;
CRAIG, 2005).

De acordo com a ética deontológica, ser moral não é apenas conseguir "boas"
consequências, mas, principalmente, agir de acordo com as normas morais. A
moralidade é, pelo menos em parte, a sua própria essência, e o valor está
concentrado nos atos e regras, e não nas consequências.

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3.2. Comparação entre o caso apresentado e as teorias ético-
normativas selecionadas

O conflito que compõe o caso estudado neste trabalho ocorreu entre os dois
irmãos e sócios, e foi identificado que cada um deles agiu de acordo com uma teoria
ético-normativa diferente. Portanto, a análise deste caso será realizada à luz de
duas teorias, ao invés de apenas uma.

Marina agiu segundo o utilitarismo pluralista, enquanto que Marcelo seguiu a


teoria da ética deontológica.

3.2.1. Marina e o utilitarismo pluralista

Marina agiu de acordo com o utilitarismo, visto que suas ações foram guiadas
por seu objetivo de assegurar a sua posição como proprietária da empresa, e
garantir a renda de sua família. O caso dá a entender que ela não agiu de má fé,
porém, utilizou alternativas não muito adequadas, como tirar dinheiro da empresa
sem prestar contas, para atingir os seus objetivos.

O utilitarismo considera que uma ação é correta se produz resultados


positivos, sem olhar para as regras em si. De certa forma, esta teoria está
relacionada à afirmação "os fins justificam os meios". No caso de Marina, a ação de
tirar dinheiro sem prestar contas ao sócio (a qual Marcelo interpretou como roubo) é
errada, porém, para ela, se justifica pelo resultado positivo que produz, que é
garantir o sustento da família.

Marina se enquadra no utilitarismo pluralista pois atribui diferentes valores à


família, à empresa, à sociedade com o irmão, etc., e não toma decisões
simplesmente para obter prazer e evitar a dor.

3.2.2. Marcelo e a ética deontológica

Marcelo, por outro lado, agiu segundo a ética deontológica, visto que procurou
seguir sempre as regras morais estabelecidas, guiando-se pelas regras em si, e não
pelo resultado de suas ações. Ao julgar que Marina estava roubando e ser inflexível
quanto à sua retirada de capital ser igual a da irmã, mesmo sabendo que ela tinha
dois filhos e era muito mais antiga e importante para o funcionamento da empresa,

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Marcelo está se utilizando das leis e da regra moral "roubar é errado, independente
das circunstâncias", para defender a sua posição.

Se por um lado, ele estava agindo de acordo com a moral, por outro lado, se
empreendeu suas ações de forma irracional, e a sua inflexibilidade com a irmã, a
qual tinha motivos compreensíveis para fazer o que estava fazendo, impediu a
condução da empresa de forma harmônica, e tornou a situação cada vez mais crítica
até a falência definitiva da organização.

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4. IMPLICAÇÕES

4.1. Para os próprios personagens

A necessidade que os irmãos tinham de afirmar a sua posição e os conflitos


que derivaram desse problema, geraram uma série de consequências negativas
para ambos os lados, principalmente após a falência da empresa, afinal, todos os
personagens do texto perderam os seus empregos.

Para Pedro, e principalmente, Marina, a disputa com Marcelo gerou um clima


de animosidade entre os irmãos, que antes eram amigos. Após a falência da
organização, Marina perdeu a principal fonte de renda para sua família, e Pedro
testemunhou o fim do negócio que ele fundou e trabalhou duro para fazer crescer.

Já Marcelo e Lídia, além da relação ruim com Marina, também ficaram sem
seus empregos. Além disso, perderam a oportunidade de fazer a fábrica de doces
crescer.

4.2. Para a empresa

Entre todos os itens citados nesta parte do trabalho, a empresa foi o mais
afetado. A princípio, o texto do caso não indica a presença de grandes obstáculos
econômicos, políticos ou competitivos para o crescimento da empresa, sendo
plausível acreditar que, caso o conflito entre os sócios não ocorresse e a companhia
fosse bem administrada, ela poderia ter crescido bastante, e se tornado um
empreendimento grande e lucrativo para os seus sócios.

Por outro lado, as retiradas de dinheiro sem prestação de contas realizadas


por Marina, bem como a falta de preocupação de Marcelo em conseguir novos
clientes para aumentar as vendas, foi tornando a resolução dos problemas cada vez
mais complicada, até que, finalmente, a situação da empresa tornou-se
insustentável, e a organização faliu.

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4.3. Para a sociedade

Visto que a companhia estudada no caso não era muito grande, e possuía
poucos funcionários, os impactos na sociedade existiram, embora tenham sido
relativamente pequenos.

Entre as implicações resultantes do conflito entre os irmãos e sócios para a


sociedade, podemos citar: A falência de uma empresa, a demissão de funcionários,
a diminuição da concorrência no segmento de doces de frutas industrializados, a
perda da oportunidade de uma empresa crescer, e gerar novos empregos, impostos
e competitividade no mercado.

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5. PERGUNTAS

5.1. Marcelo seguiu estritamente o que o contrato social da empresa


dizia, e julgou que a sua irmã estava roubando dinheiro da
empresa, sem entender o lado dela. Marcelo agiu de forma moral?

Se esta pergunta for analisada sob a perspectiva da ética deontológica, a


qual foi adotada por Marcelo, chega-se a conclusão de que ele realmente agiu de
forma moral. Ao tomar suas ações buscando sempre cumprir as regras legais ou
morais, Marcelo estava agindo de acordo com a teoria ético-normativa que adotou.

Porém, a sua inflexibilidade e falta de compreensão em relação às demandas


da irmã foram bastante prejudiciais para a empresa, visto que esse comportamento
levou a uma escalada nos conflitos, culminando na falência da empresa.

Em suma, Marcelo agiu de forma moral, porém, se ele tivesse agido de


maneira mais flexível, e entendido o lado de Marina, poderia ter evitado os conflitos
com ela e as consequências negativas que se seguiram.

5.2. Qual seria uma possível solução para o conflito apresentado no


texto?

Visto que a disputa entre os irmãos ocorreu devido a uma divisão mal
executada das funções e poderes dentro da empresa, a qual ignorou vários
aspectos simbólicos, a solução do problema está em redefinir esta divisão.

Pedro, Marina, Marcelo e Lídia deveriam redefinir o que cada um faria na


empresa, e por quais funções cada um deles seria responsável, da maneira mais
clara e objetiva possível, para evitar confusões e interpretações distorcidas. Essa
solução só seria possível se, tanto Marcelo quanto Marina, compreendessem o lado
do outro e agissem de maneira flexível, aceitando negociar e, eventualmente, abrir
mão de algumas coisas em prol do bom andamento da empresa.

Uma vez redefinida a divisão, todos deveriam cumprir com aquilo que foi
discutido, e agir com bom-senso e sinceridade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os aspectos simbólicos da divisão de poderes, cargos e funções em uma


empresa nem sempre recebe a devida atenção por parte de seus dirigentes, e o
estudo do caso "O Lugar dos Conflitos e os Conflitos de Lugar na Falência de uma
Empresa Familiar", demonstra o quanto isso pode ser prejudicial para a organização
e seus colaboradores.

Sob a ótica das teorias ético-normativas, concluiu-se que Marina agiu


segundo o utilitarismo pluralista, buscando maximizar o resultado de suas ações, e
focando somente nas consequências, deixando de lado algumas regras morais. Por
outro lado, percebeu-se que Marcelo tomou as suas ações baseadas na ética
deontológica, agindo estritamente de acordo com o contrato social da empresa e
com a regra moral de que roubar é errado, sendo inflexível e não compreendendo o
lado de sua irmã.

Os problemas que se originaram a partir do conflito entre os irmãos foram se


tornando mais delicados e numerosos, gerando implicações para eles próprios, para
a companhia, e, com a falência desta, para a sociedade em geral.

Por fim, é aceitável acreditar que, se os irmãos e sócios tivessem buscado


compreender o lado do outro e redefinir as funções de cada um de maneira clara e
objetiva, é provável que a organização em questão não tivesse sido obrigada a
encerrar as suas atividades.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MORELAND, James Porter; CRAIG, William Lane. Filosofia e Cosmovisão Cristã.


São Paulo: Vida Nova, 2005.

BRETAS, Paula Fernandes Furbino; SARAIVA, Luiz Alex Silva. O Lugar dos
Conflitos e os Conflitos de Lugar na Falência de uma Empresa Familiar. Revista
Brasileira de Casos de Ensino em Administração, São Paulo, Volume 4, número
1, 2014. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/gvcasos/issue/
view/1219> Acesso em: 28 out. 2015.

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