Você está na página 1de 14

LINDA HUTCHEON

CAPITULO 3: QUEM E
POR QUÊ
Ana Claudia Oliveira
Thiago Zanotti

Professora Anna Camati


Poeticas da Reciclagem Outubro 2014
Esse capítulo questiona um pouco sobre quem exatamente é o
adaptador, pois, muitas vezes, a transposição de um meio para
outro implica a passagem de um processo solitário de criação
para um processo de criação em equipe. É o que acontece na
adaptação de romances para o cinema: a recriação passa por
diversos filtros autorais, correspondentes a cada uma das
atribuições dentro da equipe de produção de um filme; contudo,
ao diretor é que muitas vezes, se creditar a autoria, considerando
que ele coordena os demais e são estes trabalhos que tornam-se,
em suas mãos, materiais para seu processo criativo referente a
uma obra total.
Motivos Pessoais E Políticos
Razões Pessoais - Pag. 133

1) Para decidir fazer uma Adaptação

2) Para escolher que Obra adaptar e em qual mídia fazê-lo.

As razões profundamente pessoais – bem como cultural e historicamente condicionadas –


dos adaptadores para selecionar certa obra para adaptar, e o modo particular de fazê-lo,
deveriam ser seriamente consideradas por uma teoria de adaptação, ainda que isso signifique
reavaliar todo o papel de intencionalidade em nosso pensamento crítico sobre as artes em
geral. (p.136)

“Se o adaptador não se comoveu


significativamente com o romance, por qualquer
razão que seja, a peça sofrerá uma perda
equivalente” (Brady, citado por Hutcheon, p. 135).
Motivos Pessoais E Políticos
Tributos

Tentativas de suplantar a autoridade canônica (Shakespeare)

Crítica Social ou cultural mais ampla – Realizar ou evitá-la

Engajamento Político

Motivação Ideológica

Mais pessoais como questões de gênero (queer studies, feministas, etc)

Questões pós-coloniais e étnicas.

Popularidade e fama

Mídia
MUDANÇAS OPERADAS NUMA NARRATIVA
EM PARTICULAR, A PARTIR DE UMA SÉRIE
DE MÍDIAS E GÊNEROS COMO FORMA DE
EXPLORAR PRECISAMENTE ESSAS
COMPLEXIDADES ECONÔMICAS, LEGAIS,
CULTURAIS, POLÍTICAS E PESSOAIS DE
MOTIVAÇÃO E INTENÇÃO NO PROCESSO
DE ADAPTAÇÃO. (136)
“Textos fluídos” que existem em mais de uma versão; elas são
a ‘evidência material das mudanças de intenção” (137)
Aprendendo com a prática
Por quê?
pp. 137- 156
As Carmelitas de Compiègne
• Novela – “Die Letzte am Schafott”/
“The Song at the Scaffold”
• Peça de Teatro – “Dialogue des
Carmélites”
• Filme – “Dialogue des Carmélites”
• Ópera - “Dialogue des Carmélites”

Mudança de foco de acordo com a mídia:


Na Novela, a autora Gertrud cria uma personagem que não consta do relato
histórico. Isso porque deseja explorar duas questões: pessoais e políticas. Seus
próprios receios de que sua nova fé nunca estivesse à altura
do teste exigido das freiras (daí a razão de Blanche ter tanto medo da
morte) e seu temor de que o totalitarismo ascendesse em seu país natal , A Alemanha.

No Roteiro para o Filme, Padre Bruckberger, com a ajuda de Phllippe Agostini, foi atraído
pelos elementos daquilo que viu como uma grande tragédia, o que chamou de conflito
insuperável entre dois universos e dois misticismos irreconciliáveis, o do Carmelo e o da
Revolução. Quando escreveu o roteiro teve sua atenção instigada pelas possibilidades de
ação elaborada. Assim, ele suprimiu cenas e personagens dispensáveis como o narrador, e
inventou outros livremente. Mas manteve o foco sempre na Blanche. O roteiro para o
cinema ficou mais visual e dramático, baseado na ação e não na discussão religiosa,
apresentando um desejo de apresentação direta da câmera no lugar da narração. Mas foi
George Bernanos que escreveu os diálogos do roteiro, antes de morrer. Ele então se
apropriou da história original para criar uma obra radicalmente diferente.
A Peça Teatral – Dialogues des Carmélites

Publicada Encenada
em 1949 Albert em 1951
Resumiu as Mais de um
Béguin cenas mudas Adaptador

Dividiu a Troca mística


obra em atos de mortes uma Ópera
A Base para
Contornou os
diálogos Ideia de
Expiação

Acrescentou
hinos históricos
Ópera Dialogues des Carmélites – Francis Poulenc
pp. 147 - 149
Uma história de escolha individual adiante da mortalidade
humana

Compôs músicas sacras


Preocupações Estéticas
Cortes Significativos no texto de Bernanos
Eliminou os Debates Religiosos
Escrita na Paris existencialista da década de 1950
A Morte de Priora ocorre no clímax do 1º Ato
Acrescenta uma música potente ao drama
Mantém uma partitura leve para que cada palavra do texto pudesse ser ouvida e
compreendida.
A cena do leito de morte da Priora e a transferência de graça na troca das mortes são o
desfecho.
Blanche não conclui o “Salve Regina” mas vai para o cadafalso cantando a última estrofe de
“Veni Creator”
“O PROCESSO ADAPTATIVO É A SOMA DE
ENCONTROS ENTRE CULTURAS
INSTITUCIONAIS, SISTEMAS DE
SIGNIFICAÇÃO E MOTIVAÇÕES PESSOAIS”
(P.149).

Vemos nesses processos o quanto uma alegoria política ou um relato de redenção espiritual e psicológica
estão, muitas vezes, ligadas às histórias individuais dos adaptadores, bem como ao momento político em
que escrevem.(p. 150)
“O EXAME DAS DIFERENTES VERSÕES DA HISTÓRIA DAS FREIRAS,
ENTRETANTO, SUGERE QUE AS INTENÇÕES POLÍTICAS, ESTÉTICAS E
AUTOBIOGRÁFICAS DOS VÁRIOS ADAPTADORES SÃO POTENCIALMENTE
RELEVANTES PARA A INTERPRETAÇÃO DO PÚBLICO. ELAS SÃO
FREQUENTEMENTE RECUPERÁVEIS E SEUS TRAÇOS VISÍVEIS NO TEXTO”.
“A dimensão política – por exemplos, nos queer studies e estudos feministas, étnicos e pós-estruturalistas – foi
resgatada” (p.151)
“Como no caso das adaptações da história das Carmelitas, os adaptadores
geralmente sentem alguma ‘equivalência de sensibilidade ou forma’, ou alguma
‘afinidade particular com o temperamento ou preocupações artísticas’ do
criador da obra que decidem adaptar, eles estão escolhem a mídia, em
particular, para expressar essa coincidência de interesses. O resultado, é claro,
pode não ser tão extremo quanto a descrição do diretor David Cronenberg, de
sua adaptação cinematográfica do romance Crash, de J. G. Ballard, como ‘uma
bela fusão de mim com Ballard. Estamos em surpreendente sintonia’.” (p.152)
No ato de adaptar, as decisões são feitas num contexto criativo e
interpretativo que é ideológico, social, histórico, cultural, pessoal e estético.

Primeiro Segundo
 O texto leva as marcas dessas  É o fato de que as declarações
escolhas, marcas que traem extratextuais de intenção e
os pressupostos do criador. motivo de fato existem, de
Essas “variações” funcionam modo geral, para completar
como indicadores da ‘voz’ do nosso entendimento do
adaptador. contexto de criação.
“O processo de adaptação deveria fazer-nos reconsiderar nossa sensação de embaraço crítico
em relação à intenção e as dimensões mais pessoais e estéticas do processo criativo. Em
termos teóricos-históricos, nossa resistência é perfeitamente compreensível porém tem-nos
impedido de entender por que uma forma tão criticamente denegrida quanto a adaptação
provou ser atraente tanto para artistas quanto para os públicos”. (p. 156)
“A adaptação nos ensina que, sem
abordar o processo criativo, não
podemos entender por completo a
necessidade de adaptar e,
portanto, o próprio processo de
adaptação.

Nós precisamos saber


“POR QUÊ”. (p. 151)

Você também pode gostar