Apostila

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1

LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS II


Profª. Dra. Bárbara Neves Salviano de Paula
2

LIBRAS II
PROFª. DRA. BÁRBARA NEVES SALVIANO DE PAULA
3

Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério

Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira

Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos

Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Esp. Imperatriz da Penha Matos

Revisão Gramatical e Ortográfica: Profª. Esp. Izabel Cristina

Revisão técnica: Profª. Clévia Sies

Revisão/Diagramação/Estruturação: Clarice Virgilio Gomes


Prof. Esp. Guilherme Prado
Lorena Oliveira Silva Portugal

Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva
Daniel Guadalupe Reis
Élen Cristina Teixeira Oliveira
Maria Eliza P. Campos

© 2022, Faculdade Única.

Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza-
ção escrita do Editor.

Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.
4

LIBRAS II
1° edição

Ipatinga, MG
Faculdade Única
2022
5

BÁRBARA NEVES SALVIANO


Doutora em Linguística Aplica-
da, atualmente atua como profes-
sora da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP) no
campo do ensino de Libras e como
professora de Língua Portuguesa da
rede municipal de ensino. Tem expe-
riência como professora do ensino
superior na Faculdade de Letras da
UFMG, como analista e conteudista
de material didático para a Federa-
ção Nacional de Educação e Inte-
gração dos Surdos (Feneis) de Minas
Gerais, bem como para plataformas
digitais e como lexicógrafa de Proje-
tos de Pesquisa da categoria BIC-Jr
do Centro Federal de Educação Tec-
nológica de Minas Gerais- CEFET/MG.
É autora da proposta lexicográfica do
primeiro dicionário geral de língua
Português/Libras/Português.

Para saber mais sobre a autora desta obra e suas qua-


lificações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link :
http://lattes.cnpq.br/7068440714654961
Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado.
6
LEGENDA DE

Ícones
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão
do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar
ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para
determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica,
mostradas a seguir:

FIQUE ATENTO
Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes
nas quais você precisa ficar atento.

BUSQUE POR MAIS


São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca
virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro.

VAMOS PENSAR?
Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade,
associando-os a suas ações.

FIXANDO O CONTEÚDO
Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos
conteúdos abordados no livro.

GLOSSÁRIO
Apresentação dos significados de um determinado termo ou
palavras mostradas no decorrer do livro.
7
SUMÁRIO
UNIDADE 1
A COMPETÊNCIA COMUNICATIVA
1.1 O Que é Competência Comunicativa .................................................................................................................................................................................................................................11
1.2 Tipos Textuais ......................................................................................................................................................................................................................................................................................14
1.2.1 A Narrativa ........................................................................................................................................................................................................................................................................................16
1.2.2 A Descritiva ......................................................................................................................................................................................................................................................................................17
1.2.3 O Dissertativo-Argumentativo .................................................................................................................................................................................................................................................18
1.3 Tipos Textuais no Ensino de Língua Portuguesa como L2 Para Surdos ....................................................................................................................................................20
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................................................................................................................................................................................................................25

UNIDADE 2
LIBRAS EM FOCO I
2.1 Pronomes Pessoais ........................................................................................................................................................................................................................................................................30
2.2 Pronomes Possessivos ...............................................................................................................................................................................................................................................................34
2.3 Família ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................37
2.4 .Aplicação Prática ...........................................................................................................................................................................................................................................................................41
2.4.1 Atividade 1 ......................................................................................................................................................................................................................................................................................42
2.4.2 Atividade 2 ....................................................................................................................................................................................................................................................................................42
2.4.3 Atividade 3 ....................................................................................................................................................................................................................................................................................42
2.4.4 Atividade 3 ...................................................................................................................................................................................................................................................................................43
FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................................................................................................................................................................................................................44

UNIDADE 3
FESTUDO DO LÉXICO
3.1 O Léxico das Línguas de Sinais (LS) ...................................................................................................................................................................................................................................49
3.2 A Lexicologia das LS .......................................................................................................................................................................................................................................................................51
3.3 A Lexicografia das LS ...................................................................................................................................................................................................................................................................54
3.4 A Terminologia das LS ................................................................................................................................................................................................................................................................58
FIXANDO O CONTEÚDO .........................................................................................................................................................................................................................................................................61

UNIDADE 4
LIBRAS EM FOCO II
4.1 Localização .........................................................................................................................................................................................................................................................................................65
4.1.1 Lugares Públicos ..........................................................................................................................................................................................................................................................................67
4.1.2 Os Cômodos da Casa ..............................................................................................................................................................................................................................................................69
4.2 Pronomes Demonstrativos .....................................................................................................................................................................................................................................................69
4.3 Preposições/Locuções Prepositivas de Lugar ...........................................................................................................................................................................................................72
4.4 Aplicação Prática ..........................................................................................................................................................................................................................................................................74
4.4.1 Atividade 1 .......................................................................................................................................................................................................................................................................................75
4.4.2 Atividade 2 .....................................................................................................................................................................................................................................................................................75
4.4.3 Atividade 3 ....................................................................................................................................................................................................................................................................................76
4.4.4 Atividade 4 .....................................................................................................................................................................................................................................................................................77
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................................................................................................................................................................................................................78

UNIDADE 5
AS EXPRESSÕES NÃO MANUAIS (ENM)
5.1 O Uso das ENM na Libras e Seus Aspectos Gramaticais .....................................................................................................................................................................................82
5.2 Aspecto .................................................................................................................................................................................................................................................................................................83
5.3 Foco .........................................................................................................................................................................................................................................................................................................85
5.4 Tópico ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................87
5.5 Afirmativas e Negativas, Exclamativas e Interrogativas ...................................................................................................................................................................................89
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................................................................................................................................................................................................................92
8
UNIDADE 6
LIBRAS EM FOCO III

6.1 Ações Cotidianas ...........................................................................................................................................................................................................................................................................96


6.2 Partículas Interrogativas ........................................................................................................................................................................................................................................................100
6.3 Aplicação Prática ........................................................................................................................................................................................................................................................................103
6.3.1 Atividade 1 ....................................................................................................................................................................................................................................................................................103
6.3.2 Atividade 2 ..................................................................................................................................................................................................................................................................................104
6.3.3 Atividade 3 ..................................................................................................................................................................................................................................................................................104
FIXANDO O CONTEÚDO.......................................................................................................................................................................................................................................................................106

RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO......................................................................................................................................................................................109


REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................................................................................................................110
9
UNIDADE 1
Trataremos sobre competência comunicativa a partir da compreensão das
principais sequências textuais, a saber, a narrativa, a descritiva e a dissertativa-
argumentativa. Além dos conceitos, identificaremos como o estudo dos tipos
textuais podem desenvolver a habilidade linguística dos surdos quando no ensino
CONFIRA NO LIVRO

de Português L2.

UNIDADE 2
Na primeira unidade que trata de apresentação prática da Libras, compreenderemos
os conceitos léxico-gramaticais dos Pronomes Pessoais e Pronomes Possessivos.
Além disso, abordaremos o vocabulário referente às relações de parentesco e, por
fim, aplicaremos o aprendizado de forma prática.

UNIDADE 3
Nesta unidade discutiremos os aspectos relacionados às ciências do léxico que
competem a toda e qualquer língua legítima e natural, incluindo as línguas de
sinais. Identificaremos os conceitos relacionados ao léxico, Lexicologia, Lexicografia
e Terminologia a fim de associá-los aos estudos das LS.

UNIDADE 4
Em mais uma unidade de apresentação prática, trabalharemos com o vocabulário
referente à localização e direcionalidade, o que envolve reconhecer espaços
públicos e de moradia. Abordaremos aspectos gramaticais a partir da identificação
dos conceitos e apresentação dos Pronomes Demonstrativos e das Preposições de
Lugar. Ao final da unidade, conseguiremos reunir os conhecimentos aqui adquiridos
em elaborações de sentenças complexas.

UNIDADE 5
As expressões não manuais são um dos parâmetros fonológicos das línguas de sinais
e são mais do que complementos discursivos. Nesta unidade, compreenderemos
como elas desempenham papel sintático ao incorrer em marcações de sentenças
interrogativas, topicalizações e foco; além de considerar sua constituição lexical ao
marcar o aspecto e, também, sua manifestação na categorização de sentenças
afirmativas, interrogativas e negativas.

UNIDADE 6
A Unidade 6 é outra responsável por nos apresentar algum conteúdo prático,
como, por exemplo, os verbos indicativos de nossas ações cotidianas. Também
aprenderemos sobre palavras e locuções de cunho interrogativo e suas duas funções
básicas na comunicação em Libras. Ao finalizar, um apanhado dos conhecimentos
abordados será apresentado em questões de plena prática.
10

A COMPETÊNCIA
COMUNICATIVA
11
1.1 O QUE É COMPETÊNCIA COMUNICATIVA

O estudo da competência comunicativa é imprescindível para formação de


sujeitos efetivamente comunicadores. Sua aplicabilidade está para várias habilidades,
como podemos perceber na citação de Berruto mencionada no trabalho de Castellanos:
A competência comunicativa é uma capacidade que
inclui não só a habilidade linguística e gramatical de
produzir frases bem construídas e de saber interpretar e
fazer julgamentos sobre frases produzidas pelo falante
- ouvinte ou por outros, mas necessariamente incluirá,
por um lado, uma série de habilidades extralinguísti-
cas inter-relacionadas, sociais e semióticas e, por outro
lado, uma habilidade linguística multifacetada e multi-
forme. (BERRUTO apud CASTELLANOS, 1992, p.100. Tradu-
ção nossa.)

Ainda, é relevante analisar o conceito de competência comunicativa postulado


por Pilleux:
O status da comunicação linguística como um siste-
ma gramatical que é usado para comunicação e que
faz parte da cultura geralmente não tinha sido consi-
derado antes do trabalho de Hymes. Assim, a comu-
nicação linguística é alcançada por meio do domínio
da competência comunicativa, termo que Hymes (1971,
1972, 1974) cunhou da etnografia da comunicação (um
cruzamento entre antropologia e linguística), tendência
antropológica que começa a se desenvolver no meio a
partir da 1960 e início dos anos 1970 (Gumperz e Hymes
1964,1972). Hymes propõe que a competência comuni-
cativa deve ser entendida como um conjunto de habi-
lidades e conhecimentos que permitem que os falan-
tes de uma comunidade linguística se entendam. Em
outras palavras, é nossa capacidade de interpretar e
usar apropriadamente o significado social das varieda-
des linguísticas, de qualquer circunstância, em relação
às funções e variedades da língua e aos pressupostos
culturais na situação de comunicação. Refere-se, em
outros termos, ao uso como sistema de regras de inte-
ração social. (PILLEUX, 2001, online. Tradução nossa)

Como podemos perceber nas colocações dos autores, competência linguística


envolve mais do que simplesmente conhecer regras gramaticais da língua e reconhecer
as palavras desse idioma. Podemos dividir a competência comunicativa em dois
âmbitos: a elaboração e a decodificação.
A elaboração linguística compromete-se com a produção. Contorna toda e
qualquer construção discursiva em todas as suas possibilidades de expressar-se: oral,
escrita, imagética e/ou pantomímica, etc. Para tanto, é preciso o desenvolvimento
de aptidões tais quais as citadas por Castellanos; a saber “a habilidade linguística e
12
gramatical de produzir frases bem construídas”, assim como “uma série de habilidades
extralinguísticas interrelacionadas, sociais e semióticas e, por outro lado, uma habilidade
linguística multifacetada e multiforme”.
A perícia linguística perpassa, justamente, por aspectos multifacetados que
incluem conhecimentos lexicais, sintáticos, semânticos, morfológicos, fonológicos,
pragmáticos, além de gramaticais. Essas competências são adquiridas natural e/
ou artificialmente, dependendo do contexto do aprendiz; seja ele aprendiz de uma L1
ou L2, e dependendo também do seu ambiente de aquisição; seja o círculo natural
de convivência ou a escola. As aquisições naturais de uma língua materna serão
aprimoradas e desenvolvidas a partir de perspectivas específicas no ambiente
escolar. Além disso, serão as responsáveis por auxiliar no aprendizado de uma língua
estrangeira. A partir do conhecimento e potencial de aplicar tais redes, há competência
comunicativa na esfera linguística.
No entanto, ainda é necessário estabelecer relações extralinguísticas, como
as semióticas e sócio-culturais, dado que, conforme indicado por Pilleux (1992),
anteriormente mencionado, “a competência comunicativa deve ser entendida como
um conjunto de habilidades e conhecimentos que permitem que os falantes de uma
comunidade linguística se entendam.” Nessa perspectiva, apenas conhecer critérios
linguísticos da língua não será suficiente para produzir enunciados que evidenciam
competência linguística. Pense, por exemplo, nas unidades polilexicais como as
expressões idiomáticas e provérbios, bem como nas formações metafóricas.

Figura 1: Unidades polilexicais


Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3zZ1Cz5. Acesso em: 27 jul 2021

Nenhuma das considerações acima traz, por si só, todo o sentido do enunciado,
embora todas elas estejam escritas de acordo com a norma culta gramatical da Língua
Portuguesa. Para que sejam amplamente compreendidas em sua definição mais
usual, a metafórica, é preciso ir além da assimilação do significado de cada uma das
palavras que as compõem e somar tais conceitos. É preciso conhecimento cultural e
social da comunidade linguística falante do Português. Por isso mesmo, será difícil para
um aprendiz de Língua Portuguesa como L2 entender o caráter que essas expressões
possuem sem que sejam orientados por um falante nativo de LP.

BUSQUE POR MAIS


Se você não conseguiu compreender o sentido metafórico das expressões ilus-
tradas, consulte o artigo “169 expressões idiomáticas que você precisa aprender
a usar agora mesmo!”, de Luís Cunha. Nele, além de encontrar o significado das
acima sugeridas, você irá relembrar conceitos e descobrir como os textos são
13
enriquecidos com o uso das unidades polilexicais. Uma dica: a expressão “cabeça na lua”
acima exemplificada, tem como sinônimo “cabeça nas nuvens”. Procure por essa última
forma no artigo. Disponível em: https://bit.ly/3B3HvRM. Acesso em: 15 nov. 2022.

Percebem como competência comunicativa vai além de construções corretas e


formais? Seu objetivo principal é fazer-se entender aos seus pares linguísticos.

VAMOS PENSAR?
Isso significa dizer que, mesmo uma sentença com variação linguística pode ser conside-
rada competente linguisticamente. Levando em conta que o objetivo principal de uma co-
municação é fazer-se compreender e ser compreendido, se uma interlocução não estiver
absolutamente dentro das normas da gramática culta, mas a sua mensagem foi decodifi-
cada pelo destinatário e a comunicação foi efetivada, seu locutor foi competente. Portanto,
envolverá, necessariamente, conhecimento linguístico e extralinguístico nas enunciações
produzidas.

A decodificação linguística está para a compreensão do discurso recebido.


É o trabalho que o interlocutor realizará ao se deparar com um texto da língua em
qualquer modalidade de apresentação. Isso está de acordo com a citação já trazida
de Castellanos: “saber interpretar e fazer julgamentos sobre frases produzidas pelo
falante - ouvinte ou por outros”. Assim, a concretização da competência comunicativa
depende de duas partes: o locutor e o interlocutor. Não basta que apenas a primeira
parte cumpra seu papel, é preciso que a segunda tenha aptidão na recepção do
texto que lhe foi oferecido. É preciso que o destinatário da mensagem se ocupe em
interpretar, julgar e decifrar tal manifestação. Como nos lembrou Pilleux (1992):
“interpretar e usar apropriadamente o significado social das variedades linguísticas [...]
em relação às funções e variedades da língua e aos pressupostos culturais na situação
de comunicação. Refere-se [...] ao uso como sistema de regras de interação social.”
Para uma decodificação plena e correta, será preciso que o interlocutor seja
partícipe dos conhecimentos linguísticos do seu enunciador e vice-versa. Por exemplo,
um intérprete de Libras poderá ser considerado um profissional eficiente, não apenas
por ser proficiente nas línguas que utiliza para realizar as traduções, mas, também,
por conhecer a capacidade cultural e linguística do seu destinatário. Isso envolverá
compreensão dos aspectos já mencionados para o propósito da produção textual,
além de compartilhamento dos pressupostos antropológicos e de interação social que
permeiam o discurso a ser elucidado.
Os domínios de competência comunicativa estão vinculados a basicamente
duas modalidades da língua: a semiótica e a semântica. Castellanos (1992) descreve
as distinções desses dois domínios no quadro abaixo:
14
Domínio Semiótico Domínio Semântico
A língua como sistema de signos. A língua em funcionamento.
Significar. Comunicar.
Domínio no âmbito do signo. Domínio no âmbito da frase.
Nem a relação do signo com o denotado, Integra a sociedade e o mundo. A língua
nem a relação da língua com o mundo é na sua função mediadora entre o homem
considerada. e o homem; entre o homem e o mundo.
Incorpora a noção de referente: o que é
nomeado pelo signo.
O signo tem um valor genérico e conceitual. O significado da frase implica a referên-
cia ao contexto e à atitude do falante.
É uma propriedade da língua. É o resultado de uma atividade do locutor
que coloca a língua em ação.
Quadro 1: Domínios da língua: Semiótico e Semântico
Fonte: CASTELLANOS (1992, online)

BUSQUE POR MAIS


Para relembrar a noção de SIGNO LINGUÍSTICO não deixe de consultar a Unidade
2 da obra Linguística I organizada por Thelma Guimarães. Disponível em: https://
bit.ly/2Ya1DTm. Acesso em: 15 ago. 2022.

Toda comunicação se dará levando em consideração os campos determinados.


De modo que a produção do discurso poderá ser significada e/ou comunicada a partir
da intenção do enunciador e de suas habilidades (extra)linguísticas e a decodificação
será atingível atrelando competência comunicativa do remetente à do destinatário. Tal
competência é o que tornará possível, inclusive, que produção e decodificação sejam
feitas no domínio correspondente ao discurso, seja ele pertencente ao conceito genérico
do signo ou dependente de contexto.

GLOSSÁRIO
Enunciador é aquele responsável por oferecer o discurso em qualquer modalidade, seja
escrita ou oral, por exemplo. Ele também pode ser denominado locutor, emissor ou co-
municador. O interlocutor é aquele que receberá o discurso e a função de decodificação
da mensagem será, também, de sua responsabilidade. Ele é, ainda, classificado como
destinatário e receptor.

1.2 TIPOS TEXTUAIS

Como analisamos no subtítulo anterior, a competência comunicativa pode ser


avaliada em diferentes tipos de comunicação, que são, apropriadamente, denominadas
textuais.
15
Os textos serão rotulados em gêneros, isto é, levando-se em consideração
a intenção e a forma desses discursos, lhes são atribuídas classificações. Como já
identificado, o texto é lugar de interação e visa comunicar-se. Dependendo da forma
como tal comunicação se dará, cada texto será produzido em uma devida estrutura
composicional. São essas estruturas e o objetivo na construção de sentido que serão
levados em conta na identificação dos gêneros textuais. Lemos em Medeiros e Tomasi:
O número de tipos textuais, diferentemente dos gêneros
que constituem uma lista aberta, é limitado: descritivo,
narrativo, expositivo, argumentativo, injuntivo, dialogal.
Esses tipos textuais também são conhecidos como se-
quências textuais e são identificados pelo léxico utiliza-
do, pela sintaxe, pelos tempos verbais, pelas relações
lógicas etc. Uma composição textual não mantém a
mesma regularidade o tempo todo: um texto argumen-
tativo não o será o tempo todo; uma descrição pode
conter momentos narrativos, uma narração pode ser
entremeada de passagens argumentativas. (MEDEIROS;
TOMASI, 2017, p.56)

Os autores fazem menções importantes a serem consideradas. Além de indicar os


tipos textuais mais comuns, ponderam sobre a vivacidade linguística ao identificar que,
mesmo que um texto tenha características regulares de um tipo, ele pode discorrer, em
alguns momentos, por características mais fortemente próprias a outro tipo. Isso não
necessariamente o torna confuso, desordenado ou ilegítimo, desde que tal construção
tenha sido feita intencionalmente pelo seu locutor. A regularidade não é meio de
avaliação de um texto como linear, claro ou coeso. Apesar da previsibilidade, mesclas
de distintos tipos textuais podem enriquecer a mensagem e facilitar a compreensão
pelo interlocutor.
Os tipos textuais mais comuns também são identificados pelos autores; a saber,
descritivo, narrativo, expositivo, argumentativo, injuntivo e dialogal. Ainda sob luz de
Medeiros e Tomasi, consideraremos as principais características de cada um deles, a
partir da tabela proposta pelos autores, aqui abaixo reproduzida:

Sequência Efeito Pretendido Fases


Narrativa Manter a atenção do destinatá- • Situação inicial
rio, estabelecendo uma tensão e • Complicação
subsequente resolução. • Ações desencadeadas
• Resolução
• Situação Final
Descritiva Fazer o destinatário ver minucio- • Tematização
samente elementos de um objeto • Aspectualização
do discurso, segundo a orienta- • Relação
ção dada a seu olhar pelo produ- • Expansão
tor.
16
Argumentativa Convencer o destinatário da vali- • Premissas
dade do ponto de vista do enun- • Suporte argumentativo
ciador diante de um objeto do • Contra-argumentação
discurso visto como contestável • Conclusão
pelo produtor e/ou pelo destina-
tário.

Explicativa/Expositiva Levar o destinatário a compreen- • Constatação inicial


der um objeto do discurso, visto • Problematização
pelo produtor como incontestá- • Resolução
vel, mas de difícil compreensão • Conclusão/Avaliação
para o destinatário.
Injuntiva Fazer o destinatário agir segun- • Enumeração de ações
do uma direção para atingir um temporalmente subse-
objetivo. quentes
Dialogal O propósito é levar o destinatário • Abertura
a manter-se na interação pro- • Operações transacionais
posta. • Fechamento

Quadro 2: Tipos Textuais


Fonte: MEDEIROS; TOMASI (2017, p.55)

As particularidades dos principais tipos textuais estão apresentadas na figura.


Falaremos mais sobre três desses tipos textuais, por serem os mais recorrentes no âmbito
educacional, a fim de proporcionar maior facilidade na identificação dos mesmos e
também aprimorar a perícia em decodificá-los enquanto interlocutores.

FIQUE ATENTO
A Literatura descreve as sequências textuais especialmente para a modalidade escrita.
No entanto, a intenção comunicativa referente aos gêneros textuais também inclui as ex-
pressões orais e outras expressões manifestadas, como as imagéticas e pantomímicas.

1.1.1 A Narrativa

O tipo textual narrativo propõe uma construção que desencadeia uma sequência
de fatos a partir da perspectiva da(s) personagem(ns). Conforme a Fig.2 nos indica, essa
continuidade de ocorrências se dá, basicamente, pela ordenação de situações iniciais,
mediais e finais. Normalmente, haverá uma circunstância de conflito que atingirá seu
clímax no momento de maior contratempo e o seguimento para a situação final.
Medeiros e Tomasi detalham:
Na sequência narrativa, temos uma sucessão de even-
tos: um evento ou fato é consequência de outro evento,
constituindo seu elemento principal a delimitação do
tempo. Observamos ainda na narrativa uma unidade
temática: a ação narrada precisa apresentar um cará-
ter de unidade; daí privilegiar um sujeito agente; embo-
17
ra possam ser muitas as personagens, haverá uma que
será a principal. (MEDEIROS; TOMASI, 2017, p. 58)

A sucessão de eventos pode acontecer em ordem cronológica e/ou psicológica


e será apoiada em evidências importantes relacionadas às ações das personagens do
relato. Outras características também são indicadas pelos autores como, por exemplo,
a presença de personagem antropomorfa, evidências de um juízo de valor ou moral no
decorrer ou ao final da narrativa inferida pelo leitor e o traço de verossimilhança.

GLOSSÁRIO
Personagens antropomorfos são aqueles que terão a si atribuídas características pró-
prias de humanos. Animais, deidades, objetos inanimados, elementos da natureza, etc.
serão personagens com perfil antropomórfico quando lhes conferido aspectos próprios
de seres humanos. A verossimilhança trata da aproximação com a realidade, com o que
é semelhante à verdade.

1.2.2 A Descritiva

As sequências descritivas, como depreendemos pela sua nomenclatura, servem


para expor de modo minuciado, pormenorizado e detalhado um acontecimento ou
evento, seres inanimados e animados, fenômenos e tudo mais que possa receber
atribuições em especificidade. Lemos em Medeiros e Tomasi:
Em geral, a sequência descritiva ocupa-se apenas
de parte de um todo; selecionamos o que queremos
transmitir ao leitor ou ao ouvinte, o que de certa forma
já implica ausência de neutralidade. Preocupa-nos de-
signar o que queremos informar, nomeando os objetos
ou pessoas; em seguida, definimos objetos e pessoas
para que o interlocutor tenha ideia precisa da extensão
dos enunciados, dos atributos essenciais e específicos
do objeto da descrição; finalmente, esse tipo de texto
vale-se da individuação, necessária para tornar sin-
gular o objeto do enunciado; é essa individuação que
especifica, distingue, particulariza. (MEDEIROS; TOMASI,
2017, p. 66)

Ao indicar que “a sequência descritiva ocupa-se apenas de parte de um todo”,


os autores retomam uma consideração importante: normalmente, a descrição será
o excerto de uma totalidade, podendo contribuir para o objetivo da apresentação
singularizada em sequências como, por exemplo, a narrativa. É assim no caso de
gêneros textuais que apelam para o caráter distintivo mais recorrentemente, como os
Relatos, Biografias e Diário.
Como dito, a composição descritiva, “especifica, distingue, particulariza”; de modo
ser impossível construir essas pertenças com total ausência de juízo de valor. É certo que
algumas características, sendo próprias daquilo/daquele que está sendo categorizado,
serão tomadas e reconhecidas por toda e qualquer pessoa a descrevê-las. No entanto,
18
outras considerações acabam por indicar a avaliação pessoal do locutor, tendo em
conta sua experiência e ponto de vista. Veja um exemplo:
Clarice Lispector nasceu na aldeia de Tchetchelnik, na
Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920. Era filha de
Pinkouss e Mania Lispector, casal de origem judaica que
fugiu de seu país diante da perseguição aos judeus du-
rante a Guerra Civil Russa.
Ao chegarem ao Brasil, fixaram residência em Maceió,
Alagoas. [...] Clarice tinha apenas dois meses de idade.
Por iniciativa de seu pai, todos mudaram o nome. Nas-
cida Haya Pinkhasovna Lispector, passou a se chamar
Clarice.
Depois, a família mudou-se para a cidade do Recife [...].
Aprendeu a ler e escrever e logo começou a escrever
pequenos contos. Foi aluna grupo escolar João Barba-
lho, onde fez o curso primário. Estudou inglês e francês
e cresceu ouvindo o idioma dos seus pais o iídiche. In-
gressou no Ginásio Pernambucano, o melhor colégio
público da cidade. (FRAZÃO, 2021, online)

No caso de textos biográficos, detalhamentos são feitos ao longo da sequência


e indicam descrições tanto factuais, como o nome, local de nascimento e eventos da
vida de uma pessoa, como também descrições baseadas nos critérios do emissor da
mensagem. Note que a autora da biografia de Clarice Lispector traz minúcias isentas
de julgamento, mas quando indica que a literata, ainda criança “ingress[a] no Ginásio
Pernambucano, o melhor colégio público da cidade”, atribui uma particularidade
ao colégio que lhe é própria. Qual(is) razão(ões) justifica(m) considerar o Ginásio
Pernambucano o melhor colégio público da cidade? É uma demanda absoluta?
Evidente que não. Assim, mesmo que não propriamente concebido pela autora do texto,
percebemos uma demanda de contribuição avaliativa e crítica.
Haverá sequências descritivas com maior ou menor grau de parecer pessoal,
assim como também haverá mais ou menos trechos descritivos em um discurso, a
depender do seu gênero textual e intenção comunicativa.

1.2.3 O dissertativo-argumentativo

No âmbito pedagógico, especialmente no percurso educacional dos anos finais


da educação básica, a sequência textual dissertativa-argumentativa é uma das mais
executadas e avaliadas, dada a necessidade e intento de despertar a leitura e escrita
crítica do aluno, bem como sua capacidade de enunciar, objetar e arrazoar.
Na obra de Medeiros e Tomasi, a enunciação argumentativa é referenciada e,
em seguida, há a consideração do tipo explicativo/expositivo, que também pode ser
chamado dissertativo. Esse último tem por propósito dar ao interlocutor informações
suficientes para que conheça o objeto de apresentação ofertado pelo remetente do
discurso.
É uma sequência que se distingue da descritiva, pois a descrição apresenta
detalhamentos de um referente conhecido ou familiar ao interlocutor, enquanto que
a sequência expositiva ou dissertativa irá discorrer sobre um objeto do discurso não
19
familiar, de difícil compreensão para o destinatário. Por isso, apresentará a exposição
a partir de uma problematização constatada e de indicações de resoluções até a
conclusão ou avaliação final.
Já a sequência argumentativa pode ser concomitante à dissertativa quando no
caso de assim ser solicitado. O texto argumentativo:
[...] dispõe de longa tradição. Já a retórica clássica tra-
tava dela. A sequência argumentativa preocupa-se
em explicar, analisar, classificar, avaliar a realidade do
mundo. É o tipo de sequência predominante nos discur-
sos científicos, filosóficos, nos editoriais jornalísticos. A
argumentação está sempre presente em qualquer que
seja o tipo de texto: há uma voz que se estabelece em
contato com outra, manifestando um ponto de vista,
buscando a adesão do interlocutor ou de um auditó-
rio às teses defendidas. Todavia, se em qualquer texto
podemos detectar uma argumentação, um juízo sobre
as coisas do mundo, “é só a sequência argumentati-
va que terá a estrutura constitutiva do raciocínio” (WA-
CHOWICZ, 2010, p. 95). (MEDEIROS; TOMASI, 2017, p.75)

As teses argumentativas terão, portanto, o objetivo de “busca[r] a adesão do


interlocutor ou de um auditório às teses defendidas”. Na necessidade de não apenas
apresentar um referente circunstancial, a argumentação quer convencer. Por isso,
utiliza de recursos como premissas, defesa de ponto de vista, exemplificação para
embasamento do discurso, contra-argumentação de construções antagônicas,
propostas de intervenção e/ou sugestões de adesão ao ato enunciativo, etc.
Logo, mesmo que inicialmente o receptor tenha pensamento distinto daquele promovido
pelo remetente, o objetivo desse último é estabelecer, através da argumentação, a
conclusão que deseja alcançar.
Necessário ressaltar que características de escrita serão especialmente aqui
relevantes, pois a argumentação efetiva necessita de textos convincentes, coerentes
e coesos. Para tanto, a pessoalidade deve ser evitada, a fim de identificar construções
comuns ao coletivo, e não ao indivíduo. A sequencialidade lógica e macroestrutural é
fator expressivo para uma escrita dissertativa-argumentativa com bom encadeamento.
A escrita à base da norma culta padrão da língua também contribui para uma
compreensão mais ampla das informações e dá peso de confiabilidade à explanação.

BUSQUE POR MAIS


Para compreender as sequências textuais em pormenores e, ainda, analisá-las
a partir de exemplos comentados, não deixe de considerar a obra de Medeiros e
Tomasi (2017) intitulada Como escrever textos – gêneros e sequências textuais.
O capítulo 3 (Sequências textuais) faz um apanhado coerente e fidedigno das
classificações e possibilita importante aprofundamento no tema. Disponível em:
https://bit.ly/3JB2nFl. Acesso em: 15 ago. 2022.
20
Os tipos de sequências textuais não se esgotam por aqui. Analisamos três
das principais estruturas discursivas a fim de elucidar sua finalidade e estrutura e
fazê-los perceber a necessidade do alto grau de compreensão léxico-gramatical
e de maturidade linguística necessário para produção de discursos considerados
competentes. A competência comunicativa está muito além de uma boa construção
sintática. Ela envolve alcançar uma produção que, ao chegar ao destinatário, valide o
intento do locutor por ser decodificada conforme seu objetivo.

1.3 TIPOS TEXTUAIS NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA


COMO L2 PARA SURDOS

A competência comunicativa parte dos princípios já analisados nos tópicos


anteriores. Ela se dá a partir da materialidade da linguagem em forma de discurso
linguístico em suas distintas formas. Para tanto, é imprescindível que as formas básicas
de comunicação e efetivação textuais sejam conhecidas e reconhecidas pelos falantes
da comunidade linguística. Sabendo que a língua é uma atividade social, a verbalização
só poderá acontecer através de construções de sequências textuais padronizadas com
as regras léxico-gramaticais próprias a essa comunidade.
Nessa perspectiva de letramento e produção de sentido, lemos em Salviano
(2014):
[...] cabe à escola a função de promover aprendizado
de leitura e escrita de modo que permita aos seus alu-
nos interação plena com a sociedade em todas as suas
facetas formais ou informais. Como ter habilidade em
fazer isso com o aluno padrão, isto é, com o aluno que
faz parte do grupo base da sociedade, tem sido am-
plamente discutido nas Faculdades de Educação em
todo o Brasil através de disciplinas, projetos, trabalhos,
livros, etc. Mas como conseguir a mesma habilidade
com um grupo minoritário que também faz parte dos
assentos das escolas? Como conseguir essa habilida-
de com alunos surdos que têm uma visão de mundo
absolutamente diferente da nossa, como ouvintes? E
caso trabalhe com uma turma de escola inclusiva, ou
seja, com alunos surdos e ouvintes, como caminhar de
modo a promover a mesma competência para ambos
os grupos? [...] E como fazer isso de um modo que pri-
vilegie a visão, já que é por esse sentido que os surdos
captam as informações e o mundo externo? (SALVIANO,
2014, p.59)

As funcionalidades e as classificações de sequências e gêneros textuais da Língua


Portuguesa são as mesmas para todo corpo social que partilha dessa língua e cultura.
Logo, qualquer indivíduo que recebe e perpassa informações em LP e que possui plena
ou certa medida de civilidade a partir de enunciações produzidas ou decodificadas
nessa língua deve ter a competência linguística necessária para desenvolver habilidade
suficiente em tal perspectiva, estando, então, capaz de firmar um percurso educacional
21
adequado, além de habilitar-se para o exercício da sua cidadania. A competência
será aprimorada no ambiente escolar, responsável por desenvolver consciência
regulamentadora da inata faculdade da linguagem e da L1 já adquirida.

VAMOS PENSAR?
A L1 é a primeira língua, aprendida naturalmente pelo indivíduo. Alguns autores, especial-
mente quando tratam de estudos de línguas orais auditivas, atribuem caráter sinonímico
entre L1 e língua materna, posto que o cenário mais comum é uma aquisição linguística, por
parte da criança, através da reprodução do modelo de linguagem estabelecido pelo seu
núcleo familiar. No entanto, a partir do avanço das pesquisas de línguas espaço-visuais, o
termo ganha uma particularidade que pode afastá-lo do foco familiar, pois uma porcenta-
gem significativa de surdos nasce em famílias predominantemente ouvintes. Dessa forma,
alguns autores descrevem as línguas de sinais como L1 do surdo no sentido de ser sua lín-
gua natural, e não necessariamente sua língua materna.

Sendo a escola mediadora na construção de sentido, deverá propiciar


compreensão e refinamento de competência linguística e, portanto, reconhecimento e
produção apta dos tipos textuais, a todo público que atenda; inclusive à comunidade
surda. Por que haverá distinção de metodologias para surdos e ouvintes, quando
na busca por um objetivo linguístico semelhante? A resposta está, basicamente, na
modalidade de captação e expressão desses dois grupos.

Figura 2: A verbalização em línguas de distintas modalidades


Fonte: BRASIL (2009, p.19)

Perceba a enunciação comunicativa trazida na Fig.3. Temos ali, verbalizações


em Libras e em Língua Portuguesa. Para os partícipes do diálogo em língua de sinais,
notamos que duas variantes são necessárias para entender e para se fazer entender:
a visão e o espaço. É através da visão que há captação do que está sendo dito e é no
espaço que tal manifestação acontece. Por isso, a Libras e as outras tantas línguas de
sinais são denominadas línguas espaço-visuais. Já o discurso em LP que está sendo
transmitido pelo canal televisivo não depende da visão do interlocutor ouvinte para ser
compreendido. Mesmo estando de costas para o remetente da mensagem ou fora do
seu campo visual, é possível captar e decodificar a mensagem pelo canal auditivo. E, para
produzir uma mensagem, usa-se o aparelho fonoarticulatório. Consequentemente, a
Língua Portuguesa pode ser classificada oral-auditiva; pois suas variantes de produção
22
e decodificação são, respectivamente, a articulação oral e o sistema auditivo.
Essa diferença de modalidade aporta aos indivíduos surdos e ouvintes distinções
no modo de ver o mundo, de se apropriar dos conceitos, de relativizar, de ser alfabetizado
e, de um modo geral, de aprender. Não há, quando se tratando apenas da falta da
audição, imputamento de perdas cognitivas para o surdo. O que temos, no seu caso,
é simplesmente uma diferença comunicativa modal que demanda metodologias
próprias à sua especificidade linguística, como, por exemplo, o estabelecimento de uma
relação ensino-aprendizagem a partir de ferramentas visuais e que não se primem
exclusivamente pelos fonemas sonoros.
Reconhecendo uma forma de aprendizado particular dos surdos, a legislação
brasileira reconhece, através da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada
pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, a Libras como meio oficial de
comunicação da pessoa surda. Tal feito determina consequências importantes no
processo educacional do surdo, incluindo sua relação com textos de línguas orais.
Sendo o meio de expressão da comunidade surda, a Libras deve ser encarada
como sua L1 e, então, como meio de instrução dessa comunidade. Toda pessoa surda
deve receber a educação básica por meio da língua de sinais. Consequentemente, o
Português será uma L2, ou seja, uma língua estrangeira. Destarte, não é possível e nem
expectável que um aprendiz de L2 tenha proficiência e aproveitamento absolutamente
semelhante à de um nativo no desenvolvimento da competência comunicativa. Tanto
mais se a comparação entre esses aprendizes está para línguas de modalidades
distintas. Não é realista supor que uma pessoa privada do pleno sentido da audição
reconheça características de uma língua que estão alicerçadas em sistemas sonoros –
justamente o que não é capaz de alcançar. Levando isso em consideração, as regências
legislativas e documentos oficiais no âmbito educacional promovem metodologias
funcionais e efetivas para que o processo educacional do surdo se dê com o melhor
acesso à competência comunicativa em uma perspectiva bilíngue que lhe caiba.

BUSQUE POR MAIS


Conheça brevemente a perspectiva de uma escola bilíngue no vídeo “Institucio-
nal Helen Keller”. Perceba a relevância de uma metodologia bilíngue, focada na
Libras como meio de instrução, e não em uma perspectiva oralista e/ou ouvin-
tista. Disponível em: https://bit.ly/3JDRlze. Acesso em: 15 ago. 2022.

Considerando os aspectos mencionados, trabalhar as sequências textuais com


surdos a fim de lhes desenvolver a competência comunicativa deverá, necessariamente,
perpassar pela sua L1 como ferramenta de instrução e pelo aprendizado do Português
na modalidade escrita como L2.
[...] levando em conta a importância da L1 na aprendi-
zagem do Português como L2 na modalidade escrita
por surdos, Fernandes (2006) comenta que, se houver
uma base linguística assegurada pelo acesso à Lín-
gua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como L1, substituindo
a oralidade em conteúdo e função simbólica, o surdo
conseguirá aprender a escrita do Português. Isso por-
23
que, como aponta Fernandes (2006), as palavras são
processadas como um todo quando são percebidas
pelo surdo, sendo reconhecidas em sua forma ortográ-
fica e ligadas a uma significação. A partir desse pro-
cesso cognitivo, os surdos podem aprender estruturas
linguísticas sem conhecer seus sons. No entanto, se não
houver sentido, não haverá leitura por parte do apren-
diz, pois ler não é apenas memorizar palavras isoladas,
e sim compreender e negociar sentidos na interação
com o texto. (TEIXEIRA, 2017, s/p)

Somente apoiado na aquisição de sua língua natural, o surdo poderá processar


as formas textuais, produzi-las e decodificá-las com domínio de proficiência em sua
própria língua e com suficiente conhecimento na L2, isto é, a língua oral. Os benefícios
de uma metodologia que respeita as especificidades linguísticas da comunidade os
permite alcançar, ainda, habilidades cognitivas diversas, engajamento no processo
pedagógico, criticidade social, autonomia léxico-gramatical, etc. Teixeira sugere
propostas eficazes nesse sentido:
Fernandes (2006) destaca também a importância de
materiais ricos em imagens e ilustrações, pois eles per-
mitem a contextualização visual do texto, a elaboração
de hipóteses sobre os sentidos da escrita e a leitura
das imagens, de modo que o aluno, a partir de seu co-
nhecimento de mundo, poderá inferir possíveis efeitos
de sentidos produzidos pelo texto. Após a seleção dos
textos, Tomlinson (2003) sugere que sejam pensadas
atividades que levem o aprendiz a experienciar o texto
de diversas maneiras. Para que haja o desenvolvimento
de um leitor crítico que vê o texto como objeto cultu-
ral, inserido em uma rede de relações sócio-históricas
(Fernandes, 2006, p. 12), é preciso que seja propiciada a
reflexão sobre os aspectos lexicais, gramaticais e fun-
cionais do texto, que podem estar explícitos ou implíci-
tos na organização textual. (TEIXEIRA, 2017, s/p.)

Uma construção de conhecimento através de elementos visuais e da Libras


enquanto elemento de ensino figurará em competência comunicativa.

Figura 3: Oferta de formação pedagógica em sala de aula com alunos surdos


Fonte: Disponível em: https://bit.ly/42AGWwH. Acesso em: 30 jul 2021.
24
O educador deverá proporcionar práticas pedagógicas que indiquem seu
conhecimento sobre a forma de aprender do surdo. Quanto aos tipos textuais, é preciso
que as práticas levem em consideração a relação leitura/escrita do surdo quanto à
língua oral vigente no seu ambiente social.
25

FIXANDO O CONTEÚDO

1. De acordo com os conceitos analisados na Unidade, o que é a competência


comunicativa?

a) O domínio das variações linguísticas. Uma comunidade linguística é formada


por indivíduos com diferentes níveis de competência lexical. De modo que conhecer
as variações utilizadas nessa comunidade nos permite alcançar competência
comunicativa com todos os partícipes.
b) Estabelecimento de habilidades que excedem a compreensão dos domínios
gramaticais e/ou sintáticos e alcançam conhecimentos extralinguísticos, como noções
socioculturais, possibilitando domínio da mensagem por parte do locutor e plena
compreensão por parte do interlocutor.
c) Possuir um rol vocabular considerável e significativo. Esse conhecimento será
essencial tanto para produzir textos compreensíveis como para reconhecer os textos
de outrem.
d) A habilidade de produzir sentenças de acordo com a norma culta padrão, de modo
a auxiliar o remetente da mensagem na sua compreensão global.
e) O domínio cultural do corpo social utilitário de dada língua, pois, como a língua é
também formada pela cultura, só se terá competência linguística através do uso das
ferramentas culturais.

2. (ITAME-2020 – Adaptada). Leia o texto para responder à questão:

Dom Quixote (Miguel de Cervantes)

Há aproximadamente quatrocentos anos, na aldeia de La Mancha, na Espanha, vivia


um fidalgo de poucas posses materiais, mas muitos livros, e que adorava experimentar
os desafios da vida e cujo passatempo era ler contos e mais contos de cavalaria. Era
este nobre senhor alto, magro, de cinquenta e poucos anos, queixo pontiagudo, cabelo
grisalho desgrenhado e certo ar de loucura no olhar. De sobrenome Quixada ou Quesada,
embora não rico, era muito conhecido pelos lavradores e tinha fala de boa pessoa entre
os moradores da comunidade em que vivia. [...]

O trecho acima possui uma sequência narrativa, no entanto, também se caracteriza


como:

a) argumentativo.
b) expositivo.
c) descritivo.
d) injuntivo.
e) dialogal.

3. (VUNESP-2020). Leia a tira para responder à questão.


26

O efeito de sentido da tira é construído a partir da atribuição, pelos personagens, de


significados diversos à seguinte palavra ou expressão:

a) sua tia.
b) decorar.
c) toda a nossa casa.
d) já acho difícil.
e) tabuada de dois.

4. No que diz respeito ao uso de tipos textuais no ensino de Língua Portuguesa, a distinção
metodológica no ensino de surdos e ouvintes se dará, dentre outros motivos, por:

a) As funcionalidades e as classificações de sequências e gêneros textuais da Língua


Portuguesa serem diferentes para a comunidade surda e para a comunidade ouvinte.
b) Não existir componentes fonêmicos e fonológicos nas línguas de sinais.
c) Os surdos possuírem déficit linguístico relacionado à estrutura de uma língua oral,
não podendo, portanto, ser alfabetizado em Português.
d) Serem as línguas de sinais de modalidade espaço-visual, pois a produção dos
componentes linguísticos acontece no espaço físico mediada pelas mãos e é captada
pelos olhos.
e) Não haver coincidência léxico-gramatical entre a Libras e a Língua Portuguesa. Dessa
maneira, a competência comunicativa dependerá de reconhecer estruturas linguísticas
distintas.

5. De acordo com os conceitos de elaboração e decodificação, relacione a primeira


coluna com a segunda. Qual das duas ações as personagens mencionadas realizam
em cada situação apresentada?

(1) Elaboração
(2) Decodificação

( ) Olavo estuda para a prova de Biologia sublinhando as ideias principais dos resumos
enviados pela professora.
( ) Lurdinha escreve um cartão de agradecimento pelos presentes recebidos em seu
aniversário.
( ) Ana envia uma mensagem de texto produzida apenas com emojis e imagens por
meio de um aplicativo do seu celular.
( ) Malthus escolhe o jantar no menu do restaurante.
27
( ) Beto analisa a bula do remédio que tomará pelos próximos sete dias.

A sequência correta é:

a) 1 – 1 – 2 – 2 – 2
b) 2 – 1 – 2 – 1 – 1
c) 1 – 2 – 2 – 1 – 1
d) 2 – 2 – 1 – 1 – 1
e) 2 – 1 – 1 – 2 – 2

6. A legislação brasileira já determina a Libras como meio de comunicação e


expressão da pessoa surda pelo estabelecimento da Lei nº 10.436, de 24 de abril de
2002, regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Dentre as
consequências dessa determinação, no que diz respeito ao processo de ensino e
aprendizagem da comunidade surda, são verdadeiras as alternativas:

I. Considerar a Libras como L1 da comunidade surda.


II. Considerar a Libras como meio de instrução no processo educacional da comunidade
surda.
III. Considerar a Libras como substituta da língua oral, isto é, o Português.

a) I.
b) I, II.
c) II.
d) II, III.
e) Todas as alternativas.

7. (FUNCAB-2015 - Adaptada). Ensinar aos alunos com surdez, assim como aos demais
alunos, a produzir textos em português objetiva torná-los competentes em seus
discursos, oferecendo-lhes oportunidades de interagir nas práticas da língua oficial e
de transformar-se em sujeitos de saber e poder com criatividade e arte. Para que essa
aprendizagem ocorra, a educação escolar deve apresentar aos alunos com surdez a
diversidade textual circulante em nossas(os):

a) práticas sociais.
b) ritos de passagem.
c) produções literárias.
d) práticas culturais.
e) práticas bilíngues.

8. (SETA-2018). Observe o extrato de texto abaixo e responda o que se pede:

“Faz um domingo frio e ensolarado em Porto Alegre. O céu muito azul, depois de dias de
chuva, é um convite a sair de casa. O Parque da Redenção, o mais popular da capital
gaúcha, está lotado. Jovens casais conduzem carrinhos de bebês. Idosos tomam sol
ou leem jornal. Atletas domingueiros passam com o fôlego curto. Jovens andam de
28
bicicletas ou sentam-se em grupos animados sobre o gramado. (...)”

O trecho acima tem como ideia central:

a) os jovens conversarem em grupo;


b) os carrinhos de bebê que circulam pelo parque;
c) as condições do tempo que propiciam distrações ao ar livre;
d) a popularidade dos parques de Porto Alegre;
e) o fôlego dos atletas de fim de semana.
29

LIBRAS EM FOCO I
30
2.1 PRONOMES PESSOAIS
Os pronomes pessoais são aquelas palavras que servem para se referir a outra
da classe dos substantivos. Normalmente, os pronomes acompanham ou substituem
nomes na medida que primam pela coesão e coerência textuais, evitando, por exemplo,
as repetições.
Aqui, trataremos dos pronomes pessoais do caso reto; aqueles que, via de regra,
exercem função de sujeito.
Os pronomes pessoais vão referir-se às três possíveis pessoas do discurso, seja
no contexto singular ou plural. Veja dois exemplos:

Como podemos notar, a substituição dos substantivos Álvaro e aulas por pronomes
pessoais mantém o sentido e torna as orações melhor compreensíveis na medida que
recuperam o agente do enunciado sem repetições desnecessárias.

GLOSSÁRIO
A pessoa do discurso é o agente envolvido no enunciado. É a que está frente ao ato co-
municativo, ou seja, pode se referir a quem se fala, de quem se fala ou com quem se fala.
Isso não significa dizer que a pessoa verbal é sempre um ser humano. Como visto nos
exemplos acima, também pode estar relacionada a objetos inanimados, bem como a
fenômenos da natureza, estados, etc.

FIQUE ATENTO
Os conceitos das classes de palavras são os mesmos para todas as línguas. De modo
que a função dos pronomes, por exemplo, não muda das línguas orais para as línguas de
sinais: são, para ambos os casos, palavras que acompanham, designam ou substituem
um nome. Assim, toda análise sintática e/ou morfológica de um enunciado parte de con-
cepções e análises linguísticas desses elementos. As concepções do elemento palavra,
a partir da classe a que pertence, são as mesmas seja para sentenças em Língua Portu-
guesa ou para sentenças em Libras. O que será destoante é a materialização da intenção
comunicativa que, na forma do discurso, utilizará lexias de uma mesma classe, porém,
com regras de estruturação próprias à língua que está sendo efetivada. Para cada língua,
a construção de frases obedecerá seu próprio sistema léxico-gramatical.
31
São pronomes pessoais do caso reto:

Pessoas verbais Português


1ª pessoa do singular eu
2ª pessoa do singular tu – você
3ª pessoa do singular ele – ela
1ª pessoa do plural nós
2ª pessoa do plural vós – vocês
3ª pessoa do plural eles – elas

Por ser uma língua espaço-visual e, também, por ter um recorrente processo de
formação de palavras a partir do critério de iconicidade, a elaboração de algumas
lexias em Libras pode variar, especialmente quando se trata de determinar referentes.
Em Língua Portuguesa, o processo de detalhamento da pessoa verbal também
pode acontecer, quando, por exemplo, inserimos nele informações de cunho
demonstrativo, direcional e/ou qualitativo.
Em Libras, porém, essas informações são simultâneas ao discurso, pois são
identificadas ao interlocutor em um único sinal que comporta a apresentação do
pronome pessoal bem como algum detalhamento ao seu respeito. Analisaremos os
casos específicos na apresentação dos pronomes pessoais em Libras.

FIQUE ATENTO
As imagens ilustrativas dos pronomes aqui apresentadas foram retiradas da fonte FELIPE,
T.A. Libras em contexto. Curso Básico: Livro do estudante. Rio de Janeiro: WalPrint, 2007.

Os pronomes eu (1ª pessoa do singular) e tu/você (2ª pessoa do singular) são


identificados pelo apontamento. Para identificar a pessoa eu, há o apontamento, com
o indicador, para o próprio enunciador.

Para distinguir a pessoa tu/você haverá o apontamento, também com o


dedo indicador, para o interlocutor, ou seja, para a pessoa com quem se fala. Nessa
perspectiva, é essencial considerar o direcionamento. O apontamento será orientado
para o local onde o interlocutor está posicionado.
32

Em Libras, o pronome referente à 3ª pessoa do singular (ele/ela) também será


efetivado a partir do apontamento. Mas, diferentemente do que acontece nas pessoas
tu/você, o apontamento será para um ponto distinto daquele em que estão locutor e
interlocutor.
É uma atribuição física de um espaço convencionado que contempla uma terceira
pessoa, alheia à conversa naquele momento. Nesse espaço determinado para ele/ela,
sempre que a mesma pessoa for mencionada será referida nessa localidade escolhida.
Ainda, é importante indicar que a variação de gênero para tal pessoa não acontece da
mesma forma como se dá em Língua Portuguesa. Em Português, a formação da palavra
masculina ou feminina passa pelo processo de sufixação; ou seja, o radical da lexia
acrescido do sufixo próprio ao gênero (EL+E ou EL+A). Em Libras, há dois fatores a serem
considerados.
O primeiro é que a variação de gênero não necessariamente acontecerá em
todas as enunciações. É possível que apenas a sinalização do apontamento mantenha o
discurso pleno de sentido. O segundo fator é que, quando tal indicação for apresentada,
acontecerá pelo processo prefixal: prefixo marcador de gênero (masculino/feminino) +
radical da palavra (apontamento).

Como dissemos, em Libras, a própria forma de enunciação do pronome poderá


apresentar detalhamentos do referente. É especialmente o caso das pessoas verbais
do plural.
Essa, ao lado, é a forma comum do pronome nós (1ª pessoa do plural). Todavia,
dependendo do contexto, podemos apropriar à sinalização desse pronome as
especificidades da contextualização própria ao referente.
Veja, abaixo, as possibilidades de sinalizações como nós dois, nós três e nós quatro.
Note que, no primeiro, temos uma alusão específica aos dois referentes do emissor da
mensagem e, nos outros casos, temos semelhança de movimento do sinal primário
com modificação da configuração de mão que recupera o número de referentes.
33

Mesmas considerações podem ser feitas para o pronome vós/vocês (2ª pessoa
do plural). Temos a forma primária que indica no espaço neutro os elementos partícipes
dessa pessoa verbal através de um apontamento com movimento alongado.
Contudo, podemos estender o agente ao contexto quando houver particularidades
e acrescentar tais distinções no próprio sinal, como no caso de vocês dois, vocês três,
etc.

Para a 3ª pessoa do plural eles/elas haverá também a possibilidade de agregar ao


sinal primitivo características da circunstância comunicativa. Perceba: o apontamento
referente às pessoas referenciadas alheias àquele discurso acontece posicionando-as
em um local distinto daquele em que o remetente da mensagem e o seu destinatário
estão.
Note que o olhar do enunciador está direcionado ao seu interlocutor, enquanto
que sua indicação com as mãos está em outro ponto físico do espaço discursivo. É
possível agregar nesse sinal indicações peculiares da pessoa verbal eles/elas, como
em eles dois, eles três, etc.
34

A construção das referências às pessoas do discurso pode ser explícita ou implícita:


Na construção de uma frase em Libras, é possível a
omissão do sujeito. Isso acontece nos casos em que
o(s) locutor(es) e o(s) interlocutor(es) do discurso re-
conhecem o contexto e já compreendem sobre quem a
enunciação está se referindo ou quando esse sujeito já
foi anteriormente citado, sendo desnecessária sua re-
petição. (PAULA, 2020, p.62)

Portanto, caberá ao produtor do texto optar por indicar os pronomes pessoais de


maneira manifesta ou subentendida. Cada realidade e situação comunicacional é que
lhe permitirá determinar as melhores circunstâncias para essa escolha.

2.2 PRONOMES POSSESSIVOS


Os pronomes possessivos levam em consideração os pronomes pessoais para
estabelecer a eles uma relação de posse com algo ou alguém. Assim, ele indica a qual
pessoa verbal o elemento referente é designado.
Os pronomes possessivos vão concordar com o possuidor em alguma(s) da(s)
três possíveis pessoas do discurso, seja no contexto singular ou plural. Nas variações de
gênero e número, eles concordam com o que é possuído. Veja exemplos:

São pronomes possessivos:


35
Pessoas verbais Português
1ª pessoa do singular meu(s); minha(s)
2ª pessoa do singular teu(s); tua(s)
3ª pessoa do singular seu(s); sua(s)
dele; dela
1ª pessoa do plural nosso(s); nossa(s)
2ª pessoa do plural vosso(s); vossa(s)
de vocês
3ª pessoa do plural seu(s); sua(s)
deles; delas

Em Libras, os pronomes possessivos terão a concordância em pessoa, e não em


gênero e/ou ao referente possuído. Por exemplo, retomemos as sentenças anteriormente
analisadas:

A menção do pronome em ambos os casos se refere a algo possuído por Álvaro,


a saber, a casa ou o sítio. De modo que a pessoa possuidora desses elementos é a
mesma: Álvaro = ele (3ª pessoa do singular).
Portanto, ao enunciar as duas frases em Libras, o pronome possessivo será o
mesmo; já que ele concorda com o possuidor, e não com o objeto possuído. Logo, seja
esse referente possuído de gênero masculino ou feminino e/ou de número singular
ou plural, isso não será levado em conta na construção do texto na língua de sinais,
diferentemente de como acontece em Língua Portuguesa.
O pronome meu (referente a algo possuído pela 1ª pessoa do singular) é realizado
colocando a palma da mão aberta no peito. Em algumas obras didáticas, também é
possível encontrar a forma variante com a CM de P no peito.

Os pronomes teu (referente a algo possuído pela 2ª pessoa do singular) e seu


(referente a algo possuído pela 3ª pessoa do singular) possuem a mesma configuração
de mão e movimento.
No primeiro caso, o ponto de articulação e a orientação da palma estarão
voltados para o interlocutor, enquanto que no segundo caso esses parâmetros serão
estabelecidos em direção àquela pessoa alheia ao discurso.
Note que a expressão não manual também coincide com essa variação: quando
se menciona teu, o olhar está para o interlocutor direto. Quando se menciona seu, o
36
olhar recai sobre a terceira pessoa, normalmente estabelecida ao lado do remetente
da mensagem.

Para as pessoas do plural, teremos uma coincidência lexical com o pronome nosso
(referente a algo possuído pela 1ª pessoa). Ele será semelhante à forma do pronome
pessoal nós.

Os pronomes possessivos vosso (referente a algo possuído pela 2ª pessoa do


plural) e seu(s) (referente a algo possuído pela 3ª pessoa do plural) terão a mesma
forma dessas pessoas verbais do singular (teu e seu(s)).
Porém, para o plural, o movimento será mais alongado, estendendo-se no espaço
neutro quando da sinalização.
É importante indicar que, assim como acontece em Português, em Libras, há,
ainda a possibilidade de indicar uma sentença com ideia de posse a partir de uma
construção em locução. Veja:

É importante indicar que, assim como acontece em Português, em Libras, há,


ainda a possibilidade de indicar uma sentença com ideia de posse a partir de uma
construção em locução. Veja:
37
O uso do sinal pertencer/próprio também favorece a construção de discursos
que aportam o sentido de propriedade/posse.

BUSQUE POR MAIS


Para informações e outras ilustrações relacionadas à apropriação dos prono-
mes em Libras, visite a obra organizada por Pereira et al. intitulada Libras co-
nhecimento além dos sinais. Confira o tópico “Aspectos linguísticos da Língua
Brasileira de Sinais”, a partir da página 97. Disponível em: https://bit.ly/40rJgEx.
Acesso em: 15 nov. 2022.

2.3 FAMÍLIA
Reconhecer as lexias referentes aos graus de parentesco é um recurso fundamental
pois, considerando o âmbito familiar o núcleo primário do cidadão, é ali que as primeiras
referenciações são identificadas, compreendidas e reproduzidas. Mesmo na aquisição
de uma L2, as associações familiares podem ser as primeiras a acontecer.
Ao conhecer a árvore genealógica de parte da família real brasileira, identificaremos
os sinais referentes aos graus de parentesco.
38

Figura 4: A família real brasileira


Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3iqPJMt. Acesso em: 07 ago 2021

Observe que:
• Dom Pedro IV é marido do primeiro casamento de Dona Maria Leopoldina, pai de
Dom Pedro II e sogro de D. Teresa Cristina de Bourbon.
• Dona Maria Leopoldina é esposa de Dom Pedro IV, mãe de Dom Pedro II e sogra de D.
Teresa Cristina de Bourbon.
• Dom Pedro II é filho de Dom Pedro IV e de Dona Maria Leopoldina, irmão de D. Francisca
e cunhado de D. Francisco de Orléans.
• Dom Pedro IV é neto de Dom Pedro III e sobrinho de Dom José.
• Dona Maria Clementina é tia de D. Pedro IV. Se ela tivesse um filho, ele seria primo de
D. Pedro IV.
Vamos considerar o vocabulário em Libras para as lexias de família.

Figura 5: Sinal da lexia “família”


Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3ikFQ2I. Acesso em: 08 ago. 2021
39
No caso da variação de gênero dos substantivos, basta adicionamos à lexia base
o prefixo próprio ao masculino e/ou feminino que são, respectivamente:

FIQUE ATENTO
As imagens/ilustrações dos sinais sobre família representadas nesta unidade
foram retiradas das fontes: MARCON, A.M. et al. Estudos da Língua Brasileira de
Sinais. Passo Fundo: UPF Editora, 2011.; https://bit.ly/3opcfZZ. Acesso em: 08 ago.
2021. E https://bit.ly/3mfrQsn. Acesso em: 08 ago. 2021.

Assim, a produção de palavras representativas do mesmo grau de parentesco,


porém com variação do gênero, terá apenas o prefixo distinto, obedecendo a seguinte
estrutura: [prefixo de gênero] + [raiz da palavra].
Tomemos por exemplo as palavras marido e esposa. Ambas referem-se aos
cônjuges, de modo que terão a mesma raiz, por se tratar de mesma relação de
parentesco. Para identificar se estou tratando do cônjuge masculino (marido) ou do
feminino (esposa), acrescentamos o prefixo desse referente. A raiz de cônjuge será:

De modo que, então, teremos:

Dessa forma ocorrerá a indicação de gênero para todos os outros substantivos


40
que nomeiam a classe familiar, quais sejam as seguintes raízes das palavras referentes
a:
41

No âmbito familiar, também é usual o vocabulário referente à condição civil, quais


sejam:

BUSQUE POR MAIS


O processo de formação de palavras através do uso de compostos foi minucio-
samente explicado por Quadros e Karnopp na sua obra Língua de Sinais Brasi-
leira – Estudos Linguísticos. Confira as informações trazidas por ela no capítulo,
no subtítulo “Formação de compostos” que se estende das páginas 101 a 106, a
fim de compreender, não apenas a construção de nomes com concordância
de gênero, mas também aspectos morfológicos fundamentais. Disponível em:
https://bit.ly/3LNVkMp. Acesso em: 15 nov. 2022.

2.4 APLICAÇÃO PRÁTICA


Com os conhecimentos adquiridos no livro Libras I e com as novas compreensões
dadas até aqui, vamos realizar algumas aplicações práticas para ampliar nossos
42
conhecimentos.

2.4.1 Atividade 1

Retorne à árvore genealógica da família real brasileira colocada no subtítulo 2.3


desta unidade.
Com base na análise da figura, determine quais são as relações familiares entre:
• D. Pedro III e D. Maria Francisca Benedita;
• D. Ana de Jesus Maria e D. Antonio Pio;
• D. Amelia de Beauharnais e D. Maria Amelia;
• D. Maria Amelia e D. Januária.

2.4.2 Atividade 2

Assista à vídeo aula produzida pela TV INES no link abaixo:


Link: https://bit.ly/3uvI587. Acesso em: 15 abr. 2022.
Identifique no texto:
• Os sinais reconhecidos por você e, portanto, já aprendidos;
• Sinais novos, porém do mesmo campo semântico tratado nesta unidade;
• Classificadores utilizados junto aos sinais para elucidar o discurso;
• Estruturação das sentenças; de modo a reconhecer como as construções em Libras
são independentes da gramática da Língua Portuguesa e, a partir dessa constatação,
auxiliar você nas suas próprias organizações frasais a fim de rejeitar o Português
sinalizado.
Dica: uma boa maneira de se chegar a conclusões assertivas, conforme sugerido
no último item, é transcrever a forma como o texto foi sinalizado em Libras. Isso permite
que você tenha uma imagem visual de cada um dos elementos das orações e estabeleça
critérios que te permitirão sinalizar com clareza e propriedade.

2.4.3 Atividade 3

Faça e apresente para a classe, para um grupo de colegas ou para o professor


uma das duas possibilidades abaixo:
• Sua árvore genealógica;
• Uma árvore genealógica fictícia.
Dê indicações sobre os principais membros da família. Veja um modelo:
“Minha avó se chama Aurora. Ela tem 82 anos e mora na roça. Ela gosta de costurar,
de...”
Depois de apresentar seu texto, certifique-se de que as informações compreendidas
pelos colegas e/ou pelo professor tenham sido as intencionadas por você. Aceite
sugestões de adaptação de estruturação de sentenças e, caso seja necessário, refaça
o texto para que fique ainda mais compreensível aos seus interlocutores.
43

VAMOS PENSAR?
Como você pode, nesta etapa, construir sentenças complexas que formam um texto com-
pleto? Vamos pensar em medidas práticas: retome o aprendizado do alfabeto manual e
datilologia, números e especialmente de classificadores. Use os classificadores para enri-
quecer o texto e para facilitar construções de vocabulário desconhecido. Por exemplo, você
sabe qual o sinal do verbo costurar? Se não souber, como dar a informação que “sua avó
Aurora gosta de costurar” por meio de classificadores como os de corpo, instrumentais e/
ou descritivos? Lembre-se que os classificadores não são simples gestos ou mímicas. São
morfemas que passam a ser gramaticalizados na medida que ganham, no contexto, cará-
ter léxico-gramatical de identificação de classe, descrição de formas e/ou ação verbal, etc.

2.4.4 Atividade 4

Conheça o filme A Família Bélier.


Leia a sinopse do longa retirada do site https://bit.ly/3FjOiJF.
Paula é uma adolescente francesa que enfrenta todas as questões comuns de
sua idade: o primeiro amor, os problemas na escola, as brigas com os pais… Mas a sua
família tem algo diferente: seu pai, sua mãe e o irmão são deficientes auditivos. É Paula
quem administra a fazenda familiar e que traduz a linguagem de sinais nas conversas
com os vizinhos. Um dia, através de seu professor, ela descobre ter o talento para o
canto, podendo integrar uma escola prestigiosa em Paris. Mas como abandonar os pais
e os irmãos?
Antes de assistir ao filme, encontre no excerto acima duas colocações equivocadas
no que diz respeito aos estudos das línguas de sinais, surdez e cultura surda. Como
podemos solucioná-las no texto?
• Agora, assista ao filme.
• Faça uma resenha crítica dos aspectos relativos aos conteúdos já trabalhados
levando em consideração o cotidiano da família Bélier. O que você pode perceber ali
que corrobora ou apresenta-se em desacordo com os aspectos teóricos já estudados?
Embora seja um roteiro fictício, é possível se lembrar das perspectivas sobre surdez e
cultura surda já apresentadas no decorrer do seu curso e ponderar sobre isso tendo
essa família como referência.
• Prepare uma sinopse do filme em Libras. Na sua sinalização, identifique a relação
de parentesco entre as personagens e algumas características de cada uma delas.
44
FIXANDO O CONTEÚDO

1. Prefeitura de São Roque do Canaã/2020 - No trecho "Tu te tornas eternamente


responsável por aquilo que cativas", o termo destacado é:

a) primeira pessoa do singular.


b) segunda pessoa do singular.
c) terceira pessoa do singular.
d) segunda pessoa do plural.
e) primeira pessoa do plural.

2. O detalhamento de informações quantitativas, como aspectos de unicidade, dual,


trial, etc., pode ser incorporado a um sinal base na constituição

a) dos pronomes possessivos referentes às pessoas do singular.


b) dos artigos possessivos referentes às pessoas do plural.
c) dos pronomes pessoais referentes às pessoas do singular.
d) dos pronomes pessoais referentes às pessoas do plural.
e) de todos os pronomes.

3. (AOCP-2015 – Adaptada). Sobre as categorias gramaticais da Libras, é correto afirmar


que:

a) o classificador é uma forma que existe em número ilimitado em uma língua e


estabelece um tipo de concordância.
b) os pronomes pessoais não possuem um sistema pronominal para representar as
pessoas do discurso.
c) a incorporação de nomes e pronomes é muito frequente e invisível, devido às
características espaciais e icônicas dos sinais.
d) os pronomes são configurações de mãos que, relacionadas à pessoa, animal e
objeto, não funcionam como marcadores de concordância.
e) os pronomes possessivos, como os pessoais e os demonstrativos, não possuem marca
para gênero e estão relacionados às pessoas do discurso e não ao objeto possuído.

4. A produção de sinais com prefixação referente à concordância de gênero se dá pelo


processo

a) de composição.
b) de classificação.
c) de iconicidade.
d) de arbitrariedade.
e) de gramaticalização.

5. Os sinais abaixo significam, respectivamente:


45

I.

II.

a) I) gênero feminino e II) tia


b) I) mãe e II) sobrinha
c) I) avó e II) neto
d) I) pai e II) tio
e) Nenhuma das alternativas.

6. Prefeitura de Itambaracá/2020 – adaptada - Leia o texto para responder a questão:

E se a 2ª Guerra Mundial não tivesse acontecido?


Sem a fundação da ONU e a invenção da bomba atômica para evitar a eclosão de um
conflito entre potências, o mundo seria um lugar mais violento
Por Fábio Marton
Para que a 2ª Guerra não tivesse acontecido, bastaria uma traição. E nem seria a
primeira: embora França e Reino Unido fossem aliados da Tchecoslováquia no papel,
não reagiram quando Hitler começou a ocupação do país, em 1938. O estopim do conflito
veio só em setembro de 1939, quando as duas potências fizeram valer sua aliança com
a Polônia e declararam guerra à Alemanha – mas não à União Soviética, que fechou
com o Führer para invadir seu quinhão de território polonês pelo outro lado.
Hitler não tinha muito interesse em avançar rumo ao Oeste: considerava os britânicos
colegas arianos, possíveis aliados. E não faltavam fãs de Hitler entre os anglo-saxões: o
parlamentar Edward Mosley, na Inglaterra, criou a União Nacional dos Fascistas e o herói
nacional Charles Lindenberg, nos EUA, usou sua fama como primeiro aviador a cruzar o
Atlântico para defender pautas de extrema direita.
Ficaríamos, então, com uma guerra entre alemães e soviéticos em 1941, quando Hitler
rasgou o acordo Molotov-Ribbentrop, de 1939, que permitiu a divisão da Polônia. Quem
venceria? Na vida real, a URSS aniquilou a Alemanha pelo front leste e foi a principal
responsável pela vitória aliada.
A questão é que os soviéticos não teriam conseguido sozinhos. Eles tiveram acesso
a material bélico americano e britânico e os nazistas perderam força quando foram
46
obrigados a lutar em frentes múltiplas após a invasão da Itália, em 1943, e o Dia D, em
1944. Além disso, os japoneses deixaram os alemães em desvantagem sem querer
quando dedicaram todas as suas atenções ao conflito contra os EUA no Pacífico em vez
de invadir a URSS pela Sibéria.
O ataque a Pearl Harbor é considerado pela maioria dos historiadores um erro estratégico
crasso – ao contrário do que os líderes japoneses cogitaram, os EUA não pretendiam
atacar o Japão. A opinião pública americana se opunha à guerra, e se oporia ainda
mais caso França e Reino Unido tivessem permanecido neutros.[...]

Disponível em: https://bit.ly/3B3NQwl. Acesso em: 15 nov. 2022.

No quarto parágrafo, o pronome sublinhado retoma:

a) os soviéticos.
b) os alemães.
c) os japoneses.
d) os nazistas.
e) os americanos.

7. Associe a primeira coluna com a segunda.

(1) sinal referente à indicação do gênero masculino.


(2) sinal referente ao verbo casar e também à raiz do substantivo referente ao cônjuge.
(3) sinal referente ao substantivo bebê.
(4) sinal referente ao substantivo mulher.

( )

Fonte: https://bit.ly/2Y8ScEp.

( )

Fonte: https://bit.ly/39Y1Z29.
47

( )

Fonte: https://bit.ly/3mkugWD.

( )

Fonte: https://bit.ly/3B0rvzD.

Será a resposta correta a seguinte sequência:

a) 3 – 1 – 2 – 4.
b) 2 – 4 – 3 – 1.
c) 3 – 4 – 2 – 1.
d) 1 – 2 – 4 – 3.
e) 4 – 3 – 1 – 2.

8. A tradução para a frase abaixo sinalizada é:

a) minha prima tem 20 anos de idade.


b) minha tia está com 29 anos de idade.
c) eu tenho uma tia com 26 anos de idade.
d) meu primo tem 20 anos de idade.
e) eu tenho um tio que tem 29 anos de idade.
48

ESTUDO DO LÉXICO
49
3.1 O LÉXICO DAS LÍNGUAS DE SINAIS (LS)

O estudo do léxico data dos primórdios. Por isso, a definição de léxico é retratada
por diversos autores, cada um indicando aspectos que lhes parecem mais pertinentes a
considerar. Faremos, a seguir, um apanhado com algumas das reflexões acerca dessa
conceitualização, a fim de elucidar o tema desta unidade.
O léxico duma língua seria o conjunto das unidades
submetidas às regras da gramática dessa língua, sen-
do a conjunção da gramática e do léxico necessária e
suficiente à produção (codificação) ou à compreensão
(descodificação) das frases duma língua. (REY-DEBOVE,
1984, p. 46)

Rey-Debove (1984) especifica o léxico como a completude das unidades da


língua que estão construídas de acordo com a norma culta daquele idioma. São essas
unidades que constituirão as estruturas linguísticas e comunicativas da sociedade
falante de tal língua. Basílio (2011) concorda que é através do léxico que a construção
de enunciados se dá. Ela acrescenta, ainda, a função do léxico: designar e categorizar
os elementos do mundo apontando-os ao âmbito da linguagem.
O léxico é uma espécie de banco de dados previamen-
te classificados, um depósito de elementos de desig-
nação, o qual fornece unidades básicas para a cons-
trução de enunciados. O léxico, portanto, categoriza as
coisas sobre as quais queremos nos comunicar, forne-
cendo unidades de designação, as palavras, que utili-
zamos na construção de enunciados. (BASÍLIO, 2011, p. 9)

Analisamos, abaixo, as palavras de Correia (2011) no que diz respeito à definição


de léxico. Encontramos ali a menção coincidente de léxico como conjunto das palavras
de uma língua. A autora nos indica que nesse conjunto estão tanto as novas unidades
como as lexias arcaicas. Por último, temos o apontamento que os elementos gramaticais
formadores de palavras também são considerados parte do léxico.
O léxico de uma língua é o conjunto virtual de todas as
palavras de uma língua, isto é, o conjunto de todas as
palavras da língua, as neológicas e as que caíram em
desuso, as atestadas e aquelas que são possíveis tendo
em conta as regras e os processos de construção de
palavras. O léxico inclui, ainda, os elementos que usa-
mos para construir novas palavras: prefixos, sufixos, ra-
dicais simples ou complexos. (CORREIA, 2011, p.227)

Percebemos, portanto, na definição de léxico, o prevalecimento de conceitos


comuns como, por exemplo, ser o conjunto de unidades da língua e o responsável pela
construção de enunciados que possibilitam uma comunicação eficiente. Haensch et al.
(1982) já indicavam unidade nas definições e também descreveram seu conceito de
léxico como o conjunto das unidades formadoras do discurso, seja no âmbito individual
ou no coletivo.
50
Entre as diversas definições de 'léxico' existem pon-
tos comuns, já que sempre se define ‘léxico’ como um
conjunto de significantes verbais ou de signos [...] que
estão acima do nível de distinção e que podem servir
de partes componentes de proposições e textos. Para
maior clareza da definição, decidiremos aqui pela solu-
ção que consiste em eliminar elementos linguísticos do
conjunto de todos os elementos que pertençam à lin-
guagem: se excluímos os grupos de fatores ‘conteúdo’
e 'situação de comunicação’ (fatores relevantes para o
ato de comunicação), nós temos o conjunto de signifi-
cantes. Se, além disso, dispensarmos todos os signifi-
cantes não verbais, teremos o conjunto de significantes
verbais. Além disso, excluiremos a distinção e as regras
relativas à combinação de significantes. Após essa
múltipla eliminação de elementos, temos como defini-
ção do léxico 'o conjunto de monemas e sinmonemas'
do discurso individual, do discurso coletivo, do sistema
linguístico individual ou do sistema linguístico coletivo.
(HAENSCH et al., 1982, p. 91. Tradução nossa)

As definições de léxico deixam claro sua importância para as comunidades


linguísticas. São as ciências do léxico que retratam e conduzem as estruturas linguísticas
e comunicativas de uma sociedade.
A análise e constituição dos enunciados de uma língua se dão através do léxico.
Portanto, não existe comunicação sem léxico. Não existe comunidade linguística que
não esteja embasada sobre as ciências do léxico.
Voltar os estudos lexicais para o âmbito das línguas de sinais reforça-as como
línguas legítimas e confirma que as ciências do léxico são válidas para qualquer
modalidade de língua: sejam as orais auditivas ou as visuais espaciais.

BUSQUE POR MAIS


O capítulo primeiro da obra Introdução ao Estudo do Léxico: descrição e análise
do Português, de Villalva e Silvestre (2014), nos orienta sobre conceitos e tam-
bém aplicações do léxico na medida que contribui para o desenvolvimento da
competência comunicativa. São informações que também se estabelecem nas
línguas de sinais, dado seu status legítimo e natural. Confira das páginas 20 a
30 dessa obra. Disponível em: https://bit.ly/3mk7QEG. Acesso em: 15 nov. 2022.

Conforme definições já trazidas, podemos afirmar que há, nas línguas de sinais,
legitimidade nos seus vocábulos e nos processos de formação de palavras.
Na compreensão mais comum de léxico como sendo, não apenas as palavras
que compõe o inventário de uma língua, mas também as regras gerais dessa língua que
permitem a formação de novos itens, posicionamos o léxico da Libras nesta categoria.
Os recursos para que o rol vocabular de uma língua continue a se renovar a partir
do momento que seja necessária a criação de novas lexias são campo de estudo das
ciências do léxico.
51
Igualmente ao que acontece nas línguas orais, nas línguas de sinais as unidades lexicais
compõem-se de morfemas que se unem na formação das palavras.
Anteriormente a esse processo, no entanto, é preciso considerar a existência do
fonema. Lemos a definição de fonema em Quadros e Karnopp (2004, p.18): “[fonemas]
são segmentos usados para distinguir palavras quanto ao seu significado, através de
traços distintivos.” Assim, a Fonologia, a partir dos fonemas, é explicativa e interpretativa
no sentido de que “a análise fonológica busca o valor dos sons em uma língua, ou seja,
sua função linguística (Massini-Cagliari e Cagliari, 2001, p.106).” (QUADROS; KARNOPP,
2004, p.18).
Nesse sentido, baseando-nos nos estudos de Willian Stokoe, na década de 60,
passamos a especificar as unidades mínimas, os fonemas, na formação de palavras
das línguas de sinais.

FIQUE ATENTO
[...] nos estudos atuais sobre as LS, os pesquisadores têm usado o termo Fonema para
se referir, não somente aos sons de uma língua, mas também às unidades menores que
compõem os sinais. (SILVA, 2019, p. 2)

A Fonética e a Fonologia são áreas da Linguística que têm por finalidade pesquisar
e descrever as unidades mínimas distintivas de significado nas quais as palavras
e/ou enunciados de uma língua podem ser decompostas. A fonética descreve as
propriedades articulatórias e perceptivas das unidades mínimas, ou seja, os aspectos
físicos dos sinais. A fonologia determina a estrutura e a forma como essas mínimas
partículas podem ser organizadas e combinadas.
Assim, a partir dos parâmetros fonológicos da Libras, as relações lexicais são
evidenciadas, por exemplo, pelos processos de formação de palavras. Tais relações
descrevem o léxico real da Libras e definem seu léxico virtual.
Conforme o trabalho de Nascimento (2009), o fundo lexical da Libras, isto é, os
recursos linguísticos identificados nessa língua para construções e ampliação de seus
vocábulos, inclui os parâmetros fonológicos, classificadores, empréstimos linguísticos,
elementos prototípicos e morfemas-base. As regras abstratas relacionadas ao fundo
lexical e que estão de acordo com a origem da língua são classificadas como léxicon.

3.2 A LEXICOLOGIA DAS LS

A partir de uma compreensão do objeto de estudo lexical, podemos aprofundar-


nos nas suas ciências; isto é, nas disciplinas que contemplam o léxico de uma língua.
Abbade (2011) é apenas uma dentre os inúmeros autores responsáveis por elucidar a
temática das ciências do léxico. Ela determina:
A lexicologia enquanto ciência do léxico estuda as suas
diversas relações com os outros sistemas da língua, e,
sobretudo as relações internas do próprio léxico. Essa
ciência abrange diversos domínios como a formação
de palavras, a etimologia, a criação e importação de
52
palavras, a estatística lexical, relacionando-se neces-
sariamente com a fonologia, a morfologia, a sintaxe e
em particular com a semântica. (ABBADE, 2011, p.1332)

Como identificado na abordagem etimológica da palavra, a Lexicologia trata


do estudo lexical em suas diversas perspectivas. A Lexicologia conceitua os elementos
lexicais que servem como instrumentos para a Lexicografia e para a Terminologia. Por
exemplo, é a Lexicologia que determina distinções definitórias fundamentais como a
diferença entre palavra, vocábulo e lexia. É também a Lexicologia que identifica estudos
estruturais do léxico a partir de fundamentos linguísticos e extralinguísticos.
Assim o é para as línguas orais e também no caso das línguas espaço visuais. As
considerações acerca do léxico das línguas de sinais e suas atribuições também estão
para a Lexicologia.
Os estudos de unidades lexicais, unidades polilexicais, fraseologismos, neologismos,
arcaísmos, etc. perpassam por essa área de estudo e são de extrema importância dado
que, como nos lembra Basílio (2011), ao reconhecermos a língua tanto como sistema de
classificação como sistema de comunicação, podemos considerar o léxico diretamente
relacionado a ambas as funções, já que é atuante como banco classificatório de
elementos de designação e também possibilita construções comunicacionais.
Tomemos como exemplo os aspectos relacionados à produção de neologismos
em Libras. Sendo uma língua natural, a Libras adota todos os recursos de linguagem
identificados nas línguas orais. Um deles é a capacidade (e necessidade) da formação
de neologismos lexicais para melhor atender aos discursos pronunciados.
Identificar o fator neológico e considerar suas especificidades é trabalho que
nos permite tanto confirmar as línguas de sinais como língua genuína, como também
compreender as suas demandas no âmbito da Lexicologia.

BUSQUE POR MAIS


Leia sobre o processo de criação neológica da Libras no capítulo “Neologismos
lexicais na Língua Brasileira de Sinais” contido na obra O léxico do Português em
estudo na sala de aula III, organizada por Ferraz e publicada pela Editora Letra-
ria. Temos ali um exemplo de tratativas linguísticas à luz dos estudos da Lexico-
logia. Disponível em: https://bit.ly/3FawaS3. Acesso em: 15 nov. 2022.

Como sistema dinâmico, o léxico é passível de extensão e dentre as estruturas


que podem sofrer alteração estão os processos de formação de palavras_ também
identificados e especificados, por exemplo, pela Morfologia.
Daí a menção assertiva da autora Abbade (2011) trazida na introdução desta
seção ao afirmar que a Lexicologia trabalhará, então, a partir de “suas diversas relações
com os outros sistemas da língua.”.
No caso das línguas de sinais, a Lexicologia também cumprirá sua função tal qual
disciplina de identificação e estudo do léxico em consonância com outros domínios
linguísticos e extralinguísticos tais quais a Morfologia, a Fonologia, a Semântica, etc.
No que diz respeito à Morfologia, a Lexicologia poderá decodificar e descrever,
53
como citamos anteriormente, as construções neológicas encontradas em circulação
na comunidade surda, mas ainda não registradas em uma obra lexicográfica. São os
estudos lexicológicos que nos permitem identificar aspectos como construções formais,
semânticas e por empréstimo na elaboração e divulgação de uma nova lexia.
Quanto à Fonologia, os cinco principais parâmetros fonológicos da Libras podem
estar associados à Lexicologia quando da sua utilização em palavras consideradas
pares mínimos, bem como nas homônimas.
Por último, o critério semântico também está atrelado aos estudos do léxico, tendo
em vista que, no reconhecimento da língua como sistema comunicativo, as performances
linguísticas dependem de constituintes que estão para além dos gramaticais, como o
contexto e a capacidade linguística do interlocutor.
A fim de ser plenamente compreensível, a mensagem com sua carga semântica
intencionada deve estar elaborada a partir das convenções lexicais da comunidade
linguística que compartilha dessa língua através da qual o discurso será construído.
Isso se justifica pelo fato que o sistema lexical é plenamente eficiente para os usuários
dessa língua, o que não é verdade absoluta quando falamos do sistema gramatical_ que
tem sua eficiência relacionada a questões como grau de escolaridade, regionalidade,
classe social, competência cognitiva, etc.
Destarte, a identificação da Lexicologia e suas contribuições para o desenvolvimento
da competência do falante é essencial na formação de qualquer indivíduo. É essa
premissa que justifica surdos brasileiros continuarem a estudar a Libras e ouvintes
continuarem a estudar o Português pelo menos durante os anos de formação escolar
obrigatória.
Todos nós, embora já conheçamos as convenções lexicais e, até certo ponto,
as gramaticais próprias da nossa L1, precisamos aperfeiçoá-las tendo em vista a
constituição dinâmica do léxico. Só poderemos continuar a produzir enunciados
compreensíveis a todo tipo de interlocutor e a elucidar enunciados a nós direcionados
se mantivermos em mente o caráter ativo do léxico e, portanto, o sustentarmos como
fonte de consideração, mesmo depois de já sermos considerados proficientes.

VAMOS PENSAR?
Suponhamos que você seja um(a) hábil confeiteiro(a) que trabalha sob encomenda. Seus
bolos e doces são reconhecidos e muito solicitados. No entanto, tendo em vista o seu mé-
todo de trabalho por encomenda, não faz muito sentido você produzir além do que foi efe-
tivamente pedido, pois, embora todos saibam da sua competência, fazer sobremesas não
solicitadas pode gerar prejuízo e não trará utilidade. Esse comparativo nos lembra das pos-
tulações de Basílio (2011) quando a autora relaciona a capacidade que o léxico tem de pro-
duzir novos elementos com a formação concreta desses elementos. Uma coisa não, neces-
sariamente, demanda a outra. O sistema lexical tem competência para formar incontáveis
possibilidades de estruturas e palavras, mas, fazê-los simplesmente por possuir tal capaci-
dade, não é realista nem prático. Por isso, o sistema linguístico funciona apenas quando se
há demanda. Ou seja, quando necessário, ele é ‘ativado’ para suprir a necessidade de um
novo termo ou de um novo sentido a um antigo termo.
54
3.3 A LEXICOGRAFIA DAS LS

Para reproduzir as enunciações da comunidade linguística a ser descrita nas


obras lexicográficas, a Lexicografia atenta-se para as atividades discursivas individuais
e coletivas. Esse atributo do fazer lexicográfico nos é lembrado com considerações
relevantes sobre sua complexidade:
Para todo o domínio da descrição lexical que enfoca o
estudo e a descrição dos monemas [...] dos discursos in-
dividuais, dos discursos coletivos, dos sistemas linguís-
ticos individuais e dos sistemas linguísticos coletivos,
reservamos o termo ‘lexicografia’. [...] Muitas disciplinas
científicas desenvolveram uma metodologia científica
própria; o mesmo ocorreu também com a lexicografia.
Aquele que se dedica a tarefas lexicográficas de cer-
ta envergadura (sobretudo à elaboração de dicioná-
rios) necessita amplos conhecimentos teóricos sobre
as possibilidades e pressupostos metodológicos desta
atividade. Essas premissas metodológicas repercutem,
por um lado, os conhecimentos de todos os ramos da
linguística, e por outro lado, as condições e exigências
de trabalho práticas, tecnológicas e socioeconômicas.
(HAENSCH et al., 1982, p. 93. Tradução nossa.)

A descrição da Lexicografia feita por Haensch et al. indica o caráter científico da


mesma. De fato, a produção de obras lexicográficas deve ser tratada como processo
exclusivamente próprio àqueles que compartilham do extenso conhecimento técnico
de tal ciência tradicional e antiga.

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A Lexicografia é a ciência responsável pelo desenvolvimento de métodos e técnicas de
produção das obras lexicográficas na sua variedade de formas (monolíngues, bilíngues,
semibilíngues, escolares, gerais, infantis, etc).

Em tempo, Hernandéz (1989, p.6) considera a Lexicografia “a disciplina linguística


que goza de maior tradição”. Embora não no amplo sentido e desenvolvimento hoje
alcançado, a Lexicografia data da Antiguidade.
Biderman (1984) nos lembra que filólogos e gramáticos da escola grega de
Alexandria já produziam glossários com o objetivo de facilitar a compreensão de textos
homéricos.
Assim, a estrutura de organização de listas de palavras seguidas de informações
sobre as mesmas designa uma representação do léxico da língua corrente naquele
momento, ou seja, remete-se a conteúdo lexicográfico nos seus primórdios.
A necessidade de catalogar o léxico não é recente justamente pelo fato de
compreendermos que essa é uma atividade que está diretamente associada ao
desenvolvimento da competência lexical dos usuários da língua.
55
Obras assim possibilitam aos leitores ampliar a compreensão da sua própria
língua, tornando-se falantes e receptores/decodificadores mais capazes. Ainda,
tornam-se melhores conhecedores dos aspectos sociais e culturais da comunidade a
que pertencem.
Essas características vantajosas para os consulentes de obras lexicográficas
significam trabalho árduo para os lexicógrafos.
A importância dos estudos lexicais não se reduz aos procedimentos de delimitação
e seleção de palavras; a sua relevância também está no processamento lexicográfico
que engendra importantes obras para a comunidade linguística. Para a comunidade
surda tal relevância também deve ser considerada.
Cada língua se mostra de maneira diferente no que
se refere à apropriação do léxico e à manifestação
da linguagem. Para Zavaglia (2002, p. 233), “é o léxico
que transmite os elementos de um conjunto de indi-
víduos; [...] é o léxico que permite a manifestação dos
sentidos humanos, de suas afeições ou desagrados.” À
vista disso, não é possível estudar o léxico de uma lín-
gua sem estudar a história de seus falantes. Por isto, é
fundamental para os estudos lexicológicos a análise do
léxico, pois possibilita a aquisição de conhecimentos
históricos, comportamentais e habituais de determina-
do povo. E, como mencionado anteriormente, a ciência
que estuda as unidades lexicais é denominada como
Lexicologia. (ORSI; SILVA, 2016, p.106)

Mesmo no período anterior ao reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais


como língua legítima, já era possível identificar indícios que levariam a divulgar tal
genuinidade. A produção, embora tímida, de obras lexicográficas, por exemplo, é
evidência de aceitação linguística.
O processo de análise e registro do léxico produz manuais sobre a manifestação
linguística da comunidade além de, também, evidenciar a sua cultura e comportamento.
Essa afirmativa pode ser justificada com a análise histórica das obras lexicográficas na
Libras.
Estudos históricos dos compêndios lexicográficos da Libras identificam o manual
de Flausino José da Costa Gama, Iconographia dos signaes dos surdos-mudos (1875),
como sendo o primeiro de registro da língua.
No Brasil, o primeiro registro da Língua de Sinais Bra-
sileira é datado de 1875. Foi intitulado A Iconographia
dos signaes dos surdos-mudos. Trata-se de um manu-
al ilustrado de autoria do surdo Flausino José da Costa
Gama. Porém, Sofiato (2011) argumenta que o pioneiris-
mo de Flausino é um mito, já que a obra não pode ser
considerada original, enquanto que Flausino reproduziu
fielmente as pranchas da obra de Pélissier. Para susten-
tar seu argumento, essa autora observa que a quanti-
dade de sinais é a mesma (382) e que a indexação se-
mântica também é muito similar à da obra de Pélissier.
(MARTINS, 2012, p.33)
56
Ter sido o início dos registros da língua de sinais em território brasileiro embasado
em uma produção de origem francesa corrobora a resultante proximidade lexical entre
essas línguas, bem como introduz à comunidade surda receptora, em certa medida,
um conteúdo estrangeiro com as características originais.
Tal afirmação é justificada pelo caráter cultural que as obras lexicográficas
possuem, já que, segundo Laface (1997), quanto à função cultural dos dicionários, os
mesmos acabam por ser “a norma explícita da cultura da comunidade.”
As obras de Pélissier e a de Costa Gama funcionam como manual lexicográfico
e, portanto, as características de acervo cultural são coincidentes. Mesmo falantes
nativos de uma comunidade linguística, representada por qualquer obra lexicográfica,
poderão refinar seus conhecimentos socioculturais por meio daquilo que ali trazem
como instrumento cultural.
Assim, a lexicografia da Libras tem sua gênese a partir da referência de conteúdos
estrutural, linguístico, gramatical, social e cultural da Língua de Sinais Francesa. A
iniciativa de Costa Gama determina a legitimidade da língua de sinais e a divulga para
a sociedade brasileira do século XIX.
Mais de noventa anos depois da obra de Costa Gama ser publicada, o padre
Eugênio Oates lança o manual de Libras A linguagem das mãos (1969). Faz-se necessário
considerar que os estudos de Oates são contemporâneos aos do principal investigador
da Língua de Sinais Americana e sua lexicografia; a saber, William C. Stokoe Jr.
Por exemplo, em 1960, Stokoe publicara um artigo descritivo sobre a estrutura da
Língua de Sinais Americana, já a classificando como sistema linguístico. Em 1965, ele e
outros autores publicam o designado primeiro dicionário da Língua de Sinais Americana
intitulado A dictionary of american sign language on linguistic principles.
Tamanha deferência nos permite dizer que Oates conhecia e ponderava os
trabalhos de Stokoe. Sendo também estadunidense, possivelmente Oates ainda
conhecia a Língua de Sinais Americana, o que significa dizer que seu trabalho refletia as
conclusões das recentes pesquisas de Stokoe e sua língua de estudo, a ASL.
Por exemplo, Stokoe passa a descrever a composição das palavras em línguas de
sinais em correspondência às línguas orais, no sentido de reconhecer que se constituem
a partir de unidades mínimas. Para as línguas de sinais, denomina cada um desses
constituintes como quiremas. Inicialmente, Stokoe destaca três: configuração das mãos,
localização e movimento.
Essa organização de padrão proposta por Stokoe é percebida na obra de Oates ao
descrever os sinais que compõem o seu corpus. Percebemos, portanto, na lexicografia
da Libras, referências estabelecidas com os pioneiros estudos americanos sobre as
línguas de sinais.
Em 1981, surge um novo manual referente aos estudos da Língua Brasileira de
Sinais. Desenvolvido por John Everett Peterson, um missionário americano Philosophy
Doctor que, juntamente com sua esposa, Iva Jean Peterson, Doutora em Educação, se
instalam em Fortaleza e, ali, iniciam a pesquisa sobre a Libras.
Resultado das pesquisas e da prática de ensino dos surdos cearenses, Peterson
produz o Comunicação Total, cujo objetivo era descrever sinais recorrentes no léxico
geral da comunidade surda. Essa primeira edição compilou 490 sinais, sem ilustrações.
A partir da segunda edição (1987), a obra passa a se chamar Comunicando com as mãos
e expande-se para 574 sinais. Além disso, as lexias começam a também ser ilustradas,
57
além de descritas. Assim, a obra de 1987 conta com dois autores: John Peterson e Judy
Ensminger, a ilustradora.
A literatura americana continua a motivar estudiosos das línguas de sinais e, mais
adiante, não foi diferente. Em 1998, Fernando C. Capovilla, Walkiria D. Raphael e Elizeu C.
Macedo, juntamente com sua equipe, publicam o Manual ilustrado de sinais e o sistema
de comunicação em rede para surdos, a fim de registrar a Libras do século XX.
Os autores buscaram todos os manuais quanto pudessem encontrar para que, à
base dessa pesquisa, inserissem na obra própria os sinais coincidentes nos compêndios
já publicados. Além dos manuais de Libras, foram também selecionados manuais da
ASL, para que as duas línguas tivessem seus sinais comparados.
A descrição dos autores em relação à seleção das lexias já demonstra a escassez
de materiais lexicográficos referentes à Língua Brasileira de Sinais. Em todo seu período
de existência, até o século XX, não havia muito mais do que três principais obras de
compilação do léxico.
Além disso, mesmo dentre as existentes, não havia tratamento dos sinais em
todas as categorias linguísticas como semântica, morfológica, sintática, pragmática,
etc.
O primeiro dicionário foi publicado em 2001 de autoria de Fernando Capovilla e
Walkiria Duarte Raphael. O Deit-Libras: Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da
Língua de Sinais Brasileira foi publicado em dois volumes e, ao todo, descreve 4.327
sinais.
É a primeira obra a ir além da grafia, em Português, da palavra a ser indicada e da
simples descrição do sinal acompanhada de uma ilustração.
Em 2009, o Deit-Libras é continuado com o lançamento do Novo Deit-Libras:
Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. Além de manter
os autores da primeira edição, Fernando Capovilla e Walkiria Raphael, acrescenta-se a
autora Aline Cristina Mauricio.
O Novo Deit-Libras tem um corpus composto de 9.828 lexias catalogadas em
forma de verbetes, incluindo, agora, variações linguísticas e sinais típicos de distintas
regiões do país.
Anteriormente à publicação do Novo-Deit Libras, é lançado, em 2006, o Dicionário
da Língua Brasileira de Sinais, de autoria de Tanya Felipe; Guilherme Lira e equipe.

Figura 5: A capa do Dicionário da Língua Brasileira de Sinais


Fonte: DINIZ (2010, p. 63)
58
Essa é uma obra virtual promovida pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos
e disponibilizada em CD-rom na versão 2.0. Nela, os consulentes podem fazer a busca
pela lexia desejada através da ordenação alfabética, do campo semântico ou da
configuração de mãos.
A partir da primeira escolha, abre-se uma tela referente à palavra e, ali, são
apresentados também a sua acepção; o campo semântico a que pertence, denominado
assunto; a classe gramatical; a origem geográfica; um exemplo em Português, através
de uma frase aparentemente produzida pela equipe, já que não há referência de um
corpus de retirada e um exemplo em Libras, sendo esse último a transcrição da frase
exemplo do Português. Há, neste dicionário um diferencial entre os até então publicados.
Enquanto nos dicionários impressos os sinais são ilustrados ou desenhados, no dicionário
digital do Ines a lexia em Libras é demonstrada por meio de um vídeo com a produção
da mesma.
O histórico das obras lexicográficas da Língua Brasileira de Sinais nos indica uma
língua com repertório léxico pouco registrado. Pesquisas a respeito da Lexicologia,
Lexicografia e Terminologia da Libras começam a despontar desde o período do primeiro
manual publicado, no entanto, no que diz respeito a compêndios de vocabulários,
glossários, dicionários, enciclopédias, etc, propriamente ditos, temos, basicamente, os
volumes aqui descritos.
Esse cenário reforça a necessidade de utilização das pesquisas teóricas da área
a fim de elaborar compilações de registro efetivo da língua, não apenas para atribuição
linguística, mas também como reflexo da identidade social e cultural da comunidade
surda do Brasil.

3.4 A TERMINOLOGIA DAS LS

A Terminologia é também uma área de estudo relacionada ao léxico. Lima (2014)


identifica suas concepções e deixa-nos claro a abordagem de especificidade lexical da
Terminologia:
Em uma primeira acepção, a Terminologia refere-se
simplesmente ao uso e estudo de termos, isto é, pro-
põe-se a descrever as palavras simples e compostas
que são geralmente usadas em contextos específicos.
Já em uma segunda acepção, em sentido estrito, a
Terminologia refere-se a uma disciplina científica que
estuda sistematicamente a rotulação e a designação
de conceitos de diversos campos dos saberes relativos
às atividades humanas, ou seja, estuda os termos e os
conceitos empregados nas línguas de especialidade.
Seu objetivo é pesquisar, documentar e promover o uso
correto dos termos. (LIMA, 2014, p.75)

O termo ou unidade terminológica designa a lexia de caráter especializado, por


exemplo, de um domínio técnico, profissional, científico, artístico, etc. Assim, sendo objeto
de pesquisa e documentação da Terminologia, tal disciplina abordará o conjunto de
termos de uma determinada área.
No âmbito das línguas de sinais, a Terminologia é, das ciências do léxico, a
59
que menos tem publicações próprias, pois, quantitativamente, o número de lexias
terminológicas determinadas e catalogadas na Libras é menor do que quando em
comparado com a Língua Portuguesa.
Por exemplo, ainda não temos um marco referencial teórico para produção de
obras terminológicas em Libras e nem mesmo uma obra lexicográfica terminológica
formal e oficial na Língua Brasileira de Sinais.

FIQUE ATENTO
Embora possamos afirmar a não existência de obras terminólogicas formais e completas
na Libras, é, sim, “possível encontrar em alguns autores a preocupação com a apreensão
dos conceitos científicos pelos surdos, em disciplinas básicas do ensino médio [...]. Por
exemplo, a dissertação de Marinho (2007) registra a escassez de termos científicos em
Libras e analisa as dificuldades vivenciadas por estudantes surdos e seus intérpretes, nas
aulas de Biologia, nas salas de aulas do ensino de nível médio.” (LIMA, 2014, p.87). O reco-
nhecimento dessa necessidade se faz de extrema importância, tendo em vista que “uma
ciência somente começa a existir ou a ser divulgada à medida que impõe seus conceitos
e divulga-os por meio de suas respectivas denominações.” (BENVENISTE, 1974, p.83)

A escassez de unidades terminológicas em Libras se justifica por alguns motivos,


como, por exemplo, uma recente constatação da Libras enquanto língua oficial de
comunicação dos surdos, acontecida apenas a partir do ano de 2012, com a Lei nº 10.436.
Esse cenário acabou por determinar que, até a regulamentação de tal Lei,
muitos surdos obtivessem seu percurso de formação educacional tendo o Português
como língua de instrução. Isso trazia dificuldades relevantes para esse indivíduo que,
obviamente, com o canal auditivo comprometido, tinha dificuldades significativas para
decodificar e compreender informações a ele repassadas por meio de uma língua oral-
auditiva.
De modo que apenas uma minoria alcançava ambientes de maior comunicação
especializada, como os cursos técnicos, profissionalizantes, educação superior, etc. É em
ambiente como esses que as unidades terminológicas circulam com mais regularidade.
Já que poucos surdos chegavam a tais ambientes, a utilização de termos se tornava
indiferente para esses sujeitos e, mesmo que lá se inserissem, acabavam submetidos
à ministração do conteúdo em Língua Portuguesa, pois não havia obrigatoriedade em
promover para o surdo o ensino exclusivamente em Libras.
Todavia, com a promulgação da Lei que determina a Libras como língua de
instrução da comunidade surda, surge a necessidade de, primeiramente criar e, depois,
sistematizar o léxico terminológico. Conforme nos lembra Paula (2020):
Há grande necessidade de sistematização dos termos
em Libras. A nulidade de uma obra que faça isso com
autoridade permite um cenário escolar segmentado
mesmo entre a comunidade surda, pois, nem os sur-
dos nem os intérpretes que atuam na translação do
conhecimento escolar científico têm acesso a termos
padronizados. O que percebemos são os próprios sur-
dos atuando, juntamente com seu intérprete, a fim de
60
sugerirem sinais para os termos que surgem em sala
de aula durante a ministração do conteúdo das diver-
sas disciplinas. Essa situação resulta em incontáveis
variantes, sendo, a maioria delas, criadas com o único
objetivo de cumprir uma função imediata de tradução
e evitar o uso recorrente de datilologia. Um dicionário
[terminológico] poderia amenizar o desconforto cau-
sado pela falta de lexias e termos apropriados à tra-
dução, bem como padronizar os termos escolares, so-
lucionando uma segmentação atual evidente. (PAULA,
2020, p.26)

A elaboração de referenciação teórica para produção de obras terminológicas,


como vem sendo abordada por alguns autores, e sua consequente aplicabilidade na
produção de dicionários, vocabulários, glossários e enciclopédias terminológicos se faz
urgente.
Não apenas para facilitar o trabalho dos intérpretes e solucionar uma segmentação
aparente, conforme postulado pela autora supracitada, mas também para promover
a ampliação do léxico da Libras nos campos de especialidade e permitir aos usuários
dessa língua utilizá-la em todas as situações de comunicação sem constrangimento.
Conforme Cabré, “a Terminologia parece indispensável para a sobrevivência das
línguas minoritárias” (CABRÉ, p. 2002, p.4), pois qualquer língua com entraves se mostra
incompleta de recursos.
Assim, tendo a Libras todos os recursos linguísticos para expansão lexical,
discutir a elaboração terminológica a partir de outros campos de especialidade como
a Morfologia, Sintaxe, Semântica, etc. e produzir materiais nesse sentido permitirão à
comunidade surda domínio conceitual em todos os âmbitos de apresentação do léxico,
seja o geral ou específico, aproximando ao máximo tanto quando for possível o léxico
mental individual ao léxico externo da comunidade linguística a que pertence.

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Considere como o autor Lyons relaciona a Terminologia da Linguística no ca-
pítulo 2 de sua obra Linguagem e Linguística: uma introdução. Disponível em:
https://bit.ly/42wQRDF. Acesso em: 15 ago. 2022.
61

FIXANDO O CONTEÚDO

1. A partir dos conhecimentos adquiridos na unidade, considere as afirmativas abaixo e


identifique quais são as verdadeiras.

I. O conjunto lexical de uma língua refere-se às unidades constituintes das estruturas


linguísticas e comunicativas de tal língua.
II. É função do léxico denominar e classificar as unidades básicas de significado de
uma dada língua.
III. Fazem parte do léxico tanto o conjunto de palavras da língua como as regras de
estruturação gerais dessa mesma língua.
IV. A criação de novas lexias, os chamados neologismos, é compreendida e determinada
pelas disciplinas das ciências do léxico.

a) I e IV.
b) I, II e IV.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) I, II, III e IV.

2. (IF-RJ- 2012). O neologismo é um fenômeno linguístico que consiste na criação de


uma palavra ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma palavra
já existente. Pode ser fruto de um comportamento espontâneo, próprio do ser humano
e da linguagem, ou artificial, para fins pejorativos ou não. Geralmente, os neologismos
são criados a partir de processos que já existem na língua: justaposição, prefixação,
aglutinação, verbalização e sufixação.

Disponível em: https://bit.ly/3FOAtob. Acesso em: 21 dez. 2011.

O neologismo desfabricação foi gerado através do mesmo processo que há na palavra:

a) reaproveitar.
b) manufatura.
c) licenciamento.
d) reutilizado.
e) destaque.

3. Relacione a primeira coluna com a segunda. A ordem que corresponde à sequência


correta é:

( ) Trata-se do estudo relacionado à produção de obras que catalogam léxico em suas


mais distintas formas.
( ) Relaciona-se às funções da língua como sistema de classificação e de comunicação
pois funciona tanto como banco classificatório de elementos de designação, como
62
também possibilita construções para a comunicação.
( ) Trata-se dos estudos relacionados às unidades lexicais de uma língua e sua relação
com outras áreas de conhecimento linguístico.
( ) Refere-se ao estudo do léxico de especialidade de uma dada língua.

(1) Léxico
(2) Lexicologia
(3) Lexicografia
(4)Terminologia

a) 1 – 2 – 3 – 4.
b) 3 – 1 – 4 – 2.
c) 3 – 1 – 2 – 4.
d) 2 – 1 – 3 – 4.
e) 1 – 3 – 4 – 2.

4. (IFB – 2017- Adaptada). No âmbito dos estudos lexicográficos e lexicológicos das


Línguas de Sinais, assinale a alternativa que apresenta apenas itens que constam no
léxicon determinado na pesquisa de Nascimento (2009):

a) movimento, classificadores e morfemas-base.


b) palavras primitivas, léxico e foco.
c) escrita de sinais, parâmetros fonológicos e empréstimos.
d) tópico comentário, configuração de mão e metonímias.
e) datilologia, classificadores e iconicidade.

5. Fazem parte do histórico como autores da Lexicografia da Língua Brasileira de Sinais:

a) Pélissier; John Peterson e Walkiria Raphael.


b) Costa Gama; Eugênio Oates e Fernando Capovilla.
c) William Stokoe, Iva Peterson e Elizeu Macedo.
d) Pélissier, Judy Ensminger e Tanya Felipe.
e) Costa Gama, William Stokoe e Aline Mauricio.

6. (FUNDATEC- 2019). Avalie as seguintes afirmações a respeito de “Léxico”:

I. As múltiplas atividades dos falantes no comércio da vida em sociedade favorecem


a criação de palavras para atender às necessidades culturais, científicas e da
comunicação de um modo geral. As que vêm ao encontro dessas necessidades
renovadoras chamam-se neologismos; no oposto a esse movimento criador, têm-
se os arcaísmos – palavras e expressões que, por diversas razões, saem de uso e
acabam esquecidas por uma comunidade linguística, ainda que permaneçam em
comunidades mais conservadoras.
II. Os empréstimos e calcos linguísticos são uma fonte de revitalização do léxico, assim
como a criação de certos produtos ou novidades que recebem o nome de seus
inventores ou fabricantes.
63
III. Os processos de composição e derivação, que se valem do radical de certos vocábulos,
são considerados de menor escala, visto que não se evidenciam regularidade nem
sistematicidade com que operam na criação de novos vocábulos.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

7. É problemática resultante da falta e/ou escassez de obras terminológicas na Libras:

a) padronização de lexias terminológicas, impedindo o processo natural de variação


lexical.
b) uso recorrente de datilologia, dificultando o acesso imediato ao conceito da palavra
que poderia ser ofertado quando associada a um sinal próprio.
c) catalogação de lexias, promovendo edições de obras lexicográficas que são de difícil
consulta e arcaicas.
d) impedimento ao conhecimento, já que sem um sinal técnico padronizado e
catalogado é impossível que a comunidade surda decodifique conceitos.
e) segmentação da ciência, pois apenas depois da nominalização efetiva a ciência
classificada passa a existir.

8. (INSTITUTO AOCP – 2019 – Adaptada). De acordo com a imagem abaixo que retrata
lexias da Libras, podemos afirmar que a Libras é uma língua:

a) nacional com pouca variação e é oficializada pela constituição.


b) com variação lexical, já que não possui regras definidas, sendo usada de um modo
em cada região.
c) com expressiva variedade de sinais, diferente do português, que possui várias regras
e, portanto, poucas variedades.
d) igual para todo surdo que a usa, assim como o português é a mesma língua para
todos os ouvintes que a usam.
e) que apresenta variedade lexical, pois se transforma nas práticas sociais do uso da
linguagem.
64

LIBRAS EM FOCO II
65
4.1 LOCALIZAÇÃO

Vamos conhecer vocabulário específico para construções de localização como


indicação de caminho e os cômodos da casa. Para contextualizar, vamos, inicialmente,
analisar o vídeo “Aula de Libras- Rio Turismo” elaborado pela TV INES. Você encontra o
vídeo no link: https://bit.ly/3zW6xk9. Acesso em: 15 nov. 2022.
Veja algumas construções utilizadas pelas personagens no diálogo entre Andreza
e Renato.
• Você poderia me dar uma informação?

Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3Fkta63. Acesso em: 09 ago. 202.

• Eu estou procurando o hotel (Copacabana Palace).

Fontes: Disponível em: https://bit.ly/3kZQSft. Acesso em: 09 ago. 2021.


https://bit.ly/3ioOjC5. Acesso em: 09 ago. 2021

FIQUE ATENTO
As imagens retratadas nesta unidade são das seguintes fontes: https://bit.ly/3u-
xCLkA. Acesso em: 10 ago. 2021.
https://bit.ly/39YJLxu. Acesso em: 10 ago. 2021.

Essas estruturas são comumente utilizadas na busca por orientação de caminho.


Além disso, temos:
A palavra interrogativa onde é um vocábulo recorrente na constituição de
expressões oracionais próprias de localização. Está presente em afirmativas, além das
interrogativas. Por exemplo:
66
• Onde fica o hotel Copacabana Palace?
• Eu procuro algum lugar onde possa almoçar essa hora.

Ao recebermos informação de indicação de caminho, provavelmente seremos


direcionados ao lado pelo qual seguir. No caso da direita/esquerda, a sinalização será
correspondente a esse direcionamento, assim como será, por exemplo, a indicação de
seguir em frente.
Essas são lexicalizações próprias dos estudos dos classificadores. Como nos
lembra Quadros e Karnopp (2004, p.93) “Classificadores são geralmente usados
para especificar o movimento e a posição de objetos e pessoas ou para descrever o
tamanho e a forma de objetos.” É assim que se dá com o direcionamento manual do
estabelecimento de algum caminho oferecido ao interlocutor.

BUSQUE POR MAIS


Considere as especificações que as autoras fazem sobre a organização do
discurso por meio de classificadores, que são considerados léxico nativo da
língua. Atente-se às páginas 92 (a partir do último parágrafo) a 94 da obra
QUADROS, R.; KARNOPP, L. Língua de Sinais Brasileira – Estudos Linguísticos. Porto
Alegre: Artmed, 2004. Disponível em: https://bit.ly/3JBRvXW. Acesso em: 15 nov.
2022.

Os verbos ir e vir também são habitualmente utilizados nesse contexto. Perceba


que são verbos espaciais, ou seja, sua performance será a partir do contexto. É preciso
ter estabelecido o agente da ação e o local para o qual ele se dirigiu ou do qual ele
veio, de modo a orientar a configuração de mão, orientação da palma da mão, ponto
de articulação e movimento do sinal obedecendo a essas construções sintático-
semânticas.
67

BUSQUE POR MAIS


É especialmente importante identificar os verbos que terão ou não concordân-
cia. Para isso, consulte a obra Libras conhecimento além dos sinais, de Pereira
et al. (2011). O subtítulo “Categorias gramaticais” (p.94 a 96) no capítulo Aspec-
tos linguísticos da Língua Brasileira de Sinais nos ajuda a reconhecer os verbos
simples, direcionais e espaciais, de modo a fazermos construções exatas de
enunciados. Disponível em: https://bit.ly/3JGA48z. Acesso em: 15 ago. 2022.

Temos também palavras da classe dos adjetivos na elaboração de textos


de localização. Assim como acontece nos discursos em Língua Portuguesa, eles
categorizarão substantivos, indicando-lhe qualidade, característica, defeito, estado,
condição, etc.

4.1.1 Lugares públicos

Tendo como pano de fundo as lexias anteriormente apresentadas, poderemos


utilizar o nome dos lugares públicos e cômodos da casa para nos localizarmos ou
direcionar alguém.

FIQUE ATENTO
As imagens referentes aos lugares públicos têm como fonte: https://bit.ly/2Y-
c6h3Y. Acesso em: 10 ago. 2021
68

FIQUE ATENTO
A utilização de vocabulário para localização e direcionamento se dá, essencialmente, de
maneira particular ao contexto, apesar de podermos identificar um léxico geral próprio des-
se tema, como o aqui apresentado. Contudo, não se restrinja às sugestões aqui ofertadas.
Você poderá encontrar, por exemplo, utilização de numerais, unidades de medida (metros,
quilômetros...), meios de transporte, etc. Não se esqueça de elucidar a compreensão do seu
discurso por meio do uso de classificadores.
69
4.1.2 Os cômodos da casa

Também podemos localizar pessoas ou objetos nos ambientes de uma casa.


Para tanto, serve-nos o vocabulário:

FIQUE ATENTO
As imagens referentes aos cômodos da casa têm como fonte: https://bit.ly/3m-
jKVcG. Acesso em: 10 ago. 2021.

BUSQUE POR MAIS


Assista a uma aula de Libras promovida pela TV INES. Você aprenderá mais
detalhes sobre os tipos de moradias construídos ao longo da história da hu-
manidade, além de especificidades sobre os cômodos e outras partes da casa.
Atente-se às estruturas contextualizadas do uso do vocabulário retratado nes-
ta unidade. Disponível em: https://bit.ly/3D5eIwI. Acesso em: 15 ago. 2022.

4.2 PRONOMES DEMONSTRATIVOS

A partir de um excerto do poema “Ou isto ou aquilo” de Cecília Meireles, Caio


Augusto Castro nos orienta quanto ao conceito e exemplificação dos pronomes
demonstrativos.
70

Lemos em Castro:
“No clássico poema da célebre escritora, vemos tema-
tizada a angústia gerada pela dúvida e incerteza no
momento de uma escolha. Ao longo do texto, verifica-
mos a ênfase no verso (o qual intitula o poema) ou isto
ou aquilo, que, linguisticamente, constrói-se a partir de
dois dos chamados pronomes demonstrativos. Segun-
do Lima (2010, p.159) esses pronomes indicam ‘a posi-
ção dos objetos designados, relativamente às pessoas
do discurso’”. (CASTRO, 2020, p.35)

Seja em Língua Portuguesa ou em Libras, os pronomes demonstrativos têm a


mesma finalidade de identificar e situar, em relação às pessoas do discurso, elementos
referenciados. Eles podem ser usados para marcar posição no espaço e também no
tempo. São eles:

Pessoas verbais Pronomes demonstrativos


1ª pessoa este(s); esta(s); isto.
2ª pessoa esse(s); essa(s); isso.
3ª pessoa aquele(s); aquela(s); aquilo.

Como estabelecer relação de identificação no tempo e espaço a partir dos


pronomes demonstrativos? Vejamos com exemplos:
• Pronomes demonstrativos de primeira pessoa indicam proximidade no espaço com
o emissor da mensagem. No que diz respeito ao tempo, situam referentes do presente
e/ou futuro em relação ao emissor da mensagem.
71

• Pronomes demonstrativos de segunda pessoa indicam proximidade no espaço com


o destinatário da mensagem. No que diz respeito ao tempo, situam referentes de um
passado próximo em relação ao ato da fala.

• Pronomes demonstrativos de terceira pessoa indicam proximidade no espaço com


a pessoa de quem se fala. É uma posição distante de todos os participantes do
discurso. No que diz respeito ao tempo, situam referentes de um passado longínquo
em relação ao ato da fala.

VAMOS PENSAR?
A localização temporal pode ser considerada pelo seu aspecto mais comum, qual seja,
determinar uma posição de algo em um dado período de tempo. Mas o que dizer do po-
sicionamento das sentenças de um discurso? Será que podem ser considerados pontos
temporais de um texto? Sim! Para ambas as línguas, Português ou Libras, a sequencialidade
textual acontece, de certa forma, no tempo. Para toda língua, sua performance discursiva
de modo que as primeiras sentenças estão sendo dadas e, em seguida, outras informações
vão sendo acrescidas a ela de modo sequencial e organizado. Seja no texto oral ou escrito,
as informações são sequenciais e organizadas. Assim, no tempo de enunciação temos co-
locações anteriores ou posteriores a algum ponto de referência discursivo. Vamos conside-
rar exemplos que nos fazem pensar no uso dos pronomes demonstrativos relacionando-os
à referência temporal no texto:
• Primeira pessoa: referência temporal de presente/futuro;
A informação que ainda será ofertada ao interlocutor pode ser considerada temporalmen-
te como futura na sequencialidade discursiva. Assim, para dados a serem oferecidos, uti-
lizamos os pronomes demonstrativos de primeira pessoa. Veja:“A forma de adoração que
é pura e imaculada do ponto de vista de nosso Deus e Pai é esta: cuidar dos órfãos e das
viúvas nas suas dificuldades, e manter-se sem mancha do mundo. (TIAGO 1:27)”
• Segunda pessoa: referência temporal de passado próximo;
• Terceira pessoa: referência temporal de passado longínquo;

A informação que foi recentemente ofertada ao interlocutor pode ser considerada


temporalmente como passado próximo na sequencialidade discursiva.
Já a informação que foi ofertada ao interlocutor há mais tempo pode ser
considerada temporalmente como passado longínquo na sequencialidade discursiva.
Assim, para dados recentemente oferecidos, utilizamos os pronomes demonstrativos de
72
segunda pessoa e para dados oferecidos de modo longínquo, utilizamos os pronomes
demonstrativos de terceira pessoa Veja:

Em Libras, os pronomes demonstrativos serão, conforme Paula (2020, p.82):

Figura 7: Os pronomes demonstrativos


Fontes: PAULA (2020, p.82)

Note que os pronomes demonstrativos, em Libras, recuperarão as mesmas


referências. Por se tratar de situar itens no espaço e/ou no tempo, podem variar em
número. No entanto, diferentemente do que acontece em Língua Portuguesa, não
haverá variação de gênero.

4.3 PREPOSIÇÕES/LOCUÇÕES PREPOSITIVAS DE LUGAR

A fim de apresentar discursos com sentido completo, de modo articulado e com


recursos coesivos que demonstram um repertório diversificado lexicalmente, faz-se
necessário identificar as preposições e/ou locuções prepositivas. As preposições são a
classe de palavras:
73
[...] usadas para marcar as relações gramaticais que
substantivos, adjetivos, verbos e advérbios desempe-
nham no discurso. Em outras palavras, as preposições
são unidades linguísticas dependentes de outras, ou
seja, elas não aparecem sozinhas no discurso e servem
justamente para estabelecer a ligação entre dois ter-
mos. (VIANA, 2021, online)

As preposições podem ser classificadas como essenciais e acidentais, além das


locuções prepositivas. As primeiras dizem respeito “[àquelas] que só aparecem na
língua propriamente como preposições, sem outra função.” (VIANA, 2021, online). São
exemplos de preposições essenciais: após, até, com, de, desde, entre, para, por, sem,
etc.
As preposições acidentais são “aquelas que não possuem originalmente a função
de preposição, mas que podem acabar exercendo essa função em determinados
contextos.” (VIANA, 2021, online). Podemos citar como exemplo: como, conforme, durante,
fora, visto, etc.
Aqui, nesta unidade, trataremos das preposições e locuções prepositivas em
Libras. Essas últimas são expressões que servem tal qual uma preposição enquanto
função no discurso. “As principais locuções prepositivas são constituídas de um advérbio
ou de uma locução adverbial seguido da preposição de, a e com.” (VIANA, 2021, online).
As locuções prepositivas podem ser classificadas conforme o atributo semântico que
estabelece para o discurso. Por exemplo, podem ser consideradas locuções prepositivas
de lugar quando estiverem cumprindo função de estabelecer ligação entre os temos de
um enunciado atribuindo-lhe noção de espaço ou localidade. Veja um exemplo:

A locução prepositiva em cima do [de+o] relaciona a conexão enunciativa dos


elementos pássaro e ação realizada por ele através de uma identificação de localidade.
Portanto, é uma locução prepositiva de lugar.
Em Libras, as preposições e locuções prepositivas terão a mesma função, a saber,
ligar dois elementos da oração. Algumas preposições e locuções prepositivas de lugar
estão abaixo descritas:
74

Figura 8: Locuções prepositivas de lugar


Fontes: PAULA (2020, p.82)

Alguns desses sinais podem ter variações como é o caso da palavra atrás, ou
ainda podem ser complementados ou substituídos por classificadores que cumprirão
a função de identificar localidade. Nesse caso, atuarão com função prepositiva.

Figura 9: Variação da palavra atrás


Fontes: Disponível em: https://bit.ly/3F9xjcU. Acesso em: 16 ago 2021.

GLOSSÁRIO
Preposição é uma palavra ou termo invariável, ou seja, que não evidenciará variação de
gênero, número e/ou grau, e serve para interligar duas palavras ou expressões em uma
sentença discursiva. É a responsável por estabelecer a relação de dependência entre
tais lexias/expressões, proporcionando coesão e coerência ao enunciado.

4.4 APLICAÇÃO PRÁTICA

Com os conhecimentos adquiridos na Unidade 4 do livro Libras I, vamos realizar


75
algumas aplicações práticas para ampliar nossos conhecimentos.

4.4.1 Atividade 1

Retomemos ao vídeo produzido pela TV INES, disponível no seguinte link: https://


bit.ly/2Yd7cAQ. Acesso em: 15 ago. 2022.
Depois de assistir novamente a essa vídeo aula, identifique no texto:
• Os sinais reconhecidos por você e, portanto, já aprendidos;
• Sinais novos, porém do mesmo campo semântico tratado nesta unidade;
• Expressões não manuais utilizadas junto aos sinais para elucidar o discurso. Note, por
exemplo, as ENM de Andreza quando Renato se oferece para ir com ela à Ipanema
e ela diz: “Ótimo!”, também quando o narrador diz que “Ipanema é muito bonita”.
(próximo ao tempo de 5 minutos de vídeo).
• Estruturação das sentenças; de modo a reconhecer como as construções em Libras
são independentes da gramática da Língua Portuguesa e, a partir dessa constatação,
auxiliar você nas suas próprias organizações frasais a fim de rejeitar o Português
sinalizado.
Dica: uma boa maneira de se chegar a conclusões assertivas, conforme sugerido
no último item, é transcrever a forma como o texto foi sinalizado em Libras. Isso permite
que você tenha uma imagem visual de cada um dos elementos das orações e estabeleça
critérios que te permitirão sinalizar com clareza e propriedade.

4.4.2 Atividade 2

Veja a bela obra de Tarsila do Amaral intitulada A Cuca (1924).

Construa sentenças em Libras utilizando das preposições e locuções prepositivas


para identificar no espaço da obra os seguintes elementos, tenha o modelo por auxílio:
Modelo:
• A Cuca: A Cuca está na frente do lago.
• A árvore com copa em formato de corações;
• O sapo;
• A ave;
• A palmeira;
76
• A centopeia;
• O lago.

4.4.3 Atividade 3

Faça e apresente para a classe, para um grupo de colegas ou para o professor uma
das duas possibilidades abaixo. Lembre-se de colocar no seu discurso: o vocabulário
de localização já trabalhado, pronomes demonstrativos e preposições/locuções
prepositivas de lugar.
• A descrição do que você vê de uma das janelas da sua casa;
• A disposição dos cômodos da sua casa;
Depois de apresentar seu texto, certifique-se de que as informações compreendidas
pelos colegas e/ou pelo professor tenham sido as intencionadas por você. Aceite
sugestões de adaptação de estruturação de sentenças e, caso seja necessário, refaça
o texto para que fique ainda mais compreensível aos seus interlocutores.

VAMOS PENSAR?
Como você pode, nesta etapa, construir sentenças complexas que formam um texto com-
pleto? Vamos pensar em medidas práticas: retome o aprendizado da Unidade além de en-
riquecer seu texto com expressões não manuais e classificadores. Use-os para enriquecer o
texto e para facilitar construções de vocabulário desconhecido. Por exemplo, caso opte por
produzir um texto com a primeira alternativa, como pode dimensionar o cenário que visua-
liza da sua janela, já que em uma distância maior você verá casinhas e não casas ou você
pode estar vendo uma árvore linda e não simplesmente bonita. Lembre-se que a utilização
de grau aumentativo/diminutivo e das intensidades se darão através da variação do mo-
vimento do sinal e das expressões não manuais na sua performance. Fazer isso de modo
assertivo deixará seu texto mais coerente e claro.

BUSQUE POR MAIS


Segundo o assunto acima tratado, leia sobre essas considerações, abaixo ilus-
trada, no documento “Língua Brasileira de Sinais” produzido pela Secretaria de
Educação e Prefeitura de Praia Grande. Disponível em: https://bit.ly/3B13add.
Acesso em: 15 ago. 2022.

Figura 10
Fontes: Secretaria de Educação, s/d, p.13
77
4.4.4 Atividade 4

A partir da imagem abaixo, produza um texto para cada situação apresentada:

Figura 11
Fontes: Disponível em: https://bit.ly/2WuppsS. Acesso em: 16 ago 2021.

• O Dick vai narrar para os colegas qual o trajeto ele realiza da sua casa para a escola.
(texto em forma de narrativa)
• Fiona está na porta da sua casa quando uma pessoa perdida lhe cumprimenta e
pergunta como fazer para chegar até o supermercado. (texto em forma de diálogo)
Utilize as setas como referência dos pontos de partida.
Lembre-se de acrescentar no discurso os pronomes demonstrativos, o vocabulário
apresentado na Unidade e as preposições/locuções prepositivas.
Recorra à transcrição feita do texto “Rio Turismo” (TV INES) para se inspirar ao
elaborar sentenças complexas.
78
FIXANDO O CONTEÚDO

1. (COVEST-COPSET – 2019 – Adaptada). No que diz respeito aos sinais de cômodos


da casa, sobre as características da Língua Brasileira de Sinais, assinale a alternativa
correta.

a) A Libras é exclusivamente icônica.


b) A Libras é icônica e arbitrária.
c) A Libras é exclusivamente arbitrária.
d) A Libras nem é icônica nem arbitrária, pois os sinais são criados a partir dos contextos
sociais.
e) As línguas de sinais não se configuram com elementos icônicos.

2. Quais dos sinais abaixo são realizados com a mesma configuração de mão?

a) restaurante – sala – rodoviária.


b) em cima – informação – esse.
c) fábrica – supermercado – academia.
d) casa – em frente – posto de gasolina.
e) lá – ir – presídio.

3. (UFTM – 2018 – Adaptada). Considere o elemento linguístico "isso", destacado no


excerto abaixo:

“‘E nas públicas, o quadro não é diferente: a lei não é sempre cumprida. Dou aula no
município de Mauá (SP) e lá temos um intérprete de Libras para cada aluno surdo. Mas
isso é exceção: não ocorre em todas as escolas municipais, muito menos nas estaduais’,
afirma”.

Esse elemento refere-se a algo que:

a) já foi enunciado no mesmo período.


b) ainda será enunciado no período posterior.
c) ainda será enunciado no mesmo período.
d) não possui referente nos períodos enunciados.
e) já foi enunciado em um período anterior.

4. Analise a imagem abaixo e, a partir do que se pede escolha a alternativa verdadeira:


79

Levando em consideração o sinal abaixo, para qual dos locais ele servirá de referência?

a) Hospital e Estação de trem.


b) Hospital e Túnel.
c) Casa do Dick e Parque.
d) Posto policial e Correios.
e) Supermercado e Hospital.

5. (INSTITUTO AOCP – 2020 – Adaptada). Relacione as colunas e assinale a alternativa


com a sequência correta.

1. Sinal Icônico.
2. Sinal Arbitrário.

( ) Atrás.
( ) Informação.
( ) Aquele.
( ) Banheiro.
( ) Padaria.
( ) Ir.
( ) Cozinha.
( ) Casa.

a) 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 1 – 1 – 2.
b) 1 – 1 – 2 – 1 – 2 – 1 – 1 – 1.
c) 2 – 2 – 2 – 1 – 1 – 2 – 2 – 2.
d) 1 – 2 – 1 – 2 – 2 – 1 – 1 – 1.
e) 1 – 2 – 2 – 1 – 2 – 1 – 2 – 1.

6. (IDIB – 2021 – Adaptada). Assinale a alternativa em que o vocábulo em destaque é


classificado como preposição.

a) “Borboletas brancas, duas a duas.”


b) “... e mesmo que a ouvisse, não a entenderia.”
c) “Avisto crianças que vão para a escola.”
80
d) “Eu não a podia ouvir da altura da janela...”
e) “A primavera chegou mais cedo!”

7. (IPEFAE- 2019). Analise o trecho a seguir que contempla a estrutura gramatical de


LIBRAS, complete as lacunas e assinale a alternativa correta.

“Na LIBRAS os pronomes demonstrativos e os ___________ de lugar tem o mesmo


sinal, sendo diferenciados no ___________”.

a) Advérbios – Posicionamento.
b) Classificadores – Contexto.
c) Substantivos – Contexto.
d) Classificadores – Posicionamento.
e) Advérbios – Contexto.

8. Considere as afirmativas:

I. Os verbos simples são aqueles que não se flexionam em pessoa e número e também
não possuem perspectiva de concordância espacial e locativa.
II. Os verbos direcionais são aqueles que flexionam em pessoa e número e possuem
morfema espacial e locativo.
III. Os verbos espaciais são aqueles que flexionam em pessoa e número mas não
possuem morfema espacial e locativo.
IV. O verbo dormir é um exemplo de verbo simples.
V. O verbo ajudar é um exemplo de verbo direcional.
VI. O verbo chegar é um exemplo de verbo espacial.

São verdadeiras as sentenças:

a) I, V e VI.
b) II e III.
c) IV, V e VI.
d) I, IV, V e VI.
e) I, II, III, IV, V e VI.
81

AS EXPRESSÕES
NÃO MANUAIS (ENM)
82
5.1 O USO DAS ENM NA LIBRAS E SEUS ASPECTOS GRAMATICAIS

As expressões não manuais são aquelas que não se realizam com as mãos.
Podem ser, portanto, marcações faciais e corporais, como movimentos da cabeça, dos
olhos, dos ombros, sobrancelhas, etc. no momento da realização da sinalização.
As expressões faciais e corporais aparecem tanto nos discursos das línguas orais
como no discurso das línguas de sinais. No entanto, no primeiro caso, as ENM não são
consideradas elementos linguísticos gramaticais. Elas são simplesmente reforçadoras
dos componentes gramaticais que são lexicalizados, ou seja, constituídos no discurso
por meio de palavras que exercem uma função gramatical. Já nas enunciações em
línguas de sinais, as ENM atuam como elemento gramatical, pois podem modificar o
sentido do discurso, marcar construções sintáticas e/ou diferenciar itens lexicais.
Silva (2015) considera um exemplo em que a variação da expressão facial
particulariza a lexia sinalizada. Veja:

Figura 12: Sinais diferenciados pela ENM


Fontes: SILVA (2015, p.40)

Note que os sinais do campo semântico de tristeza e exemplo possuem mesma


configuração de mão e ponto de articulação. Todavia, a expressão facial do emissor
deixa-nos claro qual lexia está sendo proferida. Perceba que, nesse caso, as ENM não
são apenas um recurso que paramenta o discurso. Antes, são essenciais se queremos
que o receptor da nossa mensagem compreenda o contexto da fala e o decodifique de
acordo com a nossa intenção comunicativa.
As ENM são apresentadas por Quadros e Karnopp (2004), conforme motivadas
por estudo de Ferreira Brito e Langevin, no quadro abaixo:
83

Figura 13: Expressões não manuais da Libras


Fontes: QUADROS; KARNOPP, (2004, p.61)

As expressões não manuais podem ser únicas ou combinadas, a depender da


necessidade discursiva. Nesta unidade, compreenderemos como elas desempenham
papel sintático ao incorrer em marcações de sentenças interrogativas, topicalizações e
foco; além de considerar sua constituição lexical ao marcar o aspecto e, também, sua
manifestação na categorização de sentenças afirmativas, interrogativas e negativas.

BUSQUE POR MAIS


Para relembrar aspectos importantes sobre as Expressões não manuais, confira a partir
da página 93 da obra “Libras” de Morais (2018), disponível na biblioteca Única. Link: Minha
Biblioteca: Libras.

5.2 ASPECTO

Em Libras, os verbos podem sofrer flexão em aspecto. A flexão em aspecto pode


indicar algumas características específicas à ação, como, por exemplo, se ela está ou
não concluída e/ou se ela é duradoura, momentânea ou contínua, bem como pode
84
caracterizar o foco da ação, evidenciando quando ele acontece: se no início, no decorrer
ou no fim da ação.

GLOSSÁRIO
“O aspecto verbal está relacionado com a duração da ação verbal, indicando se a ação
verbal é considerada como concluída ou não. Nas ações concluídas, indica o ponto de-
terminado no tempo em que a ação ocorreu, destacando o seu início, desenvolvimento
ou fim. Em ações não concluídas, indica se a ação ocorre de forma frequente e repetiti-
va.” (NEVES, 2017, online)

Como a flexão de aspecto se manifesta na Libras? Vejamos exemplos mencionados


por Quadros e Karnopp (2004) na variação aspectual quanto à forma e duração da
ação.

Figura 14: Ação verbal com flexão aspectual


Fontes: QUADROS; KARNOPP, (2004, p.123)

Podemos perceber que, além da variação no movimento ao performar o verbo


cuidar, há uma modificação no uso das ENM de modo a coincidir com a finalidade
comunicativa da ação.
No caso de uma ação incessante, temos lábios contraídos, sobrancelhas franzidas
e um movimento de cabeça direcionado ao objeto da ação, isto é, à pessoa ou objeto que
está sendo cuidado. Para indicar a operação ininterrupta, as ENM são lábios contraídos,
sobrancelhas levantadas e a cabeça direcionada ao interlocutor.
Por último, na referência ao cuidar habitual, notamos lábios arredondados,
sobrancelhas neutras e um movimento de cabeça para frente e para trás similar ao da
mão dominante na sinalização.
Logo, podemos concluir que, ao modificar o aspecto durativo do verbo cuidar,
as ENM não serão ilustrativas ou complementares. Em associação com outro(s)
parâmetro(s) fonológico(s) como, no caso acima, o movimento, elas se ocuparão
de função gramatical essencial na decodificação do aspecto apropriado à situação
discursiva e ao intento do emissor; a saber, se trata-se de uma ação pontual, durativa,
contínua ou descontínua.
Ademais, lemos em Quadros e Karnopp:
Klima e Bellugi (1979) descreveram onze dimensões
para representar as formas que os sinais podem aces-
sar na ASL. [...] Os autores também observaram que tais
dimensões podem variar minimamente observando
85
padrões sistemáticos, o que por sua vez evidencia a
complexidade das formas flexionais desta língua. Tais
dimensões também estão presentes na determinação
da flexão e derivação de sinais na língua de sinais bra-
sileira. (QUADROS; KARNOPP, 2004, p.124)

Dentre as representações variáveis flexionais está a tensão. A alteração nas


ENM também é um determinante de tensão nos nomes em Libras. As mesmas autoras
oferecem um exemplo:

Figura 15: Adjetivo com tensão


Fontes: QUADROS; KARNOPP, (2004, p.125)

Além de variação no movimento, a decodificação integral do sentido só


acontecerá com uma mutabilidade das expressões não manuais. Os movimentos do
rosto e do corpo acompanharão o intuito do emissor da mensagem ao estabelecer para
o seu destinatário o grau de beleza daquele ou daquilo a que se refere. Observe que as
expressões faciais e corporais (dos ombros) deixam claro a gradação de intensidade
em cada forma de pronunciar o mesmo adjetivo.

5.3 FOCO

O foco é, como sugerido por sua nomenclatura, uma construção que visa marcar
uma informação da sentença dando-lhe maior entonação. Isso acontece, basicamente,
por meio da mudança na ordem básica da expressão.

Nestas também ocorrem elementos constituintes du-


plicados na mesma oração, contudo o interesse é en-
fatizar o constituinte, “mas de forma diferente da ênfa-
se dada aos tópicos”, Quadros e Karnopp (2000, p.152).
Petronio e Lillo Martin (1997, apud Quadros e Karnopp,
idem), analisaram as construções com foco como
“construções duplas”, de maneira que foram delimita-
das quando não há uma “pausa significante antes do
elemento duplicado”. As pesquisadoras encaram as
construções duplas diferentes, por exemplo, das es-
tratégias de discurso para sustentação de uma ideia.
É possível que haja construções duplas com variadas
classe de palavras, entretanto para analisar a ordem
SOV que são advindas de construções de verbos sem
concordância duplos, as pesquisadoras se atêm a este
último. (RODRIGUES; SOUZA, 2017, p.21)
86
As construções classificadas como “duplas” acontecem quando o elemento que
receberá a entonação é repetido na mesma frase ou oração. Veja, tendo como exemplo,
as possibilidades de expressar, em Libras, a oração “Eu perdi o livro.”:

Haverá uma construção em foco na intenção de reiterar a ação expressa no


discurso. Para isso, no foco, a ação será o elemento marcado em duplicidade:

A construção SVOV (sujeito-verbo-objeto-verbo) visa enfatizar a ação acontecida,


e não o sujeito que realizou tal ação ou o objeto que foi perdido. No entanto, conforme
estabelecido por Quadros e Karnopp (2004), não basta apenas repetir a unidade
que deseja ressaltar. É preciso associar ao realce, movimentos de cabeça, isto é, as
expressões não manuais.

Figura 16: Sentença [EU PERDER LIVRO PERDER]


Fontes: QUADROS; KARNOPP, (2004, p.44)

Note as duas performances da sinalizadora para o verbo perder. Embora a


sinalização seja a mesma, já que temos a mesma palavra, as ENM (movimento da
cabeça e expressões faciais) são diferentes. Como já dito anteriormente, isso deixa-nos
claro como tais expressões não são apenas parâmetros que ornamentam o discurso,
mas sim, elementos indispensáveis na correta construção sintática e, portanto, na
consequente decodificação apropriada por parte do interlocutor.

VAMOS PENSAR?
A sintaxe de toda e qualquer língua está embasada em regras próprias daquela comuni-
dade linguística. É fato, portanto, que essa é a área científica responsável por determinar
regras que alicerçam a construção de frases. Porém, é realidade, também, que a sintaxe
define as estruturas possíveis para a língua em questão, já que não podemos determinar,
à base dos princípios sintático-gramaticais, formas únicas e exclusivas de construir frases
e orações. No que diz respeito à Língua Portuguesa, por exemplo, as orações “O dia está
lindo!” e “Está lindo o dia!” concordam com as regras sintático-gramaticais próprias desse
idioma e são, ambas, compreendidas pelos falantes de Português. Isso também acontece
com a Libras e com todas as línguas naturais. Assim, uma construção em foco pode variar
e até mesmo suprimir algum elemento na formação da sentença. Será necessário que o
enunciador realize as escolhas sintáticas na sua elaboração, associando seus objetivos co-
municativos e replicações de destaque que coincidam com esse objetivo.
87
Embora a ordem mais comum de ordenação em Libras seja SVO, as outras, como
OSV, SOV e/ou VOS, são possíveis e compreensíveis à medida que se dão com base nas
regras sintático-gramaticais dessa língua. O foco é uma alternativa sintática capaz de
modificar a ordem básica e até multiplicar elementos linguísticos a fim de proporcionar
efeito contrastivo, de modulação e/ou de realce.

5.4 TÓPICO
Uma outra possibilidade de variarmos a ordem básica da frase em Libras (SVO) é
pela topicalização.

GLOSSÁRIO
Tópico é o tema do discurso que apresenta uma ênfase especial posicionando um ele-
mento no início da frase e tecendo comentários a respeito desse tema.

A topicalização dará conta da escolha de um eixo temático do discurso e se


concentrará nele. Isso acontecerá não só com uma colocação sintática específica, mas
também por meio do uso das ENM. Quadros e Karnopp indicam:
Esse mecanismo está associado à marcação não-ma-
nual com a elevação das sobrancelhas. (...) A marca de
tópico associada ao sinal topicalizado é seguida por
outras marcas não-manuais, de acordo com esse tipo
de construção. Ou seja, pode ser seguido por uma mar-
ca não-manual de foco (se a sentença for focalizada),
de negação (se for negativa) e de interrogação (se for
interrogativa). (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 146)

O uso do tópico comentário pode ser observado no exemplo dado pelas mesmas
autoras referente à enunciação da seguinte oração:

Caso a oração fosse construída sem tópico e na ordenação sintática mais comum
da Libras, estaria assim:

Nesse aspecto, nos é dada uma informação sem nenhuma ênfase específica
a qualquer elemento da sentença. No entanto, podemos, à medida que necessário,
especificar um constituinte do discurso para reforçá-lo a partir de sua topicalização.
Foi o que aconteceu no exemplo trazido pelas autoras mencionadas ao indicar
uma estrutura de tópico em uma oração semelhante. Veja:
88

Figura 17: Sentença [FUTEBOL JOÃO GOSTAR]


Fontes: QUADROS; KARNOPP, (2004, p.147)

Aqui, a informação recebida pelo interlocutor é exatamente a mesma daquela


realizada em uma estrutura SVO. Contudo, perceba que temos uma flexibilização no
critério de disposição dos elementos da oração; agora estabelecida em OSV.
Qual o motivo dessa concessão? Apontar ao remetente da mensagem qual o
tópico de relevância nesse contexto; a saber, aquele que foi primariamente determinado
e cuja construção está associada à ENM de sobrancelhas levantadas. Assim, ao
topicalizar o objeto (futebol), indica-se que esse é o elemento principal sobre o qual a
explanação será feita.

FIQUE ATENTO
A marca de tópico tem um uso delimitado. Isso significa que as ENM próprias à topicaliza-
ção são atribuídas apenas à lexia que está recebendo o realce. O exemplo acima retratou
uma sentença afirmativa e, nela, podemos perceber isso. Entretanto, mesmo com senten-
ças nas formas negativa ou interrogativa, tal premissa se mantém. Por exemplo, ao enun-
ciar a interrogativa [FUTEBOL<t> JOÃO GOSTAR?] ou a negativa [FUTEBOL<t> JOÃO GOSTAR
NÃO] teremos a topicalização do mesmo elemento: futebol. Somente essa palavra estará,
então, associada à marcação de sobrancelhas e a uma pequena pausa até retomar a si-
nalização das lexias que se seguem. O que poderemos perceber é a presença de ENM como
marcas de negativa e de interrogativa na sequência do elemento topicalizado, mas tais
marcas não serão coincidentes com aquela da topicalização.

Ainda, podemos identificar na Libras a possibilidade de replicação do elemento


topicalizado, realçando-o ainda mais. Essa estrutura mantém o constituinte que recebeu
a marca de tópico como o primeiro elemento da sentença e recupera-o no seu lugar de
origem. Retomando a partir da oração exemplificada por Quadros e Karnopp, seria uma
sentença como:

Observe que a ordem comum (SVO) foi modificada pela ordem OSV para
evidenciar o objeto futebol como assunto destaque da comunicação. Nesse caso, há
indicativo de maior ressalto, pois esse substantivo foi duplicado na posição que estaria
quando da ordenação básica da Libras: depois do verbo.
89
5.5 AFIRMATIVAS E NEGATIVAS, EXCLAMATIVAS E INTERROGATIVAS
A utilização de expressões não manuais é necessária na constituição do tipo de
frase em Libras, seja afirmativa, negativa, exclamativa e/ou interrogativa.
Em línguas orais, os critérios que estabelecem os tipos de frases podem ser três:
no caso das negativas, será a presença de alguma palavra com carga negativa, tal
qual não, nunca, nada, etc.
Já para os outros tipos de frases, as afirmativas, exclamativas e interrogativas
será a pontuação gráfica colocada ao final da sentença escrita e a entonação ao ser
verbalizada oralmente. Veja:

Perceba que, em exceção da sentença negativa, todas as orações possuem


construção idêntica. As escolhas morfossintáticas são iguais para todos os casos,
embora cada uma dessas orações tenha sentido próprio determinado pela sua
pontuação e, portanto, por seu tipo.
Todavia, não é possível estabelecer a modulação nos tipos de frases em Libras da
mesma maneira que as expostas acima, dado que os recursos de pontuação gráfica
e entonação não estão presentes nas línguas espaço-visuais, pois o seu registro
escrito não é semelhante ao das línguas orais-auditivas e, obviamente, por não serem
expressas pelo aparelho fonoarticulatório, estão isentas de marcas de oralidade, como
a entonação.
Assim, o elemento responsável por indicar o tipo de frase em Libras será a
expressão não manual.
As orações afirmativas terão expressões faciais e corporais neutras. Sua constituição
reúne vocabulário relacionado à intenção do enunciador com imparcialidade de
expressão, como podemos ver na ilustração abaixo:

Figura 18: Sentença “Este livro é meu.”


Fontes: PAULA, (2020, p. 93)

As orações negativas terão a inclusão de alguma palavra com carga negativa,


além da atribuição de ENM próprias a tal intuito, isto é, o de negar; como, por exemplo,
balançar de cabeça, aproximar as sobrancelhas, negar com o dedo indicador, etc.
90

Figura 19: Sentença “Este livro não é meu.”


Fontes: PAULA, (2020, p. 95)

Observamos que, ao trazer a palavra negativa que transforma a sentença, as ENM


do sinalizador carregam o sentido de modo a diferenciar a afirmativa da negativa. Essa
negação pode, inclusive, ser expressa simultaneamente à palavra ou termo negado.
Veja:

Figura 20: Sentença “Ele não falou nada.”


Fontes: PAULA, (2020, p. 97)

O discurso exclamativo expressa surpresa, admiração, comoção, sobressalto,


espanto e/ou susto. Assim, terá expressões corporais e faciais associadas à performance
da sinalização a fim de ofertar esse(s) significado(s), como olhos arregalados, ombros
erguidos, lábios contraídos, sobrancelhas levantadas, etc.

Figura 21: Sentença “Belo Horizonte é linda!”


Fontes: PAULA, (2020, p. 97)

Já as interrogativas terão ENM coincidentes com tal significação, identificando


o questionamento. São possibilidades de expressões indicativas de interrogativa:
queixo inclinado para cima, sobrancelhas franzidas, arredondamento dos lábios, leve
fechamento dos olhos, etc.

Figura 22: Sentença “O parque é onde?”


Fontes: PAULA, (2020, p. 97)
91

BUSQUE POR MAIS


Considere a obra organizada por Rafael Dias Silva, Língua Brasileira de Sinais-
Libras, a partir da página 140, para análise de exemplos de ENM nas sentenças
interrogativas. Disponível em: https://bit.ly/40yKPAJ. Acesso em: 15 ago. 2022.
92
FIXANDO O CONTEÚDO

1. (COVEST-COPSET – 2019). As sentenças sujeito-verbo-objeto são comuns em Libras.


Assinale a alternativa que segue esta regra.

a) Nunca reclamar minha mãe.


b) José brasília não conhecer.
c) Comida nordeste ela gostar.
d) Miguel bolo colocar-no-forno.
e) Fátima estudar curso direito.

2. (COPESE- UFPI – 2018). Sobre a ordem das frases na Língua Brasileira de Sinais, é
possível afirmar que:

1) Todas as frases com a estrutura SVO são gramaticais.


2) A estrutura OSV é a estrutura utilizada no processo de topicalização.
3) A estrutura SOV é utilizada para a construção de foco.
4) Frases com a estrutura VOS são agramaticais.

Estão CORRETAS as afirmações:

a) Apenas 1, 2 e 3.
b) Apenas 1, 2 e 4.
c) Apenas 1, 3 e 4.
d) Apenas 2, 3 e 4.
e) 1, 2, 3 e 4.

3. (SELECON- 2018 – Adaptado). Um instrutor usa uma frase do cotidiano para mostrar
a flexibilidade da ordem das frases em Libras e, em seu exemplo, utiliza a estrutura de
topicalização, onde a ordem visualizada é OSV. Apresenta-se a estrutura de topicalização
correta (t= tópico e mc= movimento de cabeça) na seguinte alternativa:

a) <Libras>t<Eu gostar>mc (De Libras, eu gosto.)


b) <Libras>mc<Eu gostar>mc (De Libras, eu gosto.)
c) <Libras>t<Eu gostar>t (De Libras, eu gosto.)
d) <Libras>mc<Eu gostar>t (De Libras, eu gosto.)
e) <Libras>t<Eu gostar>mc nulo (De Libras, eu gosto)

4. A sentença abaixo reproduzida se trata de uma oração:


93

a) Afirmativa.
b) Negativa.
c) Exclamativa.
d) Interrogativa.
e) Imperativa.

5. (FEPESE- 2019). Analise a frase abaixo:

Quando o tema do discurso sinalizado em Libras tem uma ..........................no início da frase,
estamos nos referindo ao processo de topicalização.

Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna do texto.

a) supressão
b) derivação
c) subjetivação
d) ênfase especial
e) incorporação

6. São indicativos que a sentença abaixo reproduzida trata-se de uma negativa:

a) ENM sobrancelha franzida e vocabulário indeterminado.


b) utilização de pronome pessoal e ENM do movimento de cabeça.
c) exclusivamente a ENM do indicador sinalizando negativa.
d) ENM de surpresa e espanto e ENM sobrancelha franzida.
e) incorporação da sinalização negativa e ENM do movimento de cabeça.

7. (IBADE- 2018). A diferença entre a língua oral e a língua de sinais está na modalidade
de articulação, sendo que na primeira a modalidade praticada é oral-auditiva,
pronunciada oralmente e, na segunda, apresenta-se visual-espacial, representada por
94
sinais. Nesse sentido, nas duas línguas encontram-se presentes itens lexicais e todo
aparato linguístico necessário para a efetivação da comunicação entre seus usuários.
A Libras, tanto quanto as outras línguas apresentam estrutura e regras gramaticais
próprias. A sintaxe da Libras é composta pela seguinte ordem básica, respectivamente:

a) verbo, objeto e sujeito.


b) sujeito, verbo e objeto.
c) gênero, verbo e objeto.
d) verbo, gênero e sujeito.
e) sujeito, verbo e substantivo.

8. (UFCG – 2019). Na sintaxe da Libras, as construções em foco envolvem duplicação e


estão associadas a marcações não-manuais enfáticas. De acordo com essa regra, qual
o tipo de estrutura apresentada para a construção da oração [QUEM GOSTAR VIAJAR]
qu QUEM]qu?

a) quando o elemento for interrogativo, a marcação não manual será exclamativa.


b) quando o elemento for exclamativa, a marcação não manual será interrogativa.
c) quando o elemento for interrogativo, a marcação não manual será interrogativa.
d) quando o elemento for duplicação negativa, a marcação não manual será
interrogativa.
e) quando o elemento for duplicação negativa, a marcação não manual será de
negativa.
95

LIBRAS EM FOCO III


96
6.1 AÇÕES COTIDIANAS

As enunciações referentes a atos cotidianos serão basicamente construídas a


partir da classe de palavras que exprime as ações, estado ou mudança de estado; a
saber, os verbos.
Considere alguns verbos em Libras no vídeo apresentado pelo canal da Hand Talk
disponível no Youtube: https://bit.ly/3BrTYip. Acesso em: 15 nov. 2022.
Perceba que os verbos mostrados no vídeo estão fora de contexto e, portanto,
sem qualquer tipo de concordância ou conjugação. Assim, quando necessário, marcas
de tempos verbais e elementos morfológicos de conformidade ao referente serão
indicados na adequação ao contexto.

FIQUE ATENTO
Para construções de orações em Libras utilizando dos verbos cotidianos sugeridos ou ainda
de qualquer outro, retome às considerações feitas na última unidade do livro Libras I. Assim,
poderá retomar conceitos importantes de ordenação sintática e aplicar o vocabulário de
modo gramatical e compreensível.

Vamos sugerir aplicações a partir de algumas das ações comuns no discurso


cotidiano. Consideraremos o conteúdo nos principais tipos de frases, quais sejam:
afirmativas, negativas, exclamativas e interrogativas. Vamos começar?
Leia o texto a seguir escrito em Português. Note os verbos nele colocados que
estão listados no vídeo que consideramos. No espaço em seguida, faça a transcrição
da tradução desse mesmo texto para a Libras. Para isso, retome seus conhecimentos
sobre pronomes pessoais, membros da família, lugares públicos, etc.
97

No relato, podemos notar elaborações dos principais tipos de frases. Ao considerar


cada exemplo mencionado, retome as considerações feitas no item 5.5 desta obra.
Veja:
• Afirmativas

Considerando a ordenação SVO (sujeito + verbo + objeto) e/ou SOV essas


sentenças podem ser construídas em Libras assim:

Nas passagens acima, temos dois períodos oracionais em cada uma: a) Meu filho
acorda + Meu filho vai para a escola e b) Eu acordo + Eu vou trabalhar.
No primeiro caso, a estrutura em SVO para o período inicial é gramatical e
compreensível. Porém, para o segundo período temos um verbo (IR) que deve levar em
consideração o ponto estabelecido no espaço do enunciador ao indicar a referência
locativa de tal verbo. Assim, a ordenação marcará primeiro o objeto (escola), pois essa
indicação auxiliará no direcionamento dado ao verbo.
No segundo caso, acontece de maneira semelhante. A primeira sentença pode
ser estabelecida em SVO, porém a segunda será mais clara à medida que primeiro
haja a cenarização do referente para, depois, atribuir a ele um apontamento manual
direcionado à anterior demarcação.
98

Tal afirmativa também pode ser produzida em SVO. Perceba que a marcação para
nós dois está agrupada em uma única sinalização. Relembre no item 2.1 a construção
dos pronomes referentes à primeira pessoa do plural nesse sentido.
Importante ressaltar que o parâmetro das expressões não manuais deve ser
considerado ao enunciar qualquer sentença em Libras. Para as afirmativas, o mais
comum são expressões corporais e faciais neutras que deixam claro uma expressão
isenta de outros sentidos que não a informação pontual e assertiva.
• Negativas

Você aprenderá as construções referentes às formas de negativa de maneira


detalhada no livro Libras IV. Por enquanto, vamos identificar a formação em SOV para
ambas as frases negativas exemplificadas, dado que a partícula de negação deve vir
imediatamente após o elemento que está sendo negado. Assim, teremos:

No primeiro caso, o que está sendo negado é o fato do filho ficar sozinho identificado
pelo verbo poder. No segundo caso, é a situação de assistir televisão que recebe uma
referência negativa. Tal circunstância está identificada pelo verbo ver. Por isso, é depois
desses dois verbos que a lexia de carga restritiva será posta.

FIQUE ATENTO
Mesmo que o interlocutor opte por performar [poder não] com um sinal único em Libras, é
esse verbo [poder] que estará recebendo a carga negativa.

Aqui, também, as expressões não manuais são essenciais para elucidar a


intenção do remetente da mensagem. Por exemplo, junto à sinalização da palavra não,
acrescentar movimentos corporais como o balançar de cabeça para a direita e para a
esquerda e expressões faciais como sobrancelhas franzidas, olhos semiabertos, lábios
protuberantes em forma de beijo/bico, etc. não apenas adorna a mensagem, mas lhe
dá integral percepção do intento negativo trazido pelo locutor.
• Exclamativas:
99
Para exclamativas, como a aqui citada, podemos manter a estrutura em SVO. No
entanto, haverá, quando em comparado com a disposição dos elementos em Língua
Portuguesa, uma variação na ordenação escolhida para o pronome muitos. Sendo uma
classe de palavra que caracteriza e acompanha outra; nesse caso, um substantivo,
será mais gramatical e tornará a compreensão mais factível se primeiro indicarmos o
referente a ser indefinido pelo pronome. Veja:

As expressões não manuais serão as responsáveis por indicar a propriedade


exclamativa dessa sentença. Perceba que poderíamos formular afirmativas e
interrogativas utilizando a mesma estrutura lexical:

Em línguas orais auditivas, a identificação do tipo de frase se dá, quando


se tratando de um discurso verbalizado, por meio da entonação. É a entonação
que determinará se estamos afirmando que ele tem muitos amigos, se estamos
questionando isso ou se estamos exclamando sobre essa condição. No entanto, por
não termos, nas línguas de sinais, elementos fonológicos próprios à modulação como
responsáveis pelo reconhecimento da forma oracional, serão as ENM que servirão tais
quais as caracterizações enunciativas de ênfase ou variação.
Portanto, as expressões faciais como sobrancelhas levantadas, olhos bem abertos,
lábios arqueados para baixo ou protuberantes em forma de beijo/bico, etc. indicarão
que se trata de uma exclamativa relativa à intensidade e emoção.
• Interrogativas:

Teremos a necessidade de expressões não manuais para as interrogativas,


pois se trata de uma forma oracional que, em alguns casos, demanda as mesmas
considerações que fizemos sobre as exclamativas. No exemplo que abordamos
anteriormente, pudemos perceber que uma mesma sequência lexical pode evidenciar
tipos frasais distintos (a- Ele tem muitos amigos. b- Ele te muitos amigos! c- Ele tem
muitos amigos?)
Em casos assim, serão as ENM próprias de uma interrogativa que elucidarão ao
interlocutor se tratar de uma pergunta.
Ainda, temos discursos que possuem palavras interrogativas em sua constituição,
deixando claro o tipo de frase para o contexto. É assim que se dá com a sentença aqui
trazida a título de modelo. Note como enunciá-la em Libras de modo plausível para a
estrutura gramatical dessa língua:
100
Em Libras, as interrogativas que possuem na sua composição algum advérbio ou
pronome que já aportam em si mesmo carga negativa (o que; quando; onde; por que;
como; etc.) terão essas lexias colocadas no fim da sentença. De modo que é comum
uma estrutura SOV +palavra interrogativa.
Atrelada à estrutura, as ENM como os olhos semiabertos, sobrancelhas franzidas,
queixo levemente levantado e lábio arredondado complementam a característica de
marca interrogativa na performance enunciativa.

BUSQUE POR MAIS


Considere o texto de Morais et al. em sua obra “Libras”. A partir da página 100,
sob o enunciado Nível sintático, você poderá compreender importantes aspec-
tos da organização dos elementos na frase em Língua Brasileira de Sinais. Dis-
ponível em: https://bit.ly/3nhvUwp. Acesso em: 15 nov. 2022.

6.2 PARTÍCULAS INTERROGATIVAS

Mencionamos, no subtítulo anterior, a presença de palavras interrogativas na


constituição de sentenças indagatórias. Essas partículas podem estar em forma de
lexia ou locução.

GLOSSÁRIO
As partículas interrogativas são aquelas que, por si mesmas, já denotam interrogação
sem precisar, necessariamente, estar atrelada ao contexto. São palavras como: por que;
quando; quem; onde; o quê; quanto(s); qual; para quê; como; etc.

Identificamos abaixo algumas das principais partículas interrogativas na Língua


Brasileira de Sinais:

FIQUE ATENTO
A fonte das imagens que ilustram essa unidade foram retiradas de: https://bit.
ly/3aaMy78. Acesso em: 12 set. 2021
101

Em Libras elas servem a basicamente dois sentidos: servir como lexia-função para
indicar uma pergunta e/ou atuar como elemento de retórica.
Em Língua Portuguesa, ao atuar como indicativo de uma pergunta, tais vocábulos
iniciam as orações interrogativas seguidas do arranjo SVO:

Em Libras, porém, o mais comum é que a frase apresente a forma SOV +palavra
interrogativa. Acompanhe:

Caso a sentença não tenha um dos constituintes mencionados, como por


exemplo, o objeto, mantemos a estrutura sugerida isenta do elemento omitido. É assim
com o último modelo acima apresentado que, em Libras, ficará:

Uma outra demanda possível para o uso das palavras interrogativas está para
a construção de retórica e, não obrigatoriamente, na exigência de uma resposta do
destinatário da mensagem.
Esse é um recurso muito comum na elaboração textual em Libras e tem como efeito
chamar a atenção do interlocutor, destacar uma informação e facilitar a compreensão
de períodos muito longos como os subordinados. Veja:
102

Todas as proposições acima podem ter na sua elaboração o uso de palavras


interrogativas com atribuição retórica. Assim, o narrador fará uma pergunta, mas não
espera uma resposta do seu interlocutor.
Ele mesmo responderá tal questionamento que servirá para identificar os pontos
mais relevantes do contexto, isto é, as informações principais que recebem esse
destaque. Teremos as seguintes construções:

A primeira frase traz as informações da oração subordinada depois da introdução


da palavra interrogativa para quê. Essa construção sequencia as informações e
destaca o que, nesse contexto, é selecionado como a referência mais importante a ser
decodificada ou recebida.
Algumas marcações feitas na descrição da sentença e importantes de serem
identificadas têm a ver com, em primeiro lugar, unidades que, em Língua Portuguesa
são polilexicais e, em Libras, terão sinalização única.
É o que acontece com a expressão todos os dias que, ao ser traduzida para a língua
de sinais será performada por um único sinal capaz de representar mesmo sentido.
Em segundo lugar, é necessário mencionar a identificação do uso das expressões não
manuais.
A marcação das expressões corporais e faciais próprias de interrogativas serão
realizadas apenas durante a sinalização da palavra/locução interrogativa. Logo
em seguida, a continuidade da frase será marcada por ENM de afirmativa, já que a
informação seguinte trata da resposta ao questionamento retórico anteriormente feito.
A segunda frase, ao utilizar-se da interrogativa retórica nos indica que, nessa
sentença, a informação para a qual está sendo chamada a atenção é o assunto que os
sujeitos gostam de estudar juntos; ou seja, inglês.
Aqui também temos marcações de um sujeito que será sinalizado com apenas
uma lexia em Libras, embora em Português esteja referenciado com duas palavras: nós
dois. Ainda, as ENM próprias do tipo de frase interrogativa estarão restritas ao momento
da sinalização da locução interrogativa o quê.
Por último, na terceira frase, também teremos uma unidade polilexical em Língua
Portuguesa que pode ser sinalizada com apenas uma palavra em Libras. É o caso da
negativa do verbo poder, isto é, não poder.
103
Assim como funcionou para as duas outras sentenças analisadas e como funciona
para a maioria das construções retóricas, o uso das expressões manuais e corporais que
caracteriza o questionamento estará no momento da sinalização da palavra/locução
interrogativa, enquanto que no restante da enunciação, as ENM evidenciarão o tipo de
construção afirmativa, própria de ofertar uma informação factual e típica.

BUSQUE POR MAIS


Como vocês puderam perceber, fizemos paralelos comparativos entre as es-
truturas gramaticais da Língua Portuguesa e da Libras para auxiliar na compre-
ensão das distintas modalidades linguísticas. Confira na obra “Libras: aspectos
fundamentais”, de Lacerda et al. o subtítulo Semelhanças e diferenças entre as
línguas orais-auditivas e as gesto-visuais. Ali você poderá ampliar suas per-
cepções sobre o assunto e acrescer argumentos referentes a essas diferenças,
auxiliando a percepção da Libras como língua autônoma e legítima. Disponível
em: https://bit.ly/3Zlqlug. Acesso em: 15 ago. 2022.

6.3 APLICAÇÃO PRÁTICA

Com os conhecimentos adquiridos até aqui, vamos realizar algumas aplicações


práticas para ampliar nossos conhecimentos.

6.3.1 Atividade 1

Construa pelo menos dois pares de frases para cada uma das ações de Ravi.
Você pode aproveitar informações para desencadear outras seguintes. Não se esqueça
de treinar os quatro tipos de sentenças aprendidas; a saber, afirmativas, negativas,
exclamativas e interrogativas. Siga o modelo:
Modelo:
O que Ravi está fazendo? _ Ele está acordando.
Ele acorda muito cedo! _ Sim, às 6:30h.

Figura 23
Fontes: Disponível em: https://bit.ly/3Bh3WCQ. Acesso em: 12 set. 2021
104
6.3.2 Atividade 2

Assista ao vídeo de Fiorella contando uma história para sua irmã Florence. O vídeo
está no seguinte link: https://bit.ly/2YpQb6N. Acesso em: 15 nov. 2022.
Trata-se do livro Barulhinhos da manhã, de Pollyana Gama:

Identifique os sinais de ações cotidianas ali apresentados e, mesmo sem conhecer


a história, faça uma contação mais detalhada a partir do que conheceu do relato pela
leitura de Fiorella.
Depois de sua produção textual pronta, assista ao vídeo explicativo da obra no
seguinte link: https://bit.ly/3ixb1ry. Acesso em: 15 nov. 2022.
Isso lhe permitirá refletir sobre sua capacidade de depreender e ampliar um
discurso e concepções dele a partir de uma informação restrita. Associe os classificadores
à sua elaboração vocabular.

6.3.3 Atividade 3

Faça e apresente para a classe, para um grupo de colegas ou para o professor a


seguinte sugestão textual:
• A descrição de um dia da sua rotina.
Lembre-se de colocar no seu discurso: o vocabulário de localização já trabalhado,
o vocabulário de ações cotidianas, diferentes tipos de frases (afirmativas, negativas,
exclamativas e interrogativas).
Depois de apresentar seu texto, certifique-se de que as informações compreendidas
pelos colegas e/ou pelo professor tenham sido as intencionadas por você. Aceite
sugestões de adaptação de estruturação de sentenças e, caso seja necessário, refaça
o texto para que fique ainda mais compreensível aos seus interlocutores.

VAMOS PENSAR?
Como você pode, nesta etapa, construir sentenças complexas dos mais diversos tipos?
Vamos pensar em medidas práticas: primeiramente, retome o conhecimento que você já
adquiriu para fazer bom uso lexical. Depois, lembre-se que, mais do que compreensão gra-
matical de ordenação sintática, você poderá ser um emissor de mensagens claras quando
faz uso das expressões não manuais de modo plausível ao seu propósito textual. Volte ao
105
texto de Lacerda et al. sugerido como leitura complementar no subtítulo 6.2 desta unidade
e aproprie-se de conceitos que lhe permitam pensar em Libras e rejeitar qualquer ímpeto
de estruturar frases ou períodos em Libras, a partir de sua consciência linguística da Língua
Portuguesa como base processual.
106
FIXANDO O CONTEÚDO

1. 2019 As expressões não manuais na Libras são fundamentais para a produção de


enunciados em Libras, pois atuam em todos os níveis linguísticos.
Podemos utilizar como exemplo da atuação da Libras em expressões gramaticais:

a) A testa franzida mostrando insatisfação ou raiva do falante.


b) O cerrar dos olhos indicando pergunta.
c) Os lábios esticados indicando felicidade.
d) A inclinação da cabeça para demonstrar tristeza.
e) O alçar das sobrancelhas indicando surpresa.

2. (UFU-MG 2019- Adaptada). Alguns verbos em Libras apresentam incorporação da


negação, ou seja, o sinal já exprime o sentido da negativa sem a necessidade de se
utilizar o item lexical de negação. Outro exemplo de incorporação é a de numeral, feita,
por exemplo, na apresentação de pronomes pessoais. Sobre a incorporação, os estudos
linguísticos apontam que os Sinais

a) restringem-se a incorporar numerais aos verbos.


b) não apresentam restrições, de modo que qualquer número pode ser incorporado ao
Sinal.
c) restringem-se a incorporar, no máximo, os numerais até quatro.
d) limitam-se à produção para quantidade de horas.
e) em todos os casos de incorporação de negativa mudam a forma da configuração de
mão do verbo na sua forma afirmativa.

3. (COPESE-UFPI 2017- Adaptada). As línguas de sinais são línguas organizadas


espacialmente de forma tão complexa quanto as línguas orais-auditivas. Qualquer
referência usada no discurso requer o estabelecimento de um local no espaço de
sinalização. Esse local pode ser referido através de vários mecanismos espaciais.

São opções que se referem a esses mecanismos:

Direcionamento da cabeça e dos olhos em direção a uma localização particular.

I. Apontação ostensiva antes do sinal de um referente específico.


II. Usar um pronome em uma localização particular quando a referência for óbvia.
III. Usar um classificador em uma localização particular.
IV. Usar um verbo não-direcional (sem concordância).

a) I, II, III, IV e V.
b) I, II, III e IV.
c) I, IV e V.
d) I, II e III.
107
e) I e III.

4. Qual dos verbos abaixo pode ser sinalizado em Libras de duas formas distintas quando
na sua atribuição negativa?

a) Conversar.
b) Ir.
c) Estudar.
d) Trabalhar.
e) Poder.

5. Os seguintes verbos correspondem a:

a) brincar; esquecer e aprender.


b) trabalhar; limpar e pensar.
c) discutir; lembrar e saber.
d) andar; entender e entender.
e) escrever; arrepender e pensar.

6. (FUNCAB- 2015). Verbos direcionais são os que possuem marca de concordância. A


direção do movimento marca no ponto inicial e no final, respectivamente, o(a):

a) verbo – objeto.
b) sujeito – verbo.
c) verbo – adjunto.
d) sujeito – objeto.
e) gênero – verbo.

7. A frase que está sendo abaixo sinalizada pode ser traduzida por:

a) Sua família ama viajar para onde?


b) O que a família dele gosta de fazer ao viajar?
c) Para onde sua família gosta de viajar?
108
d) Como sua família gosta de viajar?
e) Quando sua família gosta de viajar?

8. (COMVEST-UFAM- 2019). Libras apresenta certa flexibilidade na ordem das palavras.


Existem assimetrias entre as construções com verbos sem concordância e com
concordância. No entanto, pesquisas evidenciam que a ordem mais básica da língua é:

a) VO.
b) VOS.
c) OSV.
d) SVO.
e) SOV.
109
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO

UNIDADE 1 UNIDADE 2
QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 E
QUESTÃO 4 D QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 B QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 A QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 C

UNIDADE 3 UNIDADE 4
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 C
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 E
QUESTÃO 4 A QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 B QUESTÃO 5 D
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 E
QUESTÃO 8 E QUESTÃO 8 D

UNIDADE 5 UNIDADE 6
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 C
QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 E
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 A
QUESTÃO 6 E QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 D
110
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBADE, C. M. S. A lexicologia e a teoria dos campos lexicais. RIO DE JANEIRO: Cadernos
do CNLF, v. XV, 2011.

ALVIANO, B. N. O uso do dicionário de língua comoinstrumento didático no ensino


de Língua Portuguesa para alunos surdos: embusca de um bilinguismo funcional.
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014.

BASILIO, M. Formação e classes de palavras no português do Brasil. 03. ed. São Paulo:
Contexto, 2011.

BENVENISTE, E. Problèmes de linguistique générale. Paris: Gallimard, 1974.

BIDERMAN, M. T. C. O Dicionário Padrão da Língua. São Paulo: Alfa, 1984. 28 p.

BRASIL.. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Brasília: Diário Oficial da União, 2002. Dispõe
sobre a Língua Brasileira de Sinais e dá outras providências..

BRASIL. Decreto n º 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Brasília: Diário Oficial da União,


2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua
Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000..

CABRÉ, M. T. Terminología y lenguas minoritarias: necesidad, universalidad y


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