Trabalho sobre luto

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a população idosa aumentou. Dados de censo do Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018) mostram que do ano de 2000 até
2021, o número de pessoas de 65 anos ou mais teve a projeção de um crescimento
de 22%. Esta ascensão não é uma exclusividade do Brasil. Maria Lúcia Vieira,
gerente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), afirmou
em entrevista à reportagem do IBGE (2018), que a causa para o crescimento da
população idosa em todo o mundo vem do aumento da expectativa de vida
ocasionada pela melhoria nas condições de saúde e também pela taxa de
fecundidade, já que a média de filhos por mulher está em declínio.

Considerando a tendência mundial, é possível compreender que o contato com a


perda, o luto, a proximidade com a morte, a saída do mercado de trabalho, as
mudanças fisiológicas e sociais associadas ao envelhecimento estão presentes de
forma cada vez mais ampla na sociedade. Sendo assim, torna-se necessária a
pesquisa sobre a vida adulta tardia, principalmente quando se trata de mecanismos
de enfrentamento.

Feldman, Papalia e Martorell (2013) definem enfrentamento como “pensamento


adaptativo que visa reduzir ou aliviar o estresse resultante de condições prejudiciais,
ameaçadoras ou difíceis”. Para encarar de forma funcional os desafios
apresentados aos idosos, promovendo o bem estar do sujeito, é preciso
desenvolver mecanismos adaptativos maduros.

Para Vaillant (2000, apud PAPALIA, FELDMAN E MARTORELL, 2013, p. 609),


estes já são desenvolvidos em fases anteriores, ou seja, um adulto jovem que já
apresentava defesas adaptativas maduras - resiliência, persistência, humor,
sublimação, entre outros - teria melhor adaptação psicossocial na velhice. De
acordo com esta abordagem teórica, estas defesas podem modificar a maneira
como o sujeito percebe as realidades que as pessoas não conseguem mudar,
podendo ser inconscientes ou intuitivas.
Por outro lado, o modelo de avaliação cognitiva desenvolvido por Lazarus e
Folkman (1894, apud PAPALIA, FELDMAN E MARTORELL, 2013, p. 609), parte de
uma perspectiva de mecanismos de enfrentamento escolhidos conscientemente.
Um deles é o enfrentamento focalizado no problema - comportamento ou
pensamento adaptativo no qual o foco é extinguir, administrar ou melhorar uma
situação de estresse. O outro é o enfrentamento focalizado na emoção - neste, o
foco é administrar a resposta emocional a um cenário de estresse para aliviar o seu
impacto tanto físico, quanto psicológico.

Aparentemente, com a idade, as pessoas desenvolvem esse repertório


mais flexível de estratégias de enfrentamento. Os adultos mais velhos
podem utilizar estratégias focalizadas no problema, mas podem ser mais
hábeis do que os mais jovens em regular as emoções quando a situação
assim o exige - quando uma ação focalizada no problema se mostra inútil
ou contraproducente. (PAPALIA, FELDMAN E MARTORELL, 2013, p. 610).

Considerando a relevância das transformações trazidas pela velhice e o impacto


que estas exercem sobre os indivíduos, o presente trabalho busca compreender
como o adulto tardio lida com o luto, perdas, separação e os mecanismos de
enfrentamento que ele encontra para fazê-lo. Além disso, dá-se ênfase à esfera da
relação do idoso com a espiritualidade, já que de acordo com GUTZ E CAMARGO
(2013):

[...] a espiritualidade pode ser contemplada na velhice como um dos


recursos de enfrentamento para situações adversas, constituindo-se de
aspectos emocionais e motivacionais. A espiritualidade e o envolvimento
em religiões organizadas podem proporcionar aumento do senso de
propósito e significado da vida, que são associados à maior capacidade do
ser humano em responder de forma positiva às demandas do cotidiano.

1 SEPARAÇÃO CONJUGAL NA VELHICE

Os relacionamentos sociais possuem grande importância em todas as fases do


desenvolvimento humano, mas na fase adulta tardia estes desempenham uma
função ainda mais essencial para uma boa saúde física e mental. “O apoio
emocional ajuda as pessoas mais velhas a manter a satisfação na vida, em face do
estresse e trauma [...] e os laços positivos tendem a melhorar a saúde e o bem
estar.” (PAPALIA, FELDMAN E MARTORELL, 2013).
Em contrapartida, laços negativos e conflituosos podem ser agentes de estresse,
levando a diminuição da qualidade de vida e consequentemente carregam a
possibilidade da aceleração do declínio físico e cognitivo. (GRUENEWALD et al.,
2007, apud PAPALIA, FELDMAN E MARTORELL, 2013, p. 623).

As pessoas casadas são mais saudáveis (Schoenborn, 2004) e vivem mais


do que as não casadas (Kaplan e Kronick, 2006), mas a relação entre o
casamento e a saúde pode ser diferente para maridos e esposas. Enquanto
estar casado parece trazer benefícios para homens mais velhos, a saúde
de mulheres mais velhas parece estar mais ligada à qualidade do
casamento (Carstesen et al., 1996). (PAPALIA, FELDMAN E MARTORELL,
2013, p. 610).

Algo que pode colocar a relação amorosa em risco na terceira idade são as doenças
físicas. De acordo com Karney e Bradbury (1995, apud PAPALIA, FELDMAN E
MARTORELL, 2013, p. 626) “Esses casais podem ser apanhados num círculo
vicioso: a doença traz tensões ao casamento e essas tensões podem agravar a
doença, esgarçando a capacidade de enfrentamento ao ponto de ruptura”.

É raro que o divórcio ocorra na fase adulta tardia. A separação civil é feita com
facilidade, ou seja, se os cônjuges alcançam a velhice juntos, a tendência é que já
tenham resolvido suas diferenças e tenham chegado a acomodações agradáveis a
ambos. (HUYCK, 1995, apud PAPALIA, FELDMAN E MARTORELL, 2013, p. 624).
Além disso, há maior habilidade dos idosos em ajustar suas emoções, o que pode
minimizar os conflitos (CARSTENSEN et al., 1996, apud PAPALIA, FELDMAN E
MARTORELL, 2013, p. 624).

O divórcio apresenta números pouco expressivos na terceira idade, mas além do


fator da adaptabilidade emocional, os motivos para isso são os benefícios sociais
que o casamento apresenta. Pessoas idosas casadas têm menos probabilidade de
necessitar da ajuda da comunidade.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Projeção da
população. Desenvolvido pelo IBGE. Apresenta sistema de busca de dados que
resulta em tabelas personalizadas. Disponível em:
<https://sidra.ibge.gov.br/tabela/7358> Acesso em: 25 de nov 2021.

GUTZ, Luiza; CAMARGO, Brigido Vizeu. Espiritualidade entre idosos mais velhos:
um estudo de representações sociais. Revista Brasileira de Geriatria e
Gerontologia. Rio de Janeiro, v. 16, n. 4, 2013. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S1809-98232013000400013> Acesso em: 24 de nov. 2021.

PARADELLA, Rodrigo. Número de idosos cresce 18% em 5 anos e ultrapassa 30


milhões em 2017. Agência IBGE Notícias. Brasília, 1 de fev. 2018. Diponível em:
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/
noticias/20980-numero-de-idosos-cresce-18-em-5-anos-e-ultrapassa-30-milhoes-
em-2017> Acesso em: 24 de nov. 2021.

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