SINTOMAS DE ABSTINÊNCIA A crise de abstinência é resultado de uma adaptação neurológica do cérebro do usuário de drogas. O sistema de recompensa cerebral, onde os neurotransmissores de prazer atuam, normalmente funciona de forma equilibrada, pois há um padrão genético em cada indivíduo. É nele que temos prazer e saciedade em comer, beber e fazer sexo, ou seja, nosso centro do prazer.
Quando o álcool e outras drogas interferem neste sistema de
reforço cerebral, comprometem o estado normal e na quantidade de neurotransmissores (no caso das drogas o neurotransmissor principal é a dopamina), isso faz com que o cérebro faça os mecanismos de adaptação para restabelecer a normalidade. CRISE DE ABSTINÊNCIA A crise de abstinência é um grupo de sinais e sintomas que atinge o dependente químico, causando desconforto psíquico (irritação, angústia, depressão, agitação, etc.) e até fisico no caso de algumas drogas (alteração da frequência cardíaca e pressão arterial, tremores, diarréia e sudorese) que acontece quando há uma redução e/ou a diminuição do consumo recorrente e usual do abusador e do dependente químico. Quanto maior o consumo, maior a crise. POR QUE UM DEPENDENTE TEM CRISE DA ABSTINÊNCIA? O cérebro que se adaptou ao uso de drogas e considera a presença constante da droga e tenta se adaptar e obter um novo equilíbrio, mesmo com a presença do químico e a quantidade exacerbada de neurotransmissores e o prazer efêmero. Assim muitas vezes o dependente químico busca o uso de drogas não para ficar louco, ou bêbado, e sim para obter e retornar ao equilíbrio mental e neural para voltar a realizar suas tarefas (físicas e cognitivas) habituais. Algumas vezes, o álcool e drogas são usadas também para aliviar os sintomas da própria crise de abstinência, e isso é muito reconfortante, pois melhora imediatamente após a ingestão da droga A adaptação neuronal, quando há a presença de drogas, torna o sistema nervoso central mais sensível à abstinência ou a redução do uso. Assim, estas adaptações, causarão os desconfortos psíquico e físico frente a falta das substâncias psicoativas. Estes desconfortos são conhecidos por crise de abstinência. Com a saída das drogas, o sistema nervoso começa a ficar estimulado: eis o início dos sintomas de abstinência. O USO E A CRISE DE ABSTINÊNCIA: UM CICLO VICIOSO. O processo da crise de abstinência é cíclico e se torna vicioso. Ele inicia com o consumo de álcool ou drogas que provoca alterações no sistema de recompensa cerebral, através de seus efeitos agudos, então frente ao uso frequente e prolongado da substância, o organismo provoca neuroadaptações. São elas: A adaptação de Oposição: que é um mecanismo que tem como objetivo derrotar os efeitos da droga fazendo uma força contrária dentro das células. A adaptação de prejuízo: o corpo cria um mecanismos para dificultar a ação das drogas por cima das células, este processo é feito através da redução do número de neuroreceptores (dow regulation) que reduz a eficiência do corpo na sua capacidade de ter prazer. Estas neuroadaptações tem a finalidade de recuperar o equilíbrio perdido, criando assim a tolerância no organismo do dependente químico. Então, o dependente para ou diminui o uso de drogas ou álcool, com esta interrupção do consumo, a adaptação neurológica aparece, fazendo surgir uma sintomatologia no sentido oposto aos efeitos da droga. É a crise de abstinência, que durará enquanto o equilíbrio anterior (sem drogas) não for restabelecido. Esta adaptação durará enquanto tiver a abstinência, contudo o retorno ao uso fará todo o ciclo começar novamente, fazendo os efeitos agudos ressurgirem e voltar ao ciclo vicioso. EXPLICAMOS MELHOR A TOLERÂNCIA, POIS QUANTO MAIOR A TOLERÂNCIA, MAIOR SERÁ A CRISE DE ABSTINÊNCIA.
Tolerância: é a capacidade das células de se adaptarem a atuação da
droga, para que possam voltar a uma função aparentemente normal. Assim será necessário um consumo maior de drogas para produzir os mesmos efeitos e perturbações funcionais que foram produzidas na primeira exposição da célula à droga.
A tolerância é uma adaptação celular ao consumo de drogas, e a
adaptação se torna tão intensa que a célula não funciona normalmente na ausência da substância psicoativa. Assim, uma perturbação funcional (síndrome de abstinência) ocorrerá quando a droga é suprimida. CRISES DE ABSTINÊNCIA CAUSADAS POR DROGAS DEPRESSORAS DO SNC (ÁLCOOL, FÁRMACOS, ETC.) Os depressores do Sistema Nervoso Central causam síndrome de abstinência com características clínicas semelhantes. Tendem a causar sintomas menos intensos, uma vez que o organismo teria mais tempo para reajustar sua homeostase (equilíbrio do SNC) quando o tempo para a eliminação da droga é maior.
As principais características clínicas da crise de
abstinência das drogas deste grupo refletem uma hiperatividade autonômica (aumento da temperatura corpórea, aumento da frequência do coração e da respiração, aumento da pressão arterial, suor excessivo) associada à ansiedade, insônia, tremor e agitação. Estes sintomas podem ser leves, moderados ou graves. Nestes últimos, os sintomas são mais intensos e associam- se a alucinações visuais e/ou auditivas, sendo as visuais mais frequentes. Os pacientes geralmente ficam bastante agitados e assustados. • Em alguns casos, o quadro pode evoluir com rebaixamento do nível de consciência, manifestado por desorientação têmporo-espacial e confusão mental. • Geralmente há aumento da pressão arterial, da temperatura corpórea e vômitos. Todos os pacientes neste estágio, conhecido como delirium tremens, devem ser hospitalizados. A taxa de mortalidade varia de 2 a 5%, geralmente por falência cárdio- respiratória. • Convulsões podem ocorrer em qualquer estágio das crises de abstinência, mas acontecem com mais frequência nas primeiras 72 horas. O tratamento farmacológico da abstinência das drogas deste grupo consiste na administração de substâncias com tolerância cruzada, tal como diazepam, e posterior retirada gradativa. ABSTINÊNCIA DA MACONHA
Recentemente que a crise de abstinência da
maconha teve relevância cientifica e sua validade, sendo os seus principais sintomas: irritabilidade, nervosismo, ansiedade e inquietação, depressão, raiva, insônia, sonhos angustiantes, diminuição do apetite, cefaleia (dor de cabeça) e “fissura”. A gravidade da crise de abstinência foi maior naqueles que tinham também outros transtornos psiquiátricos e uma frequência grande de consumo. • Em poucos dias, comumente, os sintomas desaparecerão, entretanto, alguns estudos demonstram que podem durar mais tempo, conforme o grau de dependência e consumo do individuo. O sintoma mais difícil de lhe dar será a fissura, que é muito mais forte nos primeiros dias e tem uma tendência de diminuir com o passar do tempo. • Quanto maior o tempo de abstinência mais a vontade de usar irá diminuir. Pessoas em recuperação relatam que a vontade atinge um pico, mas se for vencida vai diminuir e se tornar quase imperceptível. Daí a importância de manter a abstinência. Há um jargão da recuperação, vontade e fissura dá e passa e nunca se morre de vontade, se morre do uso de drogas, mas de vontade não. A CRISE DE ABSTINÊNCIA DO ÁLCOOL. A pessoa que faz uso excessivo de bebidas alcoólicas, ao longo do tempo, desenvolve a dependência do álcool, conhecido como “alcoolismo”. Como uma pessoa é levada ao alcoolismo? Os fatores são variados, e tem origens diversas como a biológica, psicológica, social, cultural e espiritual, na verdade é uma contribuição de todos estes fatores. A dependência do álcool atinge cerca de 10% da população adulta no Brasil. O usuário pode beber de forma usual, abusiva e dependente, esta transição de uma fase a outra, pode ou não ocorrer, e quando acontece, é de forma lenta, e leva vários anos.
Os sinais do alcoolismo são: a tolerância, o
aumento da importância do álcool na vida da pessoa; a compulsão de beber e da falta de controle em relação a quando parar; crise de abstinência (aparecimento de sintomas desagradáveis após ter ficado algumas horas sem beber) e o aumento da ingestão de álcool para aliviar a crise de abstinência. • A crise de abstinência do álcool acontece quando o dependente alcoólico reduz ou para bruscamente a ingestão de bebidas alcoólicas após período de consumo crônico. A crise tem início em torno de 6 a 8 horas após a interrupção da bebida. • A crise de abstinência do álcool é caracterizada pelo tremor das mãos, que é acompanhada de distúrbios gastrointestinais e de sono, além de um estado de inquietação geral. • Apenas 5% dos alcoolistas que entram em abstinência irão progredir para a crise de abstinência severa ou “delirium tremens” que, além da intensificação dos sintomas acima referidos, há tremores generalizados, agitação intensa e desorientação no tempo e espaço. DELIRIUM TREMENS É um estado de confusão causada pela intoxicação. É de curta duração e ocorre como resultado de parar de beber para os indivíduos dependentes e crônicos. É uma complicação da crise de abstinência alcoólica, seus sintomas mais importantes: • Estado de perturbação da consciência, caracterizado por ofuscação da vista e obscurecimento do pensamento e confusão; • Alucinações onde acredita ser verdadeira e afeta os sentidos; • Acentuado tremor.
Os sintomas ocorrem com mais intensidade de 24 a 150 horas após
parar de usar, o período mais crítico é de 72 a 96 horas. CONVULSÕES: Ocorrem entre 7 a 48 horas após cessar o uso do álcool. É outra complicação da crise de abstinência alcoólica. As convulsões são severas, generalizadas e, provocam a perda de consciência, seguidas por movimentos convulsivos nos quatro membros. Comumente ocorrerem de três quatro convulsões em 2 dias, mas pode ser apenas um episódio. As causas das convulsões são: hipocalemia, hipomagnesemia, história prévia de convulsões por abstinência e epilepsia concomitante. CRISES DE ABSTINÊNCIA CAUSADAS POR DROGAS ESTIMULANTES DO SNC (COCAÍNA, CRACK E METANFETAMINA, ETC.) • A gravidade da síndrome de abstinência das drogas estimulantes do SNC dependerá da tolerância desenvolvida para os depressores do SNC (frequentemente há uso associado de drogas dos dois grupos), da potência da droga, tempo de uso e via de administração.
• As síndromes de abstinência mais graves estão
associadas à cocaína e metanfetaminas administradas via endovenosa ou fumadas. OS SINTOMAS DE ABSTINÊNCIA COMUNS A TODAS AS DROGAS DESTE GRUPO INCLUEM: • Depressão; • Hipersônia; • Fadiga; • Cefaléia; • Irritabilidade; • Dificuldade de concentração; • Inquietação; • Os pacientes podem experimentar um “craving” intenso pela droga (desejo intenso pela droga); • Em casos graves de depressão, o paciente pode tentar suicídio. • Os sintomas característicos da abstinência de cocaína incluem anedonia (perda da capacidade de sentir prazer), depressão e ideação suicida, que podem persistir por seis meses, principalmente quando a via de uso era injetável ou fumada.
• A abstinência de anfetamina é muito similar à de
cocaína, porém a psicose anfetamínica pode persistir após o quadro de intoxicação e durante o período de pós-abstinência, com sensação de persecutoriedade, paranóia, comportamento compulsivo, alucinações visuais e auditivas. Este quadro é difícil de ser diferenciado de patologia orgânica e geralmente está relacionado ao uso prolongado de altas doses de anfetamina. Os sintomas de abstinência de nicotina são mais duradouros, sendo que a anorexia, “craving” e busca pela droga podem persistir por meses. Os sintomas mais imediatos são irritabilidade, dificuldade de concentração e fatigabilidade. TRATAMENTO O tratamento da síndrome de abstinência dos estimulantes do SNC em geral, é sintomático. Quadros de paranoia devem ser tratados com neurolépticos como haloperidol e risperidona. As síndromes depressivas devem ser tratadas com antidepressivos, os quais devem sermantidos por 3 a 6 meses. Para abstinência de nicotina, utilizam-se adesivos ou gomas de mascar de nicotina e antidepressivos como bupropiona e nortriptilina. A CRISE DE ABSTINÊNCIA DE COCAÍNA É IDENTIFICADA EM TRÊS FASES.
Fase 1 – Crash : Redução intensa e imediata da
energia e do humor, o dependente químico chega a ficar com lentificação e fadiga. O Crash se apresenta logo após cessar o uso, pois há uma queda brusca da dopamina no sistema de recompensa cerebral. Há a presença de fissura, ansiedade, paranoia e depressão. Após um período de 8 horas a 4 dias de cansaço e muita sonolência para o indivíduo. Fase 2 – Abstinência: Esta fase começa de 12 a 96 horas após o crash e pode durar de 2 até 12 semanas. Decorre do aumento do número e da sensibilidade dos receptores de dopamina. A perda de sentimento de prazer é importante neste período e contrata com as memórias eufóricas do uso. A presença de fatores e situações desencadeadores de fissura normalmente suplanta o desejo de se manter em abstinência e as recaídas são comuns nessa fase. Ansiedade, hiper/hiposonia, hiperfagia e alterações psicomotoras (tremores, dores musculares, movimentos involuntários) são outros sintomas típicos dessa fase. Fase 3 – Extinção: esta fase, ocorre a resolução completa dos sinais e sintomas físicos. A fissura é o sintoma residual que aparece eventualmente, condicionado a lembranças do uso e seus efeitos. Seu desaparecimento é gradual e pode durar meses ou anos. QUANTO TEMPO DURA UMA CRISE DE ABSTINÊNCIA? O tempo da crise de abstinência, dura em média 4 a 6 semanas, mas os sinais e sintomas da crise de abstinência vão variar de acordo com: • A substância utilizada; • O tempo transcorrido desde a última dose; • A taxa de eliminação e meia-vida da substância em questão; • A existência ou não de quadros clínicos ou psiquiátricos concomitantes (comorbidades); • Características biológicas e psicossociais do indivíduo; CONCLUSÃO Tratar a crise de abstinência em um ambiente adequado vai diminuir os sintomas e sofrimento do paciente. Temos que lembrar que o processo de recuperação da dependência é lento, doloroso e repleto de obstáculos, portanto, prever e criar formas para lidar com esses obstáculos deve ser um objetivo do processo Partimos do pressuposto que um dependente químico ao fazer a interrupção do uso de qualquer substância química, isso pode lhe acarretar problemas físicos e psíquicos, que fazem parte dos sintomas e sinais da crise de abstinência. . DRAMATIZAR A CRISE DE ABSTINÊNCIA, MUITAS VEZES, É UM JOGO DAS PESSOAS QUE QUEREM PARAR DE USAR DROGAS, PORÉM NÃO ESTÃO DISPOSTAS A LUTAR VERDADEIRAMENTE PARA CONSEGUIR. ISTO REFORÇA O COMPORTAMENTO TÍPICO DO DEPENDENTE QUÍMICO, OU SEJA, CONSEGUIR ALGUMA COISA SEM, NA VERDADE, “LUTAR PARA”, COMO É A DINÂMICA QUE A VIDA IMPÕE A TODOS OS SERES HUMANOS. A DROGA ESCONDE O SENTIMENTO DE INCAPACIDADE, FALÊNCIA, IMPOTÊNCIA, ETC.