O documento define o gênero ensaio como uma forma de expressar ideias e pensamentos de forma subjetiva e híbrida, contrariando regras acadêmicas. Discute como o ensaio permite questionar fronteiras entre ciência e arte e como deve ser escrito para um contexto e tempo específicos, não de forma atemporal. Também aborda como a escrita acadêmica pode se tornar mecânica se escrita apenas para agradar avaliadores.
O documento define o gênero ensaio como uma forma de expressar ideias e pensamentos de forma subjetiva e híbrida, contrariando regras acadêmicas. Discute como o ensaio permite questionar fronteiras entre ciência e arte e como deve ser escrito para um contexto e tempo específicos, não de forma atemporal. Também aborda como a escrita acadêmica pode se tornar mecânica se escrita apenas para agradar avaliadores.
O documento define o gênero ensaio como uma forma de expressar ideias e pensamentos de forma subjetiva e híbrida, contrariando regras acadêmicas. Discute como o ensaio permite questionar fronteiras entre ciência e arte e como deve ser escrito para um contexto e tempo específicos, não de forma atemporal. Também aborda como a escrita acadêmica pode se tornar mecânica se escrita apenas para agradar avaliadores.
Curso: Administração 2022 ENSAIO: O QUE É? • “Ensaio: novo gênero (século XVI-1580) em que a pena do autor é deixada à vontade, guiada pelo senso comum, misturando experiências [...] sem compromissos com a autoridade mas sim com a liberdade” (Montaigne) • A palavra ensaio propõe algo inacabado. Por exemplo: para que uma peça de teatro estreie, ocorrem muitos ensaios. • Escrever um ensaio é expressar ideias que surgem da alma, é muito mais do que descrever situações ou narrar fatos. É ser o sujeito que enuncia e a própria matéria enunciada, porque é importante falar da humanidade e de suas relações. ENSAIO: O QUE É? • Um dos principais objetivos do ensaio é arrancar a venda de nossos olhos, nos tirando da cegueira, através de insights sobre textos que lemos, textos verbais ou não verbais. Pode-se dizer, inclusive, que um bom ensaio é o ensaio que incomoda. • O ensaio é a história, ou o percurso, de um pensamento. • Não podemos negar a importância do gênero para a atualidade informática. Escrevemos em redes sociais e comentamos em sites de notícias sobre outros textos com impressões que trazemos e construímos sobre o mundo. Existe, hoje, um imperativo para que escrevamos instantâneos, registremos e compartilhemos pensamentos. ENSAIO: O QUE É? • Gênero híbrido subjetivo, aparece como um contraponto aos demais gêneros acadêmicos por contrariar as regras de pureza e objetividade que imperam na academia. • 3 motivos para acreditarmos que vivemos bons tempos para escrita de ensaios acadêmicos: 1. Esgotamento da razão pura moderna e suas pretensões de ser “a única razão”; 2. Dissolução das fronteiras entre escrita “cognoscitiva” e poética; 3. O mundo acadêmico está enfadado de ouvir sempre as mesmas coisas. ENSAIO: O QUE É? • Segundo Adorno, o ensaio atravessa a distinção entre ciência, conhecimento, objetividade e racionalidade, por um lado; e arte, imaginação, subjetividade e irracionalidade por outro. O ensaio coloca as fronteiras em questão. • O filósofo defende que o ensaio se vê esmagado por uma ciência em que todos defendem o direito de controlar a todos. A ciência organizada seria o lugar dos controles, o lugar das bancas, dos tribunais, das avaliações, e exclui o que não está ajustado ao padrão de consenso. • Nesse caso, a liberdade intelectual é uma qualidade em retrocesso, quando triunfam a ciência organizada e a filosofia sistemática. • O ensaísta é um leitor que escreve e um escritor que lê. O ensaísta problematiza a escrita cada vez que escreve, e problematiza a leitura cada vez que lê, é alguém que aprende a escrever cada vez que escreve. A academia problematiza o método e não a escrita. ENSAIO: O QUE É? • Para Adorno, outro aspecto do ensaio é a temporalidade. • O ensaísta não lê e escreve para a eternidade, de forma atemporal, como tampouco lê e escreve para todos e para ninguém, mas, sim, para um tempo e para um contexto cultural concreto e determinado. ENSAIO: O QUE É? Jorge Larrosa:
“Passei um ano em Londres, com bolsa de pós-doutorado, estudando num departamento de
sociologia, onde havia um curso para estudantes do Terceiro Mundo, intitulado "Habilidades de escrita para finalidades acadêmicas". Aí entendi por que os ingleses e os "gringos" escrevem todos os papers da mesma forma: são socializados numa escrita acadêmica muito específica. Um dia, ao aprendermos como se começa um capítulo, a professora trouxe as primeiras páginas de dez ou doze capítulos, independentemente do tema, e tivemos de seguir o modelo. Depois, aprendemos como se coloca um exemplo, como se interrompe a argumentação para elaborar um exemplo. Na sequência, aprendemos a fazer um resumo, um abstract. E, assim, pouco a pouco, todos aprendemos a escrever de um modo mecânico e padronizado, sem estilo próprio”. ENSAIO: O QUE É? • Para Larrosa, o acadêmico escreve para o comitê de avaliação, para a banca da tese ou para o avaliador do paper.
• A questão é tão séria que se escreve para que ninguém leia e, o que é mais grave, a partir de critérios que se pressupõe sejam do avaliador.
• Uma pergunta poderia ser: como lê o avaliador? O avaliador do paper inicia,
em geral, pelas conclusões, atravessa de trás para frente as notas de rodapé, para ver se as referências são atualizadas e têm a ver com o tema, e se continuar, se já não decidiu rejeitar o texto, continua com as hipóteses que o fundamentam, ignorando o conteúdo, na maioria das vezes. Dúvidas? mariana.bessa@ifsudestemg.edu.br REFERÊNCIAS
ADORNO, T. W. O ensaio como forma. In: Notas de literatura J. Tradução e
apresentação de Jorge M. B. de Oliveira. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2003, p. 15-45. LARROSA, J. O ensaio e a escrita acadêmica. Educação e realidade, 2003.