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Teses sobre a guerra na

Antiguidade Clássica
Prof. Rodrigo Marinho S. Ribeiro
rmsribeiro@ufrgs.br
Tucídides
“Quanto à benevolência dos deuses, à qual vos referis, também nós pensamos por ela não sermos
abandonados. Nada pretendemos nem praticamos fora do que é a fé dos homens nos deuses, e da forma
como se comportam entre eles. Acreditamos que o divino e sabemos que o humano, por uma
necessidade absoluta imposta pela natureza, quando dispõem do poder, ordenam. Nem somos nós que
ditamos esta lei, nem os primeiros a utilizá-la quanto à nossa disposição, mas já a assumimos existente,
e deixá-la-emos existir para sempre, pois limitamo-nos a usá-la. E estamos certos de que vós ou outros
quaisquer, dispondo de força igual à nossa, faríeis o mesmo. (História da Guerra do Peloponeso, V,
105)

o A hybris de Atenas é punida. Tucídides desconfia da justiça de guerras de agressão, mas concede que a
guerra pode ser origem de virtudes.
Platão

Mesmo na República, isto é, no Estado ideal, a guerra desempenha


funções únicas e indispensáveis como assegurar a existência e
autossuficiência da pólis, e também criar experiências que unifiquem
os ânimos dos cidadãos da pólis, ou seja, desempenha uma função
propriamente militar, uma econômica e uma pedagógica.
Platão
“— Portanto, também [a cidade ideal] se comporta de modo muito aproximado ao de um só homem? Por
exemplo, quando ferimos um dedo, toda a comunidade, do corpo à alma, disposta numa só organização (a do
poder que a governa), sente o facto, e toda ao mesmo tempo sofre em conjunto com uma das suas partes. É
assim que nós dizemos que ao homem lhe dói o dedo. E, sobre qualquer outro órgão humano, o raciocínio é o
mesmo, relativamente a um sofrimento causado pela dor, e ao bem-estar derivado do prazer.

— É a mesma coisa. E agora, quanto à tua pergunta, direi que a cidade muito bem administrada está
muito próxima de um homem nestas condições.

— Penso, pois, que, se a um dos cidadãos acontecer seja o que for, de bom ou mau, uma cidade assim
proclamará sua essa sensação e toda ela se regozijará ou se afligirá juntamente com ele.” (República
462cde)
Platão

o A agressividade é necessária para que a polis se sustente, mas a


racionalidade deve estabelecer o equilíbrio. O mesmo ocorre na
alma. O princípio antrópológico na República.
Aristóteles
o Contrariamente a Platão, Aristóteles não via a guerra como algo intrinsecamente
necessário para o cultivo da alma humana. A guerra não tem valor em si mesmo.
o Quando uma guerra é justa?

“Toda a vida está dividida em trabalho e ócio, guerra e paz e, de entre as


atividades, umas são necessárias e úteis, e outras são dignas. Também aqui
tem que existir a mesma divisão que vimos nas partes da alma e respectivas
atividades. A guerra existe em vista da paz; o trabalho em função do ócio; as
atividades necessárias e úteis em vista das honrosas.” (Política I, 1333a30ss)
Aristóteles
Uma guerra é justa quando visa a estabelecer (ou reestabelecer) a hierarquia
política natural, a ordem natural.

“Se a natureza nada faz de imperfeito ou em vão, então, necessariamente criou


todos estes seres em função do homem. Eis porque a arte da guerra será, num
certo sentido, um modo natural de aquisição, de que a caça é uma parte, a ser
utilizada contra as feras e mesmo contra aqueles homens que, destinados a ser
governados, recusaram sê-lo, dado que este tipo de guerra é justo por natureza.”
(Política 1256b15ss)
Aristóteles
Quais são as causas que justificam uma guerra?

“O exercício da guerra não deve ser realizado com vista a escravizar os que não
merecem semelhante destino, mas sim, em primeiro lugar a impedir que os
cidadãos se tomem escravos de outrem; em segundo lugar, procurar visar o
poder em vista do bem dos dominados [isto é, estabelecer uma liderança
adequada], e não um domínio totalitário; em terceiro lugar, apropriar-se daqueles
que naturalmente merecem ser escravos.” (1333b37ss)
Aristóteles
o Quando uma guerra é injusta?

Uma guerra é injusta quando vai contra a ordem natural, mas não pelo mal que
é feito a terceiros, mas porque aqueles que guerreiam injustamente estão negando
a si próprios as condições de atingir uma vida plena, que exige certa harmonia
com a ordem natural.
Cícero
"A razão reta, conforme à natureza, gravada em todos os corações, imutável, eterna, cuja
voz ensina e prescreve o bem, afasta do mal que proíbe e, ora com seus mandatos, ora com
suas proibições, jamais se dirige inutilmente aos bons, nem fica impotente ante os maus.
Essa lei não pode ser contestada, nem derrogada em parte, nem anulada; não podemos ser
isentos de seu cumprimento pelo povo nem pelo senado; não há que procurar para ela
outro comentador nem intérprete; não é uma lei em Roma e outra em Atenas, uma antes e
outra depois, mas una, sempiterna e imutável, entre todos os povos e em todos os tempos;
uno será sempre o seu imperador e mestre, que é Deus, seu inventor, sancionador e
publicador, não podendo o homem desconhecê-la sem renegar-se a si mesmo, sem
despojar-se do seu caráter humano e sem atrair sobre si a mais cruel expiação, embora
tenha conseguido evitar todos os outros suplícios." (Da República, III, 33)
Cícero
“Há dois tipos de conflitos, em um se procede pelo debate, no outro,
pela força. Uma vez que o primeiro é apropriado aos homens, e o
segundo às bestas, deve-se recorrer ao segundo apenas se não se pode
empregar o primeiro. Guerras, portanto, devem ser empreendidas por
este motivo, para que vivamos em paz, sem injustiça; e uma vez que a
vitória tenha sido assegurada, aqueles que não foram cruéis ou
selvagens no curso da guerra devem ser poupados.” (De Officis, 1,
34-5)
Cícero
"Nenhuma guerra é empreendida por um bom Estado senão em nome da boa fé e da segurança"
(Rep. III, 34)

"Guerras injustas são aquelas empreendidas sem causa [justa]. Porque exceto por vingança ou
para repelir inimigos, nenhuma guerra justa pode ser travada... Nenhuma guerra é
considerada justa a menos que seja anunciada e declarada e a menos que envolva a
recuperação de propriedade" (Rep. III, 35)

“Nenhuma guerra é justa a menos que seja empreendida após um pedido formal de
restauração, ou a menos que tenha sido formalmente anunciada e declarada de antemão.” (De
Officiis, 1, 36)
Cícero

o Apenas as chamadas guerras de supremacia (lutadas entre rivais


civilizados), estão sujeitas ao direito de guerra, as guerras de
sobrevivência (lutada contra inimigos bárbaros), não. (cf. De
Officis, I, 41)

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