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ABSTINÊNCIA

E SEUS SINTOMAS

PSICÓLOGA DAMARIS REBECA VIEIRA – CRP: 06/152428


SINTOMAS DE ABSTINÊNCIA
A crise de abstinência é resultado de uma adaptação neurológica
do cérebro do usuário de drogas. O sistema de recompensa cerebral,
onde os neurotransmissores de prazer atuam, normalmente funciona
de forma equilibrada, pois há um padrão genético em cada indivíduo.
É nele que temos prazer e saciedade em comer, beber e fazer sexo,
ou seja, nosso centro do prazer.

Quando o álcool e outras drogas interferem neste sistema de


reforço cerebral, comprometem o estado normal e na quantidade de
neurotransmissores (no caso das drogas o neurotransmissor principal
é a dopamina), isso faz com que o cérebro faça os mecanismos de
adaptação para restabelecer a normalidade.
CRISE DE ABSTINÊNCIA
A crise de abstinência é um grupo de sinais e
sintomas que atinge o dependente químico, causando
desconforto psíquico (irritação, angústia, depressão,
agitação, etc.) e até fisico no caso de algumas drogas
(alteração da frequência cardíaca e pressão arterial,
tremores, diarréia e sudorese) que acontece quando
há uma redução e/ou a diminuição do consumo
recorrente e usual do abusador e do dependente
químico. Quanto maior o consumo, maior a crise.
POR QUE UM DEPENDENTE TEM
CRISE DA ABSTINÊNCIA?
O cérebro que se adaptou ao uso de drogas e
considera a presença constante da droga e tenta se
adaptar e obter um novo equilíbrio, mesmo com a
presença do químico e a quantidade exacerbada de
neurotransmissores e o prazer efêmero. Assim muitas
vezes o dependente químico busca o uso de drogas não
para ficar louco, ou bêbado, e sim para obter e retornar
ao equilíbrio mental e neural para voltar a realizar suas
tarefas (físicas e cognitivas) habituais. Algumas vezes, o
álcool e drogas são usadas também para aliviar os
sintomas da própria crise de abstinência, e isso é muito
reconfortante, pois melhora imediatamente após a
ingestão da droga
A adaptação neuronal, quando há a presença de drogas,
torna o sistema nervoso central mais sensível à abstinência
ou a redução do uso. Assim, estas adaptações, causarão os
desconfortos psíquico e físico frente a falta das substâncias
psicoativas. Estes desconfortos são conhecidos por crise de
abstinência.
Com a saída das drogas, o sistema nervoso começa a ficar
estimulado: eis o início dos sintomas de abstinência.
O USO E A CRISE DE
ABSTINÊNCIA: UM CICLO VICIOSO.
O processo da crise de abstinência é cíclico e se torna vicioso. Ele
inicia com o consumo de álcool ou drogas que provoca alterações no
sistema de recompensa cerebral, através de seus efeitos agudos,
então frente ao uso frequente e prolongado da substância, o organismo
provoca neuroadaptações. São elas:
A adaptação de Oposição: que é um mecanismo que tem como
objetivo derrotar os efeitos da droga fazendo uma força contrária dentro
das células.
A adaptação de prejuízo: o corpo cria um mecanismos para dificultar a
ação das  drogas por cima das células, este processo é feito através da
redução do número de neuroreceptores (dow regulation) que reduz a
eficiência do corpo na sua capacidade de ter prazer.
Estas neuroadaptações tem a finalidade de recuperar o
equilíbrio perdido, criando assim a tolerância no organismo
do dependente químico. Então, o dependente para ou
diminui o uso de drogas ou álcool, com esta interrupção do
consumo, a adaptação neurológica aparece, fazendo surgir
uma sintomatologia no sentido oposto aos efeitos da
droga. É a crise de abstinência, que durará enquanto o
equilíbrio  anterior (sem drogas) não for restabelecido.
Esta adaptação durará enquanto tiver a abstinência,
contudo o retorno ao uso fará todo o ciclo começar
novamente, fazendo os efeitos agudos ressurgirem e voltar
ao ciclo vicioso.
EXPLICAMOS MELHOR A TOLERÂNCIA,
POIS QUANTO MAIOR A TOLERÂNCIA,
MAIOR SERÁ A CRISE DE ABSTINÊNCIA.

Tolerância: é a capacidade das células de se adaptarem a atuação da


droga, para que possam voltar a uma função aparentemente normal.
Assim será necessário um consumo maior de drogas para produzir os
mesmos efeitos e perturbações funcionais que foram produzidas na
primeira exposição da célula à droga.

A tolerância é uma adaptação celular ao consumo de drogas, e a


adaptação se torna tão intensa que a célula não funciona normalmente
na ausência da substância psicoativa. Assim, uma perturbação
funcional (síndrome de abstinência) ocorrerá quando a droga é
suprimida. 
CRISES DE ABSTINÊNCIA
CAUSADAS POR DROGAS
DEPRESSORAS DO SNC
(ÁLCOOL, FÁRMACOS, ETC.)
Os depressores do Sistema Nervoso Central causam
síndrome de abstinência com características clínicas
semelhantes. Tendem a causar sintomas menos intensos,
uma vez que o organismo teria mais tempo para reajustar
sua homeostase (equilíbrio do SNC) quando o tempo para a
eliminação da droga é maior.

As principais características clínicas da crise de


abstinência das drogas deste grupo refletem uma
hiperatividade autonômica (aumento da temperatura
corpórea, aumento da frequência do coração e da
respiração, aumento da pressão arterial, suor
excessivo) associada à ansiedade, insônia, tremor e
agitação.
Estes sintomas podem ser leves, moderados ou graves.
Nestes últimos, os sintomas são mais intensos e associam-
se a alucinações visuais e/ou auditivas, sendo as visuais
mais frequentes. Os pacientes geralmente ficam bastante
agitados e assustados.
• Em alguns casos, o quadro pode evoluir com rebaixamento do nível
de consciência, manifestado por desorientação têmporo-espacial e
confusão mental.
• Geralmente há aumento da pressão arterial, da temperatura corpórea
e vômitos. Todos os pacientes neste estágio, conhecido
como delirium tremens, devem ser hospitalizados. A taxa de
mortalidade varia de 2 a 5%, geralmente por falência cárdio-
respiratória.
• Convulsões podem ocorrer em qualquer estágio das crises de
abstinência, mas acontecem com mais frequência nas primeiras 72
horas. O tratamento farmacológico da abstinência das drogas deste
grupo consiste na administração de substâncias com tolerância
cruzada, tal como diazepam, e posterior retirada gradativa.
ABSTINÊNCIA DA MACONHA

Recentemente que a crise de abstinência da


maconha teve relevância cientifica e sua validade,
sendo os seus principais sintomas: irritabilidade,
nervosismo, ansiedade e inquietação, depressão,
raiva, insônia, sonhos angustiantes, diminuição do
apetite, cefaleia (dor de cabeça) e “fissura”. A
gravidade da crise de abstinência foi maior
naqueles que tinham também outros transtornos
psiquiátricos e uma frequência grande de
consumo.
• Em poucos dias, comumente, os sintomas
desaparecerão, entretanto, alguns estudos demonstram
que podem durar mais tempo, conforme o grau de
dependência e consumo do individuo. O sintoma mais
difícil de lhe dar será a fissura, que é muito mais forte nos
primeiros dias e tem uma tendência de diminuir com o
passar do tempo.
• Quanto maior o tempo de abstinência mais a vontade de
usar irá diminuir. Pessoas em recuperação relatam que a
vontade atinge um pico, mas se for vencida vai diminuir e
se tornar quase imperceptível. Daí a importância de
manter a abstinência. Há um jargão da recuperação,
vontade e fissura dá e passa e nunca se morre de
vontade, se morre do uso de drogas, mas de vontade
não.
A CRISE DE ABSTINÊNCIA DO
ÁLCOOL.
A pessoa que faz uso excessivo de bebidas alcoólicas,
ao longo do tempo, desenvolve a dependência do álcool,
conhecido como “alcoolismo”. Como uma pessoa é levada
ao alcoolismo? Os fatores são variados, e tem origens
diversas como a biológica, psicológica, social, cultural e
espiritual, na verdade é uma contribuição de todos estes
fatores. A dependência do álcool atinge cerca de 10% da
população adulta no Brasil.
O usuário pode beber de forma usual, abusiva e
dependente, esta transição de uma fase a outra,
pode ou não ocorrer, e quando acontece, é de
forma lenta, e leva vários anos. 

Os sinais do alcoolismo são: a tolerância, o


aumento da importância do álcool na vida da
pessoa; a compulsão de beber e da falta de controle
em relação a quando parar; crise de abstinência
(aparecimento de sintomas desagradáveis após ter
ficado algumas horas sem beber) e o aumento da
ingestão de álcool para aliviar a crise de
abstinência.
• A crise de abstinência do álcool acontece quando o
dependente alcoólico reduz ou para bruscamente a
ingestão de bebidas alcoólicas após período de consumo
crônico. A crise tem início em torno de 6 a 8 horas após a
interrupção da bebida.
• A crise de abstinência do álcool é caracterizada pelo
tremor das mãos, que é acompanhada de distúrbios
gastrointestinais e de sono, além de um estado de
inquietação geral.
• Apenas 5% dos alcoolistas que entram em abstinência
irão progredir para a crise de abstinência severa
ou “delirium tremens” que, além da intensificação dos
sintomas acima referidos, há tremores generalizados,
agitação intensa e desorientação no tempo e espaço.
DELIRIUM TREMENS
É um estado de confusão causada pela intoxicação. É de
curta duração e ocorre como resultado de parar de beber
para os indivíduos dependentes e crônicos. É uma
complicação da crise de abstinência alcoólica, seus sintomas
mais importantes:
• Estado de perturbação da consciência, caracterizado por
ofuscação da vista e obscurecimento do pensamento e
confusão;
• Alucinações onde acredita ser verdadeira e afeta os
sentidos;
• Acentuado tremor.

Os sintomas ocorrem com mais intensidade de 24 a 150 horas após


parar de usar, o período mais crítico é de 72 a 96 horas. 
CONVULSÕES: 
Ocorrem entre 7 a 48 horas após cessar o uso do álcool. É outra
complicação da crise de abstinência alcoólica. As convulsões são
severas, generalizadas e, provocam a perda de consciência, seguidas
por movimentos convulsivos nos quatro membros. Comumente
ocorrerem de três quatro convulsões em 2 dias, mas pode ser apenas
um episódio. As causas das convulsões são: hipocalemia,
hipomagnesemia, história prévia de convulsões por abstinência e
epilepsia concomitante.
CRISES DE ABSTINÊNCIA
CAUSADAS POR DROGAS
ESTIMULANTES DO SNC
(COCAÍNA, CRACK E
METANFETAMINA, ETC.)
• A gravidade da síndrome de abstinência das
drogas estimulantes do SNC dependerá da
tolerância desenvolvida para os depressores do
SNC (frequentemente há uso associado de
drogas dos dois grupos), da potência da droga,
tempo de uso e via de administração.

• As síndromes de abstinência mais graves estão


associadas à cocaína e metanfetaminas
administradas via endovenosa ou fumadas.
OS SINTOMAS DE ABSTINÊNCIA COMUNS
A TODAS AS DROGAS DESTE GRUPO
INCLUEM:
• Depressão;
• Hipersônia;
• Fadiga;
• Cefaléia;
• Irritabilidade;
• Dificuldade de concentração;
• Inquietação;
• Os pacientes podem experimentar um “craving” intenso pela
droga (desejo intenso pela droga);
• Em casos graves de depressão, o paciente pode tentar
suicídio.
• Os sintomas característicos da abstinência de cocaína
incluem anedonia (perda da capacidade de sentir
prazer), depressão e ideação suicida, que podem
persistir por seis meses, principalmente quando a via de
uso era injetável ou fumada.

• A abstinência de anfetamina é muito similar à de


cocaína, porém a psicose anfetamínica pode persistir
após o quadro de intoxicação e durante o período de
pós-abstinência, com sensação de persecutoriedade,
paranóia, comportamento compulsivo, alucinações
visuais e auditivas. Este quadro é difícil de ser
diferenciado de patologia orgânica e geralmente está
relacionado ao uso prolongado de altas doses de
anfetamina.
Os sintomas de abstinência de nicotina são mais
duradouros, sendo que a anorexia, “craving” e busca pela
droga podem persistir por meses. Os sintomas mais
imediatos são irritabilidade, dificuldade de concentração e
fatigabilidade.
TRATAMENTO
O tratamento da síndrome de abstinência dos
estimulantes do SNC em geral, é sintomático.
Quadros de paranoia devem ser tratados com
neurolépticos como haloperidol e risperidona. As
síndromes depressivas devem ser tratadas com
antidepressivos, os quais devem sermantidos por 3 a
6 meses. Para abstinência de nicotina, utilizam-se
adesivos ou gomas de mascar de nicotina e
antidepressivos como bupropiona e nortriptilina.
A CRISE DE ABSTINÊNCIA DE COCAÍNA
É IDENTIFICADA EM TRÊS FASES.

Fase 1 – Crash : Redução intensa e imediata da


energia e do humor, o dependente químico chega a
ficar com lentificação e fadiga. O Crash se apresenta
logo após cessar o uso, pois há uma queda brusca da
dopamina no sistema de recompensa cerebral. Há a
presença de fissura, ansiedade, paranoia e depressão.
Após um período de 8 horas a 4 dias de cansaço e
muita sonolência para o indivíduo.
Fase 2 – Abstinência: Esta fase começa de 12 a 96 horas
após o crash e pode durar de 2 até 12 semanas. Decorre
do aumento do número e da sensibilidade dos receptores
de dopamina. A perda de sentimento de prazer é
importante neste período e contrata com as memórias
eufóricas do uso. A presença de fatores e situações
desencadeadores de fissura normalmente suplanta o
desejo de se manter em abstinência e as recaídas são
comuns nessa fase. Ansiedade, hiper/hiposonia, hiperfagia
e alterações psicomotoras (tremores, dores musculares,
movimentos involuntários) são outros sintomas típicos
dessa fase.
Fase 3 – Extinção:  esta fase, ocorre a resolução
completa dos sinais e sintomas físicos. A fissura é o
sintoma residual que aparece eventualmente,
condicionado a lembranças do uso e seus efeitos. Seu
desaparecimento é gradual e pode durar meses ou
anos.
QUANTO TEMPO DURA UMA
CRISE DE ABSTINÊNCIA?
O tempo da crise de abstinência, dura em média 4 a 6
semanas, mas os sinais e sintomas da crise de abstinência
vão variar de acordo com:
• A substância utilizada;
• O tempo transcorrido desde a última dose;
• A taxa de eliminação e meia-vida da substância em
questão;
• A existência ou não de quadros clínicos ou psiquiátricos
concomitantes (comorbidades);
• Características biológicas e psicossociais do indivíduo; 
CONCLUSÃO
Tratar a crise de abstinência em um ambiente
adequado vai diminuir os sintomas e sofrimento do
paciente. Temos que lembrar que o processo de
recuperação da dependência é lento, doloroso e
repleto de obstáculos, portanto, prever e criar formas
para lidar com esses obstáculos deve ser um objetivo
do processo
Partimos do pressuposto que um dependente
químico ao fazer a interrupção do uso de qualquer
substância química, isso pode lhe acarretar problemas
físicos e psíquicos, que fazem parte dos sintomas e
sinais da crise de abstinência.
.
DRAMATIZAR A CRISE DE ABSTINÊNCIA, MUITAS VEZES, É UM JOGO
DAS PESSOAS QUE QUEREM PARAR DE USAR DROGAS, PORÉM NÃO
ESTÃO DISPOSTAS A LUTAR VERDADEIRAMENTE PARA CONSEGUIR.
ISTO REFORÇA O COMPORTAMENTO TÍPICO DO DEPENDENTE
QUÍMICO, OU SEJA, CONSEGUIR ALGUMA COISA SEM, NA VERDADE,
“LUTAR PARA”, COMO É A DINÂMICA QUE A VIDA IMPÕE A TODOS OS
SERES HUMANOS. A DROGA ESCONDE O SENTIMENTO DE
INCAPACIDADE, FALÊNCIA, IMPOTÊNCIA, ETC.

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